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Deslocamentos, movimentos e engajamentos: as formas plurais da ação humana na perspectiva de Laurent Thévenot.

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Academic year: 2021

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Antropolítica Niterói n. 24 p. 1-296 1. sem. 2008 ISSN 1414-7378

A n t r o p o l í t i c a

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2ª prova – JLuiz – 3 SET 2009

© 2009 Programa de Pós-Graduação em Antropologia UFF

Direitos desta edição reservados à EdUFF - Editora da Universidade Federal Fluminense - Rua Miguel de Frias, 9 - anexo - sobreloja - Icaraí - CEP 24220-900 - Niterói, RJ - Brasil - Tel.: (21) 2629-5287 - Telefax: (21) 2629-5288 - http:///www.editora.uff.br - E-mail: secretaria@editora. uff.br

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Secretária da Revista

Priscila Tavares dos Santos

Conselho Editorial da Antropolítica

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Catalogação-na-Fonte (CIP)

A636Antropolítica: Revista Contemporânea de Antropologia — (n. 24, 1º sem. 2008, n. 1, 2. sem. 1995). Niterói: EdUFF, 2009.

v. : il. ; 23 cm. Semestral.

Publicação do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense.

ISSN 1414-7378

1. Antropologia Social. I. Universidade Federal Fluminense. Programa de Pós-Graduação em Antropo-logia.

CDD 300

Editora filiada à

Luiz de Castro Faria (PPGA/UFF) (In memorian)

Ana Maria Gorosito Kramer (UNAM – Argentina) Anne Raulin (Paris X – Nanterre)

Arno Vogel (UENF)

Charles Freitas Pessanha (UFRJ) Charles Lindholm (Boston University) Claudia Lee Williams Fonseca (UFRGS) Daniel Cefaï (Paris X – Nanterre)

Edmundo Daniel Clímaco dos Santos (Ottawa University) Eduardo Diatahy Bezerra de Meneses (UFCE) Eduardo Rodrigues Gomes (PPGCP/UFF) João Baptista Borges Pereira (USP) Josefa Salete Barbosa Cavalcanti (UFPE) Lana Lage de Gama Lima (UENF) Licia do Prado Valladares (IUPERJ) Luís Roberto Cardoso de Oliveira (UNB) Marc Breviglieri (EHESS)

Mariza Gomes e Souza Peirano (UNB) Otávio Guilherme Cardoso Alves Velho (UFRJ) Raymundo Heraldo Maués (UFPA)

Roberto Augusto DaMatta (PUC) Roberto Mauro Cortez Motta (UFPE) Ruben George Oliven (UFRGS) Sofi a Tiscórnia (UBA)

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Sumário

Nota dos editores, 7

Dossiê: De volta ao mundo da vida de pernas pro ar: Contribuições para os

estudos em corporeidade, linguagem e memória da capoeira, 11

Apresentação: Julio Cesar de Tavares

Da “destreza do mestiço” à “ginástica nacional”: narrativas nacionalistas sobre a

capoeira, 19

Matthias Röhrig Assunção

A memória do corpo na narrativa de mestre João Grande, 41

Maurício Barros de Castro

Adaptação em movimento: o processo de transnacionalização

da capoeira na França, 63

Daniel Granada da Silva Ferreira

A luta da capoeira: reflexões acerca da sua origem, 87

Paulo Coêlho de Araújo e Ana Rosa Fachardo Jaqueira

Angola e o Jogo de Capoeira, 103

Maduka T. J. Desch Obi

Artigos

Imigração brasileira na Guiana: entre elocubrações e realidade, 127

Isabelle Hidair

Caminho Niemeyer: os “usos” da cultura em Niterói, 145

Margareth da Luz Coelho

A socialização das meninas trabalhadoras, 165

Joel Orlando Bevilaqua Marin

Entre muros e rodovias: os riscos do espaço e do lugar, 195

Eduardo Marandola Jr.

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2ª prova – JLuiz – 3 SET 2009

Resenhas

Deslocamentos, movimentos e engajamentos: as formas

plurais da ação humana na perspectiva de Laurent Thévenot, 221

Autor da resenha: Fabio Reis Mota

Notícias do PPGA

Relação de dissertações defendidas no programa de pós-graduação, 237

Relação de teses defendidas no PPGA, 263

Revista antropolítica: números e artigos publicados, 267

Coleção antropologia e ciência política (livros publicados), 287

Normas de apresentação de trabalhos, 291

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Contents

Editors note, 7

Dossier: Returning upside down to the lifeworld: contributions to the

study of embodiment, language and memory of capoeira, 11

Foreword: Julio Cesar de Tavares

From “dexterity of mestizo” to “national gymnastics”:

