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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA - CADE Gabinete do Conselheiro Ricardo Villas Bôas Cueva

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PROCESSO ADMINISTRATIVO: Nº 08012.004860/2000-01

REPRESENTANTE: Delegacia de Defesa do Consumidor do Distrito Federal (DECON/DF).

REPRESENTADOS: AMV Mota Distribuidora de Gás-ME, AN de Faria Sousa Distribuidora de Gás-ME., Maria de Fátima Rezende de Prado-ME, Trevo Materiais de Construção Ltda., Osvaldo Cruz de Mesquita, Francisco Armínio Bezerra, Armínio Bezerra Filho, Leonardo Carluccio e Maria de Fátima Rezende Prado.

ADVOGADOS: Flávio Augusto Nogueira Noronha, Regiane Ataíde Costa, Valcides José Rodrigues de Sousa.

CONSELHEIRO-RELATOR: Ricardo Villas Bôas Cueva. RELATÓRIO

1. DOS FATOS

Cuidam-se os autos de Processo Administrativo instaurado pela Secretaria de Direito Econômico- SDE/MJ, em 27/03/2003, em desfavor das empresas AMV Mota Distribuidora de Gás-ME., AN de Faria Sousa Distribuidora de Gás-ME., Maria de Fátima Rezende de Prado-ME., Trevo Materiais de Construção Ltda., e das seguintes pessoas físicas: Osvaldo Cruz de Mesquita, Francisco Armínio Bezerra, Armínio Bezerra Filho, Leonardo Carlucio e Maria de Fátima Rezende Prado, por prática de formação de cartel no mercado de revenda de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), em botijões de 13 Kg na cidade satélite de São Sebastião/DF.

O Processo Administrativo foi instaurado a partir de Representação feita pela Delegacia de Defesa do Consumidor do Distrito Federal (DECON/DF), ora Representante, que informou sobre a abertura de Inquérito Policial para apurar possíveis crimes contra a ordem econômica por parte dos Representados.

Os Representados são revendedores de GLP na região de São Sebastião/DF, e segundo a DECON/DF, teriam combinado a fixação de preço único para revenda do botijão de “gás de cozinha” de 13kg.

O Inquérito Policial teve origem na notitia criminis feita pelo Sr. Antônio Feitosa Alencar, revendedor na mesma região, informando ter sido vítima de constrangimento ilegal por parte dos Representados Sr. Leonardo Calucio, Sr. Francisco Armínio Bezerra e Sr. Osvaldo Cruz de Mesquita, os quais teriam exigido da vítima participação em acordo para elevar o preço de comercialização do produto. O Sr. Antônio Feitosa Alencar alegou que praticava preços inferiores aos exercidos pelos revendedores concorrentes, os quais propuseram uma reunião para que fosse fixado um preço uniforme de revenda de GLP em São Sebastião/DF.

Os Representados também foram ouvidos pela Polícia Civil do Distrito Federal (PC/DF), e todos, com exceção da Srª. Maria de Fátima Rezende Prado, confirmaram o fato de que havia sido marcada a reunião mencionada pelo Sr. Antônio Feitosa Alencar, como o intuito de definir os preços de comercialização do GLP a serem

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praticados na praça de São Sebastião/DF e que a mesma não se realizou em razão do não comparecimento do Sr. Antônio Feitosa Alencar.

A Representada Srª. Maria de Fátima Rezende do Prado informou que não tomou conhecimento da referida reunião, entretanto afirmou que seu pai, Sr. José Rezende Figueiredo, compareceu a mesma, mas que não lhe passou maiores detalhes sobre o que foi discutido, e conclui seu depoimento dizendo que seu pai encontrava-se viajando, motivo pelo qual não compareceu à Delegacia para ser ouvido.

Diante da referida Representação, o Departamento de Proteção e Defesa da Concorrência (DPDE/SDE) expediu ofício circular n.º 5870/00 (fls.19/20) aos revendedores de GLP de São Sebastião/DF, no qual solicitou dados sobre os preços praticados, locais de vendas do produto e outras informações e documentos julgados relevantes. Todas as empresas representadas apresentaram documentos (fls.24/85) em resposta ao mencionado ofício.

