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Vista do Efeito das crises familiares no comportamento alimentar | Acta Científica. Ciências Humanas

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Academic year: 2021

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Gediney Cavalcante Correia Calheiros

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Luiza Catiane Sant’ana Luz De Oliveira

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Vanessa Alves Dos Reis

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Lanny Cristina Burlandy Soares

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Vandeni Clarice Kunz

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Resumo: A família é uma importante instituição que compõe a sociedade.

Tradicionalmente era representada por pai, mãe e filhos, porém atualmente surgiram outros tipos de famílias como as monoparentais, homossexuais e famílias chefiadas por mulheres. Em muitos casos, a mulher que está à fren-te da família faz parfren-te também do mercado de trabalho. Sua participação no mercado permitiu muitas conquistas profissionais, realização pessoal e financeira. Mesmo trabalhando fora acumulou as funções de profissional, mãe, dona de casa e esposa, tendo assim em muitos casos uma sobrecarga. Esta sobrecarga e as alterações que a família sofreu, podem ser a causa dos conflitos familiares. Devido a seus múltiplos papéis e a pressão emocio-nal por estes fatores a mulher pode desenvolver a ansiedade. Por sua vez

1 Pós-graduada em Aconselhamento Familiar e Intervenção Psicossocial. E-mail: mlcccalheiros@ig.com.br 2 Pós-graduada em Aconselhamento Familiar e Intervenção Psicossocial. E-mail: lcatiane@yahoo.com.br 3 Pós-graduada em Aconselhamento Familiar e Intervenção Psicossocial. E-mail: alvesnutri@hotmail.com

4 Doutora em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas (2008). Mestre em Ciências Médicas pela

Uni-versidade Estadual de Campinas (2002). Graduada em Ciências Biolígicas Bacharelado Modalidade Médica pela Univer-sidade de Santo Amaro (1989). E-mail: lanny.soares@ucb.org.br

5 Pós-Doutora pela Universidade Federal de São Carlos. Doutora em Fisioterapia pela Universidade Federal de São

Car-los (UFSCar 2012). Mestre em Fisioterapia pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP-2008) na linha de pes-quisa: Processos de Intervenções Fisioterapêuticas nos Sistemas Cardiovascular, Respiratório, Muscular e Metabólico. Pós-graduada em Fisioterapia Dermato Funcional pelo Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino (2006). Graduada em Fisioterapia pela Universidade Paranaense (2004). E-mail: vandeni.kunz@ucb.org.br

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a ansiedade pode levá-la a comer demasiadamente para aliviar suas emo-ções e assim desenvolver transtornos alimentares como o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) podendo ainda ter consequências como a obesidade que atinge em maior grau a mulher. As reflexões desta revisão ressaltam a importância da boa relação familiar, da preservação da qualidade de vida para a mulher, a resiliência familiar e a espiritualidade para auxiliar no tratamento e prevenção destes problemas.

Palavras-chave: Família; Mulher; Conflitos; Ansiedade.

Abstract: The family is an important institution that makes up society.

Traditionally it was represented by father, mother and children, but now there were other types of households as single-parent families headed by homessexual gay and women. In many cases, the woman who is the head of the family is also part of the labor market. Its market share has allowed many professional achievements, personal and financial. Even working out accumulated the functions of professional, mother, wife and homemaker, and thus in many cases an overload. This overload and changes that the family suffered, may be the cause of family conflict. Due to their multiple roles and emotional pressure by these factors a woman can develop anxiety. In turn anxiety can get her to eat excessively to relieve their emotions and thus develop eating disorders such as binge eating disorder (BED) and may also have consequences such as obesity wich reaches a greater extent of women. The results of this review highlight the importance of good family relationship, preserving the quality of life for women, family resilience and spirituality to assist in the treatment and prevention of these problems.

Keywords: Family; Woman; Conflicts; Anxiety.

Introdução

A família é uma importante instituição que compõe a sociedade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a família é um conjunto de pessoas que estão ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica e os componentes que residem num mesmo local, com regras, crenças e mitos compartilhados (IBGE, 2003).

Algumas mudanças ocorreram na estrutura familiar com o passar dos anos, sendo que anteriormente o modelo de família era patriarcal representado por pai como prove-dor, mãe como cuidadora e filhos sendo submissos. E essa funcionava como uma matriz de

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desenvolvimento psicossocial dos componentes da mesma, unida pela cultura e a própria na-tureza (MINUCHI, 1982; ROUDINESCO, 2003).

Em contrapartida, atualmente as famílias não são compostas apenas por pessoas hete-rossexuais, mas também por homossexuais. Segundo a visão de Mello (2006), é uma suposta família anormal, porém hoje em alguns lugares já é reconhecido por lei esse tipo de constitui-ção familiar, inclusive gerando direitos ao companheiro como por exemplo assistência médica (NEVES, 2008).

Outra mudança tem sido em relação ao número de componentes, sendo a família com-posta de apenas mãe e filho, pai e filhos, avó e neto denominando-se monoparental (IBGE, 2003; SANTOS; SANTOS, 2009). Segundo o IBGE houve um crescimento significativo nas famílias chefiadas por mulheres: de 10,3 milhões para 18,5 milhões entre os anos de 1996 a 2006. Esses dados mostram que de alguma forma a mulher teve que assumir o papel que antes era exercido pelo esposo e em muitos casos ser também a provedora financeira.

