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Perfil epidemiológico de primíparas atendidas em uma maternidade de alto risco [Epidemiological profile of primiparous attended in a high-risk maternity]

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RESUMO - Objetivo: descrever o perfil epidemiológico de primíparas atendidas em uma maternidade de alto risco. Método: trata-se de um estudo descritivo, de caráter quantitativo, com 73 primíparas, realizado no município do Recife (PE). A coleta foi realizada diariamente com as puérperas que se encontravam internadas no alojamento conjunto selecionadas de maneira aleatória simples, utilizando- se de seus prontuários e entrevista face-a-face. Resultados: os resultados revelaram predominân-cia de mulheres jovens, com baixa escolaridade e sem renda fixa. A maioria residia em área urbana, sendo 42,50% na região metropolitana do Recife. Todas as primíparas compareceram ao acompanhamento pré-natal e 93,20% apresentaram algum risco gestacional. A maioria dos nascimentos ocorreu por cesariana. Entre as principais complicações obstétricas destaca-se a pré-eclâmpsia e o parto prematuro. Conclusão: concluiu-se que é importante o desenvolvimento de atividades educativas de modo a contribuir com a prevenção de agravos e melhoria na qualidade de vida das mulheres, no entanto, estas atividades devem ser realizadas em consonância com o perfil da clientela assistidas nos serviços de saúde.

Descritores: Enfermagem; Saúde da Mulher; Gestação de Alto Risco; Perfil de Saúde.

ABSTRACT - Objective: to describe the epidemiological profile of first pregnancy women attended in a high-risk maternity. Method: this is a descriptive quantitative study, with 73 primiparous held in Recife (PE). Data collection was made with the mothers who were hospitalized in a collective accommodation; they were selected by simple random manner, using their records and face-to-face interview. Results: the results pointed out a predominance of young women with low educational level and no fixed income. The majority lived in urban areas, with 42.50% in the Metropolitan Region of Recife. All primiparous attended the prenatal and 93.20% presented some kind of risk on their pregnancy. Most births occurred by cesarean section. Among the major obstetric complications there was pre-eclampsia and premature delivery. Conclusion: The study concluded that it is important to perform educational activities in order to contribute to the prevention of diseases and improving quality of life for women. However, these activities must be performed according to the clients’ profile.

Keywords: Nursing; women’s health; high-risk pregnancy; health profile

RESUMEN - Objetivo: describir el perfil epidemiológico de primíparas atendidas en una maternidad de alto riesgo. Método: se trata de un estudio descriptivo cuantitativo, con 73 primíparas, desarrollada en Recife (PE). La recogida de datos se realizó con las madres que fueron hospitalizados en alojamientos colectivos; que fueron seleccionados de forma aleatoria simple, usando sus registros y entrevistas. Resultados: los resultados indicaron un predominio de mujeres jóvenes con bajo nivel educativo y no tienen ingresos fijos. La mayoría vive en zonas urbanas, con 42,50% en la Región Metropolitana de Recife. Todas las primíparas asistieron al prenatal y 93,20% presentaron algún tipo de riesgo en el embarazo. La mayoría de los nacimientos ocurrió por cesárea. Entre las principales complicaciones obstétricas hubo pre-eclampsia y parto prematuro. Conclusión: El estudio concluyó que es importante llevar a cabo actividades educativas con el fin de contribuir a la prevención de las enfermedades y mejorar la calidad de vida de las mujeres. Sin embargo, estas actividades deben llevarse a cabo de acuerdo con el perfil de las mujeres. Descriptores: Enfermería; embarazo de alto riesgo; perfil de salud; salud de la mujer.

Perfil epidemiológico de primíparas atendidas em uma maternidade de alto risco

Epidemiological profile of primiparous attended in a high-risk maternity

Perfil epidemiológico de primíparas atendidas en una maternidad de alto riesgo Priscilla Glazielly dos Santos de Moraes1, Viviane Rolim de Holanda2, Hérika Dantas Modesto Pinheiro3

1 Enfermeira, Centro Médico de Camaragibe - CEMEC Centro. Camaragibe, Pernambuco, Brasil. E-mail: glaziellymoraes@hotmail.com

2Enfermeira Obstétrica, Doutora em Enfermagem, Professora d a Universidade Federal Pernambuco. Recife, Pernambuco, Brasil. E-mail: vivi_rolim@yahoo.com.br 3Enfermeira, Mestre em Saúde Coletiva, Coordenadora do Programa Estadual de Combate a Mortalidade Materna, Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco,

Recife, Pernambuco, Brasil. E-mail: herika_dantas@hotmail.com

Enfermagem Obstétrica, 2014; 1(2):45-50.

