• Nenhum resultado encontrado

TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL E LITERATURA INFANTIL: POSSIBILIDADES PARA UMA EDUCAÇÃO DE EXCELÊNCIA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL E LITERATURA INFANTIL: POSSIBILIDADES PARA UMA EDUCAÇÃO DE EXCELÊNCIA"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

ISSN 2176-1396

TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL E LITERATURA INFANTIL:

POSSIBILIDADES PARA UMA EDUCAÇÃO DE EXCELÊNCIA

Marta Chaves1 - UEM Cristiane Aparecida da Silva Pastre2 - UEM Mariane Elizabeth da Silva3 - UEM Daniane Salustiano de Lucena4 - UEM Eixo – Didática Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Neste trabalho objetivamos estudar questões afetas à Literatura Infantil e suas contribuições para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças, tendo como referencial as contribuições da Teoria Histórico-Cultural. Nessa perspectiva, apresentaremos algumas possibilidades de trabalho com recursos didáticos ricos e enriquecedores que efetivam nossas defesas, de modo a indicarmos possibilidades de intervenção pedagógica por meio de recursos como as “Caixas que contam histórias”, “Caixas de Encantos e Vida” e os “Livretos”, todos elaborados a partir de obras e autores clássicos da Literatura Infantil. Desta maneira, defendemos a relevância do trabalho docente em proporcionar aos escolares o acesso à Literatura Infantil, seja a arte, a música, as poesias ou os contos e histórias, de maneira enriquecida pelos detalhes. Para tanto, necessariamente as intervenções didáticas devem ser intencionais e planejadas pelo docente com o intuito de contribuir com o desenvolvimento das habilidades humanas das crianças, bem como sua promoção intelectual, emocional e afetiva, dando-lhes condições de ampliar o vocabulário, desenvolver a memória, a atenção, a concentração, o senso estético, o apreço pela Arte e pelo belo, para mencionar alguns aspectos. Entendemos que tais possibilidades devem ser propiciadas a todos os níveis educacionais, a começar pela Educação Infantil. Assim, desenvolvemos por meio dos estudos iniciais da Teoria Histórico-Cultural a compreensão de que o contato amplo e cheio de encantos com a Literatura Infantil, com o que há de mais avançado no desenvolvimento científico, cultural e artístico, são condições essenciais em favor de uma educação plena para o sujeito em formação, para o desenvolvimento de capacidades essencialmente humanas.

1Pós-doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Professora

Adjunta da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Coordenadora do curso de especialização em Educação Infantil. Líder do Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação Infantil (GEEI). E-mail: mchaves@wnet.com.br.

2Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).Professora da rede básica de ensino.

Integrante do Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação Infantil (GEEI). E-mail: cris_apda@hotmail.com.

3Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).Educadora na Educação Infantil.

Integrante do Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação Infantil (GEEI). E-mail: mariane_eliza@hotmail.com.

4Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).Educadora na Educação Infantil.

(2)

Palavras-chave: Teoria Histórico-Cultural. Literatura Infantil. Desenvolvimento Infantil.

Introdução

Neste estudo apresentaremos algumas contribuições da Literatura Infantil, na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural, para que a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças sejam de excelência, considerando os recursos mais elaborados, as obras de literatura mais apropriadas e as ações educativas planejadas, de modo a superar a condição atual de desenvolvimento da criança, o que entendemos ser a função da educação.

Assumiremos a perspectiva da Teoria Histórico-Cultural por considerar que esta nos permite lutar por uma prática educativa que apresente o que há de mais belo e mais elaborado pela humanidade, bem como nos apresenta embasamento para desenvolver recursos pedagógicos que venham de encontro a tal defesa. Esses pressupostos podem ser encontrados nos escritos de autores clássicos como Leontiev (1979) e Vigotski (2009), e nos estudos de pesquisadores contemporâneos, tais como Chaves (2011a; 2011b) e Lima e Girotto (2007).

