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O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO TURÍSTICA DE FRAIBURGO/SC

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Academic year: 2021

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O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO TURÍSTICA DE FRAIBURGO/SC

André Toreli SALATINO¹, Lucielly CHAVES², Rafael da ROCHA ³

¹Orientador – Curso Técnico em Informática; ²³Bolsista de pesquisa - alunos do Curso Técnico em Informática;

Resumo. O presente artigo busca analisar a urbanização turística de Fraiburgo/SC, cidade cuja história se confunde com o desenvolvimento da fruticultura de clima temperado e que tem na associação à cultura da maçã seu caráter turístico distintivo. Buscamos delinear o processo histórico de produção das paisagens que se converteram em atrativos turísticos, e compreender os desafios que esta atividade, que se desenvolve de forma paralela no município, apresenta num contexto em que a atividade turística passa a se fundar cada vez mais na busca por uma imersão cultural e uma experiência autêntica.

1. Introdução

A cidade de Fraiburgo é nacionalmente conhecida como “terra da maçã”, imagem que é apropriada como característica distintiva para o marketing do turismo realizado no município. Este artigo busca avaliar o processo histórico de produção do espaço turístico desta cidade e de seus diversos atrativos turísticos urbanos que dão suporte à atividade realizada nos pomares de maçã. O discurso sobre a importância do desenvolvimento turístico avança num momento de forte concorrência no mercado de maçãs com outras regiões produtoras no sul do país (e em escala global). Desta forma nosso objetivo consiste em compreender como foi produzido o espaço turístico da cidade e qual a importância da atividade turística para sua economia, além dos principais aspectos e problemas relacionados à identidade turística do município.

2. Material e Métodos

Realizamos uma pesquisa de caráter documental e bibliográfica, a partir da leitura de livros e artigos científicos visando a sólida fundamentação teórica de nossas análises. A pesquisa documental se deu com base nas legislações do turismo e no levantamento de dados e estatísticas produzidas por organismos oficiais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). Houve conversas informais com gestores do turismo, e com representantes do Hotel Renar, além de dados da associação empresarial de Fraiburgo (ACIAF) relacionados ao turismo.

3. Resultados e discussão

O processo de urbanização turística coloca as cidades num mercado de paisagens de caráter natural e artificial e as reorganiza para a produção de paisagens atrativas ao consumo e lazer (LUCHIARI, 1998). Consiste num movimento que

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articula o velho e o novo consumindo paisagens, criando novas, substituindo antigos usos, e desafiando a sobrevivência de antigas paisagens. Conforme Cruz (2003), a maior parte das cidades já existia antes da apropriação pelo turismo. Na produção do espaço turístico podemos observar tanto a introdução de novos objetos, como a absorção de espaços para atender à atividade turística, mudando seu significado1.

Desta forma nossa tarefa inicial consiste em compreender o processo histórico de produção do espaço e a ressignificação das paisagens da cidade de Fraiburgo em diálogo com a atividade turística, paisagens que servem como suporte para a atividade turística em sua relação com o cultivo da maçã.

O guia turístico do Vale do Contestado apresenta as seguintes paisagens de Fraiburgo como atrativos turísticos: Gruta do Monge João Maria, o Santuário Diocesano Nossa Senhora de Fátima, a Casa da Cultura Lydia Frey, o Museu do Jagunço, o Castelinho de Fraiburgo com sua arquitetura inspirada na Normandia2, a

Floresta René Frey3, o Hotel Renar4, a Igreja Matriz Imaculada Conceição e o Lago

das Araucárias em Fraiburgo. (SANTA CATARINA, 2013). Contudo, a colheita de maçãs é apresentada como um dos principais atrativos turísticos da região e é a marca distintiva apresentada com relação à cidade de Fraiburgo5.

A área urbana de Fraiburgo é cercada por pomares que reúnem quase 7 milhões de macieiras. O município produz 180 mil toneladas de maçãs por ano, 26% do total nacional. Tudo na cidade, dos sinais de trânsito aos sabonetes dos hotéis, remete à fruta-símbolo. [...]. A colheita da maçã, período em que os produtores organizam visitas às plantações - com direito a colher os frutos ainda no pé -, ocorre entre fevereiro e maio. O início da primavera traz a florada das macieiras,

1Entre os objetos produzidos “destacam-se os meios de hospedagem, os equipamentos de restauração [restaurantes, bares lanchonetes entre outras] e de prestação de serviços e a infraestrutura de lazer. Nesse processo de apropriação dos espaços pela prática social do turismo está a gênese dos territórios turísticos.” (CRUZ 2003, p.12).

