• Nenhum resultado encontrado

Estudo do comportamento de busca por informação científica de alunos e professores do curso de licenciatura em matemática do Ifes-Campus Cachoeiro de Itapemirim

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Estudo do comportamento de busca por informação científica de alunos e professores do curso de licenciatura em matemática do Ifes-Campus Cachoeiro de Itapemirim"

Copied!
151
0
0

Texto

(1)

INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

RENATA LORENCINI RIZZI

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE BUSCA POR INFORMAÇÃO CIENTÍFICA DE ALUNOS E PROFESSORES DO CURSO DE LICENCIATURA EM

MATEMÁTICA DO IFES – CAMPUS CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM

Vitória 2013

(2)

RENATA LORENCINI RIZZI

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE BUSCA POR INFORMAÇÃO CIENTÍFICA DE ALUNOS E PROFESSORES DO CURSO DE LICENCIATURA EM

MATEMÁTICA DO IFES – CAMPUS CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM

Vitória 2013

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática do Instituto Federal do Espírito Santo como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação em Ciências e Matemática.

(3)

(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)

R627e Rizzi, Renata Lorencini.

Estudo do comportamento de busca por informação científica de alunos e professores do curso de licenciatura em matemática do Ifes-Campus Cachoeiro de Itapemirim / Renata Lorencini Rizzi. – 2013.

XX f. : il. ; 30 cm

Orientador: Edmar Reis Thiengo.

Dissertação (mestrado) – Instituto Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática.

1. Matemática – Pesquisa. 2. Avaliação de comportamento. 3. Professores – Formação. 4. Estudo de usuários. I. Thiengo, Edmar Reis. II. Instituto Federal do Espírito Santo. III. Título.

(4)
(5)
(6)

(7)

Agradeço primeiramente a Deus, pois sem a presença Dele na minha vida eu

não seria nada.

Também aos meus pais, por terem me ensinado o valor de estar sempre estudando. A toda minha família pelo apoio incondicional para que eu pudesse completar essa jornada, em especial ao meu marido por estar sempre ao meu lado e ser parte de tudo que sou e faço.

A minha amiga Luciana Aline Marcena de Carvalho pelo apoio irrestrito.

A professora Dulcinéia Sarmento Rosemberg, por mais uma vez compartilhar seus conhecimentos comigo.

A professora Maria Alice Veiga Ferreira de Souza, por toda contribuição para o desenvolvimento desta pesquisa.

Ao meu orientador Edmar Reis Thiengo, por toda tranquilidade com a qual me conduziu neste processo de autoconhecimento e conhecimento científico.

Aos meus amigos do Educimat, por terem me guiado pelos meandros do processo ensino-aprendizagem diante da minha tão pouca experiência na área em especial ao Edson Alkimim e ao Gustavo Perini do Amaral, por me mostrarem exemplos do que é ser um Educador Matemático e a Patrícia Bastos, amiga de todos os momentos. Ao Alessandro Poleto, pedagogo do curso, por toda disponibilidade e atenção com que sempre me atendeu.

Muitas foram as pessoas que me apoiaram durante essa longa jornada de estudo e desenvolvimento da minha pesquisa, e assim contribuíram para ela fosse concluída, mais além contribuíram para a formação da minha identidade, do que sou e serei após todo esse processo. Por isso, muito obrigada a todos.

(8)

“O conhecimento do conhecimento compromete.

Compromete-nos a tomar uma atitude de permanente vigilância contra a tentação da certeza, a reconhecer que nossas certezas não são provas da verdade, como se o mundo que cada um de nós vê fosse o mundo, e não um mundo, que produzimos com outros.”

(9)

RESUMO

A presente analisou o comportamento de busca por informação científica de alunos e professores do curso de licenciatura em matemática do Ifes - Campus Cachoeiro de Itapemirim, assinalando para o fluxo informacional que engloba a produção, uso e comunicação da informação científica e como esta se faz presente do curso de Licenciatura em Matemática. Para alcançar este objetivo sua metodologia abarca o desenvolvimento de um estudo de usuários, baseado na metodologia Sense-Making, com aplicação de questionário, observação e entrevistas semiestruturadas. A observação foi realizada de 05 de novembro a 02 de dezembro de 2012, na turma do 6º período do curso. O questionário foi aplicado em dezembro de 2012 para 94 alunos e 10 professores, no intuito de caracterizar de forma geral o comportamento de busca por informação destes sujeitos, como também identificar fontes e canais de informação preferenciais. O roteiro para as entrevistas semiestruturadas foi aplicado no mês de abril de 2013, com os professores e alunos regularmente matriculados no 7º período do curso. Neste percurso foi possível constatar que a internet é um dos canais preferidos por alunos e professores para buscar informação, o que pode ser explicado pela popularização deste canal a partir da década de 90, assim segue-se analisando os demais dados. As estratégias de busca neste canal de comunicação incluem a utilização de ferramentas de busca como o Google, todavia outras estratégias são utilizadas por professores e alunos tais como recorrer a bibliotecas e outras pessoas. As situações de busca mencionadas pelos alunos e professores, não explicitaram a perpetuação do paradigma da racionalidade técnica, pelo contrário atividades de pesquisa proporcionadas principalmente pelo PIBID tem levado a superação de tal paradigma. As dificuldades de acesso à informação mencionadas pelos participantes da pesquisa me levou a propor como produto final desta pesquisa, a criação de um portal na Internet para que seja realizada a gestão da informação no curso de Licenciatura em Matemática, como também possibilitar ferramentas para subsidiar a busca por informação e o desenvolvimento de pesquisas. A partir do término desta pesquisa e com tal produto pretendemos contribuir diretamente para fortalecer o fluxo informacional e consequentemente a produção de conhecimento dentro do Ifes - Campus Cachoeiro de Itapemirim.

Palavras-chave: Comportamento de busca por informação. Estudo de usuários. Formação de Professores. Educação Matemática.

(10)

ABSTRACT

This analyzed the behavior of searching for scientific information to students and teachers of the degree course in mathematics Ifes - Campus Itapemirim, highlighting the flux of information encompassing the production, use and communication of scientific information and how it is present 's Degree in Mathematics. To achieve this goal the methodology includes the development of a survey of users, based on the Sense-Making methodology, using a questionnaire, observation and semi-structured interviews. The observation was held 05 November to 2 December 2012, in the class of the 6th period of the course. The questionnaire was administered in December 2012 to 94 students and 10 teachers, in order to characterize in general the information seeking behavior of these subjects, as well as identifying sources and information channels preferred. The roadmap for semi-structured interviews were applied in April 2013, with teachers and students enrolled in the 7th period of the course. In this way it was established that the internet is a channel preferred by students and teachers to seek information, which can be explained by the popularization of this channel from the 90s, so it follows by analyzing the remaining data. Search strategies in this channel of communication include the use of search engines like Google, but other strategies are used by teachers and students such as using libraries and others. The search situations mentioned by the students and teachers did not emphasize the perpetuation of the paradigm of technical rationality, by contrast research activities primarily provided by PIBID has led to overcoming such a paradigm. Difficulties in accessing the information mentioned by the participants of our research led us to propose as a final product of this research, the creation of a web portal to be held information management in the Bachelor's Degree in Mathematics, as well as enabling tools to support the search for information and research development. From the end of this research, and with such a product we intend to contribute directly to strengthen the information flow and consequently the production of knowledge within the Ifes -Campus Itapemirim.

Keywords: Information seeking behavior. Study users. Teacher Education. Mathematics Education.

