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Vista do Quem é melquisedeque?: um estudo exegético de Hebreus 7:1 | Kerygma

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www.unasp.edu.br/kerygma p.56

www.unasp.edu.br/kerygma/monografia5.08.asp 56

TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO - 2006

QUEM É MELQUISEDEQUE?: UM ESTUDO EXEGÉTICO

DE HEBREUS 7:1

Wenderson Oliveira Barreto

Bacharel em Teologia pelo Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP TCC apresentado em dezembro de 2006

Orientador: Reinaldo W. Siqueira, Ph.D.

wendersinho@yahoo.com.br

RESUMO:Este trabalho tem como objetivo identificar uma das pessoas misteriosas da Bíblia: Melquisedeque. E para desvendar este mistério procuramos estudar o livro onde seu nome é mais mencionado, que é no livro de Hebreus. Afinal, quem é Melquisedeque? Seria um ser humano? Seria um anjo? Ou se trata do próprio Cristo? Mesmo que os exegetas, na sua maioria, interpretem como sendo um homem, podemos observar que durante os séculos nunca foi unânime esta posição. Entretanto, através deste estudo é proposto que este Rei-Sacerdote foi provavelmente um ser humano e que era contemporâneo de Abraão. PALAVRAS-CHAVE: Melquisedeque, sacerdócio celestial, sacerdócio terrestre, sacerdócio dos

primogênitos, sacerdócio dos levitas.

WHO IS MELCHIZEDEK?: AN EXEGETICAL STUDY OF HEBREWS 7:1

ABSTRACT:This research has as subject of its study one of the most mysterious personage

of the Bible: Melchizedek. With such a goal, we focused in the book where his name is mentioned most frequently than in any other of the Bible, i.e., the Book of Hebrews. Who was this Melchizedek? A man? An angel? Christ Himself? The opinions have been divergents along the centuries, and even today there is no consensus on the issue. Nevertheless, this study proposes that the view that this King-Priest was just a human being, contemporaneous to Abraham, is the opinion that do more justice to the biblical text and data.

KEYWORDS: Melchizedek; heavenly priesthood; earthly priesthood; priesthood of the

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QUEM É MELQUISEDEQUE?

um estudo exegético de Hebreus 7: 1

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Teologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo como requisito parcial à

obtenção da graduação no

Bacharelado em Teologia sob a orientação do Prof. Reinaldo W. Siqueira, Ph.D.

Engenheiro Coelho – S.P. Dezembro de 2006

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ii

de 2006, pela banca constituída pelos professores:

Prof. Reinaldo Wenceslau Siqueira, Ph. D. – Orientador

Prof. Wilson Luís Paroschi Cordeiro, Ph. D – Leitor Externo

(4)

iii INTRODUÇÃO ... 1 0.1. O problema ... 1 0.2. Metodologia ... 1 CAPÍTULOS I. REVISÃO DE LITERATURA ... 3

1.1. Um ser humano, um sacerdote cananeu ... 3

1.2. Um ser angelical ... 3 1.3. Conclusão parcial ... 4 II. O TEXTO ... 5 2.1. Delimitação da Perícope ... 5 2.2. O Texto da Perícope ... 5 2.3. Tradução ... 6 2.4. Conclusão parcial ... 7

III. CONTEXTO HISTÓRICO ... 8

3.1. Contexto Geral ... 8

3.1.1. O autor ... 8

3.1.2. Data e local... 8

3.2. Contexto específico ... 9

3.3. Conclusão Parcial ... 10

IV. CONTEXTO LITERÁRIO ... 11

4.1. Gênero Literário ... 11 4.2. Forma Literária ... 11 4.3. Estrutura Literária ... 11 4.3.1. Estrutura do Livro ... 11 4.3.2. Estrutura da Perícope ... 13 4.4. Figuras de Linguagem ... 14 4.5. Conclusão Parcial ... 14

V. ANÁLISE LÉXICO-SINTÁTICA E TEMÁTICA ... 15

5.1. Análise do contexto da palavra no verso ... 15

5.2. Análise do contexto da palavra na perícope ... 16

5.3. Contexto do livro e da Bíblia ... 17

5.4. Conclusão Parcial ... 19

VI. REAÇÃO CRÍTICA E REFLEXÃO TEOLÓGICA ... 20

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iv

CONCLUSÃO ... 22 BIBLIOGRAFIA ... 24

(6)

INTRODUÇÃO 0.1. O PROBLEMA

Em Hb 7:1 encontramos as seguintes palavras: “Porque este

Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão, quando voltava da matança dos reis, e o abençoou, ” (Almeida [trad.],

1993, p. 181). Quem é este Melquisedeque? Seria ele um ser humano? Seria ele um anjo? Ou seria ele o próprio Cristo?

O objetivo deste trabalho é compreender mais claramente quem foi esse Melquisedeque que aparece no texto acima. Para tanto, desenvolveremos uma exegese do texto na tentativa de uma definição de sua identidade à luz do contexto bíblico.

0.2. Metodologia

Para alcançar este objetivo, será empregado o método da “Leitura Atentiva” (Close Reanding) do texto. No primeiro capitulo, faremos uma revisão de literatura sobre as diversas interpretações existentes acerca da identidade de Melquisedeque.

No capitulo dois, avaliaremos o texto bíblico da passagem em questão. Primeiro demarcaremos a perícope na qual se encontra o nosso verso. Depois verificaremos o texto em si no intuito de identificar possíveis variantes e suas implicações para o texto. E concluindo, será fornecido uma tradução do texto da perícope averiguada.

