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A assistência social no Brasil à luz da Constituição de 1988 e da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS)

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

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A Assistência Social no Brasil à Luz da Constituição de 1988 e da Lei

Orgânica de Assistência Social (LOAS)

Alex Epifanio - alexepifanio@bol.com.br - UFF /ICHS

Resumo

Assistência social no Brasil sempre foi tratada como uma relação de favor, benesses e clientelismo. Com a Constituição de 1988 a Assistência Social passou ao status de política pública, tendo a LOAS ratificado essa condição. Desta forma o presente artigo tem como objetivo verificar se, após a CF de 88 e a LOAS, a Assistência Social efetivou-se como uma política social ou continua a ser tratada como uma prática social. Para tanto, realizou-se uma análise da construção da Assistência Social no Brasil, tendo como base a Constituição de 88, a LOAS e a legislação pertinente. Trata-se de um estudo descritivo, de natureza documental, com base nos estudos já realizados e publicados. Os resultados dessa pesquisa demonstram que apesar da mudança de status da Assistência Social, a ideia de caridade e clientelismo continua. Este fato reforça o conceito de que a Assistência Social, apesar da legislação, é prática social e não uma política social.

Palavras-chave: Assistência Social, Constituição de 1988, prática social.

1 - Introdução

Ao longo da história a Assistência Social vem registrando grandes mudanças no Brasil, tendo sua trajetória marcada por acontecimentos bastante relevantes, que possibilitaram através de um prisma legal, a sua alteração do ponto de vista passageiro e emergencial, enquanto ação filantrópica, caritativa e de benesse, para sua inscrição na condição de política pública comum para todos, enquanto direito do cidadão e dever do Estado.

Segundo Carvalho (2008), a aurora da Assistência Social no Brasil se dá sob um viés caritativo de solidariedade religiosa, sendo dirigida aos pobres, doentes e incapazes de se manterem, até esse momento a pobreza não era vista como uma questão social e sim um problema de cada indivíduo.

Com a Constituição Federal de 1988 e a promulgação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), a Assistência Social que, segundo Fontenele (2007), até aquele momento era deixada em segundo plano, passa a ser um dos componentes fundamentais na luta pela

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2 concretização das práticas de igualdade e justiça estabelecidas na Constituição de 1988. Assim, para Escorsim (2008), a Política de Assistência Social adquiriu no Brasil o status de política pública, compondo o tripé da Seguridade Social. Sendo de responsabilidade do Estado, com gestão descentralizada e participativa.

Entretanto, conforme Paganini e Vieira (2015), o alicerçamento da Assistência Social como política pública carece da transposição de importantes obstáculos, como os discursos conservadores da sociedade, que tendem a criar empecilhos entre a Assistência Social e o direito do cidadão.

Yazbeck (1995) aponta que sob uma ótica neoliberal, o percentual mais conservador da sociedade considera a parcela mais pobre da população a única responsável pela sua proteção social, onde eles têm que dar conta de suas próprias necessidades, contrariando a noção de cidadão portador de direitos sociais validados na Constituição Federal de 1988.

Estudando a história das políticas públicas no Brasil (saúde, educação) vimos que elas estão vinculadas a privatização para os que podem arcar com esses gastos, a economia, a seletividade de políticas para os pobres, assim vemos que o Estado brasileiro nasceu sob o signo da dominação econômica como prática garantidora dos privilégios das classes dominantes (BEHRING; BOSCHETTI, 2011).

Observa-se com o exposto, que a ideia de política de Assistência Social no Brasil sempre batalhou contra o estigma de ser simplesmente uma filantropia, uma caridade, migalhas a serem dadas aqueles que não são considerados capazes de se manter e que a partir dessa diretriz imposta a eles não conseguem perceber seus direitos e nem a responsabilidade do Estado nessa questão.

Partindo de tais premissas, o presente estudo tem por objetivo verificar a consolidação da Assistência Social como política social após a CF de 88 e a LOAS ou sua manutenção como prática social. Nesse sentido, realizou-se uma analise da criação histórica da Assistência Social no Brasil a partir da Constituição Federal de 1988, da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e do Sistema Único da Assistência Social (SUAS).