(11)

LISTA DE SIGLAS

Cefetes – Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Espírito Santo CI – Ciência da Informação

Etfes – Escola Técnica Federal do Estado do Espírito Santo

FUNCEFETS – Fundação de Apoio à Educação, à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Cefetes

FUNDEB - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação

IFS – Institutos Federais

Ifes – Instituto Federal do Espírito Santo ISP – Informations Search Process

NTIC‟s – Novas Tecnologias de Informação e Comunicação PDF - Portable Document Format

PIBID - Programa Institucional de Iniciação à Docência PPGE – Programa de pós-graduação em economia

PROEP - Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Técnico para receber uma Escola Técnica Federal

SISU - Sistema de Seleção Unificada

SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

TIC‟s – Novas Tecnologias de Informação e Comunicação Uned – Unidade de Ensino Descentralizada

(12)

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Representação da abordagem do comportamento informacional de

Wilson, 1996 ... 38

FIGURA 2 - Arte original da metáfora de Dervin ... 40

FIGURA 3 - Representação da abordagem Sense-Making de Dervin ... 42

FIGURA 4 - Representação da abordagem Sense-Making por Wilson ... 42

FIGURA 5 - Abordagem Sense-Making redesenhado ... 42

FIGURA 6 - Abordagem de uso da informação de Choo ... 50

FIGURA 7 - Processo de comunicação tradicional ... 58

FIGURA 8 - Localização do Campus Cachoeiro de Itapemirim... 69

FIGURA 9 - Vista externa do Campus Cachoeiro de Itapemirim... 70

FIGURA 10 - Arte original da metáfora de Dervin ... 71

(13)

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - Distribuição de gênero dos professores e alunos ... 76

GRÁFICO 2 - Frêquência com que buscam informação na Biblioteca do Campus Cachoeiro de Itapemirim ... 76

GRÁFICO 3 - Canais aos quais recorrem primeiro ao buscar informação ... 79

GRÁFICO 4 - Busca por informação em canais formais ... 80

GRÁFICO 5 - Canal preferencial ao buscar por informação ... 81

GRÁFICO 6 - Busca por informação em canais informais e semiformais – Professores ... 81

GRÁFICO 7 - Busca por informação em canais informais e semiformais – Alunos .. 82

GRÁFICO 8 - Recorre a pessoa antes ou depois de outras fontes ... 84

GRÁFICO 9 - Busca por informação em canais eletrônicos ... 85

GRÁFICO 10 - Frequência de busca por informação na Internet ... 86

GRÁFICO 11 - Frequência de busca por informação no Portal Capes ... 87

GRÁFICO 12 - Busca por informação em periódicos disponíveis online ... 88

GRÁFICO 13 - Assinatura de periódicos científicos impressos ... 88

(14)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

2 ESTUDOS DE USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO: DOS ESTUDOS BIBLIOGRÁFICOS AS ABORDAGENS SOBRE COMPORTAMENTO INFORMACIONAL ... 21

2.1 COMPORTAMENTO INFORMACIONAL ... 28

2.1.1 Necessidade de informação ... 30

2.1.2 Busca por informação ... 32

2.1.3 Uso de informação ... 34

2.2 ABORDAGENS DE COMPORTAMENTO DE BUSCA POR INFORMAÇÃO ... 36

2.2.1 A abordagem do Comportamento Informacional de Wilson ... 37

2.2.2 A abordagem Sense-Making de Brenda Dervin ... 39

2.2.3 A abordagem de Ellis, Cox e Hall ... 43

2.2.4 A abordagem ISP de Kuhtlthau ... 44

2.2.5 A abordagem multifacetada de Choo ... 49

2.2.6 A abordagem da cognição situada ... 52

3 O FLUXO DE INFORMAÇÃO CIENTÍFICA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA ... 57

4 MÉTODO ... 65

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DE PESQUISA... 66

4.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA ... 73

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 74

5.1 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS A PARTIR DO QUESTIONÁRIO E DA OBSERVAÇÃO ... 75

5.2 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS A PARTIR DAS ENTREVISTAS ... 90

5.2.1 Perfil dos alunos ... 90

5.2.1 Perfil dos professores ... 92

5.2.3 Comportamento de busca por informação dos alunos e professores: a perspectiva da abordagem Sense-Making ... 95

6 PRODUTO FINAL ... 119

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 126

(15)

APÊNDICES ... 140

APÊNDICE A – Questionário professores ... 141

APÊNDICE B – Questionário alunos ... 145

APENDICA C – Entrevista semiestruturada aluno ... 149

APENDICA D – Entrevista semiestruturada professor ... 150

(16)

1 INTRODUÇÃO

“[...] Platão considerava que a valorização da dúvida

distinguia os homens dos outros animais.” Bento de Jesus Caraça

A presente pesquisa propõe algumas direções para resolver um problema de planejamento de coleções na Biblioteca do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes), no Campus Cachoeiro de Itapemirim, qual seja: como promover o acesso dos alunos e professores do curso de Licenciatura em Matemática à informação científica, no processo de formação de educadores matemáticos e consequente superação do paradigma da racionalidade técnica? Para tanto possui como objetivo geral: analisar as relações estabelecidas entre professores, alunos e informação científica na superação da racionalidade técnica no âmbito da formação de educadores matemáticos no curso de Licenciatura em Matemática do Ifes - Campus Cachoeiro de Itapemirim e como objetivos específicos:

 Identificar as fontes e canais de informação preferidos por alunos e professores na busca por informação científica;

 Discutir as relações e ações desencadeadas por alunos e professores na busca por informação científica no contexto de sua formação;

 Investigar se a busca por informação se constitui como um elemento da dicotomia matemático e educador matemático no cotidiano de formação dos alunos e dos professores formadores.

O problema mencionado se configurou em minha prática profissional. Enquanto bibliotecária ingressei no Ifes - Campus Cachoeiro de Itapemirim em setembro de 2008, neste período o Campus ainda era uma Unidade de Ensino Descentralizada (Uned) do Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Espírito Santo (Cefetes). Recém-graduada em Biblioteconomia, minha percepção era de que a instituição contava com uma excelente estrutura de Biblioteca, que estava adequadamente preparada para atender as demandas da comunidade acadêmica, professores e alunos dos cursos técnicos oferecidos pela instituição. Contudo, no

(17)

final de 2008, o Cefetes foi transformado em Ifes, a Uned passou então a ser o Campus Cachoeiro de Itapemirim e o cenário mudou.

A transformação não se revelou apenas uma alteração de nomenclatura, mas sim, uma completa mudança estrutural envolvendo todos os setores do Campus, inclusive a Biblioteca. Especialmente porque, enquanto Ifes, o Campus Cachoeiro de Itapemirim passou a ofertar cursos de Licenciatura, sendo que o primeiro curso de Licenciatura presencial a ser implantado no Campus foi o de Licenciatura em Matemática. Esta implantação exigia que a configuração do acervo da Biblioteca fosse ampliada e diversificada, pois o foco da coleção não poderia mais ser somente a formação profissional tecnológica, devendo voltar-se para a formação de professores, e passando a apoiar-se no tripé ensino, pesquisa e extensão.

Quando o curso de Licenciatura em Matemática foi implantado, a coordenadoria de Biblioteca do Campus Cachoeiro de Itapemirim se ateve à oferta da Bibliografia Básica e Complementar constante no projeto do Curso, utilizando como base para escolha e seleção das fontes de informação – além do Plano de Desenvolvimento Institucional e a Política de Desenvolvimento de Coleções, criada em conjunto com as Coordenadorias de Bibliotecas do Ifes – instrumentos que passaram a embasar todo o processo de gestão da Biblioteca. Contudo, no início de funcionamento do curso, no ano de 2010, mesmo período em que assumi a Coordenação da Biblioteca, percebi que a estrutura informacional para atender ao curso de Licenciatura em Matemática deveria ser construída ampliando e diversificando o acervo da Biblioteca para que pudéssemos atender de forma eficiente e eficaz os alunos e professores do curso de Licenciatura em Matemática.

Os primeiros professores do curso de Licenciatura em Matemática foram professores dos cursos técnicos do Ifes - Campus Cachoeiro de Itapemirim, que de 2010 em diante passaram a atuar também na formação de educadores matemáticos. Espera-se que esEspera-se professor em sua prática pedagógica, que inclui o trabalho com informação, seja um educador matemático e não somente um matemático, de modo a superar o tecnicismo, e promover tal superação em seus alunos. Os autores Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 3-4) estabelecem uma diferenciação entre matemáticos e educadores matemáticos. Para estes autores:

(18)

O matemático tende a conceber a matemática como um fim em si mesma, e, quando requerido a atuar na formação de professores de matemática, tende a promover uma educação para a matemática priorizando os conteúdos formais dela e uma prática voltada à formação de novos pesquisadores em matemática.

