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Reprodução da tilápia Oreochromis mossambicus (Chiclidae) na Albufeira de Corumana, Sul de Moçambique e implicações para a gestão da pescaria artesanal.

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21 LEONG RIP No.35 pp 21-34, 2014

INSTITUTO NACIONAL DE INVESTIGAÇÃO PESQUEIRA

REVISTA MOÇAMBICANA DE INVESTIGAÇÃO

PESQUEIRA

RIP No.35 pp 21-34, 2014

Reprodução da tilápia Oreochromis mossambicus (Chiclidae) na Albufeira de

Corumana, Sul de Moçambique e implicações para a gestão da pescaria

artesanal

Por

Eunice Leong

Delegação de Maputo do Instituto Nacional de Investigação Pesqueira, Matola, Moçambique Email: euniceleong15@gmail.com

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22 LEONG RIP No.35 pp 21-34, 2014

Índice Resumo ... 23 Abstract... 23 1.Introdução ... 24 2. Material e Métodos ... 24 2.1. Área de estudo ... 24 2.2. Colheita de dados ... 25 2.3. Procedimento laboratorial ... 25 2.4. Análise de dados ... 26 3. Resultados e Discussão ... 28

3.1. Relação comprimento (Ct) – peso (Pt) ... 28

3.2. Factor de condição ... 29

3.3. Estágio de maturação e período reprodutivo... 29

3.4. Comprimento da primeira maturação ... 31

3.5. Implicações para gestão ... 32

5. Conclusões ... 33

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23 LEONG RIP No.35 pp 21-34, 2014

Resumo

A tilápia de Moçambique (Oreochromis mossambicus) constitui a principal captura de pescadores artesanais na albufeira de Corumana, sul de Moçambique. Foi estudada a biologia reprodutiva desta espécie de forma a fornecer subsídios para a gestão deste recurso e avaliar o período de defeso estabelecido pelos pescadores locais. Um total de 60 especimes foram adquiridos mensalmente aos desembarques, aleatoriamente selecionados no período de Outubro de 2009 a Setembro de 2010. Foi obtido o comprimento total (mm), peso individual (g), sexo e estágio de maturação gonadal. Estes dados foram usados para determinar a relação comprimento - peso, o tamanho da primeira maturação para sexos separados e o período de reprodução. Foram analisados 640 exemplares dos quais 372 (58%) eram fêmeas. Os resultados deste estudo indicam que o crescimento de Oreochromis mossambicus é alométrico negativo. A relação comprimento-peso é expressa pelas equações Pt = 8x10-0,5Ct2,77 e Pt = 4x10-0,5 Ct2,89 para machos e fêmeas respectivamente. O Indice Ganadossomático e os estágios de maturação mostram que a reprodução ocorre durante todo o ano, com o período reprodutivo bem definido no verão, de Outubro a Março. A primeira maturação ocorre aos 227 mm de comprimento total em machos e 226 mm em fêmeas. O período de defeso actualmente verificado pelos pescadores foi confirmado como adequado.

Palavras-chaves: Oreochromis mossambicus, Albufeira de Corumana, defeso, período reprodutivo. Abstract

The Mozambique tilapia (Oreochromis mossambicus) constitutes the main catch of artisanal fishermen at Corumana Dam, southern Mozambique. Reprodutive biology of this species was assessed in order to contribute to the fishery management strategy and assess the effectiveness of a fishery closure established by local fishermen. A total of 60 specimens were collected monthly at fishermen landings sites from October 2009 to September. Total body length (mm), individual weight (g), sex and gonadal maturity stages were determined and recorded accordingly. These data were processed to obtain length-weight relationships by sex, length at first maturity and maturity stages by sex. A total of 640 individuals were examined, 372 (58%) of which were females. Results indicate that Oreochromis mossambicus bears a negative allometric growth. Weight – length relationship can be described by the following equations W = 8x10-0.5L2.77 and W = 4x10-0.5 L2.89 for males and females, respectively. The gonadosomatic index and maturity stages analysis show that reproduction occurs throughout the year with intense activity in southern summer (October-March). Length at first maturity (Lm) was attained at 227 mm for males and 226 mm for females. The period of closure currently verified by fishermen was confirmed by the results of the study..

