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Destaque Depec - Bradesco

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Academic year: 2021

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A economia global tem mostrado sinais de desaceleração desde meados de 2018. Parte relevante desse

movimento pode ser atribuída ao aumento de tensões comerciais, com destaque para a relação entre Estados Unidos e China. Entretanto, já era possível notar uma moderação da atividade europeia antes da intensificação das disputas comerciais, influenciada pela redução dos investimentos privados (Gráfico 1).

Na Europa, as instabilidades políticas, como a indefinição do Brexit e a dificuldade para formação do governo italiano, aumentaram a incerteza sobre a condução da política econômica, afetando de forma importante a decisão de investimentos na região. A economia do continente também foi afetada por alguns fatores

específicos, como a mudança na regulação sobre emissão de poluentes dos veículos automotores. Ademais, a estiagem mais intensa do que a sugerida pela sazonalidade do final do ano impactou negativamente o transporte e a produção de alguns insumos nos últimos meses, especialmente no caso da indústria química.

20 de março de 2019

Destaque Depec - Bradesco

Desaceleração global e possíveis impactos na atividade econômica brasileira

Thomas Pires Ariana Zerbinatti

Fonte: Bloomberg, FMI, Bradesco

Nos EUA, os sinais de desaceleração da atividade são bem menos intensos e refletem, em grande medida, fatores domésticos. Por exemplo, o menor impulso fiscal, as condições monetárias mais apertadas e a

paralisação do governo (shutdown) no início deste ano. As surpresas negativas com os dados de atividade, como produção industrial e vendas do varejo, foram, ao menos parcialmente, compensadas pelo crescimento mais forte do que o esperado do PIB no quarto trimestre. Neste primeiro trimestre, esperamos que haja uma moderação da atividade, ainda decorrente do shutdown e do frio mais intenso do que o normal para o período. Além disso, o mercado de trabalho, que estava crescendo de forma sustentada, apresentou alguma perda de tração em fevereiro, embora seja cedo para considerar os últimos dados como uma mudança de tendência.

Na China, o arrefecimento da atividade tem como principal vetor a guerra comercial, que impactou significativamente as exportações do país. Diante desse choque externo, o governo lançou mão de diversos Gráfico 1: Índice PMI da indústria

Mundo, países desenvolvidos e emergentes

51.2 51.6 50.8 47 49 51 53 55 57 59 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 ÍNDICE PMI

Mundo, países desenvolvidos e emergentes

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Gráfico 2: Surpresas com dados de atividade (*)

Fonte: Bloomberg, Bradesco

Diante desse cenário de menor expansão da demanda mundial e do consequente alívio do preço do petróleo, o comportamento da inflação nas principais economias tem se mostrado benigno. A

desaceleração de preços é generalizada, com queda dos índices cheios e dos núcleos na maioria dos países. Esse cenário tem permitido que os bancos centrais das principais economias desenvolvidas adotem uma postura mais acomodatícia do que a empreendida até o final de 2018. Vale dizer que esse movimento está sendo acompanhado por algumas autoridades monetárias de países emergentes e de desenvolvidos “secundários”, como Índia, África do Sul e Austrália. A Tabela 1 ilustra a alteração dos discursos dos bancos centrais. As setas para baixo indicam tom mais ameno na comunicação mais recente, comparativamente à anterior. A referência é a reunião de janeiro do comitê de política monetária do Fed (FOMC), quando foi sinalizado tom mais ameno em relação à trajetória futura dos juros nos EUA.

Tabela 1: Mudanças de tom nas decisões de política monetária e nas taxas de juros de 2 anos após reunião do FOMC de janeiro

-36.2 -34.1 -26.8 -37.5 -110 -90 -70 -50 -30 -10 10 30 50 70 90 110

jan-18 fev-18mar-18 abr-18 mai-18 jun-18 jul-18 ago-18 set-18 out-18 nov-18 dez-18 jan-19 fev-19mar-19

EUA Área do Euro Global China

(*) Define-se surpresa como a diferença entre o resultado efetivo e a mediana das projeções dos analistas de mercado.

Fonte: Bloomberg, Bradesco

Nesse contexto de transição do ciclo mundial para menor crescimento, porém com liquidez mais ampla, a economia brasileira deve ser afetada por alguns canais. A retomada da expansão doméstica tem ocorrido de

forma bastante gradual, e, por vezes, parece dissociada da trajetória global, no sentido de que a moderação da economia nacional tem origens distintas das observadas no restante do mundo, embora os setores industriais local e externo se mostrem mais sincronizados.

País Antes do Fomc de Jan Mudança de sinalização (Jan / Fev) Delta taxa básica Mudança de sinalização (Fev / Mar) Cortes adicionais esperados até o final

de 2019

Delta juros 2 anos Fomc de Jan - mar/19

-0.04 Tailândia - - 28/mar -0,50 p.p - -0,50 p.p - -↔ -0,25 p.p. 04/abr -0,25 p.p. - 27/mar -- - 600 p.p. - 22/mar -Turquia 0.08 -0.24 -0.16 -0.37 -0.13 -0.19 0.05 África do Sul Austrália Canadá Índia Nova Zelândia Rússia

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Em uma tentativa de mensurar o possível efeito do desempenho da economia global no PIB brasileiro, consideramos três trajetórias distintas de crescimento mundial. No nosso cenário base, esperamos

desaceleração do PIB global para 3,4% em 2019. No cenário pessimista, a atividade continuaria desacelerando, registrando elevação de 2,0% no período. Por fim, no otimista, veríamos uma aceleração mais rápida já no segundo trimestre, e o PIB mundial avançaria 3,7%. Utilizamos como variável de controle uma defasagem do consumo doméstico das famílias em nossas estimações, representando a trajetória da demanda interna. Cabe ressaltar que o exercício considera os demais fatores constantes, sendo portanto uma simplificação da realidade; por exemplo, contemplam-se políticas monetária e fiscal idênticas e andamento da agenda de reformas.

