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As condições de vida, de trabalho e de escolarização dos migrantes nordestinos da construção civil na UFSC

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE

CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

JANAINA GULART OLIVEIRA DE QUEIROZ

AS CONDIÇÕES DE VIDA, DE TRABALHO E DE ESCOLARIZAÇÃO DOS MIGRANTES NORDESTINOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA

UFSC

Florianópolis, SC 2018

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JANAINA GULART OLIVEIRA DE QUEIROZ

AS CONDIÇÕES DE VIDA, DE TRABALHO E DE ESCOLARIZAÇÃO DOS MIGRANTES NORDESTINOS DA

CONSTRUÇÃO CIVIL NA UFSC

Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, na linha Trabalho e Educação, do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina.

Orientadora: Profª. Dra. Célia Regina Vendramini

Florianópolis, SC 2018

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Dedico este texto aos trabalhadores migrantes que perambulam entre cidades, estados e países em busca de trabalho. Em especial, aos migrantes temporários nordestinos da construção civil da UFSC.

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AGRADECIMENTOS

“Aos que lutam”... Agradeço a minha orientadora, professora Célia Regina Vendramini, pela oportunidade de trabalho, pesquisa e criteriosa orientação. Agradeço os estudos e aprendizados ao longo dos últimos anos. Prof.ª querida, de você fica o exemplo de resistência, luta, equilíbrio, carinho e ternura. Obrigada por tudo!

À Banca, professoras Mariléia Maria da Silva, Sandra Luciana Dalmagro e Soraya Franzoni Conde, obrigada pela disposição, leitura, contribuições e considerações. E pela suplência à banca, professora Luciana Pedrosa Marcassa.

Às professoras que deram sua colaboração durante a qualificação: Mariléia Maria da Silva e Soraya Franzoni Conde, agradeço muitíssimo às contribuições e considerações.

À professora Sandra Luciana Dalmagro, minha querida orientadora da graduação, obrigada pelo carinho de sempre. Obrigada por me encaminhar a orientação da prof. Célia e também pelos estudos e trabalhos que realizamos juntas.

Aos queridos professores que foram parte integral do meu processo de formação: Adriana D'Agostini e Mauro Titton.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC, em especial aos da Linha Trabalho e Educação.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de bolsa de estudos, que me permitiu realizar o mestrado com maior estabilidade e tranquilidade.

Aos companheiros, companheiras, camaradas e professores do Núcleo de Estudos sobre as Transformações no Mundo do Trabalho, TMT/UFSC. Agradeço o acolhimento e a oportunidade de estudar na perspectiva do Materialismo Histórico Dialético.

Ao Grupo de Pesquisa Migração e Escolarização, obrigada meninas pelos estudos e aprendizados coletivos.

À minha família, em especial a Pablo e Fidel pelo incentivo de retorno aos estudos.

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Perguntas de um Operário Letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas? Nos livros vem o nome dos reis,

Mas foram os reis que transportaram as pedras? Babilônia, tantas vezes destruída,

Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas Da Lima Dourada moravam seus obreiros?

No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde Foram os seus pedreiros? A grande Roma

Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio

Só tinha palácios

Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida Na noite em que o mar a engoliu

Viu afogados gritar por seus escravos. O jovem Alexandre conquistou as Índias Sozinho?

César venceu os gauleses.

Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço? Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha Chorou. E ninguém mais?

Frederico II ganhou a guerra dos sete anos Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória. Quem cozinhava os festins?

Em cada década um grande homem. Quem pagava as despesas?

Tantas histórias Quantas perguntas (Bertold Brecht)

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RESUMO

Esta dissertação refere-se à produção e reprodução da vida de trabalhadores migrantes temporários nordestinos da construção civil que trabalham no Campus central da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. O objetivo principal é analisar as condições de vida, trabalho, moradia e escolarização dos trabalhadores migrantes no contexto das migrações na sociedade capitalista. A pesquisa parte de observações que foram realizadas no interior da UFSC acerca dos trabalhadores migrantes temporários que são contratados por empresas da construção civil e terceirizadas, a partir de licitações entre empresas e universidade. Os trabalhadores foram observados em plena atividade de trabalho, inclusive aos finais de semana, onde identificou-se que o espaço em que trabalhavam também era usado como moradia e cujas instalações evidenciavam condições de precarização e degradação, com intensa exploração do trabalho. A pesquisa de campo envolveu ainda conversas informais, registros fotográficos e entrevistas semiestruturadas que foram realizadas com os trabalhadores migrantes e com empresas nos canteiros de obras na universidade. O método de análise que orienta o trabalho é o Materialismo Histórico Dialético. Buscamos nos autores clássicos e contemporâneos, como Marx, Engels, Harvey, Silver, Fontes, Antunes, Mészáros e Rummert analisar as contradições presentes na relação capital, trabalho e escolarização no contexto da sociedade capitalista e concretamente na vida dos trabalhadores. Mediante a pesquisa observamos que o capital para lucrar, expandir e acumular precisa realizar a expropriação dos trabalhadores. O trabalho ou a falta dele, o desemprego, tem sido o fator principal da indução dos trabalhadores a migrar. Estes abandonam a escola muito cedo, porque precisam trabalhar e reproduzem a mesma condição de vida e trabalho de seus pais. A baixa escolaridade dos entrevistados, a falta de acesso à escola e ao conhecimento e o conteúdo escolar alienado das necessidades da classe trabalhadora coloca como desafio a construção de um novo projeto educacional associado a um novo projeto de sociedade que permita as pessoas migrarem de um lugar para outro livremente e não movidos (forçosamente) pela necessidade de sobrevivência, visando a reprodução social para os interesses do capital. Palavras-chave: Migração; Classe trabalhadora; Escolarização; UFSC, Migrantes nordestinos.

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ABSTRACT

This dissertation refers to the production and reproduction of the life of temporary migrant workers from northeastern part of Brazil working at construction industry inside central campus of Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. The main objective is to analyse the living, working, housing and schooling conditions of temporary migrant workers in the context of migrations in capitalist society. In this way, we intend to investigate how their mobility affects schooling. The study is based on observations that were carried out inside UFSC about temporary migrant workers hired by insourced and outsourced construction companies through bids between companies and universities. The workers were observed in full working activity, including at the weekend, where it was identified that the space in which they worked was also used as housing and whose facilities showed conditions of precariousness and degradation, as well as intense exploitation of work. The field study included informal conversations, photo registry and semi-structured interviews with migrant workers and companies in construction sites at the university. The method of analysis that leads the study is the Dialectical and Historical Materialism. The method of analysis that leads the study is the Dialectical and Historical Materialism. We looked in the classical and contemporaneous authors as Marx, Engels, Harvey, Silver, Fontes, Antunes, Mészáros and Rummert analyzing the contradictions present in the relation among capital, labor and schooling in the context of capitalist society and concretely in the life of the workers. The work or the lack of it, unemployment, has been the main factor and induction that leads people to migrate. These abandon school very early because they need to work and they propagate the same life and work conditions of their parents. Interviewed poor schooling, lack of access to school and to the knowledge and working class alienated needs school content put a challenge to the construction of a new educational project associated to a new society project that allows people to migrate from a place to another freely and not forced by the needs of survival, aiming the social reproduction to capital interests. Keywords: Migration; Working class; Schooling; UFSC; Northeastern migrants.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 — Trabalhadores da empresa Salver...71

Figura 2 — Alojamento da empresa Salver...96

Figura 3 — Alojamento da empresa Progredior

...

