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A resistência de uma escola : as interações dos discursos pedagógicos na arquitetura do Grupo Escolar da Vila Castelo Branco

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Academic year: 2021

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(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

RAYANE JÉSSICA ARANHA DA SILVA

A RESISTÊNCIA DE UMA ESCOLA: AS

INTERAÇÕES DOS DISCURSOS PEDAGÓGICOS

NA ARQUITETURA DO GRUPO ESCOLAR DA

VILA CASTELO BRANCO.

Campinas

(2)

RAYANE JÉSSICA ARANHA DA SILVA

A resistência de uma escola: as interações dos discursos pedagógicos na Arquitetura do Grupo Escolar da Vila Castelo Branco.

Dissertação de Mestrado

apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da

Universidade Estadual de

Campinas para obtenção do título de Mestra em Educação, na área de concentração de

Educação, Conhecimento,

Linguagem e Arte.

Orientadora: Profa. Dra. Maria do Carmo Martins

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA RAYANE JÉSSICA ARANHA DA SILVA, E ORIENTADA PELA Profa. Dra. MARIA DO CARMO MARTINS.

Campinas

(3)

Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): Não se aplica.

Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Faculdade de Educação

Rosemary Passos - CRB 8/5751

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: The resistance of a school : the interactions of the

pedagogical

discourse in architecture of Group School Vila Castelo Branco

Palavras-chave em inglês: School Arquitecture Dictatorship - Brazil Public education Educational politics Memory School history

Área de concentração: Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte Titulação: Mestra em Educação

Banca examinadora:

Maria do Carmo Martins [Orientador]

Doris Catharine Cornelie Knatz Kowaltowski André Luiz Paulilo

Data de defesa: 16-02-2016

Programa de Pós-Graduação: Educação

Silva, Rayane Jéssica Aranha da Silva, 1989-

Si38r Sil A resistência de uma escola : as interações dos discursos pedagógicos na arquitetura do Grupo Escolar da Vila Castelo Branco / Rayane Jéssica Aranha da Silva. – Campinas, SP : [s.n.], 2016.

S lOrientador: Maria do Carmo Martins.

Sil Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação.

Sil 1. Arquitetura escolar. 2. Ditadura - Brasil. 3. Educação pública. 4. Política educacional. 5. Memória. 6. Escolas - História. I. Martins, Maria do

Carmo,1964-. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. III. Título.

(4)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

A resistência de uma escola: as interações dos discursos pedagógicos na Arquitetura do Grupo Escolar da Vila Castelo Branco.

Autora: Rayane Jéssica Aranha da Silva

COMISSÃO JULGADORA:

Maria do Carmo Martins (orientadora)

Doris Catharine Cornelie Knatz Kowaltowski

André Luiz Paulilo

A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno

(5)

Sob a história, a memória e o esquecimento. Sob a memória

e o esquecimento, a vida. Mas escrever a vida é uma outra história. Inacabamento.(RICOEUR, 2007, p.172)

(6)

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer, primeiramente, à Carminha, querida orientadora, com

quem tive o privilégio de trabalhar, receber orientações e incentivos que

tornaram possível а conclusão desta dissertação. Não tenho palavras para

dizer obrigada pelo seu comprometimento, paciência e acolhida.

Agradeço também a minha família, especialmente minha mãe Maria de

Lurdes, que me acompanhou neste percurso, com seu carinho e incentivo

integrais.

À professora Dóris e professor André, agradeço a minuciosa leitura que

fizeram do texto de qualificação e os apontamentos acerca dos caminhos para

o desenvolvimento e finalização da pesquisa.

Ao querido Rafael, por tornar a trajetória de escrita desse texto mais

doce.

Aos queridos colegas do grupo de pesquisa MEMÓRIA: Priscila, Carla,

Getúlio, Gisele e Maurício.

Aos amigos, Thaís, Gláucia, Helen, José Carlos, Renan, Lucila, e

Marcos, agradeço as palavras e ações de incentivo durante a jornada.

À Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), na figura da

funcionária Selma, agradeço a disponibilização de seus arquivos sobre a

escola.

A todos aqueles que, ainda que eu não consiga perceber, foram fundamentais para realização deste trabalho.

(7)

RESUMO

Esta pesquisa toma como objetos de estudo o Grupo Escolar da Vila Castelo Branco e sua arquitetura escolar, bem como as modificações estruturais e organizacionais nela ocorridas por intermédio das relações e interações dos discursos pedagógicos e a prática escolar no período de 1967 a 2010. A instituição ora investigada tem seu projeto e construção datados no final da década de 1960. Nesse sentido, a análise da trajetória da instituição e sua arquitetura nos permite narrar as reorganizações e modificações ocorridas em seu interior a partir das interferências e alterações das políticas educacionais em curso no país desde o período da ditadura militar até a sua municipalização. A partir da análise documental, a pesquisa apreendeu as relações existentes entre as permanências e rupturas na arquitetura da escola na relação com a prática escolar e cotidiano da instituição, o que evidenciou a íntima relação da materialidade da arquitetura escolar na conformação da educação empreendida nos discursos pedagógicos de cada período.

Palavras-Chave: Arquitetura escolar; Ditadura civil militar brasileira; Educação Pública; Política Educacional; Memória e História da Escola.

(8)

ABSTRACT

This research is a historical approach of the architecture of a primary school from Vila Castelo Branco, a popular neighborhood in Campinas/SP, as well as the structural and organizational changes in the school building, it occurred through the relationships and interactions of the pedagogical discourse and school practices in the period from 1967 to 2010. The institution investigated its was projected and constructed in the 1960s, and this sense, the analysis of their school architecture and history allows us to narrate the reorganizations and changes occurring within it from interference and changes in current educational policy in the country from the period of military dictatorship till educational reforms, in 2010, when the school passed to for a county administration. From the documentary analysis, research seized the relationship between the continuities and breaks in the school of architecture in relation to school practice and daily life of the institution, which showed the close relationship of school architecture materiality in shaping undertaken education in speeches teaching of each period.

Keywords: School Architecture; Brazilian military-civilian dictatorship; Public education; Educational policy, Memory and History of school.

(9)

RELAÇÃO DE FIGURAS

Figura 1: Inauguração da Vila Castelo Branco, 1967. ... p. 24 Figura 2: Reportagem sobre a inauguração do bairro. ... p. 25 Figura 3: Planta do projeto das casas da Vila Castelo Branco. ... p. 26 Figura 4: Fachada padrão das casas da Vila Bela. ... p. 27 Figura 5: Imagem da configuração espacial do bairro. ... p. 31 Figura 6: Planta baixa do Escola Estadual Antônio Fernandes Gonçalves. ... p. 43 Figura 7: Planta com modificação para referência do trabalho. ... p. 44 Figura 8: Zoom do Bloco Administrativo da escola. ... p. 45 Figura 9: Zoom do Bloco de Salas de Aula. ... p. 46 Figura 10: Zoom do andar inferior da Escola. ... p. 46 Figura 11. Documento de vistoria da Escola. ... p. 47 Figura 12: Mastros elevados da Escola. ... p. 52 Figura 13: Entrada do prédio administrativo da escola (1970). ... p. 53 Figura 14: Teatro semi-arena da escola. ... p. 54 Figura 15: Corredores de acesso ao pavimento inferior da escola. ... p. 55 Figura 16: Pátio coberto sob pilotis. ... p. 58 Figura 17: Teatro interno do galpão coberto da escola. ... p. 59 Figura 18: Perspectiva transversal dos blocos de sala de aula ... p. 59 Figura 19: Refeitório abaixo do bloco de salas de aula. ... p. 60 Figura 20: Blocos paralelos de sala de aula. ... p. 61 Figura 21: Planta do terreno e construção do prédio escolar. ... p. 63 Figura 22: Livro ponto da escola. ... p. 88 Figura 23: Corredor de acesso ao pavimento inferior da escola. ... p. 92 Figura 24: Bloco administrativo no projeto de original e o atual (2010). ... p.97 Figura 25: Modificações dos ambientes no bloco de salas de aula. ... p. 100 Figura 26: Piso de ardósia das salas de aula e corredores. ... p. 102 Figura 27. Planta baixa do piso inferior da escola. ... p. 103