Introdução

A gestação é um momento especial na vida da mulher e da família, no qual a sensação de tornar-se mãe confunde-se muitas vezes com incertezas, medos e inconfunde-seguranças. Estes sentimentos são mais presentes nas primigestas, principal-mente no que se relaciona ao momento do parto. Em boa parte dos casos, a escolha da via de parto motiva discussão clínica e, em geral, a gestante não participa desse momento,

sendo, quando muito, informada sobre a decisão médica final. Não é levada em consideração sua aceitação ou não em relação à conduta a ser tomada, nem a associação entre a sua aceitação e os resultados perinatais obtidos1.

O parto normal reflete o protagonismo vivenciado pela mulher e está associado aos aspectos socioculturais e emocionais descritos como uma experiência relevante e ISSN 2358-4661

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única, que vai além de uma experiência física, induzindo a uma ascensão pessoal e a uma nova identidade, o papel de ser mãe. Estes elementos, associados à emoção do primeiro encontro com o filho, levam maior satisfação à cena de parto. Além disso, ele proporciona alguns aspectos físicos positivos, dentre eles estão menores níveis de dor no pós-parto, uma recuperação mais rápida e o retorno breve de suas atividades diárias2.

Percebe-se que a dificuldade no acesso a assistência ao parto é um problema enfrentado por muitas mulheres. Tal fato reflete a falha da organização nas redes de assistência à saúde, com desarticulação das unidades básicas de saúde onde a mulher realiza o pré-natal e, por sua vez, na desvinculação com a maternidade que seja mais próxima de sua residência. Desta forma, para uma assistência integral, faz-se necessário o acesso da população aos serviços de saúde, diminuindo as-sim o tempo para obter a assistência, o que poderia contribuir para a redução da morbimortalidade materna e neonatal3.

O ciclo gravídico-puerperal é processo normal na vida da mulher e em geral atinge desfecho bem sucedido. Contudo, fatores inerentes à assistência inadequada podem terminar em óbito ou sequelas definitivas para o binômio mãe/filho4. Em acréscimo, fatores socioeconômicos,

de-mográficos e de ordem médica (antecedentes obstétricos, estado da gravidez atual e hábitos maternos) podem rep-resentar riscos para a mãe e o feto5.

A identificação de pacientes de baixo ou alto risco facilita o processo de geração e fornecimento de cuidados de maneira diferenciada. As necessidades de pacientes de baixo risco são logo resolvidas com ações simples e de caráter primário, já as de alto risco requerem uma aten-ção mais especializada. Alguns casos são resolvidos com cuidados primários, mas outros precisam de atendimentos secundários e terciários, além de equipes mais capacitadas e tecnologia avançada6.

Entende-se por gestação de alto risco aquela em que existe um distúrbio que ameaça a vida da mulher e/ou do feto. Este pode ser em decorrência somente da gravidez ou de uma alteração que já existia antes da gravidez7.

Neste sentido, a assistência pré-natal é responsável por acolher a mulher desde o início da gestação assegu-rando, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal, por meio de condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias, com fácil acesso a serviços de saúde, desde o cuidado ambulatorial básico ao atendimento hospitalar de alto risco8.

Há consenso que o parto normal é o mais seguro, tanto para a mãe quanto para o bebê. Entende-se por parto normal aquele com início espontâneo, de baixo risco, per-manecendo desta forma durante todo o processo. Após o nascimento, mãe e filho permanecem em boas condições de saúde9,10. A cesariana é uma intervenção cirúrgica

originalmente gerada com o intuito de diminuir o risco de complicações maternas e/ou fetais durante a gravidez e o trabalho de parto. Essa intervenção não é isenta de risco, antes só realizada em mulheres mortas para salvar a vida do feto, a cesariana passou a proporcionar segurança à gest-ante e a seu filho em situações de maior complexidade11.

O aprimoramento das técnicas cirúrgicas e o uso de antibióticos contribuíram para tornar a cesariana um método relativamente fácil e prático, conduzindo à dis-seminação do caráter aparentemente inofensivo de sua atividade, especialmente por meio da mídia, com super-valorização da tecnologia. Como resultado um expressivo número de indicações de cesariana vem ocorrendo em todo mundo, muitas destas sem justificativas clínicas, nem evidências científicas12.