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Figura 4 — Banheiro da empresa Salver ...98

Figura 5 — Banheiro da empresa Progredior...99

Figura 6 — Cozinha da empresa Salver...103

Figura 7 — Alimentação na empresa Salver...104

Figura 8 — Cozinha da empresa Progredior...105

Figura 9 — Lazer dos trabalhadores na empresa Salver...108

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACNUR Alto Comissionado das Nações Unidas para os Refugiados CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CLT Consolidação da Leis do Trabalho CNIG Conselho Nacional de Imigrante

DIEESE Departamento Intersindical de Estatísiticas e Estudos FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura

FGTS Fundo Garantia por Tempo de Serviço IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

ICMS Imposto de Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços

INSS Instituto Nacional do Seguro Social IPEA Instituto de pesquisa Econômica Aplicada NR8 Norma Reguladora 8 – Edificações

OBMigra A Iserção dos Imigrantes no Mercado de Trabalho Brasileiro

OECD Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OIM Organização Internacional para as Migrações OIT Organização Internacional do Trabalho

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ONU Organização das Nações Unidas

PIB Produto Interno Bruto

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua PNUD Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas PMF Prefeitura Municipal de Florianópolis

PROEM Programa Pró Emprego

SCIELO Scientific Electronic Library Online

SMAS Secretaria Municipal de Assistência Social de Florianópolis SMS Secretaria Municipal de Sáude de Florianópolis

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 Produções acadêmicas por regiões do país... 200 GRÁFICO 2 Produções acadêmicas por natureza das

instituições vinculadas aos autores... 201 GRÁFICO 3 Concentração das produções por ano... 202 GRÁFICO 4 Produções acadêmicas por áreas de estudo... 203 GRÁFICO 5 Produções acadêmicas da área de Educação

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LISTAS DE QUADROS

QUADRO 1 Dissertações e Teses- 2007-2017... 195 QUADRO 2 Artigos 2007 – 2017... 196

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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . SUMÁRIO INTRODUÇÃO ... 21

1 OS PROCESSOS MIGRATÓRIOS DIANTE DAS

EXPROPRIAÇÕES DOS TRABALHADORES...40 1.1 AS EXPROPRIAÇÕES NA ORIGEM E NA ATUALIDADE DA ACUMULAÇÃO DO CAPITAL...41 1.2 A CLASSE TRABALHADORA SE MOVIMENTA EM BUSCA DE TRABALHO...55 2 A SITUAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA...68 2.1 AS CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO DOS M IGRANTES DIANTE DA EXPROPRIAÇÃO E EXPLORAÇÃO DOS TRABALHADORES...68 2.1.1 A centralidade do trabalho no movimento migratório: relações e condições de trabalho...74 2.1.2 Condições de vida dos trabalhadores migrantes: a moradia...94 3 A ESCOLARIZAÇÃO DOS MIGRANTES DIANTE DO

PROJETO DE ESCOLA DO CAPITAL PARA OS

TRABALHADORES...122

3.1 O PROJETO DE ESCOLA PARA OS

TRABALHADORES...122 3.2 ESCOLARIZAÇÃO DOS TRABALHADORES MIGRANTES DA CONSTRUÇÃO CIVIL...137 3.3 UM PROJETO DE ESCOLA DOS TRABALHADORES...161 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...176 REFERÊNCIAS...185

APÊNDICE A — DADOS SOBRE A PRODUÇÃO

ACADÊMICA...195 APÊNDICE B — ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADO COM OS TRABALHADORES...205 APÊNDICE C — ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADO COM AS EMPRESAS...208

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APÊNDICE D — TERMO DE CONSENTIMENTO PARA OS

TRABALHADORES E EMPRESAS...211 APÊNDICE E — IMAGENS DOS CANTEIROS DE OBRA- TRANBALHO E MORADIA DOS TRABALHADORES...212 APÊNDICE F — TERMOS DE CONTRATOS ENTRE EMPREITEIRAS E UNIVERSIDADE...216

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INTRODUÇÃO

“A esperança está latente nas contradições, disse Bertold Brecht. Há contradições convincentes o bastante no campo do capital para semear a esperança” (HARVEY,2017)

A pesquisa se propôs a compreender a produção e reprodução da vida de trabalhadores migrantes temporários1 nordestinos da construção civil que trabalham no Campus principal da UFSC. O objetivo principal foi o de analisar as condições de vida, trabalho, moradia e escolarização dos trabalhadores migrantes, no contexto das migrações na sociedade capitalista.

No estágio do capital-imperialismo2, nos termos de Fontes (2010), as expropriações se multiplicam e o ápice da concentração de trabalho morto fica em poucas mãos, o que tem resultado em extremas condições de exploração do trabalho. As crises e contradições que o capital vem atravessando na atualidade têm intensificado3 a

1 Os migrantes sazonais ou migrantes temporários (SILVA, 1999; 1992; MARTINS, 1986), cujas trajetórias de vida são marcadas pela mobilidade, caracterizam a categoria de “migração temporária permanente” ou “migrante permanentemente temporário” proposto por Silva (1999), em seu estudo sobre os migrantes do Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais, e das áreas rurais do Maranhão, onde há um processo de fixação-dispersão geográfica coexistindo com um processo de fixação tanto para os que migram como para os que ficam (SILVA, 1992, p. 166).

2 Em sua tese Fontes (2010) procura apreender esse processo histórico por meio das contradições da disseminação do capitalismo tanto como resultado das vontades e projetos dos seus protagonistas, quanto expressando embates e lutas entre projetos radicalmente diversos no interior de cada país (e entre os países) e sempre considerando que tais embates não ocorrem no vazio, mas no contexto de uma relação social capitalista dominante cuja característica central é ser expansiva, e isso não é apenas no âmbito econômico. Expressa a exacerbação - econômica, social e política - da forma peculiar, desigual e combinada, pela qual se realiza uma ainda precária generalização capitalista sobre o planeta. A generalização, nesse contexto, envolve uma poderosa forma histórica de criação de desigualdades (FONTES, 2014, p. 69 e 71).

3 No Brasil, nos últimos anos, têm-se observado a chegada cada vez maior de migrantes e refugiados que vêm em busca de trabalho e melhores condições de

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movimentação de trabalhadores. A crise capitalista apresenta uma contradição fundante e tem ciclos que envolvem uma constante ampliação e diversificação da produção e uma maior apropriação privada do produto. Essa contradição, expressa na concentração e centralização do capital, produz uma constante expropriação da força de trabalho e criação de uma população desempregada em proporções cada vez maiores e que na luta pela sobrevivência são impelidas a migrar. Se a migração é uma solução na luta pela produção e reprodução da vida dos trabalhadores desempregados, ela também o é para o capital no sentido em que necessita de força de trabalho expropriada e disposta a submeter-se as formas mais baratas e intensas de exploração. Entretanto, como indica Silver (2005), “para onde vai o capital, o conflito vai atrás” e junto a classe trabalhadora (FONTES, 2010; MONTÃNO; DURIGUETTO, 2011).