No terceiro capitulo, discorreremos sobre o contexto histórico deste verso. Onde discutiremos a autoria, a data e o local onde foi escrito este livro. Entretanto será também investigado o contexto especifico da época em busca de resposta do ao nosso problema de pesquisa.

No capitulo quatro será averiguado o contexto literário, verificando qual é o gênero e a forma literária da perícope. Será também apresentada à estrutura do livro de Hebreus, e posteriormente a estrutura da perícope. Finalizando esta parte, serão analisadas as figuras de linguagem que aparecem no texto.

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No quinto capitulo faremos uma análise léxico-sintática e temática do texto em questão. Analisando o contexto da palavra no verso em que se encontra a problemática, e no contexto da perícope. Verificaremos também o seu sentido à luz do contexto mais amplo do livro de Hebreus e do restante das Escrituras.

No sexto capitulo, primeiramente faremos uma reflexão teológica acerca da contribuição desse estudo a diferentes áreas da Teologia. Nesse mesmo capitulo, nos posicionaremos criticamente diante das interpretações apresentadas no capitulo um desta pesquisa.

Finalizando, apresentaremos descobertas feitas ao longo desse trabalho e procuraremos responder as perguntas levantadas nessa introdução.

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CAPÍTULO I

REVISÃO DE LITERATURA

Ao fazer uma revisão da literatura sobre o assunto em questão, podemos observar que existem algumas correntes de pensamentos quanto à identidade de Melquisedeque. Devido sua obscuridade no texto de Hebreus, e da figura de Melquisedeque, tem-se apresentando diversas interpretações conjecturadas acerca do mesmo.

1.1. UM SER HUMANO, UM SACERDOTE CANANEU.

Para uma grande maioria de exegetas (Buttrick [ed.], 1962, v. 4. p. 343; Hagner, 1997, p. 120; Herry, 1989, p. 526; Owen, 1985, p. 112; Nichol [ed.], 1988, v. 7, p. 454; Trenchard, 1958, p. 87), Melquisedeque era um contemporâneo de Abraão que, provavelmente, foi rei da Jerusalém Cananéia. Ele era um ser humano que devido as suas qualificações de caráter e suas funções reais e sacerdotais, pode ser apresentado como um símbolo de Cristo.

1.2. UM SER CELESTIAL.

Nos círculos gnósticos dos primeiros séculos da era cristã se cria que o Melquisedeque apresentado em Hebreus era o anjo mais poderoso de toda a hoste celestial (Hippolytus, Refutation 7:36, Epiphanius, Panarion 55 )1. Na

obra Pistis Sophia (33a-35a, 179b-180a, 265b- 266a, 295b, 302a-b, 324b-325a)2 Melquisedeque aparece reinando sobre o mundo da luz como o Receptor da Luz. Alguns teólogos cristãos como Cunaeus, Ewald e McCaul (McCaul, 1871, p. 75, 80 )3 consideravam que Melquisedeque era a segunda

pessoa da Trindade, ou seja, o próprio Jesus Cristo. Mais recentemente Hanson (1965, p. 65, 82)4 também propôs a identificação de Melquisedeque com Jesus. 1 Apud Bruce, 1991, p. 159-160, n. 20. 2 id. 3 id. 4 id.

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1.4. CONCLUSÃO PARCIAL

Ao analisarmos vários exegetas do livro de Hebreus, podemos observar propostas divergentes acerca da identidade de Melquisedeque. Ainda que a identificação de Melquisedeque como um ser humano comum seja a interpretação predominante, a proposta de identificá-lo como um ser celestial (um anjo, ou o próprio Cristo) foi sempre recorrente ao longo do Cristianismo. A questão não é clara e não existe unanimidade sobre o assunto, fato que nos impulsiona à investigação desse problema.

(10)

CAPITULO II

O TEXTO

2.1. DELIMITAÇÃO DA PERÍCOPE

A perícope de nossa passagem é todo o capitulo sete de Hebreus. O motivo desta delimitação é o enfoque no tipo do sacerdócio de Cristo, um sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque, uma ordem superior à do sacerdócio levita. Essa perícope de Hebreus enfatiza que o sacerdócio superior de Cristo é um cumprimento da profecia biblica do Antigo Testamento.

A transição de perícope anterior para a de Hb 7 ocorre em Hb 6:20, onde encontramos a finalização de uma exortação, que é o conteúdo da perícope anterior. Nossa perícope começa uma seção de exposição das escrituras, focando o sacerdócio de Cristo segundo a ordem de Melquisedeque.

Já o capitulo 8 parece marcar o início de uma nova perícope, onde o enfoque passa do tipo de sacerdócio (Melquisedeque versus Levítico) para o ministério de Cristo no santuário Celestial, com uma especificação mais detalhada desse santuário versus o santuário terrestre.

2.2. O TEXTO DA PERÍCOPE

Ao analisar o texto grego no The Greek New Testament 4º ed. (Aland et al., 1983, p. 754), encontramos uma variante. A variante se encontra e em Hb 7 :215, e não traz nenhuma alteração a problemática ao texto.

Apesar de ter esta variante, iremos manter o texto como temos atualmente na Almeida revista e atualizada, 2ª edição.

5 {A}

εις τον αιωνα P46 B 01 50 33 81 436 24 2464 itb, comp, µ, r. vg syrpal. copsa, bopt arm //

εις τον αιωϖα κατα την ταζιν Μελχισεδεκ (see 7:17; Ps 110:4) א2 A D

Ψ 075 6 104 256 424 459 1175 1241 1319 1573 1739 1852 1881 1912 2127 2200 Byz [K L P] lect itar, d vgmss syrp, h copbopt eth geo slav Eusebius Chrysotom Theodoret // omit *א.