nationalist narratives on capoeira, 19

Matthias Röhrig Assunção

The body memory in the narrative of master João Grande , 41

Maurício Barros de Castro

Adaptation in movement: the process of

transnationalization of capoeira in France, 63

Daniel Granada da Silva Ferreira

The capoeira fight: reflections on its origens, 87

Paulo Coêlho de Araújo e Ana Rosa Fachardo Jaqueira

Angola and the game of capoeira, 103

Maduka T. J. Desch Obi

Articles

Brazilian immigration in Guyana: between phantasms and reality, 127

Isabelle Hidair

Caminho Niemeyer: the “uses” of culture in Niterói, 145

Margareth da Luz Coelho

The socialization of the working girls, 165

Joel Orlando Bevilaqua Marin

Between walls and roads: space and place risks, 195

Eduardo Marandola Jr

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Reviews

Displacements, movements and engagements: the plural

forms of the human action in Laurent Thévenot perspective, 221

Fabio Reis Mota

PPGA News

Thesis defended at PPGA, 235

PhD thesis defended at PPGA, 263

Revista Antropolítica: numbers and published articles, 267

Published Books Coleção Antropologia e Ciência Política, 287

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* Doutorando em

Antropo-logia PPGA/UFF. Bolsista Capes-Cofecub UFF/Paris X. Pesquisador NUFEP/ UFF. Email: reismota@ yahoo.com.br

Fábio Reis Mota*

Deslocamentos, movimentos e engajamentos:

as formas plurais da ação humana na

perspectiva de Laurent Thévenot

Esse livro trata do deslocamento. O homem novo, dizem-nos, deve ser nômade e circular sem laços fixos de um lugar a outro. Não num sentido utópico de uma viagem, mas no curso de uma vida toda em flexibilidade. (THÉVENOT, 2006, p. 23) Para esboçar uma teoria da ação humana, Erving Goffman (1974) elegeu o teatro como metáfora para des-crever as modalidades da ação humana, enquanto Isaac Joseph (1988) privilegiara a figura do citadino passante, em movimento, para compreender as relações humanas nos espaços públicos. Laurent Thévenot (2006) toma o trem, o transporte, como o não humano que permite aos homens circularem, deslocarem-se de um lugar a outro, de modo a compreender os distintos regimes de engajamentos aos quais as pessoas podem se conectar. Por isso, permitam-me os leitores fazer uso de um cená-rio, de um teatro a céu aberto, com citadinos passantes, em movimento, num transporte, a se locomoverem na exploração de outros lugares, de outros mundos, numa viagem executada em uma pluralidade de lugares, atores e perspectivas. Uma cena que poderá levar o leitor a me-lhor compreender o propósito do livro L’action au Pluriel:

sociologie des régimes d’engagement de Laurent Thévenot, objeto da presente resenha.

Nas grandes cidades brasileiras, pegar o ônibus ou o trem para se locomover pela cidade é uma rotina. O cenário escolhido é São Paulo. O lugar eleito para retratar a cena é um ônibus. Final da tarde de inverno, três garotos, com o ímpeto de desfrutar da primeira experiência da cidade (assim como denominam o centro), resolvem fazer o trajeto pegando o busão. Como grande parte dos jovens

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AntropolíticA niterói, n. 24, p. 221-233, 1. sem. 2008 habitantes da periferia, com pouco mais de R$ 10,00 no bolso, entram no ônibus decididos a dar o calote, expressão que designa, nesse contexto, o ato de não pagar a passagem, seja pulando a roleta, passando por baixo ou saindo pela porta de trás da condução. Essas decisões sempre deman-dam certas expertises, competências, avaliações momentâneas, pois pular a roleta ou passar por baixo dela requer uma sensível negociação, usos diversos de justificações, um bom papo, como dizem, para expor uma razão que convém. O trocador é o intermediário dessa zona do ônibus, entre o meio e o fim desse transporte. É aquela figura liminar do transporte público, que faz a mediação entre o mundo impessoal da empresa e o da camaradagem. Não é raro vermos passageiros engajados em longas, e às vezes íntimas, conversações com o trocador. Mesmo com essa proxi-midade relativa entre passageiro e trocador, aproximar-se dele requer verdadeiras épreuves quando se deseja mais do que uma pueril conversa. Almejar atravessar a roleta sem pagar a passagem é um momento que demanda mais do que boas justificativas, mas um bom uso de expressões, da corporalidade e de gestos. É necessária, ainda, uma competência para avaliar em qual regime opera o trocador: o regime da amizade, o regime do mercado, do bom empregado etc. São nessas circunstâncias, em que as pessoas estão decididas a não descortinar pequenos “mistérios”, que outras ações são postas em práticas. No caso dos três garotos, o caminho mais prático e curto foi correr pela porta de trás do ônibus. Todavia, nessa rara, mas não excepcional, ocasião, o trocador, tomado por uma ação inesperada, salta de sua cadeira e resolve sair em um pique só atrás dos garotos, que, diante da circunstância, correm deses-peradamente. “Oh seus moleques, voltem aqui e paguem a passagem do ônibus”, esbraveja pela rua o trocador. “Voltem aqui, pois tô trabalhando e vocês não podem deixar de pagar”, reclama seu lugar de responsável trabalhador para talvez, quem sabe, convencer os garotos. Estes, numa mistura de medo e êxtase, correm e riem, “corre tiozinho, corre pra perder a barriga”. O trocador, na sua expressão de sentimentos, deixa sua condição de empregado da empresa, inscrito numa perspectiva