No mundo, segundo o Relatório da ONU- International Migration Report 20174, são 258 milhões de migrantes internacionais, construindo suas vidas fora dos seus países de origem, sendo que na América Latina e Caribe, somam-se 10 milhões. Esse número representa um aumento de 49% em relação a 2000 cujo número de migrantes era de 173 milhões. Em 2013, haviam 763 milhões de indivíduos migrando dentro dos próprios países. Já a ACNUR5 – Alta

vida. No âmbito das migrações internas, as expropriações dos trabalhadores do campo continuam e se prolongam. O modelo do agronegócio aparenta transformar o campo num espaço modernizado, mas isso implica em produzir desemprego, pobreza e trabalho precário e temporário. Há um crescente deslocamento de trabalhadores entre as regiões brasileiras, estas são migrações permanentes e temporárias. No que cabe à educação, a desqualificação da escola na atual conjuntura, ao mesmo tempo em que produz o prolongamento da escolaridade, o faz, porém de baixa qualidade e de modo atrelado às necessidades do sistema capitalista. “Uma escola que amplia e universaliza o acesso ao ensino fundamental, mas que esvazia de sua especificidade e como direito social ao conhecimento e a cultura” (ALGEBAILE, 2013, p. 21). 4 ONU- Organização das Nações Unidas - United Nations Department of Economic and Social Affairs/Population Division International

Migration Report, 2017. Disponível em:

<http://www.un.org/en/development/desa/population/migration/publications/ migrationreport/docs/MigrationRep ort2017_Highlights.pdf. >. Acesso em: 13 mar. 2018. <https://nacoesunidas.org/em-brasilia-fao-celebra-dia- mundial-da-alimentacao-debate-migracoes/>. Acesso em: 29 maio 2017.

5 ACNUR-Agência das Nações Unidas para Refugiados. Disponível em: <http://www.acnur.org/fileadmin/scripts/doc.php? file=fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2016/Cartilha_Protegendo

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Comissão das Nações Unidas para os Refugiados- 2016 assinala que um total de 65,6 milhões, 1 em cada 113 pessoas no mundo, foram forçadas a se deslocar por conflitos e ameaças aos seus direitos humanos, representando mais de 300 mil em relação ao ano anterior.

O Censo demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)6, aponta que 268,5 mil migrantes internacionais entraram no Brasil, 86,7% a mais do que em 2000 (143,6 mil). O relatório OBMigra: A Inserção dos Imigrantes no Mercado de Trabalho Brasileiro 20167 aponta que 1,1 milhão imigrantes internacionais chegaram no Brasil entre 2010 e 2015, entre eles, argentinos, portugueses, sírios, bolivianos, paraguaios, senegaleses, estadunidenses, haitianos, uruguaios, peruanos e colombianos, entre outros. Sem garantias trabalhistas, esses trabalhadores chegam atraídos por propagandas políticas, promessas de empregos com boa remuneração e de políticas de crescimento econômico e inclusão social.

No âmbito das migrações internas, no período de 2000 a 2010 foram 11.316.720 pessoas que trocaram de estado, sendo que na década anterior esse número foi de 9.909.119, o que caracteriza um aumento de 11%. Já nos quinquênios 1995-2000 e 2005-2010, os números apontam em um total de 5.196.093 e 5.018.898 migrantes respectivamente, o que representa um decréscimo representativo da mobilidade espacial da população. Entre o quinquênio 2000- 2005, o percentual relativo foi de 26,63 migrantes para mil habitantes e entre 1995-2000, movimentaram-se 30,6 migrantes para cada mil habitantes. E no período 2005-2010, observaram-se 24,3 migrantes para cada mil habitantes, o que representa uma redução em alguns períodos nos fluxos migratórios e, em outros, uma intensa movimentação entre as regiões brasileiras.

A região sul, ainda segundo dados do IBGE-20118, no

Refugiados No Brasil e n o Mundo>. Acesso em: 09 out. 2017. 6 IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/000000084 73104122012315727483985.pdf >. Acesso em: 12 fev. 2016.

7 OB Migra-Relatório Parcial: A Inserção dos Imigrantes no Mercado de

Trabalho Brasileiro. Disponível em:

<https://laemiceppac.files.wordpress.com/2017/12/relatoriocompleto_v8_051 2_pagespelhada_comcapa-1.pdf >. Acesso em: 12 fev. 2017.

8IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2011/ >.

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quinquênio 2005-2010 foi a região do país que mais aumentou sua mobilidade espacial e ao estado catarinense foi atribuída a terceira posição migratória no âmbito das migrações internas em âmbito nacional, ficando atrás apenas dos estados de São Paulo e Goiás, com um volume de 59% a mais de migrantes. Já o município de Florianópolis alcançou um dos maiores crescimentos no número de migrações em um total de 78.925 migrantes que chegaram de outros estados como: Rondônia, Amazonas, Pará, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. O maior número de migrações veio do Rio Grande do Sul (16.439 pessoas), seguido pelo Paraná (6.930 pessoas) e São Paulo (6.176 pessoas) (IBGE, 2011).

A presente pesquisa parte de observações realizadas no campus da Trindade - UFSC acerca dos trabalhadores migrantes temporários que são contratados por empresas da construção civil e terceirizadas para trabalharem nas construções no interior da universidade. Observamos os trabalhadores em plena atividade de trabalho, inclusive aos finais de semana, onde identificamos que o espaço em que trabalhavam também era usado como moradia e cujas instalações evidenciavam condições de precarização e degradação, além de intensa exploração do trabalho. Essa situação acabou por produzir muitas indagações, o que resultou em uma aproximação com o tema da presente pesquisa.

Constatamos que os trabalhadores migrantes da construção civil da UFSC são de origem pobre e ao se deslocarem de seus locais de origem em busca de trabalho, melhores salários e condições de vida ficam submetidos a condições de degradação, precariedade, insegurança e exploração de trabalho, acrescidas das condições insalubres de moradia, bem como alimentação insuficiente e inadequada, em ambiente impróprio. Os trabalhadores vivenciam uma exaustiva jornada de trabalho, com exposição diária às intempéries climáticas da região sul, seja pelo calor excessivo nos períodos de verão ou nos dias frios e chuvosos de inverno. Os trabalhadores em questão, por não conhecerem seus contratos e direitos trabalhistas, e devido à sua condição vulnerável de baixa escolaridade e qualificação, além de serem migrantes são submetidos a um conjunto de irregularidades9 pelas empresas.

Acesso em: 12 de fev. 2016.

9 As irregularidades das empresas envolvem: o não cumprimento das 44 horas de trabalho estipuladas por lei, o que leva esses trabalhadores a estarem submetidos

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No processo de pesquisa pudemos constatar que as contratações10 realizadas na UFSC entre empresas do setor da construção civil e terceirizadas e universidade11são mediadas por licitações12 do tipo “pregão presencial”. Compreendemos que as políticas e incentivos governamentais dos últimos governos Luís Inácio da Silva (2003-2011) e Dilma Vana Rousseff (2011-2016) para o setor da construção civil possibilitou que um grande número de empresas se instalassem com seus canteiros de obras para projetos e execuções de edificações no campus da universidade.

Nessa perspectiva, compreendemos que a precarização nas

a exorbitantes e exaustivas jornadas de trabalho, as quais extrapolam a própria condição humana, colocando em risco a saúde física e mental desses trabalhadores; o não reconhecimento legal ou o pagamento extremamente baixo das horas extras de trabalho à noite e aos finais de semana, inclusive aos domingos; a precariedade na prevenção e atenção à saúde dos trabalhadores especialmente no que diz respeito aos acidentes de trabalho; a alimentação insuficiente e irregular para os trabalhadores prometida pelas empresas ao contratá-los, deixando-os na vulnerabilidade e em condições de fraqueza; a ausência de informação acerca da responsabilidade das empresas de pagamento de uma taxa mensal a título de depreciação de ferramentas de propriedade dos trabalhadores e, em alguns casos, a necessidade de compra das ferramentas mediada pelas empresas com preços para além do mercado, deixando os trabalhadores na condição de devedores; as péssimas e precárias condições das estruturas dos alojamentos, como a falta de higiene, insalubridade, falta de ventilação e a não possibilidade de lazer e um melhor descanso para esses trabalhadores, colocando-os em situação de humilhação.

