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INTRODUÇÃO: SOBRE A LÓGICA DA EXPANSÃO URBANA

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PONTA GROSSA (PR):

EXPANSÃO URBANA E DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL

Ederson Nascimento Doutorando em Geografia – UNICAMP edersonnn@ige.unicamp.br

RESUMO

Este ensaio apresenta uma análise da evolução do processo de expansão urbana no município paranaense de Ponta Grossa, enfocando principalmente o período compreendido entre os anos de 1960 a 2008. Partindo-se de diversos dados e reflexões apresentadas pela literatura, bem como de informações sobre a configuração espacial urbana, levantadas por meio da interpretação de fotografias aéreas e imagens de satélite, procurou-se traçar um panorama da evolução espacial da cidade, avaliando a expansão do perímetro urbano e da área urbanizada, bem como os padrões de ocupação das terras parceladas e os principais influências destes fatores sobre a estrutura socioespacial interna da cidade. Constatou-se, ao longo do período, um intenso processo de expansão da área urbanizada, com a implantação de inúmeros loteamentos periféricos e a manutenção de várias glebas mantidas ociosas à espera de valorização. Contraditoriamente, tal processo contribuiu para a ampliação da desigualdade e a segregação socioespacial na cidade, com a ampliação da periferização e da favelização de segmentos mais pobres da população.

Palavras-chave: expansão urbana, especulação fundiária, desigualdade socioespacial.

INTRODUÇÃO: SOBRE A LÓGICA DA EXPANSÃO URBANA

A expansão urbana é uma das expressões mais concretas do processo de produção do espaço na atualidade, sendo seu estudo de fundamental importância para se compreender a configuração espacial atual das cidades, sobretudo para as porte mais elevado. Diante do aumento da necessidade de locais para a implantação de atividades produtivas e para a constituição de áreas habitacionais, a ampliação da área urbanizada ocorre em direção a terras até então utilizadas para fins agropecuários, sendo estas anexadas ao perímetro dito urbano. O crescimento da demanda por terras incentiva, portanto, a expansão urbana, mas

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não há uma relação direta entre a demanda por terras e a velocidade com que novas áreas são urbanizadas, nem com o grau de ocupação efetiva dessas terras. A produção de novas áreas urbanizadas normalmente vincula-se muito mais a uma expectativa, pelos proprietários de terras, de obter uma remuneração mais elevada pela terra do que o uso rural pode permitir (SINGER, 1982).

Os proprietários fundiários assumem, assim, papel de destaque na expansão da área urbana, uma vez que, de um modo geral, tal processo possibilita-lhes a obtenção de importantes ganhos financeiros, seja com a incorporação de glebas rurais ao perímetro urbano e seu posterior parcelamento em lotes para venda, seja com a manutenção de glebas desocupadas entre a malha urbana contínua e áreas loteadas nos limites da área urbanizada, para que tais terras valorizem-se com a ocupação e a dotação de serviços públicos nas áreas circunvizinhas. Sempre que possível, os proprietários fundiários buscam então influenciar a atuação do Estado – no direcionamento dos investimentos públicos e na definição da legislação urbana municipal – para que esta venha beneficiar suas terras (CORRÊA, 1986; CAMPOS FILHO, 1989).

Assim conduzido, o processo de expansão urbana tem importantes implicações sobre a organização do restante do espaço e a distribuição dos segmentos sociais na cidade, uma vez que a incorporação de novas terras à área urbanizada, bem como a própria ampliação do perímetro urbano, altera o valor não só das áreas recém-incorporadas, mas também das áreas que tinham localização periférica segundo o perímetro anterior. Ademais, o crescimento urbano “desordenado”, impulsionado pela especulação fundiária, é também socialmente injusto, pois tende a elevar os preços no mercado imobiliário, limitando as possibilidades de compra de imóveis pelos segmentos populacionais de menor renda, além de encarecer, para a municipalidade, a dotação de infraestrutura nas áreas mais longínquas (MOURA; ULTRAMARI, 1996). Isso notadamente tem contribuído para a periferização de segmentos populacionais empobrecidos, bem como para o acirramento da segregação socioespacial, expressos pela multiplicação de subequipados loteamentos nas periferias e de favelas nos interstícios da malha urbana, paralelamente à implantação de áreas condominiais fechadas, exclusivas às classes de renda mais elevada.

