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Vivências da equipe de saúde da família sobre espiritualidade e religiosidade no cuidado aos usuários de álcool e outras drogas

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

PATRICIA APARECIDA LOPES GODOY

VIVÊNCIAS DA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA SOBRE

ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO CUIDADO AOS

USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

Piracicaba 2019

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PATRICIA APARECIDA LOPES GODOY

VIVÊNCIAS DA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA SOBRE

ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO CUIDADO AOS

USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

Dissertação de Mestrado Profissional apresentada à Faculdade de Odontologia de Piracicaba, da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Mestra em Gestão e Saúde Coletiva.

Piracicaba 2019

Orientadora Profa. Dra. Jaqueline Vilela

Bulgareli

Este exemplar corresponde à versão final da dissertação defendida pela aluna Patricia aparecida Lopes Godoy e orientada pela Profª. Drª. Jaqueline Vilela Bulgareli

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DEDICATÓRIA

À meu filho, Caio, que me inspira e é meu auxílio no desenvolvimento integral de meu ser, me motivando a melhorar a cada dia e a lutar por ele, por mim, por nós. Sem você não teria tamanho sentido e significação.

À meu marido Luciano, amigo, companheiro, que nunca duvidou do meu potencial e me motivou todos os dias.

À minha família, pais, sogros, irmã, sobrinha que sempre me acolheram nos momentos desafiantes desta jornada.

Ao Criansaúde e todas as profissionais que atuaram neste programa de prevenção que me fizeram crescer, amar e me dedicar a prevenção e promoção à saúde.

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, na pessoa do Reitor Prof. Dr. Marcelo Knobel.

À Faculdade de Odontologia de Piracicaba, na pessoa do Diretor Guilherme Elias Pessanha Henriques.

À coordenação do programa de mestrado, na pessoa de sua coordenadora Profa. Dra. Luciane Miranda Guerra, profissional inspiradora e ser humano incrível.

À Profa. Dra. Jaqueline Vilela Bulgareli, minha querida orientadora, pela disponibilidade em me receber, incentivo, paciência e generosidade. Gratidão por ensinar e inspirar a todos a sua volta com sorrisos, dedicação e profissionalismo.

À todos os meus familiares, pelo amor, carinho, reconhecimento.

À minha amiga, Melisa Gomez, por me incentivar, acreditar no meu potencial e vibrar com minhas vitórias. Obrigada por insistir com o meu ingresso nesta pós-graduação.

À minha amiga e colega de trabalho, Erika Massaro que me liberou para a realização deste sonho e confiou no desempenho das minhas responsabilidades profissionais.

À colega e pesquisadora Brunna Verna. Gratidão pelo companheirismo, auxilio, paciência desprendida com meus questionamentos e pelas palavras de incentivo.

Ao grupo de estudo em pesquisa qualitativa, que me oportunizou viver ricas experiências em debates.

Aos integrantes das equipes da estratégia saúde da família de Piracicaba que atuei no estágio, me acolheram e me ensinaram muito mais que qualquer livro poderia. Gratidão por todo o aprendizado.

À todos os profissionais envolvidos que gentilmente se disponibilizaram a colaborar com a pesquisa.

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RESUMO

A espiritualidade e a religiosidade vêm sendo reconhecidas como fatores de motivação no enfrentamento da recuperação de usuários de álcool e outras drogas, também como importante aliadas e responsáveis na prevenção de comportamentos autodestrutivos, relacionados ao abuso de substâncias químicas e como fatores protetores para o consumo de álcool e outras drogas em âmbito preventivo e reabilitador. O que as tornam como dimensões importantes a serem abordadas pelo profissional da saúde, em busca de um atendimento integral. Este estudo é de abordagem qualitativa e seu objetivo foi explorar as vivências de profissionais da Estratégia Saúde da Família em relação à religiosidade e espiritualidade no atendimento aos usuários de álcool e outras drogas. A coleta de dados foi realizada de julho a setembro de 2017, através de grupos focais que duraram em média uma hora com os profissionais da equipe Estratégia Saúde da Família de Piracicaba, São Paulo. Fizeram parte da pesquisa os indivíduos acima de dezoito anos de idade, que concordaram em participar do estudo. No total foram quatro equipes e vinte e sete participantes: treze Agentes Comunitários de Saúde (ACS), três técnicos em enfermagem, três médicos, quatro dentistas e quatro Auxiliares de Saúde Bucal (ASB). Foi utilizado roteiro de entrevista semiestruturada com a pergunta norteadora: Na vivência com os usuários de álcool e outras drogas quando surge a demanda sobre religiosidade e espiritualidade, como vocês lidam com esta questão? As informações foram coletadas através de gravação de áudio, posteriormente transcritas e o material foi analisado pela técnica análise de conteúdo temática categorial, sendo evidenciadas três categorias: Senso comum na abordagem da espiritualidade e religiosidade, modo cuidadoso de lidar com a dimensão religiosa e espiritual e a busca do usuário por amor nas instituições religiosas. Foi observado que a espiritualidade e a religiosidade estão presentes na atuação dos profissionais, porém não é uma questão debatida no planejamento em saúde, o que propicia espaço para que os profissionais atuem a partir de seus recursos empíricos, crenças e concepções. Importante ressaltar que os relatos de vivências em espiritualidade e religiosidade foram predominantes pela classe dos agentes comunitários de saúde, já que atuam com maior acesso aos usuários, além de uma riqueza de situações empíricas que os fazem conduzir suas vivências com os usuários utilizando temáticas religiosas e espirituais.

