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Fabricação de rapadura na Paraíba: estudo socioeconômico.

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FABRICAÇÃO DE RAPADURA NA PARAÍBA Estudo Socio-Econômico

Dissertação a p r e s e n t a d a ao .Curso de Mes t r a d o em Economia da U n i v e r s i d a d e Fede r a l da Paraíba, em cumprimento as exí gências p a r a obtenção do Grau de M e s t r e

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ECONOMIA RURAL

ÉLBIO TROCCOLI PAKMAN O r i e n t a d o r

FRANCISCO FERNANDO RIBEIRO MONTE C o - O r i e n t a d c r

CAMPINA GRANDE - PB 1986

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MADALENA HERCULANO DOS SANTOS

Dissertação Aprovada era g€- / 03 /

ELEIO TROCOLLI PAKMAN O r i e n t a d o r

FRANCISCO FERNANDO RIBEIRO MONTE C o - O r i e n t a d o r

REINALDO ANTONIO CARCANHOLO Componente da.Banca

RAMON PERA CASTRO Componente da Banca

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Reconhecendo de f u n d a m e n t a l importância as c o l a b o r a -ções r e c e b i d a s d u r a n t e e s t a investigação, queremos a g r a d e c e r àqueles que, d i r e t a ou i n d i r e t a m e n t e , contribuíram p a r a sua execução, com sugestões e críticas, p a r c i a i s ou g l o b a i s , em questões de ordem teórica e/ou prática.

Na i m p o s s i b i l i d a d e de nomear t o d o s , destacamos os com-p a n h e i r o s de t r a b a l h o da PIPLAN - I n s t i t u t o de P l a n e j a m e n t o da Paraíba, através dos q u a i s o b t i v e m o s as condições'materia i s necessáricondições'materias condições'materia recondições'materializcondições'materiação d e s t condições'materia p e s q u i s condições'materia . Pelcondições'materias m condições'materia n i f e s tações c o n c r e t a s de a p o i o e de r e s p e i t o ao pensamento i n d i -v i d u a l , somos p a r t i c u l a r m e n t e g r a t a a L u i z R o d r i g u e s K e h r l e , M a r i a L u i z a Marques E v a n g e l i s t a , M a r i a V i e i r a dè Santana, C l e o n i c e Lopes N o g u e i r a , I v o n e t e dé Lima Araújo, M a r i a A r l e -t e de Souza, I g n a c i o Tavares de A r a u j o e José Tarcísio Fer-nandes.

Ao nosso o r i e n t a d o r acadêmico, Élbio T r o c c o l i Pakman agradecemos o d e c i s i v o acompanhamento na execução d e s t e t r a -b a l h o . A F r a n c i s c o Fernando R i -b e i r o Monte', co-oríentador e s o b r e t u d o amigo, também somos g r a t a p e l a t r a n q u i l a segurança com que nos a j u d o u a s u p e r a r e t a p a s p a r t i c u l a r m e n t e difí-c e i s da investigação.

A g r a d e c i m e n t o s e s p e c i a i s devemos a R e i n a l d o A n t o n i o C a r c a n h o l o , c u j a s v a l i o s a s críticas e sugestões a p r i m e i r a versão d e s t e t r a b a l h o contribuíram p a r a s u p e r a r algumas de

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presentação gráfica do t e x t o .

F i n a l m e n t e , a Dulce M a r i a Barbosa C a n t a l i c e , compa-n h e i r a de t r a b a l h o e de v i d a , a quem estamos l i g a d a p o r acompa-n- an-t i g o s e p r o f u n d o s laços de amizade, nosso s i n c e r o reconhe-cimento p e l a s e r i e d a d e , paciência e p r e s t i m o s i d a d e com que nos acompanhou na execução d e s t e t r a b a l h o .

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LISTA DE TABELAS

APRESENTAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

1.1. Relevância do Tema 1.2. O b j e t i v o s do Estudo

1.3. Algumas Considerações de Caráter Teórico - Meto d o l o g i c o

2. EVOLUÇÃO HISTORXCA DA ATIVIDADE RAPADUREIRA . 2.1. Primórdios

2.2. Concorrência e n t r e Açúcar e Rapadura 2.3. Condições Mais Recentes

3. MATERIAL DE PESQUISA E PROCEDIMENTOS 3.1. Considerações P r e l i m i n a r e s

3.2. Delimitação E s p a c i a l das Regiões P r o d u t o r a s 3.3. Definição e R e p r e s e n t a t i v i d a d e da Amostra 4. CARACTERIZAÇÃO DAS AREAS PRODUTORAS DE RAPADURA

4.1. Generalidades

4.2. Ocupação P r o d u t i v a do Espaço Paraibano 4.3. E s t r u t u r a P r o d u t i v a A t u a l

4 . 4 . P e r f i l de Utilização das Terras e P r i n c i p a i s Pro d u t o s

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5.1. Organização Sócio-Econômica 103 5.1.1. E s p e c i f i c i d a d e s dos Engenhos do Serão H l

5.1.2. P e c u l i a r i d a d e s dos Engenhos do B r e j o 123 5.2. Condições do C u l t i v o da Cana-de-Açúcar e do

Funcionamento dos Engenhos .132 5.2.1. Características das Instalações dos

Engenhos 136 5.3. Produção e Comercialização da Rapadura 142

5.4. Inserção dos Engenhos nas Políticas O f i c i a i s 157

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 162

7. RESUME 169

8. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 171 ANEXO 1 - Número e Distri&uição E s p a c i a l dos Engenhos

na Paraíba 177 ANEXO 2 - Processo P r o d u t i v o da Rapadura 184

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1. Distribuição E s p a c i a l dos Engenhos segundo Regiões

P r o d u t o r a s . Paraíba, 1972-1983. 68 2. Ãrea T e r r i t o r i a l , População e Densidade Demográfica.

Mesorregiões e Estado. Paraíba. 1980. 80 3. Distribuição dos E s t a b e l e c i m e n t o s Agropecuários , s e

gundo Grupos de Área. Mesorregião do Sertão P a r a i b a

-no. Paraíba. 1980. 81

4. Distribuição dos E s t a b e l e c i m e n t o s Agropecuários segundo Grupos de A r e a s . Mesorregião do A g r e s t e e B r e -j o Paraibano- Paraíba. 1980.

5, Distribuição dos E s t a b e l e c i m e n t o s Agropecuários ( p o r Numero e Area) segundo Condição do P r o d u t o r . Mesor-regiões e Estado. Paraíba, 1980.

õ. Distribuição R e l a t i v a dos E s t a b e l e c i m e n t o s Agropecuários ( p o r Número e Área) segundo Condição do P r o -d u t o r . Mesorregiões e E s t a -d o . Paraíba. 1980,

82

S6

87

7. Distribuição do P e s s o a l Ocupado nos E s t a b e l e c i m e n t o s Agropecuários segundo C a t e g o r i a s de Ocupação.

Mesor-regiões e Estado. Paraíba. 1980. 90 8. Distribuição da Area dos E s t a b e l e c i m e n t o s

Agrope-. cuãrioSj segundo sua UtilizaçãoAgrope-.' Mesorregiões e

Es-t a d o . Paraíba. 1980. 9 4

9. V a l o r da Produção dos P r i n c i p a i s P r o d u t o s Agrícolas segundo Ordem de Importância. Mesorregiões e E s t a d o .

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1 1 . Evolução da Produção de Açúcar e Álcool no E s t a d o .

Paraíba. 1965-82. 98 12. Evolução da Área C o l h i d a de Cana-de-Açúcar. Estado

e Mesorregião do A g r e s t e e B r e j o P a r a i b a n o . Paraíba,

1975-82. 100 13. Volume da Cana Moída p a r a Produção de Açúcar e

Ál-c o o l . Estado e Mesorregião do A g r e s t e e B r e j o

Pa-r a i b a n o . PaPa-raíba. 1982/83. 101 14. Distribuição dos Engenhos de Rapadura segundo

Loca-lização E s p a c i a l e Condição de Funcionamento.

Ser-tão e B r e j o . Paraíba. 1983. 104 15. Distribuição dos Engenhos de Rapadura segundo Ordem

de Importância das A t i v i d a d e s D e s e n v o l v i d a s na P r o

-p r i e d a d e s R u r a l . Sertão e B r e j o . Paraíba. 1983. 106 16. Distribuição dos Engenhos de Rapadura segundo Área

das P r o p r i e d a d e s R u r a i s . Sertão e B r e j o , Paraíba.

1983. 109 17. Distribuição dos Engenhos de Rapadura segundo F o r

-mas de Organização do T r a b a l h o , (com especificação por Tamanho da P r o p r i e d a d e R u r a l ) , Sertão. Paraíba.

1983. _ 1 1 3

"18. Distribuição dos Engenhos de Rapadura segundo Ordem de Importância das A t i v i d a d e s D e s e n v o l v i d a s na P r o -p r i e d a d e R u r a l (com es-pecificação -p o r Tamanho da

P r o p r i e d a d e R u r a l ) . Sertão. Paraíba. 1983. i 2°

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-t o r ) , B r e j o . Paraíba. 1983.

20. Distribuição dos Engenhos de Rapadura segundo Ordem de Importância de O u t r a s A t i v i d a d e s D e s e n v o l v i d a s na P r o p r i e d a d e R u r a l (com especificação p o r Condição do P r o d u t o r ) . B r e j o . Paraíba. 1983.

2 1 . Distribuição dos Engenhos de Rapadura segundo Tempo de Construção dos.Engenhos. Sertão e B r e j o , Paraíba. 1983.

22. Distribuição dos Engenhos de Rapadura D e s a t i v a d o s segundo Tempo de Desativação. Sertão e B r e j o .

Pa-raíba. 1983. ! 23. Distribuição dos Engenhos de Rapadura segundo

Numer o de Pessoas que T Numer a b a l h a m n a Moagem.SeNumertão e B Numer e -j o . Paraíba. 1983.