mar-chand, tira seu cinto e, esbravejando em voz alta e trêmula, diz “venham aqui seus moleques, vou dar uma lição em vocês, para que não cresçam maloqueiros”. De uma condição de empregado da empresa, o trocador, tomado por seus sentimentos paternos, segundo a arquitetura do contex-to apresentado, segue a correr pela rua atrás dos garocontex-tos até o momencontex-to em que se cansa e resolve retornar ao seu tradicional assento no ônibus. Essa inquietude da ação desses diferentes atores resume em grande medida as questões que Thévenot aborda em seu último livro, no qual

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lança uma perspectiva instigante acerca da ação humana: a de que ela, mais do que fruto de uma comunicação, de um habitus, de um conjunto de representações, de diferenças de papéis, é um deslocamento constante em que os atores fazem usos diversos de engajamentos que podem ser público, íntimo, cívico, marchand, industrial, criando uma multiplicidade de condutas e de arquiteturas que convencionam as condutas em ação. A chamada tournant pragmatique desenvolvida nos últimos anos na França, está comumente atrelada a uma renovação das ciências humanas. Em

L’Action au Pluriel, Thévenot apresenta um original quadro de análise, confrontando essa tournant pragmatique com as abordagens da economia, ciência política, antropologia, sociologia geral, sociologia do trabalho, ciências cognitivas, história, direito e filosofia. Ao longo de nove capí-tulos, o autor percorre trilhos densos e refinados das ciências sociais para constituir uma original teoria da ação social. De Weber a Dewey, de Habermas a Taylor, de Goffman a Simmel, de Durkheim a Bourdieu, Thévenot vai ao longo do livro delineando uma abordagem pragmática da ação social, em diálogo com diferentes correntes. Apesar de os capí-tulos serem compostos por artigos desenvolvidos em torno de domínios específicos, o livro segue uma linha: apresentar um modelo diverso e plural da ação humana.

Já em seu livro clássico, escrito na década de 1990 com Luc Boltanski, era reconhecido, a partir do desenvolvimento da idéia de ordres de grandeur, o pluralismo radical ao qual as pessoas são confrontadas nas sociedades. Como assinala Dodier (1991), no livro De la Justification, Boltanski e Thé-venot inauguram uma perspectiva teórica que concebia a ação humana como algo situado em diferentes sequências nas quais as pessoas mobili-zam competências diversas para se adequar a uma situação apresentada. É um livro importante na tournant pragmatique da sociologia francesa no qual os autores apresentam um modelo que visa cobrir a pluralidade das atividades humanas, em seus múltiplos momentos de disputas, de conflitos e de controvérsias públicas, nos quais as pessoas evidenciam suas críticas ou justificações (BREVIGLIERI; STAVO-DEUBAGE, 1999). No seu atual livro, Thévenot propõe atualizar algumas questões levanta-das em De la Justification, bem como trazer novas contribuições teóricas e metodológicas. Segundo ele,

propomos aqui um deslocamento do problema colocado pela multi-plicidade de modelos de ação que traga um esclarecimento diferente sobre sua integração. Podemos considerar o problema tal como ele é colocado ao objeto do pesquisador, nesse caso o sujeito da ação. Ele

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também é confrontado a uma pluralidade de modelos, não àquele do teórico social, mas àqueles nos quais se servem comumente as pessoas para apreender os eventos em termos de ação social, se apropriar da conduta do outro ou reapropriar de sua própria conduta. (THÉVE-NOT, 2006, p. 6)

Mais do que a constituição de um quadro que considere as diferenças de

status, de pertencimentos a grupos sociais, Thévenot e Bolstanski (1991) buscaram explorar uma hipótese ortogonal sobre a vida em sociedade.

As mesmas pessoas são levadas a fazer sua experiência de uma plura-lidade, de maneira de qualificar uma conduta e de as colocar à prova (épreuve).1 Mais do que uma diferença de papéis, de mundos sociais ou

mesmo de identidades escolhidas, essa pluralidade acarreta oscilações de provas da realidade, submetendo as pessoas bem como comunida-des inteiras às tensões críticas. O presente livro explora mais adiante essa pluralidade humana que apresentamos anteriormente a respeito da existência pública e das respostas às exigências as mais legítimas da crítica e da justificação. (THÉVENOT, 2006, p. 6)