Palavras-chave: Espiritualidade. Saúde da Família. Usuários de Drogas. Pesquisa

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ABSTRACT

Drug use has taken alarming dimensions in recent decades, with serious consequences for the user, family and community. Spirituality and religiosity have been recognized as motivating factors in coping with the recovery of users of alcohol and other drugs, as well as important allies and responsible in the prevention of self-destructive behaviors related to substance abuse and as protective factors for drug use. alcohol and other drugs at the preventive and rehabilitative levels. What makes them as important dimensions to be addressed by the health professional, seeking a comprehensive care. This study is a qualitative approach and its objective was to explore the experiences of Family Health Strategy professionals regarding religiosity and spirituality in the care of users of alcohol and other drugs. Data collection was performed from July to September 2017, through focus groups that lasted an hour on average with professionals from the Family Health Strategy team of Piracicaba, São Paulo. The survey included individuals over eighteen years old who agreed to participate in the study. In total there were four teams and twenty-seven participants: thirteen Community Health Agents (ACS), three nursing technicians, three doctors, four dentists and four Oral Health Assistants (ASB). A semi-structured interview script was used with the guiding question: In the experience with users of alcohol and other drugs when the demand for religiosity and spirituality arises, how do you deal with this issue? The information was collected through audio recording, later transcribed and the material was analyzed by the categorical thematic content analysis technique, showing three categories: Common sense in the approach of spirituality and religiosity, careful way of dealing with the religious and spiritual dimension and the user's search for love in religious institutions. It was observed that spirituality and religiosity are present in the performance of professionals, but it is not a question debated in health planning, which provides space for professionals act from their empirical resources, beliefs and conceptions. Importantly, the reports of experiences in spirituality and religiosity were predominant by the community health agents class, as they act with greater access to users, besides a wealth of empirical situations that make them conduct their experiences with users using religious and social themes spiritual.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...10

2 ARTIGO: DIÁLOGOS COM AS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA SOBRE ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO CUIDADO AOS USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS ...13

3 CONCLUSÃO ...36

REFERÊNCIAS ...37

APÊNDICES ...40

APÊNDICE 1 - TCLE - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.40 APÊNDICE 2 - ROTEIRO DE ENTREVISTA...43

ANEXOS ...44

ANEXO 1– APROVAÇÃO COMITÊ DE ÉTICA...44

ANEXO 2 – VERIFICAÇÃO DE ORIGINALIDADE E PREVENÇÃO DE PLÁGIO...45

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1. INTRODUÇÃO

Considerado uma adversidade mundial e desafiante em todos os seus aspectos, o uso e abuso de álcool e outras drogas requer uma oferta de serviços que nem sempre são oferecidos pelos setores públicos responsáveis (Schlemper Junior, 2018). O consumo de drogas tem ocupado dimensões alarmantes nas últimas décadas, gerando consequências graves para usuário, família e comunidade, comprometendo as condições da vida cotidiana (Zaluar, 2004; Jorge et al., 2013).

A Organização Mundial de saúde (OMS) apresentou, no Relatório Global de Situação sobre Álcool e a Saúde de 2018, que o uso nocivo do álcool resultou em cerca de 3 milhões de mortes (5,3% de todas as mortes no mundo todo). A taxa de mortalidade por álcool superou a de causadas por doenças como HIV/ AIDS, diabetes e tuberculose (WHO, 2018).

A Reforma Psiquiátrica preconiza que a reabilitação dos dependentes seja por redes de cuidado extra-hospitalar. Sendo assim, o espaço da Atenção Primária à Saúde é referência para ações de intervenção no âmbito territorial(Cardoso et al., 2014).

Pesquisadores acreditam que há necessidade de um planejamento intersetorial, que foque em modelos organizados para a redução de danos, para que a intervenção seja a partir da inclusão social por acesso à rede de atenção, com o objetivo do fortalecimento da clínica ampliada (Rodrigues et al., 2017).

O Sistema Único de Saúde (SUS), em suas diretrizes básicas tem assegurado a universalidade de acesso e o direito à assistência aos usuários dependentes de álcool e outras drogas, priorizando a integralidade no cuidado (Larentis e Maggi, 2012).

Entende-se que um dos caminhos para a abordagem dessa problemática é a adequada atenção prestada aos usuários de álcool e outras drogas em uma perspectiva de integralidade(Brasil, 2003).

O ser humano é um ser integral, composto em suas diversas dimensões, incluindo a dimensão espiritual. É preciso levar em consideração esta dimensão no cuidado, é preciso que os profissionais olhem além da concepção mecanicista e fragmentada do ser humano, considerando o homem em todos os seus contextos (Martins, 2009; Alves et al., 2010). A formação dos profissionais da saúde, geralmente apresenta foco centrado mais na doença do que na saúde o que oferece uma visão

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limitada, não atingindo o ser humano em suas multiplicidades físicas, psíquicas, sociais e espirituais (Arriera et al., 2011).

O apoio da família e a prática da espiritualidade são referidos como auxiliares na sustentação do tratamento e na abstinência dos usuários, portanto, esses recursos devem ser explorados pelos profissionais nos atendimentos, na elaboração do planejamento em saúde da reabilitação psicossocial (Cardoso et al., 2014).

Importante destacar os conceitos de espiritualidade e religiosidade que muitas vezes são compreendidas como sinônimo, porém são distintos. A espiritualidade é considerada como uma busca pessoal para compreender questões relacionadas ao sentido da vida, a morte, a uma relação com o transcendente (Koenig et al., 2001). É compreendida como o princípio de que na vida há muito mais do que podemos entender ou ver(Arrieira et al., 2011). É a busca de um significado para a vida, um sentido de conexão com algo maior que enfoca elementos intangíveis (Reed, 1991; Underwood-Gordon et al.; 2000; Saad et al., 2001). Relaciona-se com experiências, o que pode levar a prática religiosa, mas não é traduzida ou vivenciada em doutrinas, profissão de fé específica, dogmas, ritos ou celebrações (Cardoso et al., 2014; Koening et al., 2001; Alves et al., 2010). É considerada também como a dimensão humana que integra, motiva e influencia os aspectos da vida (Esperandio et al., 2015).