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2.3. TRADUÇÃO (Almeida, [trad. ], 1993, p. 181-184)

7: 1 Porque este Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo,

que saiu ao encontro de Abraão quando voltava da matança dos reis, e o abençoou,

2 para o qual também Abraão separou o dízimo de tudo (primeiramente se interpreta rei de justiça, depois também é rei de Salém, ou seja, rei de paz; 3 sem pai, sem mãe, sem genealogia, que não teve princípio de dias, nem fim existência, entretanto, feito semelhante ao Filho de Deus), permanece sacerdote para sempre.

4 Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu o dízimo dentre os melhores despojos.

5 E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar os dízimos do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que estes também tenham saído dos lombos de Abraão;

6 mas aquele cuja genealogia não é contada entre eles, tomou dízimos de Abraão, e abençoou ao que tinha as promessas.

7 Ora, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior.

8 E aqui certamente recebem dízimos homens que morrem; ali, porém, os recebe aquele de quem se testifica que vive.

9 E, por assim dizer, por meio de Abraão, até Levi, que recebe dízimos, pagou dízimos,

10 porquanto ele estava ainda nos lombos de seu pai quando Melquisedeque saiu ao encontro deste.

11 De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (pois sob este o povo recebeu a lei), que necessidade havia ainda de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão?

12 Pois, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei.

13 Porque aquele, de quem estas coisas se dizem, pertence a outra tribo, da qual ninguém ainda serviu ao altar,

14 visto ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, tribo da qual Moisés nada falou acerca de sacerdotes.

15 E ainda muito mais manifesto é isto, se à semelhança de Melquisedeque se levanta outro sacerdote,

16 que não foi feito conforme a lei de um mandamento carnal, mas segundo o poder duma vida indissolúvel.

17 Porque dele assim se testifica: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.

18 Pois, com efeito, o mandamento anterior é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade

19 (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual nos aproximamos de Deus.

20 E visto como não foi sem prestar juramento (porque, na verdade, aqueles, sem juramento, foram feitos sacerdotes,

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21 mas este com juramento daquele que lhe disse: Jurou o Senhor, e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre),

22 de tanto melhor pacto Jesus foi feito fiador.

23 E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque pela morte foram impedidos de permanecer,

24 mas este, porque permanece para sempre, tem o seu sacerdócio perpétuo. 25 Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, porquanto vive sempre para interceder por eles.

26 Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime que os céus;

27 que não necessita, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez por todas, quando se ofereceu a si mesmo.

28 Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens que têm fraquezas, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, para sempre aperfeiçoado.

2.4. CONCLUSÃO PARCIAL

Neste capitulo verificamos que o tema central da perícope é o sacerdócio de Cristo segundo a ordem de Melquisedeque, e o relacionamento desse tipo de sacerdócio com o levítico. Dentro da nossa perícope encontramos uma variante textual que não interfere no entendimento do problema. O estudo desse capitulo nos ajudou a delimitar o espaço e conteúdo textual primário que será o foco de nossa pesquisa na busca de respostas quanto a identidade de Melquisedeque segundo o livro de Hebreus.

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CAPITULO III CONTEXTO HISTORICO 3.1 CONTEXTO GERAL

3.1.1. O AUTOR.

Ao pesquisarmos sobre a autoria do livro de Hebreus, observamos que

há uma grande discussão a respeito da real identidade do autor (Bíblia de

estudo Genebra, 1999, p. 1463). Vejamos algumas possibilidades: na igreja

oriental, no período de Clemente de Alexandria (150-215 d.C.) e de Orígenes (185-253 d.C.), a epístola foi atribuída a Paulo, mesmo tendo conhecimento da diferença estilística entre o livro de Hebreus e os escritos paulinos. Entretanto, na igreja ocidental, no período do teólogo Tertuliano (155-220 d.C.), a autoria foi atribuída a Barnabé, um levita da dispersão judaica, notório por encorajar as pessoas. Lucas e Clemente de Roma também foram nomes sugeridos à autoria de Hebreus nesse mesmo período histórico. Mas nos séculos posteriores, séc. V ao XVI, a autoria de Paulo foi aceita tanto no oriente como no ocidente. Quando analisamos o período da Reforma, encontramos Lutero propondo Apolo como autor do livro, um judeu cristão de Alexandria, eloqüente na pregação. Já no período moderno encontramos três sugestões: Priscila, Epafras e Silas.

Embora seja difícil eliminar muito destas propostas, também é difícil encontrar uma evidência convincente a favor de muitas delas. Averiguando o ponto de vista da tradição primitiva, Paulo é o que tem mais chances de ser o autor, todavia, como Calvino observou, Hebreus difere do estilo paulino (id.).

3.1.2 DATA E LOCAL

Dentro da epístola aos Hebreus não existe nenhuma evidência histórica clara que nos ajude a estabelecer a data exata de sua composição. Entretanto, podemos estabelecer os limites prováveis dizendo que não pode ter sido escrito depois de 95 d.C., pois nessa época Clemente de Roma já o havia

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citado em sua epístola a Corinto. Se admitirmos que ela foi escrita pelo apóstolo Paulo, provavelmente deve ter sido composta antes de 64 d.C., quando, acredita-se, ocorreu seu martírio (Allen, 1987, p. 16).

