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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

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FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

CUSTOS DE TRANSAÇÃO E ARRANJOS INSTITUCIONAIS ALTERNATIVOS: UMA ANÁLISE DA AVICULTURA DE CORTE NO ESTADO DE SÃO PAULO

ANTONIO CARLOS LIMA NOGUEIRA

Orientador: Prof. Dr. DECIO ZYLBERSZTAJN

SÃO PAULO 2003

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

CUSTOS DE TRANSAÇÃO E ARRANJOS INSTITUCIONAIS ALTERNATIVOS: UMA ANÁLISE DA AVICULTURA DE CORTE NO ESTADO DE SÃO PAULO

ANTONIO CARLOS LIMA NOGUEIRA

Dissertação apresentada à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Administração

Orientador: Prof. Dr. DECIO ZYLBERSZTAJN

SÃO PAULO 2003

(3)

Para

Sílvio e Leodyr

Pelos valores que duram para a vida toda

Renata

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iv

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Decio Zylbersztajn, pela orientação e motivação durante o estudo, pelo apoio na minha carreira profissional e principalmente pelo exemplo de ética e responsabilidade.

Aos colegas do PENSA-Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial, pela convivência enriquecedora e companheirismo.

Ao Sr Érico Pozzer, pelo auxílio prestado na coleta dos dados dos integrantes da Associação Paulista de Avicultura.

À Nice, pelo suporte nas mais diversas situações durante a realização do trabalho.

Às colegas da Revista de Administração da USP, Sônia e Celeste, pelo apoio na fase final do trabalho.

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RESUMO

Neste estudo pretende-se analisar a coexistência de arranjos institucionais alternativos em sistemas produtivos agroindustriais, com foco no suprimento de frangos aos processadores na avicultura. Ainda que seja predominante na avicultura brasileira, o contrato de parceria com produtores coexiste com outros arranjos institucionais no Estado de São Paulo, como as transações via mercado com intermediários de frango vivo ou contratos de fornecimento temporário com produtores independentes. O objetivo do estudo é analisar a participação percentual dos arranjos institucionais alternativos no suprimento total dos processadores e as razões para que sejam adotados. As variáveis explicativas consideradas são algumas características e estratégias dos processadores, assim como percepções que eles têm sobre as transações, e o ambientes competitivo. Os dados foram obtidos em questionário aplicado para 30 processadores. A análise foi realizada considerando-se os arranjos institucionais individuais, o grau de integração medido pelo arranjo predominante (mercado, contratos e integração) e a escolha dicotômica do Mercado. Para cada nível de análise foram realizadas análises de estatística descritiva, análise de correlação, análise de correspondência e testes qui-quadrado para testar as hipóteses levantadas com base na Economia dos Custos de Transação.

Palavras-chave: custos de transação, arranjos institucionais, avicultura, sistemas agroindustriais, coordenação vertical.

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vi

ABSTRACT

The study analyzes the coexistence of institutional arrangements in agri-food productive systems, with focus on supply of chickens to the processors in the poultry industry. Although it is predominant in the Brazilian aviculture, the partnership contract with producers coexists with other arrangements in the State of São Paulo, as spot market transactions with dealers of live chicken or contracts of temporary supply with independent producers. The objective of the study is to analyze the percentile participation of the alternative institutional arrangements in the total supply of the processors and the reasons why they are adopted. The considered explanatory variables are some characteristics and strategies of the processors, as well as perceptions that they have about the transactions, the competitive and institutional environments. The data was collected by questionnaires applied to a sample of 30 processors. The analysis had considered the institutional arrangements the degree of coordination measured by the predominant arrangement (spot market, contracts and vertical integration) and the dichotomist choice of spot market.. To each level of analysis, the data were treated by descriptive statistics, correlation analysis, correspondence analysis and chi-square test in order to test the hypothesis proposed, based on Transaction Cost Economics.

Key-words: transaction costs, institutional arrangements, poultry industry, agri-food systems, vertical coordination.

(7)

SUMÁRIO

Página

1 O PROBLEMA... 13

1.1 Introdução... 13

1.2 Situação-Problema ... 15

1.3 Objetivos e Delimitação do Estudo... 17

1.4 Referencial Teórico ... 17

1.5 Justificativa ... 18

2 ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO... 19

2.1 Fundamentos... 20

2.2 Dimensões das Transações ... 21

2.3 Arranjos institucionais... 23

2.4 Ambiente Institucional ... 25

3 ANÁLISE DE ARRANJOS INSTITUCIONAIS... 27

3.1 Tipos de Arranjos Institucionais ... 27

3.2 Escolha dos Arranjos Institucionais ... 31

3.3 Evolução dos Arranjos Institucionais... 38

4 COORDENAÇÃO NA AVICULTURA DE CORTE... 40

4.1 Ambiente Institucional ... 40

4.2 Ambiente Competitivo ... 41

4.3 Evolução dos Arranjos Institucionais... 44

5 METODOLOGIA ... 51

5.1 Definição de Variáveis ... 51

5.2 Hipóteses ... 57

5.3 Instrumentos de Medida ... 64

5.4 Coleta de Dados ... 65

5.5 Tratamento e Análise dos Dados ... 66

5.6 Limitações do Método... 69 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 71 6.1 Considerações Gerais ... 71 6.2 Arranjos Institucionais ... 72 6.3 Perfil do processador... 76 6.4 Transação de Mercado... 86 6.5 Ambiente Competitivo ... 88 6.6 Testes de Hipóteses ... 89

(8)

viii

7 CONCLUSÃO... 124 ANEXOS ... 131

1. Estatísticas descritivas dos grupos Arranjos institucionais, Perfil do Processador,

Transação de mercado e Ambiente competitivo... 132 2. Análise de Correlação para os grupos Arranjos institucionais, Perfil do processador, Transação de mercado e Ambiente competitivo... 135 3. Resumo da análise de correspondência para Perfil do processador, Transação de

mercado e Ambiente competitivo, cada grupo cruzado com Grau de integração ... 139 4. Testes de Qui-quadrado para Perfil do processador, Transação de mercado, Ambiente competitivo e Mercado... 144 5. Questionário aplicado para processadores da avicultura do Estado de São Paulo ... 148 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 150