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1.Introdução

A tilápia de Moçambique (Oreochromis mossambicus, Peters, 1852), pertence a família Cichlidae e é nativa de Moçambique, Malawi, Suazilândia, Zâmbia, Zimbabwe e África do Sul. Ela foi introduzida em diversas zonas tropicais e subtropicais do mundo, bem como em algumas regiões temperadas (Waal, 2002).

Esta espécie adapta-se a condições adversas como variação de temperatura, baixo nível de oxigénio, águas poluídas e tolerância a salinidade (Shafland e Pestrak, 1982). Dependendo das condições ambientais do local onde se encontra, o seu tamanho pode atingir cerca de 430 mm de comprimento e pesar cerca de 5 kg e a primeira maturação sexual pode-se ocorrer aos 175 mm de comprimento (Boschung e Mavden, 2004). Apresenta elevada fecundidade e alta capacidade de reprodução, podendo desovar quatro vezes ao ano dependendo das condições ambientais (Popma e Green, 1990). Embora a O. mossambicus seja uma espécie de água doce, ela pode desovar em águas com salinidade de 34,5 ppt (Trewevas, 1983).

Esta espécie é explorada pela pesca artesanal e de subsistência da albufeira de Corumana, distrito de Moamba, sul de Moçambique, onde representa 60 % das 115 t anuais desembarcadas (IIP, 2012). A actividade de pesca na albufeira de Corumana desempenha um papel fundamental na segurança alimentar das comunidades locais constituindo importante fonte de renda. Assim, os pescadores da Albufeira de Corumana, tendo em conta a importância de preservar o recurso, estabeleceram de forma empírica um período de defeso (Novembro à Janeiro) de modo a permitir a renovação do manancial acessível para pesca nos anos seguintes. Mesmo com a interrupção da actividade de pesca, as capturas continuavam baixas o que provocou uma inquietação em relação a eficácia do período escolhido para o defeso.

O presente estudo pretende dar uma contribuição para a gestão do recurso, tendo em vista avaliar e validar o período de defeso actualmente verificado pelos pescadores, atendendo que este fora estabelecido de forma empírica. Este estudo será seguido através do estudo da biologia reprodutiva para o conhecimento do ciclo reprodutivo da espécie combinando com morfométricos de O. mossambicus capturado na albufeira de Corumana.

2. Material e Métodos 2.1. Área de estudo

A albufeira de Corumana (Figura 1) localiza-se ao longo do rio Sábie, afluente do rio Incomáti na província de Maputo, distrito de Moamba e dista cerca de 90 km a noroeste da cidade Maputo, capital de Moçambique.

Esta albufeira destina-se essencialmente a regular os caudais do rio Sábie, para utilização quer na rega dos 36.000 ha (360 km2) do vale do Sábie, assim como no reforço dos caudais de estiagem no médio e baixo Incomáti e possui uma central hidroeléctrica com uma potência instalada de 14,5 MW. A área permanentemente inundada é estimada em 90 km2 (ARA-Sul, 2001).

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Figura 1: Loalização da Albufeira de Corumana na região sul de Moçambique (Adaptado de: B.N.Hagy).

A pesca na albufeira de Corumana é uma actividade praticada por cerca de 217 pescadores licenciados pertencentes as comunidades locais e arredores, com recurso a barcos artesanais do tipo chata de madeira ou chapa de zinco construídos localmente, usando redes de emalhar de 3,5, 4 e 4,5 polegadas (88,9 mm, 101,6 mm e 114,3 mm). Na albufeira existem quatro centros de pesca nomeadamente Matucanhane, Fungutuine, Rola e Mahungo dos quais apenas dois verificam grande parte do esforço de pesca.