Este padrão desigual e contraditório de produção do espaço urbano tem norteado o crescimento da maioria das cidades brasileiras de grande e médio porte, resultando, mesmo

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nas cidades mais ricas, na consolidação de espacialidades excludentes, abrigando populações privadas das principais fontes de renda e dos bens e serviços urbanos. A cidade de Ponta Grossa (FIGURA 1) insere-se neste contexto, onde a evolução do processo de expansão urbana tem limitado o acesso à terra e à moradia dignas, contribuindo para segregar segmentos empobrecidos da população e comprometendo suas condições de vida.

Figura 1: Localização do município e da área urbana de Ponta Grossa no estado do Paraná.

O PROCESSO DE EXPANSÃO URBANA E SUAS RELAÇÕES COM A DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL EM PONTA GROSSA

O município de Ponta Grossa, devido à importância desempenhada enquanto centro econômico regional, somada à sua localização enquanto importante entreposto comercial e entroncamento rodoferroviário sul brasileiro, concentrava, já nos três primeiros decênios do século XX, a maior parcela de sua população na cidade, ao mesmo tempo em que se consolidava como um polo de atração de migrantes (PAULA, 1993). O incremento populacional que ocorria, na medida em que era motivado pelo crescimento econômico da cidade, aos poucos foi também estimulando a expansão urbana, sobretudo na forma de criação de novas áreas habitacionais.

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Até os anos 1980, a cidade experimentou um elevado crescimento demográfico, multiplicando em quase seis vezes a sua população (TABELA 1). Entretanto, segundo Löwen (1990), até a década de 1960 também ocorria, em menor proporção, um crescimento da população rural, e o crescimento vegetativo ainda contribuía com parcela importante do crescimento demográfico citadino. A partir de meados desta década, o crescimento populacional urbano se eleva em relação ao decênio anterior devido ao expressivo êxodo rural que se instaura, impulsionado pela modernização agrícola no Paraná. Tal processo desencadeou profundas modificações na estrutura social da cidade, pois, diferentemente das migrações anteriores, empurrou um maciço contingente de pessoas empobrecidas para o espaço urbano, em busca de trabalho e de moradia.

TABELA 1 - POPULAÇÃO URBANA E CRESCIMENTO RELATIVO NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA (1940 A 2007) Ano População Urbana Crescimento Relativo (%) 1940 30.220 1950 43.486 43,9 1960 78.557 80,6 1970 113.074 43,9 1980 172.946 52,9 1991 221.671 28,2 2000 266.683 20,3 2007 298.600* 12,0 * Valor estimado.

Fonte: IBGE (Censos demográficos 1940-2000 e Contagem da População 2007).

A industrialização de Ponta Grossa, iniciada no começo dos anos 1970, também atraiu um grande número de migrantes para a cidade, motivados pela expectativa de conseguir emprego nas indústrias nacionais e estrangeiras – em sua maioria, ligadas ao complexo agroexportador da soja – recém-instaladas (PAULA, 1993). Além disso, esta expansão do setor industrial, segundo Scheffer (2003, p. 42), “alterou o perfil da cidade na sua estrutura interna, com o investimento nas pavimentações asfálticas, construção de praças e melhorias da iluminação pública nos bairros”, o que acabou afetando a dinâmica de valorização da terra na cidade, contribuindo para a intensificação da especulação imobiliária. Nos anos 1980 e 1990, as constantes crises econômicas pelas quais passou o país, frearam a industrialização e o desenvolvimento econômico de Ponta Grossa. As migrações de origem rural também diminuíram de intensidade, mas diante dos impactos ainda mais severos sofridos pelas

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economias de outras regiões do Paraná – em especial, por municípios vizinhos a Ponta Grossa e da Mesorregião Sudeste Paranaense –, a cidade passou a receber também migrantes de outras áreas urbanas do estado.

Estes eventos criaram ao longo do tempo as condições que incentivaram a expansão do espaço da cidade, formando uma demanda potencial de terras para consumo urbano. Entretanto, a incorporação de novas áreas urbanas e a sua efetiva ocupação são processos que tem andado bastante afastados no espaço urbano ponta-grossense.

Até o final da década de 1910, o crescimento da área urbanizada em Ponta Grossa ocorria sobretudo ao redor do núcleo onde a cidade teve origem, área que atualmente corresponde ao centro urbano. A partir dos anos 1920, a cidade começou a se expandir radialmente ao longo dos principais divisores topográficos, com destaque para a implantação de importantes loteamentos nos eixos sul (bairro Oficinas) e leste (bairro Uvaranas), seguindo da estrada de ferro que, à época, cruzava a área central da cidade (LÖWEN SAHR, 2001). Nos vinte anos seguintes, a expansão horizontal da cidade se acelera, alterando a sua estrutura socioespacial. Ao mesmo tempo em que o centro urbano consolida-se como local de moradia das classes de renda mais alta, dotado de praticamente toda a infraestrutura necessária (pavimentação, telefone etc.) e dos melhores serviços da cidade (CHAMMA, 1988; CHAVES et al., 2001), a periferia se expande com o aumento da construção de novos loteamentos, principalmente nas direções leste, norte e noroeste (LÖWEN SAHR, 2001).