(10)

RELAÇÃO DE QUADROS

Quadro 1. Relação de ambientes e metragem do projeto original do Grupo Escolar da Vila Castelo Branco (1967). ... p. 65

Quadro 2. Distribuição das turmas nos três períodos do primeiro ano de funcionamento do Grupo Escolar da Vila Castelo Branco (1967). ... p. 74

Quadro 3. Distribuição das turmas no início do ano letivo de 1968 do Grupo Escolar da Vila Castelo Branco. ... p. 77

Quadro 4. Alterações e modificações dos ambientes no pavimento administrativo. ... p. 97

Quadro 5. Relação de ambientes e seus respectivos usos Grupo Escolar Antônio Fernandes Gonçalves (1967) e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Pe. Francisco Silva (2008). ... p. 107

Quadro 6. Linha do tempo da trajetória da Escola Estadual Antônio Fernandes Gonçalves. ... p. 109

(11)

RELAÇÃO DE SIGLAS

APM – Associação de Pais e Mestres.

BNH – Banco Nacional de Habitação.

CAE – Coordenadoria de Arquitetura Escolar.

CENP – Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas.

Ceplar – Campanha de Educação Popular

Cohab – Companhia de Habitação.

Conesp – Companhia de Construções Escolares do Estado de São Paulo

CPC – Centro Popular de Cultura

EMC – Educação Moral e Cívica.

Emef – Escola Municipal de Ensino Fundamental.

FAB – Força Aérea Brasileira.

Fece – Fundo Estadual de Construções Escolares

FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação.

Gesc – Grupo Escolar

Ipesp – Instituto de Previdência do Estado de São Paulo.

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

(12)

MCP – Movimento de Cultura Popular

Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização

OSPB – Organização Social e Política do Brasil.

Pladi – Plano de Ação e Desenvolvimento Integrado.

Progen – Projeto Gente Nova.

Saresp – Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São

Paulo

SEE/SP – Secretaria Estadual de Educação

Serfhau – Serviço Federal de Habitação e Urbanismo.

(13)

SUMÁRIO

1. Apresentação... p. 14

2. Introdução ... p. 17

3. Diálogos do cenário urbano: o bairro e a escola. ... p. 21

3.1 A Vila Bela ... p. 23

4. Arquitetura escolar: criação, construção e implantação da escola ... p. 42

5. Molduras, contornos e intervenções: a escola, a arquitetura escolar e as

políticas educacionais ... p. 73

6. Considerações finais: construções futuras ... p. 112

(14)

1. APRESENTAÇÃO

“Um livro é como uma casa. Tem fachada, jardim, sala de visitas, quartos, dependências de empregada e até mesmo cozinha e porão. (...) Que não repare nos móveis, que o dono da morada é modesto e bem-intencionado, que não houve muito tempo para limpar direito a sala ou arrumar os quartos. Que vá, enfim, ficando à vontade e desculpando alguma coisa”. (DAMATTA, 1997, p.11)

Convido o leitor a entrar na minha “casa” e conhecer sua história,

construção e acabamento. Espero que se sinta à vontade durante nossa

conversa. Compartilho com o visitante a história de uma escola construída em

uma vila popular do município de Campinas. Como quem conta com apreço e

significado, divido aqui pedaço a pedaço as memórias daqueles que

projetaram, construíram, trabalharam e vivenciaram os passos e espaços da

história dessa instituição e seu bairro.

O bairro que abriga essa escola chama-se Vila Castelo Branco, e assim

como a instituição de ensino, teve seu nome de origem alterado em virtude de

determinações políticas. Buscando uma analogia com possíveis etapas de

construção, por meio deste texto, apresentaremos uma análise das etapas

como: fase de escolha do terreno, elaboração do projeto, infraestrutura,

estrutura, paredes e vedações, telhado e cobertura, instalações, portas e

janelas, acabamento e paisagismo. Para dar conta de todos os aspectos da

obra dividimos em três partes a abordagem de nossa escola, são elas:

fundação, estrutura e acabamento.

A etapa de fundação será problematizada no primeiro capítulo. Nesse

contexto, abordaremos o desenvolvimento e modernização da cidade de

Campinas, aspectos relacionados ao governo militar dos anos de 1964 a 1985

(15)

como a Vila Castelo Branco e sua relação com a cidade e a Escola Estadual

Antônio Fernandes Gonçalves.

O segundo capítulo estrutura uma discussão focalizada no prédio da

escola, sua criação, localização, arquitetura, materiais e técnicas construtivas

utilizadas na sua edificação. Empreende, também, uma análise do espaço

escolar como elemento constituinte do currículo educativo.

O terceiro e último capítulo trata da escola e suas relações

“pós-acabamento”, isto é, aborda as relações e aspectos derivados do uso, fluxo,

apropriação, reorganizações e desafios infringidos ao cotidiano desse espaço

(16)

2. INTRODUÇÃO

A preocupação central deste trabalho é investigar a história do Grupo

Escolar Professor Antônio Fernandes Gonçalves e as relações estabelecidas

entre a arquitetura escolar e as práticas educativas mencionadas e ensinadas

naquele espaço. Para tanto, considera-se, ainda, as políticas educacionais

desenvolvidas no período de vigência de tal instituição. Esta escola ilustra parte

do processo de expansão da rede física de escolas do estado de São Paulo e

nos ajuda a compreender os desdobramentos e repercussões ocasionados no

interior da instituição por meio das mudanças legislativas realizadas no período

do regime militar.

Considerando o momento histórico da ditadura militar, o estudo

centrou-se nas relações produzidas no espaço escolar a partir da arquitetura escolar

analisando as práticas escolares e os usos do espaço no interior instituição. A

abordagem da relação entre arquitetura escolar e as práticas escolares,

sobretudo no uso dos espaços, evidência a complexidade e dinamismo ao qual

o espaço escolar é submetido na concretização da educação. Na realização e

cumprimento dos objetivos educacionais e suas respectivas finalidades, o fazer

educacional no “chão da escola” se achata, se deforma e se adapta às

mudanças legislativas, administrativas, arquitetônicas e pedagógicas. Na

postura de persistência e insistência da escola pública vemos quão dotada de

resiliência ela é.

O conceito de resiliência tem origem na Física e se refere à propriedade

que alguns materiais possuem de acumular energia, quando submetidos à

(17)

deformação permanente (BARBOSA, 2011). A partir do conceito de resistência

dos materiais, a Psicologia apropriou-se do termo definindo-o, na perspectiva

americana, como a capacidade de resposta do sujeito frente às adversidades

do meio (BRANDÃO; GIANORDOLLI-NASCIMENTO, 2011).

Ao tratar da história do Grupo Escolar Professor Antônio Fernandes

Gonçalves, constatamos que a definição de ambos os campos lhe são

pertinentes, posto que a arquitetura escolar da instituição, ao longo dos seus

43 anos, suportou diversas pressões externas e resistiu às adversidades do

tempo e das políticas educacionais. Chegar a essa constatação foi possível,

pois esta pesquisa entende que o estudo da arquitetura escolar e o currículo

podem delinear um caminho para a compreensão da história das instituições.