Os centros de pesca de Matucanhane e Fungutuine distam cerca de 17 e 13 km da vila, respectivamente. Apresentam um substrato lodoso com vegetação arbustiva. São os maiores centros de pesca de Corumana em termos de número de pescadores e actividade pesqueira.

2.2. Colheita de dados

Foi realizada amostragem aleatória das capturas no acto do desembarque em dois centros de pesca (Matucanhane e Fungutuíne) e contou com a colaboração do Conselho Comunitário de Pesca (CCP) local. Foram fornecidos mensalmente 60 exemplares de O. mossambicus, pelos pescadores no período de Outubro de 2009 à Setembro de 2010. As amostras foram adquiridas um dia por mês, geralmente no período da manhã (8h – 11h), hora em que os pescadores desembarcam sua produção do emalhe. As redes permanecem cerca de 24h activas na água. As amostras foram conservadas em colman contendo gelo e transportadas para o laboratório do IIP – Delegação de Maputo para respectiva análise laboratorial.

2.3. Procedimento laboratorial

Para cada indivíduo da amostra foi medido o comprimento total em milímetros com ajuda de um ictiómetro, peso total em gramas, identificado o sexo, extraídas as gónadas para pesagem e identificação do estágio de maturação.

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26 LEONG RIP No.35 pp 21-34, 2014 O estágio de maturação foi determinado com base numa escala macroscópica de maturação (Tabela 1), baseando-se na aparência física e coloração das gónadas (Trewavas, 1983). Após a extracção das gónadas, estas foram pesadas numa balança com precisão de 0,01g.

Tabela1: Descrição macroscópica dos estágios de maturação de tilápias (Trewavas, 1983). Estágio Fêmeas Machos

Imaturo/Inativo I

Ovários finos e transparentes Testículos finos e branco-transparentes

Activo II Ovários ligeiramente inchados e

de cor amarela

Os testículos aumentam de tamanho e apresentam uma cor

branca e creme

Maturo III

Os ovários são muito espessos e têm a cor alaranjada. Nota-se a presença de vasos sanguíneos e os ovos são facilmente notáveis

Os testículos são mais espessos e apresentam uma cor branca

Desova IV

Ovários muito flácidos e de cor pouco avermelhada

Testículos vazios, flácidos e de cor amarela pálido

2.4. Análise de dados

2.4.1. Relação comprimento – peso

A relação peso-comprimento descreve as formas de crescimento nos diferentes estágios do ciclo de vida das espécies de peixe, tornando-se bom indicativo das actividades alimentares e reprodutivas (Goulart, et al.,2007). A relação entre o comprimento e peso foi determinada por sexo através da equação alométrica de Huxley:

Wt = a*Ltb (Gulland, 1969 e Vazzoler, 1982)...(1) Onde:

Wt – é o peso total do peixe Lt – é o comprimento total do peixe

a e b – são os coeficientes determinados com base na regressão linear entre o comprimento e o peso. (a – intercessão e b - é o coeficiente que exprime a velocidade relativa de crescimento de peso em relação ao comprimento).

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27 LEONG RIP No.35 pp 21-34, 2014 O valor de “b” foi usado para avaliar o tipo de crescimento da espécie (alométrico ou isométrico). Os valores de “b” para peixes podem variar de 2,5 e 4, mas geralmente encontram-se em torno de 3 (crescimento isométrico) (Rocha et al., 1997).

O crescimento é considerado alométrico quando o valor de “b” é diferente de 3, sendo alométrico positivo se o “b” for maior que 3, significando que o animal cresce mais em comprimento em relação ao peso e alométrico negativo se o “b” for menor que 3, significando que o peixe cresce mais em peso em relação ao comprimento. O crescimento é considerado isométrico quando o valor de b é igual a 3, significando que o peso aumenta proporcionalmente com o comprimento.

Os valores de “b” determinados, foram comparados em relação ao valor 3,00072 (Ricker, 1975) através do t-test para avaliar o crescimento da espécie.