L’action au Pluriel é um projeto ambicioso na busca da exploração de uma questão clássica das Ciências Humanas e da Filosofia, uma interrogação que estabelece a base dos domínios desse campo: o que faz possível a existência de um coletivo? Como veremos mais à frente, Thévenot expõe uma perspectiva original sobre essa questão, ancorando-se num diálogo com autores clássicos. Sua démarche é que as disputas e os acordos públicos reclamam uma montée en généralité,2 quer dizer, que as pessoas qualificam suas demandas a partir de uma ideia de bem comum. Todavia, em contra-posição a uma noção de bem comum habermasiano (HABERMAS, 1993), focalizado sobre a ideia do consenso, Thévenot ressalta a importância de um olhar sociológico que prime pela análise dos gestos mais íntimos. “Somos assim levados a deslocar a fronteira, tal como a situou Weber, considerando que a ação é somente social na medida que o sentido dela seja também inteligível para os outros atores” (THÉVENOT, 2006, p. 7). Pois, para Thévenot, a comunicação não é entendida apenas como transmissão de um sentido ou de uma informação. O termo designa as maneiras diversas da vida em comum: “pelo movimento de um corpus comunicante com o outro, pela ligação de uma peça que comunica com a outra. A noção de comunicação é, nesse sentido, mais concreta, material e plural nos seus canais” (THÉVENOT, 2006, p. 8).

Para melhor esboçar sua proposição, Thévenot proporá três famílias de modelos de ação: a ação em público; a ação anterior ao indivíduo (relativa

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à sua autonomia de escolhas, decisões, projetos etc.) e a ação prática. No primeiro modelo, as ações implicam em que as condutas sejam refleti-das de modo que elas tenham um efeito sobre os outros em público, ou seja, que essas ações possam ser vistas como públicas, entendidas como tal. Essa ação, segundo o autor, pode ser tomada em dois sentidos. No sentido disso que a gente vê, do que é visível ou não por um público de espectadores, no sentido atribuído por Nobert Elias, por exemplo, de civilidade em público. Num segundo plano, as ações são regidas por uma vasta gama de gramáticas, dirigidas ao bem comum, em que as provas da realidade não se fecham com a retórica, na argumentação ou na lin-guagem, mas se estendem a um mundo de coisas implicadas na ação e nas capacidades humanas, de modo que essas coisas sejam qualificadas de acordo com a idéia de bem comum. Na segunda família de modelos, o individualismo e a racionalidade interessada do agente provém da teoria econômica, de acordo como foi desenvolvida via Pareto, Weber, Parsons e Boudon, por exemplo. No terceiro modelo, a influência vem da fenomenologia de Husserl e de Schutz, bem como dos etnometodólogos e do pragmatismo de Dewey. Esses três modelos servem para constituir uma arquitetura mínima da conduta humana.

Mas como tratar a pluralidade das condutas? A proposição de Thévenot é de deslocar a atenção para os quadros (cadres) nos quais as pessoas apre-endem as condutas e as colocam em vias de comunicação. Essa apreensão importa às pessoas por sua orientação na coordenação de suas condutas. Uma tal orientação guia sua conceitualização dos quadros, reatualizando esse conceito a partir de trabalhos anteriores, tanto aqueles referentes às classificações, quanto os relativos às formas convencionais (THÉVENOT, 1983, 1986). Sua abordagem procede de uma pesquisa sobre os quadros de coordenação da ação e sobre suas diferenças ao olhar da coordination.3 Explorando uma variedade de comuns e de comunicação de desigual porte identificamos um regime elementar de conduta humana parti-cularmente pouco propícia a uma larga mise en commun (THÉVENOT, 2006, p. 11). Continua o autor,

nossa abordagem não concebe uma ordem estabelecida ou reproduzida, mas uma constituição de ordem que é duvidosa e problemática. Mais do que a coordenação finalizada, nosso objeto é a inquietude da coor-denação. Remarcamos em seguida que o termo coordination, tal como ele é entendido aqui, é um transbordamento das regras, hierarquias ou acordos formais aos quais eles são frequentemente associados. Ain-da, a coordination concerne em primeiro lugar a relação do ator com

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ele mesmo num meio ambiente onde ele deve coordenar sua própria conduta. (THÉVENOT, 2006, p. 12)

Ora, a coordination nesse caso se define a partir de uma relação estreita entre os humanos e não humanos, nos termos empregado por Latour e Callon (CALON; LATOUR, 1991; LATOUR, 1989).

Seguindo os trilhos explorados em trabalhos anteriores, como L’action

qui convient (1990), no livro atual o autor fará uma opção teórica e con-ceitual: a de engajamento, cujo sentido “designa tanto a dependência às pessoas que as coisas, e que faz evidenciar a prova dessa dependência” (THÉVENOT, 2006, p. 13). Neste, desenvolve gradualmente a análise de três regimes de engajamento, afirmando que

diferentemente dos modelos que dão visibilidade ao ator, sua cole-tividade, sua individualidade, sua consciência ou inconsciência, sua reflexão, nossa caracterização de regime de engajamento evidencia o modelamento conjunto da pessoa e de seu meio ambiente, que requer seu engajamento. (THÉVENOT, 2006, p. 14)

O autor distingue três regimes: o regime de justificação, no qual as pessoas e as coisas engajadas numa ação justificável são qualificadas segundo as ordres de grandeur (ordens de grandeza);4 o regime do plano, em que a pessoa é tratada como um indivíduo autônomo e claramente descolado de seu meio; e o terceiro regime, o de familiaridade, no qual a pessoa e seu entorno são engajados segundo as ligações particulares. Após o desenvolvimento conceitual geral, o autor percorrerá sob linhas diversas os nove capítulos, buscando esmiuçar sua teoria da ação hu-mana.