Ressalte-se que, em atendimento a solicitação da SDE, às fls. 103/109 consta Nota Técnica da Agência Nacional de Petróleo-ANP com uma análise do mercado de distribuição e revenda de GLP na cidade de Brasília no período de julho de 2001 a maio de 2002 que conclui pela existência de indícios de infração a ordem econômica, em razão dos baixos níveis de dispersão dos preços de revenda de GLP no período examinado. Registre-se que a ANP não realiza pesquisa de preços em São Sebastião.

2. DA INSTAURAÇÃO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO

Em 27 de março de 2003, a Secretaria de Direito Econômico- SDE/MJ sugeriu a instauração de Processo Administrativo por reconhecer indícios suficientes de prática passível de ser alcançada pela Lei nº 8.884/94, art. 20 incisos I e III c/c art.21, incisos I, II e XXV nos fatos trazidos ao seu conhecimento (fls. 112/120). O despacho de instauração foi publicado na Seção 1 do DOU de 31 de março de 2003 (fls.123).

Tal sugestão foi acolhida pelo Senhor Secretário de Direito Econômico, que decidiu instaurar Processo Administrativo contra os Representados, com o objetivo de ser apurada conduta infringente à ordem econômica, consistente na fixação de preço único para a revenda do GLP em botijões de 13 Kg.

3. DA DEFESA

Devidamente notificadas (ofícios de fls. 126/132 e 172/173) as empresas representadas apresentaram suas defesas às fls. 182/184, 218/220 e 275/279, não argüindo nessa oportunidade, nenhuma preliminar.

Nas manifestações das empresas A Bezerra Filho Distribuidora de Gás e AN de Faria Sousa Distribuidora (fls.182/184 e 218/220, respectivamente), de teor idêntico, afirmaram que os preços por ela praticados, à época dos fatos investigados, eram fixados em consonância com os valores determinados pelo governo, e que embora o preço tabelado para comercialização do GLP fosse no depósitos, as referidas empresas

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não cobravam nenhum valor para a entrega em domicílio, conforme notas fiscais acostadas aos autos.

Ressaltaram, também, que o estudo elaborado pela ANP sobre a variação de preço foi referente ao período de 15/07/2001 a 30/03/2002 momento em que o preço do GLP não era mais controlado pelo governo, e que o referido estudo é claro ao informar que a realidade demonstrada é de Brasília, ou seja, o preço praticado na cidade de São Sebastião, local onde as Representadas atuam, não foi pesquisado. Ou seja, o estudo apresentado levou em conta período e local diverso da realidade das Representadas.

No tocante à suposta reunião marcada para acontecer no depósito do Sr. Antonio Feitosa Alencar, ambas afirmaram que seus representantes compareceram apenas e tão somente para saber do que se tratava e não para estabelecer e/ou fixar preços de revenda do botijão de 13 Kg de GLP, porém, logo foram embora uma vez que o Sr. Antônio não se encontrava no depósito, ou seja, embora a reunião tenha sido marcada, a mesma não se realizou.

Às fls. 275 e ss., as empresas Trevo Materiais de Construção Ltda. ME, AMV Mota Distribuidora de Gás-ME, Maria de Fátima Rezende do Prado-ME, Leonardo Calucio, Osvaldo Cruz de Mesquita e Maria de Fátima Rezende do Prado apresentaram suas defesas alegando que os depoimentos prestados pelos Representados à DECON/DF foram realizados sob pressão, razão pela qual seria necessário desconsiderar-se a confirmação feita pelos mesmos, naquela ocasião, de que o propósito da reunião marcada para o dia 15/07/2000 era para definir preços de revenda de GLP em São Sebastião.

Aduziram, ainda, que a semelhança dos preços praticados pelos Representados não pode, por si só, constituir infração contra a ordem econômica, ou seja, o alinhamento de preços é coisa comum em quase todos os segmentos comerciais.