2.4.2. Factor de condição

O factor de condição é um índice corporal que reflecte as interacções entre o peixe e os factores bióticos e abióticos (Le Cren, 1951). Este é bastante utilizado no estudo da biologia de peixes, partindo do pressuposto de que os indivíduos com maior peso em um dado comprimento estão em melhor condição. Assim, a variação deste índice ao longo do ano pode ser utilizada como dado adicional ao estudo dos ciclos sazonais dos processos de alimentação e de reprodução (Lima-Junior, 2002).

O factor de condição (K) foi calculado para cada indivíduo a partir da expressão:

K = 100* (Wt / (Lt)b...(2)

2.4.3. Deteminação do período de reprodução

O período de reprodução foi estabelecido através da análise da curva de maturação baseada na variação do índice gonadossomático médio mensal, que é um dado auxiliar muito utilizado na determinação dos estágios do ciclo reprodutivo de peixes, devido a maturação das células reprodutivas ocorrer simultaneamente com o aumento do peso das gônadas (McAdam, 1999). O IGS foi determinado através da proporção entre o peso das gónadas e o peso eviscerado do indivíduo:

IGS = (PE / PG) *100...(3) Onde:

PE – Peso eviscerado PG – Peso da gónada

2.4.4. Tamanho da primeira maturação

Para determinar o tamanho da primeira maturação sexual (L50), foi usada a porção dos indivíduos maduros (estágios

II, III e IV) da população amostrada. Calculou-se as frequências cumulativas por classes de comprimento dos indivíduos e a posterior construíram-se as curvas sigmoidais de maturação por sexo através da equação de probabilidade: P = 1 / (1 + exp (- r (L1 – Lm))) (King, 1995).

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28 LEONG RIP No.35 pp 21-34, 2014 P – proporção de indivíduos maduros

Li – comprimento médio total na classe de comprimento

r – declive da ogiva de maturação

Lm – comprimento da maturação na qual 50% de indivíduos encontram-se maduros

O tamanho da primeira maturação (Lm) corresponde ao comprimento no qual 50% da população puderam ser

classificados como sexualmente maduros (Kolding e Bergstad, 1988).

Os dados foram analisados em sexos separados e determinado o Lm para machos e fêmeas.

3. Resultados e Discussão

3.1. Relação comprimento (Ct) – peso (Pt)

Os resultados da análise indicam que há uma correlação positiva forte em fêmeas (r = 0,908) e machos (r = 0,874) entre o comprimento e o peso de O. mossambicus na Albufeira de Corumana (Figura 2).

A relação comprimento - peso para fêmeas é descrita pela equação: Pt = 8x10-0,5Ct2,77 e Pt = 4x10-0,5 Ct2,89 para machos.

a) b)

Figura 2: Regressão entre o peso e comprimento em fêmeas (a) e machos (b) de O. mossambicus na albufeira de

Corumana.

Estas equações ilustram que os valores do parâmetro “b” encontram-se dentro dos parâmetros considerados normais, entre 2,5 e 4. Em machos o valor de b (2,8) e em fêmeas b (2,7), indicam crescimento alométrico negativo. Testado o valor de b, foi observado que a tilápia de Moçambique na albufeira de Corumana cresce incrementando em peso a maior velocidade do que o comprimento (n=259; t = 21,7; p > 0,05) e (n = 363; t = 27,4 ; p > 0,05) para machos e fêmeas, respectivamente.

Estudos realizados em albufeiras tropicais similares das relações entre peso e comprimento em diferentes locais, mostram que a espécie apresenta um crescimento alométrico negativo. Weyl (1998) na albufeira de Chicamba (a pouco mais de 700 km a norte de Corumana) encontrou b = 2,98 para machos e fêmeas agrupados. Similarmente,