O presente artigo está estruturado em cinco etapas, sendo esta introdução a primeira. A etapa dois destina-se ao referencial teórico, seguido da metodologia na etapa três e da Discussão dos Resultados, na etapa quatro. Encerrando com as considerações finais.

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3 2 - Referencial Teórico

2.1 A Formação histórica da Assistência Social no Brasil e a Constituição de 1988

Durante décadas a Assistência Social, foi embasada pelo clientelismo, favorecimento e mando, conformando um modelo primitivo de relações, arraigado na cultura política brasileira, este campo de ação do Estado caracterizou-se historicamente como não político, amaldiçoada como suplementar e marginal no conjunto das políticas públicas (COUTO; YAZBECK; RAICHELLIS, 2010).

Segundo o IPEA (2007), no Brasil a Assistência Social esta relacionada com o merecimento e o altruísmo, de ajuda para com os necessitados. Sob uma inspiração da caridade cristã. Essa configuração de benemerência colocava a ação do Estado em segundo plano, o que dificultou por um bom tempo a inclusão da Assistência Social como política pública e direito social.

Conforme Behring e Boschetti (2011), o processo de concretização da Assistência Social em política pública foi vagaroso, pois ele teve que sobrepujar características históricas, como a morosidade na normatização legal, o foco e a seleção na abrangência da população usuária.

Já Couto (2008) explica que com o passar do tempo e as constantes alterações no cenário político, o quadro da Assistência Social continuava a mesma: práticas clientelistas, conservadoras e seletivas, operadas por entidades desarticuladas, sendo os programas sociais organizados no fundamento do empréstimo e da doação, contrapondo-se ao direito.

Para Sposati (2007) a Assistência Social deve se constituir numa política de vigilância das exclusões sociais garantindo direitos aos mínimos sociais e fazendo da Assistência Social uma política de equidade, principalmente na cobertura de riscos sociais e vulnerabilidades sociais.

Após o período de exceção, imputado pela Ditadura Militar que governou o país de 1964-1985, o retorno do Estado de Direito trouxe a oportunidade de consolidação e aprimoramento das instituições (BEHRING; BOSCHETTI, 2011).

Promulgada em 5 de outubro de 1988, a Constituição Federal (CF) foi um avanço, pois, segundo Dezotti e Marta (2011, p. 445), “desde logo, consagrou clausulas

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4 transformadoras com o objetivo de alterar relações econômicas, políticas e sociais, dentro de concepções mais avançadas sobre os fins do Estado, do poder, da sociedade e da economia”.

As inovações na nova Constituição foram muitas, mas de imediato podemos salientar o uso da expressão ‘Dos Direitos e Garantias Fundamentais’, na abertura do Titulo II, dando uma ênfase maior a esse assunto e alterando o processo formal das outras Constituições que davam ênfase a organização do Estado e dos Poderes (BRASIL, 1988).

Com relação à Assistência social, a Constituição Federal de 1988 foi um divisor de águas ao reconhecê-la como política social que, conforme Carvalho (2008), junto com as políticas de Saúde e de Previdência Social, compõe o sistema de Seguridade Social brasileiro e define assim, as diretrizes financeiras, de gestão e de controle social.

A Assistência social é abordada diretamente na Constituição Federal de 1988 no Título VIII Da Ordem Social, Capitulo II Da Seguridade Social, Seção IV Da Assistência Social, artigos 203 e 204.

No artigo 203 é disciplinada a forma como será prestada a Assistência Social e sua universalização. Segundo Mesquita (2012) a CRFB define objetivos para a atuação da Assistência Social aos cidadãos que dela necessitem, tais como: a família, infância, velhice, mercado de trabalho, habilitação, portadores de deficiência e outros.

O artigo 204 aponta a fonte dos recursos que custearão as ações a serem implantadas, mas, principalmente as diretrizes a serem seguidas na política de Assistência Social. No tocante as atividades a serem realizadas, duas regras no artigo são transformadoras, a que menciona à descentralização político-administrativa e a referente à participação da população na formulação das políticas (BRASIL, 1988).