Diante do exposto, ainda que em estudos iniciais da referida Teoria, entendemos que nossa compreensão de sociedade, homem e educação são expressas em nossas ações educativas e cotidianas. Esta afirmação nos leva a pensar que precisamos vivenciar aquilo que estudamos para que nossas ações sejam coerentes com o que defendemos, e assim teremos a possibilidade de efetivar na prática docente as melhores escolhas para proporcionar às crianças condições de máximo desenvolvimento humano.

Com esta perspectiva, nosso trabalho será organizado de forma que possamos discutir brevemente a respeito da Literatura Infantil; refletir sobre a Teoria Histórico-Cultural, considerando nossos estudos iniciais; e apresentar algumas possibilidades de trabalho com recursos didáticos que podem efetivar os pressupostos teóricos estudados. Nesse sentido, consideramos de suma importância para a formação da criança o contato com a Literatura, de acordo com Abramovich (1997) ouvir histórias, muitas histórias e escutá-las é o inicio da aprendizagem de um leitor, assim, tornar-se leitor depende de uma formação repleta de infinitas possibilidades e de compreensão do mundo.

Literatura Infantil: possibilidades de intervenções didáticas humanizadoras

Conforme mencionamos anteriormente, nossa pesquisa se pautará nos estudos iniciais que temos desenvolvido acerca da Teoria Histórico-Cultural, considerando-a como referencial

(3)

teórico e metodológico que oferece meios para o desenvolvimento de uma prática educativa humanizadora. Nossos estudos demonstram que a prática docente intencional, planejada e mediada por um referencial teórico que proporcione tal compreensão ao professor pode ampliar as possibilidades de os escolares desenvolverem suas capacidades psicológicas superiores, aprimorando seu desenvolvimento e aprendizagem, além de propiciar condições de máximo desenvolvimento humano.

Os autores clássicos desta teoria nos levam à compreensão que não nascemos humanos, mas nos tornamos humanos ao passo que nos apropriamos dos conhecimentos e experiências acumulados ao longo da história da humanidade (LEONTIEV, 1979), ou seja, é por meio da relação com os mais experientes que nos apropriamos de comportamentos essencialmente humanos e nos desenvolvemos. Desse modo, compreendemos com o referido autor que a humanização ocorre à medida que o indivíduo se apropria de tudo aquilo que foi alcançado pelo conjunto da humanidade, nas mais diversas áreas de saber e, desse modo, aprende a ser homem. Para outro pesquisador, Vigotski (2010, p. 697), esta perspectiva se aplica desde a mais tenra idade, pois conforme afirma:

[...] o meio desempenha, com relação ao desenvolvimento das propriedades específicas superiores do homem e das formas de ação, o papel de fonte de desenvolvimento, ou seja, a interação com o meio é justamente a fonte a partir da qual essas propriedades surgem na criança. E se essa interação com o meio for rompida, só por força das inclinações encerradas na criança as propriedades correspondentes nunca surgirão por conta própria.

Na assertiva acima o autor nos ensina que o meio, o espaço, o social influencia o desenvolvimento humano, ou melhor, é decisivo para que as capacidades humanas superiores sejam desenvolvidas, pois do contrário, o próprio autor afirma que se esta relação for rompida tais habilidades humanas não aparecerão sozinhas.

Nesse sentido é que acreditamos ser de suma importância pensar e desenvolver estratégias didáticas as mais elaboradas possíveis, bem como recursos didáticos ricos e enriquecedores para atender a este pressuposto da teoria. Do contrário, as crianças não terão a possibilidade de atingir seu máximo desenvolvimento, e entendemos ser função das instituições educativas formais proporcionar isto às crianças, desde a Educação Infantil.

Assim, nossa pesquisa trará breves discussões a respeito da Literatura Infantil na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural e apresentará alguns recursos didáticos que atendam aos pressupostos da Teoria.