24. Distribuição dos Engenhos de Rapadura em A t i v i d a d e segundo Rendimento da Cana na S a f r a 82/83. Sertão e B r e j o . Paraíba. 1983.

25. Distribuição dos Engenhos de Rapadura em A t i v i d a d e segundo Capacidade P r o d u t i v a e Força M o t r i z U t i l i -zada. Sertão e B r e j o . Paraíba. 1983.

26. Distribuição dos Engenhos de Rapadura em A t i v i d a d e segundo Volume T o t a l de Produção O b t i d o na S a f r a • • 1982/83. Sertão e B r e j o . Paraíba. 1983.

27. Distribuição dos Engenhos de Rapadura em A t i v i d a d e segundo Volume de Produção Estimado p o r S a f r a .

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Estado. Paraíba. 1972-1983 178

29. Distribuição E s p a c i a l e Situação dos Engenhos de Rapadura segundo Microrregiões Homogêneas e

Municí-. p i o s Municí-. SertãoMunicí-. ParaíbaMunicí-. 1982-83Municí-. 180 30. Distribuição E s p a c i a l e Situação dos Engenhos de

Rapadura segundo M i c r o r r e g i o e s Homogêneas e

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Motivações de ordem p e s s o a l , r e l a c i o n a d a s com nossas condições de v i d a e t r a b a l h o , p a r t i c u l a r m e n t e o i n t e r e s s e de conhecer mais a fundo a r e a l i d a d e sõcio-econõmica da Paraíba c u j o s níveis de p o b r e z a nos impressionam desde a i n -fância - c e r t a m e n t e constituíram f a t o r d e c i s i v o na e s c o l h a do o b j e t o de estudo d e s t e t r a b a l h o q u e , p r i m o r d i a l m e n t e , atende aos r e q u i s i t o s f o r m a i s p a r a obtenção do g r a u de m e s t r e .

As e x p e c t a t i v a s de que, com a graduação em Economia, encontrássemos r e s p o s t a s a questões c r u c i a i s , f o r a m f r u s t r a -das p e l o momento político - p r i m e i r a metade da década de 70, auge do " m i l a g r e b r a s i l e i r o " quando quase todos os d e t e n t o r e s de saber e de p o d e r se empenhavam em o m i t i r as v e r d a d e i -ras causas das d e s i g u a l d a d e s sócio-econômicas. A t e o r i a mar-g i n a l i s t a , n a prática acadêmica, a p r e s e n t a v a - s e como a e l e i t a p a r a e x p l i c a r a organização da economia. Sobre o u t r a s c o r r e n -t e s i n -t e r p r e -t a -t i v a s , q u a n d o não eram negadas, d e l a s se f a l a v a s u p e r f i c i a l m e n t e no e s t u d o da evolução do pensamento econômi-co.

Nosso p o s t e r i o r engajamento numa instituição de a p o i o ao Governo E s t a d u a l pouco c o n t r i b u i u p a r a que desenvolvêssemos uma visão crítica da r e a l i d a d e . Ao contrário, a p e r p l e x i -dade aumentava quando,apôs e x a u s t i v o s diagnósticos, as polí-t i c a s de inpolí-tervenção do governo manpolí-tinham o mesmo carápolí-ter. Apesar das intenções e x p r e s s a s de r e d u z i r d i s p a r i d a d e s na d i s

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-A interpretação m a r x i s t a da organização da s o c i e d a d e , p r o p i c i a d a p e l o Curso de M e s t r a d o , lançou as p r i m e i r a s l u zes sobre o v e r d a d e i r o p a p e l do E s t a d o , enquanto r e p r e s e n t a n t e dos i n t e r e s s e s do c a p i t a l . A forma de apropriação p r i -vada dos meios de produção e sua importância no p r o c e s s o de acumulação e concentração de r i q u e z a f o r n e c e r a m n o s , f i n a l -mente, explicação satisfatória p a r a uma questão mais p e s s o a l e a n t i g a : p o r que nossos f a m i l i a r e s , pequenos p r o d u t o r e s r u r a i s que t r a b a l h a v a m de s o l a s o l , conseguiam apenas s o b r e -v i -v e r em precárias condições de -v i d a , enquanto os proprietá-r i o s da t e proprietá-r proprietá-r a f i c a v a m c a d a-v e z mais r i c o s . A i n d a que b a s t a n

-t e s u b j e -t i v a , essa percepção r e p r e s e n -t o u o p r i m e i r o passo em direção a uma compreensão mais ampla das contradições i n e -r e n t e s ao p-rocesso de expansão c a p i t a l i s t a que se exp-ressam na l u t a de c l a s s e s , e x p l i c a n d o - s e , a s s i m , as d e s i g u a l d a d e s s e j a a nível i n d i v i d u a l , s e j a e n t r e regiões b r a s i l e i r a s , s e j a e n t r e nações " d e s e n v o l v i d a s " e "periféricas".

Do c o n j u n t o dessas d u v i d a s e percepções, nasceu a decisão de e s t u d a r a produção de r a p a d u r a , que, se p o r um l a -do, f a z i a p a r t e do e l e n c o das a t i v i d a d e s de subsistência dos a g r i c u l t o r e s s e r t a n e j o s , e n t r e os q u a i s fomos c r i a d a , p o r o u t r o , e s t a v a sendo s o b r e p u j a d a(n o B r e j o , p e l a i n d u s t r i a do

açúcar e do álcool, p r i n c i p a i s f o n t e s de r i q u e z a do Estado da Paraíba. Pelo seu caráter a b r a n g e n t e , o e s t u d o da o r g a nização sõcioeconõmica dos engenhos r a p a d u r e i r o s p r o p i c i a -.va-nos a o p o r t u n i d a d e de i n v e s t i g a r e' a n a l i s a r ' a l g u n s

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aspec-p r o d u t i v a s .

Na forma f i n a l de apresentação d e s t e e s t u d o , i n i c i a l mente d e f i n i m o s o o b j e t o e os o b j e t i v o s da investigação, i n -c l u i n d o os fundamentos teõri-co-metodolÕgi-cos que a n o r t e i a m . Em s e g u i d a , descrevemos os p r o c e d i m e n t o s adotados na p e s q u i sa e a l i n h a m o s as p r i n c i p a i s características das ãreas p r o -d u t o r a s -de r a p a -d u r a . F i n a l m e n t e , a n a l isamos os r e s u l t a -d o s -da investigação e apontamos as conclusões a que e l e s nos l e v a -ram.

E s t a a n a l i s e f o i d e s e n v o l v i d a em três níveis. Num,con-c r e t o e mais i m e d i a t o , desNum,con-crevemos e i n t e r p r e t a m o s as peNum,con-cu- pecu-l i a r i e d a d e s da produção r a p a d u r e i r a nas regiões do Sertão e do B r e j o , t e n t a n d o compreender sua função da organização da economia l o c a l . Num segundo nível, menos i m e d i a t o , tentamos i n v e s t i g a r formas c o n c r e t a s e d i f e r e n c i a d a s de avanço do c a -p i t a l na economia -p a r a i b a n a , tomando -p o r base as condições de existência de uma a t i v i d a d e t r a d i c i o n a l . Por f i m , i n t e n -tamos uma abstração, fundamentada no r e f e r e n c i a l teórico a-d o t a a-d o , quana-do buscamos a p r e e n a-d e r o p a p e l a-dessas a t i v i a-d a a-d e s no f u n c i o n a m e n t o g e r a l do s i s t e m a c a p i t a l i s t a .

Se "hã distância e n t r e intenção e gesto",compreendemos que e s t e t r a b a l h o , mesmo f e i t o com s e r i e d a d e e grande e s f o r ço, não e s t e j a ã a l t u r a do d e s e j o que o m o t i v o u . As c o n d i -ções o b j e t i v a s de que dispúnhamos, p a r t i c u l a r m e n t e a q u e l a s

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r i a s da Economia Política e, s o b r e t u d o , a t i m i d e z no avanço das análises c o n c l u s i v a s .

Apesar d i s s o - e p o r nos convencermos de que não se t r a t a de um " p r o d u t o acabado" mas de um passo a d i a n t e no estudo d e s t e tema através do p r o c e s s o de a p r e n d i z a g e m v i v i -do , consideramos sua efetivação m u i t o g r a t i f i c a n t e , enquanto o p o r t u n i d a d e ímpar de valorização do t r a b a l h o c o l e t i -vo. Na v e r d a d e , a produção i n t e l e c t u a l e r e s u l t a d o de inúme-ras contribuições, embora, o mais das v e z e s , e x p r e s s a p o r um só indivíduo.