Segundo Yazbeck (1995) houve uma evolução quando a Assistência Social deixou o nível do assistencialismo clientelista para ingressar no campo da política social, tornando-se uma zona para salvaguardar interesses de segmentos exauridos da sociedade e em campo de exercício de gestão participativa.

2.2 A Assistência Social e a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS)

Em 07 de dezembro de 1993 foi promulgada a Lei Orgânica da Assistência Social (lei 8.742/93), LOAS, que regulamentou os artigos 203 e 204 da Constituição Federal de 88,

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5 reiterando a ideia de Assistência Social como política pública universal e de gestão participativa. Querendo dar concretude a esta nova visão de Assistência Social, implantada na CF/88, segundo Brasil (1993), a LOAS em seu artigo 1º a define como, direito do cidadão e dever do Estado, sendo uma política de Seguridade Social não contributiva, que será realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade.

Sob esse enfoque, coloca Thomaz (2007), que a LOAS estabelece a hegemonia estatal no gerenciamento dessa política pública, anunciada como um direito do cidadão que deve assegurar o abastecimento de recursos materiais como forma de equilibrar as necessidades resultantes dos impactos regressivos da econômica e mais ainda, “contribuir para a efetiva concretização do direito do ser humano à autonomia, à informação, à convivência familiar e comunitária saudável, ao desenvolvimento intelectual, às oportunidades de participação e ao usufruto do progresso” (PEREIRA, 2011, p. 204).

Segundo Giaqueto (2010), ao substituir a perspectiva filantrópica, a LOAS inova o debate sobre o tema da Assistência Social. Pois é uma ferramenta que firma os conteúdos constitucionais expressos nos artigos 203 e 204, ambos garantidores dos direitos à Assistência Social.

Com o intuito de concretizar tais concepções, foi aprovada em 2004 a Resolução n. 145/04 (Conselho Nacional de Assistência Social, Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome e Secretaria Nacional de Assistência Social), que trata da implantação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), que foi construída a partir de discussões realizadas em todos os estados brasileiros por meio de fóruns e conferências (FREITAS; GUARESHI, 2014). A PNAS estabeleceu-se, conforme Behring e Boschetti (2011), como forma de concretizar o conteúdo da LOAS e numa promessa de realização do Sistema Único da Assistência Social (SUAS).

De acordo com Brasil (2004), nesse momento, o escopo da Assistência Social passa a não mais ser compreendida em função de demandas setoriais e segmentada, mas sim em termos socioterritoriais. Esse panorama significa indicar quantos, quais, quem e onde estão os brasileiros demandatários de atendimentos de Assistência Social, levando em conta três vertentes de proteção social: as pessoas, as suas circunstâncias e a família.

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6 O Sistema de Assistência Social (SUAS) é um sistema público não contributivo, narra Brasil (2005), descentralizado que tem por incumbência a administração do conteúdo especial da Assistência Social na área da defesa social brasileira. Sua norma operacional básica foi aprovada em 2005. Segundo o autor, ele se constitui como um modelo de gestão descentralizado e participativo, que regula e organiza em todo território nacional as ações socioassistenciais, tendo como eixos estruturantes: a matriz familiar; a descentralização político-administrativa, a territorialização; novas bases para a relação entre Estado e Sociedade Civil; controle social; política de recursos humanos; informação, monitoramento e avaliação.

Nessa direção, o SUAS, segundo Tomaz (2007), elenca como unidade de ação a família em sua localidade, quebrando com o convencional arranjo dos serviços, com base nos elementos populacionais (criança, idoso, deficientes), e estruturando-os em dois níveis de segurança social, a básica e a especial (sendo a última contemplada por dois patamares, de média complexidade e de alta complexidade), garantindo a sobrevivência, o convívio ou vivência familiar.