(4)

Para efetivar nossa proposta, iniciaremos com a defesa por uma educação de excelência a todas as crianças, e entendemos que uma das possibilidades para esta efetivação está em proporcionar o acesso às crianças, desde muito pequenas, à Literatura Infantil, seja por meio da arte, da música, das poesias ou em contos e histórias. Contudo, entendemos que este trabalho deve, necessariamente, ser intencional e planejado pelos professores com o intuito de desenvolver as habilidades humanas, bem como a promoção intelectual, emocional e afetiva dos educandos. E uma das possibilidades é a utilização de recursos didáticos que promovam tal aprendizagem (CHAVES, STEIN, SILVA, 2014).

Do contrário, a escolha aleatória de obras e autores torna-se insignificante para quem ensina e para quem está na condição de aprendiz, pois os resultados não alcançarão o pleno desenvolvimento de suas capacidades humanas. Atribuímos que é dever da escola, das instituições formais de ensino, proporcionar às crianças o que há de conhecimento mais avançado e elaborado historicamente pelos homens, e assim potencializar as funções psíquicas superiores por meio de conteúdos, estratégias e recursos de ensino adequados, especialmente por meio da Literatura Infantil.

Nesse cenário para aprofundar nossos estudos, faz-se necessário compreender a definição de “Literatura” e de “Literatura Infantil” propriamente estabelecida pelos estudiosos contemporâneos, segundo o posicionamento e defesas dos expoentes mais conceituados nessa área. A esse respeito Cecília Meireles em seu livro “Problemas da Literatura Infantil” ressalta que,

sempre que uma atividade intelectual se manifesta por intermédio da palavra, cai, desde logo, no domínio da Literatura. A Literatura, porém, não abrange, apenas, o que se encontra escrito, se bem que essa pareça à maneira mais fácil de reconhecê-la, talvez pela associação que se estabelece entre ‘literatura’ e ‘letras’ (MEIRELES, 1984, p. 19). Depreendemos da assertiva que a Literatura é uma atividade cognitiva ampla, ou seja, essa ultrapassa o que foi escrito, pois necessita contar com a imaginação do leitor, sendo precisa a interpretação das palavras, assim, as crianças quando estimuladas para isso o faz muito bem, por meio desta fazem comentários e associações que enriquecem o que leram.

Outra autora, Bárbara Vasconcelos de Carvalho, em seu livro “A literatura infantil: visão histórica e crítica”, afirma que,

Literatura é a arte de ouvir e de dizer, logo, nasce com o homem. [...] o homem aprendeu a falar – dizer – antes de ler e escrever, como,

(5)

ontogeneticamente, acontece à criança, portadora de sua bagagem linguística, antes de alfabetizar-se (CARVALHO, 1982, p. 47).

Dessa maneira, Carvalho (1982) explica que a Literatura é essencialmente desenvolvida historicamente pelo homem, ou seja, é uma criação resultante da relação entre os homens.

E de acordo com os estudos de Nelly Novaes Coelho (2000), no livro “Literatura Infantil: Teoria, Análise, Didática”, Literatura é uma criação humana e histórica, e conhecer a diversidade de produções que foram desenvolvidas nos leva a compreender a singularidade do desenvolvimento humano, e entender historicamente a Literatura propicia o conhecimento dos ideais e valores que as diferentes sociedades se fundamentaram e se fundamentam.

Assim, a Literatura Infantil é “antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, e a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização” (COELHO, 2000, p.27). Ou seja, a Literatura Infantil é também Literatura, o que implica dizer que uma não é menor que a outra, nem menos relevante para a formação e desenvolvimento humano.

Outra autora, Meireles (1984, p. 20) escreveu que “[...] evidentemente, tudo é uma Literatura só. A dificuldade está em delimitar o que se considera como especialmente do âmbito infantil. São as crianças, na verdade, que o delimitam, com a sua preferência”. A autora se refere à difícil tarefa de escolher os livros mais adequados, o que nos possibilita pensar na necessidade de o professor conhecer os aspectos fundantes da Literatura Infantil, compreender sua função para o desenvolvimento humano e assim planejar minunciosamente as intervenções didáticas que realizará junto às crianças.