No capítulo 1, “figurations, l’acteur transporté dans ses engajaments pluriels”, Thévenot, a partir da exposição de um cenário, passado num transporte público e anônimo, seguirá todo o desenvolvimento de um nômade en-tre os lugares e no meio de transporte, que o leva a se deslocar enen-tre os regimes de engajamento. O transporte, rememorando a sutil sociologia do uso do público de Isaac Joseph (2004), para Thévenot, representa nessa circunstância uma possibilidade de lidar com um “eu” durável em direção à concepção de um “eu” de fortuna. Na perspectiva de Théve-not, os atores, humanos e não humanos, são levados a uma experiência virtual, em movimento, em rede, em transição para um exame da vida em sociedade e da figuração da conduta humana.

Como o autor segue uma démarche atenta mais às atividades do que propriamente aos lugares, a cena se passa numa residência passageira,

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em movimento, num vagão de um trem. O viajante eleito é aquele que se instala se esparramando, distribuindo generosamente seus objetos e suas duas crianças em torno dos quatro assentos do trem. “Tal como um polvo que se defende contra o estrangeiro expandindo todos os braços” (THÉVENOT, 2006, p. 26), esse homem vai-se ocupando progressiva-mente dos assentos. Ligado ao espaço pelas ligações tentaculares que prolongam sua pessoa, esse homem, denominado de Ocupante faz uso de um primeiro tipo de engajamento, que não corresponde em nada ao indivíduo planificador e calculador, daquele relativo à idéia do bem comum, pincelado pelas ciências humanas em geral. Preocupado em dispor dos elementos da ação, que compõem a cena, o autor elegerá outros personagens que avançaram em direção aos assentos. Os Titulares, em cada momento de disputa, lançarão diferentes tipos de justificativas, reportando-se a engajamentos diversos para fazer valer seu assento. Esse cenário, suas disputas, conflitos e controvérsias, possibilita focalizar os engajamentos que dão consistência às pessoas, com o propósito de precisar o retrato da pessoa como indivíduo, situando-o em comparação a outras figuras da própria pessoa, ou seja, na multiplicidade de suas ligações e de suas ações em público. Pois, o objetivo “é poder seguir as mudanças profundas dos engajamentos dos seres humanos no mundo” (THÉVENOT, 2006, p. 43). Mais do que seguir um “eu” que representa, Thévenot propõe constituir um quadro, uma variedade de figurações, que não sejam reduzidas a escalas de representações, mas que possam se diferir de acordo com as animações de figurinos, nos quais os seres humanos são equipados da capacidade de ação e de interação com um meio apropriado, podendo fazer o mesmo uso de diversos engajamentos. No capítulo 2, “économie et sociologie de l’action coordonée: rationalité et normes

sociales”, Thévenot propõe uma abordagem que possibilite o encontro entre a sociologia e a economia, à medida que a noção de coordenação faz parte de um tronco comum, possibilitando um confronto entre os modelos de ação. O diálogo com diferentes tradições da sociologia e da economia política remete, de acordo com o autor, a uma clássica oposi-ção entre as noções de normas sociais e racionalidade, ou seja, a figura da ação apoiada pelas normas sociais ou aquelas ancoradas pela decisão individual. No lugar desse esquema analítico, Thévenot propõe

manter uma comum interrogação sobre as modalidades de julgamento que o ator porta sobre as ações dos outros, julgamento apreendido de modo diverso em termos de representação, de sentidos, de espera, de antecipação, de referência a um saber comum. As noções de norma e racionalidade correspondem a duas maneiras de considerar a forma

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pela qual o ator apreende a situação; elas devem ser situadas num leque mais largo de modalidades de julgamento. (THÉVENOT, 2006, p. 56)

Thévenot lança uma proposição, a de que

para confrontar os projetos comparáveis, será preciso então substituir as duas noções para construir outra mais, a norma se inscrevendo numa ordem social e a racionalidade no equilíbrio. A ação coordenada com as outras é o objeto comum das ciências sociais, ação qualificada de co-letivo ou de social, denominada interação ou transação, para sublinhar que ela implica uma pluralidade de atores. (THÉVENOT, 2006, p. 62)