Dentro deste aspecto da mulher como provedora, observa-se outra importante mudança familiar, que foi a participação das mulheres no mercado de trabalho. Dias e Rezende (2009), afirmam que está inserção teve início com a primeira e segunda guerra mundial, onde pela ausência do homem em casa, a mulher assumiu a posição ocupada anteriormente pelo esposo. Vale considerar que apesar de ocupar o lugar do esposo a mulher continuava cuidan-do das atividades cuidan-domésticas e cuidan-dos filhos exercencuidan-do múltiplos papéis como mãe, profissional, dona de casa e esposa (GOMIDE, 2009; REZENDE; PEREIRA, 2011). Neste contexto, com a mulher assumindo vários papéis, a atenção não está voltada apenas para a família, mas sua atenção é dividida, podendo assim levá-la a uma má qualidade de vida devido à sobrecarga destas funções (AQUINO et al., 1995).

Esses e outros aspectos podem contribuir com o desenvolvimento de um clímax mui-to comum na sociedade moderna, as crises familiares. Estas crises podem ser representadas por algumas dificuldades como, incompatibilidade de gênios, dificuldades financeiras, falta de tempo com a família e dificuldade com a divisão das tarefas domésticas (CERVENY, 2001; COLLINS, 2004). As consequências destas dificuldades podem se dar de variadas for-mas: gritos, negligência de atenção, maus tratos como violência física, provocando maior desestrutura psicológica, desde uma baixa autoestima, quadros de ansiedade, depressão, uso de drogas e até mesmo o suicídio (CERVENY, 2001). Collins (2004) e Holmes (2007) afirmam também que a ansiedade é uma consequência muito comum que pode ocorrer devido aos conflitos.

Segundo Freud (1976), a ansiedade é definida como um estado afetivo, com combina-ções de alguns sentimentos de prazer-desprazer.  Pode ainda ser entendida como uma sensa-ção que gera insegurança, preocupasensa-ção e inquietasensa-ção servindo de sinal de alerta frente aos perigos, podendo se tornar nociva se o nível for intenso (COLLINS, 2004).

De acordo com o manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM – IV – TR, 2002), dentro dos transtornos da ansiedade estão os seguintes: transtorno de pânico sem agorafobia, transtorno de pânico com agorafobia, agorafobia sem histórico de transtorno de

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pânico, fobia específica, fobia social, transtorno obsessivo – compulsivo, transtorno de estres-se pós-traumático, transtorno de estresestres-se agudo, transtorno de ansiedade generalizada, trans-torno de ansiedade devido a uma condição médica geral, transtrans-torno de ansiedade induzido por substância e transtorno de ansiedade sem outra especificação.

Kinrys e Wygant (2005), afirmam que as mulheres apresentam um risco maior se comparado aos homens de desenvolver ao longo da vida os transtornos da ansiedade, sendo ainda maior também nas mulheres a gravidade dos sintomas, maior cronicidade e prejuízo funcional (ANDRADE et al., 2006). Para aliviar os sintomas de ansiedade a mulher pode re-correr a variados tipos de fuga, como compras, sexo, trabalho e alimentar. Capitão e Tello (2004) ressaltam que a ansiedade é um subproduto muito comum diante dos conflitos, gera um desconforto que pode ser camuflado no ato do comer em demasia e esse tem se apresenta-do como um apresenta-dos grandes vilões provocaapresenta-dores de aumento de peso em mulheres. Por sua vez, o comer compulsivo nas mulheres associa-se a experiências negativas, tais como a raiva, tris-teza, solidão e exaustão, favorecendo o quadro de depressão e o aumento de peso, acarretando maiores riscos à saúde principalmente em pessoas com idade maior de 30 anos (CAPITÃO; TELLO, 2004; MANCINI, 2010).

Este ato de comer em grande quantidade para aliviar a ansiedade pode se tornar um ci-clo vicioso, podendo desenvolver um transtorno que está se tornando comum em mulheres, o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP),(BERNARDI et al., 2005; ESPÍNDOLA; BLAY, 2006).Esse tipo de transtorno também pode ser caracterizado como transtorno da ali-mentação sem outra especificação (DSM-IV-TR), sendocitado apenas no apêndice do DSM--IV-TR, pois ainda é fonte de pesquisa. É caracterizado por crises nas quais o indivíduo ingere rapidamente uma grande quantidade de alimentos atrelado com comportamentos que demons-tram descontrole e sofrimento significativo devido sua compulsão (DUCHESNE, et al., 2007). Infelizmente o descontrole alimentar pode ser uma das causas frequentes da obesidade. Embora o peso não seja o critério para diagnosticar esse tipo de transtorno, ele está intimamente relacio-nado ao sobrepeso e a diversos graus da obesidade. Aproximadamente 30% das pessoas obesas que buscam tratamento apresentam tal desordem (DUCHESNE et al, 2007).