10 Departamento de Projetos, contratos e convênios. Disponível em: <http://dpc.proad.ufsc.br/>.<http://dpc.proad.ufsc.br/contratos-terceirizados-2/contratos-vigentes-firmados-em-2016/>. Acesso em: 18 out. 2015. Os termos de contratos entre empreiteiras e universidade, encontra-se no Apêndice F dessa Dissertação.

11Na UFSC, a Lei das Licitações e Contratos Administrativos e, conforme Art. 67. 71. e 71. §1o. § 2º, a execução do contrato entre Instituição Federal e empresas e terceirizadas deverá ser acompanhada e fiscalizada por um representante da Administração. Ainda que o contratado, no caso as empresas e terceirizadas, seja responsável pelos encargos trabalhistas, não transferindo a responsabilidade à Administração Pública, a mesma responde solidariamente com o contratado pelos encargos previdenciários resultantes da execução do contrato, nos termos do art. 31 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995).

12 Departamento de Licitações-DPL/PROAD/UFSC. Disponível em: < http://licitacoes.ufsc.br/>. Acesso em: 18 out. 2015.

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relações de trabalho, as quais foram expostas acima, caracteriza o “dumping social”13, que “tramadas nas sombras” dos canteiros de obras ocasionam a invisibilidade desses trabalhadores. Assim, os estudantes da universidade, professores e técnicos administrativos não percebem a presença dos trabalhadores migrantes na UFSC e, consequentemente, não reagem diante do cotidiano desses trabalhadores, os quais ficam expostos às explorações do trabalho e degradação humana, condições inaceitáveis em qualquer espaço de trabalho e menos ainda em uma instituição pública de ensino.

Nos últimos tempos, o capital em suas sucessivas crises busca ampliar o mercado mundial e suas taxas de lucro. Essa realidade tem produzido transformações na relação capital-trabalho. Tratam-se de novas formas de organização do setor produtivo, com novas relações e formas de trabalho. São novos postos de trabalho e extinção de velhos postos, diferentes tecnologias, processos automotivos e flexibilização nas relações e condições de trabalho. O que resulta no crescimento de terceirizadas14e subcontratações, com desvalorização e fragmentação da força de trabalho. Há aumento da exploração e intensificação do trabalho. São longas jornadas de trabalho, baixos salários, desemprego, trabalhos análogos à escravidão, contratos precários ou muitas vezes sem contratos, entre outros.

13“Dumping Social são as agressões reincidentes e inescusáveis aos direitos trabalhistas que geram um dano à sociedade, e constituem forma de precarização das relações de trabalho na medida em que, com tal prática, desconsidera-se, propositalmente, a estrutura do Estado social e do próprio modelo capitalista com a obtenção de vantagem indevida perante a concorrência”. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/? n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8087&revista_caderno=25>.Acesso em: 05 mar. 2018.

14 As terceirizadas estão caracterizadas por “um mecanismo central da estratégia patronal, [...]em suas diversas modalidades, especialmente nas empresas de subcontratação, acabam por estabelecer “contratos” que dissimulam as relações entre capital e trabalho, apresentando-as como “contratação interempresarial, entre a empresa contratante e a contratada”. Atuam, “criando trabalhadores e trabalhadoras de “primeira e segunda categorias”, fatiando-os e diferenciando-os entre contrataddiferenciando-os diretamente e “terceirizaddiferenciando-os”, ampliam-se ainda mais as heterogeneizações e fragmentações no corpo produtivo” (ANTUNES e DRUCK, 2014; KREIN, 2007, apud ANTUNES, 2015, p. 11).

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Com o propósito da compreensão das migrações na sociedade capitalista e sua implicação nas condições de vida, trabalho, moradia e escolarização dos trabalhadores migrantes temporários nordestinos da construção civil da UFSC, partimos de três pressupostos que possibilitaram explicar que as movimentações de trabalhadores/migrações resultam essencialmente da expropriação dos trabalhadores diante do processo de expansão e acumulação do capital. O primeiro pressuposto se refere à expropriação dos trabalhadores do campo como condição do processo que desencadeia a movimentação de trabalhadores e se relaciona com a expropriação primária e secundária. Temos a compreensão, a partir de Marx (2011), que o cercamento das terras comunais produziu a expropriação de centenas de milhares de trabalhadores do campo, que perderam seus meios de produção e passaram a vender sua força de trabalho no assalariamento com a indústria nascente. Fontes (2010), com base em Marx, analisa que as expropriações de trabalhadores continuam acontecendo na contemporaneidade e aprofundam-se e generalizam-se com a expansão capitalista. A expropriação primária original de grandes massas campesinas atraídas para as cidades ou expulsas por razões diversas de suas terras permanece e se aprofunda na contemporaneidade, com a extirpação dos recursos sociais de produção das mãos dos trabalhadores rurais, em especial a terra, em uma aceleração impactante que reduz a margem de sobrevivência de semiproletarizados em praticamente todas as regiões do planeta. O capital também tem produzido a expropriação secundária que é uma nova e fundamental forma de exasperação da disponibilidade dos trabalhadores para o mercado, com novos mercados para extração de mais valor, onde a expropriação se converte em capital, a partir da exploração do trabalho vivo e pelos recursos sociais concentrados.

Consideramos como segundo pressuposto o processo de crescimento de capital que não é acompanhado pela ampliação do trabalho, ou seja, a produção da riqueza implica na miséria do trabalhador. Em suas análises, Marx (2011) observa que a grande maquinaria permitiu que o capitalista ficasse independente ao produzir mercadorias com base na mais valia, o que possibilitou riqueza e acúmulo de capital com a apropriação e privatização dos meios de produção. O empobrecimento da classe trabalhadora é diretamente proporcional ao enriquecimento do capitalista, que dentro de uma escala de acumulação irá produzir/manter e conservar em dois polos, os assalariados e os capitalistas, que no acúmulo de capital significará o aumento da proletarização dos trabalhadores, aumentando o número

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daqueles que serão lançados à margem. Harvey (2005), com base em Marx, indica que o capital, ao apropriar-se das reservas latentes no processo de acumulação do capital, induzirá o desemprego e uma reserva de trabalhadores desempregados, que resultará em baixa sobre as taxas de salários e novas oportunidades de emprego lucrativo do capital. O indivíduo se torna supérfluo à necessidade de expansão do capital e onde a quantidade de “pobres laboriosos” (assalariados) transforma sua força de trabalho em força de valorização crescente do capital que está sempre se expandindo. (MARX, 2011, p. 726).