Finalizamos estas breves considerações com os dizeres de Chaves (2011b, p. 98) esclarecendo que é extremamente necessário vencer a ideia de que a Literatura Infantil está “limitada às histórias; para nós, é essencial lembrar que músicas, poesias, histórias e as mais diversas formas de expressão e registro popular – como adivinhas, parlendas e os brinquedos cantados– compõem o que chamamos de literatura infantil”. E a autora ainda amplia este entendimento com a defesa de que

a Literatura Infantil pode ser considerada expressão de conteúdo, estratégia e ao mesmo tempo recurso didático, fatores que permitem apresentar às crianças elaborações humanas significativas e assim contribuir decisivamente para ampliar o universo de conhecimento das crianças (CHAVES, 2011b, p. 99).

Com base nas afirmações supracitadas, apresentamos nossa defesa de que a Literatura pode e deve ser utilizada para além da utilização de um tempo vago da aula, algo a mais que

(6)

cumprir uma rotina defasada de sentido e significado para professores e alunos. Ou seja, entender a Literatura Infantil como conteúdo, estratégia e recurso, conforme afirma a autora, amplia as possibilidades de seu uso com os escolares e viabiliza um ensino que potencializa o desenvolvimento humano pleno.

Desse modo, ressaltamos que a utilização da Literatura Infantil na Educação Infantil e nos anos iniciais de escolarização, amparada nos pressupostos teóricos e metodológicos mencionados, pode contribuir grandemente com o desenvolvimento e a aprendizagem dos escolares. Considerando as crianças pequenininhas da Educação Infantil, mesmo que ainda estejam na fase inicial de desenvolvimento da linguagem, ter contato com a Literatura Infantil possibilita ampliar esta função psicológica superior, dando-lhes condições de desenvolver e ampliar o vocabulário, desenvolver a memória, a atenção, a concentração, o senso estético, o apreço pela Arte e pelo belo, além de preparar os ouvidos para a sonoridade de rimas e canções. Do mesmo modo, para aquelas crianças que estão nos anos inicias de escolarização, a Literatura pode ser um recurso tanto para auxiliar na aquisição da alfabetização, quanto pode auxiliar a consolidar sua alfabetização, possibilitando o desenvolvimento da imaginação, da criação, da atenção, da memória, o contato com diferentes formulações da língua escrita, ampliação lexical, além de tê-la como uma possibilidade lúdica e agradável em meio a conhecimentos científicos mais densos.

Com esta perspectiva, autores contemporâneos, também pautados na Teoria Histórico-Cultural, desenvolveram estudos e recursos didáticos para atender a esta máxima do referencial. Mencionamos como exemplo o material intitulado “Caixa que conta histórias”, que entendemos ser uma alternativa metodológica para que a criança envolva-se na contação de histórias de maneira que favoreça seu desenvolvimento, caracteriza-se por conter

histórias que as crianças gostam, objetos e imagens que retratem o texto escolhido ou mesmo fantoches e “dedoches”. Além disso, pode contemplar as histórias produzidas pelas crianças, cantigas preferidas e cantadas com o uso da caixa. Em suma, na “caixa” cabe a imaginação, a criação, a reciclagem, a arte manual, as palavras registradas nos livros (agora recontadas) dos adultos e das crianças e permite a mediação e a criação de mediações pedagógicas primordiais à educação potenciadora da humanização na infância (LIMA; GIROTTO, 2007, p.7).

As “Caixas que contam histórias” trazem a possibilidade de a criança aproveitar maximamente dos recursos da literatura. Isso acontece à medida os personagens representados se movem diante dos olhos dos ouvintes, a sonoridade da narração pode ser acompanhada por

(7)

um determinado cenário na caixa representado, bem como a atenção pode ser desenvolvida à medida que há o interesse pelo que é apresentado.