Já a religiosidade é associada a prática institucionalizada de um sistema de crenças, sendo uma manifestação da espiritualidade (Alves et al., 2010). Considerada um fenômeno social que segue doutrinas e limites específicos e que tem características comportamentais, sociais e concepções específicas e que geralmente é compartilhada com o grupo (Underwood-Gordon et al., 2000; Rocha et al., 2008).

Apesar de estudos comprovarem a relação positiva da religiosidade e espiritualidade na saúde, na prevenção, no abuso de álcool e outras drogas, no autocuidado com o corpo e no enfrentamento e adesão ao tratamento (Backes et al., 2012; Moreira-Almeida et al., 2014; Oliveira et al., 2017; Zerbetto et al., 2017), permanecem questionamentos sobre a aplicação prática desta abordagem. Em especial na atenção básica, que objetiva o atendimento integral e universal, sendo considerada a porta de entrada para usuários que fazem uso abusivo do álcool e outras drogas. Diante disso, o objetivo do estudo foi explorar as vivências de profissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF) em relação à religiosidade e

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espiritualidade no atendimento aos usuários de álcool e outras drogas. O pressuposto da pesquisa se baseou em um desconhecimento desta abordagem por parte dos profissionais na atuação profissional na Estratégia Saúde da Família.

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2. ARTIGO

Esta dissertação está baseada na Resolução CCPG/002/06/UNICAMP, que regulamenta o formato alternativo de impressão das Dissertações de Mestrado, permitindo a inserção de artigos científicos de autoria do candidato. Por se tratar de pesquisa envolvendo seres humanos, o projeto de pesquisa deste trabalho foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), foi aprovado sob protocolo CAAE nº 62565216.2.0000.5418.

O artigo será submetido de acordo com as normas da Revista Interface Comunicação, Saúde, Educação.

Título do artigo: Diálogos com as equipes de saúde da família sobre espiritualidade e religiosidade no cuidado aos usuários de álcool e outras drogas.

RESUMO

Estudo de abordagem qualitativa com objetivo de explorar as vivências de profissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF) em relação à religiosidade e espiritualidade no atendimento aos usuários de álcool e outras drogas. Foram realizados quatro grupos focais com profissionais da ESF do munícipio de Piracicaba, São Paulo, Brasil. Foi utilizado roteiro de entrevista semiestruturada com questões referentes a vivência dos profissionais quanto a religiosidade e espiritualidade e o usuário de álcool e drogas. As informações foram coletadas através de gravação de áudio e transcritas. O material foi analisado pela técnica análise temática de Gomes que evidenciou três categorias: senso comum na abordagem da espiritualidade e religiosidade, modo cuidadoso de lidar com a dimensão religiosa e espiritual e a busca do usuário por amor nas instituições religiosas. Foi observado que parte desses profissionais fazem uso desta dimensão a partir de seus recursos empíricos, crenças e concepções.

Palavras-chave: Espiritualidade. Saúde da Família. Usuários de Drogas. Pesquisa

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ABSTRACT

This is a qualitative study with the objective of exploring the experiences of Family Health Strategy (FHS) professionals regarding religiosity and spirituality in the care of users of alcohol and other drugs. Four focus groups were conducted with FHS professionals from Piracicaba, São Paulo, Brazil. A semi-structured interview script was used with questions regarding the professionals' experience regarding religiosity and spirituality and the user of alcohol and drugs. The information was collected through audio recording and transcribed. The material was analyzed by Gomes' thematic analysis technique which showed three categories: common sense in the approach of spirituality and religiosity, careful way of dealing with the religious and spiritual dimension and the user's search for love in religious institutions. It was observed that part of these professionals make use of this dimension from their empirical resources, beliefs and conceptions.

Keywords: Spirituality. Family Health. Drug users. Qualitative Research.

RESUMEN

Estudio de abordaje cualitativo que objetivó explorar las experiencias de profesionales del Programa brasileño “Estratégia Saúde da Família” (ESF) en relación a la religiosidad y espiritualidad en el atendimiento a los dependientes de alcohol y otras drogas. Fueron realizados cuatro grupos focales con profesionales de la ESF del municipio de Piracicaba, São Paulo, Brasil. Para tal, se aplicó una entrevista semi estructurada con preguntas referentes a la experiencia de los profesionales frente a la religiosidad y espiritualidad sobre el dependiente de alcohol y drogas. Las informaciones fueron colectadas a través de una grabación de audio y transcritas. El material fue analizado por la técnica de análisis temática de Gomes que evidenció tres categorías: sentido común en el abordaje de la espiritualidad y religiosidad, modo cuidadoso de lidiar con la dimensión religiosa y espiritual, así como la búsqueda del amor por parte del usuario en las instituciones religiosas. Fue observado que parte de estos profesionales usan esta dimensión a partir de recursos empíricos, creencias e concepciones.

Palabras claves: Espiritualidad, salud de la Familia, dependiente de drogas,

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INTRODUÇÃO

O uso e abuso de substâncias psicoativas é considerado um problema mundial de saúde pública e desafiante em todos os seus aspectos, o que requer uma oferta de serviços que nem sempre são atendidos pelos setores públicos responsáveis1. O

consumo de drogas tem tomado dimensões alarmantes nas últimas décadas, gerando consequências graves para o usuário, família e comunidade, comprometendo as condições da vida cotidiana2,3.

A abordagem da espiritualidade e religiosidade nas circunstâncias do uso de drogas favorece de maneira positiva e motivadora no enfrentamento do processo de reabilitação e na proteção ao uso abusivo de álcool e drogas, considerando que se trata de recurso auxiliar para a manutenção da saúde, prevenção e reabilitação4.