A abordagem da ação referenciada à coordenação conduz ao capítulo 3, “les régimes d’une action qui convient: du familier au public”, no qual o autor apresenta um primeiro esboço dos três regimes de engajamento: o gesto íntimo e as conveniências pessoais, o regime familiar; a ação normal, o regime do plano; as convenções coletivas da ação, o regime de justificação. A noção de conveniência é empregada para distinguir as avaliações de engajamento segundo os regimes, porque ela oferece as gradações que vão desde as conveniências do regime de familiaridade, pessoais e locais, até as convenções coletivas destinadas ao público, passando pelo regime de justificação até as conveniências ordinárias de uma ação. Thévenot parte da premissa de que

quando uma pessoa imagina que eventos podem ser destinados a um agente humano em termos de ação, que se trata dele e de outro, ele seleciona e organiza os elementos da situação de acordo com tal ou tal figuração da ação, e coordena sua conduta em consequência. Vamos ver nesse capítulo como a apreensão disso que advém num formato da ação, introduz o horizonte de uma avaliação por parte do agente, e, portanto, de toda pessoa que utiliza esse formato para apreender os eventos. Utilizaremos o vocabulário da conveniência para evidenciar essa avaliação. (THÉVENOT, 2006, p. 93)

O autor ressalta que o termo conveniência vai ao encontro da noção de pertinência, da questão do acordo. Para tanto, lança a tese de que “os quadros de identificação da ação são ligados ao mundo pela apreciação de seu sucesso, da maneira pela qual ela convém ou não” (THÉVENOT, 2006, p. 101).

No capítulo seguinte, “situer l’action en plan: le travail et son organisation”, o autor analisa o regime do plano, “que passa pelo tratamento conjunto do sujeito engenhoso e estratégico, capaz de formar esse plano e o meio ambiente preparado para uma utilização funcional” (THÉVENOT, 2006,

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p. 114). A questão que se coloca ao autor é: por que se interessar pela noção de plano?

Justamente para constatar o descolamento e as recomposições que decorrem de novas abordagens da ação e da coordenação em ciências sociais. Diferentemente do capítulo anterior, que trata do regime se-gundo seu gênero de conveniências, esse capítulo destina a atenção às operações cognitivas e evaluativas implicadas pelo engajamento de um entorno humano e não humano na ação. (THÉVENOT, 2006, p. 113)

Num diálogo com a produção da sociologia do trabalho, e seguindo uma perspectiva ligada à inteligência artificial, sociologia e antropologia, que marcam uma renovação da concepção de atividade humana, Thévenot busca remarcar uma contraposição à concepção de um plano programa-do, deslocando esses modelos fortemente ancorados em um contexto, seja pelo desenvolvimento da idéia de mobots regulando sua conduta sobre seu meio ambiente a partir de regulações locais, seja por modelos de atividades fortemente determinadas pela situação que reclama uma improvisação tal qual aquela implicada pela realização de um quebra- -cabeça ou pelas operações cognitivas atribuídas às planificações. Tais produções se inspiram na concepção de uma ação situada.

O capítulo 5, “la pluralité des régimes composant l’organisation: les savoirs au

travail”, é um ensaio sobre a questão da decomposição da organização produtiva e do trabalho a partir da diferenciação de regimes, a partir de uma comparação de duas fábricas de TV, no Japão e na França. Uma das organizações distingue-se da outra pelo lugar acordado, as conveniências pessoais e locais de um regime de familiaridade; a outra repousando principalmente sobre um regime do plano e sobre a imputação de res-ponsabilidade que ela autoriza. O autor busca aqui dar continuidade aos argumentos apresentados no capítulo 3, que consistia em introduzir uma gama de regimes de engajamento numa ação que convém, estendendo a análise sobre essas múltiplas formas de se engajar no lugar de trabalho e nas organizações. A comparação entre as duas organizações elucida as pluralidades de regimes que compõem uma organização, sendo elas inscritas numa ordem de grandeza industrial ou familiar.

O lugar do julgamento nos diferentes regimes convida a um confronto com o direito, rompendo com a divisão de trabalho clássica, segundo a qual os juristas se ocupam da normatividade formal e os sociólogos disso que advém das práticas. O capítulo 6, “l’action a bon droit: jugements

ordinaires et jugemet de droit”, procede a “aproximações a partir do trata-mento das justificações no direito e das transformações esperadas das

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AntropolíticA niterói, n. 24, p. 221-233, 1. sem. 2008 pessoas e das coisas para que as formalidades do direito, as qualificações e as responsabilidades achem seus pontos de aplicação” (THÉVENOT, 2006, p. 16). O autor sugere um encontro entre o direito e a sociologia a partir de uma orientação comparada e cruzada, à medida que sua

démarche da ação e da coordenação desenvolvida com Luc Boltanski (BOLTANSKI; THÉVENOT, 1991) permite uma aproximação com o direito na medida em que suas análises se afinam com as noções jurídicas. As provas do regime de justificação permitem a ação a “bom direito”, de forma que os atores renunciam a engajamentos menos públicos e se preparam a julgamentos de larga validade, ligados ao bem comum. Thévenot, buscando dirigir a atenção para as operações de julgamento e de provas, ressalta que a pesquisa deve ser orientada pela preocupação de relacionar a política à moral, como numa perspectiva weberiana, na qual as justificativas são evidenciadas a partir dos “justos motivos” ou “motivos legítimos” do juiz, dos operadores da justiça. Seguindo sua

démarche de uma simetria entre coisas e pessoas, o autor afirma que o direito é o modo de investimento que assegura uma maior validade e perenidade às marcas de referência convencionais pela sua capacidade de identificar os seres e de unir-lhes qualidades.