(9)

LISTA DE FIGURAS

Figura Página

1. Continuum de arranjos institucionais básicos da avicultura paulista... 53

2. Agentes e arranjos institucionais para fornecimento de frango vivo na avicultura paulista53 3. Arranjos institucionais de suprimento de frangos vivos ao processador (AB). ... 54

4. Participação percentual média dos arranjos institucionais de cada processador ... 73

5. Participação percentual dos arranjos institucionais no total de abate da amostra. ... 73

6. Participação percentual dos casos conforme o Grau de integração adotado... 74

7. Participação percentual de adoção de Mercado no total de casos da amostra ... 74

8. Histograma do ano de instalação das empresas na amostra. ... 77

9. Distribuição percentual por décadas do ano de instalação das empresas na amostra... 77

10. Histograma de freqüência das empresas na amostra por faixas de escala de produção (animais abatidos/dia). ... 79

11. Distribuição percentual das empresas na amostra por faixas de escala (animais abatidos/dia)... 79

12. Histograma da empresas por faixa de participação do frango congelado. ... 80

13. Distribuição das empresas por faixas de participação do frango congelado... 81

14. Histograma de empresas por faixa de participação do frango exportado. ... 82

15. Distribuição das empresas entre exportadoras e não exportadoras... 83

16. Histograma de empresas por faixa de concentração de vendas... 84

17. Distribuição das empresas por faixas de concentração de vendas no maior comprador. . 85

18. Mapa de análise de correspondência entre Grau de integração e Instalação... 92

19. Mapa de análise de correspondência entre Grau de integração e Escala ... 93

20. Mapa de análise de correspondência para Congelamento e Grau de integração... 94

21. Mapa de análise de correspondência para Concentração e Grau de Integração... 96

22. Mapa de análise de correspondência para Regularidade e Grau de integração... 98

23. Mapa de análise de correspondência para Qualidade e Grau de Integração ... 99

24. Mapa de análise de correspondência para Sanidade e Grau de Integração... 100

25. Mapa de análise de correspondência para Negociação e Grau de Integração... 102

26. Mapa de análise de correspondência para Manutenção e Grau de Integração ... 103

27. Mapa de análise de correspondência para Justiça e Grau de Integração ... 105

28. Mapa de análise de correspondência para Impostos e Grau de Integração... 106

29. Mapa de análise de correspondência para Previsão e Grau de Integração... 107

30. Mapa de análise de correspondência para Conquista e Grau de Integração ... 108

31. Mapa de análise de correspondência para Informação e Grau de Integração ... 109

32. Mapa de análise de correspondência para Insumo e Grau de Integração ... 111

(10)

x

LISTA DE QUADROS

Quadro Página

1. Arranjos institucionais para diversos níveis de incerteza e especificidade de ativos ... 33

2. Previsão da forma organizacional da coordenação vertical ... 34

3. Quadro de referência para a tomada de decisão sobre coordenação vertical ... 35

4. Variáveis dependentes correspondentes aos arranjos institucionais... 54

5. Variáveis explicativas de perfil e percepções do processador... 56

(11)

LISTA DE TABELAS

Tabela Página

1. Variações esperadas nas variáveis de arranjos institucionais... 64

2. Tabela de contingência para o cruzamento de Instalação e Escala ... 78

3. Tabela de contingência para o cruzamento de Congelamento e Escala... 81

5. Tabela de contingência para o cruzamento de Concentração e Escala... 85

6. Tabela de contingência pelo cruzamento de Instalação e Grau de integração ... 91

7. Tabela de contingência para Escala e Grau de Integração ... 93

8. Tabela de correspondência entre o Congelamento e o Grau de integração ... 94

9. Tabela de contingência para Exportação e Grau de integração... 95

10. Tabela de contingência para Concentração e Grau de integração ... 96

11. Tabela de contingência para Regularidade e Grau de integração... 97

12. Tabela de contingência para Qualidade e Grau de integração ... 99

13. Tabela de contingência para Sanidade e Grau de integração ... 100

14. Tabela de contingência para Negociação e Grau de integração. ... 101

15. Tabela de contingência para Manutenção e Grau de integração ... 103

16. Tabela de contingência para Tecnologia e Grau de integração ... 104

17. Tabela de Contingência para Justiça e Grau de integração ... 105

18. Tabela de contingência para Impostos e Grau de integração ... 106

19. Tabela de contingência para Previsão e Grau de integração ... 107

20. Tabela de contingência para Conquista e Grau de integração... 108

21. Tabela de contingência para Informação e Grau de integração... 109

22. Tabela de contingência para Insumo e Grau de integração... 110

23. Tabela de contingência para Comprador e Grau de integração... 112

24. Tabela de contingência para Instalação e Mercado ... 113

25. Tabela de contingência para Escala e Mercado... 114

26. Tabela de contingência para Congelamento e Mercado ... 114

27. Tabela de contingência para Exportação e Mercado ... 115

28. Tabela de contingência para Concentração e Mercado... 115

29. Tabela de contingência para Regularidade e Mercado ... 116

30. Tabela de contingência para Qualidade e Mercado ... 117

31. Tabela de contingência para Sanidade e Mercado... 117

32. Tabela de contingência para Negociação e Mercado... 118

33. Tabela de contingência para Manutenção e Mercado... 119

34. Tabela de contingência para Tecnologia e Mercado... 119

35. Tabela de contingência para Justiça e Mercado ... 120

36. Tabela de contingência para Impostos e Mercado... 120

37. Tabela de contingência para Previsão e Mercado... 121

(12)

xii

39. Tabela de contingência para Informação e Mercado ... 122

40. Tabela de contingência para Insumo e Mercado ... 123

41. Tabela de contingência para Comprador e Mercado ... 123

42. Estatísticas descritivas das variáveis dependentes... 133

43. Estatísticas descritivas das variáveis do grupo Perfil do processador ... 133

44. Estatísticas descritivas das variáveis explicativas do grupo Transação de mercado ... 134

45. Estatísticas descritivas das variáveis explicativas do grupo Ambiente competitivo ... 134

46. Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis dependentes do grupo Arranjos institucionais (significância entre parênteses) ... 136

47. Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis explicativas do grupo Perfil do processador (significância entre parênteses) ... 136

48. Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis explicativas do grupo Transação de mercado (significância entre parênteses)... 137

49. Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis explicativas do grupo Ambiente competitivo (significância entre parênteses) ... 137

50. Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis explicativas e as variáveis dependentes (significância entre parênteses)... 138

51. Resumo da análise de correspondência para Perfil do processador e Grau de integração140 52. Resumo da análise de correspondência para Transação demercado e Grau de integração ... 141

53. Resumo da análise de correspondência para Ambiente competitivo e Grau de integração ... 143

54. Teste de Qui-quadrado entre Perfil do processador e Mercado... 145

55. Teste Qui-quadrado entre Transação de mercado e Mercado ... 146

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1 O PROBLEMA

1.1 Introdução

A coordenação nas cadeias produtivas tem sido um tema cada vez mais relevante no estudo das organizações em razão da grande variedade de arranjos institucionais que têm surgido em diversas indústrias. Arranjos como os contratos de fornecimento de longo prazo, subcontratação (terceirização) de fornecedores de produtos e serviços, condomínios industriais onde fornecedores operam dentro das instalações do cliente, contratos de franquia, contratos de exclusividade de canal, entre outros, estão tornando as transações via mercado cada vez menos freqüentes. As inovações nos arranjos institucionais podem gerar novas questões relativas à defesa da concorrência para o setor público, desafios estratégicos para os agentes privados e temas de pesquisa para os acadêmicos que estudam as organizações.

No âmbito do agronegócio, a coordenação tem especial interesse em virtude da tendência, verificada nas últimas décadas, de estreitamento das relações entre as diversas etapas produtivas. Considerando-se as crescentes exigências de variedade, qualidade e segurança do alimento por parte dos mercados consumidores domésticos e internacionais, os sistemas produtivos devem apresentar atualização tecnológica, padronização e uniformidade de oferta, em qualquer nível de processamento industrial envolvido. Um dos principais desafios nesse processo é conciliar o aumento da coordenação com os aspectos intrínsecos de sazonalidade, incerteza e perecibilidade da produção agropecuária.

A compreensão dos determinantes da existência dos diversos arranjos institucionais que têm surgido representa um desafio para o enfoque tradicional da Teoria da Organização Industrial, que considera principalmente as alternativas de transação de mercado e integração vertical. Para Scherer e Ross (1990), essa teoria estuda as decisões dos agentes sobre a oferta de produtos, o uso de recursos escassos e a distribuição dos resultados com base numa abordagem de mercado. Considera-se que consumidores e produtores agem respondendo a sinalizações de preços gerados pelo confronto entre oferta e demanda em mercados com graus distintos de concentração e competição.

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Segundo os mesmos autores, se o grau de integração vertical da indústria for analisado de forma estática, ela representa a extensão das firmas no espectro completo dos estágios de produção e distribuição. Por outro lado, se se considerar um processo de adaptação da estrutura da indústria, as firmas podem avançar em etapas a montante (para trás), passando a produzir matérias-primas ou produtos semi-elaborados usados como insumos, ou a jusante (para a frente), envolvendo processamento posterior ou distribuição. Os motivos citados para esses movimentos seriam a redução de custos na integração para trás e o aumento do controle sobre o ambiente econômico na integração para a frente.

Para Mahoney et al. (1994), a coordenação ao longo da cadeia produtiva pode ser obtida por meio de vários mecanismos, incluindo mercados (preços), contratos implícitos e alianças, contratos formais, acordos acionários de joint-ventures e integração vertical. Propõe-se a existência de uma competição entre formas organizacionais alternativas, com os agentes econômicos escolhendo aquela que atinja seus objetivos (redução de custos de produção, compartilhamento de riscos, poder de mercado) ao custo mais baixo.

Assim, os autores consideram que, no campo econômico, as políticas públicas deveriam permitir uma livre competição entre as formas organizacionais e, portanto, não poderiam restringir os agentes econômicos em sua escolha. De acordo com essa visão, a contratação vertical e a integração vertical financeira devem ser tratadas legalmente de forma equânime.

A competição entre formas alternativas de coordenação vertical pode gerar situações de coexistência entre elas na mesma indústria, o que representa uma intrigante questão ainda sem resposta. O tema foi tratado por Zylbersztajn (2001), que procurou estabelecer as bases teóricas para a difusão de arranjos institucionais, partindo do pressuposto de que o arranjo mais eficiente será gradativamente adotado pelos agentes econômicos. Esse processo seria influenciado por três fatores: “(1) existência de capacidades dinâmicas não copiáveis, geradas em conjunto pelos agentes especializados que fazem parte da cadeia ou rede, (2) ambiente institucional no qual o arranjo ocorre, implicando que a observação de arranjos simultâneos pode representar uma situação temporária de desequilíbrio, com agentes adotando o novo arranjo institucional, (3) barreiras de natureza tecnológica, sob controle do grupo”.

Outro conceito importante para que se entendam os arranjos verticais é o de subsistema estritamente coordenado, proposto por Zylbersztajn e Farina (1999), que representa a aplicação a uma cadeia produtiva do conceito de firma como um nexo de contratos, proposto por Ronald Coase. As proposições dos autores são: (1) uma cadeia de suprimento pode ser encarada como um nexo de contratos ampliado, cuja arquitetura resulta

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de seu alinhamento com as características das transações e o ambiente institucional; (2) existem arranjos contratuais que reproduzem a arquitetura contratual existente na firma, e a motivação para a elaboração de um subsistema por algum agente dentro da cadeia parte das estratégias de mercado e da busca de eficiência em custos de transação.

Assim, uma cadeia produtiva pode ser considerada uma entidade independente, ou um subsistema estritamente coordenado, se um grau suficiente de controle puder ser aplicado. Um subsistema apresenta maior probabilidade de ocorrência em cadeias de suprimento individuais do que em sistemas mais agregados. Além disso, diversos mecanismos de motivação e controle podem ser implementados, para dar suporte à idéia de gestão de uma cadeia de suprimento.