3 - Metodologia

A pesquisa bibliográfica, segundo Lakatos e Marconi (2010) engloba a sondagem, a investigação e a interpretação de toda a literatura disponível, que tem por objetivo a imersão e o contato direto do cientista com as fontes de pesquisa, sejam elas, revistas, livros, periódicos, mapas, manuscritos ou algum outro registro sobre o tema em questão. Ela apoia o manuseio da informação pelo pesquisador, sendo apontada como primeiro passo na pesquisa científica.

O estudo caracteriza-se como pesquisa bibliográfica e documental. As bases de dados utilizadas para a pesquisa foram a Capes, Google Acadêmico, Repositórios Institucionais, Scielo e, para a legislação, a base de dados do Planalto. As palavras-chaves utilizadas foram: Assistência Social, Constituição de 1988, LOAS, SUAS, política social, prática social, assistencialismo, Brasil.

As etapas do trabalho foram: 1) delimitação do objeto a ser estudado e definição do objetivo; 2) pesquisa bibliográfica; 3) leitura e análise do material selecionado; 4) Redação final.

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7 Nos Quadros abaixo demonstra-se como a pesquisa foi realizada, em que bases de dados, tipo e quantidade de publicações utilizadas na realização do trabalho.

Quadro 1- Tipo e Quantidade de Publicações/Bases de Dados

Fonte: Dados da pesquisa

Quadro 2- Artigos Pesquisados/Bases de Dados

Fonte: Dados da pesquisa

Tipo de Publicação Bases de Dados Quantidade

Artigos científicos Capes/Google Acadêmico/Scielo 10/10/3

Monografia Repositórios 5

Dissertação/Tese Repositórios 5

Legislação Planalto 3

Livros --- 6

Titulo do Periódico Titulo do Artigo Autoria Base de Dados

RVMD, Brasília, v. 5, nº 2, p. 430-459, Jul-Dez, 2011. Marcos históricos da seguridade social. DEZOTTI, Débora Fernandes; MARTA, Taís

Nader a

Google Acadêmico

RBDC (online), n.10, p.435-458, jul./dez., 2007.

Assistência Social: de ação individual a direito social

SPOSATI, Aldaíza CAPES

Revista Serviço Social & Saúde. UNICAMP Campinas, v. 9, n. 10, Dez. 2010 A descentralização e a intersetorialidade na política de assistência social. GIAQUETO, Adriana. Revistas UNICAMP RBDC (online), n. 20, jul./dez. 2012. A assistência social na Constituição Federal. MESQUITA, Verônica C. da Rocha. CAPES Dialogo, Canoas, n. 25, abr. 2014 A assistência social no Brasil e os usuários: possibilidades e contradições da pesquisa. FREITAS, Cristiane R.;

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8 Quadro 3 - Pesquisa nos Repositórios Institucionais

Fonte: Dados da pesquisa

Quadro 4- Livros Pesquisados

Fonte: Dados da pesquisa

Titulo da publicação Autoria Tipo de publicação

Repositório

Politica pública de assistência social, entre o controle e a autonomia.

DIAS, Daniela D.

Dissertação Lume

A proteção social no âmbito da politica de assistência social: uma

analise das seguranças sociais.

ALMEIDA, Andrea C.S. Dissertação Biblioteca Digital UEL

A assistência social no Brasil: da caridade aodireito.

CARVALHO, Graziela F.de.

Monografia Maxwell

Direito a assistência social na perspectiva do SUAS: a experiência

do município de São Jose – SC.

THOMAZ, Sayonara P. Monografia RI UFSC

A questão social como ‘pobreza’: crítica à conceituação neoliberal.

UGÁ, V. D. Tese Google Acadêmico

Titulo dos livros Autoria Resenha

Política social: fundamentos e história. 9. ed. 2011.

BEHRING, Eliane Rossetti; BOSCHETTI,

Ivanete

Discute a relação da política social com a questão social do século XIX, até os dias atuais, quando o aspecto universal dá lugar ao caráter focalizado, e

a provisão pública cede espaço ao privado. O Direito Social e a Assistência

Social na Sociedade Brasileira: uma equação possível? 3. ed.