O educador matemático, em contrapartida, tende a conceber a matemática como um meio ou instrumento importante a formação intelectual e social de crianças, jovens e adultos e também do professor de matemática do ensino fundamental e médio, e por isso tenta promover a educação pela matemática.

Neste contexto, a Biblioteca deveria estar preparada para ser o suporte e o fomento informacional ao professor e ao aluno, neste momento de transformação. A mediação da informação, principal função da Biblioteca do Campus Cachoeiro de Itapemirim, nesse momento se fazia necessária devido ao caráter central da informação na sociedade atual. Considerando a presente realidade social, a informação se tornou elemento fundamental no fomento de qualquer atividade produtiva, principalmente nas atividades acadêmicas dos alunos e professores que se desenvolvem com o objetivo formar conhecimento. Entretanto, a mesma não possuía especificações suficientes a respeito das fontes que poderiam ser disponibilizadas para consulta daquele público, ou seja, faltavam informações para subsidiar a tomada de decisão para o desenvolvimento da coleção e mesmo para a oferta de serviços que pudessem facilitar o processo de busca por informação.

A seleção de fontes de informação é complexa, pois envolve uma série de fatores como o mapeamento das necessidades de informação da comunidade a ser atendida e a respectiva disponibilidade das fontes de informação pelo mercado editorial. A esse respeito Assis (2007, p. 93) explica que:

A seleção conveniente de fontes de informação é fundamental e não é tarefa fácil de realizar. As fontes vêm crescendo exponencialmente em termos de quantidade e graus de especialização. O profissional da informação terá de identificar, para os diversos assuntos, quais as instituições de interesse para, então, definir e escolher seus veículos de informação, bem como todas as publicações disponíveis no ramo – normas técnicas, periódicos, livros, patentes, teses, boletins estatísticos, anuários, diretórios, monografias etc.

Reitera-se nesta direção que, para realizar a seleção das fontes é preciso conhecer amplamente a comunidade a ser atendida, bem como a natureza do curso a ser

(19)

implantado, utilizando para isso instrumentos de apoio como o Projeto do Curso. Nesse caso, em particular, a Biblioteca não detinha as informações desejáveis sobre esta comunidade, isto é, sobre os alunos e professores do curso de Licenciatura em Matemática e, apenas, a utilização do Projeto de Curso se mostrou insuficiente para seleção das fontes.

A ausência de informações a respeito deste público ocorria basicamente por alguns fatores. Primeiro, porque a Matemática como ciência possui uma linguagem própria e necessita, portanto, de fontes específicas de pesquisa. Segundo, porque no Campus Cachoeiro de Itapemirim não havia, até o momento, nenhuma pesquisa que caracterizasse a busca por informação destes usuários. Não se conhecia, como eles realizavam suas buscas, quais as estratégias, quais os canais ou quais fontes buscavam. Soma-se a esses, o fato, do Ifes ser tradicionalmente uma instituição de Ensino Técnico, voltada para a capacitação profissional, logo, o acervo da biblioteca estava voltado para a informação tecnológica e não para a informação na área de educação, necessária para a formação de professores. Essa tese é confirmada por Pinto (2011, p. 2) quando afirma que “a centenária cultura escolar caracterizada pela racionalidade técnica orientadora dos cursos profissionalizantes constituía-se no primeiro desafio a ser superado [...]”, pois na incorporação de um curso de nível superior em licenciatura, englobaram-se atividades pedagógicas, de pesquisa e extensão diferenciadas, transformando a cultura escolar no que se refere à busca por informação, como também em relação à produção e divulgação do conhecimento científico. Entende-se, assim, que a Biblioteca precisaria se modificar para atender a essas transformações sucessivas na cultura institucional.

Diante disto, no momento em que me deparei com a inexistência de parâmetros suficientes para nortear a gestão da Biblioteca do Campus Cachoeiro na perspectiva da formação e desenvolvimento de seu acervo e de sua estrutura de serviços para atender ao curso de Licenciatura em Matemática, fui despertada para a importância da utilização de instrumentos de gestão, em Ciência da Informação (CI) um desses instrumentos é o Estudo de Usuários. Trata-se de um termo situado nos campos da CI e da Biblioteconomia, áreas interdisciplinares, que podem ser delimitadas da seguinte forma: a Ciência da Informação “é um campo dedicado às questões científicas e prática profissional voltada para os problemas da efetiva comunicação

(20)

do conhecimento e seus registros entre os seres humanos, no contexto social, institucional ou individual do uso e necessidades de informação.” (SANTOS; RIBEIRO 2003, p. 57), já a Biblioteconomia:

É uma área do conhecimento incumbida de reunir; processar e disseminar informações de forma racional, registradas nos mais diferentes tipos de suportes. Objetiva, também, proporcionar a interação entre o conhecimento registrado e o usuário, garantindo aos cidadãos o direito de acesso à informação. (SANTOS; RIBEIRO 2003, p. 34).

Além de outras intercessões, as duas áreas têm em comum a função de investigar o processo de comunicação científica centrando-se nos indivíduos e na sua interação com a informação.

Tanto para a CI, quanto para a Biblioteconomia, o indivíduo que estabelece uma relação com a Biblioteca na utilização de seus serviços para acessar informação é considerado usuário de informação, tido por Silva et. al. (2007, p.107) “[...] como aquele indivíduo, grupo ou entidade que utiliza os serviços prestados por uma biblioteca, centro de informação, arquivo, entre outras fontes, e que deles tiram proveito, modificam suas estruturas cognitivas, comportamentos e desenvolvimento pessoal.”. Os usuários constituem o foco dos serviços e produtos, por isso, esses devem ser planejados para atender necessidades informacionais dos mesmos. Nesta direção, os Estudos de Usuários são pesquisas que possibilitam à Biblioteca identificar necessidades, comportamento e satisfação dos usuários durante o fluxo informacional, que é disparado pela demanda dos indivíduos.

Os desdobramentos da aplicação deste Estudo de Usuários podem ser acompanhados nos próximos capítulos. Para guiar o leitor e facilitar sua compreensão do texto, o estudo foi dividido da seguinte forma: primeiro no capítulo 2, apresento os estudos de usuários da informação sob o aporte teórico da Ciência da Informação/Biblioteconomia, perfazendo o caminho de sua evolução histórica e incluindo as abordagens, métodos e técnicas para desenvolvimento destes estudos. No capítulo 3 trato do fluxo da informação científica e a formação de professores de matemática. Posteriormente, no capítulo 4, delineio a metodologia da pesquisa. No capítulo 5 descrevo os resultados obtidos com a aplicação da metodologia e sua análise, respectivamente. No capítulo 6, exponho o produto final da pesquisa. Por

(21)

fim, no capítulo 7, assinalo o encerramento desta pesquisa com minhas considerações finais.

(22)

2 ESTUDOS DE USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO: DOS ESTUDOS BIBLIOGRÁFICOS AS ABORDAGENS SOBRE COMPORTAMENTO INFORMACIONAL

“A informação por si só se constitui em um dado incompleto, é o indivíduo que lhe atribui sentido a partir de suas experiências passadas e interesse futuro.”

Sueli Mara Soares Ferreira

Os estudos de usuários são estudos que abrangem desde levantamentos estatísticos até pesquisas sobre comportamento (PINHEIRO, 1982) desenvolvidos com a finalidade de observar “[...] os usuários das bibliotecas, bem como compreender suas necessidades, usos, opiniões e avaliações a respeito dos serviços oferecidos.” (SANTIAGO; PAIVA 2008, p. 2). O objetivo desse campo de investigação é favorecer o acesso à informação, potencializando o uso da informação mediante a melhoria dos serviços e produtos informacionais oferecidos pelas bibliotecas. Contribuindo, assim, para a produção de conhecimento. Para tanto, investigam o comportamento dos indivíduos durante o processo de busca e recuperação da informação. Estes estudos transformaram-se ao longo dos anos e, na atualidade, apoiam-se em abordagens, métodos e técnicas variados.