O terceiro pressuposto se relaciona com a expansão espacial do capital, sendo que esta produz a movimentação dos trabalhadores. Harvey (2005), com base na teoria de acumulação de Marx, analisa o processo de expansão espacial do capital como resultado da divisão territorial do trabalho. O capital circula no espaço e no tempo para criar sua própria geografia histórica peculiar para se manter hegemônico. Ao conquistar novos espaços e territórios busca reduzir seu tempo de produção e de circulação de mercadorias para a acumulação, em um processo contraditório de expansão e concentração, que resulta no deslocamento dos trabalhadores. Sendo assim, segundo Silver (2005), o capital para responder as suas crises cíclicas e cada vez mais próximas, lança mão da migração espacial e de produto, buscando maior lucratividade, sem se importar com a mercadoria que perde seu valor concreto e qualitativo quando seu valor é abstrato. O próprio processo de trabalho com a mercadorização da força de trabalho vendida produz a insatisfação dos trabalhadores e o próprio processo de trabalho é a acumulação do capital. “Para onde vai o capital, o conflito vai atrás” e junto a classe trabalhadora (SILVER, 2005, p. 12). Temos como quarto pressuposto que o processo de expropriação dos trabalhadores reflete na educação e escolarização/qualificação para o trabalho dos migrantes, sendo desencadeado na origem e estendendo-se à atualidade na sociedade capitalista. Harvey (2016) com base em Marx analisa que a complexidade e sinuosidade dos sistemas de produção possibilitou que o capital sempre buscasse uma força de trabalho educada, disciplinada, subordinada e flexível diante das exigências e demandas do modo de produção capitalista. Na contemporaneidade, o capital e o Estado capitalista (principalmente este último) tem se interessado pelos aspectos da reprodução social. Silver (2005) analisa que as frequentes crises do capital tem produzido transformações na divisão internacional do trabalho no processo de mundialização do capital. O setor da educação é estratégico, porque forma trabalhadores para o

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mercado de trabalho. As atuais demandas de produtividade do modo de produção capitalista tem exigido para uma parcela da força de trabalho maior qualificação, o que produz concorrência no mercado e a intensificação na expropriação de trabalhadores. Fontes (2016) assinala que a educação responde sempre a dois movimentos contraditórios: de um lado, a formar “trabalhadores” de níveis diversos e de outro lado, a sociedade capitalista é impelida a responder às exigências de massas crescentes de trabalhadores, que aspiram (e reivindicam) a inúmeras saídas pela educação. Nas últimas décadas, as entidades patronais e empresarial burguês capitalista vem atuando no sentido de assumir todas as parcelas que possam vir a ser lucrativas na atividade educativa. Rummert (2013) indica que há modificações na educação formal, com intensificação e multiplicação de relações pedagógicas, com conteúdos particulares. São novas intervenções que acontecem nas políticas, conteúdos e métodos. Há ausência efetiva de acesso à escola para a maioria da “classe trabalhadora” e também diferenças substantivas na oferta da educação nos percursos escolares para a burguesia e para a classe trabalhadora.

A partir destes pressupostos, a pesquisa centrou nas migrações internas, particularmente nas saídas dos trabalhadores do Nordeste para o Sul do Brasil. Compreende- se que o processo de migração é constante e na atualidade tem-se acelerado. O capital para seguir acumulando (processo contraditório de expansão e concentração) continua expropriando e produzindo dificuldades de reprodução da classe trabalhadora. São grandes massas de pessoas que se deslocam internamente para a produção social da vida e ficam sujeitos a extremas condições de pobreza, ocupados em trabalhos simples e explorados. Em condições de vulnerabilidade extrema, os trabalhadores migrantes temporários da construção civil em Florianópolis compõem, nos termos de Marx (2011), o “exército industrial de reserva”, presente desde a origem do modo de produção capitalista e necessário no seu processo de acumulação. Com pouca ou nenhuma escolarização, os trabalhadores migrantes são expropriados dos meios de produção da vida e também expropriados do conhecimento e da qualificação.

Nossa pesquisa partiu das seguintes questões:

● O que leva ou incentiva na atualidade, o deslocamento dos trabalhadores migrantes nordestinos da construção civil da UFSC?

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submetidos os trabalhadores migrantes nordestinos no processo da migração?

● Qual a condição de escolarização dos trabalhadores migrantes?

● O deslocamento dos trabalhadores tem afetado o acesso e a continuidade na escola?

● O que leva e determina, o abandono da escola pelos trabalhadores migrantes nordestinos?

● Como as empresas se colocam frente à escolarização dos trabalhadores migrantes?

● Há algum tipo de apoio e incentivo por parte das empresas na escolarização dos trabalhadores migrantes?

Os dados da nossa pesquisa apontaram que 78% dos trabalhadores migrantes nordestinos da construção civil da UFSC possuem apenas o ensino fundamental incompleto e 100% deles abandonaram a escola em função do trabalho. Destacamos que nossos entrevistados são jovens e tem em média 26 anos.

Vendramini (2017, p. 429) aponta que os estudantes ao migrarem não conseguem acompanhar os calendários escolares das escolas, pois na maioria das vezes os deslocamentos não são planejados com antecedência. Ao se deslocarem, os estudantes enfrentam diversos problemas, como a interrupção do percurso escolar, defasagens idade-série geradas pela frequência insuficiente, dificuldade de acompanhamento dos conteúdos, de adaptação à escola, mudança de turno e de escola, transferência do ensino regular para a Educação de Jovens e Adultos. Os jovens também vivenciam preconceitos na escola. Essa realidade é expressão de múltiplas determinações, entre elas e não menos importante, a necessidade de inserção precoce no trabalho.

Assim, o objetivo geral desta pesquisa buscou analisar as condições de vida, trabalho, moradia e escolarização dos trabalhadores migrantes temporários nordestinos da construção civil da UFSC, no contexto das migrações na sociedade capitalista. Dessa maneira, investigamos como a sua mobilidade afeta a escolarização. Contamos com os seguintes objetivos específicos que orientaram a elaboração dessa dissertação:

● Analisar o contexto das migrações na sociedade capitalista;

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● Observar o fluxo migratório de trabalhadores nordestinos em direção à cidade de Florianópolis; ● Analisar as condições de vida e trabalho dos migrantes

no contexto de crescente desemprego e trabalho informal;

● Investigar as implicações da migração na escolarização dos trabalhadores.

No que diz respeito à metodologia da pesquisa, partimos da abordagem teórica e empírica. Concordamos que a metodologia é o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade (MINAYO, 2001). A pesquisa social precisa ser analisada dentro de uma abordagem dialética, onde o fenômeno ou processo social precisa ser entendido nas suas determinações e nas transformações dadas pelos sujeitos (p. 25).

A realidade social não é conhecida como totalidade concreta se o homem no âmbito da totalidade é considerado apenas e sobretudo como objeto e na práxis histórico- objetiva da humanidade não se reconhece a importância primordial do homem como sujeito (KOSIK, 1976, p. 44).

Na pesquisa teórica, temos em Marx (2011) a compreensão de que a expropriação dos trabalhadores, necessária para a acumulação e expansão do capital, produz o deslocamento da classe trabalhadora e uma população excedente no processo de produção.

Mas se uma população trabalhadora excedente é produto necessário da acumulação ou do desenvolvimento da riqueza no sistema capitalista, ela se torna, por sua vez, a alavanca da acumulação capitalista e, ao mesmo tempo, condição de existência do modo de produção capitalista. Ela constitui um exército industrial de reserva disponível, que pertence ao capital de maneira tão absoluta como se fosse criado e mantido por ele. Ela proporciona o material humano a serviço das necessidades variáveis de

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expansão do capital e sempre pronto para ser explorado, independentemente dos limites do verdadeiro incremento da população (MARX, 2011, p. 743).

O trabalho ou a ausência dele tem sido fator principal no deslocamento para a produção da vida social e busca pela superação da condição de pobreza da classe trabalhadora. Hobsbawm (2017) analisa que os trabalhadores vagueiam pelo mundo em busca de trabalho, se deslocam do campo para a cidade, do centro para a periferia e da periferia para o centro, ou de uma região para outra. São trabalhadores que não tem lugar fixo, atravessam países, territórios, cidades e fronteiras em busca da sobrevivência.