No capítulo 7, “la connaissance dans l’action”, Thévenot procede a uma fina análise acerca das heranças da sociologia do conhecimento, iniciada por Durkheim, que liga estreitamente certos formatos de conhecimento a determinadas formas de ação em coletivo, para uma apreciação cognitiva que governa a dinâmica de engajamento do ator. Privilegia aqui uma interlocução com a cognição. A perspectiva durkheiminiana articula-se ao propósito do projeto pragmatista na medida em que construiu um programa de pesquisa ao mesmo tempo calcado numa perspectiva em-pirista e no apriorismo kantiano, propondo que as pessoas fundam seu conhecimento sobre os sinais objetivos. O sucesso do projeto durkheimi-niano, complementa Thévenot, consiste no fato de que sua proposição

relaciona as ferramentas de conhecimento e a organização da comuni-dade humana, social e política. Ela faz uso de uma homologia entre a morfologia dos grupos sociais e as formas de classificação, avançando com a idéia de que as classificações das coisas reproduzem as classifi-cações dos homens. (THÉVENOT, 2006, p. 187)

Ressaltando algumas insatisfações deixadas pela herança durkheiminia-na, o autor propõe uma articulação entre a produção do conhecimento, a construção do coletivo e as atividades práticas no mundo para uma melhor compreensão da conduta humana, retendo seu interesse sobre a operação de representação e as formas de categorizações.

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A questão acerca dos movimentos sociais, da chamada crise de repre-sentações, será o ponto central do oitavo capítulo, “faire entendre une

voix: engagement dans les mouvements sociaux”, em que Thévenot busca compreender, a partir de uma perspectiva comparada entre a França e os Estados Unidos, a composição de um militantismo que se assenta entre engajamentos diversos, sejam eles de proximidades, de montée en

generalité, de engajamentos públicos ou pessoais. A resposta enunciada pelo autor a essa crise é a introdução de um pluralismo radical que con-cebe os regimes variáveis aos quais as pessoas estão engajadas.

É também nesse espírito que situo o regime de justificação em relação às possibilidades e limites de dois outros regimes comprometendo os bens de envergadura mais restrita e de realidades mais localizadas: re-gime de ação e rere-gime de plano, que dispõe da figura de um indivíduo; assim como o regime de familiaridade que, ao contrário, corresponde à personalidade ligada ao seu entorno. Essa arquitetura de regimes de engajamentos esclarece essa reflexão que nos ocupa aqui, deslocando a questão da representação numa investigação sobre as vias de acesso ao público e seu limites. (THÉVENOT, 2006, p. 219)

Desse ponto de vista, explorar de que forma se estabelece essa passagem de um regime a outro corresponde a um dos propósitos da démarche do autor. Como poder identificar e explorar as diferentes maneiras de estabelecer um tipo de ação no mundo, requerendo um engajamento mais público ou mais familiar, ligado ora a um regime cívico, ora a um regime ou marchand etc. Thévenot ressalta a importância de se explorar os regimes diversos, seja aqueles do próximo ou aqueles ligados a um regime cívico.

Enfim, no último capítulo, “la personne dans ses engagements pluriels”, Thévenot conclui o percurso do livro com a proposição de um olhar sociológico que considere a conduta humana em sua pluralidade, ou seja, a questão da arquitetura da vida em comum, sugerindo a maneira pela qual os engajamentos mútuos no mundo servem de assento aos níveis diferentes de comunicação e reconhecimento. A proposição dessa

tournant pragmatique, desenvolvida a partir do livro De la Justification, foi orientada por uma perspectiva que compreendia um projeto de deslocar a atenção em direção às competências reclamadas pelos atores para identificar a natureza da situação em vez de orientar o olhar so-bre as identidades sociais, o status, os papéis, as disposições, ou habitus (THÉVENOT, 2006, p. 227). Tal perspectiva é importante, por colocar o indivíduo em evidência na análise sociológica, assim como lhe destinar um tratamento, vinculando-o a uma pluralidade de sua constituição.

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AntropolíticA niterói, n. 24, p. 221-233, 1. sem. 2008 Portanto, as apreciações dos gestos, das ações são postas à prova ao olhar do público, numa avaliação daquilo que é passível de ser justificável ou não. Essa face da prova evidencia a ligação entre cognição e emoção, pois os movimentos da emoção contribuem para dar visibilidade à apreciação que é conveniente ou não. Dessa forma, “o alargamento da perspectiva não provém apenas da diversidade dos tipos de atividade tomadas em consideração, mas igualmente de uma visão menos centrada sobre o ator humano e mais ligada às dinâmicas da relação entre esse ser e seu meio” (THÉVENOT, 2006, p. 241).