As informações acerca da localidade também são insuficientes. Qualquer opinião acerca do assunto se apresenta como mera conjectura. Com relação aos destinatários, encontramos algumas posições não conclusivas: (1) Nos manuscritos do Novo Testamento consta o titulo “Aos Hebreus”. Desta forma, para os que acreditam nesta posição, evidencia-se que o endereço refere-se aos judeus cristãos helenistas da diáspora (Laubach, 2000, p. 20). Outros têm opinião diversa. Para Moffat e Scott os destinatários foram os cristãos gentios. Eles insistem que o escritor não estava referindo-se à apostasia ao judaísmo, mas à apostasia em relação ao Deus vivo. A freqüência de citações do Antigo Testamento não significa, necessariamente, que os ouvintes originais eram judeus, pois o escritor cria que o Velho Testamento era para todos os cristãos (Allen, 1987, p. 17-18). Outros comentaristas defendem que Hebreus foi escrita para os cristãos, em geral não tendo em vista judeus ou gentios. O argumento é que a tentação é comum a todos: “esfriar”, “perder o interesse” e se tornarem “andarilhos religiosos”. Para estes estudiosos o título “Hebraious” é apenas simbólico, pois, esta palavra significa peregrino ou viajante (ibid, p. 18). Concluindo esta seção, alguns críticos apóiam a idéia de que a carta foi endereçada a Roma devido à quantidade de evidências externas e internas. Para eles, a epístola foi primeiramente conhecida e citada nesta localidade e, visto que assim aconteceu durante a ultima década do séc. I, demonstra que a epístola deve ter ali chegado numa etapa bem recuada de sua transmissão (Guthrie, 1984, p. 24).

Concluímos então que a data, o local e os destinatários estão carregados de incertezas.

3.2. CONTEXTO ESPECÍFICO.

No judaísmo do primeiro século e no judaísmo rabínico podemos encontrar diferentes pontos de vista com relação à pessoa de Melquisedeque.

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Segundo a literatura de Qumrãn (11QMelch), os essênios aparentemente o consideravam como um elevado ser angelical, ele era o ser encarregado de executar o juízo divino, estava a cargo da expiação dos pecados do povo, e servia de sacerdote no contexto celestial (Bromiley [ed.], 1986, v. 3, p. 313).

Shurer (1985, p. 712) descreve a visão dos essênios acerca de Melquisedeque e precisa que ele era retratado como o presidente do juízo final onde condenará seu adversário Belial ou Satãn. Para Shurer, o manuscrito essênico além de alastrar luz valiosa sobre a figura de Melquisedeque, traz também luz sobre a epístola aos Hebreus e sobre o desenvolvimento do conceito messiânico no Novo Testamento e no cristianismo primitivo.

Dentro da diáspora, nos tempos de Jesus, encontramos a pessoa de Filo. Filo foi um filosofo judeu-helenístico que correlacionou a Bíblia com a filosofia Grega. Este pensador que utilizava a interpretação alegórica, identificou Melquisedeque como sendo uma manifestação do “logos” divino (Laubach, 2000, p. 114).

Para um grupo de exegetas judeus do circulo rabínico do primeiro século, o Melquisedeque a quem Abraão tinha pagado os dízimos era Sem. Para eles, o filho de Noé ainda estava vivo no período do patriarca Abraão e continuou vivo por mais 25 anos após a morte do patriarca (Freedman [ed.], 1992, v. 4, p. 686).

3.3. CONCLUSÃO PARCIAL

Ao analisarmos os tópicos deste capítulo encontramos muitos pontos não conclusivos. Com relação à autoria, à datação e aos destinatários infelizmente não temos possibilidade de chegarmos a um denominador comum, pois todas estas questões são incertas. Quanto ao contexto específico encontramos várias interpretações antigas sobre a figura de Melquisedeque no meio judaico do primeiro século, algumas muito pertinentes à compreensão do texto de Hebreus. Mas continuaremos este trabalho para melhor esclarecimento sobre o assunto.

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CAPITULO IV CONTEXTO LITERÁRIO 4.1 GÊNERO LITERÁRIO

O gênero literário analisado é um dos mais complexos que encontramos em toda a Bíblia. Todavia, podemos sugerir que esse documento é mais uma

homilia do que outro gênero literário (Hale, 2001, p. 355).

4.2 FORMA LITERÁRIA

Dentro da pericope podemos encontrar apenas uma forma literária, ela aborda toda a pericope de Hb 7: 1-28. A forma literária encontrada é a

exposição da escritura (Barley e Van Der Broek, 1992, p. 192).

4.3. ESTRUTURA LITERÁRIA

4.3.1. Estrutura do livro (extraída de Laubach, 2000, p. 28-30). Primeira seção: A gloria da pessoa de Jesus, Hb 1:1-5:10

1. A gloria do filho de Deus, Hb 1:1-4

2. A superioridade do filho de Deus sobre o anjos, Hb 1:5-14 3. A superioridade do filho do homem sobre os anjos, Hb 2: 1-18

• A magnitude de nossa responsabilidade, Hb 2: 1-4 • Humilhação e exaltação do filho do homem, Hb 2: 5-18

4. A superioridade de Jesus sobre Moisés, construtor do tabernáculo, Hb 3: 1-19

• A superioridade do filho sobre o servo, Hb 3: 1-6

• A migração de Israel pelo deserto como exemplo que adverte a igreja, Hb 3:7-19

5. A superioridade de Jesus sobre Josué, o guia de Israel até Canaã, Hb 4: 1-13

• Desafio para ouvir com fé as promessas de Deus, Hb 4: 1,2 • As promessas do descanso de Deus para a igreja, Hb 4: 3-11

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• A eficácia da palavra de Deus, Hb 12,13