n = 364 r=0,908

n = 259 r=0,874

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29 LEONG RIP No.35 pp 21-34, 2014 numa albufeira do Sri Lanka (De Silva, 1991) estimou um “b” de 2,97, confirmando os resultados do presente estudo. Em contraste, Chacate (2010), num estudo realizado na albufeira de Massingir, localizada a pouco mais de 100 km a norte, observou um crescimento alométrico positivo (b = 3,21). Embora não seja clara a razão desta diferença para Massingir, pensa-se que associadas às características do meio, a relação entre o peso e o comprimento das espécies pode variar sazonalmente ao longo do ano e apresentar diferenças entre sexos, sendo que as fêmeas aumentam o peso na época reprodutiva. O valor de “b” pode variar entre espécies e por vezes entre mananciais da mesma espécie, sexo, idade, estação do ano, características locais do habitat, tempo e composição de tamanhos do grupo sexual presente na amostra (Bakil et al., 2004). A diferença do valor encontrado na albufeira de Massingir poderá estar associado a amostragem, atendendo que foi adquirida dos pescadores que usaram malhas superiores a 3 polegadas, capturando indivíduos maiores.

3.2. Factor de condição

Os resultados da análise do “bem-estar” do longo do ano estão apresentados na Figura 3. A condição da tilápia de Moçambique na albufeira de Corumana não apresenta grandes flutuações sazonais, embora no mês de Dezembro se verifique uma pequena redução que pode ser explicada pelo gasto energético que a espécie sofreu durante o pico provável de reprodução no mês anterior (Novembro).

Figura 3: Variação mensal do factor de condição para Oreochromis mossambicus em Corumana

Este padrão sugere que provavelmente a variação do factor de condição esteja mais relacionada a factores como disponibilidade e aproveitamento de alimentos pelos indivíduos ao longo do ano, não havendo influência da variação sazonal do desenvolvimento dos ovários das fêmeas de Oreochromis mossambicus sobre a variação da condição corpórea desses animais. A variação sazonal do factor de condição não está directamente relacionada ao desenvolvimento gonadal e os indivíduos apresentam maiores índices de condição corpórea após períodos de intensa actividade alimentar.

3.3. Estágio de maturação e período reprodutivo

Foram amostrados 640 indivíduos de O. mossambicus, dos quais 58% (372) eram fêmeas. O comprimento máximo registado em machos e fêmeas foi de 430 mm e 360 mm respectivamente e o mínimo de 190 mm para ambos sexos. Estes tamanhos encontrados são considerados Lmax da espécie (Boschung e Mavden, 2004) e ultrapassam o Lmax reportado por Skelton (2001), pelo que podem ser considerados indicadores de boa adaptabilidade da espécie no local de estudo e com um nível de exploração adequada da mesma.

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30 LEONG RIP No.35 pp 21-34, 2014 O peso máximo registado em machos e fêmeas foi de 1.513g e 1.100g respectivamente e o mínimo foi de 150 g para ambos sexos.

A variação mensal dos estágios de maturação é apresentada na Figura 4. A condição reprodutiva mais alta, ou seja, aquela em que os indivíduos estão aptos para desova (estágio III e IV) ocorre nos meses do Verão (Outubro a Março), enquanto que no Inverno (Abril a Setembro) predominam os estágios imaturos (I e II).

Este comportamento estará associado à sua estratégia de desova que ocorre no verão, quando a temperatura é elevada. Segundo Bruton e Allanson, (1974) o sistema de desova de O. mossambicus em ambiente natural é sazonal e ocorre de Setembro a Fevereiro e em cativeiro pode se prolongar por todo o ano.

Figura 4: Variação mensal dos estágios de maturação de Oreochromis mossambicus na albufeira de Corumana. 3.3.1. Período reprodutivo

A determinação do período de reprodução de O. Mossambicus foi feita através do seguimento mensal do índice gonadossomático das fêmeas e dos machos (Figura 5).

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Figura5: Variação média do índice gonadossomático de machos e fêmeas de O. mossambicus na albufeira de

Corumana.

A análise das variações mensais dos valores médios do IGS, revelou que a espécie estudada apresenta duas épocas bem defnidas quanto ao desenvolvimento gonadal: verão (Outubro à Março) no qual o IGS é elevado indicando o período reprodutivo da espécie e inverno (Abril à Setembro) onde o IGS apresentou valores baixos. Durante o período de reprodução (verão), a Figura 5 mostra dois prováveis picos de reprodução, nos meses de Novembro e Março. O valor médio mais elevado do IGS ocorreu no mês de Novembro tanto para fêmeas assim como para os machos. No mês de Abril observou-se um declineo. A partir do mês de Setembro as médias do IGS aumentam indicando o início do período reprodutivo.