Outra possibilidade se apresenta com a “Caixa de Encantos e Vida”:

O recurso didático denominado Caixas de Encantos e Vida é elaborado coletivamente, o grupo realiza a escolha de um expoente da literatura, da poesia, da música ou das artes plásticas a ser estudado. A Caixa contempla os “encantos” que, em geral, é representado por cinco temáticas, quais sejam: infância, amigos, obra, viagens e realizações que dizem respeito ao reconhecimento ou premiações que tenha obtido ao longo de sua trajetória profissional. O objetivo é representar a “vida” de um determinado expoente a partir de material escrito, fotos e objetos que caracterizem os diferentes momentos de sua história (CHAVES, 2011a, p.55).

Com esta Caixa é possível ensinar às crianças sobre a vida de um expoente que faça parte dos conteúdos estudados de maneira que não fique cansativo para os pequenos, por vezes, apenas ouvir a exposição do professor sobre os dados biográficos em questão torna-se maçante e sem sentido, com esta possibilidade de recurso didático este trabalho é facilitado, possibilitando maior compreensão por parte da criança, além de dar ao professor a oportunidade de realizar vínculos com outros conteúdos. Por exemplo, ao se trabalhar sobre as viagens que o autor realizou pode-se aproveitar o momento e explorar aspectos da Geografia; ao expor dados familiares pode-se trabalhar dados biográficos e história pessoal dos alunos, bem como estudar aspectos de suas próprias famílias, dependendo do nível escolar que se esteja atuando; mostrar as demais obras daquele expoente cria o interesse na criança de querer conhece-las mais detalhadamente, aumentando seu conhecimento literário, favorecendo o gosto pela leitura e pelo conhecimento; além de diversas outras possibilidades que se desenvolvem com este trabalho.

E exemplificamos ainda outra possibilidade de recurso didático com o material intitulado “Livretos”, estes:

reúnem textos, imagens, ilustrações e informações sobre um determinado expoente da literatura, poesia, música ou das artes plásticas a fim de que a sua produção artística e cultural seja apresentada às crianças. A composição do Livreto pode, ainda, contemplar a biografia de um autor, músico, pintor, escultor, poeta, inventor, pesquisador ou algum nome de relevância na história da humanidade. Nesse caso, o Livreto Biográfico reunirá elementos da vida do nome em estudo, apresentando-os às crianças (CHAVES, 2011a, p.55).

Os livretos podem ser utilizados para finalizar um conteúdo que tem sido desenvolvido com os alunos, de forma que não se materialize apenas em uma produção de texto ou na realização de um cartaz a ser colado na parede. Esta é uma possibilidade ampliada de trabalhar

(8)

com as crianças e motivá-las a participar das atividades que compõem o material, pois a vontade de ver o resultado final de seu trabalho motiva e desenvolve os pequenos.

Como percebemos, os recursos didáticos mencionados são possíveis de serem desenvolvidos por aqueles que atuam diretamente com as crianças, os professores e as equipes pedagógicas das unidades escolares. E destacamos que são recursos que podem ser trabalhados de forma intrínseca com a Literatura Infantil.

Acreditamos na importância de proporcionar aos escolares as máximas elaborações humanas, construídas e desenvolvidas no decorrer da história, visando o pleno desenvolvimento dos educandos, como destaca Chaves (2011b, p. 98) que assim “atenderíamos a um dos preceitos da Teoria Histórico-Cultural e firmaríamos, em essência, uma educação plena para quem ensina e para quem precisa aprender”. E entendemos que utilizar alguns dos recursos mencionados para as intervenções com a Literatura Infantil traz esta possibilidade.