Com relação à educação, compreendemos que ela está subordinada aos interesses do capital. À classe trabalhadora é ofertada uma escola que se limita às exigências de mercado. A literatura educacional crítica de base marxista indica forte relação entre as condições de vida, trabalho e escolarização. Na atualidade, nos deparamos com a mercadorização da educação, cujo interesse do capital faz do mercado de conhecimento uma lógica financeira. A educação se tornou um grande negócio e cresce cada vez mais o interesse dos capitalistas e empresários nesse setor. Ainda se faz presente a ideia de que é por meio da escola que acontece a equalização de oportunidades e a ascensão social. O Estado capitalista insiste que a superação das desigualdades sociais de nossa sociedade se faz por meio de políticas, ações e programas compensatórios.

Na pesquisa empírica foi realizado um trabalho de campo nos canteiros de obras no campus da Trindade - UFSC. Visitamos as obras com o propósito de identificar quais as empresas que empregavam maior número de trabalhadores migrantes temporários nordestinos. Em um primeiro momento realizamos um mapeamento fig. 14 (p. 135) das obras que estavam sendo edificadas e também das que estavam paralisadas por falta de repasse do Governo Federal.

Na coleta de dados realizamos um total de 14 entrevistas15 semiestruturadas em dois canteiros de obras de duas empresas que

15 A presente pesquisa, como já mencionado, integra uma pesquisa maior e cujo título é: Migração e escolarização: a realidade de jovens estudantes e trabalhadores, sob a coordenação da Prof.ª Dra. Célia Regina Vendramini da Universidade Federal de Santa Catarina. A pesquisa segue as exigências do comitê de ética da universidade que concedeu aprovação. O modelo do Termo

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prestam serviço na universidade, a empresa SALVER16 CONSTRUTORA E INCORPORADORA LTDA e a CONSTRUTORA PROGREDIOR17LTDA. Do total de 14 entrevistas, 09 foram realizadas com trabalhadores temporários e 05 com funcionários das duas empresas. O canteiro de obras é local de trabalho e também de moradia, o que possibilitou acompanhar o cotidiano dos trabalhadores, rotina e condições de trabalho, a vida cotidiana, moradia, alimentação e lazer. No processo de pesquisa não foi possível entrevistar os proprietários das construtoras, pois os mesmos residem em outros municípios do estado ou em outros estados. Assim, foram entrevistados os funcionários que estão à frente das decisões nos canteiros de obras, que são responsáveis pelo contrato dos trabalhadores e pelo acompanhamento das obras.

É importante considerar que os contratos firmados entre as empresas e trabalhadores da construção civil são flexíveis e precários. Esses contratos caracterizam o “modos de ser da informalidade”, ou seja, são contratos que desconsideram os direitos e a regulamentação social protetora do trabalho, com condições de trabalho que podem ser sempre mais intensificadas (ANTUNES, 2016, p.10).

Também realizamos conversas informais com empresas terceirizadas do setor da construção civil e trabalhadores do setor de

de concessão e imagem assinado pelos entrevistados encontra-se no Apêndice D (p. 211) dessa Dissertação.

16 Empresa SALVER CONSTRUTORA E INCORPORADORA LTDA., Inscrita no CNPJ/MF sob o nº 00.521.113/0001-32, estabelecida à Rodovia SC 302, Km 01, nº 2030, Bairro: Vila Nova, Município de Ituporanga, estado de Santa Catarina, CEP 88400-000 Fone:(47)3533-1274 / (47)3533-1777, E- mail: metalico@salver.com.br, cujo termo de Contrato de empreitada por Preço Global com a Universidade Federal de Santa Catarina, foi acordado através do Processo de Licitação nº 23080.036104/2012-57. Disponível em: <http://www.salver.com.br/sobre.html>. Acesso em: 16.08.2017.

17 CONSTRUTORA PROGREDIOR LTDA., inscrita no CNPJ/MF sob o nº 56.838.949/0001- 82 estabelecida à Rua Michigan, 135- Brooklin Novo, Município de São Paulo, Estado de São Paulo - SP- CEP: 04566-000 Fone 11 5543-5022, E- mail: faleconosco@progredior.com.br e filial na Rua Tereza Cristina, 339, Bairro: Estreito, CEP: 88070-790, na cidade de Florianópolis- SC cujo termo de Contrato de empreitada por Preço Global com a Universidade Federal de Santa Catarina, foi acordado através do Processo de Licitação nº 23080.036106/2012-46. Disponível em: http://www.progredior.com.br/home/ Acesso em: 16.08.2017.

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segurança que atuam na UFSC. Compreendemos que o trabalho de campo possibilitou a aproximação da realidade concreta dos trabalhadores migrantes. Também constatamos as contradições existentes na relação capital-trabalho entre empresas e trabalhadores. Concordamos com Minayo (2001, p. 64) que o trabalho de campo é fruto de um momento relacional e prático. As inquietações nos levam ao desenvolvimento da pesquisa que nasce no universo do cotidiano e o que atrai na produção do conhecimento é o desconhecido, a novidade e o confronto do que é estranho e que requer sucessivas aproximações em direção ao que se quer conhecer. As observações de forma participante e conversas informais que realizamos no âmbito da universidade possibilitaram identificar uma população de trabalhadores migrantes, sem qualificação e em condições de vulnerabilidade e invisibilidade, condições degradantes de trabalho, vida e moradia. As falas dos sujeitos da pesquisa revelam o sentido de nossa pesquisa.

É na dialética da totalidade que não só as partes se encontram em relação de interna interação e conexão entre si e com o todo, mas também que o todo não pode ser petrificado na abstração situada por cima das partes, visto que o todo se cria a si mesmo na interação das partes (KOSIK, 1976, p. 42).

Com o acesso aos dados coletados identificamos o perfil dos migrantes, em relação à idade, sexo, naturalidade, estado civil, escolaridade; aspectos da trajetória de trabalho: trabalhos anteriores, no que e onde já trabalharam; atuais condições de vida e de trabalho e suas condições de moradia, alimentação, lazer, deslocamentos, relacionamentos, relação com a família no local de origem, contratos, jornada de trabalho, salário, férias, assistência médica, saúde; e, por fim, as condições de escolarização dos migrantes e suas perspectivas neste aspecto.

Nas análises dos dados coletados, as teorias com aporte crítico, de base marxista, possibilitaram a análise histórica e dialética que busca na fala dos sujeitos participantes e nas observações a compreensão da realidade concreta dos trabalhadores migrantes. As quais revelam a conexão da particularidade com a universalidade, ou seja, a situação da classe trabalhadora no modo de produção capitalista. Na pesquisa documental foram considerados os dados sobre

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migração do Censo Demográfico do IBGE; Conselho Nacional de Imigração - CNIg /TEM; OIT Brasil; ONU; DIEESE; PNUD; ACNUR; OIM; Prefeitura Municipal de Florianópolis: Secretária de Assistência Social e Secretária de Saúde, entre outros.

Consideramos ainda para elaboração dessa dissertação, o balanço da literatura: Migração: uma categoria em disputa, onde identificamos e analisamos o debate dos pesquisadores de diversas áreas sobre a temática migração, trabalho e escolarização de migrantes nordestinos, no período 2007-2017. O balanço bibliográfico permitiu uma maior aproximação com a temática e o contexto das migrações entre as regiões brasileiras.