Nas décadas de 1950 e 1960, no entanto, o tecido urbano ponta-grossense sofre expressiva ampliação, impulsionada por um forte processo de especulação fundiária empreendido a partir de então. A periferia urbana foi significativamente estendida com a produção de diversos loteamentos longínquos, alguns separados da malha urbana contínua por enormes glebas não loteadas. Na acepção de Paula (1993), dois fatores principais viabilizaram a implantação de tais loteamentos: de um lado, a inexistência de uma legislação urbana mais rigorosa quanto ao parcelamento da terra para fins urbanos, que estabelecesse parâmetros urbanísticos a serem observados, bem como punições a serem aplicadas quando de seu descumprimento; de outro, as constantes ampliações do perímetro urbano, as quais multiplicaram a área urbana em quase nove vezes entre 1950 e 2007, sendo que as maiores ampliações em termos relativos ocorreram naquelas duas décadas (TABELA 2).

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A expansão do perímetro urbano se desenvolveu acompanhando grandes vias de deslocamento rodoviário nos sentidos norte, noroeste, sudoeste e, sobretudo, sudeste, local onde está situado o Distrito Industrial de Ponta Grossa, instalado na década de 1970. Já a expansão da área urbanizada seguiu estas mesmas direções, mas em intensidades bastante distintas no tempo e no espaço, de modo que atualmente ainda existem áreas não urbanizadas dentro do perímetro urbano, sendo as maiores situadas a sudeste, noroeste e oeste do centro urbano, onde são praticadas atividades de cultivo e de pecuária extensiva (FIGURA 2).

TABELA 2 - ÁREA DOS PERÍMETROS URBANOS E CRESCIMENTO RELATIVO EM PONTA GROSSA (1940 A 2007)

Ano Área (km²) Crescimento relativo (%)

1940 25,9 1950 22,4 -13,5 1960 50,3 124,5 1970 90,2 79,3 1980 149,3 65,5 1990 150,3 0,6 2000 200,3 33,3 2007 199,3 -0,5

Fontes: 1940 a 1990: Paula (1993); 2000: Prefeitura Municipal de Ponta Grossa (sítio oficial na internet, 2003); 2007: Calculado a partir dos limites do perímetro urbano atual (lei municipal n° 9055/2007).

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Figura 2: Evolução da área urbanizada em Ponta Grossa no período de 1960 a 2008.

Fontes: 1960 e 1980: interpretação de fotografias aéreas (escalas 1:70.000 e 1:25.000, respectivamente); 1990, 2000 e 2008: interpretação de imagens, respectivamente dos satélites Landsat 5 e 7 (resolução espacial de 30 m), e CBERS 2B, sensor CCD (resolução espacial de 20im).

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Em 1960 a área urbanizada se limitava à atual área central, acrescida de eixos de ocupação ao longo dos principais divisores topográficos, seguindo as avenidas Carlos Cavalcanti, Monteiro Lobato, D. Pedro II e Visconde de Mauá. No decorrer das décadas de 1960 e (em menor número) 1970, têm-se a implantação de diversos loteamentos afastados da malha urbana contínua, o que contribuiu para um espraiamento da área urbanizada, sobretudo nas direções norte, sudoeste e sul (FIGURA 2).

Com a criação da lei federal n° 6.766 de 1979, bem como, em âmbito municipal, da lei n° 2.839 de 1976 e, mais recentemente, da lei n° 4.840 de 1992, os projetos de loteamento tiveram que se adequar a parâmetros urbanísticos mais rígidos, sobretudo em relação à dotação de infraestrutura. A ocupação do espaço passou também a ter que se adequar a uma série de normas de zoneamento, definidas pelas leis municipais n° 2.016 de 1968, nº 2.840 de 1976 e nº 4.856 de 1992. Com isso, a partir dos anos 1980, diminuiu a implantação de loteamentos afastados da malha contínua. Porém isso não reduziu o ritmo da expansão horizontal da cidade, verificando-se principalmente a urbanização de terras situadas entre terrenos periféricos já parcelados. De outra parte, a destacada expansão da área urbanizada no sentido sudeste é particularmente explicada pela densificação da ocupação na área do distrito industrial ao longo da rodovia BR-376 (FIGURA 2).