No entanto, além de favorecer o acesso à Literatura é necessário intencionalidade na escolha das obras e dos autores que serão apresentados às crianças, pois tudo aquilo que disponibilizamos e ensinamos a elas contribui para o desenvolvimento de suas capacidades humanas, seja para o aprimoramento ou para o empobrecimento de seus conhecimentos e habilidades. Deste modo, consideramos de grande importância o estudo dos clássicos da Literatura Infantil, e para tanto elencamos autores como: Ruth Rocha (2010; 2012); Tatiana Belinky (2003; 2004; 2007); José Paulo Paes (2005); Ana Maria Machado (1986); Cecília Meireles (2012); Vinicius de Moraes (1996); Olavo Bilac (1929), para mencionar alguns. Assim, compreendemos que apresentar e encantar as crianças com as obras desses autores é apresentar aquilo que há de mais elaborado e sistematizado, visto que os escritos da Literatura Infantil destes autores se amparam nas elaborações realizadas pela humanidade ao longo da história.

Deste modo, Chaves (2011a, p. 100) afirma que cabe às instituições de ensino possibilitar que as crianças tenham acesso às máximas elaborações humanas, visto que por vezes as mesmas só terão acesso a estes conhecimentos se a escola proporcionar esta aproximação. Do mesmo modo, é função da escola também proporcionar o desenvolvimento intelectual, afetivo e solidário das crianças, sobretudo, para que tenha a capacidade de utilizar e desenvolver suas capacidades mentais a memória, a atenção e a percepção voluntárias, a imaginação, a linguagem oral, o pensamento, as emoções, a função simbólica da consciência, a vontade.

(9)

Conforme indicamos nos escritos acima, a Literatura Infantil apresenta os conhecimentos e experiências adquiridos ao longo da história por seus autores, bem como propicia o desenvolvimento do senso crítico, reflexivo e autônomo. Além disso, destacamos o entendimento de Vigotski (2009), o qual compreende que a criança desenvolve sua imaginação e criação por meio das experiências que obteve, as quais se ampliam à medida que convivem com pessoas mais experientes, ou seja:

Quanto mais a criança viu, ouviu e vivenciou, mais ela sabe e assimilou; quando maior a quantidade de elementos da realidade de que ela dispõe em sua experiência – sendo as demais circunstâncias as mesmas –, mais significativa e produtiva será a atividade de sua imaginação (VIGOTSKI, 2009, p. 23).

Os argumentos do autor demonstram que quanto mais constantes forem as vivências educativas proporcionadas às crianças, maior será o desenvolvimento das funções psíquicas superiores, memória, percepção, atenção, linguagem, pensamento, imaginação, as emoções, entre outras capacidades intrinsecamente humanas. E desse modo, suas experiências precedentes poderão ser ampliadas por meio do contato com as mais avançadas elaborações humanas. Desta maneira, nas instituições educativas é dever dos profissionais da educação, como sujeitos mais experientes, proporcionar o acesso aos conhecimentos elaborados no decorrer da história por meio das intervenções pedagógicas.

No entanto, os profissionais da educação só apresentarão às crianças o que há de mais elaborado se conhecerem e já estiverem se apropriado desse conhecimento, conforme afirma Chaves (2011a, p.101):

tratar dessa questão com propriedade está diretamente condicionado a formação consistente do educador, cuja a ação sistematizada e intencional pode possibilitar as crianças a apropriação dos bens culturais da humanidade; mas antes disso, ele próprio (o educador) precisa ter acesso as grandezas da arte, da literatura e das ciências. No atual contexto, a estratégia mais eficaz para a apropriação dos bens culturais (por ora) é o estudo, o fortalecimento de sua própria formação.

Em concordância com a afirmação, compreendemos que os professores, especialmente da educação infantil, necessariamente precisam conhecer o que há de mais belo e encantante nos clássicos das poesias, músicas, historias, arte e ciência, bem como conhecer estratégias e recursos didáticos afetos a Literatura Infantil. Assim, defendemos que a apropriação desse conhecimento só é possível por meio de estudos e formações de professores para que os mesmos

(10)

percebam a Literatura Infantil como uma possibilidade de intervenção pedagógica capaz proporcionar o desenvolvimento pleno dos educandos.