Promove impacto positivo na qualidade de vida das pessoas, na relação interpessoal entre profissionais e pacientes e até mesmo nas relações interpessoais dos profissionais no ambiente de trabalho, reconhecendo o outro em sua integralidade5,6.

No contexto do acompanhamento do usuário há a necessidade de considerar as diferentes dimensões que compõem o ser humano, como a espiritualidade e religiosidade que são importantes aliadas e responsáveis na prevenção de comportamentos autodestrutivos, relacionados ao abuso de substâncias químicas. São consideradas também fatores protetores para o consumo de álcool e outras drogas em âmbito preventivo e reabilitador7,8.

Um estudo qualitativo sobre religiosidade e espiritualidade e seus mecanismos de influência positiva sobre a vida e tratamento de alcoolistas relata que na percepção dos entrevistados, a religiosidade e espiritualidade inspiram positivamente para o alívio de pessoas em abstinência, no cuidado da saúde, na mudança de hábito, na rotina, comportamento e é considerado apoio complementar ao tratamento8. É

também ressaltada em documentos internacionais9 e na Carta dos Direitos dos

Usuários da Saúde no Brasil10 a importância do cuidado espiritual e o direito à

assistência religiosa do usuário. Essa crescente valorização da influência da espiritualidade e religiosidade em saúde deve-se ao reconhecimento de que são aspectos importantes no acolhimento e alívio do sofrimento humano, que é multidimensional e singular. Uma pesquisa sobre bioética no acolhimento de usuários de drogas em comunidades terapêuticas, reconhece que a espiritualidade pode ser um recurso para a transformação dos mesmos, pois pode auxiliá-los a atribuir sentido

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à própria vida. Ressalta também o crescente interesse, tanto de profissionais da saúde, como da população em geral sobre as relações entre espiritualidade e saúde1.

Os profissionais da saúde contam com evidências científicas sobre o benefício da abordagem espiritual no manejo de doenças em potencial11. A dimensão espiritual

dos profissionais de saúde é considerada importante, visto que pode impactar na assistência prestada, à medida que promove bem-estar físico, melhora relacionamento interpessoal e qualidade de vida dos indivíduos. A religiosidade e espiritualidade colaboram para o entendimento do processo saúde e doença por parte do profissional e do paciente12. Especialmente na Estratégia Saúde da Família (ESF),

que visa uma atuação ampliada no processo saúde-doença, promovendo ações que busquem uma integralidade à saúde, constituindo maior vínculo e respeito com a comunidade13.

O agir do profissional sobre o usuário deve levar em consideração sua dimensão espiritual e religiosa, dimensão que ocupa lugar de destaque na vida das pessoas e expõe a necessidade de conhecer esta dimensão para planejar o cuidado14.

A religiosidade e espiritualidade são temas que causam argumentações polêmicas, principalmente nos debates científicos, porém, apresenta influência positiva no enfrentamento de diversas situações, especialmente em fornecer compreensão do sentido existencial e de importantes aspectos que compõem o sujeito e sua relação com o mundo. Aspectos esses, que levados em consideração no cuidado, configuram de fato uma atenção humanizada e integral15.

Esse cuidado que exige uma atenção integral e multidimensional, que transita pela cultura, pelas representações sociais16, possibilita que o profissional altere o olhar

técnico para a valorização do outro, permitindo que o paciente passe de objeto de intervenção para sujeito do cuidado, favorecendo sua autonomia17.

Apesar de estudos comprovarem a relação positiva da religiosidade e espiritualidade na saúde, desde a prevenção e tratamento no uso e abuso de álcool e outras drogas, do autocuidado com o corpo e do enfrentamento e adesão ao tratamento4,7,8,18, há questionamentos sobre a aplicação prática desta abordagem. Em

especial na atenção básica, que objetiva o atendimento integral e universal, sendo considerada a porta de entrada para usuários que fazem uso abusivo do álcool e outras drogas. Desta forma, o estudo pretendeu explorar as vivências de profissionais da Estratégia Saúde da Família em relação à religiosidade e espiritualidade no atendimento aos usuários de álcool e outras drogas.

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TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

O presente estudo foi submetido ao Comitê de ética e pesquisa (CEP) da Faculdade de Odontologia de Piracicaba FOP/UNICAMP. Foram respeitados todos os princípios éticos estabelecidos pela resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Os sujeitos da pesquisa receberam informações sobre os objetivos da pesquisa e ao aceitarem participar da mesma, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice I).

Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa realizado no município de Piracicaba – São Paulo. A pesquisa qualitativa em saúde apresenta a oportunidade de aprofundar em um conhecimento sobre a subjetividade humana, contribuindo para o entendimento de dimensões importantes presentes no processo saúde-doença, que não se traduz em números, apresenta potencial para explicar problemas que não são esclarecidos com abordagens de base quantitativa19. Esta abordagem de investigação

se apropria da realidade social, das vivências, dos sentidos, motivos, das concepções e valores dos sujeitos sociais20.

Fizeram parte da pesquisa os indivíduos acima de dezoito anos de idade, que concordaram em participar do estudo. No total foram quatro equipes e vinte e sete participantes: treze Agentes Comunitários de Saúde (ACS), três técnicos em enfermagem, três médicos, quatro dentistas e quatro Auxiliares de Saúde Bucal (ASB).

O sigilo e o anonimato foram garantidos a todos os participantes, bem como às Unidades de Saúde da Família (USF), que tiveram seus nomes enumerados em algarismos, para facilitar as análises.

Foram excluídos da pesquisa os profissionais que estavam em períodos de férias, afastados por licença saúde e/ou qualquer outro tipo de licença trabalho e o profissional de enfermagem que ocupa cargo de gestão na unidade, uma vez que a presença do profissional gestor poderia inibir as respostas espontâneas do grupo. Houve recusa de um profissional (técnico de enfermagem) de uma unidade de saúde em participar do grupo focal.