Nesse sentido, tomamos como referência a contribuição de Viñao Frago

(1998), que defende que a arquitetura escolar se constitui como um programa,

um currículo invisível que educa e colabora para a formação de identidades.

Veremos adiante que a análise da arquitetura dos espaços escolares é

um subsídio importante para a apreensão das complexidades existentes entre

os muros da escola. As disposições dos espaços presentes e ausentes dentro

de uma instituição escolar formatam a diagramação de

“uma espécie de discurso que institui na sua materialidade um sistema de valores, como de ordem disciplina e vigilância, marcos para a aprendizagem sensorial e motora, e toda uma semiologia que cobre diferentes símbolos estéticos, culturais e também ideológicos” (ESCOLANO, 1998, p. 26).

O levantamento de fontes lança luz às correntes da literatura sobre

(18)

educação a partir do campo da história da Educação. Para tanto, realizamos

uma pesquisa documental entre o período de 1967, ano de criação da escola, e

2010, data em que a escola foi municipalizada. Ainda sobre as fontes,

ressaltamos que o processo de municipalização sofrido pela instituição

prejudicou o acesso aos documentos selecionados para esta investigação.

Com o repasse do prédio escolar ao município de Campinas, o acervo da

instituição foi transferido para a escola estadual mais próxima e muitos

documentos foram descartados nesse trâmite. Infelizmente os registros de

fotos, plantas, plano de ensino, atividades e trabalhos discentes e docentes

ficam a margem da preservação, posto que a documentação cuja guarda é

permanente abarca apenas os documentos referentes à vida funcional dos

profissionais da escola e os prontuários dos alunos.

O Grupo Escolar Professor Antônio Fernandes Gonçalves foi construído

e implantado no ano de 1967 pelo poder público na recém-criada Vila Castelo

Branco. A criação da instituição na comunidade possibilitou o atendimento de

grande parcela das crianças pertencentes às famílias operárias do bairro e

regiões vizinhas, o que a tornou responsável pela formação educacional de

várias gerações de moradores da região noroeste da cidade. O prédio da

escola possui fundação sob pilotis, o que acabou por elevá-la em relação às

casas populares existentes em suas imediações, constatação que depende do

posicionamento do observador, visto que da rua do portão de entrada a

instituição parece ser completamente térrea.

Esse fato aliado às proporções da instituição nos leva a crer, que sua

construção visou não apenas atender a demanda de alunos do bairro, mas

(19)

A beleza da construção, o estilo arquitetônico moderno adotado e a

visibilidade central que fora destinada à escola revelam que a presença

daquela instituição significava, de algum modo, uma propaganda dos projetos e

investimentos da ditadura militar na área educacional.

Nesse sentido, a análise de Viñao Frago (2001) sobre a arquitetura

escolar como elemento constitutivo do currículo contribui com esta pesquisa à

medida que assumimos um olhar sobre a dimensão educativa do espaço na

educação. Destacamos, como referenciais, ainda, o legado de alguns

estudiosos como Lima (1989), Trilla (1985), Escolano (1998), Bencosta (2005),

Buffa (2008), do próprio Viñao Frago (1993, 1994), entre outros. Assim,

privilegiamos uma reflexão sobre o espaço escolar buscando dialogar e lidar

com um tema marcado por multifacetada gama de interpretações que vão além

do teor de vigilância, repressão e punição, características essas enfatizadas

nos trabalhos alicerçados na perspectiva de analise a partir das contribuições

de Foucault (1987).

A compreensão da pesquisa histórica sobre a dinâmica espacial do

bairro Vila Castelo Branco dialoga com as pesquisas de Gonçalves (2002), que

reconstituí a história do bairro a partir da memória dos moradores, e a

investigação de Rodrigues (2008), que analisa os aspectos de segregação

urbana nos moldes centro-periferia existente na formação desse bairro. Essas

produções auxiliaram a pesquisa ora apresentada na medida em que

subsidiaram reflexões sobre as relações estabelecidas no estudo entre a

(20)

As análises das reformas educacionais ocorridas no período da ditadura

militar e seus desdobramentos no currículo educacional brasileiro dialogam

com as análises de Martins (2002, 2014) sobre o tema. A partir dos estudos

desenvolvidos pela autora, foi estabelecido um paralelo entre o cenário

curricular nacional e as práticas pedagógicas e organizacionais no interior da

instituição.

O enfoque dado à relação entre o urbano, arquitetura escolar, políticas

educacionais e prática escolar se constituiu como um desafio que apontou uma

perspectiva ainda pouco explorada nas pesquisas no campo da História da

Educação. O objetivo do trabalho não é preencher em absoluto esse espaço,

mas indicar a possibilidade de um outro olhar para as práticas e “táticas”

existentes no cotidiano escolar1.

1

Em "A invenção do cotidiano” Certeau (1994), mostra que o homem "ordinário", inventa o cotidiano com mil maneiras de resistência silenciosa a essa conformação. Essa invenção se dá graças ao que o autor chama de "táticas de resistência" que alteram os objetos e códigos, estabelecendo uma (re) apropriação do espaço e do uso de acordo com o jeito de cada um.

(21)

3. Diálogos do cenário urbano, o bairro e a escola.

O conhecimento de si mesmo, a história interior, a memória em suma, é um depósito de imagens. De imagens de espaços que, para nós, foram, alguma vez e durante algum tempo lugares. Lugares nos quais algo de nós ali ficou e que, portanto, nos pertencem; que são, portanto, nossa história. (VIÑAO FRAGO, p.63, 2001)

Narrar a história do Grupo Escolar da Vila Castelo Branco e sua

arquitetura é algo que, na visão deste trabalho, abre diálogo para uma série de

questões que perpassam os muros da escola e vinculam-se a aspectos

relacionados às políticas educacionais, arquitetura escolar e ao cenário urbano

da cidade de Campinas/SP. Nesse sentido o trabalho de conclusão de curso de

Silva (2011), que abordou a história da escola e sua relação com bairro, foi o

elemento disparador para análise da arquitetura escolar da instituição e sua

relação com as políticas públicas educacionais. A abordagem da escola e sua

relação com o cenário educacional foram tratadas nas produções de Silva

(2014) e Martins; Silva (2015).

Ao investigar a escola, identificamos os frequentes momentos em que a

história da instituição escolar relaciona-se diretamente com bairro ao qual está

inserida.

Não apenas o espaço-escola, mas também sua localização, a disposição dele na trama urbana dos povoados e cidades, tem de ser examinada (...). A produção do espaço escolar no tecido de um espaço urbano determinado pode gerar uma imagem da escola como centro de um urbanismo racionalmente planificado ou como uma instituição marginal e excrescente. (ESCOLANO, 2001, p. 28)

Dessa forma, abordar a história da escola implica, necessariamente,

problematizar os aspectos referentes ao contexto de criação da Vila Castelo

Branco na cidade. O município de Campinas, a partir de 1960, e principalmente

(22)

industrial do estado de São Paulo. Cabe mencionar que é nesse período que

surgem as primeiras favelas e cortiços na cidade. A desconcentração relativa à

atividade industrial a partir da região metropolitana de São Paulo conduziu o

município de Campinas a um acelerado crescimento econômico e populacional.

Na década de 1960 a cidade contava com 43% de migrantes, e entre 1960 e

1970 o crescimento migratório chegou a 62% (CAIADO et al., 2002). No que

diz respeito às taxas populacionais, de acordo com Rodrigues (2008), esses

índices somaram-se ao aumento da população favelada que no mesmo

período saltou de 1% para 8% da população, o que em números absolutos

representou a crescente de 3 mil para 45 mil habitantes.