COUTO, Berenice Rojas

Traça a trajetória dos direitos civis, políticos, sociais e da assistência social como última política a ser regulamentada no país no campo

da seguridade social. Necessidades humanas:

subsídios a critica dos mínimos sociais

PEREIRA, Potyara A. P

Aborda necessidades humanas e a questão dos mínimos sociais. Oferecendo parâmetros coerentes à otimização de Políticas Sociais. Políticas públicas e sociedade. SANTOS, Maria

Paula Gomes dos.

Trata dos conceitos e métodos fundamentais da Análise de Políticas Públicas. O Sistema Único de Assistência

Social no Brasil: uma realidade em movimento.

COUTO, B. R;YAZBEK, M. C;

RAICHELIS R

Trata das políticas públicas de assistência social hoje. Dando ênfase ao SUAS.

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9 4 - Discussão

Assistência Social é um dos elementos que compõe o sistema de Seguridade Social no Brasil. Ela forma o tripé da seguridade, junto com a Saúde e a Previdência Social, se colocando com o um segmento autônomo no tratamento do cidadão em estado de fragilidade. Seu objetivo é assegurar proteção à família, a comunidade e aos indivíduos no combate de suas necessidades, por meio dos seus projetos, programas e benefícios.

Atualmente a Assistência Social se apresenta como um regimento estabelecido constitucionalmente, que ao longo do tempo passou por diversas transformações inclusive com abordagens e designações diferentes.

De acordo com Escorsim (2008) a CF de 88 foi fruto de profundas discussões, entre movimentos sociais que almejavam a ampliação das políticas públicas sob a égide universal, participativa e descentralizada, e pelos setores conservadores que desejavam beneficiar o mercado. Segundo o autor, foi graças à constituição que a Assistência Social atingiu o status de política pública integrante do tripé da Seguridade Social.

Segundo Brasil (1993), a Assistência Social é política de Seguridade Social, que não exige pagamento de nenhuma espécie para ingresso a seu direito, que será ofertado a todos que dela necessitem. Ela será provida pelo Estado, sob a forma de medidas coesas do setor público e da sociedade. É a partir desse ponto que a Assistência Social rompe com a lógica do “favor” e assumi o status legal de política pública.

Quando a Constituição Federal de 1988 ascende a Assistência Social à classe de política pública, modifica o entendimento e as ações nesta área. A LOAS foi um marco divisório entre a antiga concepção de assistência caridosa e a nova, que ansiamos possa efetivamente contribuir para a redução da desigualdade social e para a ampliação da cidadania.

Para Yazbeck (1995), a Assistência Social é retratada pela LOAS dentro das peculiaridades do contexto social brasileiro, isto é, num cenário social complexo e contraditório, que se choca com os programas sociais que a mobilizam.

Em 2004 a PNAS criou o SUAS, de modo a tornar concreto o que a LOAS estabelecia. A função do SUAS é de regular e organizar ações socioassistenciais no território

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10 brasileiro, com isso, representando uma mínima segurança dos direitos básicos do cidadão que necessita de atendimento.

O SUAS está sendo estudado através da realidade local da população, afirma Fonseca

et al. (2009) configurando-se num modelo de gestão democrática e participativa, que conta

com membros do poder público e da sociedade civil organizada. Segundo Boscari e Silva (2015) a efetivação do SUAS representa uma evolução na edificação da Assistência Social, por estruturar e apontar os componentes principais para a realização do processo de execução dessa política.

Mesmo diante da confirmação da Assistência Social como política pública social através da Constituição Federal de 88, da LOAS, e de todas as inovações dispostas na legislação, constata-se a ausência de alterações na herança enraizada das práticas assistenciais, filantrópicas e caritativas (YAZBECK, 1995).

A Assistência Social segundo Behring e Boschetti (2011) é a que mais vem penando para se concretizar como política pública, devido à demora na sua regulamentação como direito, já que os seus programas só alcançam entre 15% e 25% da população que deveria ter acesso a todos os direitos, reforçando o caráter de benesse com forte presença de entidades particulares, na condução de diversos serviços. Esse apelo ao particular configura-se como um verdadeiro retrocesso histórico, denominado refilantropização das políticas sociais.