6. A superioridade de Jesus sobre Arão, o primeiro sumo sacerdote, Hb 4: 14-5:10

7. Primeira exortação: Advertência contra a apostasia, Hb 5:11-6:20 • Critica da imaturidade espiritual, Hb 5: 11-14

• A impossibilidade de renovar o arrependimento, Hb 6: 1-8

• Encorajamento para perseverar nas promessas de Deus, Hb 6: 9-20

Segunda Seção: A obra de Jesus, seu serviço como eterno sumo sacerdote, Hb 7: 1-10:18

8. A superioridade do sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque sobre o sacerdócio levítico segundo a ordem de Arão, Hb 7: 1-28

• Melquisedeque e Abraão, Hb 7: 1-3

• A superioridade de Melquisedeque sobre Abraão e Levi ao receber o dizimo Hb 7: 4-10

• O novo sacerdócio demanda uma nova ordem de sacerdotes, Hb 7: 11-17

• A confirmação do sacerdócio melhor pelo juramento, Hb 7: 18-28 9. Jesus Cristo como Sumo Sacerdote celestial tornou-se o mediador da

nova aliança melhor, Hb 8: 1-13

10. A limitação temporal e terrena do tabernáculo e de suas ordens, Hb 9: 1-10

11. O cumprimento de todos os sacrifícios, exemplos e promessas do AT pelo único sacrifício de Cristo, Hb 9: 11-28

12. O sacrifício de Jesus efetua perdão, santificação e perfeição, Hb 10: 1-18

13. Segunda exortação: Convocação para a fidelidade na fé, Hb 10: 32-39 • Fidelidade ao testemunho, Hb 10: 19-25

• Advertência sobre o pecado proposital, Hb 10:26-31 • Exortação para a persistência, Hb 10:32-39

Terceira Seção: Fé e santificação da igreja, Hb 11: 1-12:29

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• O testemunho de fé dos antigos, Hb 11: 1-7 • O caminho de fé dos patriarcas, Hb 11: 8-22 • O poder de fé de Moisés, Hb 11: 23-29

• Força eficaz da fé diante de Jericó, Hb 11: 30,31 15. Vitória e sofrimento da fé, Hb 11: 32-40

16. Luta de fé como meio pedagógico de Deus, Hb 12: 1-11

17. Vigilância espiritual incansável na vida de santificação, Hb 12:12-29 18. Terceira exortação: Discipulado no cotidiano, Hb 13: 1-21

19. Encerramento da carta: Saudação e voto de graça, Hb 13: 22-25.

4.3.2. Estrutura da perícope (adaptada de Laubach, 2000, p. 28-30).

1. Melquisedeque e Abraão, 7: 1-3.

2. A superioridade do Sacerdote de Cristo com relação ao sacerdócio levítico, 7: 4-10.

A. Abraão paga os dízimos a alguém superior, 7: 4.

B. A lei manda pagar dízimos aos descendentes de Levi, 7: 5.

C. Os dízimos foram pagos a alguém que não participava da descendência, 7: 6.

D. A benção vem sempre do superior e não o contrario, 7: 7-9. E. A condição superior de Melquisedeque com relação a Levi, 7: 10. 3. O novo sacerdócio demanda uma nova ordem de sacerdotes, 7: 11-17.

A. A importância de um novo sacerdócio, 7: 11.

B. As leis que regem os dois tipos de sacerdócio, 7: 12-16. C. A confirmação do sacerdócio, 7: 17.

4. A confirmação do sacerdócio melhor pelo juramento, 7: 18-28.

A. A inferioridade da antiga aliança, e a exaltação da esperança superior, 7: 18-19.

B. O sacerdócio sem juramento e o com juramento, 7: 20-22. C. Sacerdócio de Cristo é eterno, 7: 23-24.

D. O único meio de salvação, 7: 25. E. O único sacerdote perfeito, 7: 26-28.

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4.4. FIGURAS DE LINGUAGEM

Em nossa perícope encontramos algumas figuras de linguagem. Tais figuras são responsáveis por embelezar a pericope analisada. Em Hb. 7:4 encontramos uma hipérbole. Essa figura tem o objetivo de dar um destaque exagerado a quem é pago o dízimo: o sacerdote (Bullinguer, 1990, p. 601).

Em Hb 7: 8 encontramos duas figuras de linguagem: a elipse e a

enálage. A primeira tem como alvo omitir os nomes dos personagens em

questão. A segunda tem como objetivo alterar o tempo verbal. O propósito de utilizar esta figura é para dar mais vida à narração. Então se usa o tempo no presente e vez do pretérito. Desta forma, o texto deve ser entendido da seguinte forma: “Assim como Melquisedeque foi sacerdote por toda vida (quando ele era mortal), assim também é Cristo, segundo a sua ordem, é sacerdote por toda sua vida, a qual é eterna. Portanto, é sacerdote para sempre” (ibid., p. 104).

4.5. CONCLUSÃO PARCIAL

Verificamos que neste capitulo o gênero provável é a homilia. Com relação à forma literária encontramos uma exposição da escritura na perícope. Na estrutura literária, constatarmos que a ênfase principal é Cristo como sumo sacerdote, e o tipo do seu sacerdócio em relação ao sacerdócio levítico. Ao analisarmos também as figuras de linguagem, podemos averiguar que possuem diversas figuras para o embelezamento do texto. Todavia, a figura de linguagem que nos deu uma pista de como devemos interpretar o texto de Hb. 7:8, foi à figura enálage. Esta figura nos indica que devemos utilizar o tempo presente na tradução do verso indicando assim a situação mortal de Melquisedeque. Desta forma, a figura dá indício de que ele era um humano comum. Entretanto para não chegar a uma posição precipitada continuaremos a desenvolver este trabalho de pesquisa.