A técnica de abordagem utilizada foi grupo focal com a equipe da unidade de saúde no período de julho à setembro de 2017. Foram abordadas vivências e significados dos profissionais por meio de quatro grupos focais realizados nas salas de reuniões das Unidades Saúde da Família (USF), com duração em média de uma

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hora cada. A amostra se deu até a saturação dos discursos21. Na essência, as

entrevistas permitiram coletar os dados a partir do diálogo, embasado na seguinte questão norteadora: Na vivência com os usuários de álcool e outras drogas quando surge a demanda sobre religiosidade e espiritualidade, como vocês lidam com esta questão?

É importante adotar algumas condições essenciais para que ocorra o desenvolvimento dos grupos focais22. Sendo assim, a pesquisadora ficou atenta e

monitorou para que o grupo se sentisse confortável, para que ocorresse de maneira natural, bem como, na sua abertura, buscou estabelecer uma relação de confiança. Os grupos foram iniciados com perguntas abertas que propiciam informações relevantes, expondo a questão de maneira que não ocorra a indagação “por quê? ”.

As informações coletadas através de gravação de áudio foram transcritas e o material foi analisado pela técnica análise de conteúdo temática-categorial23, que

deu-se da deu-seguinte forma, a saber: inicialmente foi realizada transcrição na íntegra das entrevistas e análise do diário de campo, em seguida realizadas leituras flutuantes, exaustivas das transcrições e levantamento de impressões. Após exploração do material e leituras exaustivas foi identificado os núcleos de sentido que auxiliou na categorização. Foi realizada a categorização e sub categorização, apresentadas, posteriormente, para discussão e análise pelos pares, e assim, foram validadas as categorias e elaborada a síntese interpretativa, fazendo dialogarem temas, objetivo, questões e hipóteses da pesquisa.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Da análise das entrevistas surgiram categorias que expressam as vivências dos profissionais da estratégia saúde da família sobre a religiosidade e espiritualidade no cuidado com os usuários de álcool e outras drogas, dentre elas cita-se: 1. Senso comum na abordagem da espiritualidade e religiosidade. 2. Modo cuidadoso de lidar com a dimensão religiosa e espiritual. 3. A busca do usuário por amor nas instituições religiosas.

Senso comum na abordagem da espiritualidade e religiosidade

Esta categoria descreve a vivência do profissional da saúde de maneira positiva quanto a temática da religiosidade e espiritualidade caracterizando os espaços das crenças empíricas na atividade profissional. As falas seguintes expressam essa questão:

USF 4 - 6: “Eu uso a religião como um gancho... a favor da minha intenção,

que é que o paciente saia dessa situação... complicada, de risco que ele se encontra! Quando eu trabalhei em outro bairro, esse sim era um bairro... onde havia muito dependente de álcool, de drogas, principalmente de drogas ilícitas, é... eu usava muito... a religião a favor... do tratamento! [...] até me chamava... Achavam que eu era pastor... Eles...(risos)”

USF 2- 4: “A gente usa sim... [...] Já aconteceu de uma agente de saúde uma

vez aqui é... usar isso daí em forma de uma... paciente... tomar medicação pra pressão... alta! E pra ela, ela falou que foi bom assim...! Ela aproveitou numa deixa da paciente estar comentando sobre Deus e daí ela falou: “Mas Deus gostaria que você estivesse assim? Você tá se negando à sabedoria que ele deu... pra poder fazer a medicação pra você estar melhor!” E conversando com ela, ela acabou aderindo... o tratamento!”

A espiritualidade está atrelada ao papel familiar, ao trabalho, e às relações interpessoais. A função da espiritualidade é ajudar a cumprir os papéis sociais, manter o equilíbrio interno e manter práticas sagradas, atitudes em relação à vida em busca de auxílio na superação de situações limitantes da vida e da salvação simbólica24.

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A mudança contemporânea na compreensão das questões religiosas e espirituais nos processos saúde e doença15 e a exploração deste campo nos estudos

científicos ressalta que é preciso um olhar ampliado, envolvendo aspectos subjetivos. A subjetividade dos usuários é uma grande força na relação usuário profissional Vasconcelos25 afirma que motivar a evolução da saúde somente com fundamentos

racionais e medidas institucionais não é suficiente, pois acredita que o lidar com a dimensão subjetiva é um aspecto importante, que pode ser facilitado, caso o profissional tenha abertura para. a própria espiritualidade25. Expressa ainda, que é

indispensável abordar, compreender e apoiar as crenças, utopias e valores presentes na ótica de vida dos coletivos26, o que se faz necessário que os trabalhadores da

saúde aprendam a compreender essas subjetividades27.

Na atuação do ACS (agente comunitário de saúde), é perceptível que há intensa atividade relacionada ao cuidado, já que fazem parte da comunidade, e além disto, esta convivência na sua atuação, enriquece a equipe de saúde com informações relevantes que vão muito além do problema de saúde específico, mas levando em consideração os aspectos existenciais do usuário o que auxilia para um estreitamento dos laços e para a produção de um nutritivo projeto terapêutico singular28.

No presente estudo, a participação dos ACS nos grupos focais foi relevante, provavelmente produto do maior vínculo com os usuários de álcool e drogas e maior abertura nas abordagens. Foi observado que estes procuram abordar mais a fundo os aspectos e contextos nos quais o usuário está inserido. Sobre a temática ficou evidente que a grande maioria atua a partir de suas próprias crenças e concepções, sem um referencial teórico ou embasamento científico, utilizando muitas vezes o senso comum.

O senso comum deve ser levado em consideração no cuidado em saúde, não abstraindo o conhecimento científico, mas agregando valor e respeitando o contexto cultural em que o indivíduo está inserido29.