Para Sauvée (1995), o processo de tomada de decisão pelos agentes sobre a estrutura de governança é complexo e ainda não está totalmente compreendido. Analisando-se o grau de coordenação que cada estrutura oferece, verifica-se que essas estruturas poderiam ser ordenadas em um continuum entre as formas extremas de mercado e de integração vertical, que seriam intercaladas por um conjunto de formas híbridas (contratos de longo prazo). Observa-se que as principais abordagens que buscam explicar o crescimento da coordenação no sistema produtivo baseiam-se na busca do poder de monopólio ou na eficiência.

1.2 Situação-Problema

Na avicultura brasileira, o arranjo institucional dominante para o suprimento de frangos aos processadores tem sido o contrato de parceria com produtores, que surgiu no início da década de 60 no Oeste do Estado de Santa Catarina. Nessa estrutura, os processadores oferecem rações de fabricação própria, pintos de linhagens selecionadas, medicamentos, assistência técnica e veterinária durante a engorda, comprometendo-se a adquirir os frangos em peso de abate. Os produtores são responsáveis pelas instalações e equipamentos das granjas e pelo manejo, assumindo o compromisso de vender os frangos para o processador contratante. O contrato prevê o pagamento dos lotes de acordo com índices de eficiência do produtor no manejo, como conversão alimentar ou mortalidade.

A disseminação dos contratos de parceria favoreceu o rápido desenvolvimento tecnológico da produção e industrialização de aves, gerando ganhos expressivos de produtividade, redução de custos, qualidade e padronização. Com isso, foi possível uma

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16

redução consistente dos preços, aumento do consumo doméstico e o avanço em diversos mercados internacionais.

Os produtos obtidos após o processamento podem ser o frango resfriado inteiro ou em cortes, o frango congelado inteiro ou em cortes e alimentos industrializados. As estratégias de produto dos processadores geralmente estão condicionadas aos mercados atendidos e ao nível de investimentos realizados em equipamentos. Produzir frango congelado inteiro ou em cortes exige maiores investimentos do que produzir somente frango resfriado, em razão da necessidade de túneis de congelamento. Os lideres da indústria têm dirigido os produtos de maior valor agregado para o mercado doméstico e o frango congelado inteiro ou em partes para a exportação.

No Estado de São Paulo verifica-se a coexistência dos contratos de parceria com outras estruturas de governança, como as transações via mercado com intermediários de frango vivo ou os contratos de fornecimento temporário com produtores, que por sua vez podem subcontratar produtores de menor escala. A existência de preços mais elevados nos insumos para a ração (milho e soja), em relação a outras regiões produtoras de aves, e a competição acirrada por preços no varejo provocam redução nas margens de lucro dos processadores e produtores, contribuindo para o avanço dos contratos de parceria.

O Estado apresenta pelo menos duas características que o diferenciam na avicultura brasileira. Primeiro, trata-se do local de origem da avicultura comercial do País, na década de 40, a qual desenvolveu-se a partir de agentes independentes nas diversas etapas e transações via mercado, até a entrada das grandes agroindústrias com projetos de parceria, após os anos 60. Portanto, existe uma tradição de produção independente importante e competitiva, tanto que São Paulo sempre esteve entre os quatro maiores Estados produtores do País.

O segundo diferencial é que São Paulo abriga o maior mercado consumidor de frango inteiro resfriado, que apresenta baixa exigência de padronização e qualidade. Essa condição viabiliza a existência de processadores de menor porte produzindo apenas frango resfriado, opção que exige menores investimentos em instalações. Esses agentes adotam contratos de parceria, de fornecimento temporário ou fazem transações de mercado.

A questão básica que motiva este estudo é compreender por que coexistem arranjos institucionais distintos no suprimento de frango aos processadores no Estado de São Paulo.

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1.3 Objetivos e Delimitação do Estudo

O objetivo geral desta dissertação é analisar a coexistência de arranjos institucionais alternativos em sistemas produtivos agroindustriais, focalizando o suprimento de frangos para processadores na avicultura de corte do Estado de São Paulo. Os objetivos específicos são:

1. analisar a participação percentual dos arranjos institucionais alternativos no suprimento total dos processadores;

2. analisar o perfil dos processadores, considerando-se as características da produção e das vendas;

3. analisar as percepções dos processadores sobre as transações de mercado, os impactos do ambiente institucional nessas transações e o ambiente competitivo; 4. identificar as relações de dependência dos arranjos institucionais alternativos

adotados pelos processadores com o perfil e as percepções analisados.

O estudo está delimitado às variáveis dependentes que representam os arranjos institucionais para suprimento de frango vivo adotados pelos processadores. Pretende-se pesquisar, com os processadores, qual a participação percentual de cada arranjo institucional em seu suprimento total e as razões para que sejam adotados. Como variáveis explicativas, são considerados aspectos relacionados ao perfil (características e estratégias) e às percepções dos agentes sobre as transações e o ambiente competitivo.

1.4 Referencial Teórico

A Economia de Custos de Transação é o referencial teórico usado para o levantamento de hipóteses a ser testadas pela análise dos dados obtidos dos questionários.

A coordenação de cadeias produtivas tem sido um tema central no âmbito da Nova Economia Institucional, particularmente em um de seus ramos: a Economia dos Custos de Transação (ECT). A significativa contribuição da ECT ao conhecimento sobre o tema tem sido possível porque ela oferece uma abordagem em dois níveis distintos e complementares. O primeiro nível é microanalítico, tratando das transações e dos arranjos contratuais entre e intrafirmas, enquanto o segundo é macroinstitucional, considerando os impactos das instituições formais e informais nas atividades econômicas e nas decisões dos agentes. Esse arcabouço teórico nasceu das idéias de Ronald Coase, apresentadas em 1937, sobre a relevância dos custos de transação e do caráter contratual das firmas. Os custos em questão

(18)

18

estariam relacionados à busca de informações, negociação, elaboração e monitoramento de contratos formais ou informais.

No desenvolvimento da ECT destaca-se o trabalho de Oliver E. Williamson, que adota a transação entre agentes econômicos como unidade de análise, identifica suas principais dimensões e propõe um modelo teórico pelo qual os agentes escolhem os arranjos verticais mais eficientes, para um dado ambiente institucional, buscando a minimização de custos de transação.