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t u r a i s , i n d i c a sua pequena c a p a c i d a d e de e x p a n d i r - s e e/ou man-t e r - s e no mercado. T e o r i c a m e n man-t e , p e l a lógica do seu desenv o l desenv i m e n t o , o c a p i t a l , quando em p r o c e s s o de expansão, i n -c o r p o r a s e t o r e s a t r a s a d o s - t r a n s f o r m a n d o - o s ou mantendo-os. Essa lógica e x p l i c a também a situação da a g r i c u l t u r a onde, p a r t i c u l a r m e n t e , s u b s i s t e m a t i v i d a d e s em que p a r t e dos c u s -t o s de reprodução de sua força de -t r a b a l h o e p r o v i d a • nos "roçados", p e r m i t i n d o a produção de a l i m e n t o s e matérias-p r i m a s a matérias-preços r e l a t i v a m e n t e r e d u z i d o s , f a v o r e c e n d o a acu-mulação de c a p i t a l na indústria. A a t i v i d a d e r a p a d u r e i r a na Paraíba, exemplo c o n c r e t o desse p r o c e s s o , f o i i n v e s t i g a d a a p a r t i r de uma p e s q u i s a - com observação d i r e t a , aplicação de questionários, realização de e n t r e v i s t a s quando se i d e n t i

-f i c a r a m 230 engenhos (5? dos q u a i s compõem a - a m o s t r a ) em v i s i t a a 48 Municípios. Na região do B r e j o , pode-se p e r c e b e r que o espaço de atuação dos engenhos f o i m a n t i d o até enquant o a indúsenquantria açucareira p e r m i enquant i a , e aenquanté c e r enquant o p o n enquant o r e q u e r i a , a presença da a t i v i d a d e r a p a d u r e i r a , desde que sua o r -ganização i n t e r n a r e s p o n d i a em p a r t e p e l a d i s p o n i b i l i d a d e de mãodeobra sazonal e b a r a t a , além de f o r n e c e r grande p a r c e -l a da matéria-prima p r o c e s s a d a p o r u s i n a s e d e s t i -l a r i a s . A elevação da demanda p o r cana, r e s u l t a n t e da expansão da i n -dústria s u c r o - a l c o o l e i r a , i n t e n s i f i c o u as condições de co-l a p s o dos engenhos que passaram a s i m p co-l e s f o r n e c e d o r e s . No Sertão, dadas as condições em que se o r g a n i z a a economia l o

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r e s g e o c l i r a a t i c o s a d v e r s o s à l a v o u r a da cana. E n t r e t a n t o , o s i s t e m a de p a r c e r i a , h i s t o r i c a m e n t e p r e d o m i n a n t e na o r g a n i -zação dessa economia, já começa a s e r substituído p o r formas de a s s a l a r i a m e n t o p a r c i a l , s o b r e t u d o nas a t i v i d a d e s em que os p r o d u t o r e s conseguem uma m a i o r realização monetária. A análise dos d i v e r s o s elementos e n v o l v i d o s na produção r a p a -d u r e i r a p e r m i t i u c o n c l u i r que as formas -d i f e r e n c i a -d a s -de avanço do c a p i t a l tem contribuído p a r a desarticulação da a c -t i v i d a d e no B r e j o e p a r a sua persis-tência no Ser-tão.

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1.1. Relevância do Tema

A fabricação de r a p a d u r a ( 1 ) tem s i d o r e a l i z a d a em pe-quenas unidades de produção r u r a l , marcadas p o r caracterís-t i c a s caracterís-t r a d i c i o n a i s que abrangem caracterís-t a n caracterís-t o a s p e c caracterís-t o s caracterís-técnicos quan-t o s o c i a i s , r e p r e s e n quan-t a n d o fundamenquan-talmenquan-te uma a l quan-t e r n a quan-t i v a de a b a s t e c i m e n t o para a q u e l a s populações que não têm fácil aces-so ao açúcar r e f i n a d o ou que, p o r hábito e costume, c o n t i n u a m a consumir o p r o d u t o .

Seu p r o c e s s o p r o d u t i v o , adotando técnicas b a s t a n t e r u -d i m e n t a r e s , mantêm um caráter a r t e s a n a l e uma p r o -d u t i v i -d a -d e m u i t o b a i x a . Assim, a a t i v i d a d e tem s i d o d e s e n v o l v i d a nos chamados engenhos r a p a d u r e i r o s ( 2 ) , p r i n c i p a l m e n t e p o r pequenos a g r i c u l t o r e s , o r g a n i z a d a cora base em relações de t r a

-(1) Pequeno t i j o l o de açúcar b r u t o , mascavo, p r o d u t o o b t i d o da cana-de-açúcar, que tem p r o p r i e d a d e s semelhantes as do açúcar r e f i n a d o , b r a n c o .

^2) O engenho " l a t o sensu" e constituído p e l a p r o p r i e d a de r u r a l que abrange o c a n a v i a l , os roçados, as p a s t a -gens, a casa grande {do proprietário), as casas dos mora-do res e p e l o engenho - " s t r i c t o sensu" - enquanto u n i d a d e p r o c e s s a d o r a de r a p a d u r a .

(20)

b a l h o do t i p o f a m i l i a r , com níveis de r e n d a e x c e s s i v a m e n t e b a i x o s , que, às v e z e s , sequer garantem a reprodução da u n i -dade p r o d u t i v a .

0 s u r g i m e n t o da a t i v i d a d e remonta ao período c o l o n i a l , quando a r a p a d u r a se d e s t i n a v a ao consumo i n t e r n o de p a r c e -l a s s i g n i f i c a t i v a s da popu-lação b r a s i -l e i r a , p r i n c i p a -l m e n t c os e s c r a v o s , enquanto a produção de açúcar e r a t o t a l m e n t e v o l -t a d a p a r a a expor-tação.

E n t r e t a n t o , quando o mercado e x t e r n o do açúcar s o f r i a reduções d e v i d o , s o b r e t u d o , ã concorrência de o u t r o s países p r o d u t o r e s , p r o c u r a v a s e c o n q u i s t a r o mercado i n t e r n o , p a s

-i

sando a s e r e s t i m u l a d a a substituição da r a p a d u r a p e l o açú-c a r , açú-como saída i m e d i a t a p a r a e v i t a r , ou a m e n i z a r uma açú-c r i s e de produção.

Mesmo onde e quando e x p e r i m e n t o u f a s e s áureas, embora de c u r t a duração, com s i g n i f i c a t i v o s ganhos p a r a os donos de engenhos, o p r o d u t o r e v e l o u apenas uma pequena c a p a c i d a d e de expansão, p r i n c i p a l m e n t e f a c e à pujança do seu m a i o r c o n c o r -r e n t e , o açúca-r i n d u s t -r i a l i z a d o , e seus d e -r i v a d o s (doces . e s i m i l a r e s ) .

Embora h i s t o r i c a m e n t e a r a p a d u r a t e n h a p e r d i d o espaço para o açúcar, permanece com uma f a t i a de mercado e um con

-sumo c o n s i d e r a v e l m e n t e amplos no N o r d e s t e . Ainda n e s t a déca-da, c o n t i n u a a s e r consumida e s p e c i a l m e n t e p e l a s populações pobres da zona r u r a l , bem como das pequenas comunidades u r

-banas l o c a l i z a d a s no i n t e r i o r . Para os r e s i d e n t e s próximos aos engenhos, c o n t i n u a sendo um p r o d u t o mais acessível que o

(21)

açúcar i n d u s t r i a l i z a d o , d e v i d o aos menores preços p o s s i b i l i t a d o s p e l a sua produção l o c a l e p e l o p r o c e s s o p r o d u t i v o s i m -p l e s . Permanece sendo i n g e r i d a como com-plemento a l i m e n t a r , em substituição, â c a r n e , c r e s c e n t e m e n t e escassa nas refeições das populações de b a i x a r e n d a que a t r i b u e m ã r a p a d u r a p r o -p r i e d a d e s -p r o t e i c a s .

A tradição p a r e c e s e r também um elemento i m p o r t a n t e p a -r a e x p l i c a -r a manutenção do consumo de -r a p a d u -r a , uma vez que a t u a l m e n t e o preço c o r r e n t e d e s t e p r o d u t o ê quase i g u a l ao do açúcar que, p o r s e r s u b s i d i a d o , p o d e c h e g a r ao mercado com um preço r e l a t i v a m e n t e r e d u z i d o . Além d i s s o , s o b r e t u d o nos últi-mos anos, a produção de r a p a d u r a tem s i d o pequena e, conse-quentemente, seu preço c o r r e n t e e l e v a d o , também era decorrênc i a da importação de o u t r o s Estados. Por o u t r o l a d o , em p e -ríodo mais r e c e n t e , a demanda p e l a r a p a d u r a tem se a m p l i a d o , d e v i d o ã difusão de novos hábitos a l i m e n t a r e s , em e s p e c i a l por p a r t e dos a d e p t o s do consumo de p r o d u t o s n a t u r a i s .

No e n t a n t o , f o r n e c e n d o um p r o d u t o d e s t i n a d o p a r t e ao autoconsumo e p a r t e ao comércio r e g i o n a l , a produção r a p a d u -r e i -r a i n t e g -r a o e l e n c o das a t i v i d a d e s econômicas, c u j o p a p e l p r i n c i p a l parece t e r s i d o o de p r o d u z i r , de f o r m a b a r a t a , a r t i g o s básicos de consumo, necessários â reprodução de p a r c e -l a s i g n i f i c a t i v a da popu-lação, c o n t r i b u i n d o assim p a r a m a n t e r b a i x o s os c u s t o s d e s t a reprodução. Alem d i s s o , t u d o i n d i c a que essa a t i v i d a d e tem c o n c o r r i d o p a r a m a n t e r ocupado um e l e -vado número de pessoas, proporcionando-lhes„ mesmo a nível precário, ocupação e r e n d a , não d e i x a n d o que se r e v e l e m , em toda sua i n t e n s i d a d e , as c o n t r a i ! içoe i n e r e n t e s à expansão c a p i t a l i s t a .

(22)

P o r t a n t o , a importância da produção r a p a d u r e i r a p a r a a economia l o c a l - e, guardadas as d e v i d a s proporções, mesmo a e s t a d u a l e s t a r i a d i r e t a m e n t e r e l a c i o n a d a mais aos m e c a n i s mos de reprodução da foTça de t r a b a l h o do que aos de a p r o -priação e acumulação de c a p i t a l .

V i s t a p e l a ótica da ocupação do espaço gcocconõmi.. o no Estado da Paraíba, a a t i v i d a d e r a p a d u r e i r a d i s t r i b u i - s e de modo d e s i g u a l era duas regiões p r o d u t o r a s , , nas q u a i s a s s u -me características p e c u l i a r e s . Elas c o i n c i d e m aproximada-men- aproximadament e com as ãreas d e l i m i aproximadament a d a s p e l a Fundação I n s aproximadament i aproximadament u aproximadament o B r a s i l e i r o de G e o g r a f i a e Estatística IBGE, como a M e s o r r e g i -ão do Sert-ão Paraibano e a Mesorregi-ão do A g r e s t e e B r e j o P a r a i b a n o . Em cada uma, a a t i v i d a d e a p r e s e n t a formas de o r -ganização específicas, i n f l u e n c i a d a s p e l a s características das relações de produção v i g e n t e s .