Esta união entre ciência e senso comum enriquece o conhecimento do profissional da saúde, adequando a realidade do contexto. Apesar do senso comum ser considerado no meio científico, como um conhecimento fragmentado e superficial, que visa dividir o mundo através de informações entre o que é certo e errado30, impedindo

a evolução tecnocientíficas por prolongar crenças e mitos, o mesmo contém ideias organizadas, explicativas, interpretativas dos fenômenos culturais da população31,32,

exprime um conjunto de informações não sistematizadas que aprendemos por processos formais e informais31 e, até mesmo inconscientes, o que se torna um saber

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a ser considerado no cuidado em saúde, já que assim como a ciência, o senso comum tem a mesma necessidade de compreensão do mundo e o objetivo de melhorar o viver29.

A abordagem dos profissionais da saúde que dispõe de recursos a partir de suas percepções e subjetividades, considera o que faz sentido para o indivíduo que recebe o cuidado, utilizando como recurso de motivação para enfrentar os desafios, o que fica claro na exposição verbal deste profissional:

USF 1 - 6: “ [...] Não precisa dar o nome à sua religião... e sim à prática... né,

da espiritualidade! É... O paciente acredita em Deus... “vamo” semear isso nele! Se ele acredita na força da natureza, vamo... Sem dar nomes! Aí a partir do momento que ele deu o nome, aí você... vai sim... apoiá-lo em tudo! (risos) Mesmo que você... não seja a sua!”

Considerar a dimensão espiritual do cuidado expressa acolhimento a pessoa humana em sua integralidade. É a busca de sentido à sua existência em todos os tempos, culturas, contexto e lugares. O que traduz a significação desta dimensão na vida do ser cuidado e na atuação de quem cuida7.

Modo cuidadoso de lidar com a dimensão religiosa e espiritual

Esta categoria expõe que o profissional muitas vezes coloca-se em posição imparcial, respeitosa, o que caracteriza uma postura ética, mas que demonstra ser um tema não debatido no planejamento em cuidado, especialmente no surgimento desta demanda por parte do usuário, caracterizando uma ausência desta dimensão no espaço. Os integrantes da equipe que atuam na unidade com foco no tratamento clínico, ou seja, profissionais que pouco atuam no campo que extravasa o consultório, demonstraram relação mais distante com os usuários de álcool e drogas e no relato de suas vivências demonstraram imparcialidade com a temática abordada.

USF 1 -3 “[...] a gente lida de uma maneira muito... Muito natural [...] Na

verdade, eu acho que quando chega... quando o paciente expõe, fica mais fácil da gente trabalhar com isso! Porque, a prática... a... a teoria é muito... é muito fácil, mas a prática da espiritualidade é uma coisa muito difícil! É uma coisa muito difícil da gente praticar no dia a dia...! [...] Quando o paciente não relata... é... não tem essa abertura, a gente fica um pouquinho preso também... a esse fechamento dele! Eu acho que tratar a religião e a

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espiritualidade de uma maneira muito natural, aceitando todas as posições, fica uma... [...] uma maneira muito mais leve pra gente poder trabalhar!”

USF 1 - 4: “Ah, eu realmente acho que a... que cada indivíduo tem a sua

vivência, tanto social como... religião, então assim... no que eles acreditam. [...] Quando as pessoas passam pra gente alguma... alguma coisa... em sentido... a fé em que eles acreditam, a gente pode até conversar sobre isso, só que eu não tem como... eu conversar com ele, se eu não vejo que ele tem uma abertura, porque eu vou falar de Deus pra uma pessoa que não acredita em Deus?!”

Vasconcelos reflete sobre a atuação e formação dos profissionais de saúde, expondo que, a formação não valoriza e prepara o mesmo para lidar com dimensões subjetivas, como os aspectos espirituais e religiosos dos indivíduos33.

Há por parte dos profissionais, professores e pesquisadores da área da saúde constrangimento em discutir cientificamente nos espaços de formação, os saberes e vivências espirituais e religiosas. Sendo assim, as práticas religiosas apresentam-se na atuação desses profissionais de saúde de modo não elaborado, silencioso e não debatido25.

As barreiras que podem impedir os profissionais de atuar com as dimensões da religiosidade e espiritualidade em suas práticas, são: desconhecimento sobre a importância e influência dessas questões na subjetividade do paciente; apreensão em aprofundar em uma área vista como polêmica; desconforto em abordar questões desta natureza ou por julgar que o paciente não considere que seja um tema a ser abordado34.

Foi perceptível a dificuldade dos profissionais em distinguir os conceitos de espiritualidade e religiosidade. Apresentaram durante as discussões contextos que consideravam os conceitos como sinônimos.

Porém, a espiritualidade é considerada como a busca pessoal para compreender questões relacionadas ao sentido da vida, a morte, a uma relação com o transcendente34. É a busca de um significado para a vida, um sentido de conexão

com algo maior que enfoca elementos intangíveis36,37. Relaciona-se com experiências,

o que pode levar a prática religiosa, mas não é traduzida ou vivenciada em doutrinas, profissão de fé específica, dogmas, ritos ou celebrações35,38,39.

(23)

A religiosidade, por sua vez, é associada a prática institucionalizada de um sistema de crenças, sendo uma manifestação da espiritualidade39. Considerada um

fenômeno social que segue doutrinas e limites específicos e que tem características comportamentais, sociais e concepções específicas e que geralmente é compartilhada com o grupo36, 40.

Um estudo sobre a religiosidade e espiritualidade em profissionais trabalhadores da saúde, considera que tais profissionais percebem a relação entre religiosidade e espiritualidade e saúde, o desejo dos pacientes para que essas questões sejam abordadas, mas não se sentem preparados para isto e acabam negligenciando essas questões frequentemente41.