Os Estudos de Usuários surgiram no início do Século XX “[...] como levantamento bibliotecário (library surveys) e consistiam na coleta sistemática de dados concernentes ao sistema, suas atividades, operações, pessoal, uso e usuários em um dado momento ou em um período de tempo.” (FIGUEIREDO, 1990, p. 23). Os levantamentos são dados estatísticos comumente produzidos pelas bibliotecas, para quantificar e identificar seus serviços e usuários, como por exemplo: a faixa etária dos usuários, bairro em que o usuário reside e estatísticas de empréstimos. Dados de caráter descritivo, coletados em relação a determinado período de tempo.

Um dos marcos de surgimento dos estudos de usuários aconteceu na década de 30, quando foi fundada a Graduatc Library da University of Chicago. Com a explosão demográfica da cidade de Chicago causada pela imigração em massa, as bibliotecas públicas e outras instituições foram responsáveis por auxiliar no processo de

(23)

incorporação dos imigrantes a sociedade. Para isso necessitavam conhecer a população a que atendiam e assim o fizeram com estes estudos, por meio dos quais levantavam dados no intuito de identificar o público atendido (ARAÚJO, 2008). Em relação à mesma década Figueiredo (1983) menciona a existência de estudos de usuários em bibliotecas universitárias, que possuíam esse mesmo caráter dos realizados em Chicago.

No Brasil, somente mais adiante, em meados do século XX, que surgiu o termo estudos de usuários, “[...] como um desmembramento natural do levantamento bibliotecário.” (FIGUEIREDO, 1990, p. 23). Ainda, sobre a origem destes estudos no Brasil, Baptista e Cunha (2007, p. 170) esclarecem que estes “[...] vêm acompanhando o histórico das pesquisas realizadas em outros países, notadamente nos Estados Unidos e na Inglaterra.”.

De acordo com Cunha (1982, p. 6) “a medida que avançaram no tempo, as pesquisas sobre usuários foram se transformando de uma simples descrição para uma postura mais analítica e avaliativa.”. Podemos afirmar que isso ocorreu, principalmente, com a explosão informacional após as Grandes Guerras Mundiais.

Na Guerra Fria, a disputa pelo poder se traduzia pelo desenvolvimento tecnológico. Os avanços científicos deveriam ser avanços tecnológicos que expressassem a capacidade do país na produção bélica e no domínio militar. Tal disputa influenciou todos os campos científicos, na CI isso não foi diferente. Os estudos de usuários deste período eram “[...] em sua maioria, patrocinados por associações profissionais que precisavam elaborar seus programas para responder à explosão de informações científicas e novas tecnologias.” (CHOO, 2006, p. 67) e tinham como sujeitos cientistas e tecnólogos (ARAÚJO, 2008).

Neste contexto, as décadas de 40 e 50, aproximadamente podem ser consideradas o divisor de águas para os estudos de usuários da informação. Desde a Conferência de Informação Científica da Sociedade Real, em 1948, são divulgadas pesquisas sobre estudos de usuários (FIGUEIREDO, 1983; GARCIA 2007; GASQUE, COSTA, 2010 e WILSON 2000). Para Figueiredo (1983, p. 45) foram as pesquisas de Bernal e Urquhart que “[...] introduziram esta linha de investigação de interesse à Ciência da Informação”. A este marco Gasque e Costa (2010) ainda acrescentam a Conferência

(24)

Internacional de Informação Científica que ocorreu em Washington, Estados Unidos, no ano de 1958.

Período em que, na CI, predominava o Paradigma Físico que de acordo com Almeida et al. (2007, p. 19) estava “[...] centrado em sistemas informatizados, onde o conceito de informação aproxima-se de um sentido estritamente técnico, uma informação mensurável que não necessariamente abarca significado semântico.”. Sendo a informação algo externo ao indivíduo, o fazer bibliotecário deve voltar-se para o acervo, para sua manutenção e tratamento. Ao passo que nos estudos de usuários prevalecia a abordagem tradicional.

Na abordagem tradicional (FERREIRA, 1995), ou paradigma tradicional (ARAÚJO, 2010; GASQUE; COSTA, 2010), os estudos de usuários focavam na organização do acervo para possibilitar que um maior número possível de informações relevantes pudesse ser tratado e localizado pelo usuário, ou seja, focavam na eficiência dos sistemas, na objetividade do tratamento do acervo. E empregavam “[...] abordagens demográficas, antropológicas, sociológicas e da psicologia [...]” (FIGUEIREDO, 1999, p. 14). Ancorados na objetividade tinham como foco organizar, disciplinar e possibilitar a localização da informação em si. Aspectos que explicam a preocupação dos bibliotecários com o acervo, sua organização e uso. E não em proporcionar ao usuário um atendimento efetivo que o auxiliasse no processo de busca por informação e na satisfação de suas reais necessidades.

Estes estudos predominaram nas décadas de 60 e 70. Tanto que, ao se referirem aos estudos de usuários da década de 60, Baptista e Cunha (2007, p. 171) afirmam que tais estudos “[...] se preocupavam em identificar notadamente a frequência de uso de determinado material e outros comportamentos de forma puramente quantitativa e não detalhavam os diversos tipos de comportamentos informacionais.”. Neste sentido, não se apropriavam do aspecto cognitivo e social do usuário. Também “nos anos 60 se destacaram os trabalhos publicados pela American Library Association (ALA), em especial um manual para estudos das necessidades e da educação de adultos.” (NASCIMENTO, 2011, p. 44), o que nos indica um início de mudança no cenário dos estudos de usuários.

(25)

Já na década de 70, no Brasil, os estudos de usuários surgem nas dissertações de mestrado e na literatura brasileira, aparecem em pequeno número, concentram-se em estudos realizados em bibliotecas universitárias e de forma geral restringem-se a estudos de perfil, que é apenas uma das facetas do usuário (PINHEIRO, 1982). Contudo, com exceção de esparsas contribuições teóricas encontradas na literatura nacional, como a de Coelho Netto (1978)1, os estudos de usuários nacionais são desenvolvidos dentro dos conceitos tradicionais. (FERREIRA, 1995, p. 5). Nesta década o foco dos estudos se alterou, destacando-se “[...] os estudos que tiveram a preocupação de identificar como a informação era obtida e usada. Foram realizados estudos sobre a transferência/acesso à informação, utilidade da informação e tempo de resposta.” (BAPTISTA; CUNHA, 2007, p. 171). Contudo, observa-se a continuação do desenvolvimento dos estudos tradicionais (NASCIMENTO, 2011) nos quais a objetividade ainda prevalecia, o foco estava nos sistemas e na eficiência da transferência de informação e não no usuário.

Essa tipologia de estudos de usuários centrada no acervo e na informação estendeu-se até o final da década de 70, quando, na CI, ao invés de uma lógica voltada para o acervo e sua organização, passou a se preocupar com o acesso do usuário a informação. Surgindo, assim, um novo paradigma, o Cognitivo (ALMEIDA et al., 2007), ou o paradigma emergente (GASQUE; COSTA, 2010), que trouxe o usuário para centro do fazer do profissional bibliotecário.

Assim, ocorreu “[...] uma mudança de ênfase: da descrição da coleção para o acesso e a distribuição da informação, passando-se do acesso bibliográfico ao acesso à informação, e uma modificação dos papéis da Referência e dos serviços técnicos.” (FIGUEIREDO, 1999, p. 12). Antes a ênfase estava no processamento técnico, mas neste novo paradigma o processamento técnico e o serviço de referência passaram a trabalhar juntos, pois o foco passou a ser o acesso à informação, “isso quer dizer que o acesso à informação não é dirigido pela estrutura do sistema (uma biblioteca, uma base de dados), mas sim pelas visões da biblioteca e das bases de dados necessárias para satisfazer a uma necessidade de informação, como percebida pelo usuário.” (FIGUEIREDO, 1999, p. 13). Portanto, o

1

Coelho Netto, J. T.. A biblioteca como modelo de sistema de comunicação. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 11, n. 1/3, p. 29-32, 1978.