De acordo com Couto (2008), as políticas públicas devem ser planejadas para se tornarem instrumentos de integração e expansão do bem-estar social, através da execução da Assistência Social, mas acabam se chocando com os obstáculos existentes nas normas encontradas pelo Estado. Para Freitas e Guareshi (2014), tais normas tinham o objetivo de quebrar o conceito de generosidade aos pobres e de troca de vantagens entre o cidadão e a elite da sociedade. No momento em que a Assistência social foi inserida no campo da política social pública, ela acaba migrando para um novo horizonte: o da universalização dos acessos, do compromisso do Estado e da preservação dos direitos.

Para Sposati (1995), o conceito de Assistência Social presume que o cidadão tenha ingresso a um conjunto de certezas, seguranças que garantam ou previnam os riscos sociais. Esta cobertura não deve ocorrer sob patrocínio individual direto. Por tanto, não dependendo diretamente do trabalho ou da compra desse serviço.

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11 Na opinião de Ugá (2008) a Assistência Social continua sendo tratada como uma panaceia para os males sociais da humanidade, que por ser dirigida a setores fragmentados e exauridos da sociedade, resulta em diversos danos a rotina desses cidadãos. Este processo também desencadeia o fenômeno de aceitação da pobreza como causa individual, bem como a perda da noção de cidadania.

O direito a Assistência Social não depende do poder aquisitivo do individuo, o direito é universal, “A LOAS explicita que as pessoas não precisam se humilhar para conseguir acesso e que se houver necessidade de recorte por causa da limitação, a decisão deve ser técnica” (GARCIA, 2011, p. 10).

As políticas sociais se constituem em um espaço de barganha, para que o grupo no poder possa, de um lado, utilizá-la como expediente de controle para greves e manifestações populares, como também, responder caridosamente a situações de penúria e espoliação de grupos sociais (SPOZATI, 2007).

5 - Considerações Finais

Caminhamos para quase três décadas de fundação da Assistência Social como integrante da Seguridade Social, e constatamos uma batalha, onde de um lado esta o cidadão, sem seus direitos e tendo sua assistência em forma de caridade, do outro, o poder público como benfeitor, que restringe os gastos com a proteção social e faz uso delas como plataforma política. Uma análise crítica das políticas sociais brasileiras após a constituição de 88 mostra seu rumo compensatório e seletivo, focado em casos limites de sobrevivência dos mais desvalidos, inaptos para o mercado (YAZBECK, 1995).

Observa-se uma grande preocupação com a manutenção dos programas de transferência de renda, como se estes fossem a solução de todos os problemas, mas segundo Santos (2012), os programas de transferência de renda não são a cura para os dilemas sociais brasileiros, estes são diminutos para modificar o cenário da desigualdade social no Brasil.

Outro aspecto a ser citado, é o abismo entre discurso e ação na Assistência Social, como coloca Behring e Boschetti (2011), mesmo após os avanços promovidos pela Carta Magna de 1988, é possível observar em seu texto, orientações conservadoras para as políticas sociais. Exemplo disso é a paradoxal relação entre universalidade e seletividade.

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12 Os autores são unânimes em apontar as contradições inscritas no texto constitucional de 1988 e o novo formato dado às políticas sociais no Brasil, em que o Estado deve assegurar apenas a assistência mínima de forma paliativa. Nessa visão a miséria deve ser atenuada pela filantropia.

O que podemos concluir, após anos de lutas por direitos, é que a Assistência Social brasileira nasceu como prática social, através das benesses religiosas e políticas, tornou-se política social pública com a CF de 1988 e ratificada pela LOAS, mas que com os interesses conservadores através da refilantropização, ela retorna ao seu estado caritativo de prática social.

6 - Referências Bibliográficas

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______. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 12.435, de 6 de julho de 2011. Altera a Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social. DiárioOficialdaUnião,7jul.2011.Disponívelem:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2 011-2014/2011/Lei/L12435.htm >. Acesso em: 09 mar. 2016.

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

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Referências

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