Segundo a Whorld Health Organization (WHO, 2000) a obesidade é uma doença ca-racterizada pelo aumento da massa corporal do indivíduo, com um Índice de Massa Corporal (IMC) superior que 30 Kg/m². Esse tipo de medida relaciona o peso corporal (em kilogramas) com a altura ao quadrado (peso dividido pela altura² – em metros). Os valores normais se encontram entre 18,5 Kg/m² e 24,9 kg/m²; sobrepeso de 25,0 a 29,9, obesidade grau I 30,0 – 34,9, obesidade grau II de 35,0 a 39,9 (severa) e obesidade grau III ou mórbida maior que 40,0. Sotelo et al. (2004) apresentam a obesidade como uma doença crônica por excesso de gordura corporal ocorrendo concomitantemente devido a fatores de risco genéticos e ambientais. Essa doença atualmente já é considerada um problema de saúde pública. Segundo a WHO (2000) a obesidade é um fator de risco para desencadear outras enfermidades como o diabetes, doenças cardiovasculares e câncer.

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O aumento da prevalência da obesidade é notável de acordo com o Estudo em Despesa Familiar (ENDEF) que entre os anos de 1974 a 1975 verificou nos homens um aumento na prevalência da obesidade de 2,8%; já nas mulheres de 7,8%. Comparando esses dados com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008 a 2009 houve um aumento significati-vo apresentando um percentual de 12,4% nos homens e 16,9% nas mulheres. Utilizando as pesquisas acima se observou um aumento de 4,4 e 2,2 vezes na prevalência de obesidade em homens e mulheres em um período de 35 anos. É importante salientar que esse aumento foi significativo considerando que esse dado é recente (IBGE, 2009).

Embora o TCAP possa ser um risco para o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade, pode ser tratado com auxílio de terapias, como a terapia cognitiva comportamental (TCC), uma vez que Duchesne et al., (2007) através de pesquisa, observaram que indivíduos que par-ticiparam de encontros, onde os mesmos refletiam sobre seu estado e atitudes, obtiveram uma melhora significativa.

Para a minimização deste problema que envolve a mulher, os conflitos familiares e a ansiedade que pode resultar em obesidade, entende-se que além da eficácia da terapia, a re-lação familiar é fundamental. Kusma (2004) afirma que os membros da família são os meios mais importantes na função de suprir as necessidades psicológicas e que o apoio psicológico previne o surgimento de problemas emocionais. Este apoio pode envolver alguns itens como saber ouvir, observar o tom de voz em família, ouvir atentamente o que não foi dito em pala-vras, conter as emoções, ver a realidade dos fatos, pensar em soluções e estimular o diálogo. A família que age dentro do sistema de apoio mútuo enfrenta menos discussões e contendas (PELT, 1998). Melgosa, (2010) acrescenta ainda itens como melhora da qualidade de vida e espiritualidade para contribuir com a diminuição da ansiedade.

White (2000) relata que alcançar a devida compreensão da relação familiar é obra da vida inteira. Portanto, as crises familiares sempre existirão, mas é importante saber mediar e solucionar os conflitos. Considerando que os problemas familiares são geralmente comuns e intensos principalmente para as mulheres, observa-se que estes podem afetar os indivíduos de diversas maneiras.

Esta revisão busca compreender a relação entre a ansiedade da mulher diante de sua múltipla jornada atrelada aos conflitos e o desenvolvimento de transtornos, levando a obesi-dade. Busca, também, considerar como os membros da família podem contribuir para que seja evitada a sobrecarga da mulher.

Metodologia

O presente trabalho trata de uma revisão crítica de literatura. Selecionamos livros na Biblioteca do Centro Universitário Adventista de São Paulo, Campus Engenheiro Coelho. Também buscamos artigos nos periódicos da Biblioteca acima citada e fizemos busca em sites acadêmicos e nos sites da Scielo, Lilacs e do google. Escolhemos artigos que serviram como

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argumento para fundamentar a problemática e também nos permitiu um conhecimento mais profundo do assunto. Portanto, os artigos selecionados apresentaram temas relacionados à família, mulher, conflitos familiares, ansiedade e obesidade.

A distribuição dos capítulos adotada buscou favorecer a compreensão do tema partindo da problemática discorrendo para o desenvolvimento e considerações finais. Buscamos des-crever os conceitos de família e principalmente a função da mulher na família e na sociedade. Considerando o papel da mulher na sociedade, descrevemos os possíveis problemas e con-sequências que acometem as mulheres modernas e finalmente mencionamos as alternativas para solucionar os conflitos enfrentados pela família e pela mulher. Desta forma foi possível alcançar o objetivo do trabalho.

Família

Segundo IBGE (2003) o estilo tradicional de família é a nuclear, que é uma unidade doméstica constituída por vínculos de parentesco entre duas gerações compostas por pais e filhos biológicos ou adotados, tipo de família mais comum nos séculos anteriores. O modelo patriarcal que constituía a família do século anterior, ligada por laços sanguíneos ou afetivos em que os componentes moravam numa mesma casa, cujos membros eram: pai como prove-dor, mãe, cuidadora dos filhos e do esposo e devia irrestrita obediência ao marido; e os filhos submissos aos pais (ROUDINESCO, 2007).