(26)

usuário, suas expectativas e necessidades passam a ser o foco da Ciência da Informação/Biblioteconomia.

Neste final da década de 70, o surgimento dos sistemas informatizados, a reestruturação de métodos e processos impostos pela automação dos serviços de informação exigiu que se pensasse na interface do usuário com os sistemas, desvelando a importância do sujeito para o funcionamento dos serviços de informação e originando os primeiros estudos centrados propriamente nos usuários sob o paradigma emergente, pois ocorre um despertar para o fato de a informação assumir um caráter único para cada indivíduo, respeita-se as subjetividades do sujeito e o contexto em que se empregará a informação.

Com os usuários no centro das atividades da CI, nos estudos de usuários a partir da década de 80 surgem pesquisas com abordagens da percepção ou alternativas (FERREIRA, 1995). Pode-se assim, observar uma mudança no cenário mundial, no qual diversos pesquisadores começam a pesquisar embasados pela abordagem alternativa, como os citados por Ferreira (1995, p. 8)

[...] a abordagem alternativa tem sido trabalhada em quatro diferentes vertentes:

a) Abordagem de valor agregado, de Robert Taylor (User-Values ou Value-Added, 1984);

b) Abordagem do estado de conhecimento anômalo, de Belkin e Oddy (Anomalous States-of-Knowledge, 1978)

c) Abordagem do processo construtivista, de Carol Kuhlthau (Constructive Process Approach, 1992)

d) Abordagem Sense-Making, de Brenda Dervin (1977, 1983, 1993, 1994)

Ainda Ellis, Cox e Hall e Wilson, são pesquisadores que estão associados ao processo de mudança ocorrido nos estudos de usuários.

Tais transformações marcaram a década de 90. Para Figueiredo (1999), neste período, com o surgimento de novas abordagens para os estudos de usuários, ocorreu uma mudança do paradigma tradicional para o cognitivo. Para a autora são duas abordagens principais utilizadas para apoiar o novo paradigma centrado no usuário, a abordagem cognitiva e a holística. Sobre a abordagem cognitiva, pode-se

(27)

falar em uma nova abordagem para a relação entre a informação e o indivíduo, que aponta para as cognições individuais como parte do processo informacional. A pesquisa cognitiva se embasa teoricamente e deriva de metodologias da ciência cognitiva, que estuda os processos de aprendizado, memória, entendimento, solução de problemas e tomada de decisão, assim, como busca “[...] identificar como os usuários processam a informação e o que constitui um modelo apropriado para representar esse processo.” (FIGUEIREDO, 1999, p. 15). Por outro lado, a abordagem holística, além dos aspectos cognitivos, considera os aspectos afetivos e psicomotores. Podendo ser dividida em dois tipos de estudos

[...] o primeiro, o estudo de domínio afetivo, concentra-se nos aspectos afetivos das buscas, ou nos interesses, nas atitudes, nos valores e nas emoções que ocorrem durante a busca. O segundo focaliza as habilidades do usuário no “fazer sentido” (sense making) do meio existente, baseado na premissa de que os usuários não podem ser considerados típicos, pois recebem a informação de uma perspectiva subjetiva. (FIGUEIREDO, 1999, p. 15).

No entanto, apesar das transformações, nacionalmente “[...] há um extenso trabalho para ser desenvolvido ainda no que diz respeito ao aspecto clássico, por assim dizer dos estudos de usuários.” (FIGUEIREDO, 1999, p. 16).

Ainda na década de 90, o Paradigma Cognitivo embasou o surgimento do termo Comportamento Informacional cunhado por Wilson. Para este pesquisador, o comportamento informacional se refere à “[...] totalidade de comportamento humano em relação às fontes e canais de informação, incluindo a busca por informação ativa e passiva e o uso da informação.” (WILSON, 2000, p. 1, tradução minha)2

. Em outras palavras, comportamento informacional compreende a busca, o uso e o manejo de informações e fontes para satisfazer uma necessidade de informação (MARTINEZ-SILVEIRA; ODDONE, 2007).

Com o surgimento do Paradigma Cognitivo e por influência das Ciências Sociais, pode-se notar uma diferença metodológica nas pesquisas com usuários de informação, os primeiros estudos priorizavam técnicas quantitativas, ao passo que os estudos que surgem a partir da década de 80, priorizavam técnicas qualitativas

2 “[…] totality of human behavior in relation to sources and channels of information, including both

(28)

(MARTÍNEZ-SILVEIRA; ODDONE, 2007). Portanto, ocorre uma diversificação dos estudos, que passam a focar o comportamento humano, ou seja, os usuários, suas necessidades, os passos que empregam no processo de busca e uso da informação, respeitando as características individuais e as variáveis, que influenciam o acesso à informação.

A diversificação dos estudos vai mais além. Historicamente, a Ciência da Informação estava ligada às elites. Desde a Guerra Fria os estudos de usuários da informação possuem como seus principais sujeitos os cientistas e tecnólogos, tendo-se como objeto de pesquisa a transferência e uso da informação. Ainda na década de 90, surge uma preocupação com a democratização da informação e com grupos de usuários menos favorecidos.

Desta mudança de percepção e a partir das lacunas do Paradigma Cognitivo, surge um novo paradigma na CI: o Social (ALMEIDA at al., 2007). Com foco nos processos específicos, o paradigma cognitivo deixava de lado os aspectos sociais. Também os estudos de usuários pautados no paradigma emergente, receberam críticas por não levarem em consideração peculiaridades do processo de busca, isto é, o contexto histórico e social em que se desenvolvia o processo de produção, transferência, acesso e uso da informação.Desta defasagem, surge na CI o Paradigma Social, que postula uma sociedade construída, sustentada e modificada pela interação social. É o momento em que a CI assume seu caráter social, focando em outros grupos de usuários (ARAÚJO, 2008) e não usuários.

Ao fazer tal movimento, essa corrente de estudos desloca de forma fundamental a agenda de pesquisas do campo de estudos de usuários – contemplando outros tipos de sujeitos informacionais. Ao adotar um outro modelo epistemológico para o entendimento da realidade social (o modelo crítico, em oposição ao modelo funcional), também reordena o campo, privilegiando as dimensões do conflito e dos contextos concretos de distribuição desigual do poder (e da informação). (ARAÚJO, 2008, p. 8).

Sob esta nova concepção, os estudos de usuários assumem um caráter interdisciplinar, assim como também consideram o indivíduo como membro de uma comunidade, na qual estabelecem relações e constroem a informação. Para Araújo (2010) o Paradigma Social “[...] não teria ainda uma manifestação muito nítida no campo dos estudos de usuários.”. Entretanto, para nós, o estudo do comportamento

(29)

de busca de informação sob o enfoque da cognição situada como proposto por Venâncio e Nassif (2008) e por Nassif (2008) poderia ser apresentado dentro do Paradigma Social, uma vez que a abordagem da cognição situada considera “[...] o processo do conhecer como uma dinâmica individual e social ao mesmo tempo.” (NASSIF 2008, p. 3). Acrescenta-se ainda aos elementos cognitivos os elementos sociais como a história de vida e o ambiente em que o indivíduo vive.

Enfim, desde seu surgimento no início do século XX, os estudos de usuários passaram por transformações teórico-metodológicas. Tais mudanças são confirmadas em um estudo realizado por Gasque e Costa (2010), no qual as autoras realizaram uma revisão de literatura no Annual Review of Information Sciencen and technology e em outros artigos internacionais, perfazendo a evolução histórica dos estudos de usuários desde 1950 até os anos 2000. A pesquisa enfatizou as transformações ocorridas nos estudos de usuários ao longo deste período, conforme mencionado nesta seção. Dentre as transformações citadas pelas autoras está o surgimento dos estudos de comportamento informacional.

