Título: O impacto da exposição à
sílica na função pulmonar de
lapidários de pedras preciosas e
semi-preciosas de Corinto, Minas
Gerais.
Autores: Marcela S.N. ,Ana Paula S. C., Luciana R. M., Poliana F. L., Guilherme A.C. S., Andrea L.M..
Centro de Referência Estadual em Saúde do trabalhador de Minas Gerais – CEREST/MG
INTRODUÇÃO
• A silicose, pneumoconiose mais freqüente no Brasil, tem sido identificada como um grave problema de saúde entre os lapidários e garimpeiros de Corinto1;
• É uma doença que apresenta um forte gradiente dose-resposta em relação à exposição à sílica 1;
• Os lapidários que trabalham na produção de adornos e artesanatos de pedras preciosas e semipreciosas estão maciçamente expostos à poeira de sílica2;
• Em sua grande maioria, inseridos informalmente no mercado de trabalho2.
1 Carneiro APS, Ferreira LR, Pinheiro TMM, Heckert CAL, Costa FP, Loyola RCBR, Da Rocca PF. Silicose em Lapidários de
Pedras Semipreciosas de Belo Horizonte: Atendimento Ambulatorial Revela Grave Problema de Saúde Pública. Rev. Bras. Med. Trab 2004; Vol. 2 (Nº 1): 69-73
2 Ferreira LR, Pinheiro TMM, Siqueira AL, Carneiro APS. A silicose e o perfil dos lapidários de pedras semipreciosas em
Trabalho informal – Precariedade das condições de trabalho
Corinto
OBJETIVOS
• Avaliar a influência da exposição à sílica sobre o volume expiratório forçado do primeiro
segundo % do previsto (VEF1);
• Identificar possíveis efeitos de outros fatores como o tabagismo e o adoecimento por
• Série de casos baseado nos dados de 90 prontuários; • Lapidários e/ou garimpeiros provenientes da cidade
de Corinto- MG/ Brasil;
• Período de Janeiro de 2006 a Janeiro de 2009; • Instrumentos utilizados: anamnese clínico
ocupacional, Radiografia de tórax*, espirometria**; • Este estudo faz parte de um estudo maior de nome
“Marcadores inflamatórios na silicose”, aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (parecer 183/08).
METODOLOGIA
*Padrão da Organização Internacional do trabalho (OIT) **Diretrizes para testes de função pulmonar da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
METODOLOGIA
• Variáveis estudadas:
– Volume expiratório forçado do 1º segundo (% do previsto para brasileiros);
– Tempo total de exposição à sílica (em anos); – Idade (em anos) no início da exposição à sílica;
– Tabagismo: medida em anos/maço; NoCigarros dia x anos tabagismo/20
– Classificação radiológica da profusão de pequenas opacidades na primeira radiografia nas 4 categorias
principais, incluindo os portadores de grandes opacidades na categoria 3.
• Para as análises estatísticas foi utilizado o programa SPSS versão 15;
• Foram ajustados três modelos de regressão linear
múltipla, tendo o VEF1 % do previsto como variável resposta:
– Modelo 1: anos/maço e categorias radiológicas;
– Modelo 2: anos/maço e tempo de exposição à sílica; – Modelo 3: anos/maço, categorias radiológicas, tempo
de exposição à sílica e a interação categorias radiológicas e tempo de exposição.
• Limitações:
– A casuística relativamente pequena com 90 pacientes;
– Trata-se de estudo de demanda ambulatorial; – A ausência de análises quantitativas de poeira
ambiental e respirável tendo sido avaliado apenas o tempo de exposição;
RESULTADOS
DISTRIBUIÇÃO PORSEXO MASCULINO93,3% (84) FEMININO6,7% (6)
IDADE MÍNIMA MÉDIA MÁXIMA
17 37,8 68
TEMPO DE EXPOSIÇÃO
EM ANOS MÍNIMA1 MÉDIA13,3 MÁXIMA37
TABAGISMO À ÉPOCA DA
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 N % Categoria 0 42 47,6 Categoria 1 16 17,8 Categotia 2 14 15,6 Categotia 3 15 16,7 Dados faltosos 3 3,3 total 90 100
RESULTADOS
0 a 5 7 0 0 7 0 11 a 15 15 16 1 32 50 > 15 6 19 1 26 73,1 6 a 10 15 8 0 23 34,8 TOTAL 43 43 2 88 100 TEMPO DE EXPOSIÇÃO EM QUINQUÊNIOSDIAGNÓSTICO DE SILICOSE (Rx> 1/0) TOTAL PROPORÇÃO DE SILICOSE
(%)
NÃO SIM NÃO SABE
0 34,8 50 71,3 0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 a 5 6 a 10 11 a 15 > 15
Proporção de silicose (%) X Tempo de exposição
RESULTADOS
TEMPO DE EXPOSIÇÃO EM QUINQUÊNIOS x VEF1 % do previsto NA PRIMEIRA CONSULTA
Exposição à sílica em quinquênios VEF1 % do previsto > 80 (dentro da normalidade) VEF1 % do previsto entre 79 a 60 (redução leve) VEF1 % do previsto entre 59 a 40 (redução moderada) VEF1 % do previsto < 40 (redução acentuada) Proporção de pacientes com VEF1 % do previsto < 80 0 a 5 4 0 0 0 0 6 a 10 13 3 0 0 18,8% 11 a 15 17 5 2 1 32% > 15 10 5 5 2 54,5% Total 44 13 7 3 0 18,8 32 54,5 0 10 20 30 40 50 60 0 a 5 6 a 10 11 a 15 > 15
Proporcão de pacientes com VEF1 % do previsto< 80
Percentual de pacientes com VEF1 % do previsto < 80
RESULTADOS
Coeficientesnão padronizados
Coeficientes padronisados
Modelos B Erro-padrão Beta t Valor p
Constante 98.138 2.569 38.202 0,000 Categorias radiológicas -10.203 1.536 -.410 -6.641 0,000 Anos/maço -.620 .124 -.546 -4.984 0,003
Modelo 1 – Categorias Radiológicas - Anos/maço
A cada aumento da categoria radiológica temos uma queda de 10,2% no VEF1 do previsto e a cada aumento de ano/maço, o mesmo diminui 0,6% Modelos B Categorias radiológicas -10.203 Anos/maço -.620
RESULTADOS
Coeficientesnão padronizados
Coeficientes padronisados
Modelos B Erro-padrão Beta t Valor p
Constante 106.689 4.667 22.861 .000 Categorias radiológicas 0/0, 0/1, 1/0 -.804 .391 -.358 -2.058 .048 Anos/maço -.040 .251 -.028 -.160 .874
Modelo 1 – Categorias Radiológicas, Anos/maço X VEF1 % do previsto
Categorias radiológicas 0/0, 0/1, 1/0 -.804 Anos/maço -.040 Mesmo as classificações radiológicas mais baixas implicam em uma queda do VEF1 % do previsto maior que a queda
gerada por aumento de 1 ano/maço.