Thévenot sublinha sua posição no que concerne a uma teoria da ação para retomar os três modelos de engajamento, ressaltando sua im-portância para a constituição de uma arquitetura da vida em comum. Seguindo esses modelos, o autor apresenta o programa de pesquisa que visa confrontar as transformações das políticas públicas e ação política, a partir de pesquisas empíricas desenvolvidas por pesquisadores do Grupo

de Sociologia Política e Moral (GSPM) da EHESS, assentadas seja numa discussão sobre a autonomia e responsabilização das políticas públicas (PATTARONI, 2004 apud THÉVENOT, 2006), seja no exame do uso do habitar junto (BREVIGLIERI, 1999 apud THÉVENOT, 2006), ou debruçando-se sobre as formas de hospitalidade e de políticas de luta contra a discriminação (STAVO-DEBAUGE, 2003 apud THÉVENOT, 2006), assim como as associações de bairros (CEFAI; LAFAYE, 2001). Enfim, o livro abre uma perspectiva florescente para a comparação de trabalhos de sociólogos, cientistas políticos, historiadores, psicólogos e antropólogos que estejam preocupados com um olhar plural, híbrido, misto da conduta humana. Da mesma forma como ele permite, do pon-to de vista político, interrogar as formas de constituição de poder, de opressão e dominação que se fundam, para fazer valer uma voz plural, dando uma capacidade de pluralizar as vozes públicas, permitindo uma abertura da ideia de público: o público de uma ação ao plural.

Referências

BOLTANSKI, L.; THÉVENOT, L. De la justification. Paris: Galimard, 1991.

BREVIGLIERI, M.; STAVO-DEBAUGE. Le geste pragmatique de la sociologie française: autour des travaux de Luc Bolstanski et Laurent Thévenot. Antropolítica, Niterói, v. 7, 1999.

CALON, M.; LATOUR, B. La science telle qu’elle se fait. Paris: La Découverte, 1991.

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2ª prova – JLuiz – 3 SET 2009

CEFAI, D.; LAFAYE, C. Lieux et moments d’une mobilisation collective: le cas d’une association de quartier. In: CEFAI, D.; TROM, D. (Org.).

Les formes de l’action collective, mobilisations dans des arenas publiques. Paris: Ed. da EHESS, 2001.

DODIER, N. Agir dans plusiers monde. Critique: Sciences humaines, sens social, Paris, 1991.

DURKHEIM, E. Les règles de la méthode sociologique. Paris: PUF, 1983. DURKHEIM, E.; MAUSS, M. De quelques formes primitives de classification: contribution à l’étude des représentations collectives. Paris: Minuit, 1971. GOFFMAN, E. Les rites d’interaction. Paris: Minuit, 1974.

HABERMAS, J. L’espace public: archéologie de la publicité comme dimension constitutive de la société bourgeoise. Paris: Critique de la Politique Payot, 1993.

JOSEPH, I. El traseunte y el espacio urbano. Barcelona: Gedisa, 1988. LATOUR, B. La science en action. Paris: De la decouverte, 1989. THÉVENOT, L. Conventions économiques. Paris: PUF, 1986.

. L’action au pluriel: sociologies des régimes d’engagement. Paris: La Découverte, 2006.

. L’économie du codage social. Critique de L’Économie Politique, Paris, n. 23, 1983.

Notas

1 Escolhi traduzir o conceito épreuve por prova. Devo ressaltar que tal tradução pode possibilitar confusões

sobre o conceito, considerando a multiplicidade de significados que porta essa categoria tanto na língua francesa quanto na língua portuguesa. Para os autores, as épreuves correspondem aos momentos aos quais os atores, de acordo com as circunstâncias, vão evidenciar justificativas que convêm ou não. Para maior compreensão do conceito ver Boltanski e Thévenot (1991).

2 A ideia de montée en généralité corresponde às ações que visam alcançar o bem geral, o bem comum.

Quan-do uma pessoa reclama uma montée en généralité, ela está referinQuan-do-se a um interesse público, geral. Uma concepção de público particularmente roussoniana (BOLTANSKI ; THEVENOT, 1991). Como a noção de público francesa distingue-se sensivelmente da noção brasileira, como remarca, por exemplo, Kant de Lima (2004), prefiro manter o conceito sem traduzi-lo para não incorrer em leituras equivocadas.

3 O conceito coordination, que aqui traduzirei como coordenação, conduz uma dimensão importante da démarche

pragmática que implica em conceber a conduta humana não apenas como produto de representações, va-lores, ideologias, mas de sua ligação e coordenação com outra ordem : os objetos, as coisas, os não humanos (BOLTANSKI; THEVENOT, 1991).

4 Ordres de grandeur, que optei por traduzir como ordem de grandeza, será um outro conceito trabalhado

no livro De la Justification (BOLTANSKI; THEVENOT, 1991), que corresponde às escalas que compõem a arquitetura da vida em comum.

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