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CAPITULO V

ANÁLISE LÉXICO-SINTAXE E TEMÁTICA

Iremos fazer uma análise léxico-sintática e temática do nosso verso, onde encontramos o problema do nosso trabalho: Melquisedeque.

“Μελχισεδεκ”- Esta palavra é um nome próprio indeclinável (Rusconi, 2003, p. 300).

5.1. O CONTEXTO DA PALAVRA NO VERSO

Ao analisarmos o contexto no verso, podemos observar que o texto possui três partes. A primeira parte é: “rei de Salém”. Salém tem sido identificada com Jerusalém apoiada na referência bíblica de Sl. 76: 2, e pela antiga citação a essa cidade nas cartas de Tell el-Amarna, do século XIV a.C. As inscrições assírias refere-se a ela muito antes dessa cidade ter qualquer coisa a ver com o povo de Israel, mediante os nomes Uru-salem e Uru-salimmu (Champlim, v. 1, 2001, p. 4735).

A segunda parte é: “sacerdote do Deus altíssimo”. O título aqui aplicado a Deus é encontrado não somente em Gn 14: 18, como também em Dt 32: 8 e em diversos outros lugares no Antigo Testamento, principalmente no livro de Salmos. Chama atenção ao caráter exaltado de Deus. Qualquer sacerdócio é analisado de acordo com a classe da divindade que é servida, o que significa que Melquisedeque deve ter sido de um indivíduo muito exaltado (Guthrie, 1984, p. 146).

E a terceira parte é: “Quem saiu ao encontro de Abraão, quando voltava da matança dos reis, e o abençoou,...”. O encontro entre Melquisedeque e Abraão aconteceu na conclusão da participação de Abraão num conflito entre duas confederações de reis. A vitória notável de Abraão, no entanto, não é o que ocupa o interesse do autor, mas, sim, o fato dele ser abençoado por Melquisedeque, o que imediatamente colocou este último numa posição de superioridade a Abraão. Isto em si mesmo teria sido respeitado como uma alta

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dignidade pelos judeus cristãos, bem como pelos judeus ortodoxos, não-cristãos, que tinham altíssima estima por Abraão (ibid., p. 147).

5.2. O CONTEXTO DA PALAVRA NA PERÍCOPE

A perícope consiste em quatro seções. O objetivo central desta parte é indicar a pessoa do sacerdote e a posição que lhe dá este direito de exercer as funções. A princípio são apresentadas as descrições do rei e sacerdote, que neste caso, possui as mesmas semelhanças de Cristo. Depois de descrever a pessoa de Melquisedeque, são mostrados argumentos dizendo o motivo do sacerdócio de Melquisedeque ser superior aos demais.

Podemos dividir o verso 2 em duas partes para melhor explicá-lo: (1) a primeira parte fala que “Abraão pagou dízimos de tudo a Melquisedeque”, o autor continua a identificação da figura misteriosa de Melquisedeque. O motivo dessa atitude de Abraão constitui uma expressão de sua dependência e gratidão a Deus. O objetivo principal do autor é explicar o acontecimento básico. (2) Na segunda parte do verso dois, encontramos uma interpretação do nome Melquisedeque. Na Bíblia quando é mencionado um nome, certamente não é citado por mero acaso, porquanto possui algum significado. O autor de Hebreus interpreta o nome Melquisedeque como significando: “rei da justiça” e “rei da Salém, ou seja, rei da paz”. Estes nomes são conhecidos como sinais da soberania messiânica. Aquilo que o nome de Melquisedeque representa alcançou consumação plena em Jesus Cristo (Laubach, 2000, p.115).

O centro da problemática acerca da identidade de Melquisedeque é o verso 3. Para entendermos este verso devemos notar que o escritor está afirmando mais pontos do que é encontrado no Antigo Testamento. O autor, aparentemente, usa um método de interpretação bíblica comum no pensamento rabínico do judaísmo antigo, segundo o qual: “o que não consta na Torá, não existe no mundo!” (id.).

O fato do texto bíblico de Gênesis não apresentar as origens de Melquisedeque e nem o seu fim torna esse personagem um mistério. O autor de Hebreus, então, elabora sobre o silêncio do Antigo Testamento acerca do nascimento e morte de Melquisedeque, e sobre a falta de informações

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genealógicas a seu respeito (“sem pai, sem mãe, sem genealogia”) para mostrar que ele é de uma ordem totalmente diferente. O fato do Antigo Testamento não indicar o inicio e o fim da vida de Melquisedeque faz dele um representante do sacerdócio eterno. Isto é confirmado no verso 8 que diz “dele se testifica que vive”; no verso 16 onde é dito que “Ele é sacerdote segundo o poder indissolúvel”; e finaliza no verso 24 onde é declarado que ele representa “um sacerdócio permanente e imutável” (id.).

Contudo, ao aproximar do fim de seu raciocínio o autor esclarece mais a questão: “Feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote perpetuamente”. Esta é a parte que ele dá mais ênfase; Melquisedeque foi semelhante ao Filho do Deus. Cristo é a imagem original, nele persiste a eternidade e a verdadeira ordem sacerdotal; Melquisedeque é a réplica, que aponta por sua vez ao cumprimento pleno do sacerdócio em Cristo ( Sl 110: 4: “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”). Melquisedeque é o personagem terreno antítipo desse sacerdócio eterno, a sombra na qual não se perdeu nada do seu conteúdo da imagem original. Devido a isto é que o sacerdócio de Melquisedeque é eterno (ibid., p. 117; Bruce, 1990, p. 160, n. 22).