Pesquisa revelou que, no Brasil, a maioria das mul-heres tem seus filhos por meio de cesariana, com índices alarmantes do setor privado (88%) ao comparar com o setor público (46%). Apontou a cesariana como fator de colabo-ração para a sepacolabo-ração mãe-filho e depressão materna, em contraste com o parto normal13.

Neste contexto, as cesarianas que não possuem indi-cação médica estão associadas a um maior risco de infecção puerperal, mortalidade e morbidade materna, prematuri-dade, mortalidade neonatal e consequente elevação de gastos para o sistema de saúde12.

Com base no exposto, este estudo é relevante por apresentar informações sobre os aspectos sociais, demográ-ficos e obstétricos de primíparas que procuram os serviços de maior complexidade no cuidar. Logo, objetivou-se de-screver o perfil epidemiológico de puérperas primíparas atendidas em uma maternidade de alto risco.

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem quantitativa, realizado em uma maternidade de alto risco no município do Recife, capital do Estado de Pernambuco, região Nordeste do Brasil. Os dados foram coletados du-rante o período de julho a novembro de 2013. Realizou-se cálculo amostral para variável qualitativa e população finita, com intervalo de confiança de 95%, prevalência de 50% para vinculação das gestantes ao local do parto, erro máximo aceitável de 4% para uma população estimada de 4179 partos no ano de 2012.

A coleta foi realizada diariamente com as puérperas que se encontravam internadas no alojamento conjunto selecionadas de maneira aleatória simples, utilizando-se de entrevistas individuais, face a face, e consulta aos seus prontuários clínicos. Aplicou-se formulário organizado em dois blocos referente aos dados sociodemográficos e obstétricos.

Para análise dos dados construiu-se banco de dados no programa Microsoft Excel 2007 o qual foi exportado para o software estatístico Epi Info, versão 3.5.3. A análise dos dados foi realizada por meio de estatística descritiva utilizando-se frequências absoluta e relativa.

O estudo seguiu os princípios éticos da pes¬quisa envolvendo seres humanos, conforme o preconizado pela Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Con-selho Nacional de Saúde. Obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco conforme protocolo nº 307.123/2013.

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Resultados

A amostra foi composta por 73 primíparas. Quanto aos fatores socioeconômicos, houve um predomínio de mulheres com idade entre 20-29 anos (42,50%), com o 2º grau completo (42,50%) e do lar (57,50%). Em relação à localização geográfica do domicílio, as mulheres residiam em área urbana (84,90%), sendo a maioria na região met-ropolitana do Recife (42,50%) (Tabela 1).

apenas 8,20% necessitaram de atendimento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com internação em média de 1-5 dias (Tabela 2). Variáveis f % Idade 10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 – 49 30 31 11 1 41,10 42,50 15,10 1,40 Raça/Cor Branca Preta Parda 16 9 48 21,90 12,30 65,80 Escolaridade 1º Grau incompleto 1º Grau completo 2º Grau incompleto 2º Grau completo 3º Grau incompleto Procedência Recife RMR Zona da Mata Agreste Sertão 11 8 21 31 2 19 31 10 10 3 15,10 11,00 28,80 42,50 2,70 26,00 42,50 13,80 13,80 3,90 Zona Urbana Rural 6211 15,10%84,90 Ocupação Com renda Sem renda 2152 28,8071,20

Tabela 1: Distribuição do número de primíparas, segundo os dados soci-odemográficos. Recife, PE, 2014

RMR: Região Metropolitana do Recife.

Variáveis f % Doenças pré-existentes HAS DM Outras* Nenhuma 3 1 3 66 4,10 1,40 4,10 90,40 Risco Gestacional Sim Não 685 93,206,80 Início do Pré-natal 1º Trimestre 2º Trimestre 3º Trimestre 52 19 2 71,20 26,00 2,70 Número de Consultas De 1-3 consultas De 4-6 consultas De 7 ou mais consultas 7 34 32 9,60 46,60 43,80 Tipo de Parto Normal Cesariana 2548 34,2045,30

Recebeu atendimento na UTI Sim Não Tempo de Internamento 1-5 dias NSA 6 67 6 67 8,20 91,80 8,20 91,80 Peso do RN <1000g 1000g-2500g 2501g-4000g NSA 4 29 39 1 5,50 39,70 53,40 1,40

Tabela 2: Distribuição do número de primíparas, segundo os antecedentes obstétricos e gestação atual. Recife, PE, 2014

Discussão

Ao observar as características sociodemográficas das primíparas em relação a outros estudos identifica-se semelhança no perfil, visto que houve predomínio de mulheres jovens, pardas, com baixa escolaridade e sem renda fixa4,14-19.