2.1 COMPORTAMENTO INFORMACIONAL

Para efeito desta pesquisa, assumo o estudo de comportamento informacional como uma tipologia dos estudos de usuários, que “[...] comumente abrangem a necessidade, a busca e o uso da informação.” (DANTAS; PAVÃO; CAREGNATO, 2008, p. 3). Essa tipologia de estudos, de acordo com Barros e Neves (2011, p. 231), “[...] insere-se nos estudos desenvolvidos na CI e de várias outras áreas do conhecimento, que se ocupam da relação do usuário, enquanto ator social, com a dinâmica da informação.”. Portanto, estudam o usuário da informação como parte integrante de uma dada realidade social, considerando suas necessidades, expectativas e procedimentos no acesso à informação.

Ao aprofundar a revisão de literatura, encontrei uma pesquisa realizada por Araújo (2009) que buscou mapear os estudos de usuários em sete publicações nacionais entre 1998 e 2007, ele registrou um total de 114 artigos. De acordo com o autor

(30)

Muitos artigos possuíam a expressão usuários ou estudo de usuários nas suas palavras-chave, mas se tratavam de estudos de discussão teórica ou revisão de literatura sobre usuários ou sobre algum tópico relacionado. Outros artigos apenas versavam sobre os estudos de usuários da informação, sem, contudo, proceder a realização de um estudo de usuários. Ao mesmo tempo, vários artigos efetivamente faziam estudos de usuários, embora não utilizassem essa terminologia. (ARAÚJO, 2009, p. 13).

Verifiquei também que atualmente as pesquisas que objetivam investigar a relação do usuário com a informação, possuem diferentes aspectos e denominações. A esse respeito Ribeiro e Costa (2011, p. 8) afirmam que “o que se nota na literatura de estudos de usuários da atualidade é uma diversidade de subtemas e de grupos de usuários em evidência.”. Tal diversidade pode ser verificada em artigos publicados nacionalmente. Compus no quadro 1 alguns destes artigos publicados entre 2007 e 2012, listados de acordo com sua temática principal.

QUADRO 1

Artigos publicados - Brasil - 2007-2012

TEMÁTICA ARTIGOS

Necessidade e uso de informação Santiago e Paiva (2008)

Albuquerque; Oliveira e Ramalho (2009)

Pereira (2010)

Cruz at al. (2011)

Comportamento de busca e uso de informação

Crespo e Caregnato (2006) Dantas e Caregnato (2007)

Dantas, Pavão e Caregnato (2008)

Lira at al. (2008)

Comportamento de busca de informação Crespo e Caregnato (2003)

(31)

Venâncio e Nassif (2008)

Estudos de usuários Barros e Neves (2011)

Comportamento informacional Fialho e Andrade (2007)

Costa e Ramalho (2010)

Uso ou uso de fontes e canais de informação

Cendón e Ribeiro (2010)

Silva at al. (2007)

Assis (2007)

Pereira e Barbosa (2008)

Eluan; Momm e Nascimento (2008)

Oliveira, Paula Neto; Oliveira (2008)

Feres (2008)

Costa e Ramalho (2010)

Necessidades e comportamento de busca Barros, Saorim e Ramalho (2008)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013.

Essas diferenciações temáticas são encontradas porque os estudos de comportamento informacional podem ser mais gerais – abrangendo todos os aspectos do comportamento informacional – ou englobar apenas um dos seus aspectos, ou seja, a necessidade, a busca, o uso da informação. Abordaremos esses elementos a seguir.

(32)

A apropriação da informação ocorre por meio de um processo, que se inicia no momento em que o indivíduo se depara com um problema e não possui informação suficiente para sua solução. Nesta perspectiva, ele sente a necessidade de obter uma nova informação para solucioná-lo. Para Ferreira (1995), a necessidade de informação surge quando as transformações materializadas no uso progressivo de esquemas decorrem de “[...] questões surgidas a partir do esgotamento dos esquemas presentes. À medida que esses esquemas se tornam inoperantes, a busca de novos se impõe. Tal busca está associada à informação.”. Nesta direção, a necessidade de informação assume um caráter complexo e irá variar de indivíduo para indivíduo, de acordo com as situações vividas, de modo que “uma necessidade de informação não pode ser separada da situação que a criou e do indivíduo que a percebeu.” (FIGUEIREDO, 1999, p. 13). Por isso, a necessidade de informação estará sempre relacionada a um indivíduo em um contexto.

Já Grogan (2001) explica que, inicialmente, o indivíduo tem um problema, depois acredita que precisa de conhecimento para solucionar este problema e, assim, se dá conta de que necessita de uma informação. O autor ainda complementa a discussão apontando para a gênese da necessidade de informação como sendo incerta.

Neste ponto, talvez sua necessidade de informação seja vaga e imprecisa, ainda que não necessariamente. Provavelmente, porém, ainda não estará nem formada e certamente nem expressa; trata-se daquilo que Robert S. Taylor denominou uma necessidade „visceral‟. Essa necessidade, de fato, talvez não surja de um problema realmente „concreto‟. A motivação pode simplesmente estar no desejo de conhecer e compreender, ou até mesmo numa „mera‟ curiosidade, embora não devamos esquecer o Dr. Johnson: „A curiosidade é uma das características permanentes e incontestáveis de um intelecto vivaz.‟. A premência da necessidade também pode variar desde „seria bom saber‟ até „não posso ir adiante enquanto não descobrir‟. (GROGAN, 2001, p. 51).

Para Lê Coadic (2004, p. 39), a necessidade de informação pode ser do tipo derivada, configurando-se como uma necessidade física exigida para a realização de uma necessidade mais fundamental. Deste tipo de necessidade derivam-se, ainda, duas grandes classes: necessidade de informação em função do conhecimento que surge da vontade de saber; e em função da ação, isto é, a informação torna-se condição necessária para o desenvolvimento de uma ação como pegar um ônibus, realizar uma compra ou mesmo trabalhar.

(33)

Quando uma necessidade de informação é expressa, transforma-se em uma demanda por informação. Mas nem toda necessidade transforma-se em demanda. Muitas vezes, o indivíduo não consegue materializar sua necessidade, pois ela não surge pronta e acabada, pelo contrário, cresce e torna-se mais complexa com o passar do tempo (CHOO, 2006). Para Santiago e Paiva (2008, p. 3), “[...] as necessidades de informação dos indivíduos são múltiplas e diversificam-se mediante o contexto no qual está inserido o processo de desenvolvimento científico e tecnológico dos mesmos.”. Diante disso, o indivíduo pode se deparar com um problema e a partir dele se engajar ou não em uma busca por informação.

2.1.2 Busca por informação

Na atualidade, a busca por informação se configura como um processo complexo que envolve o desenvolvimento de estratégias para seleção da informação contida em diferentes fontes e veiculadas por diversos canais.

Devido ao grande volume de informação em circulação, Barreto (1994) nos alerta para o fato de demanda (necessidade de informação expressa) e oferta de informação serem inversamente proporcionais, devido a oferta de informação ser maior do que a demanda. Para localização da informação desejada cada indivíduo apresenta um comportamento singular de acordo com seu contexto cultural, isto é, os indivíduos são “[...] pessoas com necessidades cognitivas, afetivas e fisiológicas fundamentais próprias que operam dentro de esquemas que são partes de um ambiente com restrições socioculturais, políticas e econômicas. Essas necessidades próprias, os esquemas e o ambiente formam a base do contexto do comportamento de busca de informação.” (FERREIRA, 1995, p. 6). Portanto, ao pesquisarmos o comportamento de busca por informação devemos conceber os usuários como sujeitos inseridos em um contexto e que sofrem influências do mesmo no processo de acesso a informação, pois a informação está inserida nas mais diversas atividades cotidianas, quais sejam conhecer o horário do ônibus; escolher um produto no supermercado; realizar um trabalho escolar; tomar uma decisão nos negócios.

(34)

Durante estas atividades, cada indivíduo desenvolve estratégias próprias de busca e cada informação recuperada terá um sentido único e diferente, dependendo do indivíduo que a busca e da intenção de uso, porque

O ser humano raramente busca informação com um fim em si mesmo. Ao contrário, ela é parte de um processo de tomada de decisão, solução de problemas e/ou alocação de recursos. Portanto, qualquer tentativa de descrever padrões de busca de informação deve admitir o indivíduo como o centro do fenômeno e considerar a visão, necessidades, opiniões e problemas desse indivíduo como elementos significantes e influentes que merecem investigação [...] (FERREIRA, 1997, p. 1).