5.3. CONTEXTO DO LIVRO E DA BÍBLIA

Duas linhas de sacerdócio dominam o pensamento do livro de Hebreus. Existe uma linha terrena, que vai de Abraão até Arão e seus descendentes, passando por Levi, e outra linha representada por Melquisedeque. A linha sacerdotal segundo Melquisedeque desemboca no Messias vindouro, ela apontava para Cristo e seu sacerdócio celestial (ver a discussão em Hb 4: 14-10: 25).

Seria Melquisedeque, no entanto, o único exemplo vetero-testamentário dessa linha de sacerdócio messiânica? Seria ele o “exemplo precoce” do sacerdócio de Cristo, como sugere Laubach (2000, p. 117)?

Ao analisarmos o tema do sacerdócio nas Escrituras encontramos dois períodos distintos: 1) do Éden ao Sinai e 2) o sacerdócio desde o Sinai e até Cristo.

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O sacerdócio no período entre o Éden e o Sinai funcionava através do sistema da primogenitura. A escritora Ellen G. White explica essa questão: “Nos tempos primitivos cada homem era o sacerdote de sua própria casa. Nos dias de Abraão, o sacerdócio era considerado direito de primogenitura do filho mais velho” (White, 1996, p. 210). É provavelmente dentro desse sistema que vemos personagens como Noé (Gn 8: 20-21); Jó ( Jó 1: 5; 42: 8); e o próprio Abraão (Gn 12: 8; 13: 18; 22: 9-13) exercendo funções sacerdotais, e que personagens como Reuel/Jetro eram reconhecidos sacerdotes de Deus (Êx 2: 16; 3:1; 18: 1-12).

Foi posteriormente que o Senhor escolheu a tribo levita para a obra do santuário. Por meio desta honra distinta, Deus manifestou Sua aprovação à fidelidade da mesma em sua prontidão em executar o juízo de Deus quando Israel apostatou com o culto ao bezerro de ouro (Êx 32: 25-29).

O texto Bíblico deixa claro que os levitas foram tomados no lugar dos primogênitos de cada família israelita para o serviço religioso ao Senhor, segundo o que está relatado em Nm 3: 40-45. Deste momento em diante se deveria pagar um resgate por todo o primogênito que nascesse de uma família israelita, pois ele naturalmente pertencia ao Senhor e à classe sacerdotal (Êx 13: 2; 18: 15). O valor que eles deveriam pagar era de cinco ciclos (cf. Nm 3: 46-47; 18: 15-16).

Mesmo com o sacerdócio levita em vigor, podemos encontrar pelo menos um exemplo claro de exercício de sacerdócio através da primogenitura no caso de Samuel, que foi consagrado ao oficio sacerdotal sem ser levita (I Sm 1: 11; 22-28; 2: 18-19). É provavelmente dessa linha do sacerdócio da primogenitura que Melquisedeque servia como sacerdote do Deus Altíssimo em Salém (Gn 14: 18-20).

Chegamos então à conclusão: primeiramente o sacerdócio era exercido pelos primogênitos e posteriormente pela tribo de Levi. Os descendentes de Levi, filho de Jacó, foram separados para exercer a funções sagradas, por uma iniciativa positiva de Deus (Nm 1: 50). Eles foram chamados para tomar o lugar dos primogênitos (Nm 3: 12; 8: 16).

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Todavia, devemos entender que o sacerdócio dos primogênitos como os dos levitas são inferiores ao sacerdócio Celestial. A única diferença que podemos encontrar aqui é que o sacerdócio dos primogênitos representa melhor o Messias, sendo a tipologia original vinda do Éden e confirmada pela profecia de Sl 110. Foi por este motivo que o escritor fez esta comparação, utilizando conhecimentos antigos sobre sacerdócio, neste caso referindo-se à figura de Melquisedeque, para ilustrar aos destinatários de sua carta que o sacerdócio levita não era o que solucionaria o problema humano e sim um maior, neste caso da ordem de Melquisedeque, a qual prefigurava o sacerdócio eterno de Cristo (Vaux, 2003, p. 397).

5.4. CONCLUSÃO PARCIAL

Este capítulo foi determinante para solução do problema desta pesquisa. Em primeiro lugar, é apresentada a descrição da pessoa de Melquisedeque para que os leitores se familiarizassem com o nome. Ele foi provavelmente rei da Jerusalém Cananéia, sendo assim um ser humano. Em segundo lugar, podemos encontrar diversas peculiaridades entre os sacerdotes Melquisedeque e o de Cristo. Já que o livro de Hebreus faz uma alternância entre céu e terra fica clara então o paralelo entre esta duas pessoas. Cristo sendo o sacerdote celestial e Melquisedeque o representante terrestre desse tipo de sacerdócio. Entre eles poderíamos destacar alguns pontos comuns, são eles: sem genealogia; sacerdócio perpetuo; e não tinham nem início ou fim de dias. E em terceiro lugar o sacerdócio de Melquisedeque foi usado em Hebreus para mostrar que o sacerdócio dos levitas não se adequaria à pessoa de Cristo. O único que adequaria a esta situação era um sacerdócio segundo a linha de Melquisedeque, que provavelmente seguia a linha de sacerdócio dos primogênitos. Assim, o Messias prometido viria segundo a ordem de Melquisedeque (cf. Sl 110) e não segundo a ordem dos levitas. Desta forma podemos concluir que a figura de Melquisedeque era a figura humana que mais claramente exemplificou o sacerdócio de Cristo no Antigo Testamento.