1.5 Justificativa

O estudo se justifica por contribuir para a aplicação empírica do referencial teórico e pela relevância do problema para a avicultura, aspectos detalhados a seguir.

Com relação ao referencial teórico, o estudo avança ao buscar explicar a coexistência de estruturas de governança distintas na mesma indústria. Essa situação contraria o pressuposto de alinhamento dos arranjos institucionais com as transações num dado ambiente institucional, gerando o predomínio do arranjo mais eficiente em custos de transação. Para explicar esse paradoxo pretende-se analisar os perfis e as percepções dos agentes sobre a transação de mercado.

Com relação à importância do problema para a avicultura de corte, deve-se destacar que as vantagens competitivas alcançadas por essa indústria nos mercados domésticos e internacionais de carnes devem-se principalmente à adoção da estrutura de governança baseada em contratos de parceria. Assim, torna-se relevante levantar as possíveis causas da coexistência desse modelo com outras alternativas no Estado de São Paulo, para orientar as ações dos agentes privados e públicos, dadas as tendências gerais da avicultura nacional e internacional. Trata-se de questionar as razões para a sobrevivência e a viabilidade futura das estruturas de governança diferentes do padrão predominante.

A pesquisa se insere em uma seqüência de estudos que combinam análises do ambiente institucional e dos arranjos institucionais para a indústria avícola de outros países, como em Menard (1996), Souvée (1995) e Martinez (1999).

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2 ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO

A escolha da Economia dos Custos de Transação (ECT) como referencial teórico neste estudo se justifica pelo fato de esta apresentar duas linhas de pesquisa distintas mas complementares, identificadas por Williamson (1991) como Ambiente Institucional e Instituições de Governança. Essas ferramentas podem ser úteis para se analisar em profundidade a dinâmica da coordenação na avicultura paulista, considerando-se o quadro institucional e os aspectos microanalíticos.

Buscando demonstrar a adequação da Economia dos Custos de Transação para explicar os objetivos das firmas, suas razões de existência e como elas tomam decisões, Williamson (2000) afirma que essa linha teórica sustenta o uso de critérios de eficiência econômica para a análise de contratos e organizações, e que a existência e a governança das firmas são os temas centrais dessa escola de pensamento. O autor considera que o conceito de firma como uma estrutura de governança ainda está em construção, mas que teria sido útil para o aprofundamento da compreensão de muitos fenômenos contratuais e organizacionais complexos, e funcionado como um mecanismo de verificação para evitar usos abusivos ou incorretos da ortodoxia. Com relação aos resultados obtidos em estudos empíricos, o autor afirma que a ECT é uma história de sucesso, e completa citando Paul Joskow, que observa que esse trabalho empírico está em condições bem melhores que o realizado na área de Organização Industrial em geral.

A primeira seção deste capítulo apresenta conceitos fundamentais e pressupostos comportamentais do referencial teórico; a segunda seção trata das dimensões consideradas nas transações, que são as unidades básicas de análise; a terceira seção contém o tratamento dado pela teoria aos arranjos institucionais, elementos essenciais na abordagem microanalítica; a quarta seção contém o tratamento dado ao ambiente institucional.

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2.1 Fundamentos

A escolha da ECT como referencial teórico se justifica pelo enfoque microanalítico e institucional que a caracteriza e que contribui para uma análise detalhada dos arranjos institucionais e de suas relações com o ambiente institucional.

O caráter microanalítico revela-se na análise aprofundada das transações e das múltiplas dimensões dos arranjos contratuais que as governam, considerando alguns pressupostos comportamentais dos agentes econômicos individuais. Essa abordagem contribui para que se possa identificar os determinantes da dinâmica dos arranjos contratuais adotados entre firmas e dentro delas. No caso das transações entre firmas, trata do grau de integração vertical adotado, enquanto dentro das organizações analisa os mecanismos de incentivo, monitoramento e mensuração de resultados individuais.

A abordagem institucional envolve a análise conjunta de regras formais e informais relacionadas com direitos de propriedade, tributos, defesa da concorrência, meio ambiente e outros aspectos, que regulam a ação dos agentes, assim como as organizações instituídas para criar e aplicar essas regras e solucionar conflitos, como parlamentos, governos, tribunais e instâncias de arbitragem.

Para Sauvée (1995), a coordenação vertical tem sido um campo importante da pesquisa econômica, tanto teórica quanto empírica. Para ele, a teoria da Organização Industrial tem enfocado a integração vertical e as decisões do tipo “fazer ou comprar”, baseada em uma abordagem tecnológica e de competição imperfeita. A Economia dos Custos de Transação (ECT) tem desenvolvido uma visão contratual das firmas e dos mercados, abrindo novas perspectivas para o estudo da coordenação vertical.

A origem da ECT está em Coase (1937), no clássico artigo The Nature of the Firm, onde o autor argumenta que os custos das transações, da coordenação e da contratação deveriam ser considerados explicitamente para se entender a extensão da integração vertical. Desse ponto de vista, as firmas, na busca da maximização de lucros, passariam a realizar as atividades que envolvessem custos inferiores em relação à contratação no mercado.

Os custos de transação foram definidos por Williamson, citado por Zylbersztajn (1995), como “os custos ex-ante de preparar, negociar e salvaguardar um acordo, bem como os custos ex-post dos ajustamentos e adaptações quando a execução de um contrato é afetada por falhas, erros, omissões e alterações inesperadas. Em suma, são os custos de conduzir o sistema econômico”.

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Ainda segundo Zylbersztajn, o objetivo dessa teoria é “estudar o custo das transações como o indutor dos modos alternativos de organização da produção (governança) dentro de um arcabouço analítico institucional. Assim a unidade de análise fundamental passa a ser a transação, onde são negociados direitos de propriedade”.

Esse autor relaciona os pressupostos da ECT:

Custos de transação: aparecem tanto na utilização do sistema de preços como em transações regidas por contratos internos à firma, o que significa que todos os tipos de contratos (externos ou internos à firma) são importantes para o funcionamento da economia.

Ambiente institucional: as transações ocorrem em ambientes institucionais estruturados (regulamentos formais ou informais nos diversos agrupamentos sociais) e as instituições interferem nos custos de transação, por afetarem o processo de transferência dos direitos de propriedade (uso, controle e apropriação de resultados dos ativos).