Nesse contexto, a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH) pelo

governo militar impactou diretamente a oferta de moradia e emprego para os

trabalhadores de baixa renda. As ações do BNH foram divididas em três

frentes: as cooperativas habitacionais; caixas econômicas, associações de

poupança e empréstimo; bem como as companhias habitacionais que tinham

por objetivo atender à população menos favorecida e auxiliar as prefeituras na

implementação dessa política (LEHFELD, 1988). Tal cenário possibilitou o

fortalecimento da discussão sobre o crescimento populacional e da pobreza

como pauta das questões administrativas da cidade. Como uma resposta às

necessidades habitacionais existentes à época, em 17 de fevereiro de 1965,

cria-se e implanta-se na cidade uma unidade da Cohab (Companhia de

Habitação).

A COHAB local, implantada em 1967, contribuiu significativamente para dotar de novos contornos a ocupação urbana de Campinas. Se inicialmente esta acompanhou a instalação das plantas industriais, posteriormente, de acordo com Zimmermann (1989, p. 128) “a construção de moradias para as classes de renda mais baixa direcionou-se majoritariamente para as proximidades das áreas loteadas esparsamente”. (BAENINGUER, 1996, p. 59).

(23)

No âmbito da política habitacional desenvolvida pelo poder público

naquele período, o Conjunto Habitacional Vila Rica, de 1966, aparece como a

primeira ação construtiva de moradia do governo da ditadura militar em

Campinas2. Essa construção sinalizou a nova política habitacional para a

população de baixa renda do município. A escolha dos futuros moradores da

Vila Rica se deu por meio dos seguintes critérios: 1º - famílias moradoras em

barracos ou sub-habitações; 2º - funcionários públicos mais necessitados; 3º -

moradores de cortiços e 4º - expropriados pela prefeitura. Após serem

submetidas à triagem inicial, as famílias pré-selecionas tinham que comprovar

renda, tempo de residência na cidade, e número de dependentes, além de não

possuir nenhum outro imóvel (GONÇALVES, 2002). Os meses que

antecederam a inauguração da Vila Rica também anunciaram a compra e início

dos trabalhos para a construção do segundo conjunto habitacional da cidade, a

até então nomeada Vila Bela.

3.1 A Vila Bela

O ato simbólico que marca a inauguração da Vila Bela data de 6 de

agosto de 1967. Naquele dia, em uma cerimônia realizada em praça pública,

estavam presentes em grande número autoridades locais, como o então

prefeito Ruy Novaes e o general Syzeno Sarmento. É importante ressaltar que

antes da solenidade de entrega do empreendimento, a maioria das casas já

estavam ocupadas por seus respectivos proprietários (GONÇALVES, 2002).

2

A citação de Roseane Baeninguer afirma que o ano de criação da Cohab Campinas data de 1967, entretanto, a criação desta instituição ocorreu em 17 de fevereiro de 1965 através da lei n. 3.213.

(24)

Inicialmente, o Conjunto Habitacional Vila Castelo Branco foi

denominado Vila Bela. A alteração do nome ocorreu em função da morte do

ex-presidente Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco3, em um acidente de

avião. A aeronave em que ele viajava chocou-se com um jato da FAB4 em

pleno ar. Foram muitas as homenagens que lhe foram prestadas, sendo uma

delas a alteração do nome do novo conjunto habitacional de Campinas aliada à

entronização de seu busto em praça pública. A mudança de nome, também

altera o projeto inicial de construções de bairros cuja denominação qualificaria

e enalteceria o tipo de política e estética urbana neles adotados, tal qual

verificamos nos bairros Vila Rica (1966), Vila Bela (1967) e Vila Boa Vista

(1969).

Figura 1: Inauguração da Vila Castelo Branco, 1967.

Fonte: (GONÇALVES, 2002).

3

Humberto de Alencar Castelo Branco (20/07/1900 – 18/07/1967) foi militar e político brasileiro, primeiro presidente do regime militar instaurado pelo Golpe Militar de 1964.

4

(25)

Figura 2: Reportagem sobre a inauguração da Vila Castelo Branco. Junto ao texto escrito, veicula-se

imagem da reprodução do busto do homenageado, isto é, de Castelo Branco.

Fonte: (GONÇALVES, 2002).

Concebida em duas etapas, mais precisamente entre 1967 e 1968, a

Vila Castelo Branco teve em sua totalidade 1.112 unidades habitacionais

construídas, sendo que 688 foram entregues na primeira etapa e 444 na

segunda. Valendo-se do padrão determinado pelo Serviço Federal de

Habitação e Urbanismo (Serfhau), as casas da Vila Castelo Branco foram

projetadas de forma a economizar terreno, material e mão-de-obra, bem como

tempo de construção5. De modo contrário à Vila Rica, as casas desse segundo

empreendimento eram geminadas, duas a duas, distribuídas em terrenos de

135m². De acordo com Gonçalves (2002), as casas do bairro foram construídas

5

O Serfhau foi criado pela lei federal 4.380, de 21 de agosto de 1967. Esse órgão estatal era responsável pela elaboração e coordenação da política nacional no campo do planejamento local integrado. Isso se dava através do estabelecimento de normas e roteiros para os planejadores. (FERREIRA, 2007).

(26)

com três tipos de metragem6

, 29,73m², 37,38m² e 45,53m². A configuração das

casas foi projetada a fim de facilitar sua construção, pois essas utilizam uma

mesma cumieira central, o que justifica a ausência de recuo lateral. A

instalação elétrica também era simplificada, os relógios de medição de

consumo eram alinhados partilhando o mesmo poste. No que se refere à

ligação de água e esgoto, também eram divididas, mas possuíam sistemas

independentes. Na Vila Castelo Branco as casas possuíam de um a três

dormitórios, além de sala, cozinha e banheiro, com área média de construção

de 36m².

Figura 3: Planta do projeto das casas da Vila Castelo Branco.

6

Relação de metragem obtida no protocolo 1698 de 20/5/1968 – Hab 17/04/1970 da Secretaria de Planejamento de Campinas/SP.

(27)

Figura 4: Fachada padrão das casas construídas na Vila Bela. É possível inferir que ao término da primeira casa, o início da outra residência é marcado pela construção de forma espelhada, como revela a imagem acima.

Fonte: (GONÇALVES, 2002)

A figura 4 mostra a fachada das casas tal qual fora entregue aos

moradores do bairro. Esse modelo de construção corresponde à planta baixa

representada na figura 3. A entrega das casas aos novos residentes não os

poupou das intempéries de adequação ao novo bairro que ainda não dispunha

de serviços básicos como água, luz e transporte. Os relatos de moradores

feitos ao pesquisador José Roberto Gonçalves (2002), presentes em sua

dissertação de mestrado, investigação que reconstituiu a história do bairro,

revelam as angústias e dificuldades dos novos moradores em relação à nova

vida que ali se alicerçava.

A população que compôs o bairro, em sua grande maioria, era formada

(28)

torno de três salários mínimos. Os novos moradores vinham de bairros com

relativa concentração de população pobre, mas que estavam mais próximos à

região central e cortiços localizados na região do Cambuí, do próprio Centro,

São Bernardo e Taquaral (GONÇALVES, 2002). Os primeiros moradores da

Vila presenciaram a conformação e constituição do bairro passo a passo,

melhoria a melhoria. As lembranças deles relacionadas aos primeiros anos do

bairro retratam as dificuldades resultantes da distanciada região do centro da

cidade, bem como os problemas de infraestrutura no bairro, que sofria com a

ausência de transporte, água e áreas públicas adequadas para o lazer.