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CAPITULO VI

REFLEXÃO TEOLÓGICA E REAÇÃO CRÍTICA À LITERATURA 1. REFLEXÃO TEOLÓGICA

A principal contribuição deste trabalho está nas áreas da Tipologia e da Cristologia. Melquisedeque é a figura humana que melhor ilustrou o tipo do sacerdócio de Cristo. Em especial nossa pesquisa chamou atenção para a linha do sacerdócio dos primogênitos como sendo possivelmente a linha do sacerdócio de Melquisedeque e a prefiguração original do sacerdócio celestial de Jesus.

2. REAÇÃO CRITICA A LITERATURA

Ao analisarmos o debate acerca da identidade de Melquisedeque em Hebreus, no primeiro capitulo dessa investigação, encontramos duas correntes de pensamento: um ser humano; ou um ser celestial (anjo ou o próprio Jesus). Contudo, a posição mais coerente com os dados que encontramos neste trabalho é a de que ele foi um ser humano contemporâneo de Abraão.

Os pontos que temos a favor desta posição são: (1) Em Hb 7: 8 descobrirmos a figura de linguagem enálage. Esta figura tem como objetivo desfigurar o tempo verbal. De se aplicar o templo verbal no pretérito, empregar-se o tempo preempregar-sente (preempregar-sente histórico). Com estas explicações o texto empregar-seria assim explicado: “Assim como Melquisedeque foi sacerdote por toda vida (quando ele era mortal), assim também é Cristo, segundo a sua ordem, é sacerdote por toda sua vida, a qual é eterna. Portanto, é sacerdote para sempre”. (2) O verso três de Hebreus sete diz: “...Feito semelhante ao filho de Deus”, se é feita a semelhança do Filho automaticamente ele não pode ser o filho, pois são duas pessoas distintas.

A questão da identidade humana de Melquisedeque foi bem resumida por Ellen White:

“O Melquisedeque a quem Abraão pagou os dízimos era um homem. Deus nunca deixou-Se a Si mesmo sem testemunhas sobre a terra. Antigamente

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Melquisedeque representou pessoalmente ao Senhor Jesus Cristo, a fim de revelar a verdade do Céu, e perpetuar a lei de Deus. Era Cristo que falava por meio de Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo. Melquisedeque não era Cristo, mas era a voz de Deus no Mundo, o representante do Pai”

(Nichol [ed.], 1988, v. 1, p. 1106-1107), grifo nosso.

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CONCLUSÂO

No primeiro capitulo fizemos uma revisão de literatura e descobrimos que os autores se dividem em dois grupos. O primeiro grupo, uma maioria, defende a idéia que Melquisedeque foi um sacerdote cananeu. O segundo grupo, uma minoria, se subdivide em duas idéias: (1) que ele era o próprio Cristo; ou (2) que ele era um anjo poderoso.

No segundo capitulo delimitamos nossa perícope, e precisamos que ela é todo o capitulo 7 de Hebreus. Ao analisarmos as variantes, encontramos uma, porém, ela não implicava em nenhuma alteração para a compreensão do texto. Concluímos o capitulo apresentado uma tradução do texto da perícope.

No terceiro capitulo, analisamos o contexto histórico geral e o especifico da nossa passagem, e vimos que nas questões acerca do autor, da data e dos destinatários são totalmente cobertos de incertezas. Com relação ao contexto especifico encontramos muitas posições acerca da pessoa de Melquisedeque no judaísmo antigo: um Anjo; Sem (filho de Noé); o arcanjo Miguel.

No quarto capitulo averiguamos o gênero literário e o identificamos como

homilia. Quanto à forma literária da perícope podemos observar que ela é uma exposição da escritura. Verificamos a estrutura literária do livro como um todo e

da perícope em particular. Um ponto relevante nesse capitulo foi a identificação da figura de linguagem enálage em Hb 7: 8. Isto nos ajudou na identificação de Melquisedeque como um ser humano.

O quinto capitulo foi de suma importância para a solução de nosso problema de pesquisa. O estudo das palavras e do verso no contexto da perícope e do livro de Hebreus evidenciou a natureza humana de Melquisedeque. Um dos pontos cruciais foi o estudo de Hebreus 7: 3 onde é dito que Melquisedeque era semelhante ao filho de Deus, se é semelhante, é parecido, mas não a mesma pessoa. Concluímos então que Melquisedeque era um tipo e que Cristo o antítipo, ou seja, duas pessoas distintas. Vimos também que o sacerdócio de Melquisedeque foi utilizado em Hebreus para explicar que o sacerdócio dos levitas não se adequava à pessoa de Cristo. Havia necessidade de um sacerdócio mais apropriado à pessoa de Cristo, e o

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único que se ajustava a esta situação era o sacerdócio dos primogênitos, cujo o maior representante teria sido Melquisedeque, o sacerdote-rei da Jerusalém Cananéia. Assim, o Messias prometido, seria segundo a ordem de Melquisedeque (cf. Sl 110) e não segundo a ordem dos levitas.

No capitulo seis refletimos sobre a continuação de nossa pesquisa para as áreas da Tipologia e da Cristologia. Fizemos também uma analise critica das interpretações apresentadas no capitulo um à luz das conclusões alcançadas neste trabalho.

Por fim, podemos responder às perguntas levantadas na introdução: Quem é este Melquisedeque? Seria ele um ser humano? Seria ele um anjo? Ou seria ele o próprio Cristo? As duas ultimas perguntas devem ser respondidas com uma negação. Melquisedeque não era um anjo, nem Jesus. A análise do texto bíblico, em seu contexto, nos indicou que ele era meramente um contemporâneo de Abraão que servia ao Deus altíssimo como sacerdote, mas cuja linhagem sacerdotal representava o Messias que haveria de vir e se tornar o Rei-Sacerdote Celestial.

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Referências

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