Racionalidade limitada: considera-se que o agente econômico busca um comportamento otimizador e racional, mas que não conseque satisfazer esse desejo, dada sua limitação na capacidade cognitiva de receber, armazenar, recuperar e processar informações, o que faz com que não seja totalmente racional em suas decisões.

Oportunismo: conceito que resulta da ação dos indivíduos na busca de seu auto-interesse, mas com uma conotação não cooperativa. Ele pode ocorrer, por exemplo, quando um agente tem uma informação sobre a realidade não disponível a outro agente, e ela é utilizada de modo a permitir que o primeiro desfrute de algum benefício do tipo monopolístico.

Com essas ferramentas, a teoria tem como objeto principal de análise as transações entre os agentes econômicos, em determinado ambiente institucional (externo e interno às firmas). Busca-se explicar e, se possível, prever a dinâmica dessas transações, com base na premissa de que os agentes têm como objetivo final minimizar os custos de transação, em busca de maior eficiência econômica.

2.2 Dimensões das Transações

A hipótese central do trabalho de Williamson é que as transações estão relacionadas aos arranjos institucionais, que diferem entre si principalmente quanto à eficiência em custos de transação. Portanto, conhecendo-se as dimensões significativas das transações é possível prever os arranjos institucionais. As dimensões consideradas são a freqüência com que

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ocorrem, o grau e o tipo de incerteza à qual estão sujeitas e a condição de especificidade de ativos (WILLIAMSON, 1979). Os impactos dessas características nos custos de transação são descritos a seguir.

A incerteza é a característica da transação com efeitos menos conhecidos nos custos de transação. Definida como uma condição em que os agentes não conhecem os resultados futuros de determinada transação, representa uma situação diferente daquela na qual existe o fator chamado risco, geralmente associado a uma distribuição de probabilidades conhecida de eventos previsíveis. Aparentemente, quanto maior a incerteza, maiores os custos de transação em razão de uma maior necessidade de salvaguardas nos contratos, que reduzem os retornos por causa dos custos diretos ou da realização de investimentos inferiores aos necessários para uma escala de produção ótima.

A freqüência das transações afeta os custos de negociar, elaborar e monitorar contratos, assim como o comportamento dos agentes quanto ao oportunismo e à construção de reputação. À medida que a freqüência aumenta, principalmente entre os mesmos agentes, caem os custos relativos aos contratos e os ganhos provenientes de ações oportunistas, visto que elas podem interromper o relacionamento. Por outro lado, o aumento da freqüência aumenta os incentivos para a construção de reputação positiva pelos agentes, pelo reforço à redução já mencionada nos custos relativos aos contratos.

A especificidade dos ativos é o grau de perda de valor quando o recurso é excluído da transação e aplicado em sua melhor utilização alternativa. Quanto maior essa perda, maior a especificidade do ativo. Essa característica torna-se fundamental na análise das transações porque é uma das fontes de quase-rendas que podem ser criadas nas transações que envolvem esse tipo de ativo.

Quando determinado agente realiza investimentos em ativos específicos, o outro agente envolvido na transação pode pretender se apropriar dessa quase-renda, para melhorar suas condições na negociação, contando com a perda a ser gerada ao primeiro agente se a transação não ocorrer. Williamson (1985) classifica os tipos de especificidades de ativos como: de local, de ativos físicos, de ativos humanos e de ativos dedicados, enquanto Masten et al. (1991) identificam a especificidade de tempo, conceitos detalhados a seguir:

Especificidade de local: as partes envolvidas na transação se relacionam de modo muito semelhante ao da propriedade unificada: os ativos em questão são imóveis, implicando elevados custos para que sejam deslocados. A decisão de investimento (custo ex-ante) leva em consideração o compromisso das partes em manter o relacionamento durante a vida útil dos ativos, para economias em custos de transporte e estoques, entre outros. A quebra

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contratual gera a perda dessas vantagens, implicando em custos de transação para o estabelecimento de novos acordos.

Especificidade de ativos físicos: quando uma ou ambas as partes investem em equipamentos e maquinário cujas características físicas (capacidade, projeto, especificações técnicas, etc) são específicas para o propósito da relação e têm baixo valor em usos alternativos.

Especificidade de ativos humanos: os investimentos em qualificação de pessoal e o processo de aprendizagem contínuo durante a realização das atividades tornam o capital humano dotado de habilidades específicas ao interesse das partes envolvidas.

Especificidade de ativos dedicados: a expansão da capacidade produtiva adotada por uma das partes com o propósito único de responder ao incremento da quantidade demandada pela outra parte se converte em ativos específicos. Se o contrato for cancelado, o fornecedor ficará com excesso de capacidade de produção.

Especificidade de tempo: em determinados produtos o tempo é um fator fundamental para a atribuição de valor ou para a eficiência no processo produtivo de determinados produtos. Assim, observa-se essa característica em jornais diários, que se tornam ultrapassados no dia seguinte, em alimentos perecíveis, pelos aspectos sanitários, e em processos produtivos agroindustriais ou da construção civil, pelo encadeamento rigoroso das etapas. Quanto maior a especificidade de tempo nos ativos, maior a probabilidade de integração vertical ou de aproximação física das partes.

2.3 Arranjos institucionais

O estudo dos contratos tem sido uma vertente essencial ao longo da evolução da ECT, em razão do reconhecimento de sua função como de governar as transações. Considerados de forma ampla, eles representam os mais variados acordos entre os agentes, podendo aparecer entre firmas no mercado, como uma simples transação de compra e venda, ou dentro das firmas, como um contrato de trabalho.

Zylbersztajn (1995) destaca o estudo das relações contratuais como uma das principais áreas da Nova Economia Institucional, da qual a ECT faz parte, que envolve outras áreas, como Economia, Direito e Administração, ainda que estas tenham enfoques diferentes sobre os contratos. A Economia considera os aspectos ligados à eficiência, enquanto para o Direito

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o critério de avaliação dos contratos seria a justiça. O autor relaciona os seguintes aspectos dos contratos:

Incompletude: característica fundamental de qualquer contrato, deriva da impossibilidade de se prever eventos ou comportamentos futuros, assim como da racionalidade limitada dos agentes, que seriam incapazes de considerar todos os aspectos relevantes das transações envolvidas. O desenvolvimento de uma teoria dos contratos deve contemplar regras para o preenchimento das lacunas inevitáveis dos contratos.