^ A análise da história e da organização sõcio-economi-ca dos engenhos r a p a d u r e i r o s no espaço geográfico da Paraí-ba p e r m i t e que se v i s l u m b r e seus nexos com o p r o c e s s o de expansão do c a p i t a l no E s t a d o , marcado p o r consideráveis desníveis no d e s e n v o l v i m e n t o das forças p r o d u t i v a s , e na distribuição de renda, c o n s t i t u i n d o s e p o n t o f u n d a m e n t a l p a

-r a se comp-reende-r a impo-rtância d e s t e e s t u d o .

No Sertão, onde o avanço do c a p i t a l a i n d a não p r o v o c o u mudanças s i g n i f i c a t i v a s nas relações de t r a b a l h o , p r e v a l e c e

- em p a r a l e l o ã pecuária e x t e n s i v a e ã cu3 t u r a ..do algodão , a t i v i d a d e s eminentemente c o m e r c i a i s uma produção de sub -sistência, com-, predominância do t r a b a l h o f a m i l i a r , do

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morador e do p a r c e i r o , v o l t a d a p a r a o a t e n d i m e n t o às n e c e s s i d a -des de autoconsumo e p a r a o mercado r e g i o n a l .

Essas a t i v i d a d e s contam com . técnicas de produção r u d i m e n t a r e s , f i c a n d o os r e s u l t a d o s da produção quase que t o -t a l m e n -t e ã mercê das condições climá-ticas. B a s -t a que não chova no Sertão p a r a que t o d o o esforço se t o r n e estéril e r e s u l t e em fome p a r a a população que d e l a depende ( 3 ) .

I n s e r i d a nesse c o n t e x t o , a.produção r a p a d u r e i r a , des-t i n a d a p a r des-t e ao audes-toconsumo e p a r des-t e ao mercado, des-tem s i d o marcada p o r precárias condições de f u n c i o n a m e n t o nas d i v e r -sas etapas do processo p r o d u t i v o , que vão desde a l a v o u r a da cana até o processamento e a distribuição da r a p a d u r a .

Era período r e c e n t e , á produção da r a p a d u r a no Sertão - como aconteceu com quase t o d o s os p r o d u t o s agropecuários da região - v i u - s e r e d u z i d a s i g n i f i c a t i v a m e n t e d e v i d o a c i n c o anos c o n s e c u t i v o s de seca ( 1 9 7 9 - 8 3 ) . A s s i m , d u r a n t e o período, a t e mesmo a função de g a r a n t i r a subsistência, a a t i v i d a d e não chegou a c u m p r i r s a t i s f a t o r i a m e n t e .

já no B r e j o , a l a v o u r a da cana .mesmo não s o f r e n d o res.triçÕes climáticas,não assumiu o caráter de m o n o c u l t u r a p e r -m i t i n d o o d e s e n v o l v i -m e n t o de o u t r o s c u l t i v o s . d e n t r e os quais

se destacam as l a v o u r a s de a l i m e n t o s . Apesar da instalação de usinas no começo do século, essas atividades de pequena p r o

-(3) Não se d e s e j a com i s t o a f i r m a r que s e j a a chuva ou a seca secausa d e t e r m i n a n t e das condições econômisecas da r e g i -ão , mas apenas, que a e s t i a g e m agrava essas condições , d e f i n i d a s p e l a forma do avanço do c a p i t a i .

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dução conseguiram g a r a n t i r c e r t o espaço e embora p a r c i a l mente v o l t a d a s p a r a a comercialização, mantiveramse o r g a n i

-zadas com base em relações de t r a b a l h o predominantemente não a s s a l a r i a d a s .

Sendo a l a v o u r a da cana de caráter s a z o n a l , a mão-de-obra n e l a e n v o l v i d a , r e p r e s e n t a d a s o h r e t u d o p e l o s moradores, f i c a v a l i b e r a d a d u r a n t e c e r t o período do ano p a r a p r o v e r sua subsistência, através de c u l t u r a s a l i m e n t a r e s nos roçados. A d i s p o n i b i l i d a d e de braços, p o s s i b i l i t a d a p e l o s i s t e m a de mor a d o mor , a s s o c i a d a ao f a t o de que essa fomorça de t mor a b a l h o a s s u mia s i g n i f i c a t i v a p a r c e l a dos c u s t o s de sua reprodução, a s -segurou h i s t o r i c a m e n t e condições de manutenção dos níveis d e produção de cana necessários ao f u n c i o n a m e n t o dos engenhos r a p a d u r e i r o s . Fenômeno s i m i l a r a c o n t e c e u ãs u s i n a s , c u j a de-manda p o r matéria-prima tem s i d o g a r a n t i d a , em grande p a r t e , p o r pequenos e médios proprietários r u r a i s os f o r n e c e d o -r e s . t4).

Devido a m a i o r d i s p o n i b i l i d a d e de matériaprima, o v o lume de r a p a d u r a p r o d u z i d o na região tem s i d o s i g n i f i c a t i v a mente e l e v a d o e grande p a r t e da produção, c o m e r c i a l i z a d a , s e -j a p a r a o Sertão P a r a i b a n o , s e -j a p a r a o u t r o s Estados do Nor-d e s t e , t a i s como o Ceará, R i o GranNor-de Nor-do N o r t e , Pernambuco e Piauí. P o r t a n t o , no B r e j o a produção de r a p a d u r a d e s t i n o u - s e

( 4 ) Lavradores de cana-de-açúcar que d e s t i n a m sua produção ao a b a s t e c i m e n t o das u s i n a s e d e s t i l a r i a s . . T r a t a - s e , na sua grande n s a i o r i a , de a n t i g o s s enhores de eng enh os r a -p a d u r e i r o s que abandonaram essa a t i v i d a d e .

(25)

p r i n c i p a l m e n t e ao mercado e, até a década de s e s s e n t a , c o n s -tituía-se numa i m p o r t a n t e f o n t e de renda p a r a os proprietá-r i o s proprietá-r u proprietá-r a i s .

Por o u t r o l a d o , a presença de u s i n a s na região tem r e -p r e s e n t a d o uma ameaça aos engenhos, na medida em que, quan-do a indústria açucareira quer aumentar sua produção, husen matéria-prima j u n t o aos pequenos p r o d u t o r e s , numa

concorrênc i a d e s i g u a l concorrêncom a a t i v i d a d e r a p a d u r e i r a . De modo p a r t i concorrênc u -l a r , d e p o i s da imp-lantação do Programa N a c i o n a -l do Ã-lcoo-l- ÃlcoolPROALCOOL, em 1975, o espaço de atuação dos engenhos na r e -gião tem se r e d u z i d o cada vez m a i s , a p o n t o d e s t e f a t o amea-çar a a t i v i d a d e de extinção.

Daí, poder-se v e r i f i c a r que, na c o n j u n t u r a a t u a l , a produção r a p a d u r e i r a nas duas regiões vem a p r e s e n t a n d o uma

tendência d e c l i n a n t e , a i n d a que p o r razões p e c u l i a r e s a cada uma d e l a s . Essa tendência e n v o l v e f a t o r e s históricos, econô-m i c o s , políticos, s o c i a i s e c u l t u r a i s , nueconô-m p r o c e s s o dinâeconô-mi- dinâmi-co que se c o n s t i t u i no próprio o b j e t o d e s t a investigação.

1.2, O b j e t i v o s do Estudo

E s t e t r a b a l h o p a r t e de hipóteses i n t u i t i v a m e n t e a p r e -c n d i d a s na experiên-cia da p e s q u i s a . A p r i m e i r a e de que a evolução da a t i v i d a d e r a p a d u r e i r a , bem como das relações de produção nas regiões do Sertão e do B r e j o , a c o n t e c e u h i s t o -r i c a m e n t e , de fo-rma d i v e -r s a , como -r e f l e x o do p-róp-rio ca-ráte-r d e s i g u a l e fundamentalmente cíclico do d e s e n v o l v i m e n t o <io

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c a p i t a l . A p a r t i r daí o e s t u d o toma como p o n t o de r e f e r e n c i a o p r e s s u p o s t o de que vem o c o r r e n d o :

1) o declínio da produção de r a p a d u r a nas regiões do Sertão e do B r e j o , mais acentuado n e s t a última, em decorrênc i a do avanço do decorrênc a p i t a l na a t i v i d a d e s u decorrênc r o a l decorrênc o l e i r a na r e -gião, ou s e j a , da expansão de d e s t i l a r i a s que concorrem com os engenhos, a nível da matéria-prima e, de u s i n a s que con-c o r r e m , t a n t o a nível de matéria-prima con-como do p r o d u t o f i n a l ;

2) a resistência da a t i v i d a d e r a p a d u r e i r a - a i n d a que sufocada p e l o p r o c e s s o de expansão do mercado de açudar - mais acentuada no Sertão, p o s s i b i l i t a d a p e l a predominância de r e -lações de produção de caráter r e l a t i v a m e n t e mais a t r a s a d o além de que, n e s t a região, a concorrência e n t r e as duas a t i -v i d a d e s dá-se somente a ní-vel do p r o d u t o f i n a l .

Com base nessas concepções e a d m i t i n d o s e que a p r o d u -ção r a p a d u r e i r a s u b s i s t e nos espaços através dos q u a i s o cap i t a l sucaplementa sua recaprodução e acumulação, buscase i n -v e s t i g a r os mecanismos de sobre-vi-vência da a t i -v i d a d e , q u e l h e têm p e r m i t i d o g a r a n t i r c e r t o l u g a r na economia, apesar das pressões de ura processo r e d u t o r , r e s u l t a n t e da concorrência i n t e r s e t o r i a l p e l a matéria-prima (cana-de-açúcar), ou s e j a , "o p r o d u z i r r a p a d u r a " v e r s u s "o p r o d u z i r açúcar e álcool",e, dos p r o d u t o s d e l a d e c o r r e n t e s ( " r a p a d u r a " v e r s u s "açúcar" "doces", e t c ) .