Semelhante aos dados apresentados neste estudo, a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança (2009)14 revelou que a maioria das mulheres brasileiras (66,6%) foi mães pela primeira vez com idade entre 20 a 34 anos. Outro estudo cujo objetivo foi descrever o perfil de *Asma, hepatopatia e rinite alérgica

NSA: Não se aplica. PE: Pré-eclâmpsia Com relação aos fatores obstétricos, 90,40%

pué-rperas não apresentaram doença pré-existente; em con-trapartida, 93,20% exibiram algum risco gestacional. Todas as primíparas realizaram acompanhamento pré-natal em maternidade ou unidade básica de saúde. A maioria iniciou o acompanhamento pré-natal no 1º trimestre (71,20%), com uma média de 4 a 6 consultas (46,60%).

A cesariana (65,80%) foi predominante entre a via de parto realizada. Entre as complicações obstétricas atuais destaca-se a pré-eclâmpsia leve/grave com 45,30% primí-paras acometidas. Quanto ao peso dos recém-nascidos, 53,40% obtiveram entre 2501-4000g. Dos casos analisados,

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puérperas também apontou idade materna na mesma faixa etária15. No entanto, ressalta-se a porcentagem significativa

de primíparas adolescentes.

Este achado corrobora com os dados de outras pes-quisas já realizadas, indicando um início precoce da mater-nidade. Pesquisa realizada no Espírito Santo verificou que 30,6% das puérperas tinham idade entre 12 a 19 anos16.

Outra pesquisa realizada na Bahia mostrou considerável porcentagem de mães menores de 20 anos17.

Uma pesquisa nacional sobre parto e nascimento iden-tificou que 19% das suas participantes eram adolescentes e que dois terços declararam não ter desejado a gravidez. Revelou ainda que as adolescentes apresentaram menor cobertura de consultas de pré-natal, com início tardio do acompanhamento13. A gestação na adolescência pode estar

associada à prematuridade, baixo peso ao nascer, maior risco para doenças infecciosas, atraso no crescimento, retardo no desenvolvimento, aumentando consequentemente as taxas de morbidade precoce e mortalidade na infância20.

Os resultados apresentados revelaram que a maioria das mulheres não possuía renda fixa, por sua vez eram dedicadas às atividades do lar ou estudantes. Este fato pode estar relacionado aos poucos anos de estudo, repercutindo nas ocupações sem renda das mulheres.

Em concordância, pesquisa realizada em Salvador sobre o perfil das usuárias do sistema único de saúde mos-trou dados semelhantes ao revelar que 55,7% das mulheres entrevistadas não tinham remuneração17.

Resultado de estudo realizado em uma maternidade do Paraná, cujo objetivo foi conhecer o perfil de gestantes e de seus recém-nascidos, mostrou que 33,3% de puérperas atendidas tinham o 2º grau completo e 5,8% cursavam o ensino superior18. No Espírito Santo, verificou-se que 32,8%

das puérperas tinham o ensino médio completo e apenas 4,3% tinham concluído o ensino superior19.

A escolaridade materna, o trabalho materno, a renda familiar e a classe social, constituem determinantes que afetam as condições de vida. A baixa escolaridade materna está associada ao aparecimento de situações de risco para a mãe e para o recém-nascido, como o baixo peso, à mor-talidade na infância e ao aumento do número de partos21.

Em outro estudo encontrou-se associação entre baixa renda familiar e malformações fetais, gravidez antes dos 15 anos e HIV. Esse achado pode refletir situações de vul-nerabilidade de mulheres de baixa renda, como condições de saúde desfavoráveis e menor acesso e utilização de serviços de saúde22.

Quanto ao perfil obstétrico, estudo que descreveu fatores de risco gestacionais e sua associação com desfechos materno-fetais desfavoráveis apontou o sobrepeso e a obesidade pré-gestacionais, o ganho excessivo de peso na gestação e a anemia como fatores de risco para pré-eclâmp-sia, parto cesariano e alteração de peso do recém-nascido4.