Para o Direito Civil (1511 a 1783 CC/2002), essa antiga estrutura constituía o complexo envolvendo princípios que vão desde a celebração do casamento, sua validade e os efeitos deste. Neste contexto há uma união por laços de amor fraternal entre pais e filhos com reciprocidade de sentimentos, em que os pais se esforçam para educar e cuidar dos filhos (KOWALIK, 2007). Apesar de a família ser considerada uma sociedade natural formalizada através do ma-trimônio, o aparecimento de novas configurações tem se expandido, evoluindo para diferentes modelos bem distantes do conceito preconizado pela Organização das Nações Unidas, que ressalta um relacionamento amoroso entre pais e filhos (KOWALIK, 2007). Uma destas novas configurações é a família homossexual (MELLO, 2006; ROUDINESCO, 2007).

A família homossexual segundo Kowalik (2007) constitui um tipo que “desafia as es-truturas milenares”, essa conformação é constituída por pessoas do mesmo sexo ligadas por vínculos afetivo-sexuais, podendo inclusive adotar filhos ou até mesmo utilizar a tecnologia reprodutiva como, por exemplo, a inseminação artificial (MELLO, 2006). Esse tipo de con-figuração familiar tem reconhecimento consolidado nos artigos 3º e 5º da Constituição da República, tendo autorização plena de suas as opções sexuais (NEVES, 2008).

Mesmo nos modelos em que a conformação ainda perdura em mãe, pai e filhos, também ocorreram mudanças. A mulher que tinha como responsabilidade comum de cuidar dos filhos e atividades domésticas passou a ter uma maior participação na renda familiar, trabalhando

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fora de casa, e devido a ausência de quem outrora cuidava dos filhos, passou a ter outros cui-dadores como babás, professoras nas creches e escolas (MELLO, 2011).

Foi no final do século IXX que a família brasileira apresentou tais mudanças desde a economia e até a sua composição. Na pesquisa do censo demográfico do IBGE do ano 2000, 81,25% da população transitou para a área urbana que antes era em sua maioria da área rural. Assim os trabalhadores tiveram suas opções de trabalho aumentadas, favorecendo assim a

inserção da mulher no mercado de trabalho (ROUDINESCO, 2007).

Até o século IXX não era comum ver a mulher no mercado de trabalho, um número mui-to pequeno estava presente no campo profissional. Com o passar do tempo este quadro mudou, muitas saíram de seus lares para ir trabalhar concedendo a mulher conquistar um espaço na

sociedade em que vivemos. Esta entrada no mercado de trabalho se deu, portanto, após a I e II

guerras mundiais pela ida dos homens para as frentes de batalhas, levando as mulheres saírem de suas casas e assumirem a posição de seus maridos (DIAS; REZENDE, 2009; WALSH, 2005). Os dados do IBGE (2010) revelam que em 2009, 35,5% das mulheres e 43,9 dos homens possuíam carteira assinada. Em 2011, a taxa de desocupação entre as mulheres foi de 7,5%, menos da metade daquela verificada em 2003 que era de 15,2%. O IBGE (2010) apresenta ainda um dado significativo em relação à escolaridade da mulher mostrando que em 2003 uma mé-dia de 44,7% das mulheres que eram ocupadas tinham 11 anos ou mais de estudo e no ano de 2009 esta porcentagem aumentou para 59,8%. Esses dados indicam que a mulher além de ter uma profissão, também saiu em busca de estudar, aprimorando ainda mais suas qualidades e se especializando em diversas áreas.

Atualmente as mulheres não são apenas donas de casa, mas também estão a frente de escolas, universidades, empresas, cidades e, até mesmo, países, a exemplo da presidenta Dilma Roussef, primeira mulher a assumir o cargo mais importante da República no Brasil e Cristina Kirchner na Argentina. Esta conquista profissional permitiu a muitas mulheres a satisfação de conseguir se sustentar, de ter alcançado uma excelente posição financeira, permitindo assim viver sem a dependência do esposo. Além disso, há a satisfação financeira com a realização pessoal (SZAPIRO; CARNEIRO, 2002).

Mesmo conquistando seu espaço na sociedade, a mulher ainda luta pelos seus direitos de igualdade. Diversos são os meios que a apoiam e a defendem para que continuem prosse-guindo como, por exemplo, o Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres (CNDM), que foi criado em 1985, vinculado ao Ministério da Justiça, para promover políticas que visassem eliminar a discriminação contra a mulher e assegurar sua participação nas atividades políti-cas, econômicas e culturais do país (Site Oficial, 1985). Da mesma forma, o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres após a I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (I CNPM), em julho de 2004, contemplou também o objetivo de promover a igualdade entre mulheres e homens.

Muito embora tenha havido avanços na conquista profissional, Oliveira (1992), sobre a questão de igualdade, ressalta que as mulheres são diferentes dos homens, porque em seu íntimo estão outros valores: a ênfase no relacionamento interpessoal, a atenção e o cuidado

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com o outro, a proteção da vida, a valorização da intimidade e do afetivo e a gratuidade das relações. A identidade feminina provém de intimidade com os outros, portanto, as mulhe-res são mais intuitivas, sensíveis e empáticas, o que pode levá-las ao sentimento de divisão em que mergulham, quando se veem obrigadas a confrontar seu modo de ser com as exi-gências de sucesso no mundo dos homens onde se destaca a agressividade, competitividade, objetividade e eficiência.