No tocante à reunião, asseveraram, também, que essa foi marcada com o objetivo de se discutir problemas relacionados à padronização do sistema de entregas em domicílio e fixação de valores e da forma de pagamento aos “motoqueiros” entregadores e não para fixação conjunta de preços.

Por fim, alegaram que não existem provas suficientes de que os Representados fizeram acordo para elevar o preço de revenda de GLP e que esse, em São Sebastião/DF, é definido e recomendado pelas distribuidoras que estes representam.

Cumpre ressaltar que o Sr. Antônio Feitosa Alencar, em seu depoimento (fls.293/294), afirmou que praticava preços inferiores aos praticados pelos outros revendedores concorrentes, e que os representados o procuravam e propuseram uma reunião para que fosse fixado preço uniforme de revenda de GLP.

Afirmou, ainda, que juntamente com os Representados, compunham a totalidade dos revendedores de GLP em São Sebastião/DF naquele período (ano de 2000), e que os moradores dessa localidade não costumam comprar gás de revendedores situados em outras praças e que os revendedores de São Sebastião/DF concentram suas vendas nesta mesma cidade devido ao custo financeiro de frete.

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Os Representados foram intimados para especificar provas que pretendessem produzir, todavia, não atenderam essa intimação.

Intimado a prestar testemunho (fl.297/298) o Sr. Carlos Rodrigues de Resende- vendedor de gás da empresa do Sr. Antônio Feitosa Alencar- afirmou que atuavam no mercado de gás de cozinha em São Sebastião/DF, no ano de 2000, os Srs. Osvaldo Cruz Mesquita, Francisco Armínio Bezerra, Leonardo Carlucio e Maria de Fátima Resende, com um depósito cada um deles, e que ao chegar ao depósito do Sr. Antônio presenciou uma conversa entre o Sr. Leonardo Carlucio e o dono do depósito, cujo teor seria um convite para a realização de uma reunião para “tabelar” os preços de gás de cozinha no mercado de revenda em São Sebastião/DF.

Registrou, também, que os preços cobrados pela empresa do Sr. Antônio Feitosa costumavam ser inferiores aos valores fixados pela concorrência.

4. DAS ALEGAÇÕES FINAIS

Às fls. 302/316 dos autos, consta nota técnica do DPDE/SDE sugerindo o encerramento da instrução processual do presente feito, e em despacho publicado no DOU em 19/12/2003, o Sr. Secretário de Acompanhamento Econômico acolheu os termos da mencionada nota técnica, determinando aos Representados a apresentação de suas alegações finais, nos termos do disposto no art. 39 da Lei 8.884/94, todavia esses não apresentaram suas alegações finais.

5. DOS PARECERES

Em seu parecer final (fls.320/334), a SDE/MJ inicialmente delimita o mercado relevante de revenda de GLP de São Sebastião/DF sob a ótica do produto como de GLP em botijões, em razão da ausência de substitutibilidade do GLP na localidade em que se deu a conduta, e no tocante a dimensão geográfica limita à área da cidade satélite de São Sebastião/DF. Por fim, contesta os argumentos dos Representados conforme se reproduz resumidamente:

a) “Nos autos, constam os seguintes elementos de prova que indicam que a fixação conjunta de preços efetivamente ocorreu:

- agendamento de uma reunião para uniformização de preços entre concorrentes; e

- prática de preços uniformes para a venda de GLP-13 nas modalidades “portaria” e “entrega em domicílio”.

b) “De acordo com as informações colhidas na instrução deste Processo tem-se que os repretem-sentados tentaram fazer com que o Sr. Antônio Feitosa Alencar participasse de um cartel de fixação de preços de GLP, no ano de 2000, em São Sebastião. Tal informação baseia-se nos seguintes fatos: (1) que esse revendedor vinha cobrando preços para venda de GLP-P13 abaixo dos valores praticados pela concorrência; (2) que os demais revendedores de São Sebastião o vinham procurando para acertarem os preços do gás de cozinha, sem obterem sucesso; (3) que um novo