A intensidade do processo de expansão urbana empreendido em Ponta Grossa imprimiu um aumento de 225% da área urbanizada entre 1960 e 2008, passando de 43,06 km² para 139,94 km². Apesar de esse percentual estar abaixo do crescimento da população urbana no período (aproximadamente 280%), a ampla criação de novas áreas urbanizadas não garantiu o pleno acesso à terra e à moradia em condições adequadas à maioria da população. Antes o contrário.

Analisando a evolução dos tipos de ocupação da terra na área urbanizada (TABELA 3), observa-se que os percentuais de terras não ocupadas dentro da área urbanizada (lotes e glebas) mantiveram-se elevados entre as décadas de 1960 e 1980 (60,12 e 44,07, respectivamente), e apesar dessa taxa de desocupação ter diminuído nos anos seguintes, chegando a 17% em 2004, de 1980 em diante, período em, como já foi dito, aumentaram as restrições para a implantação de novos loteamentos, a área urbanizada avançou envolvendo várias chácaras (a maioria situadas nas proximidades da rodovia BR-376), nas quais são praticados, em toda a propriedade ou em parte dela, usos referentes

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à recreação ou à produção agropecuária de pequeno porte. Daí o grande crescimento percentual dessa categoria de ocupação da terra entre 1980 e 2004, ano em que as chácaras respondiam por cerca de 20% da área urbanizada. É provável que em algumas dessas áreas (sobretudo nas mais amplas), o uso como chácara esteja, pelo menos parcialmente, “camuflando” a especulação, com seus proprietários apenas aguardando o momento mais proveitoso para efetuar o parcelamento da terra e sua efetiva incorporação à cidade.

TABELA 3 - PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DOS PRINCIPAIS TIPOS DE OCUPAÇÃO DA TERRA NA ÁREA URBANIZADA DE PONTA GROSSA (1960, 1980 E 2004)

Tipo de Ocupação 1960 1980 2004

Edificações 29,44 49,74 51,78

Lotes e glebas desocupadas 60,12 44,07 17,01

Chácaras 2,03 2,42 19,98

Mata 6,74 3,03 5,04

Outros 1,67 0,74 6,19

Total 100,00 100,00 100,00

Fontes: Interpretação de fotografias aéreas (1960/1980) e de imagem de satélite Ikonos, resolução espacial de 1 m (2004).

A especulação imobiliária, ao “reger” historicamente o processo de expansão urbana em Ponta Grossa, contribuiu para acentuar a segregação socioespacial na cidade. À medida que a especulação desencadeia uma (falsa) escassez de terras, esta elevou consideravelmente seu preço, restringindo o acesso a esse bem pelas camadas de menor poder aquisitivo. Além disso, a atuação do poder público municipal, em diversos momentos contribuiu para a consolidação da segregação, notadamente por meio: 1) de constantes ampliações do perímetro urbano, potencializando a valorização fundiária e acelerando a anexação de novas áreas ao tecido urbano; 2) da dotação diferencial de investimentos em infraestrutura, os quais em diversos momentos foram canalizados para em áreas ocupadas por (ou equipadas para serem comercializadas a) segmentos de renda média e alta, como por exemplo, recursos direcionados à melhoria das vias de tráfego nas áreas de implantação de condomínios e loteamentos fechados (GODOY, 2004), bem como para o “reciclamento” e ampliação da infraestrutura básica em áreas onde houve a produção de edifícios (LÖWEN SAHR, 2000), e finalmente; 3) da fraca atuação na promoção de moradias voltadas às camadas de baixa renda (SCHEFFER, 2003).

Nestas condições, acentuaram-se progressivamente as disparidades socioespaciais tanto entre as áreas centrais e a periferia da cidade, como dentro desta última, de modo que

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os contingentes populacionais de menor renda, que se avolumaram a partir da década de 1970 com o avanço das correntes migratórias em direção à cidade, foram cada vez mais empurrados para as localizações mais desvantajosas do espaço urbano: sem amenidades físicas, carentes de infraestrutura e serviços básicos e afastadas dos locais de trabalho e consumo, como é o caso da maioria dos loteamentos periféricos.