Outra pesquisa que descreveu o risco reprodutivo de mulheres assistidas em um serviço de pré-natal de alto risco revelou que 83,3% das participantes tinham algum risco gestacional22. Este achado apresentou a mesma tendência

nos resultados apresentados em nosso estudo.

No que se refere às características individuais da pa-ciente são considerados fatores de risco gestacional a idade menor de 15 e maior que 35 anos, ocupação e situação conjugal inseguras, uso de drogas e baixa escolaridade. Com relação à história reprodutiva, considera-se o abor-tamento habitual, nuliparidade e cirurgia uterina anterior. Na gravidez atual aponta-se trabalho de parto prematuro, pré-eclâmpsia, eclampsia, amniorrexe prematura, hemor-ragias, isoimunização e óbito fetal23,24.

Com base neste contexto, o objetivo da assistência pré-natal é assegurar a evolução da gestação, promovendo o parto, sem qualquer impacto para a saúde materna e neonatal, inclusive ancorando aspectos psicossociais e atividades educativas24.

A identificação precoce dos fatores de risco acarreta benefícios para a saúde materno-infantil por meio de pro-tocolos simples e pouca tecnologia com modificação de condutas e medidas preventivas e assistenciais4.

O acompanhamento pré-natal pode ser o principal indicador do prognóstico ao processo de nascimento, em que os cuidados assistenciais no primeiro trimestre indicam qualidade dos cuidados maternos e fetais24.

Estudo realizado no Estado do Ceará encontrou por-centagem baixa (2,2%) de mulheres que não realizaram pré-natal25. Por outro lado, análise do perfil de gestante de

um ambulatório de alto risco verificou que apenas 27,5% das participantes iniciaram o pré-natal com menos de 14 semanas22. Pesquisa realizada em São Paulo identificou

que 58,6% das gestantes fizeram mais de sete consultas15.

De acordo com os resultados apresentados, percebe-se que houve a busca pelo percebe-serviço de saúde, mesmo tendo a maioria das mulheres entrevistadas baixa escolaridade. O Ministério da Saúde recomenda um mínimo de seis consul-tas durante o pré-natal8. No entanto, verifica-se um número

bem maior em se tratando de gestação de alto risco pelos cuidados que exige.

A realização de maior número de consultas de pré-natal está ligada a desfechos maternos e neonatais mais favoráveis. Percebe-se que diversas práticas rotineiras da assistência pré-natal são efetivas na prevenção de morbimortalidade materna e neonatal, com influência no diagnóstico precoce e tratamento da hipertensão arterial, da anemia e da sífilis, além da vacinação antitetânica e da suplementação de sulfato ferroso26.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como aceitável, para qualquer região do mundo, taxas de cesari-ana entre 10-15%9. Desta forma, valores que ultrapassem o

preconizado indicam que os riscos para a saúde reprodutiva superam os benefícios deste procedimento.

Entretanto, as taxas observadas de nascimento por cesariana contrapõem tal recomendação, tanto em países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento27.

O Brasil apresenta uma das taxas mais elevadas de parto cesáreo do mundo. No ano de 2011, 53,88% das mulheres realizaram cesariana, o que contribui para um maior risco de morbimortalidade materna e neonatal28,29.

Dados de estudo nacional revelaram que 52% das mulheres tiveram seus filhos por meio de cesariana, não

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tendo justificativas clínicas para tal percentual elevado, desta forma são expostas aos riscos de morbimortalidade materna e fetal, além de aumentarem desnecessariamente os gastos com saúde13.

Pesquisa realizada no Estado do Rio de Janeiro que acompanhou 437 puérperas observou que no início do pré-natal 70% dessas mulheres não tinham a cesariana como preferência, no entanto, 90% delas apresentaram esse tipo de parto. Apontou que o fornecimento de informações às mulheres, antes e durante a gestação, em relação às vanta-gens e desvantavanta-gens dos diferentes tipos de parto, bem como a implantação de mudanças no modelo de assistência ao parto deve ser uma estratégia para modificar este quadro30.

No Brasil, a morte materna relacionada a causa obstétrica direta, resultante de complicações obstétricas na gravidez, parto ou puerpério ocasionadas por interven-ções, omissões, tratamento incorreto ou a uma cadeia de eventos, é responsável por manter os números elevados de mortalidade materna31.

Em 2011, 66,5% das mortes maternas foram relaciona-das às doenças hipertensivas e as síndromes hemorrágicas. Os índices de mortalidade materna alarmantes estão ligados diretamente aos países em desenvolvimento e a melhora deste quadro pode estar associada a um aprimoramento na quali-dade da atenção obstétrica e ao planejamento familiar28,31.