Assim, a busca por informação se configura como um processo comportamental caracterizado pelo indivíduo e pelo meio no qual ocorre. Tal processo é definido por Wilson (2000, p. 1, tradução minha, grifo do autor)3 com uma distinção entre comportamento de busca por informação (information seeking behavior) de comportamento de pesquisa de informação (information searching behavior), conforme segue:

Comportamento de busca por informação é como consequência

de uma necessidade para satisfazer uma meta. No decurso da busca o indivíduo pode interagir com sistemas manuais de informação (tal como um jornal ou uma biblioteca), ou com sistemas de bases eletrônicas (como a World Wide Web).

Comportamento de pesquisa de informação é um comportamento

de nível micro, empregado pelo pesquisador ao interagir com sistemas de informação de todos os tipos. É constituído por todas as interações com os sistemas, quer ao nível de interação humano computador (por exemplo, a utilização do mouse ao clicar em links) ou no nível intelectual (por exemplo, adotando uma busca com estratégia booleana ou determinar critérios para decidir qual dos dois livros selecionados das prateleiras de uma biblioteca é mais útil), que

3 “Information Seeking Behavior is the purposive seeking for information as a consequence of a

need to satisfy some goal. In the course of seeking, the individual may interact with manual

information systems (such as a newspaper or a library), or with computer-based systems (such as the World Wide Web).

Information Searching Behavior is the „micro-level‟of behavior employed by the searcher in

interacting with information systems of all kinds. It consists of all the interactions with the system, whether at the level of human computer interaction (for example, use of the mouse and clicks on links)

(35)

envolverá também atos mentais, como julgar a relevância de dados ou informações recuperadas.

O comportamento de busca por informação, então, pode ser considerado um processo em nível-macro, desencadeado a partir de uma necessidade de informação. O comportamento de pesquisa de informação pode ser considerado um processo em nível micro, que engloba as atividades desenvolvidas no momento da busca em si.

Sobre o comportamento de busca de informação, o processo em nível macro, Crespo e Caregnato (2006, p. 31) acrescentam que “[...] o comportamento de busca de informação é direcionado para as ações realizadas pelos indivíduos visando a localizar o que procuram. Para tanto requer-se a execução de várias atividades.”. Por conseguinte, a busca se refere às “[...] atividades que um sujeito realiza para encontrar sentido na informação, como resposta a uma necessidade previamente percebida. (HERNÁNDEZ SALAZAR, 2007, p.146, tradução minha)4. Tais atividades consistem em: localizar uma fonte e verificar sua pertinência para a necessidade apresentada, retirar dela a informação desejada, avalia-la no contexto em que será empregada para concluir a respeito da continuação ou não da busca.

Podemos sintetizar a busca, como um conjunto de atividades direcionado a localização de uma informação para sanar uma necessidade. Mas, Dantas e Caregnato (2007, p. 2) mostram que existem muitas “[...] definições para o termo busca e muitos os autores a trabalhar o tema, porém, nenhum modelo exclui a afirmação de que buscas são conduzidas para encontrar informação útil ao usuário.”, ou seja, a busca se constitui como um processo e estará sempre orientada a satisfação de uma necessidade.

2.1.3 Uso de informação

4 “las actividades que un sujeto realiza para encontrar sentido a la información, como respuesta a una

(36)

Após a busca por informação, segue-se a etapa final do processo de gerenciamento informacional: o uso da informação (Davenport, 1998).

Mensagens transferidas para fontes de informação, comunicadas por diferentes canais e armazenadas nos mais variados acervos são acessadas pelos indivíduos para serem utilizadas. No momento do uso, a informação pode ser incorporada as estruturas cognitivas do indivíduo para gerar novos conhecimentos. Nessa perspectiva, Wilson (2000, p. 50, tradução minha)5 define

Comportamento de uso de informação consiste em atos físicos e mentais envolvidos na incorporação das informações encontradas na base de conhecimentos existentes na pessoa. Pode envolver, por conseguinte, os atos físicos, tais como marcação de um texto para notar a sua importância ou significado, bem como atos mentais, por exemplo, comparação de novas informações com conhecimento existente.

Durante a busca pela informação, sua obtenção ocorre de diversas formas: por acesso a informação impressa, eletrônica ou na interação com as pessoas.

Sobre essa relação dialógica Choo (2006, p. 98) afirma que

Quando as pessoas relacionam-se umas com as outras ou com os sistemas de informação da organização, utilizam os recursos do ambiente de uso da informação e, nessa interação, a informação torna-se útil. Portanto, o ambiente de uso da informação e os comportamentos em relação à informação constituem-se mútua e simultaneamente, de modo que o ambiente de uso da informação é, ao mesmo tempo, um recurso essencial e um produto de comportamentos estabelecidos.

É nesta interação, com pessoas e sistemas de informação, que o indivíduo encontrará a informação que julga ser útil para sanar a sua necessidade. Assim, fará uso da informação.

Importa destacar que o uso que fazemos da informação configura-se como uma prática social, como o conjunto das artes de fazer (LÊ COADIC, 2004) e, nesse sentido, pode ocorrer de três formas diferentes: utilização, quando o objeto informação continua a existir, por exemplo, quando na construção de um texto faz-se

5 “Information Use Behavior consists of the physical and mental acts involved in incorporating the

information found into the person's existing knowledge base. It may involve, therefore, physical acts such as marking sections in a text to note their importance orsignificance, as well as mental acts that involve, for example, comparison of new information with existingknowledge.”

(37)

uma citação direta; uso, quando o objeto informação é modificado, um exemplo está na construção de um texto fazendo uso de uma citação indireta; consumo, quando o objeto informação desaparece, por exemplo, quando na construção de um texto lemos tantas pesquisas e artigos que formamos nosso próprio conhecimento sobre determinado assunto. (LE COADIC, 2004).

O uso da informação também pode ser considerado um ato social, pois

[...] o comportamento de uso da informação constitui-se de grupos de pessoas que partilham os pressupostos sobre a natureza de seu trabalho e sobre o papel que a informação desempenha nele; grupos de pessoas cujo trabalho está relacionado aos problemas caracterizados pelas dimensões que são aplicadas para julgar a utilidade da informação, cujo ambiente de trabalho influencia sua atitude em relação à informação, assim como a disponibilidade e ao valor da informação, e cujas percepções sobre a solução dos problemas determinam a intensidade com que eles buscam a informação e suas expectativas sobre as informações de que necessitam. (CHOO, 2006, p. 98).

Assim, pode-se observar que o uso está ligado a diferentes aspectos, como acesso a informação; disponibilidade das fontes; valor da informação; bem como a necessidade que determinará a intensidade da busca ou ainda ao papel que o sujeito desempenha na sociedade.

2.2 ABORDAGENS DE COMPORTAMENTO DE BUSCA POR INFORMAÇÃO

Dada à complexidade dos três elementos que compõem o comportamento informacional, optei por investigar apenas um: o comportamento de busca por informação. De acordo com Venâncio e Nassif (2008, p. 95)

No campo da ciência da informação, os estudos de comportamento de busca de informação são, em sua maioria, baseados na abordagem cognitivista. Essa abordagem compreende a informação como um fator de mudança das estruturas cognitivas do indivíduo e considera o comportamento informacional como constituído por fases que o indivíduo experiência na resolução de uma situação problemática ou vazio cognitivo, cuja transposição é viabilizada pela assimilação de informação.

(38)

Na atualidade diversos pesquisadores dedicam-se a esta temática, dentre eles, alguns desenvolveram abordagens teóricas para tentar compreender esta realidade.