Custos: relativos à negociação, elaboração, monitoramento, criação e aplicação de mecanismos para a solução de conflitos e para a punição de comportamentos indesejados. Uma das formas encontradas pela sociedade para reduzir os custos na solução de conflitos foi a criação de instituições estruturadas para esse fim, como tribunais formais ou informais. A firma pode ser considerada uma estrutura apta a resolver uma parcela significativa das disputas, através da hierarquia.

Duração: concebidos em geral com prazo indeterminado, os contratos podem ser temporários a priori ou ter a duração interrompida por quebras contratuais unilaterais ou novas etapas de negociação. A presença de ativos específicos gera a necessidade de compromissos com prazos mais longos, suficientes para que se recupere o investimento realizado.

Williamson (1991) oferece uma análise detalhada de três arranjos contratuais básicos, cada um representando uma estrutura de governança. Ele considera cada contrato como uma função de p (preços), k (especificidade de ativos) e s (salvaguardas).

Para o contrato clássico, característico das relações de mercado, o preço é determinante, enquanto k e s são baixos, se não nulos. Nesses contratos, cláusulas formais especificam a maioria das características da transação em questão, sendo irrelevante a identidade dos participantes, e as transações são altamente monetizadas.

No outro extremo das estruturas, o contrato de forbearance (controle) pode ser o contrato implícito das organizações formais, no qual p tem pequena influência, enquanto k e s têm valores elevados. Nesse arranjo, é crucial a adaptabilidade às mudanças do ambiente, e os ativos altamente específicos criam a possibilidade de oportunismo, que é reduzida com a construção de salvaguardas. Neste caso, a hierarquia é o principal instrumento de adaptabilidade, através do poder de fiat.

Entre os dois arranjos citados estão os contratos neoclássicos, característicos das formas híbridas, onde os preços têm um papel importante de ajustamento, que é limitado pela presença de ativos específicos (k é positivo), e as salvaguardas são de difícil implementação.

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O contrato neoclássico é tipicamente um arranjo de longo prazo, cujo objetivo é desenvolver um relacionamento continuado, no qual a identidade dos agentes é importante em virtude da existência de dependência bilateral, enquanto os mecanismos de ajustamento devem ser flexíveis o suficiente para permitir que as partes se adaptem a distúrbios de impacto moderado.

2.4 Ambiente Institucional

A linha de pesquisa da ECT que trata do ambiente institucional surgiu do reconhecimento de que esse elemento afeta o comportamento dos agentes e por conseqüência, os custos de transação. Com isso, as instituições passaram a ser objeto de análise pela teoria.

Para North (1991),

instituições são restrições (normas) construídas pelos seres humanos, que estruturam a interação social, econômica e política. Elas consistem em restrições informais (sanções, tabus, costumes, tradições e códigos de conduta) e regras formais (constituições, leis e direitos de propriedade).

Farina, Azevedo e Saes (1997, p. 59) consideram que algumas instituições podem impor restrições sobre outras instituições, ou seja, são instituições que servem para regular as restrições às ações humanas, servindo de parâmetro para a escolha de regras formais e informais. Para que as instituições sejam ainda mais abrangentemente definidas é necessário também incluir na definição anterior os instrumentos responsáveis pelo funcionamento adequado das regras que compõem as instituições.

Ainda para esses autores, a principal contribuição da corrente Ambiente Institucional é o estabelecimento da relação entre instituições e desenvolvimento econômico, que estaria expresso no slogan da NEI: instituições são importantes e suscetíveis de análise.

Essa corrente parte do pressuposto de que a especialização dos agentes, apesar de gerar ganhos de eficiência, aumenta a quantidade de transações necessárias e a dependência entre as partes, o que eleva os custos de transação. Assim, deve-se buscar um ponto de equilíbrio para o grau de especialização que o agente deverá atingir. O papel das instituições seria amenizar o crescimento dos custos de transação, tornando as transações viáveis em ambientes com diferentes graus de especialização.

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A análise de Ambiente Institucional tem sido realizada consoante dois procedimentos: investigar os efeitos de uma mudança no ambiente institucional sobre o resultado econômico e teorizar sobre a criação das instituições. O primeiro tem se desenvolvido nos estudos voltados para a história econômica, revelando, por exemplo, evidências de que a existência de direitos de propriedade claramente definidos e o compromisso claro do Estado para que eles sejam cumpridos favorecem os investimentos e o crescimento econômico. O segundo tem encontrado mais dificuldades em seu desenvolvimento, principalmente porque os pressupostos adotados têm sido os mesmos da economia neoclássica, ou seja, que a tecnologia, dotações iniciais e preferências definem os preços relativos das ações humanas, incluindo o oportunismo. A tese básica é que à medida que passa a ser economicamente interessante o estabelecimento de uma instituição, via mudança nos preços relativos, os agentes se sentem incentivados a implementá-la. Entretanto, os resultados obtidos nos estudos dessa corrente têm sido contraditórios. O determinismo da correspondência entre instituições e preços relativos pode ser afetado justamente pela presença de custos de transação. Nesta condição, a escolha do quadro institucional não responderia com precisão às mudanças nos preços relativos (FARINA, AZEVEDO e SAES , 1997, p. 65-66).

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3 ANÁLISE DE ARRANJOS INSTITUCIONAIS

Este capítulo trata nos três itens seguintes, da análise dos arranjos institucionais em sistemas produtivos. O primeiro apresenta os tipos básicos de arranjos institucionais e suas características, o segundo discute as razões para que sejam escolhidos conforme diversas abordagens teóricas e o terceiro trata da evolução dos arranjos institucionais no tempo.