2 Em 1965 é iniciada a construção do Castelinho, propriedade de Roger Biau, agrônomo francês que o construiu a pedido de sua esposa “O projeto e a planta têm como modelo os castelos da Normandia, França, feitos de pedras de basalto - a pedra-ferro - cortadas à mão, resultando numa verdadeira fortaleza.” (ZIOLKOWSKI, 2010, p.97) 3 No ano de 1975 René Frey transforma parte da propriedade numa reserva de floresta nativa. No interior dessa área, a RENAR abriu trilhas na mata de araucárias e nesse mesmo ano é construída a capela Ecumênica da Floresta René Frey. Em 1999 é introduzido o Jeep Jagunço, que circula pelas árvores e atravessa riachos “a iniciativa é de Edson Ziolkowski que baseou o projeto em modelos similares utilizados em safáris na África. Em pouco tempo, a novidade torna-se atração turística.” (ZIOLKOWSKY, 2010, p. 162).

4 Hotel com arquitetura europeia foi inaugurado em 1981, tendo sido idealizado por René Frey após viagens nas quais estudou o funcionamento dos hotéis europeus (BURKE, 1994). No mesmo ano chega o primeiro ônibus com 40 turistas provenientes de São Paulo para a hospedagem no hotel Renar, segundo Ziolkowsky (2010), marco do turismo empresarial da cidade.

5 Em termos de manifestações culturais “imateriais” a secretaria de turismo veicula pratos considerados “típicos” da cidade como a torta de maçã, o apfelstrudel (folhado de maçã) de origem austríaca e o Michuim, prato de origem árabe. Burke (1994) afirma que entre as opções de gastronomia e entretenimento não há nada que seja interessante para os turistas em termos de uma identidade que pudesse ser associada à cidade (BURKE, 1994), mesmo o michuim não é algo sempre acessível. Conforme o autor, com exceção da Festa da Maçã, não há outros eventos culturais que atraiam pessoas de outras partes do estado de Santa Catarina e do Brasil para Fraiburgo.

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que colore os pomares de vermelho e branco. No inverno, a geada cobre tudo de branco, paisagem também fascinante. (SANTA CATARINA, 2013, p.40)

A Fraiburgo turística começa a ser produzida, especialmente, a partir da década de 1980 e 1990 sob a lógica de desenvolvimento comum às cidades da região, comandada por ações inovadoras de empresários, e construindo formas na paisagem urbana que remetem à arquitetura europeia6. Já contando com o hotel RENAR e sua

arquitetura alpino-germânica, temos em 1984 a inauguração da nova Barraquinha da Maçã, com o objetivo de venda de maçãs e souvenirs (ZIOLKOWSKY, 2010, p.139); em 1985 foi adquirido o terreno para a instalação do futuro parque da Maçã, no bairro da Liberata; no ano de 1988 foi doada para a prefeitura a primeira residência de alvenaria de Fraiburgo, pertencentes a Arnoldo e Lydia Frey; e nesse mesmo ano o grupo Trombini instalou um busto de René Frey, em frente à Barraquinha da Maçã. Em 1994, há o início da construção do projeto do Santuário de Nossa Senhora de Fátima e a construção da Praça Maria Frey,

em homenagem a Maria Frey, esposa de René Frey, um dos fundadores de Fraiburgo(...). Possui um relógio em forma de maçã; abaixo o brasão da cidade; e um termômetro em coluna de vidro, considerado o maior da América Latina, doação do fabricante, também compõe o cenário (ZIOLKOWSKY, 2010, p. 156).

O Lago das Araucárias, lago artificial cuja origem está associada a necessidade de abastecimento da serraria na década de 1940, desenvolve-se como ponto turístico com a urbanização da Avenida Beira Lago no ano de 1994 e a criação do “Caminho da Saúde”7. Em 1995 o Hotel Renar constrói a gruta São João Maria -

monge do Contestado e na entrada sul do município é inaugurado o Portal de Fraiburgo, localizado na SC-453, divulgando informações turísticas e o comércio de produtos locais. Em 2002, é restaurada a chaminé das caldeiras da antiga serraria (1950), marco histórico da cidade e propriedade da Pomifrai (ZIOLKOWSKI, 2010).

Na análise da urbanização turística de Fraiburgo ainda é relevante para o município, o fato de que os avanços hoteleiros não tiveram correspondência em termos da padronização do estilo arquitetônico8. Embora apresente destaque o

6 Conforme Burke (1994), no início da colonização da cidade o frio inverno com ocasionais nevascas remetia mais à fruticultura de clima temperado e aos desconfortos para os habitantes, do que a potenciais atrativos turísticos, o que demonstra a historicidade da produção das paisagens turísticas e da atribuição social de valor.

7 Nesse ano (1994) é iniciado o aterro do banhado localizado no fundo do terreno da Renar Móveis, que formou a Ilha que hoje se encontra no centro do lago. No ano de 1995 foi construída a ciclovia que contorna o lago. Em 2009 no entorno do lago das araucárias é realizada a instalação da academia ao ar livre (ZIOLKOWSKY, 2010). 8 A importância da existência de normas para as construções em determinadas áreas da cidade possibilitaria uma identidade paisagística, em que todas as construções (não apenas as turísticas) tivessem traços comuns.