Considerações Finais

Este estudo teve como objetivo demonstrar que o contato amplo com a Literatura Infantil, como ler histórias, ouvir músicas e poesias, ter contato com as diversas formas de expressão literária popular (advinhas e parlendas, por exemplo) possibilita o desenvolvimento da imaginação, da criação, do pensamento lógico, do senso artístico, instiga a curiosidade durante a apreciação de uma história ou uma canção, permitindo solucionar questões e desafios apresentados pelos personagens. Ou seja, as intervenções didáticas com a Literatura Infantil proporciona à criança sentir as emoções especificamente humanas, como a alegria, a tristeza, a raiva, o medo, o bem-estar, a insegurança e a tranquilidade, para exemplificar algumas, possibilitando a apropriação do que há de mais elaborado historicamente, pois é nesse processo podemos contribuir com a formação plena e humana dos escolares.

Para exemplificar a afirmação acima, destacamos os escritos de Coelho (2000) salienta que alguns fatores literários, como os personagens e suas narrativas, conceitos entre bom e mau, contribuem para a compreensão da criança de alguns valores básicos da conduta humana e do contexto de interação social.

Nesse contexto, percebemos que a Literatura Infantil contribui significativamente para o desenvolvimento da imaginação e criação humana que, por vezes, no “produto da imaginação criadora do homem, o fenômeno literário se caracteriza por uma duplicidade intrínseca: é simultaneamente abstrato e concreto” (COELHO, 2000, p. 64). Conforme a autora relata, a Literatura Infantil é abstrata porque se engendra por sentimentos, emoções, ideias e vivências diversas, e é concreta porque essas experiências só se efetivam a partir do momento que forem transformadas em linguagem ou palavras, que necessitam ser registradas para garantir a existência de um fenômeno, que comunicar-se-á com seus destinatários e permanecerá durante o tempo. Ou seja, se constituirá como produto da história humana.

Assim, conforme nossos estudos iniciais da Teoria Histórico-Cultural, a Literatura Infantil apresenta os conhecimentos e experiências adquiridos ao longo da história por seus autores. Deste modo, como ressalta Vigotski (2009), a criança desenvolve sua imaginação e

(11)

criação por meio das experiências que obteve durante a vida, as quais se ampliam à medida que convivem com pessoas mais experientes.

Desta maneira, nas instituições educativas é dever dos profissionais da educação, como sujeitos mais experientes, proporcionar o acesso aos conhecimentos elaborados no percorrer da história por meio de procedimentos pedagógicos. Assim, compreendemos que a aprendizagem e o desenvolvimento se darão por meio das intervenções pedagógicas, em especial as que contemplam a Literatura Infantil como conteúdo, estratégia e recurso para o ensino.

Nesse sentido, finalizamos nossas argumentações destacando a relevância de o professor oportunizar às crianças o conhecimento advindo da Literatura Infantil nas instituições de Educação Infantil, a fim de contribuir com seu desenvolvimento e aprendizagem, lhes possibilitando condições de aprimoramento humano.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997. BELINKY, T. Dez sacizinhos. Ilustrações de Roberto Weigand. 6. ed. São Paulo: Paulinas, 2007.

BELINKY, T. O caso do bolinho. 2. ed. Ilustrações de Avelino Guedes. São Paulo: Moderna, 2004.

BELINKY, T. Um caldeirão de poemas / 62 poemas traduzidos, adaptados ou escritos por Tatiana Belinky. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2003.

BILAC, O. Poesias Infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929.

CARVALHO, B. V. A literatura infantil: visão histórica e crítica. 2.ed. São Paulo: Edart, 1982.