A observação de fêmeas maduras durante todo ano, levam a perceber que esta espécie reproduz-se durante todo ano e segundo Kubitza (2000), a desova da tilapia é parcelada, ou seja, podem desovar mais de uma vez por ano dependendo da variação da temperatura da água. Elas desovam com maior frequência em temperaturas acima de 24oC e cessam a reprodução em temperaturas abaixo de 22oC.

3.4. Comprimento da primeira maturação

O tamanho da primeira maturação para O. mossambicus foi estimado em 277 mm para machos e 226 mm de comprimento total para fêmeas (Figura 6).

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Figura 6: Frequência relativa de fêmeas adultas (a) e machos adultos (b) por classe de comprimento total (tamanho

da primeira maturação).

O tamanho da primeira maturação sexual varia muito, dependendo das condições do meio. Os tamanhos encontrados quer para machos (277 mm) como para fêmeas (226 mm), é elevado quando comparado com os valores encontrados em outros estudos como por exemplo Chacate (2010) que encontrou 189 mm para machos e 179 mm para fêmeas na albufeira de Massingir.

Estudos realizados com O.mossambicus em outras áreas como albufeira de Chicamba mostraram tamanhos como 251 mm para machos e 223 para fêmeas; na África do Sul, 120 mm para machos e 100 mm para fêmeas (Weyl, 1998).

Esta variação de um lugar para o outro pode ser explicada por factores como o tamanho da albufeira onde as espécies se encontram, estabilidade do habitat, disponibilidade de nutrientes e intensidade da pesca (Weyl, 1998). A grande variação do comprimento da primeira maturação é atribuída a resposta dos peixes às variações das condições ambientais e tamanhos maiores são indicação da estabilidade do ambiente enquanto, os menores são típicos de áreas de condições extremamente severas, tais como pequenas albufeiras nas quais há limitação de nutrientes e alta flutuação da temperatura.

3.5. Implicações para gestão

A pesca sustentável corresponde ao desfrute da produção excedente do stock pesqueiro, sem prejuízo ambiental. Practicando a pesca, realiza-se a monitoria do stock quer de forma directa pela percepção dos pescadores sobre os peixes e as alterações do ambiente como por meio de estudos com base em estatísticas pesqueiras (www.conservation.org.br).

O período de defeso estabelecido pelos pescadores de Corumana e em aplicação no período de Novembro a Janeiro foi confirmado como sendo válido pelo presente estudo por coincidir com o pico da desova das fêmeas. E assim sendo, recomenda-se que se continue com esta prática no mesmo período (Novembro a Janeiro) porque protege o stock de uma sobre-pesca de recrutamento. Caso haja necessidade e em consenso com os pescadores, este poderá ser estendido até o mês de Março tendo em conta que a desova prolonga-se até este período.

Esta medida de gestão estabelecida pelas comunidades pesqueiras de Corumana mostra o seu interesse em preservar a capacidade reprodutora do stock de modo a garantir um rendimento elevado a longo prazo.

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5. Conclusões

Com base nos dados obtidos para Oreochromis mossambicus na albufeira de Corumana pode-se concluir que: -Reproduz-se no verão, com prováveis picos de reprodução nos meses de Novembro e Março;

-O comprimento da primeira maturação sexual para fêmeas foi de 226 mm e dos machos de 277 mm. O crescimento da espécie é do tipo alométrico negativo, isto é a espécie tem um desenvolvimento mais rápido em peso em relação ao comprimento;

-O defeso comunitário em vigor na albufeira de Corumana (Novembro à Janeiro) é adequado porque protege a espécie de uma sobre-pesca de recrutamento.

6. Referencias bibliográficas

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Referências

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