Pretende-se fundamentar t a i s p r e s s u p o s t o s na concepção de que, se o movimento de expansão c a p i t a l i s t a r e s u l t a em mudanças nas relações de produção de a l g u n s s e t o r e s da economia, r e s u l t a também na manutenção de o u t r a s relações mais a t r a s a

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-das: se essa expansão i m p l i c a , p o r um l a d o , um movimento que c o r r e s p o n d e ã modernização (aumento 3 a produção e da p r o d u t i v i d a d e ) , i m p l i c a também um o u t r o que c o r r e s p o n d e 5 r e s i s -tência, a persis-tência, ã manutenção de a t i v i d a d e s a r c a i c a s pouco l u c r a t i v a s , com produção e p r o d u t i v i d a d e comprovada-mente b a i x a s .

E n t r e t a n t o , essa c a p a c i d a d e de resistência é, em últi-ma instância, l i m i t a d a p e l a forúlti-ma de avanço do c a p i t a l . Assim, embora a tendência g e r a l s e j a de incorporação dos d i -v e r s o s s e t o r e s da economia, num c e r t o momento da expansão c a p i t a l i s t a , s u b s i s t e m a q u e l e s que, mesmo pouco dinâmicos, desempenham'um p a p e l i m p o r t a n t e , c o n s t i t u i n d o s e numa espê -c i e de r e s e r v a (de t e r r a , força de t r a b a l h o e matéria-pri-ma), e c o n t r i b u i n d o , i n d i r e t a m e n t e , p a r a o p r o c e s s o de acu-mulação do c a p i t a l .

0 o b j e t i v o g e r a l do e s t u d o é, p o r c o n s e g u i n t e , i d e n t i -f i c a r , d e s c r e v e r e a n a l i s a r os -f a t o r e s (endógenos e exóge-nos) d e t e r m i n a n t e s da situação em que se e n c o n t r a a produção de r a p a d u r a na Paraíba, i n v e s t i g a n d o as causas da p a r a l i s a -ção de engenhos e p r o c u r a n d o d e f i n i r as características que demarcam a a t i v i d a d e no momento a t u a l , t e n d o como p o n t o de referência o p r o c e s s o de expansão do c a p i t a l .

E s p e c i f i c a m e n t e , busca-se:

. i d e n t i f i c a r e d e s c r e v e r as formas de organização da produção de r a p a d u r a ;

. v e r i f i c a r como a d i s p o n i b i l i d a d e , a posse e o uso da t e r r a i n t e r f e r e m no p r o c e s s o p r o d u t i v o ;

. i d e n t i f i c a r e d e s c r e v e r a urganização e a evolução das relações de t r a b a l h o na a t i v i d a d e , s e j a na p r o

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p r i e d a d e ( a g r i c u l t u r a ) , s e j a no e n g e n h o ( p r o c e s s o i n -d u s t r i a l ) ;

. a v a l i a r a relação e n t r e as técnicas u t i l i z a d a s na l a -v o u r a da cana e no processamento da r a p a d u r a , e o ní-v e l de p r o d u t i ní-v i d a d e do s e t o r ;

. i n v e s t i g a r a i n f l u e n c i a das formas de distribuição c de consumo da r a p a d u r a na dinâmica da a t i v i d a d e ;

. v e r i f i c a r em que o nível de concorrência p r a t i c a d a pe-l a s u s i n a s e d e s t i pe-l a r i a s tem contribuído p a r a a de-sativação dos engenhos-;

, examinar as formas de intervenção do Estado na econo-m i a , p a r t i c u l a r econo-m e n t e na a t i v i d a d e c a n a v i e i r a .

1.3. Algumas Considerações de Caráter Teõrico-Metodologico

Ao se buscar compreender o p a p e l e a importância das a t i v i d a d e s econômicas t r a d i c i o n a i s que, i n s e r i d a s no c o n t e x t o do s i s t e m a c a p i t a l i s t a , se apresentam sem c a p a c i d a d e de r e -produção a m p l i a d a , tomaram-se como base quadros teóricos ge-r a i s . Com e l e s sc p ge-r o c u ge-r a e x p l i c a ge-r a pge-rópge-ria lógica de desenv o l desenv i m e n t o do c a p i t a l e, de modo p a r t i c u l a r , a f o r m a i n t e r r e l a c i o n a d a e dependente que c a r a c t e r i z a a expansão c a p i t a l i s t a nas economias d i t a s periféricas. Nestas, com m a i o r i n -cidência, são mantidas relações de t r a b a l h o não a s s a l a r i a d a s que parecem c a r e c e r de q u a l q u e r significação d e t e r m i n a n t e , embora, de f a t o , assumam importância em a l g u n s segmentos e/

(29)

ou s e t o r e s p a r t i c u l a r i z a d o s da economia.

Com e f e i t o , na investigação de uma a t i v i d a d e que a p r e -senta uma organização i n t e r n a a p a r e n t e m e n t e d i v e r s a da dinâ-mica g e r a l do s i s t e m a c a p i t a l i s t a , e f u n d a m e n t a l compreender que o c a p i t a l , na sua expansão, r e p r o d u z - s e i n c o r p o r a n d o e submetendo, g r a d a t i v a m e n t e e dc formas d i v e r s a s , ã sua i o g i c a a c u m u l a t i v a , os vários s e t o r e s da economia, t a n t o t r a n s f o r mando, c r i a n d o e adaptando a l g u n s , como mantendo quase i n t a c t o s o u t r o s , ê nesse movimento característico de d e s e n v o l -v i m e n t o d e s i g u a l que se p r o p i c i a e reforça a concentração c a centralização do c a p i t a l .

Disso r e s u l t a m formas d i f e r e n c i a d a s de reprodução,poss i b i l i t a n d o a coexireprodução,posstência de reprodução,poss e t o r e reprodução,poss "modernoreprodução,poss" e " a t r a reprodução,poss a

-dos", com d i f e r e n t e s g r a u s de d e s e n v o l v i m e n t o das forças p r o d u t i v a s e das relações de produção e, de t r a b a l h o .

P o r t a n t o , tem-se constituído em contradição básica ine-r e n t e ao movimento de expansão c a p i t a l i s t a a ocoine-rine-rência de transformações p r o c e s s u a i s de algumas das relações de p r o d u -ção, ao mesmo tempo em que o u t r a s são m a n t i d a s . Nessa l i n h a de raciocínio, afirmam GRAZIANO DA SILVA e t a l l i ( 1 9 7 7 : 1 0 ) .

" ... a. reprodução das relações não c a p i t a -l i s t a s se da sob a égide do c a p i t a -l , ao raes-w mo tempo que a reprodução do c a p i t a l b a s e i a se em relações não c a p i t a l i s t a s . A " i n t e r a -ção" dos s e t o r e s " a t r a s a d o " e "moderno" nada mais é que a configuração dessa contradição, na medida em que ao mesmo tempo que se

const i const u i num l i m i const e a expansão das forças p r o -d u t i v a s ou a mo-dernização em g e r a l , e l a mesma p r o p i c i a condições ã acumulação de c a p i t a l " .

(30)

T a l situação d e t e r m i n a e e x p r e s s a uma contradição que c o n s i s t e na existência de duas tendências básicas d e s a r -ticulação e manutenção - p a r a as a t i v i d a d e s t r a d i c i o n a i s , sendo que a predominância de uma ou de o u t r a tem s i d o de-t e r m i n a d a p e l o s níveis de avanço q u a n de-t i - q u a l i de-t a de-t i v o do ca-p i t a l . D i a n t e dessa constatação, ca-pode-se comca-preender que a evolução da produção r a p a d u r e i r a tenha r e g i s t r a d o t a n t o um p r o c e s s o de declínio como um, de resistência,resultantes ambos de sua inserção em d i f e r e n t e s e s t r u t u r a s p r o d u t i v a s , onde as condições c o n c r e t a s de sua existência tem s i d o i n

f l u e n c i a d a s p e l o s graus de d e s e n v o l v i m e n t o das forças p r o -d u t i v a s .

A i n d a que,a nível g e r a l , s e j a possível e s t a b e l e c e r que as a t i v i d a d e s t r a d i c i o n a i s encontram-se i n s e r i d a s no p r o c e s s o de acumulação, é p r e c i s o e s c l a r e c e r que as formas de manifestação das relações de produção c a p i t a l i s t a s g u a n do se t r a t a da a g r i c u l t u r a , apresentam algumas e s p e c i f i c i -dades. Nesse caso p a r t i c u l a r , o p r o b l e m a teórico que surge é e n c o n t r a r c a t e g o r i a s adequadas p a r a compreender as formas de inserção dessas a t i v i d a d e s no s i s t e m a c a p i t a l i s t a e a relação econômica de exploração que se e s t a b e l e c e e n t r e os p r o d u t o r e s r u r a i s e os d e t e n t o r e s do c a p i t a l , quando se v e -r i f i c a que essa -relação não assume p -r o p -r i a m e n t e a fo-rma dc a s s a l a r i a m e n t o c a p i t a l i s t a .