Em nosso cenário base, a economia doméstica acompanharia a melhora da atividade internacional, apresentando elevação de 2,4% em 2019, segundo nossa estimativa. No otimista, o PIB brasileiro cresceria

3,0% no último trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, acumulando variação de 2,8% em 2019. Por sua vez, no cenário mais adverso, a alta do PIB brasileiro sugerido pela economia mundial seria de apenas 1,0% em 2019. De fato, nesse cenário mais extremo de desaceleração contínua da atividade global, sairíamos de um ritmo de expansão interanual de 1,1% para outro de 0,4% no quarto trimestre, o que consideramos pouco provável, neste momento (Gráfico 4).

Gráfico 3: Crescimento semestral anualizado do PIB brasileiro versus indicador antecedente global OCDE

Fonte: OCDE, IBGE, Bradesco

-10.0% -8.0% -6.0% -4.0% -2.0% 0.0% 2.0% 4.0% 6.0% 8.0% 10.0% 95.0 97.0 99.0 101.0 103.0 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Título do Gráfico Mundo

Brasil (PIB, 6m saar)

Gráfico 4: Crescimento interanual do PIB brasileiro

Cenários base, pessimista e otimista para o diferentes trajetórias do crescimento mundial

-8.0% -6.0% -4.0% -2.0% 0.0% 2.0% 4.0% 6.0% 8.0% 10.0% 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

PIB Brasil YoY

Pessimista (PIB global crescendo 2,0%) Otimista (PIB global crescendo 3,7%) Base (PIB global crescendo 3,4%)

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Dentre os possíveis canais de contágio do quadro global para a economia brasileira, destacamos o comércio externo e as condições financeiras. No caso do primeiro, um arrefecimento mais intenso da

atividade econômica mundial reduziria nossas vendas ao exterior, via contração do quantum e dos preços dos produtos exportados, com destaque para as menores cotações de commodities. Em relação ao segundo canal, uma possível piora das condições financeiras, principalmente influenciada pelo mercado acionário e pelos spreads de crédito, contaminaria o mercado local, desencadeando maior aversão ao risco. No entanto, o contágio financeiro não tem se materializado neste momento, com um movimento generalizado de fechamento das taxas de juros, diante das sinalizações mais brandas dos bancos centrais dos países desenvolvidos e das reações das autoridades monetárias das economias emergentes. Para que se concretizem cenários mais adversos, seria necessário que os efeitos advindos desses dois canais (comércio e financeiro) caminhassem na mesma direção, o que não tem ocorrido até aqui, com as condições financeiras mantendo-se relativamente estáveis com as respostas dos governos à desaceleração econômica.

Nosso cenário base contempla estabilização da economia global no segundo trimestre deste ano, devendo mostrar alguma aceleração no segundo semestre. O alívio das condições financeiras verificado nos últimos

meses e o comprometimento do governo chinês em evitar uma desaceleração mais intensa da atividade do país deverão se traduzir em melhor desempenho da atividade econômica mundial à frente. Ademais, a redução de riscos importantes, como a tensão comercial entre EUA e China, a superação do período de paralisação do governo norte-americano e o encaminhamento da saída do Reino Unido da União Europeia, devem contribuir para um maior ritmo de crescimento nos próximos meses.

Caso esse cenário se confirme, entendemos que o impacto da desaceleração global na economia brasileira será limitado, conforme sugerido pela nossa estimação. Ademais, é importante destacar que nossa

economia é relativamente fechada, sendo menos afetada via comércio exterior. O que temos visto até o momento é uma redução das exportações de veículos à Argentina, importante parceiro comercial. Contudo, a crise argentina não foi desencadeada pelo menor crescimento mundial, mas por fatores locais.

Entendemos que os vetores associados à dinâmica doméstica devem se sobressair na determinação da trajetória do PIB do Brasil neste ano. O avanço na agenda de reformas, com destaque para a reforma da

previdência, será fundamental para um crescimento mais expressivo da atividade doméstica ao longo dos próximos trimestres. Além disso, a aceleração da carteira de crédito, impulsionada pela manutenção do patamar baixo da taxa de juros, também contribuirá positivamente para uma aceleração da economia ao longo deste ano. Nesse ambiente de reposicionamento da economia brasileira, com debate sobre uma ampla agenda de reformas econômicas, o cenário internacional não deve ser a força dominante, mas servirá sim, como sugerido por nossas estimações, como alavanca ou atenuante para os possíveis efeitos positivos dessa agenda para a economia local.

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Equipe Técnica

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Referências

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Licenciada em Psicologia pela FPCE – UP; Doutoranda na Universidade de Salamanca, na área da Neuropsicologia Clínica; Doutoranda em Ciências Biomédicas pela Universidade do