No levantamento18das produções bibliográficas elencamos quatro palavras chaves: migração, escola, escolarização, migrantes nordestinos. Recorreu-se aos portais on-line do sistema de banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)19 para o levantamento das teses e dissertações. Para os artigos, foi consultado o banco de dados do portal Scientific Eletronic Library Online20 (ScCIELO) e o Google

Acadêmico21, o qual apresentou o maior número de artigos.

As produções bibliográficas levantadas foram organizadas em quadros (Apêndice A - Quadros 1, 2 e 3) com as principais

18 O levantamento das produções bibliográficas pautou-se em variações com as palavras-chave/verbetes: Migração/Escola; Migração/Escolarização; Migrantes Nordestinos/Migração; Migração/Escola, Migrantes Nordestinos, Migração/Escolarização; Migrantes nordestinos; Migração/ Escola/ Escolarização/ Migrantes Nordestinos; Migrantes. No processo de pesquisa junto ao banco de dados de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), foi encontrado um total de 3.619 produções. Após um maior refinamento, chegou-se ao número de 582 produções. Com relação aos artigos, recorreu-se ao banco de dados do portal Scientificc Eletronic library Online (ScCIELO), que apresentou um número total de 883 artigos e o Google Acadêmico, 2.290 artigos. Após uma maior filtragem, elencou-se entre os dois portais um total de 23 artigos e posteriormente, com um novo refinamento, o número final foi de 17 artigos. Nas filtragens, se descartou as produções que se repetiam e as que mais se distanciavam da temática, finalizando então, com um total de 23 produções, sendo 17 artigos, 5 dissertações e 1 tese. 19 Disponível em: <http://bancodeteses.capes.gov.br/banco-teses/#!/>. Acesso em: 13 maio 2017.

20 Disponível em: < http://www.scielo.org/php/index.php >. Acesso em: 13 maio 2017.

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informações das produções. Foram construídos, ainda, cinco gráficos, contendo: produções acadêmicas por regiões do país; vínculo dos autores por natureza das instituições; concentração das produções por ano; áreas de estudo; produções acadêmicas da área de educação comparada a outras áreas.

No Gráfico 1 (p. 200), observa-se a hegemonia e manutenção do maior número de produções bibliográficas da região sudeste com 52,2%, seguido pela região nordeste que apresentou 30,4% e região sul com 17,4. No Gráfico 2 (p. 201), a instituição pública ainda mantém a maior produção de estudos de problemáticas de natureza social. Já no Gráfico 3 (p. 202), observa-se um maior número de produções sobre a temática no ano de 2012. Nos gráficos 4 (p. 203), encontram-se as produções acadêmicas por áreas de estudo e no gráfico 5 (p. 204) as produções da área de educação comparadas as outras áreas respectivamente. As produções bibliográficas da educação com relação à temática migração, trabalho e escolarização representam um percentual de 43,5% e trabalhos de outras áreas 56,5%. As produções acadêmicas na última década centraram-se nas áreas da psicologia, ciências sociais, economia, geografia e antropologia.

O presente balanço apontou que as pesquisas sobre migração no Brasil não são recentes e evidenciam a complexidade envolvida na compreensão da problemática. Há estudos que são datados, ou seja, analisam a problemática da migração em contextos específicos, como é o caso das análises sobre o grande movimento de trabalhadores do campo para a cidade a partir dos anos 1930, com novo pico nos anos 1970/80, em função da modernização capitalista do campo. No mesmo sentido, encontram-se os estudos acerca do intenso movimento de trabalhadores da região Nordeste em direção ao Sudeste.

Além disso, as migrações na atualidade revelam um intenso fluxo para diferentes direções, inclusive pequenas e médias cidades. Os trabalhadores têm cada vez mais dificuldade de fixação, movendo-se para diferentes lugares.

Também se observou um conjunto de estudos dentro de uma análise histórico- estrutural que veem as migrações como resultado de expulsão e atração de áreas arcaicas para as modernas, considerando a origem e o destino. Os estudos são de Lopes (1971;1976), Paul Singer (1976) e Eunice Durhan (1978).

Outro grupo analisa a migração como um fenômeno de mobilidade, que coloca no centro da análise a capacidade dos migrantes de circular, construir e apropriar-se de espaços, produzindo territórios e identidades sociais. São estudos que se referem às respostas diante da

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pobreza, baixa escolaridade e qualificação para o trabalho e que evidenciam uma visão reformista da realidade social. Entre eles, Patarra (2006), Almeida e Baeninger (2011), Flores (2010), Menezes (2012), Nogueira (2012), Silva (2007), Braga (2012), Miyahira (2015) e Silva (2011).

Há um número expressivo de autores que fazem uma análise culturalista da migração, compreendendo-as fora das relações e condições de trabalho e pautando-se nos aspectos linguísticos, características físicas, hábitos alimentares, costumes e tradições dos indivíduos e deslocados de uma base material de produção da existência que move os sujeitos a migrarem. A análise acaba sendo individualizada e não aborda os fatores econômico-sociais motivadores das migrações compreendendo-as fora das relações e condições de trabalho. Também se observa certa dualidade nos estudos, conforme formulação de Oliveira (1973) na obra Crítica à razão dualista. Dualidade em análises que se pautam no micro (fenômenos de migração localizados) sem abordagem da totalidade social ou as que fazem análises generalistas e apriorísticas sem preocupação com a realidade em sua particularidade. Algumas de caráter estruturalista e outras caindo na fragmentação da realidade, como Souza et al. (2012), Silveira; Souza (2013), Souza; Silveira (2010), Souza (2013), Brasão (2013), Silva (2011) e Rodrigues (2009).

Compreende-se que as análises dos autores citados acima apresentam explicações que advém do ideário pós-moderno, pois buscam conformação histórica com consideração à experiência do momento, distanciando-se da realidade concreta dos sujeitos, de suas experiências históricas, das suas condições econômicas, ou seja da sua posição social na estrutura de classes sociais. Nessa compreensão, a experiência histórica é substituída pela experiência instantânea e reduzida ao plano individual, cuja fragmentação, dicotomização e dispersão possibilita que o fragmento local ganhe vida própria e o micro se torna independente em uma situação particular.

Ainda, um outro conjunto de estudos que compreendem a migração no contexto das relações capitalistas de produção, associando a migração à categoria trabalho, considerando o capitalismo no seu processo de acumulação que produz riqueza e, ao mesmo tempo, miséria e desigualdade social, com uma grande massa de trabalhadores (exército industrial de reserva nos termos de Marx) que vagueia pelo mundo em busca de trabalho. Entre eles, Ribeiro (2016), Santana (2015), Vendramini (2016, 2017, 2018), Espinosa e Vendramini (2016).

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O materialismo histórico dialético – “fundamentação que opera na contra-corrente do pensamento próprio aos quadros da ordem burguesa”(NETTO, 2015, p. 10), pode ajudar a fugir da dualidade aparente, culturalista e superficial e buscar compreender a realidade específica dos migrantes trabalhadores, a partir das necessidades e percebendo a sua condição de vida, de trabalho e escolarização como expressão da totalidade, no contexto das relações capitalistas de produção. Os autores de base marxista têm no conceito de classe o elemento explicativo e que fundamenta a construção de uma sociedade emancipadora.