Na década de 1960 a região noroeste da cidade de Campinas era tida

como uma região longínqua, de difícil acesso, de acordo com os primeiros

moradores do bairro tratava-se de um verdadeiro “fim do mundo”

(GONÇALVES, 2002). Essa conotação ganha maior significado quando nos

confrontamos com a estrutura urbana dessa área da cidade no período em

questão. O lugar que abrigava antiga “Vila Bela” tinha como principal ligação

com a região central da cidade a Avenida John Boyd Dunlop, que à época era

uma pista única, cujo asfalto ia somente até a fábrica da Pirelli7. Naquele

período bairros como Jardim Garcia e Vila Padre Manuel de Nóbrega ainda não

existiam no cenário urbano da cidade. O deslocamento dos trabalhadores da

Vila era difícil, uma vez que andavam cerca de três quilômetros a pé até o

Jardim Aurélia, para lá tomarem o ônibus para seus respectivos trabalhos que,

em sua maioria, localizavam-se na região central da cidade.

7

A inauguração da fábrica da Pirelli em Campinas data de janeiro de 1970. A unidade campineira foi a segunda unidade da empresa implantada no Brasil.

(29)

A cidade de Campinas, na década de 1960, ilustra o ápice da execução

do planejamento urbano iniciado na década de 1930 com o Plano de

Melhoramentos Urbanos de Campinas. O plano de ordenamento urbano de

Prestes Maia foi elaborado considerando uma implantação de longo prazo, cujo

período de execução estimado era de vinte a cinquenta anos para realização

das proposições assinaladas.

A ostensiva expansão urbana possibilitou ao capital imobiliário grandes

lucros na divisão do solo urbano. Produziu-se, na cidade, uma espacialidade

marcada por vazios urbanos à espera de valorização, com difícil interligação, o

que prejudicou a população pobre, forçada a difíceis deslocamentos para ir de

casa ao trabalho (SEMEGHINI, 1991). Esse processo também influenciou a

estrutura do centro da cidade que foi drasticamente modificado, sobretudo nas

décadas de 1950 e 1960. A valorização da área central da cidade promoveu a

“higienização” dos pobres daquela região e oportunizou ao setor de transportes

uma maior inserção no sistema de mobilidade da época (RODRIGUES, 2008).

A partir desse contexto o ônibus passou a ser o meio de transporte mais

utilizado no deslocamento entre o centro e as demais localidades de Campinas.

Sobre essa ação, Semeghini (1991) afirma:

Finalmente, uma consequência marcante desse padrão de crescimento foi a mudança nas feições da cidade. Essa mudança se traduz fisicamente nos novos arranha-céus, avenidas e logradouros, por um lado, e no surgimento dos novos (e distantes) bairros e loteamentos populares. Socialmente, ela implicou numa crescente segregação espacial dos trabalhadores e das camadas de mais baixas rendas. Até os anos cinquenta, era comum a existência numa mesma área urbana de residências (e habitantes) de distintos níveis sociais e de rendas, embora, é claro, já existissem bairros mais nobres. A valorização intensa e especulativa desses terrenos expulsa dessas áreas a população pobre, que juntamente com o crescente contingente migratório passou a deslocar-se para as áreas mais distantes. Ao mesmo tempo, as áreas mais

(30)

centrais vão sendo recicladas, com o impulso à verticalização (SEMEGHINI, 1991, p. 128).

O plano de urbanização da cidade, instituído pelo ato 118 de 1938 do

prefeito João Alves dos Santos iniciou a divisão e zoneamento da cidade. É

considerado como o marco inicial da criação dos micros polos catalizadores

das camadas menos favorecidas em bairros mais distantes com sanção,

subsídio e incentivo do poder público.

Esse Plano tem o caráter do urbanismo vinculado à prática e apoia-se nos ideais do urbanismo “funcionalista” e “higienista”, tendo um enfoque projetual fortemente marcado por conceitos de estética urbana e valorização da paisagem, representante do assim denominado “urbanismo de autoria”. Os edifícios e parques públicos são tomados como símbolos monumentais da cidade, em um ideal de civilidade voltado aos objetos resultantes da intervenção urbanística. A política ocupa um lugar periférico no Plano, sendo a noção de “cidadania” a de uma “colaboração política” para se atingir uma “consciência geral”, pautada no discurso da modernidade que almeja o “progresso” através dos meios técnicos e da racionalidade científica. (CAMPINAS/Plano Diretor 2006, p.31)

Os autores8 que dissertam sobre a expansão urbana da cidade de

Campinas, compreendem essa política como a mola impulsora responsável

pela segregação nos moldes centro-periferia em Campinas. Nesse padrão de

segregação está inserido o caso da Vila Castelo Branco, pois de acordo com

Gonçalves,

Em todo caso, é importante ter em mente que esse foi o molde da segregação ocorrida na Vila Castelo Branco. De modo que nesse bairro podemos dizer que existiu uma combinação de concentração de população de baixa renda, marcada pela diferenciação de infra estrutura e serviços existentes no centro e contígua mancha urbana, separada pela distancia da periferia com piores condições urbanas. (GONÇALVES, 2008, p. 27).

8

BRITO (1969), BAENINGUER (1996), SEMEGHINI (1988; 1991), GONÇALVES (2002), BADARÓ (1986), RODRIGUES (2008), entre outros.

(31)

A concepção urbanística da Vila Castelo Branco possui características

que se assemelham às proposições de Orosimbo Maia, que era favorável a

ideia de que os bairros residenciais deveriam ser organizados de forma que

todas as necessidades dos moradores locais fossem ali satisfeitas,

evitando-se, assim, os deslocamentos desnecessários para o centro da cidade. As

ideias defendidas por Orosimbo Maia tinham grande relação com as

proposições do urbanista Prestes Maia, algumas delas, inclusive, foram

implantadas no diagrama urbanístico desenvolvido na Vila Castelo Branco.

Citado por Gonçalves (2002), Ricardo Badaró aborda as convicções

urbanísticas do arquiteto Prestes Maia, que se colocava favorável à criação de

bairros onde,

“As quadras residenciais seriam alongadas e estreitas, dispostas segundo as direções mais favoráveis e definindo as ruas transversais como vias de ligação – mais espaçadas e com algum trânsito – e entre elas se intercalariam, quando necessário, viela para pedestres”. (Prestes Maia) (GONÇALVES, 2002, p.78)

As convicções de Prestes Maia postulavam também que a organização

dos novos bairros deveria ter a escola como centro e as demais áreas

destinadas ao comércio em sua periferia, com ruas mais largas para o tráfego e

deslocamento, permitindo assim que as ruas internas fossem reservadas ao

fluxo e convívio entre os moradores. Ainda de acordo com Prestes Maia, o

recuo frontal das casas deveria abrigar jardins, e cada final de quadra abrigaria

uma área livre para o lazer.

No inicio do bairro os espaços destinados às praças e jardins se

converteram em “amplos terrenos vazios encravados no meio dos quarteirões

(32)

Figura 5: Imagem da configuração espacial do bairro. O circulo destaca a centralidade da escola na disposição interna do bairro.

FONTE: googlemaps acessado em 12/01/2015

A figura 5 evidencia a escola como elemento de destaque no bairro, bem

como os espaços de convivência criados a cada quarteirão com árvores de

médio e grande porte, que nos primeiros anos no bairro ainda eram pequenas

mudas. A data da imagem ora apresentada é recente e revela os contornos

atuais do bairro, entretanto, no momento de entrega das casas a estrutura do

bairro era precária, marcada por ruas sem asfalto, casas sem água e energia

elétrica. O único aparato do Estado disponibilizado à população para além das

moradias populares foi o Grupo Escolar da Vila Castelo Branco. Com grande

porte e arquitetura moderna, a escola figurou no cenário espacial do bairro

como elemento marcante dos investimentos do poder público naquela

localidade.

