Comemorações do Bicentenário
a Abertura da Barra de Aveiro, 1808-2008 7 a 29 de Junho de 2008
GALERIA DOS PAÇOS DO CONCELHO
por Marcos Sílvio
Ele moinha, remoinha, engravida as velas, stressa o mar que berra ondas, tem mil nomes de pavor, é tufão, ciclone, pinta alertas de vermelho. Quando quer, sabe ser meigo, sopra de mansinho, assobia, faz-se aragem, brisa-refresco…Com mestria, saber de experiência feito, sensibilidade à pele, Marcos Sílvio oferece-nos singular experiência do VENTO. Iniciativa a que o Porto de Aveiro se associa, com orgulho, enriquecendo o vasto lote de realizações inseridas no programa comemorativo do Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro.
José Luís Cacho, Eng.
MARCOS SÍLVIO – Nasceu em Ílhavo em 1935
- Vive presentemente em Vagos, vila onde continua a desenvolver não só a sua actividade de artista plástico, mas também a prática de modelista, dedicando-se nomeadamente aos modelos em madeira de navios históricos do século passado.
- Iniciou a sua carreira artística sobre o ensinamento da pintura a óleo, de um mestre italo-americano, nos Estados Unidos da América.
- Consta no seu Curriculum com mais de sessenta exposições, no estrangeiro e em Portugal, e com vários prémios, incluindo uma menção honrosa numa das exposições bienais da academia da Marinha em Lisboa.
A EXPLICAÇÃO DO VENTO
Estamos habituados a ver Marcos Sílvio como pintor. Pintor de viagens imaginadas. Portanto esta exposição constitui de certo modo uma surpresa!
Na sua pintura, a luz, a água e o vento, são de modo recorrente, os materiais temáticos, com os quais vai construindo imagens e paisagens inventadas, onde se movem naves cumprindo rotas no sopro do vento:
Os barcos de ontem e de hoje, independentes do Tempo, navegando algures para nenhures, como objectos silenciosos para lá da última fronteira…
Marcos Sílvio habituou-nos a uma pintura figurativa, inde-pendentemente das fases que tem atravessado, ora mais geométricas ora mais orgânicas.
Mas a sua pintura, para além das apuradas técnicas que a caracterizam, só aparentemente representa navios ou embarcações. Na verdade esses navios não são retratos! Não se trata ali de representar, mas de ser. Cada nave é. É um ente criado para nos transportar a outros locais, quer exista na memória, quer sejam do domínio do sonho, no interior das suas paisagens feitas de líquidos luminosos!
Mundos imaginados, existem em todos nós; só que nem todos chegamos ao ponto de os revelar, de os exteriorizar esteticamente através de qualquer processo, como fizeram Bosch, Dali ou Picasso. O que nas pinturas destes acontece, não são repre-sentações do mundo ainda que alguns elementos sejam reconhecíveis, mas sim outros mundos que só existem porque eles os criaram.
Marcos Sílvio sabe isso, sabe que as imagens que cria ou recria a partir de objectos que buscou e o comoveram, ou de arquétipos que imagina e transpõe para a tela, fazem pare do seu planeta interior, têm lá a sua realidade.
E quer agora, com esta exposição, descrever e justificar a sua paixão de há tantos anos pelo tema. Sobretudo parece
sentir-se obrigado a dar-nos essa explicação.
Por isso, esta exposição, constituída por modelos de navios históricos e por desenhos parcelares, é do mesmo mar interior que nos fala. Mas agora através da nudez esquelética desses desenhos e modelos, numa clara tentativa de explicar o objecto dos seus sonhos.
Não são desenhos técnicos que pudessem servir para construir barcos. São pedaços de gurupés, redes da cevadeira, enxárcias e pica-peixes concorrendo para suspender velas, no afã de explicar o vento.
Parece afirmar-nos: É pelo vento que vamos, ou também… foi pelo vento que fomos, porque neste seu mundo o tempo corre ao arrepio dos dias.
Daqueles navios sobraram estórias que vai contando como memórias descritivas; estórias dos homens que os construíram, dos homens que os habitaram, dos homens que ali sofrera e a quem muitas vezes serviram de tumba.
Pessoalmente prefira as suas pinturas, onde os barcos flutuam inundados de luz e onde o vento e a neblina por vezes se intrometem, porque transportam viagens e cruzam oceanos. Mas é admirável esta exposição, pela paixão que comporta, pela persistência compulsiva do tema, pelo entusiasmo de explicar materializando, o objecto mediúnico das suas transposições poéticas. Mas ela não poderá ser totalmente entendida se alienarmos o universo pictórico do autor.
“Foi pelo vento que fomos” ou “A explicação do vento”, são portanto títulos que lhe fazem jus, e é por aí que, em meu entender, esta exposição deve ser saboreada...
E comovidamente sentida, porque estamos perante uma declaração de amor.
José Paradela, Lisboa, 27-01-2008
Organização
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