Estudo realizado sobre a morbidade materna grave identificou que 68,5% das intercorrência clínica foram rela-cionadas a pré-eclâmpsia32. Esta doença geralmente ocorre

após a 20ª semana de gestação, pela decorrência gradual da hipertensão com proteinúria, sendo mais comuns em nulípa-ras e multípanulípa-ras. Este quadro pode evoluir para a eclampsia, caracterizado pela presença de convulsões tônico-clônicas generalizadas, não causadas por doenças convulsivas8.

Nos dados apresentados, foi considerável a quanti-dade de recém-nascidos (39,70%) com menos de 2.500g. Considera-se recém-nascido de baixo peso aquele com peso inferior a 2.500g, desconsiderando a idade gestacional, este fato constitui um importante problema de saúde pública, já que representa alta morbimortalidade neonatal. O baixo peso está ligado a principal causa de mortalidade infantil no Brasil, que são as afecções perinatais, que compreendem os problemas respiratórios, a asfixia ao nascer e as infecções33.

Há evidência de recém-nascidos de baixo peso e de peso insuficiente com associação significante com a faixa etária materna menor que 16 anos20. Este aspecto pode estar

correlacionado com o alto percentual de primíparas ado-lescentes encontradas em nosso estudo.

Estudo realizado em Aracaju com utilização dos dados do Sistema de Informação de Nascidos Vivos (SINASC) do ano de 2010 demonstrou que 91,65% dos recém-nascidos pesavam mais de 2.500g34. Pesquisa realizada em uma maternidade pública de referência regional identificou uma porcentagem diferente com 46,6% dos nascidos vivos entre 1.000 a 2.499g32. Outro estudo realizado sobre

de-terminantes do baixo peso ao nascer encontrou associação entre baixo peso ao nascer em recém-nascidos pré-termo e parto cesáreo35. Neste contexto, a ocorrência de partos

prematuros pode estar associada a diversos fatores, como

os socioeconômicos, ginecológicos, obstétricos, clínico-cirúrgicos e os de etiologia desconhecida35.

Tendo em vista a relevância da gravidez de alto risco na saúde materno-fetal, é importante a realização de estudos em serviços especializados, para que possam caracterizar as pacientes permitindo aos profissionais da saúde o planejamento de intervenções mais adequadas, com impacto na redução das complicações a que estas pacientes estão expostas.

Conclusão

Este estudo permitiu conhecer o perfil socioeconômico e obstétrico das primíparas assistidas em uma maternidade de referência para o alto risco, o que pode subsidiar nas orientações das ações dos profissionais de saúde que atuam nesta instituição e demais serviços de saúde similares.

Por meio dos resultados obtidos, detectou-se que a população atendida, nesta maternidade de alto risco, é caracterizada por mulheres jovens, com baixa escolaridade e sem renda fixa.

Verificou-se que a maioria das mulheres inicia sua assistência pré-natal no primeiro trimestre de gestação, com número adequado de consultas. Destaca-se que as complicações obstétricas mais frequentes foram a prema-turidade e a pré-eclâmpsia.

Espera-se que os resultados deste estudo estimulem o delineamento de capacitações profissionais na perspectiva da promoção da saúde materna e neonatal, das principais intercorrências clínicas apresentadas e discussão sobre a via de parto com base no direito de escolha das mulheres.

Além disso, os resultados apresentados poderão aux-iliar na construção de protocolos assistenciais com maior concordância com as características da população usuária, na alocação mais equitativa dos recursos financeiros e acesso aos serviços de saúde.

Destaca-se ainda a importância de desenvolver atividades educativas para as mulheres assistidas nesses serviços de saúde, de modo a contribuir com a prevenção de agravos e melhoria na qualidade de vida. No entanto, estas atividades devem ser realizadas em consonância com o perfil da clientela encontrada no serviço de saúde.

Diante dessa realidade, torna-se relevante que a atu-ação do enfermeiro seja pautada em evidências científicas para a sistematização do cuidar durante o ciclo gravídico-puerperal, de modo a promover a saúde e a autonomia das mulheres. Por fim, recomenda-se a realização de outros estudos que possam avaliar a definição da via de parto com os desfechos maternos e fetais em gestação de alto risco. Sugerem-se também investigações para avaliar a satisfação por parte das mulheres durante o atendimento nos serviços de referência para o alto risco.

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