A escola, com destaque na espacialidade do bairro e os investimentos

ali empregados, atuou como um símbolo da materialização da visão de mundo

e percepção do real “ofertada” e estampada à sensibilidade daqueles que, até

(33)

A cidade e o bairro, nesse aspecto, não são apenas imagens

sobrepostas aos olhos. Experienciar ruas, calçadas, casas, prédios, energia

elétrica, iluminação pública, disponibilidade de água, escola e jardins

constituem elementos que atuam sobre a forma de sentir e interpretar o mundo

a partir de si mesmo e das condições as quais seus corpos estão submetidos.

O ritmo do trabalho, a velocidade e distância dos deslocamentos, a hora de

dormir e acordar, o que é possível ler, o acesso à cultura e educação, o comer,

vestir e ter, e os demais elementos que compõem a existência do homem estão

estreitamente ligados à capacidade de produção e distribuição de mercadorias

possibilitadas pelo grau de desenvolvimento na morfologia urbana. De acordo

com Prado,

Se a cidade, então, não é percebida apenas com os olhos, parece interessante considerar que sua recepção por parte de seus habitantes/espectadores ocorre também por um meio tátil. É, então, por essa dupla forma de recepção, óptica e tátil, pela percepção e pelo uso, que Walter Benjamin pensa a relação que as pessoas – especificamente as massas – estabelecem com a arquitetura. É uma recepção que se dá coletivamente e mais pela distração, pelo hábito, que pela contemplação ou por uma atitude de recolhimento diante da obra – a não ser no caso do turista diante de um prédio “histórico”. (PRADO, 2011, p. 2)

A aparência e o visível, no espaço citadino, reverberam e modulam as

visões de mundo e sensibilidades delineadas e idealizadas nos projetos

urbanos. Esse aspecto se torna mais evidente quando se segrega em

determinado espaço pessoas de tipos sociais que são indesejáveis, perigosos,

que frustram com sua presença uma estética de mundo. Organizar e

racionalizar o espaço não implica somente em promover um ordenamento do

que está caótico, tais ações são permeadas por intencionalidades outras que

(34)

Ruas estreitas em contraposição a avenidas largas e monumentais,

edifícios modernos e casas populares chancelaram os devires do “progresso” e

disseminaram representações simbólicas que explicitam o ideal de cidade

firmado naquele período. Assim, a presença de uma escola de singular

arquitetura num bairro destinado às camadas populares é algo significativo,

uma vez que um espaço público como este firma e perpetua um compromisso

educacional para com aqueles que dele irão usufruir.

A construção de obras públicas de destaque adere à edificação grande

peso simbólico que atua sob o imaginário coletivo por meio da vivência e

experiência. Desse modo, invoca e provoca vínculos afetivos e simbólicos.

Assim, “a escola, em suas diferentes concretizações, é um produto de cada

tempo, e suas formas construtivas são, além dos suportes da memória coletiva

cultural, a expressão simbólica dos valores dominantes nas diferentes épocas”

(ESCOLANO, 2001, p. 47).

Pensar e desvelar uma instituição tal qual se produziu no bairro ora

investigado, e os diálogos e relações que por intermédio dela afloraram,

reforçam a ideia de que a escola pode ser compreendida em sua espacialidade

e especificidade na relação com o urbano.

Edifícios significativos enquanto obras do mundo da cultura, transformam a visão de mundo, os valores e sentimentos, criam novas centralidades no urbano, enfim, trazem à experiência do espaço, novas sensibilidades. A construção de um edifício como um ‘mundo fictício’ proporciona a distância necessária à revelação e transformação da vivência quotidiana. (DUARTE, 2011, p.13)

As características arquitetônicas do Grupo Escolar da Vila Castelo

(35)

suas imediações, e também o singularizam se o comparamos com as demais

escolas da cidade construídas no período, sobretudo na região noroeste da

cidade. Assim posto, faz-se necessário contextualizar brevemente o cenário da

rede educacional paulista no final de década de 1950 e início de 1960. Para

tanto, as palavras de Vilanova Artigas nos ajudam a compreender a conjuntura

estrutural desse período.

Em 1960 abandonaram-se os organismos promotores de projeto e construção que vinham sendo usados e criou-se um novo organismo central de programação – o FECE (Fundo Estadual de Construções Escolares). Fazia-se necessário distribuir as escolas em áreas onde elas mais servissem a seu destino. (ARTIGAS, 1999, p. 95)

Com a alteração de mandato no governo estadual e a posse de

Carvalho Pinto, o panorama da precariedade da rede física de escolas

estaduais foi colocado em evidência, e esse tema passou a ser assumido como

prioridade de ação da nova gestão. Para o cumprimento de tal meta foi

elaborado o Pladi (Plano de Ação e Desenvolvimento Integrado). Nele foi

elencada uma série de ações para a construção de 3.000 salas de aula, entre

criação de novas escolas e substituição de escolas galpão.

Um plano de emergência, como se vê. Para a emergência, os órgãos de projeção do estado não estavam aparelhados. Para ajudá-los, resolveu-se atribuir projetos a arquitetos de fora da estrutura do funcionalismo público. Já tinham experiência técnica, acumulada a duras penas, realizando obras particulares. Assim foi projetado, em tempo relativamente curto, um conjunto apreciável de escolas, e a sociedade tomou conhecimento da existência dessa reserva técnica que são os quadros da arquitetura paulista. (ARTIGAS, 1999, p. 97)

Com a abertura da elaboração de projetos por meio de contratação de

escritórios de arquitetura, intensificou-se, no início da década de 1960, o

(36)

características desse momento foi a diversificação dos projetos para a

construção de edifícios escolares. Despontam nesse período projetos

modernos e de grande relevância no cenário da arquitetura escolar, dentre

esses os realizados por Vilanova Artigas, um dos arquitetos mais significativos

daquele período. A cidade de Campinas se beneficiou diretamente dos frutos

da iniciativa de ampliação da rede física de escolas do estado. Em relação a

esse período, encontramos na cidade projetos de escolas realizados por

renomados arquitetos como Fábio Penteado, Plinio Croce, Roberto Aflalo,

Rubens Carneiro Vianna, Paulo Mendes da Rocha, Adolpho Rubio Morales,

dentre outros9.

Se compreendermos a escola da Vila Castelo Branco na relação com os

projetos do período, dois elementos nos chamarão atenção, o primeiro mostra

que ela reitera um conjunto de escolas cujos elementos construtivos advêm

desse período histórico, fato que a relaciona com o cenário estadual de

arquitetura escolar. O segundo aspecto diz respeito à mudança de perspectiva

da arquitetura escolar da escola na sua relação com o entorno, pois esse, por

ser desprovido de demais aparatos públicos, eleva-a a condição de melhor

espaço público do perímetro do bairro. Essa perspectiva confere outro valor à

analise da escola, que num cenário estadual tem papel coadjuvante dentre os

projetos que lhe são contemporâneos, mas na relação com o urbano de seu

entorno figura como a principal instituição formativa da região. Isso fica nítido

se considerarmos, por exemplo, as dimensões de sua construção e a

abrangência de seu atendimento educacional.