USF 2 - 2: “Na enfermagem também aqui a gente não tem assim tanto,

porque... geralmente eles... quando eles procuram aqui, é por quê? Ou eles caíram, tão tudo arranhado [...] É... Ou tá machucado... Ou.... tá doente mesmo, que vem pra acolhimento...! Então, assim... não dá muito tempo pra gente... é... trabalhar isso... O que a gente conversa ali... Porque também, a nossa... parte ali é corrida! É paciente o tempo inteiro! Então, cê... cê trata bem, cê conversa, vê o caso, mas daí passa... pra frente o... Ou vai pra enfermeira... ou vai pro médico...! Então... é um atendimento assim... nessa parte assim a gente não... não tem acesso muito!”

Não se importar com a dimensão espiritual é como desperceber o paciente no aspecto social e psicológico, o que é contraditório à proposta do atendimento integral42.

Um estudo realizado sobre os significados atribuídos por profissionais de enfermagem em psiquiatria à espiritualidade e sua relação com o cuidado, expõe a função da espiritualidade na experiência pessoal. Os profissionais alegaram que a espiritualidade influencia com seus significados como a forma que os sujeitos se comportam na vida, pois a espiritualidade tem a responsabilidade de preparar o sujeito para o desempenho dos papeis sociais e firmar constância, sendo necessárias práticas sagradas que os fortaleçam24.

A espiritualidade e religiosidade apresentam notória influência na saúde mental, devendo ser considerada pelo clínico, com o objetivo de compreender os aspectos biopsicossociais para auxiliar no alívio do sofrimento humano43, sendo assim, abordar

(24)

essas dimensões pode ser importante para a compreensão do usuário com sua saúde, visto que suas crenças podem interferir em suas decisões34.

A busca do usuário por amor nas instituições religiosas

Ao longo da coleta de dados deste estudo surgiu a percepção dos profissionais sobre a importância da reflexão dos motivos que levam os usuários à busca de apoio às instituições religiosas. Na discussão dos grupos focais foram compartilhadas questões emocionais dos usuários de álcool e drogas, possíveis motivos da dependência em drogas e a busca por tratamento em instituições religiosas, caracterizando ausência de afeto, apoio e a necessidade de aceitação e acolhimento.

USF 2 - 6: “[...] Porque assim, geralmente, os que eu conheço, que eu tenho

contato, que já foram... é... eles tem uma... uma carência assim enorme de amor mesmo! Uma deficiência no amor: Ou familiar, ou de pai, ou de mãe, ou de todos! Então, eu acredito que quando eles começam a seguir uma religião, eles veem que é... existe um ser maior, que no meu caso é Jesus Cristo, que ama eles mais que tudo!!! Então, quando a pessoa consegue sentir esse amor que ele nunca sentiu, eu acho que é a força que ele tem... Porque quando a gente se sente amado por alguém, a gente consegue tirar força, né, de onde a gente não via!!! Então, eu acredito que daí eles voltam... é... essa necessidade, essa carência, né, é suprida por um amor... que eles descobrem! Que é o amor de Deus, né?! O amor de Jesus! Então, na maioria... Na grande maioria das vezes, são... são pessoas que não tem família ou que tem, mas são rejeitados... são... né, não recebem o... o carinho, o amor que precisam, né?! Então...”

USF 2 – 3: “[...] colocar assim... o alívio da espiritualidade deles na religião,

né?! Trocaram, né?! Saíram da droga... e foram pra alguma religião pra se sentir... aliviados, né?! O que a droga oferecia de certa forma passa a ser oferecido pela religião! Pra suprir aquela carência, né?!

[...] quando eles saem o que eles encontram também quando vão pra alguma religião é esse convívio em comunidade! Eles sentem um amor de outras pessoas por eles!”

(25)

Koenig discorre sobre essa questão ressaltando que o modelo biopsicossocial ampliado se caracteriza pelo olhar de que os individuos apresentam não somente necessidades biológicas, psicológicas e sociais, mas também necessidades de esperança, de propósito de vida, de conexão consigo mesmo, com o próximo e com o transcendente, assim como a necessidade de se sentirem amados, inferindo como necessidades espirituais44.

Um dos pontos que são levados em consideração no processo de tratamento em instituições é que há uma convivência em comunidade sendo o principal instrumento terapêutico44. Essas instituições são denominadas Comunidades Terapêuticas (CTs)

e podem ou não estar vinculadas à religião, porém apresentam um modelo similar que envolvem crenças, verdades e práticas de autoajuda46.

O olhar positivo às questões vinculadas à religião, como sendo uma oportunidade de experimentar o viver em “família” foi evidente durante a discussão do grupo focal, essa ideia foi abalizada pelos participantes sobre a busca dos recursos religiosos para o tratamento.

USF 2 - 6: “[...] se a religião, ela é voltada pro bem! Então, as pessoas que

tão lá, né, na grande maioria das... da vezes, elas deveriam estar lá pelo bem! Então é essa convivência, de família mesmo, né?! Eles tão abertos à... recebe-los, né?! Então, da essa... essa ideia de que “o mundo tá me rejeitando, mas aquela religião tá me acolhendo”! Então, dá essa ideia de... de família mesmo! De viver junto, né?!”

As CTs atuam com um programa de tratamento específico, que pode durar de 6 a 12 meses de acordo com a instituição. Apresentam regras rígidas, seguindo o modelo de residentes geralmente isoladas geograficamente47. Algumas CTs, incluem

no tratamento uma rotina obrigatória para os residentes, que envolvem atividades laborais, terapêuticas e religiosas48. Estas abordagens evidenciam que há uma

distorção nas propostas das CTs, decorrente talvez da proliferação de instituições religiosas com atuações ambíguas46,49.