Com a disseminação do Paradigma Cognitivo e o consequente desenvolvimento de pesquisas qualitativas em estudos de usuários, ancoradas nas abordagens cognitivas ou holísticas, diversos pesquisadores em estudos de usuários desenvolveram abordagens que proporcionam um aporte teórico-metodológico para se tentar compreender o comportamento informacional. Algumas abordagens são mais amplas e oferecem suporte para se compreender o comportamento informacional como um todo, já outras são mais específicas e se ocupam, apenas, de uma parte do fluxo informacional.

Meu interesse reside nas abordagens que proporcionam compreender a parte do fluxo informacional referente ao comportamento de busca de informação. Para situar a dimensão escolhida, apresento a seguir as abordagens mais empregadas em pesquisas brasileiras, sendo elas: abordagem do Comportamento Informacional de Wilson; Sense Making de Dervin; de Ellis, Cox e Hall; ISP de Kuhlthau; multifacetada de Choo; e da cognição situada.

2.2.1 Abordagem do Comportamento Informacional de Wilson

Wilson iniciou o desenvolvimento de sua abordagem em 1981 e o aprimorou em 1996, apresentando-a revisada. Para Choo (2006, p. 81), a abordagem proposta por Wilson possui uma perspectiva fenomenológica, pois “[...] Wilson acredita que os indivíduos estão constantemente construindo seu mundo social a partir do mundo de aparência que os cerca. As necessidades de informação nascem dessas tentativas de dar sentido ao mundo.”. As relações estabelecidas entre o indivíduo e o mundo que o cerca podem ser claramente percebidas na abordagem proposta por Wilson, na qual aparecem diversas variáveis ligadas a realidade do indivíduo, como psicológicas, demográficas, ambiente de trabalhos e outras que poderão ser verificadas na figura 1.

(39)

FIGURA 1 – Representação da abordagem do Comportamento Informacional

Fonte: (WILSON, 1999, p. 12, tradução minha)

Em resumo, o diagrama se inicia a partir do momento que o indivíduo desperta para uma necessidade de informação. A pessoa está em um contexto, assim a sua necessidade esta ligada a este contexto, como por exemplo, os papéis que exerce em sua vida pessoal, o trabalho e a própria personalidade. Como está inserido em um contexto, o indivíduo sofre influências deste contexto, representadas no modelo sob as variáveis interferentes, que podem ser: psicológicas, demográficas, relacionadas ao papel/função social ou relações interpessoais o ambiente em que vive e as características das fontes a que a pessoa tem acesso. Percebida a necessidade, o indivíduo inicia o processo de busca, que pode ser busca passiva, ativa ou contínua. Após localizar a informação, ocorrerá o processamento e uso da mesma. Além das variáveis interferentes, destacam-se neste modelo os mecanismos de ativação, pois nem toda necessidade de informação levaria a uma busca por informação. Entre essas duas atividades, existem mecanismos que ativariam o processo de busca, como as relações estresse x esforço; risco x beneficio e autoeficácia. Para se enveredar por um processo de busca por informação, o indivíduo precisa perceber que o esforço e o risco compensarão, pois a informação obtida será eficaz para resolução do problema (GARCIA, 2007). Por fim, as setas utilizadas no diagrama representam um modelo cíclico, por isso não

Contexto da necessidade de informação Mecanismo de ativação Variáveis interferente s Pessoa no

contexto Estresse /Esforço Psicológicas

Mecanismo de ativação Risco/ Benefício Teoria da Aprendizage m Auto eficáci a Processamento da informação e uso Comportament o de busca de informação Atenção passiva Busca passiva Busca em andamento Busca Ativa Relações interpessoais Ambiente em que vive Característic as das fontes Demográfica s Teoria da Aprendizagem Social Auto eficácia

(40)

podemos considerar o uso como a etapa final nesta abordagem, uma vez que o mesmo pode disparar uma nova necessidade de informação.

A abordagem proposta por Wilson pode ser considerada de nível macro (GARCIA, 2007, p. 83), pois analisa o indivíduo como parte integrante de um contexto composto por diversas variáveis que interferem tanto na origem da necessidade quanto na busca e no uso da informação.

2.2.2 A abordagem Sense-Making de Brenda Dervin

Para a abordagem Sense-Making o indivíduo vive um uma realidade inconstante e mutável. Ele se movimenta nesta realidade e à medida que caminha, constrói significados para empregar sentido a suas atividades cotidianas. No processo de fazer sentido, a informação é fundamental, pois preenche as lacunas servindo como ponte entre a situação problema e a sua resolução. Portanto, “a busca e o uso da informação são vistas como atividades construtivistas, como criação pessoal do sentido individual do ser humano.” (LIRA at al., 2008, p. 178). Como uma construção individual “para descrever padrões de busca de informação, deve-se admitir o indivíduo como o centro do fenômeno e considerar a visão, as necessidades, as opiniões e as dificuldades desse indivíduo como elementos significantes e influentes que merecem investigação.” (LIRA at al., 2008, p. 179).

O termo Sense-Making é empregado para um conjunto coerente de conceitos e métodos utilizados para estudar como as pessoas constroem o mundo dos sentidos e, em particular, como são construídas as necessidades e os usos de informação no processo de fazer sentido. Mais especificamente, Sense-Making pode ser definido como um comportamento, tanto em nível interno, isto é, cognitivo, quanto em nível externo, ou seja, processual, que permiti ao indivíduo construir e projetar seu movimento do tempo-espaço, sendo que a busca e o uso de informação são centrais nesta teoria. (DERVIN, 1983).

(41)

A abordagem Sense-Making se ancora em alguns pressupostos (DERVIN, 1983, p. 4-5, tradução minha)6: o ser humano se relaciona com a realidade, e esta “[...] não é completa, nem constante, mas cheia de descontinuidades fundamentais e de lacunas”, portanto, as coisas estão sempre mudando; a “ [...] informação não é uma coisa que existe independentemente e externa dos seres humanos, mas um produto da observação humana”, como tal, “[...] a observação é mediada pela mente humana e as mentes orientam a seleção do que observar, como observar, e as interpretações, o produto do observado”. Assumindo assim, que a produção da informação é internamente guiada, toda informação será subjetiva.

No desenvolvimento de sua teoria, Dervin cria uma metáfora para a criação de significado (FIGURA 2). Nesta metáfora, o indivíduo move-se no tempo-espaço, ele caminha para frente a medida que cria novos significados.

FIGURA 2 – Arte original da metáfora de Dervin

Fonte: http://momentoslufe.blogspot.com.br/2012/04/sense-making-o-novo-paradigma-da-area.html

6 “[…] reality is neither complete nor constant but rather filled with fundamental and pervasive

discontinuities or gap”/ “[…] information is not a thing that exists independent of and external to human beings but rather is a product of human observing.” / “ […] observing is mediated by human minds and those minds guide the selection of what to observe, how to observe, and the interpretations of the products of the observin.”.

Referências

Documentos relacionados

Desse modo; obtivemos dois triângulos que são semelhantes entre si e semelhantes ao triângulo DEF dado; pois possuem os três ângulos com medidas respectivamente iguais.. Para

M momento fatorado de primeira ordem, gerado pelas ações que não resultam em apreciável deslocamento lateral (sem translação lateral) da peça, calculado por uma

Análise Térmica abrange um grupo de técnicas nas quais uma propriedade física ou química de uma substância, ou de seus produtos de reação, é monitorada em função da temperatura

• Protocolo HTTP (HyperText Transfer Protocol, ou em português, Protocolo de Transferência de Hipertexto) é um protocolo da Internet utilizado pelos computadores ligados à Web

The Anti-de Sitter/Conformal field theory (AdS/CFT) correspondence is a relation between a conformal field theory (CFT) in a d dimensional flat spacetime and a gravity theory in d +

Para preservar a identidade dos servidores participantes da entrevista coletiva, esses foram identificados pela letra S (servidor) e um número sequencial. Os servidores que

(2004), ao analisarem 185 amostras da linha de produção de lingüiças de frango (Frankfurt-sausage) tipo frescal no Estado de São Paulo, identificaram uma positividade de 13,3%

Entre 2008 e 2015, estima-se que a Capacidade de Produção de Electricidade com base no recurso Solar FV aumente 530% Entre 2008 e 2015, perspectiva-se um aumento da capacidade