No caso c o n c r e t o da a g r i c u l t u r a no B r a s i l , MARTINS (1975: 16) d e s t a c a que

(31)

"A p r i n c i p a l d i f i c u l d a d e teórica na d i s c u s são dos p r o b l e m a s da s o c i e d a d e agrária b r a -s i l e i r a e n c o n t r a - -s e na identificação do t i p o e s t r u t u r a l que a d e f i n a . Resultam- d a r os debates em t o r n o do seu caráter c a p i t a l i s t a ou p r e - c a p i t a l i s t a , c a p i t a l i s t a ou f e u d a l , c a p i t a l i s t a i n t e r n a ou p a r c i a l m e n t e r e a l i z a -do. A f o n t e básica desses d i l e m a s está na

indefinição das relações s o c i a i s de produção que não se apresentara c l a r a m e n t e f o r m u l a d o s em termos de compra e venda de força de t r a -b a l h o . T i p o s intermediários de inserção no p r o c e s s o p r o d u t i v o , como o g a r c e i r o , o c o l o no, o agregado e o arrendatário, não c o n f i -guram . l i m i n a r m e n t e a existência de um mercado l i v r e de t r a b a l h o nem uma c l a s s e de p r o -p r i e t a r i o s dos meios de -produção com-pradora de força de t r a b a l h o " .

A i n d a que essa não s e j a uma questão t o t a l m e n t e s u p e r a -da, a l g u n s a u t o r e s argumentam no s e n t i d o de que

"0 t r a b a l h o a s s a l a r i a d o se d e s e n v o l v e no campo, embora a e x i g u i d a d e de mercados t o r n e escasso o d i n h e i r o , e a p a r c e r i a e a meia

( s i c ) c o n s t i t u a m , freqüentemente, e t a p a s em direção a e s t a proletarização i n c o m p l e t a do c a m p e s i n a t o " (VERGOPOULOS, 19 77: 2 3 ) .

E s p e c i f i c a m e n t e no caso dos engenhos r a p a d u r e i r o s , em que pese ã predominância de relações de t r a b a l h o t r a d i c i o - ^ n a i s e técnicas r u d i m e n t a r e s , a organização soeio-econõmica das unidades p r o d u t i v a s assume formas d i v e r s a s que d i f i c u l -tam sua•definição. Embora grande p a r t e dos engenhos do Ser-tão a p r e s e n t a s s e as características de pequena produção

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cam-ponesa, t a l q u a l 5 d e f i n i d a por GRAZIANO DA SILVA (5) , no B r e j o , a l g u n s estão o r g a n i z a d o s de uma forma que se a p r o x i m a b a s t a n t e ã das pequenas e m p r e s a s - c a p i t a l i s t a s . No e n t a n t o , c a r a c t e r i z a m - s e p o r uma l i m i t a d a c a p a c i d a d e de r e p r o d u z i r - s e e de a m p l i a r - s e enquanto p r o d u t o r e s de r a p a d u r a , t a n t o que r e g i s t r a m - u m a propensão a t r a n s f o r m a r - s c de r a p a d u r e i r o s em f o r n e c e d o r e s de cana a u s i n a s , quando e s t a s l h e s o f e r e c e m condições de compra mais favoráveis.

Assim, mais i m p o r t a n t e do que e n q u a d r a r a a t i v i d a d e r a p a d u r e i r a , p e l a s suas relações de produção e de t r a b a l h o , c o -mo pequena produção, e f u n d a m e n t a l r e s g a t a r suas condições de existência, subordinada ao c a p i t a l e d e l i m i t a d a p e l a expan-são c a p i t a l i s t a em função da q u a l s u b s i s t e .

( 5 j "De íní c i o cumpre d e i x a r c l aro o que se entende p o r p r o -dução camponesa. São q u a t r o os elementos f u n d a m e n t a i s pa-r a defíní-la: a) utilização do t pa-r a b a l h o f a m i l i a pa-r , o u s e j a , a farallía se c o n f i g u r a como u n i d a d e de produção; b ) a

pos-se dos i n s t r u m e n t o s de t r a b a l h o ou de p a r t e d e l e s ; c) e-xistência de f a t o r e s excedentes (terra,força de t r a b a l h o , meios de t r a b a l h o ) que p e r m i t a m uma produção de

exceden-t e s , d e s exceden-t i n a d o s ao a e r c a d o . Deve f i c a r c l a r o que, embora a produção se d e s t i n e em grande p a r t e para o autoconsumo, não se t r a t a u n i c a m e n t e de produção de a l i m e n t o s ; por

ou-t r o l a d o , não se ou-t r a ou-t a de v e n d e r o que sobra do consumo, mas sim de r e a l i z a r uma produção v o l t a d a para o mercado com a t e r r a , a mao de obra e os meios de t r a b a l h o que so-bram da produção para subsistência. Sob esse a s p e c t o , a produção camponesa pode s e r v i s t a como uma produção mer-c a n t i l s i m p l e s ; d) nao é* f u n d a m e n t a l a p r o p r i e d a d e , mas sim a posse da t e r r a , que m e d i a t i z a a produção,como mer-c a d o r i a . Sendo assim, nao só o proprietário, mer-como tambéi o p a r c e i r o , o arrendatário, o p o s s e i r o , podem se c o n f i g u r a r como formas de produção camponesa". (GRAZIANO DA S I L -VA, e t a l l i , 1977:4)

(33)

O passo s e g u i n t e , p o r t a n t o , CQ: s i s t e em e x a m i n a r de que forma c o n c r e t a m e n t e se m a n i f e s t a m as tendências já r e f e -r i d a s , quando se t -r a t a de a t i v i d a d e -r u -r a i s mais d i -r e t a m e n t e

l i g a d a s às indústrias, c u j a s e s p e c i f i c i d a d e s podem s e r con-s i d e r a d a con-s como r e con-s con-s u l t a n t e con-s da relação que h i con-s t o r i c a m e n t e tem se e s t a b e l e c i d o e n t r e a a g r i c u l t u r a e a indústria.

0 r e l a t i v o " a t r a s o " do s e t o r agrário - c a r a c t e r i z a d o p e l a b a i x a p r o d u t i v i d a d e , técnicas r u d i m e n t a r e s e ineficiên-c i a na aloineficiên-cação dos r e ineficiên-c u r s o s - não ineficiên-c o n s t i t u i e n t r a v e ao des e n v o l v i m e n t o do c a p i t a l . Ao contrário, na condição de f o r

-necedora de matérias-primas, de p r o d u t o s a l i m e n t a r e s e de mão-de-obra p a r a o s e t o r i n d u s t r i a l , a a g r i c u l t u r a assume um

i m p o r t a n t e p a p e l no p r o c e s s o de acumulação c a p i t a l i s t a . Como afirmam GRAZIANO DA SILVA e t a l l i (1977:6)

"São j u s t a m e n t e essas formas " a r c a i c a s " que permitem ã a g r i c u l t u r a : a) f o r n e c e r mãodeobra abundante ao s e t o r i n d u s t r i a l , p o s s i b i l i t a n d o a constituição de um exército i n d u s -t r i a l de r e s e r v a ; b) f o r n e c e r a l i m e n -t o s p a r a os c e n t r o s u r b a n o s a b a i x o preço, de f o r m a a não e l e v a r o c u s t o de alimentação e o cus-t o das macus-térias-primas. Com i s s q , é possível uma m a i o r exploração da força de t r a b a l h o e, p o r t a n t o , uma acumulação mais rápida do

se-t o r i n d u s se-t r i a l " .

Do que se tera a f i r m a d o até a q u i , ê possível i n f e r i r que, ao p r o c e s s o de expansão c a p i t a l i s t a como um t o d o , mais do que t r a n s f o r m a r s i g n i f i c a t i v a m e n t e as relações de , p r o d u ção v i g e n t e s na a g r i c u l t u r a , i n t e r e s s a , s o b r e t u d o , a subor -dinação dos p r o d u t o r e s r u r a i s , através da q u a l se t o r n a mais factível a capitalização dá indústria. Essa capitalização, conforme a l g u n s a u t o r e s , e s t a r i a sendo p o s s i b i l i t a d a p o r

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uma transferência de v a l o r do s e t o r agrícola p a r a o i n d u s -t r i a l .

A importância dos mecanismos através dos q u a i s se e-f e t i v a essa t r a n s e-f e r e n c i a e n t r e os s e t o r e s no p r o c e s s o de expansão, concentração e centralização de c a p i t a l , e a n a l i -sada p o r VERGOPOULOS (19/7: 76 a 7 9 ) , quando I n v e s t i g a a lógica de formação dos preços de produção, em t o r n o dos q u a i s o s c i l a m os preços de mercado. 0 próprio s i s t e m a de relações de t r o c a , base da reprodução do c a p i t a l , d e t e x m i n a .

segundo o a u t o r , que a existência de s e t o r e s c a p i t a l i s t a s "retardatários" s e j a e s s e n c i a l p a r a a expansão dos ramos " p r o g r e s s i s t a s " p o i s :

"Uma p a r t e da raais-valia c r i a d a nos s e t o r e s de c a p i t a l a p l i c a d o i n f e r i o r ã média s o c i a l ê c a p t a d a p o r s e t o r e s de c a p i t a i a p l i c a d r j • s u p e r i o r a média". (VERGOPOULOS, 1977:7;6)."

Uma das formas c o n c r e t a s de manifestação desse p r o -cesso c o n s i s t e na elevação dos preços r e a i s dos p r o d u t o s i n d u s t r i a l i z a d o s p a r a l e l a m e n t e ao r e b a i x a m e n t o dos preços agrícolas, o que v i a b i l i z a , : , através do mercado a t r a n s f e rência, p a r a o s e t o r i n d u s t r i a l , da r e n d a g e r a d a na a g r i -c u l t u r a .

A propósito dessa interrelação campocidade que f a v o r e c e sobremodo a expansão da indústria, assim se p r o n u n -c i a MARTINS (1975:39):

" A n t e s , o d e s e n v o l v i m e n t o u r b a n o , p a r t i c u -l a r m e n t e o da economia i n d u s t r i a -l , só f o i o

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tem s i d o possível graças ã existência de uma economia a g r a r i a e s t r u t u r a d a de molde a s u -p o r t a r e a b s o r v e r os c u s t o s da acumulação do c a p i t a l e da industrialização".