9

Na tese “Arquitetura Escolar em São Paulo 1959-1962: o page, o Ipesp, e os arquitetos modernos paulistas” de André Augusto de Almeida Alves (2008), temos um panorama dos projetos do período realizados na cidade de Campinas.

(37)

Esse aspecto nos leva a crer que sua construção visava não apenas

atender a demanda imediata de alunos do bairro, mas também simbolizar, de

algum modo, uma propaganda dos projetos e investimentos da Ditadura em

relação à nova proposta educacional. Posto que neste período a educação foi

subjugada à meio de transmissão da racionalidade tecnocrática, como o

instrumento que viabilizaria a concretização do slogan “Brasil Grande

Potência”. Pautada na projeção de desenvolvimento econômico do país, a

educação se reestruturou em decorrência das demandas cientificas e

tecnológicas que a sociedade urbano-industrial exigia.

No período da ditadura militar, foram implementadas as reformas

educacionais de 1968, a Lei n. 5.540, que reformou a universidade, e a de

1971, a Lei n. 5.692, que estabeleceu o sistema nacional de 1° e 2° graus.

Ambas tinham como objetivo estabelecer uma ligação intrínseca entre o

aumento da eficiência produtiva do trabalho e a modernização das relações

capitalistas de produção.

(...) a política educacional do período entre 1964 e 1985 estava, em última instância, vinculada organicamente ao modelo econômico que acelerou, de forma autoritária, o processo de modernização do capitalismo brasileiro. Ainda mais: foram reformas educacionais que estavam inseridas num contexto histórico de transição de uma sociedade agrária para uma sociedade urbano-industrial, cujas transformações societárias se desenrolavam desde 1930. (FERREIRA JR; BITTAR, 2008, p. 336).

No que tange à educação, os tecnocratas defendiam como premissa a

aplicação da “teoria do capital humano” como embasamento

teórico-metodológico para a ampliação da produtividade econômica da sociedade. A

(38)

instrução e a educação são valores sociais que possuem caráter econômico e,

nesse sentido, podem ser consideradas como “bem de consumo” que, por sua

vez, se constitui como bem permanente de longa duração. Para o referido

autor:

Os investimentos na instrução não podem ser minimizados; muito ao contrário, são de tal magnitude que alteram, radicalmente, as estimativas, geralmente aceitas, do total das poupanças e da formação de capitais, que estão em curso. Deverão ser reformulados os conceitos estabelecidos com relação aos elementos de formação do pagamento e salários (renda relativa), à distribuição da renda por pessoa e às fontes de crescimento econômico. (SCHULTZ, 1973, p. 26).

Dessa maneira, a “teoria do capital humano” estabeleceu uma relação

entre educação e economia, na medida em que a primeira pode ampliar a

capacidade de produção da segunda. Em síntese, no contexto de crescimento

econômico estabelecido no período de ditadura militar, a educação

acompanhou a lógica dos interesses econômicos. Em 1975, Ney Braga

discorria sobre as questões educacionais do país e assinalava uma resposta à

ideologia tecnicista vigente:

O grande desafio que a política para o desenvolvimento econômico e social do País nos impõe é este: que tipo de educação construir e oferecer às crianças e jovens do Brasil de hoje? A resposta a este desafio está intimamente associada aos objetivos ou fins que aquela política de desenvolvimento pretende alcançar. Tais propósitos estão definidos no II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). Este autodefine-se como dotado de “forte conteúdo social”. Identifica como “objetivo maior de todo o planejamento nacional (...) o homem brasileiro, nas suas diferentes dimensões e aspirações”. O modelo de desenvolvimento escolhido é, coerentemente, um “modelo brasileiro de sociedade aberta, social, racional (...)”. (BRAGA, 1975, p. 3).

(39)

Embora as principais reformas educacionais relacionadas à expansão do

ensino realizadas no governo da ditadura tenham se efetivado entre 1968 e

1972, há um dado na rede estadual paulista importante para ser considerado e

relacionado às reformas educacionais que posteriormente abarcaram todo o

país. Nesse sentido, há que se ressaltar a expansão da rede física de escolas

promovida pelo governo Carvalho Pinto, nos anos de 1959 a 1963, que além

de atender, em grande parte, às demandas existentes no estado proporcionou

ao Estado de São Paulo uma condição privilegiada para a implantação e

cumprimento das prescrições normativas que foram oficializadas

posteriormente por meio de reformas educacionais no governo da ditadura

Militar. O conjunto de prédios realizados pelo Fece e o Instituto de Previdência

do Estado de São Paulo10 (Ipesp), na virada da década de 1960, constitui um

episódio importante da história da arquitetura moderna paulista. Essas

construções foram marcadas pela presença de espaços pensados e

estabelecidos em beneficio do salto desenvolvimentista necessário à educação

pública. Grande parte das escolas desse período possui gabinete dentário,

secretaria, biblioteca, laboratório de ciências, anfiteatro, pátios cobertos com

palco, quadra poliesportiva e, em algumas delas, há também piscina

semiolímpica. Essas escolas monumento, cujos terrenos e espaços eram

enormes, circunscreveram na plasticidade das alterações de suas

espacialidades uma história marcada pela resiliência e resistência frente às

mudanças de governo, bem como pelas transformações das políticas

educacionais.

10

O Ipesp na final da década de 1960 atuou na construção de prédios públicos, sobretudo escolas. Sua produção à época se constitui como um importante episódio na história da arquitetura moderna paulista, cujos trabalhos são divulgados e conhecidos a partir experiência e dos prédios projetados por Vilanova Artigas e um grupo de arquitetos em torno dele reunidos.

(40)

O bairro da Vila Castelo Branco e sua escola nos ajudam a

compreender, a partir do “chão da escola”, as distorções e contradições

existentes entre os projetos e as políticas educacionais, bem como entre as

normativas e regulações e a concretização do ensino. A partir das análises

documentais realizadas, discutimos historicamente as transformações no

cenário urbano de Campinas e da Vila Castelo Branco, tomando como ponto

de partida o processo de modernização e racionalização dos usos dos

espaços. No capitulo 2, por sua vez, trataremos especificamente da arquitetura

escolar do edifício da escola e suas características. Já no terceiro e último

capitulo, abordaremos a relação entre as políticas educacionais e os usos e

(41)
(42)

4.

Arquitetura escolar: a criação, construção e

implantação da escola.

Durante toda história do Brasil, houve busca por um rumo em projetos escolares, lutando-se pela construção de prédios de qualidade. O esforço por mudanças na estrutura física, refletido através da arquitetura, manifesta cultura artística, recursos disponíveis e estéticas dominantes de uma época, visando se chegar a um projeto nacional de desenvolvimento (ARTIGAS, 1986).

Fruto de um projeto específico para atender uma escola, construída em

um terreno cedido pela Prefeitura Municipal de Campinas ao Governo do

Estado de São Paulo, o prédio destinado ao Grupo Escolar da Vila Castelo

Branco ocupa uma quadra, tendo por divisa as ruas Sophia Velter Salgado,

Castel Nuovo e Alberto Penteado. Sua entrada, por sua vez, está localizada à

rua Fornovo, número 440. Sua relevância no traçado do bairro, desde seus

primeiros anos até hoje, é notável, pois o terreno que o abriga possui em sua

totalidade 16.193,62m².

Estruturada e organizada originalmente em três blocos, os 2.472m² de

área construída da escola tiveram seu projeto e supervisão executada pelo

órgão do estado Fece (Fundo Estadual de Construções Escolares). Na figura 6

temos a reprodução da planta baixa da escola disponibilizada pela FDE

(Fundação para o Desenvolvimento da Educação). A autoria desse projeto, no

entanto, é desconhecida. Cabe ressaltar que nos arquivos referentes à planta,

o campo de assinatura de elaboração do projeto não está preenchido. A planta

baixa original do projeto, reproduzida na figura 6, conforme mencionado, possui

um destaque em amarelo que evidencia a inversão de desenho do pavimento

(43)

Figura 6: Planta baixa da Escola Estadual Antônio Fernandes Gonçalves. Em destaque a inversão do desenho do pavimento inferior.