RESULTADOS
Coeficientesnão padronizados
Coeficientes padronisados
Modelos B Erro-padrão Beta t Valor p
Constante 100.701 4.679 21.523 .000 Tempo de Exposição em anos -1.048 .313 -.336 -3.343 .001 Anos/maço -.566 .152 -.374 -3.723 .000
Modelo 2 – Tempo de Exposição - Anos/maço
Modelos B Tempo de Exposição em anos -1.048 Anos/maço -.566
A cada ano a mais de exposição à sílica tem-se uma queda de 1% do VEF1 % do previsto 2 vezes maior que a queda provocada pelo aumento de 1
RESULTADOS
Coeficientes não padronizados Coeficientes padronisados Estatísticos de colinearidad Modelos B Erro-padrãoBeta t p Tolerancia FIV Constante 97,744 6,331 15,438 0,000 Anos/maço -0,593 0,136 -0,394 -4,374 0,000 0,852 1,174 Tempo de exposição em anos -.0,038 0,547 -0,12 -0,07 0,944 0,230 4,350 Categorias Radiológicas -8,867 3,654 -0,477 -2,426 0,018 0,179 5,592 Categorias RadiológicasX Tempo de exposição em anos -0,78 0,236 -0,095 -0,329 0,743 0,083 12,083
Modelo 3 –Categorias Radiológicas - Anos/maço - Tempo de exposição - Interação categorias radiológicas tempo de exposição
RESULTADOS
Coeficientes não padronizados Coeficientes padronisados Estatísticos de colinearidad Modelos B Erro-padrãoBeta t p Tolerancia FIV Constante 97,744 6,331 15,438 0,000 Anos/maço -0,593 0,136 -0,394 -4,374 0,000 0,852 1,174 Tempo de exposição total em anos -.0,038 0,547 -0,12 -0,07 0,944 0,230 4,350 Categorias Radiológicas -8,867 3,654 -0,477 -2,426 0,018 0,179 5,592 Categoria Radiológica X Tempo de exposição em anos -0,78 0,236 -0,095 -0,329 0,743 0,083 12,083
Modelo 3 –Categorias Radiológicas - Anos/maço - Tempo de exposição - Interação categorias radiológicas tempo de exposição
DISCUSSÃO
• Importância do tempo de exposição à sílica e do adoecimento por silicose sobre o VEF1% do previsto;
• Sendo estes fatores até mesmo mais importantes que o tabagismo.
DISCUSSÃO
• Outros estudos internacionais mostram o
impacto da exposição à sílica sobre a função pulmonar:
– Uma coorte de 1.072 trabalhadores expostos à sílica numa indústria automotiva nos EUA3;
– Todos não silicóticos3;
– Foi demonstrado um decaimento significativo da função pulmonar, dependente do gradiente de exposição3.
3Hertzberg VS, Rosenman KD, Reilly MJ, Rice CH. Effect of occupational silica exposure on pulmonary
DISCUSSÃO
• Como demonstrado no modelo 3, tanto o tempo de exposição, quanto a interação
categorias radiológicas x tempo de exposição, não se mostram significativas na presença da variável categorias radiológicas;
0 34,8 50 71,3 0 18,8 32 54 0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 a 5 6 a 10 11 a 15 > 15
Percentual de silicose e percentual de pacientes com VEF1< 80 X tempo de exposição
Proporção de silicose Proporção de VEF1 < 80
Impossibilita afirmar que o efeito da
exposição a sílica sobre o VEF1 % do
previsto é independente da silicose
DISCUSSÃO
INFORMALIDADE E PRECARIEDADE ALTA PREVALÊNCIAPROBLEMA
DE SAÚDE
PÚBLICA
DISCUSSÃO
• Nesse sentido, o estudo atual tenta alertar para as repercussões da exposição à sílica e silicose sobre o VEF1 % do previsto;
• Servindo como mais um motivo para se
reforçar as medidas preventivas para com a silicose e a exposição à sílica.
DISCUSSÃO
• A Título de comparação, para este estudo:
1 ANO DE EXPOSIÇÃO À SÍLICA 40 CIGARROS POR DIA, DURANTE 1 ANO
DISCUSSÃO
• Por fim, é fundamental chamar a atenção dos profissionais da saúde e dos órgãos
responsáveis também para o trabalho informal;
• Sob pena de ignorar uma grande parcela de brasileiros expostos a este risco que como demonstrado neste estudo pode ser tão danoso a saúde.