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turismo ecológico no contexto atual, um desenvolvimento com base numa preocupação ecológica e na sustentabilidade esbarra no município com a presença de uma fábrica de celulose localizada no centro da cidade. 9

Ziolkowski (2011) caracteriza a primeira década do século XXI como a década do desenvolvimento turístico de Fraiburgo. Contudo, publicações como a pesquisa de demanda turística da SANTUR aponta dificuldades, como pouca mobilização de fluxos para a cidade em busca de seus atrativos turísticos, com a principal motivação sendo a realização de negócios10. Dados divulgados pela ACIAF apontam uma baixa

frequência em todas as atrações turísticas, salvo exceções sazonais como a colheita da maçã. Segundo dados do IPEA, apesar do crescimento de empregos caracterizados como “empregos turísticos” de Fraiburgo, podemos perceber que o crescimento está concentrado na atividade de alimentação, que não depende apenas do fluxo de turistas. Nos postos de alojamentos, há queda de empregos no setor.

Enquanto que a cidade conseguiu produzir uma infraestrutura para a recepção de turistas, podemos observar dificuldades em termos das opções de lazer urbano que poderiam sustentar a atividade em todos as estações do ano, assim como da construção de uma identidade paisagística e da construção de uma identidade cultural que lhe seja distintiva. Dessa forma, há necessidade de uma estratégia de desenvolvimento turístico que atente para a necessidade de diversificação das opções de lazer para turistas e residentes, além do fortalecimento da narrativa em torno da história da fruticultura de clima temperado e do pioneirismo no cultivo de maçã. Como narrativa construída, mas não vivida pelos habitantes da cidade, que cada vez mais perdem os vínculos com a cultura da maçã, há grande dificuldade para a cidade se inserir nos paradigmas de um turismo 2.011 (STASIAK, 2013). Uma história em que a

maçã é basicamente produzida de forma empresarial consiste num desafio para aliar os interesses da agricultura comercial com um desenvolvimento turístico pautado numa herança que dialogue com a produção de maçãs, cujas áreas estão sendo, cada

9 Conforme aponta Burke, uma “fábrica de papel, embora esteja concluindo um grande projeto de preservação do meio ambiente, às vezes, ainda espalha por todos os lados um cheiro que nada lembra as brisas frescas e puras dos campos, bosques e montanhas, tão caras aos que querem fugir dos sufocantes ares poluídos das metrópoles. (BURKE, 1994).”

10 Em conversa com a secretaria de turismo esse número em 2019 estava por volta de 44 mil turistas/ano e conforme informações do hotel Renar, o número de hóspedes está em torno de 22 mil turistas/ano.

11 Modalidade de turismo em que os turistas se tornam participantes ativos, influenciando o curso da ação. Neste contexto em que o novo perfil de turista já viu uma grande variedade de coisas e esteve em diversos lugares, seja presencialmente, seja pelas mídias modernas, há uma necessidade de uma imersão nas identidades locais e estímulos cada vez maiores e mais fortes para que haja o “efeito de encantamento” com a localidade turística.

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vez mais, substituídas por outras culturas como a da soja. Desta forma, é necessária uma estratégia que consiga dialogar com as experiências das empresas e de acompanhamento de processos gerais de beneficiamento, como também com um maior envolvimento dos pequenos produtores, tornando possível a imersão na experiência da cultura da maçã, territorializando o turismo e aliando as demandas atuais dos turistas a maiores benefícios para atores locais.

4. Conclusão

No âmbito de um cada vez maior empreendedorismo urbano, podemos compreender um processo em que Fraiburgo é cada vez mais chamada a desenvolver o turismo em meio às dificuldades de realização da produção econômica numa concorrência global. Contudo, é necessário pensar o turismo como um projeto e não apenas como uma atividade econômica coadjuvante, uma produção social em que é necessária a atuação conjunta de todos os atores para o sucesso de seu desenvolvimento. Em um contexto de turismo de experiência, a autenticidade e o envolvimento do turista estão para além da simples contemplação de paisagens produzidas de forma fragmentada e apropriadas pelo turismo. Desta forma cabe a produção de um projeto de turismo em que haja maior engajamento e benefícios para toda a comunidade, atuando de forma a um real desenvolvimento econômico e social.

Referências

BURKE, Thomas Joseph. Fraiburgo: do machado ao computador. Gráfica Vicentina Ltda,1994.

CRUZ, Rita C. A . Introdução à geografia do turismo. São Paulo: Rocca, 2003.

LUCHIARI, Maria Tereza DP. Urbanização turística: um novo nexo entre o lugar e o mundo. Da cidade ao campo: a diversidade do saber fazer turístico. Fortaleza: UECE, p. 15-29, 1998.

SANTA CATARINA. Guia turístico Vale do Contestado . 3.ed. Florianópolis: Letras Brasileiras, 2013.

STASIAK, Andrzej et al. Tourist product in experience economy. Turyzm, v. 23, n. 1, p. 27-35, 2013.

ZIOLKOWSKI, G. Fraiburgo marcos da história. Fraiburgo. 2011

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