Mulher como provedora, educadora e dona de casa

Considerando a entrada da mulher no mercado de trabalho, sua busca pela igualda-de, pelo aprimoramento profissional, realização financeira e pessoal, é possível observar que houve ausência do lar. Suas atividades domésticas e a educação dos filhos teriam então, a atenção dividida, viu-se então a dona de casa sair para trabalhar e deixar os filhos nas escolas e creches. Creches e pré-escolas, devido a demanda do número de crianças e exigência por parte dos pais, tem apresentado um crescimento educacional significativo. Este crescimento acompanha alterações na estruturação e organização familiar, gerando dificuldade por parte dos pais na educação dos filhos, pois estes não possuem tempo suficiente para dedicar-lhes a atenção que precisam (MELLO, 2011).

Gomide (2009), em sua pesquisa sobre a influência da profissão no estilo parental ma-terno percebido pelos filhos, que envolveu a participação de 160 jovens de ambos os sexos com idade de 12 a 24 anos, filhos de mulheres formadas em direito, engenharia, medicina e psico-logia, mostrou que houve um alto índice de negligência afetiva e educacional, por parte das mães, pois seus filhos não sentiam que estavam sendo cuidados. Esses resultados mostram que as mulheres profissionais aparentemente não estão sendo capazes de conciliar adequadamente suas funções profissionais com as maternais.

Por causa da transição entre o tradicional e o moderno, a família encontra-se imersa a um certo mal-estar no que diz respeito a educação de seus membros. O im-portante papel da profissionalização feminina estimula a desestruturação familiar. Ao saírem em busca de trabalho para uma melhora financeira e melhor qualidade de vida, os pais correm o risco de prejudicar o bem-estar físico, emocional e afetivo dos filhos, pois devido à distância dos membros sobrevêm outros substitutos como a escola, a televisão e a rua (BUCHER, 1999).

Gomide (2009), afirma ainda, que em muitas famílias alguns homens se mantiveram apenas como provedores, enquanto as mulheres são sobrecarregadas com a função também de provedora, exercendo os cuidados maternos e as atividades domésticas.  Além destas ativi-dades, a conquista da mulher fez também com que indiretamente ela se ocupasse em outras atividades como a rotina de fazer compras, pagar contas, enfrentar os trânsitos nas grandes cidades, entre outros.

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A mulher procura exercer todos os papéis tais como, mãe, profissional, dona de casa e esposa com toda excelência possível (REZENDE; PEREIRA, 2011). Porém, de alguma forma esta sobrecarga pelo desgaste físico destas atividades e como citado anteriormente os conflitos familiares, podem gerar uma pressão sobre a mulher podendo acarretar má qualidade de vida e apresentar riscos à sua saúde (AQUINO et al., 1995).

Por todo o histórico que a mulher criou e conquistou ao longo dos anos, a maneira em que apresenta sua inteligência, força física, poder de influência e decisão sobre o mundo, não há dúvidas de que se pode ir ainda mais longe, porém, resta saber qual será o preço a ser pago pela própria sociedade. A mulher moderna, profissional, provedora e cuidadora é uma reali-dade atualmente. Suas novas atribuições podem levar a grandes conquistas, mas podem trazer consequências para a sua saúde, no relacionamento conjugal e também na educação dos filhos. Muitas situações estressantes da vida como os conflitos familiares podem resultar em fortes sintomas de depressão e ansiedade (MARGIS et al., 2003).

Ansiedade – Definição

A ansiedade, emoção muito comum no mundo moderno, pode se originar de diversos fatores, mas como já citado pode também ser resultante de conflitos (COLLINS 2004; HOL-MES 2007). Segundo Freud (1967), a ansiedade é um sintoma precedente de impulsos reprimi-dos considerareprimi-dos como uma reação de demandas inconscientes e que se pode reagir frente a tais com descontrole. Ela é derivada de conflitos internos e se dá inconscientemente. Ele ainda identifica três tipos de ansiedade: ansiedade objetiva que se origina de ameaças do mundo exterior, ansiedade moral que se origina do medo de punição do superego e ansiedade neuró-tica que é o medo de que o superego não será capaz de controlar o id e que o comportamento inaceitável irá agir impetuosamente (HOLMES, 2007).

Collins (2004) confirma que a ansiedade é uma sensação que gera insegurança, preocupação e inquietação. Ela pode ser confundida com o medo, no entanto, é uma emoção estimulada por situações de perigo real. Os dois sentimentos podem ser con-siderados como patológicos quando são exagerados (WILINGTON; CABALIER, 2009; HOLMES, 2007; CERVENY, 2001). Diante de situações que provocam ansiedade, o cor-po tem reações de alerta, como: aumento do ritmo cardíaco, aumento da pressão san-guínea os músculos se distendem e até mesmo as expressões faciais se alteram (RANGÉ

et al., 2011; COLLINS, 2004).