Á abordagem das condições de subordinação da a g r i c u l -t u r a ao c a p i -t a l , p a r -t i c u l a r m e n -t e ao i n d u s -t r i a l , pode s e r i n i c i a d a examinandose a situação dos médios e grandes p r o -prietários r u r a i s . E s t e s , se p o r um l a d o mantêm, com os pequenos p r o d u t o r e s , relações s o c i a i s de exploração, p o r ou-t r o , apresenou-tam-se sem c a p a c i d a d e de r e ou-t e r o e x c e d e n ou-t e ob-t i d o , conseqüenob-temenob-te, conforme q caso, com pouca ou nenhu-ma p o s s i b i l i d a d e de reprodução a m p l i a d a , o que c o n t r i b u i p a r a o b s c u r e c e r a exploração. Ocorre que, quando no mercado sc m a n i f e s t a a concorrência e n t r e c a p i t a i s i n d i v i d u a i s , esses

"pequenos c a p i t a l i s t a s " são, o r a m a i s , o r a menos, e x p r o p r i a -dos de seus excedentes p e l o s mecanismos de transferência já* a l u d i d o s .

As formas mais g e r a i s de manifestação da subordinação desses proprietários o c o r r e m na e s f e r a da circulação através da concessão de f i n a n c i a m e n t o s e da comercialização dos p r o d u t o s , Embora sem p r o v o c a r nem e s t i m u l a r mudanças s i g n i f i c a -t i v a s nas formas de organização da produção, -t a i s mecanismos podem c r i a r , no e n t a n t o , condições que f a v o r e c e m a t r a n s f e r e n c i a p a r a o s e t o r i n d u s t r i a l do v a l o r p r o d u z i d o na a g r i -c u l t u r a .

Já num nível mais d i r e t o , e n t r a m em cena mecanismos que começam a i n f l u e n c i a r a própria organização da produção, até então um t a n t o i n d e p e n d e n t e . A s s i m , p o r meio da

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manipu-lação dos preços agrícolas, dos estímulos ã exportação, do crédito o r i e n t a d o e .da assistência técnica, os p r o d u t o r e s são p r e s s i o n a d o s a p r o d u z i r , em condições pré-defInidas pel o s i n t e r e s s e s do c a p i t a pel , d e t e r m i n a d a s c u pel t u r a s e p r o d u -t o s em d e -t r i m e n -t o de o u -t r o s , perdendo em grande p a r -t e sua autonomia sobre a decisão de "o que" e "como" p r o d u z i r . fi e v i d e n t e que, em t a l situação, as condições de transferên-c i a de m a i s - v a l i a são também m u i t o favoráveis.

F i n a l m e n t e , v e r i f i c a s e uma o u t r a forma de s u b o r d i n a -ção m u i t o mais i m e d i a t a no caso em que os p r o d u t o r e s r u r a i s

fornecem d i r e t a m e n t e matéria p r i m a ãs I n d u s t r i a s , as q u a i s pordetererçio monopólio da compra,podem impor condições como o c o n t r o l e dos preços e da q u a l i d a d e dos p r o d u t o s - que l h e s favorecem a ampliação da margem de, l u c r o , r e d u z i n d o a dos f o r n e c e d o r e s .

Cabe agora a n a l i s a r a situação dos pequenos p r o d u t o -r e s -ru-rais-p-rop-rietã-rios ou não - que desempenham um p a p e l f u n d a m e n t a l na organização i n t e r n a da a g r i c u l t u r a b r a s i l e i -r a e, conseqüentemente, nas -relações que se e s t a b e l e c e m ent r e o meio r u r a l e o urbano. A i n d a que o acesso desses p r o -d u t o r e s ã t e r r a s e j a quase sempre l i m i t a -d o - no caso -dos proprietários d e v i d o ã e x i g u i d a d e das áreas de que dispõem, no dos p a r c e i r o s , em decorrência de sua subordinação aos proprietários dos imóveis r u r a i s em que residem e t r a b a

lhara a sua contribuição as a t i v i d a d e s econômicas r e v e l a se d e c i s i v a . I n i c i a l m e n t e , se d e s t a c a a e l e v a d a p a r t i c i p a

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alimentos(ó) , em condições que c o n t r i b u e m p a r a m a n t e r b a i x o o c u s t o de reprodução da força de t r a b a l h o , t a n t o no campo como na c i d a d e . Alem d i s s o , c o n s t i t u e m - s e numa espécie - de e x e r c i t o i n d u s t r i a l de r e s e r v a , i n t e g r a n d o - s e p a r c i a l m e n t e em a t i v i d a d e s d e s e n v o l v i d a s p e l o s grandes e médios p r o p r i e -tários ou, de modo mais d i r e t o , quando migram p a r a os cen-t r o s u r b a n o s , fazendo c r e s c e r a o f e r cen-t a de mão-de-obra, com o que os salários podem s e r m a n t i d o s b a i x o s .

Por o u t r o l a d o , as a t i v i d a d e s de pequena produção, p o r determinação das próprias condições de inserção no s i s t e m a c a p i t a l i s t a , l i m i t a m - s e a g a r a n t i r sua reprodução s i m p l e s , ã medida em que esses p r o d u t o r e s são submetidos a iim c o n s t a n t e

e contínuo p r o c e s s o de expropriação de seus e x c e d e n t e s , s e j a quando da colocação d i r e t a dos p r o d u t o s ao mercado, s e j a nas relações que n e c e s s a r i a m e n t e e s t a b e l e c e m com os grandes p r o -prietários.

As m o d a l i d a d e s a t u a i s de acesso ã t e r r a , e n q u a n t o meio de produção, por sua vez, c o n t r i b u e m d e c i s i v a m e n t e p a r a v i a -b i l i z a r a expropriação desses p r o d u t o r e s , p o r q u a n t o o monopólio da p r o p r i e d a d e fundiária c r i a as condições que p e r m i tem a extração do s o b r e t r a b a l h o dos moradores. A c o n c e n t r a -ção do s o l o em mãos de grandes proprietários d e t e r m i n a que os pequenos p r o d u t o r e s disponham de extensões de t e r r a

(6) No B r a s i l , eia 1 9 7 6 , a participação dos imóveis r u r a i s com menos de 5Q ha no t o t a l da área c o l h i d a com p r o d u t o s básicos de alimentação e h o r t i f r u t I c o l a s r e p r e s e n t a v a r e s p e c t i v a m e n t e 4 3 , 9 % e 43,5%.(GRAZIANO DA SILVA e t a l l i 1977: 1 2 8 ) .

(38)

m u i t o r e d u z i d a s ( 7 ) , na m a i o r i a das vezes i n s u f i c i e n t e s pa-r a p pa-r o v e pa-r a subsistência dos que d e l a s dependem, o que os l e v a a b u s c a r complementar sua subsistência através do a s s a -l a r i a m e n t o p a r c i a -l nas grandes p r o p r i e d a d e s , quando não os força a m i g r a r .

"A emigração tem um caráter c l a r o : os que partem aumentam a proporção das t e r r a s dos que f i c a m " (MOURA, 1978:62).

Um o u t r o elemento que p o s s i b i l i t a o p r o c e s s o de ex-propriação desses p r o d u t o r e s r e f e r e - s e a uma p e c u l i a r i d a d e da pequena produção, c u j a f o r m a de organização do t r a b a l h o , p o r s e r quase sempre f a m i l i a r , i m p r i m e uma lógica d i f e r e n t e ã dinâmica da reprodução da u n i d a d e . Sobre o a s s u n t o a s s i m se p r o n u n c i a m GRAZIANO DA SILVA e t a l l i (1977: 4 ) :

"Para que se r e a l i z e a produção camponesa não é necessário, d i f e r e n t e m e n t e da condição nor-mal da produção c a p i t a l i s t a , que o preço de mercado s e j a s u f i c i e n t e m e n t e a l t o p a r a p r o -p o r c i o n a r o l u c r o medio"... "0 único l i m i t e a b s o l u t o p a r a a produção camponesa será a r e n d a (monetária ou não) que a s i mesmo caga o camponês, f r e q u e n t e m e n t e r e d u z i d a ao m i n i -mo v i t a l • Enquanto o preço do p r o d u t o c o b r i r

esse l i m i t e , e l e c u l t i v a r a a t e r r a , dando de graça ã s o c i e d a d e , p a r t e do seu t r a b a l h o ex-c e d e n t e , a q u a l poderá Ser a p r o p r i a d a p e l o c a p i t a l f i n a n c e i r o , c o m e r c i a l ou i n d u s t r i a l ' . '

( 7 ) ' Segundo dados do Censo Àgrop e cuSrío de 19 80 , c e r c a de 50,4% dos e s t a b e l e c i m e n t o s r e g i s t r a d o s no B r a s i l c o n t a -vam com menos de 10 ha e c o r r e s p o n d i a m a 2,5% da área agrícola t o t a l ; na Paraíba r e p r e s e n t a v a m 66,9% dos e s t a -b e l e c i m e n t o s e 7,1% da área.

(39)

Alem desses d o i s e l e m e n t o s básicos, e x i s t e m o u t r a s condições, c r i a d a s p e l a prõpria lógica de f u n c i o n a m e n t o do s i s -tema c a p i t a l i s t a , que p r o p i c i a m o fenômeno de expropriação dos pequenos p r o d u t o r e s . Para r e s g a t a r as p r i n c i p a i s , e s u -f i c i e n t e examinar as -formas mais comuns de subordinação dos pequenos p r o d u t o r e s , que, segundo GRAZIANO DA SILVA e t a l l i .