As CTs de cunho religiosos decidem a forma de recuperar os dependentes, baseando-se em um modelo moral, condenando o uso de drogas como um distanciamento de Deus e buscando a reabilitação através desta aproximação50. Há

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de que só estarão bem por meio da conversão religiosa. Consideramos esta questão limitante, pois não ajuda àqueles que não querem ou não conseguem se tratar nessa perspectiva51.

A imposição da religião na maioria das CTs, configura-se como doutrinação, o que limita o desenvolvimento de recursos além das questões religiosas52, condições

estas que encarceram a existência, detendo a subjetividade do indivíduo53.

Essas formas de atuação, centradas na abstinência e reclusão apresentam-se contraditórias a política de redução de danos do Ministério da Saúde, que propõe diminuir os riscos e danos em seus diversos contextos, considerando e respeitando o direito de escolha do indivíduo54,55,56. As práticas proibicionistas, como o confinamento

e abstinência, se tornam-se um combate que vai além do uso das drogas; são um combate ao indivíduo usuário57, já que o mesmoé percebido como um pecador49.

A busca por instituições não ligadas ao serviço público pode ser justificada por aspectos da percepção que muitos usuários têm do serviço e do tratamento, como medo de serem estigmatizados e maltratados pelos profissionais clínicos, percepção de distanciamento dos profissionais clínicos em relação aos usuários, falta de preparo e manejo do clínico ao lidar com os dependentes e imposição à abstinência e a comportamentos que os clínicos consideram adequados, o que não leva em consideração a subjetividade do indivíduo58,59. Outro desafio na rede de saúde mental,

é a dificuldade do cuidado compartilhado, não envolvendo setores e redes de cuidado que gera dificuldades para um atendimento acessível, acolhedor e integral60.

Apesar das Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) juntamente com os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras drogas (CAPS AD) preconizarem a organização para possibilitar o acesso, a garantia do cuidado em saúde que envolva a promoção de saúde, prevenção, tratamento e reabilitação psicossocial através do fortalecimento e desenvolvimento de práticas que promovam a vinculação familiar e participação social no território61, buscando atender as demandas de maneira

integrada encontra-se desafios que limitam esta atuação, desfavorecendo a autonomia do usuários, decorrente muitas vezes de seu estado vulnerável, preservando uma relação de dependência do serviço62.

Valorizar a autonomia do indivíduo em se tratar e respeitar as várias maneiras de viver a espiritualidade ou a religiosidade, são questões singulares que necessitam ser assimiladas na direção da construção dos tratamentos desses indivíduos63.

(27)

Apesar do relato da vivência dos profissionais da estratégia saúde da família em identificar a busca da recuperação por meio de comunidades terapêuticas de cunho religioso como um recurso positivo, apoiados nas percepções do viver em comunidade, da oportunidade de experimentar a vida em “família”, de suprir uma possível carência e falta de amor, é necessário o aprofundamento nas estratégias a serem tomadas e no respeito às singularidades e subjetividades do indivíduo.

(28)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os profissionais identificaram que a espiritualidade é uma questão importante no auxílio para a recuperação do usuário de álcool e outras drogas, independente se esta espiritualidade está vinculada ou não à uma religião. Porém, não é uma questão incorporada no planejamento do cuidado em saúde. A utilização desta dimensão no cuidado se dá frente a demanda do usuário, preferencialmente com os agentes comunitários de saúde devido ao acesso e vínculo. Quando surge essa demanda, os profissionais em geral, especialmente os ACS, agem de acordo com o que acreditam, muitas vezes a partir do senso comum.

A percepção dos profissionais sobre essas questões é de que o usuário encontra na espiritualidade e religiosidade apoio e acolhimento e a vivência em comunidade, o que motiva e empodera o resgate da autoestima, da vivência em família, do sentir-se amado e acolhido.

Para alguns profissionais esse é um grande fator de sucesso no processo de recuperação. O que evidenciou que os profissionais consideram importante, porém não utilizam desse recurso no planejamento do cuidado em saúde, o que gera espaço para atuarem com essa demanda a partir de conceitos empíricos.

As demandas descritas neste estudo podem contribuir com a reflexão sobre os desafios do enfrentamento e demandas advindas nos atendimentos dos usuários de álcool e outras drogas no que diz respeito a intensa busca do tratamento associado à religiosidade e espiritualidade dos usuários.

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3. Conclusão

Há uma mudança gerando quebra de paradigmas na contemporaneidade no que se refere a espiritualidade e religiosidade em saúde. Investigadas as vivências, percepções e significados dos profissionais sobre a dimensão espiritual e relação da religião no cuidado em saúde com o usuário de álcool e drogas, pode-se concluir que há evidências sobre o reconhecimento desta dimensão pelos profissionais, sua relevância na atenção primária e dos resultados positivos da integração da espiritualidade ao tratamento do usuário de álcool e drogas. As expressões revelam que a espiritualidade e religiosidade estão presentes na atuação dos profissionais, especialmente para aqueles que atuam em campo, inserindo-se no contexto ambiental e social do indivíduo, como os agentes comunitários de saúde, que evidenciaram maior acesso e vínculo com a comunidade. As informações representam que há demanda sobre esta temática, porém não é uma questão debatida no planejamento em saúde, o que propicia espaço para que os profissionais atuem a partir de conceitos empíricos, utilizando o senso comum. Foi relevante a surpresa das equipes de saúde quando foram comunicados sobre a temática da pesquisa, o que gerou questionamentos sobre o interesse nesta área, demonstrando ser um assunto não discutido entre eles. A atenção básica busca um cuidado com olhar ampliado e integral, para tanto se faz necessária a inclusão nos debates em saúde sob uma perspectiva multidisciplinar para enfrentar os desafios e demandas advindas nos atendimentos dos usuários de álcool e outras drogas no que diz respeito a intensa busca do tratamento associado à religiosidade e espiritualidade dos usuários.

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