A WHO (1992) e o DSM-IV-TR entre os transtornos de ansiedade apontam os seguintes: transtorno do pânico com ou sem agorafobia, a agorafobia sem histórico de transtorno do pânico, fobias sociais, fobias específicas, ansiedade generalizada, transtorno do estresse agudo, transtorno do estresse pós – traumático, transtorno obsessivo – compulsivo, transtorno de adaptação, transtorno de ansiedade devido a uma condição médica geral, transtorno de ansie-dade induzido por substância e transtorno de ansieansie-dade sem outra especificação.

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Fisiologia da ansiedade

A ansiedade pode surgir por uma questão biológica. Collins (2004) relata que pode ser devido ao prolapso da válvula mitral que é uma pequena anomalia cardíaca encontrada em 5 a 15% da população adulta, especialmente entre mulheres. Na questão que envolve as estruturas cerebrais, considera-se que diferentes estruturas estejam envolvidas nas diversas sensações de emoção, no entanto, ressaltaremos apenas alguns aspectos a respeito da ansiedade.

No sistema límbico que é responsável por controlar as emoções e participar das fun-ções de memória e aprendizado, Venâncio et al., (2008), cita quatro importantes áreas para o entendimento das emoções.O primeiro diz respeito ao córtex que recebe e comunica infor-mações das sensações; o segundo é o hipocampo que não participa diretamente do circuito das emoções, mas está ligado no processamento da informação, consolidando a memória de conteúdo emocional e por isso pode influenciar na temporização da resposta ao medo; o terceiro é o hipocampo que inicia a conversão das emoções recebidas em manifestações fisiológicas e por último a amígdala que para o sistema límbico é uma estrutura de extrema importância no controle das emoções e mais especificamente nas respostas ao medo. Para o medo e a ansiedade ocorre o mesmo processo, porém na ansiedade as manifestações fisioló-gicas ultrapassam o sistema nervoso autônomo e ativam o sistema endócrino e imunológico, por isso os estímulos são mais duradouros.

O local no sistema límbico onde se inicia essas reações é no giro cingulado ou giro do cíngulo. Ele está situado na parte anterior do córtex. Nesta região, um grupo de neurotrans-missores como a noradrenalina, dopamina e serotonina, altamente interconectados atuam de maneira intensa no desenvolvimento de expressões das motivações e emoções (VENÂNCIO et al., 2008). Em um estudo realizando exames de neuroimagem foi verificado que a mulher tem o córtex anterior do giro do cíngulo maior em relação aos homens (MANN et al, 2011). Devido a essa diferença no tamanho do córtex feminino Kinry e Wygant (2005), nos Estados Unidos verificaram que as mulheres possuem um risco significativamente mais alto de desenvolver os transtornos da ansiedade, com sintomas mais intensos, quando comparadas aos homens.

Possíveis consequências das múltiplas funções,

os conflitos e a ansiedade na saúde da mulher

Eventos estressores da vida como infidelidade, relação do casal, necessidades de manu-tenção do emprego, aposentadoria, criação dos filhos, ameaças de separação, agressões físicas e situações maritais humilhantes podem resultar significativamente em sintomas de depres-são e ansiedade na mulher (MARGIS et al., 2003).

Os problemas de ordem psicológica podem afetar grandemente a vida da mulher. White (2000), afirma que o cérebro é o órgão e instrumento da mente, e controla todo o corpo. Para

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as outras partes do organismo serem sadias, o cérebro deve ser sadio. Os fatores emocionais estão diretamente ligados com a saúde, pois um nível de estresse alto além de diminuir o siste-ma imunológico pode ter influência psicológica, afetando seus relacionamentos seja de ordem profissional ou familiar.

De acordo com Andrade, et al. (2006), as doenças de ordem psicológicas como trans-tornos de ansiedade, transtrans-tornos depressivos e transtrans-tornos alimentares tem se agravado em maior grau nas mulheres. Dentro do aspecto da ansiedade, muitas mulheres recorrem a meios para aliviar suas emoções podendo desenvolver compulsões por compras, por sexo e prin-cipalmente alimentar, levando a um ganho de peso. Capitão e Tello (2004), ressaltam que muitas mulheres buscam o alimento como fuga para aliviar a ansiedade. Estresse e emoções negativas têm sido relacionados com desequilíbrios na ingestão alimentar (BERNARDI et al., 2009; CARNEIRO, 2009).

Dentre estes desequilíbrios estão os transtornos alimentares, dois são muito conhecidos: anorexia e bulimia nervosa. No caso da anorexia ocorre uma perda de peso muito significativa, devido a baixa ingestão de alimentos, por dietas muito rigorosas, buscando intensamente a magreza. O indivíduo que tem anorexia distorce a sua imagem corporal. Em contrapartida, na bulimia ocorre uma alta e rápida ingestão de alimentos com sensação de perda de controle. Nesse caso, há uma visão equivocada do bulímico, porque ele pensa ter descoberto o ideal de corpo e por isso pode comer descontroladamente. Em seguida esse indivíduo provoca o vô-mito e sente estar fazendo algo anormal e fica angustiado. Essa sensação o faz voltar a dietas rigorosas e um momento posterior repete o quadro (PHILIPPI; ALVARENGA, 2004).