Por fim vê-se com certa preocupação o questionamento da categoria migração para a análise da realidade social e a sua substituição por outros termos que se dissociam da categoria trabalho, que buscam a compreensão do caráter de mobilidade das migrações contemporâneas e acabam por escamotear as contradições inerentes ao capitalismo, como trajetórias migratórias, mobilidade circular, campo e espaço migratório, território circulatório, mobilidade populacional, fenômenos de mobilidade. A categoria migração não é um fenômeno da atualidade. Enquanto situação relacionada ao trabalho e ao desemprego, ela está presente desde a origem do modo de produção capitalista, com a expropriação dos trabalhadores das terras comunais que foram direcionados para as cidades em busca de trabalho na relação assalariada. A separação dos trabalhadores dos seus meios de produção da vida, conduzem-nos à proletarização, tornando-os livres para venderem sua força de trabalho onde houver mercado (MARX, 2011). Compreende-se que a categoria migração tem a potencialidade de explicar o processo das migrações nessa sociedade.

Defende-se, portanto, a necessidade de manutenção da categoria migração, na sua historicidade e conexão com o trabalho e a classe social, tendo esta potencial de crítica à sociedade capitalista.

Os dados levantados nessa pesquisa permitiram analisar e compreender as condições de vida, trabalho, moradia e escolarização dos trabalhadores migrantes da construção civil da UFSC. Constatamos que os trabalhadores ao serem contratados pelas empresas da construção civil e terceirizadas no campus da Universidade em Florianópolis acabam por vivenciar exploração e precariedade de vida e trabalho. São situações análogas de escravidão, que acontecem em uma universidade pública em pleno século XXI e em uma cidade considerada como uma das melhores para se viver na região sul e no Brasil. Desse modo, a pesquisa se propõe a denunciar situações desumanas, que envolvem exploração, opressão, humilhação e confinamento dos trabalhadores. A pesquisa também

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relatou que faltam dados estatísticos atualizados referentes ao fluxo de migrantes para a cidade de Florianópolis.

Entendemos que a pesquisa contribuirá com o déficit de produções sobre a temática migração, trabalho e escolarização na área da educação e na perspectiva do Materialismo Histórico Dialético. A migração é parte inerente do capital, sendo peça de engrenagem para manutenção do sistema capitalista. A classe trabalhadora que não detêm os meios de produção precisa vender sua força de trabalho em qualquer lugar e em qualquer ramo produtivo.

A dissertação está organizada em três capítulos, além da introdução. No capítulo 1 - Os processos migratórios diante das expropriações dos trabalhadores, analisamos a histórica expropriação dos trabalhadores na sociedade capitalista, com a movimentação da classe trabalhadora em busca de trabalho.

No capítulo 2 - As condições de vida e trabalho dos migrantes diante da expropriação e exploração dos trabalhadores, abordamos a situação da classe trabalhadora no contexto do capitalismo, considerando as condições de vida, trabalho e moradia dos trabalhadores migrantes da construção civil da UFSC, em Florianópolis-SC.

No capítulo 3 - A escolarização dos migrantes diante do projeto de escola do capital para os trabalhadores, consideramos a realidade de escolarização dos trabalhadores migrantes da construção civil, em um mundo em que a mobilidade do capital e dos trabalhadores é uma constante. Nesse contexto, destacamos o projeto de escola direcionado para a classe trabalhadora na sociedade capitalista e a necessidade de um projeto de escola e de sociedade na perspectiva dos trabalhador.

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1 OS PROCESSOS MIGRATÓRIOS DIANTE DAS EXPROPRIAÇÕES DOS TRABALHADORES

Neste capítulo, apresentamos o movimento das migrações considerando a origem do modo de produção capitalista e o estágio atual do capital-imperialismo. Temos assistido e as estatísticas tem comprovado uma grande movimentação de trabalhadores no mundo e entre países e regiões. Segundo o Relatório da ONU - International Migration Report 2017, são 258 milhões de migrantes internacionais. O Censo demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que 268,5 mil migrantes internacionais entraram no Brasil, em um percentual de 86,7% a mais do que em 2000 (143,6 mil) e muitos migrantes de retorno. E no período entre 2000 a 2010, um total de 11.316.720 pessoas trocaram de estado, contra 9.909.119 na década anterior, o que evidência um aumento percentual de 14,2%.

Consideramos os deslocamentos da classe trabalhadora sob a égide do capitalismo, desde as origens do modo de produção capitalista ainda na sua forma de acumulação primitiva até os dias atuais em sua forma de financeirização e como portador de juros. O trabalho é condição básica para a sobrevivência na sociedade capitalista, a transformação da força de trabalho em mercadoria leva os trabalhadores à sujeição a toda forma de exploração, incluindo a migração entre regiões e também entre diversos setores de trabalho. Segundo Silver (2005), o deslocamento de trabalhadores está relacionado com os deslocamentos espaciais do capital entre diferentes setores industriais. Sendo assim, “o principal foco de formação e protesto da classe trabalhadora se deslocou dentro dos setores, juntamente com o deslocamento geográfico da produção e também entre setores, acompanhando a ascensão de novos setores líderes e o declínio dos antigos (SILVER, 2005, p. 123). Observamos trabalhadores que migram da agricultura do campo para o setor de serviços na cidade, adentram comércios, redes de fast food, construção civil, entre outros. As expropriações na origem, expulsões de territórios e exploração dos trabalhadores têm se constituído em meio de controle, ainda que incontrolável, do chamado “exército de reserva” (MARX, 2011). A expropriação dos meios de produção e sobrevivência na acumulação originária possibilitou as condições necessárias para a exploração do trabalho e em consequência a origem do capital e das relações sociais capitalista. Na atualidade esses

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processos se intensificam com a mercadorização da força de trabalho e a necessidade de resolver as crises do capital. A migração é parte inerente desse processo, tanto no passado quanto no presente.

1.1 AS EXPROPRIAÇÕES NA ORIGEM E NA ATUALIDADE DA ACUMULAÇÃO DO CAPITAL

Em O capital Marx (2011), analisa que o processo de acumulação originária envolveu métodos não idílicos. O processo que cria o sistema de produção capitalista teve origem na expropriação a sangue e fogo dos meios de produção e de subsistência dos artesãos e camponeses. Esse processo retira a propriedade fundada no próprio trabalho e institui a propriedade privada fundada no trabalho alheio. Esse processo transforma em capital os meios sociais de subsistência e os de produção e converte os produtores de valores de uso em trabalhadores livres.

Assim, no processo da acumulação originária se constituem duas classes sociais. Os proprietários dos meios de produção, de subsistência e dinheiro e o trabalhador livre, vendedor da própria força de trabalho. Segundo Marx (2011, p. 836), trabalhadores livres em dois sentidos, no formal e no econômico, porque não são parte direta dos meios de produção, como os escravos, servos etc., e porque não são donos dos meios de produção nem de subsistência, como o camponês autônomo, estando assim, livres e desembaraçados deles. E ao analisar a acumulação originária do capital, Marx destaca que as mercadorias e o dinheiro em si não são capital e que essas foram anteriores ao capitalismo.

O processo que cria o sistema capitalista consiste apenas no processo que retira ao trabalhador a propriedade de seus meios de trabalho, um processo que transforma em capital os meios sociais de subsistência e os de produção e os converte em assalariados os produtores diretos. A chamada acumulação primitiva é apenas o processo histórico que dissocia o trabalhador dos seus meios de produção. É considerada primitiva porque constitui a pré-história do capital e do modo de produção capitalista (MARX, 2011, p. 836). No processo de acumulação originária, dinheiro e mercadoria

Referências

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