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revendedor (Trevo Materiais de Construção Ltda./Leonardo Carluccio, de maior porte que os demais, entrou no mercado, pressionando o Sr. Antônio Feitosa para a realização de uma reunião para uniformização de preços; (4) que estiveram presentes no local designado para a realização dessa reunião os revendedores de gás que então atuavam no mercado de São Sebastião/DF”.

c) “A uniformização dos preços de revenda de GLP na praça de São Sebastião/DF também foi um fato constatado nas diligências realizadas por este DPDE. Segundo informado pelas empresas representadas, os valores cobrados para venda de GLP-P13 tanto na modalidade “portaria”, quanto na modalidade “entrega em domicílio”, estiveram praticamente idênticos entre os todos os revendedores representados”.

d) “... as circunstâncias que acompanham tal “paralelismo” apontam para a existência de uma cooperação explícita entre os agentes econômicos representados, que supostamente atuavam de forma deliberada para uma formação de preços em conjunto no mercado ora apreciado. Tal conclusão decorre principalmente da reunião marcada para o dia 15.07.2000,

exatamente dois dias após o aumento de preços autorizado pelo Governo,

por meio da Portaria nº 212, de 13 de julho daquele ano. Essa reunião foi proposta por um dos revendedores representados àquele comerciante que, reconhecidamente, praticava os menores preços do mercado. O objetivo desse encontro era, conforme as declarações dos convidados que dele iriam participar, a determinação dos preços de revenda em São Sebastião/DF. Ou seja, o motivo dessa reunião era aliciar o Sr. Antônio Feitosa, fazendo com que o mercado de revenda de GLP naquela cidade-satélite fosse totalmente cartelizado, eliminando-se finalmente o único revendedor de gás de cozinha que se recusava a praticar os mesmos preços que seus concorrentes.”

Dessa forma, a SDE/MJ pugnou pela condenação dos Representados em razão da adequabilidade das condutas das empresas representadas ao previsto nos art. 20, I e III, c/c art. 21, I e XXIV, da Lei Antitruste, bem como das pessoas físicas representadas cujas condutas restaram vislumbradas no art. 20, I, c/c art.21, II do mesmo diploma legal. Assim, observa-se que a SDE/MJ considerou que a prática de fixação conjunta de preços efetivamente aconteceu, em razão da prova do agendamento de um reunião para uniformização de preço entre concorrentes, além da constatação de preços uniformes para a venda de GLP, botijão 13 Kg, nas modalidades “portaria” e “entrega em domicílio”.

A Procuradoria do CADE (ProCADE), em consonância com o parecer da SDE/MJ, opina pela condenação das empresas representadas, por fixarem de forma conjunta os preços praticados para revenda ao consumidor de GLP, em botijões de 13 Kg, conduta tipificada no art. 20, I e III, c/c art. 21, I e XXIV da Lei 8.884/94, bem como das pessoas físicas, em razão da influência exercida na adoção do preço uniforme pelos demais Representados, conduta que se enquadra no art. 20, I e III c/c art. 21, I e XXIV da referida Lei.

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A Douta Procuradoria ressaltou, ainda: “Além disso, os consumidores de gás liquefeito envasado em botijões na cidade de São Sebastião exame tiveram seus direitos desrespeitados, colaborando para a tipificação da conduta a incidência supletiva das normas do CDC (ex vi art. 83 da Lei 8.884/94), que protegem o consumidor, dentre elas, a inversão do ônus da prova, diante da verossimilhança de suas alegações (inc. VIII do art. 6º) e a solidariedade pelos atos praticados de seus prepostos ou representantes autônomos (art.34)”.

Na mesma esteira opinou o Ministério Público Federal (MPF), por entender que existem nos autos provas suficientes de autoria e materialidade da prática de cartel no mercado de revenda de GLP, em botijões de 13 Kg, na cidade de São Sebastião/DF.

Após essas informações, o Relator considerou os elementos existentes nos autos suficientes para a formação de sua convicção e deu por encerrada a instrução.

Referências

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