(44)

Para que possamos ter uma melhor visualização da disposição dos

ambientes na construção escolar, apresentamos a figura 7. Essa imagem

figurará como elemento norteador das discussões que empreenderemos mais

adiante sobre o espaço escolar da instituição.

(45)

O primeiro pavimento da escola conta com 240,48 m² e aparece

apresentado na figura 8; Esse espaço foi destinado às atividades

administrativas da escola. Sua organização contempla os seguintes ambientes:

portaria, secretaria, direção, biblioteca, depósito, sanitários administrativos,

sala de auxilio da direção e gabinete dentário.

Figura 8: Zoom do Bloco Administrativo da escola, cujo desenho foi retirado da planta original da Escola Estadual Antônio Fernandes Gonçalves.

Os segundo e terceiro blocos foram reservados às salas de aula. Foram

projetados em paralelo, possuem planta simétrica de área construída com

696,96 m² e enlaçam o teatro semi-arena da escola, conforme evidencia a

(46)

Figura 9: Zoom do Bloco de Salas de Aula, cujo desenho foi retirado da planta original da Escola Estadual Antônio Fernandes Gonçalves.

O andar inferior da escola possui dois galpões paralelos. Ao fundo do

primeiro galpão temos um depósito, refeitório, cozinha e despensa. O segundo

galpão possui um palco pequeno e dois sanitários. A figura 10 mostra que

temos entre essas duas estruturas dois sanitários para alunos e dois depósitos,

cuja entrada está em posição paralela às escadas do palco do teatro semi

arena.

(47)

No acervo documental da escola apenas o documento apresentado na

figura 11 faz menção às características e ambientes da instituição, trazendo à

tona dados específicos sobre a área total do terreno, área construída, área

descoberta, número de salas, banheiros e iluminação. Esse documento,

produzido em 12/06/1968, também nos mostra a identificação provisória do

endereço da escola, por meio da anotação “rua 4”. Mesmo com a alteração dos

nomes das vias, até hoje, se percorrermos o bairro e perguntarmos sobre a

localização de determinado endereço, recebemos uma dupla informação “fica

em tal direção, é a antiga rua número tal”.

Figura 11. Documento de vistoria da escola, produzido em 1968 pelo representante da chefia de prédio do Departamento de Educação. Fonte: Acervo documental da Escola.

Os dados referentes à disposição dos espaços da escola, tamanho e

topografia do terreno foram encontrados no acervo da FDE. No município de

(48)

pela gestão e manutenção dos prédios escolares, não dispunha sequer da

planta baixa da instituição, ainda que a escola tenha passado pelo processo de

municipalização em 2010.

Conforme dito anteriormente, o período em que foi construído o Grupo

Escolar da Vila Castelo Branco figura como um momento importante para o

desenvolvimento e ampliação do ensino no estado de São Paulo. A expansão

da rede física de escolas promovida no estado de São Paulo na gestão do

governador Carvalho Pinto elaborou uma série de ações para o enfrentamento

do precário cenário educacional aos quais as escolas paulistas estavam

imersas. O combate à degradação dos prédios escolares e ao elevado índice

de falta de vagas tornou-se prioridade do Plano de Ação do governo, que

estabeleceu prazos para o tratamento dos problemas encontrados.

No que diz respeito ao ensino primário, o plano adotou como premissa a

adequação das instalações escolares a fim de proporcionar “condições de

efetivo ensino elementar a todas as crianças em idade escolar” (Fece, 1963,

p.21). Como prosseguimento à abordagem de estrutura e construção escolar, a

Lei n. 5.444, de 17/11/1959, regulamentou as medidas financeiras para a

execução dos novos prédios e, por intermédio dela, foi criado o Fece, cuja

principal função consistiu na elaboração, desenvolvimento e custeio do

programa de construções para a ampliação de prédios das escolas públicas

estaduais.

O decreto 36.799, de 21/06/1960, de criação do Fece também previu a

possibilidade de contratação temporal de escritórios de arquitetura. Essa

(49)

escolares no período. De acordo com Buffa e Pinto, essa iniciativa foi inusitada,

pois,

Até então, o Estado contara apenas com os quadros do funcionalismo para a elaboração dos projetos de edifícios escolares. Pela primeira vez, os arquitetos paulistas foram convidados a projetar obras públicas, não só escolas, mas também postos de saúde, fóruns etc. Segundo as Arquitetas Avany F. Ferreira, Maria Elizabeth P. Corrêa e Mirela G. Melo, foi uma ação de grande envergadura no meio profissional dada a quantidade de arquitetos envolvidos. (BUFFA; PINTO, p. 131, 2002)

O conselho do Fece fez um levantamento das características da rede

estadual de prédios e constatou que, com o rápido crescimento dos núcleos

urbanos, a falta de salas de aula tornou-se maior na zona urbana que na rural.

Não eram esporádicas as escolas com funcionamento em barracões de

madeira cuja organização para o atendimento da demanda de alunos, muitas

vezes, obrigava a realização de três ou mais turnos diários. Esse dado

insere-se num contexto que reitera a cidade como ambiente catalizador do

desenvolvimento econômico, o que confere à instrução pública o caráter de

potencialização do progresso almejado para o país. Segundo Escolano (p. 52,

2001), “patrocinar uma escola é a melhor maneira de contribuir para o

engrandecimento e melhoria material do povo, assim como para o progresso

da nação”.

Frente à precariedade das grandes cidades, o Fece adotou como norma

a edificação e ampliação de prédios somente para grupos escolares. Após um

levantamento prévio do déficit de vagas, o poder executivo do órgão executivo

autorizava a construção dos prédios. Na próxima etapa, solicitavam-se às

(50)

construção de novas escolas. A criação do Grupo Escolar da Vila Castelo

Branco se deu nesses moldes.

A contratação de um número elevado de escritórios de arquitetura

contribuiu para a diversificação da produção arquitetônica, entretanto, há uma

linguagem e estilo “comum” dotada de elementos de modernidade aderida aos

projetos desenvolvidos na década de 1960. Encontramos no período

mencionado escolas com estrutura sob pilotis, palco, piscina, quadra

poliesportiva, teatro semi-arena e pátios cobertos. Muitos desses elementos

estão presentes na arquitetura do Grupo escolar da Vila Castelo Branco. Essas

características serão exploradas e tratadas a partir da análise histórica dos

espaços e ambientes da escola.

(...) essa análise requer observar a relação entre lugares e edifícios. Importa por exemplo, saber se a escola se achava integrada fisicamente no edifício da instituição que a acolhia ou se era destinado para ela um local anexo ou um edifício próximo. A visualização – plantas, estampas, fotografias – permite também avaliar o caráter dessa relação. (VIÑAO FRAGO, 2001)

A rua em que se localiza o portão principal da escola revela àqueles que

por ali passam a parte superior dos mastros da instituição, cujas bandeiras

cintilavam para todo e qualquer observador da redondeza. Ao adentrarmos a

escola, voltando-nos para a direita, vemos por completo o espaço elevado com

três mastros destinado ao hasteamento de bandeira, com a face de sua

estrutura voltada para o pavimento administrativo da escola. A presença desse

ambiente como elemento permanente de destaque na disposição espacial da

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