Ademais, a contraditória escassez de terras à população pobre, produzida pela dinâmica de expansão urbana empreendida, contribuiu ainda para um vigoroso processo de favelização. Para se ter uma ideia, o percentual da população urbana morando em favelas, que em 1960 não chegava a 1%, cresceu rapidamente a partir de então, atingindo 6,3 % em 1980, 13,9% em 1991 e 17,2% em 2006, ano em que eram contabilizadas 136 áreas faveladas na cidade. A presença deste tipo de moradia, principalmente em elevada e crescente quantidade, é um dos mais fortes indicadores de segregação e exclusão social no espaço urbano, revelando a precarização das condições de vida da população ocorrida no âmbito da expansão urbana de Ponta Grossa, processo este expresso tanto pelas más condições sanitárias e pelos riscos de acidentes oferecidos pelas condições de ocupação, como, e principalmente, pelos baixos rendimentos obtidos por essas famílias (MATIAS; NASCIMENTO, 2006).

REFLEXÕES FINAIS

Procurou-se mostrar que a cidade de Ponta Grossa passou por um significativo processo de expansão horizontal, o qual ainda prossegue nos dias atuais, porém, ao mesmo tempo, a grande anexação de áreas à cidade não tem representado, na mesma proporção, a garantia do acesso à terra para a população urbana. Esta é uma clara evidência do uso especulativo do solo, um intenso processo de priorização da realização do valor de troca da terra, em detrimento de seu uso social. O reconhecimento deste modo de produção do espaço urbano nos coloca a importância da realização de estudos específicos, com vistas a desvelar a complexidade das ações empreendidas ao longo do tempo pelo Estado e pelo setor privado, em especial os proprietários de terras periurbanas, para a realização de interesses particulares, através da incorporação de novas áreas à cidade e seu respectivo parcelamento.

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De qualquer modo, em que pese o comum enviesamento de diversas ações do poder público para atender a interesses das elites, é inegável a importância da realização de uma gestão do uso do espaço urbano que priorize a justiça social. E neste viés, um problema crucial a ser combatido é a valorização especulativa do espaço. O enfrentamento desta questão parece ser, no caso de Ponta Grossa, indispensável para assegurar uma ampliação do direito à terra e à cidade a uma parcela mais ampla da população.

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

CAMPOS FILHO, C. M. Cidades brasileiras: seu controle ou o caos. São Paulo: Nobel, 1989.

CHAMMA, G. V. F. Ponta Grossa: o povo, a cidade e o poder. Ponta Grossa: PMPG, SMEC, 1988.

CHAVES, N. B. et al. Visões de Ponta Grossa. Ponta Grossa: UEPG, 2001. CORRÊA, R. L. A periferia urbana. Geosul, Florianópolis, n. 2, v. 2, p. 70-78, 1986. GODOY, M. L. M. Segregação espacial em condomínios horizontais e loteamentos

fechados: uma modalidade recente de expansão urbana em Ponta Grossa – Paraná. Ponta

Grossa: UEPG, 2004. Mimeo.

LÖWEN, C. L. Favelas: um aspecto da expansão urbana de Ponta Grossa – PR. Rio Claro: UNESP, 1990 (Dissertação de Mestrado).

LÖWEN SAHR, C. L. Dimensões de análise da verticalização: exemplos da cidade média de Ponta Grossa/PR. Revista de História Regional, Ponta Grossa, v. 5, n. 1, p. 9-36, 2000. ______. Estrutura interna e dinâmica social na cidade de Ponta Grossa. In: DITZEL, C. de H. M; LÖWEN SAHR, C. L. (Orgs.). Espaço e cultura: Ponta Grossa e os Campos Gerais. Ponta Grossa, EdUEPG, 2001. p. 13-36.

MATIAS, L. F.; NASCIMENTO, E. Geoprocessamento aplicado ao mapeamento das áreas de ocupação irregular na cidade de Ponta Grossa (PR). Geografia, Rio Claro, v. 31, n. 2, p. 317-330, mai.-ago., 2006.

MOURA, R.; ULTRAMARI, C. O que é periferia urbana. São Paulo: Brasiliense, 1996. NASCIMENTO, E. Espaço e desigualdades: mapeamento e análise dinâmica de

exclusão/inclusão social na cidade de Ponta Grossa (PR). Ponta Grossa: UEPG, 2008

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PAULA, J. C. M. de. População, poder local e qualidade de vida no contexto urbano

de Ponta Grossa – PR. Rio Claro: UNESP, 1993 (Dissertação de Mestrado).

SCHEFFER, S. M. Espaço urbano e política habitacional: uma análise sobre o programa de lotes urbanizados da PROLAR – Ponta Grossa, PR. Ponta Grossa: UEPG, 2003 (Dissertação de Mestrado).

SINGER, P. O uso do solo urbano na economia capitalista. In: MARICATO, E. (Org.). A

produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil industrial. 2. ed. São Paulo:

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