Além dos transtornos que envolvem a anorexia e bulimia nervosa, destacaremos um transtorno que está em estudo, muito comum em mulheres que ocorre também por este dese-quilíbrio alimentar: o transtorno compulsivo alimentar periódico (TCAP) caracterizado pela ingestão de uma grande quantidade de alimentos em um intervalo de tempo aproximadamen-te 2 horas, devido ao estresse ou sentimentos negativos. Após a ingestão seguem sentimentos de culpa, tristeza e perda de controle (BERNARDI et al., 2009; BERNARDI, CICHELERO; VITOLO, 2005; VIANA, 2002).

Um estudo feito por Bernardi et al. (2009), relaciona o ciclo circadiano com o TCAP. O ciclo circadiano é responsável por controlar a sincronização entre comportamentos, sistemas fisiológicos e moleculares responsáveis pelo controle do processo alimentar. Os ritmos circa-dianos, ciclo sono/vigília e comportamento alimentar, são regidos por um relógio interno de 24h. Quando ocorrem alterações nestes sistemas, essas refletem significativamente no apetite, saciedade e ingestão alimentar, podendo levar ao desenvolvimento de transtornos alimenta-res, como síndrome do comer noturno (SCN) e transtorno compulsivo alimentar periódico (TCAP), sendo associados, em muitos estudos, com IMC elevado, humor deprimido, estresse e ansiedade (BERNARDI et al., 2009). Devido à sobrecarga que a mulher exerce, podem ocorrer alterações neste ritmo circadiano, desenvolvendo assim estes transtornos relacionados.

Bernardi et al. (2009), ressalta ainda que importantes hormônios estão ligados a sin-cronização do ritmo circadiano. Alguns desses hormônios, que são liberados principalmente

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à noite a nas primeiras horas do dia, são: a leptina que atuando no sistema nervoso central, permite a redução da ingestão alimentar e o aumento do gasto energético, além de ter outras funções; a grelina que também além de outras funções, está envolvida na sinalização dos cen-tros hipotalâmicos que regulam a ingestão alimentar e o balanço energético; e o cortisol que está envolvido na resposta ao estresse e pode ter uma função importante no comportamento alimentar. Portanto, quando há uma alteração do sono pode haver uma redução nos níveis de leptina, aumento dos níveis de grelina, cortisol e aumento do apetite e a preferência por alimentos mais calóricos.

Estes transtornos quando não resolvidos podem resultar em outro fator que é a obesi-dade. Rangé et al. (2011) aponta uma estatística de 7,5% a 30% de indivíduos obesos devido ao TCAP. A obesidade é classificada pela WHO (2000), utilizando-se o IMC, sendo que são con-siderados valores normais entre 18,5 a 24,9 kg/m²; sobrepeso de 25,0 a 29,9 kg/m²; obesidade grau I 30,0 a 34,9 kg/m²; obesidade grau II (severa) de 35,0 a 39,9 kg/m² e obesidade grau III ou mórbida maior que 40,0 kg/m².

Morgan, et al, (2002), em uma pesquisa de revisão salienta a relação entre a obesidade e fatores psicológicos. Muitos estudos dessa natureza enfatizam que distúrbios alimentares estão associados com o sobrepeso e obesidade. Eles denotam importante comorbidade para a medicina pois acarreta risco elevado para graves doenças como hipertensão, diabetes, doença cardiovascular até mesmo alguns tipos de câncer. A prevalência da obesidade aumenta com a idade, especialmente nas mulheres (BARLOW et al., 1999).

É imprescindível entender o estado de ansiedade, entender a verdadeira origem do pro-blema e solucioná-lo, pois, de acordo com Vasques, Azevedo e Martins (2004), os propro-blemas de ordem emocional são geralmente consequências da obesidade, mas que também os conflitos e problemas psicológicos podem preceder o desenvolvimento da mesma.

Família, ansiedade e solução de conflitos

Diante dos conflitos, existem alguns meios para solucioná-los. No caso do descontrole alimentar, Duchesne et al. (2007) destaca a terapia cognitiva comportamental (TCC), afir-mando que esta pode apresentar melhoras nos sintomas psicopatológicos, na autoestima, di-ficuldades interpessoais, humor, qualidade de vida e sentimento de bem-estar (BARLOW, 1999). Observa-se, portanto, a importância da intervenção profissional nestes casos, pois

os fatores psicológicos devem ter especial atenção ou ainda quando necessário, uma equi-pe multidisciplinar poderá contribuir grandemente para ajudar na resolução do problema (BERNARDI et al., 2005). No caso dos conflitos familiares, pode destacar-se também o con-selheiro com um papel primário.

Além da importância da terapia, alguns itens são importantes para diminuir os níveis da ansiedade e os problemas que procedem da mesma. Melgosa (2009) cita os seguintes: fa-lar sobre os problemas, praticar relaxamento para aliviar a tensão, respirar adequadamente,

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procurar grupos de autoajuda e alimentar-se adequadamente. Sabe que alguns alimentos são estimulantes como café, chocolate, chá preto, refrigerantes, carne e bebidas alcoólicas, portan-to, nesta fase é importante que a mulher os evite e prefira os cereais integrais, frutas frescas como banana, frutas secas, entre outros, pois estes irão ajudar a diminuir a ansiedade (ROGER, 2006). Ter uma qualidade de vida saudável é fundamental para a melhora da mesma.