(1983: 2 4 ) , são:

a) ao proprietário fundiário, em que a extração do ex-c e d e n t e o ex-c o r r e através do .pagamento da renda da t e r r a p e l o s p a r c e i r o s e arrendatários,feito em d i n h e i r o , em espécie ou com a prestação de serviços sub-remunerados;

b) ao c a p i t a l c o m e r c i a l , quando a extração do exceden-t e é o b exceden-t i d a p e l a inexceden-termediação do c o m e r c i a n exceden-t e - que pode ou não c o i n c i d i r com a pessoa do proprietário . que concede f i -nanciamentos aos pequenos p r o d u t o r e s , v e n d e - l h e s p r o d u t o s i n d u s t r i a l i z a d o s e compra-lhes a n t e c i p a d a m e n t e a produção, t u d o em condições d e s v a n t a j o s a s p a r a os camponeses;

c ) as agroindústrias e c o o p e r a t i v a s c a p i t a l i s t a s que , p o r meio do f i n a n c i a m e n t o de insumos e do monopólio da com-p r a dos com-p r o d u t o s agrícolas,se acom-possam do e x c e d e n t e com-p r o d u z i d o p e l o s pequenos p r o d u t o r e s ;

d) d i r e t a m e n t e ao c a p i t a l em g e r a l , através da venda de sua força de t r a b a l h o , como a s s a l a r i a d o s temporários.

Todos esses p r o c e s s o s são, o b v i a m e n t e , i n f l u e n c i a d o s , em m a i o r ou menor g r a u , p e l a intervenção do Estado, razão

(40)

p e l a q u a l t o r n a - s e necessário c o n s i d e r a r a l g u n s a s p e c t o s ge-r a i s e i m e d i a t o s de suas foge-rmas de atuação c o n c ge-r e t a na econo-mia.

Sobre o p a p e l e a a m p l i t u d e da intervenção e s t a t a l na s o c i e d a d e moderna, p r o n u n c i a m s e d i v e r s o s a u t o r e s , d e s t a c a n -do que:

"A ação do E s t a d o , enquanto relação econômica na reprodução s o c i a l , t o r n o u s e p a r t e i n t e g r a n t e da v i d a econômica e s o c i a l do c a p i t a -l i s m o ^ E -l a r e s u -l t a das n e c e s s i d a d e s i n t e r n a s do próprio c a p i t a l no que t o c a a sua r e p r o d u -ção em e s c a l a a m p l i a d a , ãs contradições na formação da t a x a de l u c r o e ao próprio p r o -cesso de acumulação, assumindo o caráter,qual-quer que s e j a a f o r m a e o g r a u em que se a-p r e s e n t e , de um fenômeno u n i v e r s a l nos a-países

em que domina ojmodo de produção c a p i t a l i s t a (e t a l v e z nem só a í ) , sejam do c e n t r o ou da p e r i f e r i a , maduros ou retardatários,milagrei-r o s ou e s t a g n a d o s " . TEIXEIRA ( 1 9 3 3 : 8 ? ) .

ConsidcTando que o f u n d a m e n t a l p a r a se compreender . o p a p e l das a t i v i d a d e s a q u i a n a l i s a d a s e o p r o c e s s o de t r a n s f e -rência de v a l o r do s e t o r agrícola p a r a o i n d u s t r i a l , convém examinar as l i n h a s de atuação do E s t a d o que mais d i r e t a m e n t e c o n t r i b u e m p a r a v i a b i l i z a - l o . Como r e g u l a d o r das relações en-t r e os r e p r e s e n en-t a n en-t e s do c a p i en-t a l e os do en-t r a b a l h o , o Esen-tado intervém c r i a n d o condições que f a v o r e c e m -a acumulação de ca-p i t a l , através da exca-ploração dos t r a b a l h a d o r e s . E, enquanto mediador das l u t a s e n t r e frações da c l a s s e c a p i t a l i s t a , nas q u a i s se e s t a b e l e c e a concorrência e n t r e os s e t o r e s mais ou menos dinâmicos, f a v o r e c e a concentração e centralização do

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As manifestações c o n c r e t a s dessas p r i n c i p a i s l i n h a s de atuação do Estado no caso das relações e n t r e a g r i c u l t u r a e indústria poderiam s e r e x e m p l i f i c a d a s p e l a s políticas de c o n t r o l e dos preços agrícolas, de concessão do c r e d i t o sub-s i d i a d o , e de implantação da i n f r a - e sub-s t r u t u r a que f a c i l i t a o escoamento da produção agropecuária.

Em relação ã p r i m e i r a das políticas c i t a d a s , MARTINS (1977:61) c o n s t a t a que os preços dos p r o d u t o s alimentares tem s i d o " r e g u l a d o s em função da política econômica e s a l a r i a l do E s t a d o , que p r o c u r a m a n t e l o s do modo a c o n s e r v a r d e p r i -mido o dispêndio com a subsistência do t r a b a l h a d o r urbano".

Já os p r o d u t o s agropecuários d e s t i n a d o s ã exportação e ã transfonnaçãõ i n d u s t r i a l tem s i d o s a l v o da política eco-nômica do Estado que, s o b r e t u d o através dos subsídios, mani-p u l a seus mani-preços, de modo' a serem c o l o c a d o s no mercado com

os c u s t o s de produção r e l a t i v a m e n t e r e d u z i d o s , t o r n a n d o r e n -táveis para grandes empresas c a p i t a l i s t a s a t i v i d a d e s que de o u t r o modo p r o p o r c i o n a r i a m uma t a x a de l u c r o bera mais r e d u -z i d a . Como exemplos d i s s o MARTINS (1977:61) r e f e r e - s e aos preços "políticos" do açúcar, c a f e , cacau', c a r n e , l e i t e , e t c .

Np caso específico da a t i v i d a d e c a n a v i e i r a , v e r i f i c a - s e que as u s i n a s e d e s t i l a r i a s vem sendo, g e n e r o s a e abertamen-t e , s u b s i d i a d a s p e l o g o v e r n o , enquanabertamen-to os f o r n e c e d o r e s abertamen-tem s i d o menos b e n e f i c i a d o s . Quanto aos engenhos, o acesso ao c r e d i t o l h e s tem s i d o p r a t i c a m e n t e vedado, de modo que

aque-l e s que se mantiveram p r o d u z i n d o r a p a d u r a c o n t a r a m apenas com r e c u r s o s próprios.

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Enquanto elemento v i a b i l i z a d o r do c a p i t a l , e p o r t a n t o c o e r e n t e com a sua lógica de expansão, o Estado pode p a r a l e -l a e c o n t r a d i t o r i a m e n t e , d e s e n v o -l v e r po-líticas de a p o i o a a t i v i d a d e s t r a d i c i o n a i s . Esse t i p o de situação c o n s t i t u i - s e numa forma não só de g a r a n t i r o d e s e n v o l v i m e n t o do c a p i t a l mediante a manutenção das condições de subordinação dos pequenos p r o d u t o r e s r u r a i s , como também de c o n t r o l a r os e f e i -t o s da possível insa-tisfação - r e s u l -t a n -t e dos níveis de pau-perização - da população e n v o l v i d a nessas a t i v i d a d e s .

Ao p r o p o r c i o n a r algumas m e l h o r i a s nas condições de v i -da desses indivíduos, o Estado c o n t r i b u i para manter a "paz s o c i a l " , através da legitimação, da aceitação e a t e mesmo da d e f e s a do s i s t e m a c a p i t a l i s t a p e l a s c l a s s e s e x p l o r a d a s .

Assim, a tendência ao d e s a p a r e c i m e n t o das r e f e r i d a s at i v i d a d e s at a n at o ê aatenuada q u a n at o disfarçada p e l a i n at e r v e n -ção do Estado que l h e p r o p i c i a , d u r a n t e c e r t o tempo, algumas condições de sobrevivência.

Com base nesse r e f e r e n c i a l , esboçada a p a r t i r de a l -guns tópicos da Economia Política' e c o n s i d e r a d a a explicação mais p e r t i n e n t e para a questão em apreço, ê que se t e n t a no próprio d e s e n v o l v i m e n t o d e s t e t r a b a l h o , a p r e e n d e r as razões e s t r u t u r a i s das condições de f u n c i o n a m e n t o e das p e r s p e c t i -vas da' produção de r a p a d u r a na Paraíba.

(43)

2.1. Primórdios

Encontram-se, em RABELLO (1969; 2 8 ) , referências sobre a o r i g e m da r a p a d u r a , c o n s t a t a n d o - s e que v e i o da I l h a dns Palmas, nas Canárias, sendo "uma espécie de s u b - p r o d u t o dos pães ide açúcar, resíduo que se a g a r r a v a nos v a s i l h a m e s e, d e s t e s , e r a r e t i r a d o p o r raspagem", de onde se o r i g i n a , t a l -v e z , o próprio nome d e " r a s p a d u r a " , p o s t e r i o r m e n t e denominado r a p a d u r a . ,

sNo B r a s i l , o seu s u r g i m e n t o o c o r r e u nos grandes

enge-nhos de açúcar, onde a r a p a d u r a e r a o b t i d a como s u b p r o d u t o , não se d e s t i n a n d o a f i n s c o m e r c i a i s . A medida que s e u consu-mo se g e n e r a l i z o u , i n s t a l a r a m - s e engenhos específicos que, segundo JAMBEIRO (1973: 3 1 ) , datam .do início do século X V I I .

;Assim, a evolução dos engenhos r a p a d u r e i r o s tem s i d o estudada d e n t r o do s i s t e m a dc produção c a n a v i e i r a , e v i d e n ciandôse que essa a t i v i d a d e assumiu duas formas de o r g a n i zação; a grande produção (açucareira), v o l t a d a p r i n c i p a l m e n t e p a r a exportação.e a pequena produção ( r a p a d u r e i r a ) . o r i e n -t a d a p a r a o mercado" r e g i o n a l (JAMBEIRO, 1973: 1 7 ) .

;Segundo ADISSI (1982: 5 9 ) , que e s t u d a d e t a l h a d a m e n t e o processo técnico de produção dos engenhos c o l o n i a i s , a s d i ferenças e n t r e a fabricação de açúcar e a de r a p a d u r a s i t u a -vam-se basicamente ao nível da forma de organização s o c i a l e da ' e s c a l a de produção, vez que as técnicas de p r o

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