CHAVES, M. A formação e a educação da criança pequena: os estudos de Vigotski sobre a arte e suas contribuições às práticas pedagógicas para as instituições de educação infantil. Araraquara, 2011a. Trabalho de Pós- Doutoramento junto à Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), sob a supervisão do Prof. Dr. Newton Duarte.

CHAVES, M. Enlaces da teoria histórico-cultural com a literatura infantil. In: CHAVES, M. (Org.). Práticas pedagógicas e literatura infantil. Coleção Formação de Professores, EAD, nº 44. Maringá: EDUEM; 2011b. p.97-105.

CHAVES, M.; STEIN, V.; SILVA, C. A. Literatura Infantil e a formação de professores e crianças criadores e criativos.In: YAEGASHI, S. F. R.; CAETANO, L. M. (Orgs.) A

(12)

psicopedagogia e o processo de Ensino-Aprendizagem: da Educação Infantil ao Ensino

Superior. Curitiba, PR: CRV Editora, 2014.

COELHO, N. N. Literatura infantil: teoria, análise, didática. 1. ed. São Paulo: Moderna, 2000.

LEONTIEV, A. O homem e a cultura. In: ______ O desenvolvimento do psiquismo.

Lisboa: Livros Horizonte, 1979. p. 200-284.

LIMA, E. A.; GIROTTO, C. G. S. Leitura e leituras na educação infantil: reflexões sobre as caixas que contam histórias. In: CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL, 16., 2007, Campinas. Anais... Campinas: UNICAMP, 2007. Disponível em: <http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/sem13pdf/sm13ss08_04.pdf> Acesso em: 07 ago. 2009. MACHADO, A. M. Menina bonita do laço de fita. São Paulo: Ática, 1986.

MEIRELES, C. Ou isto ou aquilo. São Paulo: Global, 2012.

MEIRELES, C. Problemas da literatura infantil. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

MORAES, V. A arca de Noé: Poemas infantis. São Paulo: Companhia Das Letras, 1996. PAES, J. P. É isso ali: poemas adulto-infanto-juvenis. 3. ed. São Paulo: Salamandra, 2005. ROCHA, R. A Rua do Marcelo. Ilustrações de Alberto Linares. São Paulo: Salamandra, 2012.

ROCHA, R. Como se fosse dinheiro. Ilustrações de Mariana Massarani. São Paulo: Salamandra, 2010.

VIGOTSKI, L. S. (Trad. De Márcia Pileggi Vinha). Quarta aula: a questão do meio na pedologia. Psicologia USP, São Paulo, v. 21, n.4, 2010, p. 681-701.

VIGOTSKI, L. S. Imaginação e criação na infância (Tradução de Zoia Prestes). São Paulo: Ática, 2009.

Referências

Documentos relacionados

Nessa perspectiva, o objetivo geral deste trabalho é o de analisar a proposta curricular do Curso de Especialização em Gestão e Avaliação da Educação Pública, oferecido

Inicialmente, até que as ações estejam bem delineadas, a proposta é de que seja realizada apenas uma reunião geral (Ensino Fundamental e Educação Infantil)

Assim, almeja-se que as ações propostas para a reformulação do sistema sejam implementadas na SEDUC/AM e que esse processo seja algo construtivo não apenas para os

*No mesmo dia, saindo da sala do segundo ano, fomos a sala do primeiro ano, quando entramos os alunos já estavam em sala, depois de nos acomodarmos a professora pediu que

Como a divisão do trabalho em relação ao cuidado possui uma base de gênero, a política tanto deve abranger as demandas de cuidadoras, e nós incluímos aí os/as

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

Aproveite o melhor da primavera no bairro mais antigo de Atlanta no Inman Park Festival, que acontece de 27 a 29 de abril de 2007.. Todos os anos, durante uma semana, o

Percebo que um objetivo esteve sempre presente desde o princípio, sendo notadamente insistente em muitos momentos do desenvolvimento do trabalho, destacável não só porque faz parte