É importante ainda que as tarefas do lar e demais atividades sejam divididas entre os membros para que a mulher tenha a sobrecarga dividida, pois Rezende e Pereira (2011), afir-mam que os múltiplos papéis que a mulher desempenha pode lhe trazer riscos para a saúde e fatores emocionais. Segundo White (2010), a família firme é um sagrado organismo social, em que cada membro deve desempenhar sua parte, um ajudando ao outro. A obra do lar deve mover-se suavemente, como as diferentes partes de uma máquina bem regulada. De acordo com White (2010), cada indivíduo que compõe a instituição familiar deve se sensibilizar e realizar tarefas no lar com o fim de não sobrecarregar alguns membros.

Para a minimização dos problemas que envolvem a mulher, os conflitos familiares e a presença da ansiedade que pode como consequência resultar em obesidade, observa-se que além da eficácia da terapia, a relação entre a família é fundamental. Os membros da família são os mais importantes para suprir as necessidades psicológicas tanto no tratamento quanto na prevenção. Este apoio envolve ter uma boa comunicação, conter as emoções, pensar juntos em soluções e estimular o diálogo. Quando a família usa deste apoio enfrenta menos discussões e contendas (KUSMA, 2004; PELT, 1998). Assim, o convívio familiar é o local onde se podem viver cada momento intensamente e marcante. É no lar onde é possível a convivência dos sen-timentos do amor e do ódio, da alegria e da tristeza, do desespero e da esperança (WAGNER, 2002; WAGNER; LEVANDOWSKI, 2008).

Através de pesquisas realizadas por várias décadas, e experiências vividas, ficou concluído que a família com uma formação mais sólida, evitando o esgotamento emocional é o veículo mais potente no processo de socialização dos filhos. Essa é a maior e melhor herança, pois favorece o fortalecimento cognitivo frente às crises presentes na vivência do dia-a-dia (ELZO, 2001).

A resiliência que é a capacidade de superar as dificuldades da vida, deve também fazer parte entre os membros da família. A capacidade de reconciliação é determinada não tanto pelo problema que houve, mas da vontade de se reconciliar novamente. Este fato requer a disposição e a vontade de cada um (WALSH, 2005). Além da resiliência, Walsh (2005) destaca ainda que a religião e a espiritualidade podem oferecer conforto além das dificuldades.

Sobre a espiritualidade Melgosa (2010) relata três aspectos para o auxílio das emoções: primeiro o individual onde a pessoa precisa exercer influência sobre sua vida interior, criando uma perspectiva para o futuro compreendendo o destino da família humana; segundo as-pecto é o social onde o efeito espiritual aumenta mediante a influência de outras pessoas que também priorizam a fé e o último aspecto o divino, abrangendo o relacionamento íntimo e pessoal entre o ser humano e Deus através da oração que consiste em falar com Deus como à um amigo, pois através da oração muitos podem fortalecer a fé e confiança, diminuindo assim a ansiedade e a incerteza (MELGOSA, 2010).

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Considerações finais

A família é uma importante instituição que compõe a sociedade. Esta é unida por laços de parentesco, dependência doméstica e com vários fatores compartilhados. Com o passar dos anos, houve alterações na estrutura da família. Deixou-se de existir como primazia a família tradicional composta por pai, mãe e filhos e passou-se então ter as diversidades como a família monoparental composta por um dos genitores e os filhos, a família homossexual tendo em muitos lugares a união reconhecida por lei com direitos como convênio médico e adoção de filhos. Outra alteração na estrutura da família foi esta ser chefiada pela mulher.

A mulher desde a guerra mundial teve que assumir o papel do esposo, entrando assim no mercado de trabalho. Sua atuação cresceu grandemente tomando proporções de liderança em diversas profissões até mesmo como representantes de países. Esta conquista da mulher fez com que obtivesse por sua renda o seu sustento próprio e também dos filhos.

Todo este contexto da desestruturação familiar e a ausência da presença feminina no lar pode ser alguns dos motivos dos conflitos familiares. Com a saída da mulher para o mercado de trabalho observa-se que esta acumulou as funções de profissional, mãe, dona de casa e es-posa. Esta sobrecarga e os conflitos familiares podem ter consequências sobre sua saúde, pois a mulher é mais suscetível a desenvolver transtornos mentais como os da ansiedade. Esta por sua vez quando não resolvida pode fazer com que a mulher se alimente excessivamente para aliviar suas emoções, podendo assim gerar o TCAP e este por consequência levar a obesidade. Portanto, concluímos que para amenizar os problemas que envolvem a mulher, os con-flitos familiares, a presença da ansiedade que por sua vez pode levar a obesidade, alguns fato-res estão relacionados. A terapia cognitiva comportamental foi considerada muito importante devido a sua eficácia. Além da terapia a atuação da família é fundamental, pois a união da família tendo um apoio mútuo e a divisão de tarefas diminuiria a sobrecarga da mulher. A resiliência familiar diante de problemas que possam surgir, a preservação da qualidade de vida e a espiritualidade também são fatores imprescindíveis.

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