3.1 Tipos de Arranjos Institucionais

Ao tratarem da integração vertical e do suprimento das firmas em cadeias produtivas, Brickley, Smith e Zimmerman (1997, p. 350) observam que as firmas podem mudar seu grau de integração ao longo do tempo e que escolhem a forma de suprimento (outsourcing) num conjunto seqüencial e contínuo (continuum) de possibilidades. Em uma das extremidades desse conjunto está o mercado, no qual produtos ou serviços podem ser adquiridos de qualquer agente de um grande número de fornecedores. Na outra extremidade está a integração vertical, com a realização interna do produto ou serviço. Entre essas duas opções extremas estão os contratos de longo prazo, que podem assumir diversas configurações. A seguir são comentadas essas três alternativas básicas.

3.1.1 Mercado

Brickley, Smith e Zimmerman (1997, p. 354) apresentam os benefícios das transações em mercados competitivos, como a promoção da produção eficiente – realizada ao menor custo médio unitário possível. O preço seria igual ao custo médio, fazendo com que os compradores adquiram produtos ao menor valor que inclua uma taxa normal de retorno do investimento feito pelos produtores. No longo prazo, os produtores adotam avanços tecnológicos que reduzem os custos de produção e/ou aprimoram a qualidade do produto. A redução nos custos é repassada aos compradores na forma de preços mais baixos. Essa análise

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sugere que quando existem mercados competitivos para a compra de produtos e serviços, as firmas devm usá-los. Na maioria dos casos, uma firma não consegue adquirir um produto de forma mais barata por meio de uma transação fora do mercado, que, em muitos casos, sai mais cara do que no mercado.

Uma condição limitante significativa para a produção interna de insumos é a necessidade de se atingir um volume suficiente para se tirar proveito das economias de escala. Suponha-se que, em determinado mercado competitivo, o ponto de custo médio unitário é atingido para a quantidade Q, individualmente por algumas firmas. Se uma firma precisa de uma quantidade menor do que Q e produz essa quantidade, seu custo médio unitário será maior. Se ela decidir produzir Q, poderá vender o excesso no mercado. Entretanto, essa decisão implica entrar em um novo mercado que não é o seu foco original de negócios. Essa diversificação pode reduzir o valor da empresa, pois seu desempenho pode vir a ser inferior ao que seria se ela fosse mais focalizada.

Outra questão a ser considerada no caso de suprimento obtido por meio de transações fora do mercado é a motivação para a produção eficiente. Divisões que fazem parte de grandes empresas podem ser ineficientes e ainda assim permanecerem operando, se elas forem subsidiadas por outras áreas mais lucrativas da firma. As firmas devem adotar sistemas de incentivo e controle para motivar gerentes internos a se engajar em uma produção eficiente. De forma semelhante, parceiros em contratos de suprimento de longo prazo precisam ser motivados para cumprirem suas responsabilidades no acordo. Por outro lado, firmas independentes estão sujeitas a pressões de mercado mais diretas. Se elas forem ineficientes em suas linhas de negócio, perderão dinheiro ou eventualmente serão forçadas a encerrar suas atividades.

Apesar das vantagens no uso de transações de mercados competitivos, a maioria das transações são realizadas fora deles, com integração vertical ou contratos de longo prazo, também chamados de formas híbridas. As razões para essa situação serão tratadas no item “Escolha dos Arranjos Institucionais”.

3.1.2 Integração Vertical

Analisando as vantagens e desvantagens da integração vertical, D’Aveni e Ravenscraft (1994) estudaram uma comparação entre as economias provenientes da integração e os custos burocráticos incorridos. O estudo testou as relações entre a integração vertical, os custos da

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estrutura e a performance no plano da linha de negócios. Os resultados indicaram que a integração vertical resulta em economia mesmo depois que as economias características da indústria (economias de escopo e de escala) são controlados. Linhas de negócios integradas verticalmente economizaram em custos de publicidade, pesquisa e desenvolvimento, mas tiveram maiores custos de produção, tendo por isso lucratividades ligeiramente superiores às linhas independentes. Outro resultado foi que a elevação dos custos de produção esteve relacionada à integração para trás, sugerindo um isolamento das pressões do mercado e falta de incentivo para que se produza com custos menores. Assim, os autores concluem que os efeitos de eficiência e de custos burocráticos apareceram, e que os benefícios da integração superaram ligeiramente suas desvantagens.

3.1.3 Formas Híbridas

O desenvolvimento dos mercados e das estruturas organizacionais levou ao aprofundamento da questão das fronteiras da firma. Joskow (1993) considera que esse limite oferece uma distinção bastante grosseira entre os dois mecanismos institucionais básicos para a alocação de recursos (firma e mercados), representando apenas o início e não o fim da questão. Isto porque as firmas podem adotar diversas estruturas organizacionais, assim como as transações de mercado podem adotar muitas formas, desde transações simples em mercados spot até contratos complexos de longo prazo.

Ao discutir evidências empíricas que relacionam a especificidade de ativos com as relações verticais, o autor considera estas últimas como uma variável dependente, limitada a três situações: integração vertical, contratos de longo prazo e transações em mercado spot. Assim, espera-se que os agentes escolham com mais freqüência a integração vertical ou os contratos de longo prazo à medida que as quase-rendas associadas a investimentos específicos se tornem mais importantes e os benefícios associados aos acordos prévios aumentem. Para a análise empírica, necessita-se de alguma medida de especificidade de ativos a ser tomada como variável independente.

O autor afirma ainda que existem diversos custos de transação e organizacionais associados à integração vertical e aos contratos de longo prazo que não aparecem nas operações em mercados spot. As dificuldades em elaborar, monitorar e exigir o cumprimento de contratos de longo prazo que possam responder eficientemente a mudanças no mercado podem provocar uma tendência de adoção da integração vertical. Por outro lado, custos

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organizacionais, economias de escala, experiência e outros aspectos podem reverter a tendência no sentido dos contratos de longo prazo ou das operações no mercado spot.

Menard (1996), ao tratar das formas híbridas de governança, faz uma revisão dos estudos recentes sobre a cordenação vertical, abordando Organização Industrial, que considera as questões tecnológicas ou o comportamento estratégico na decisão de integrar verticalmente ou não (TIROLE, 1988). Outros enfoques consideram a integração vertical como uma resposta à ameaça de apropriação oportunista de quase-rendas (KLEIN, CRAWFORD & ALCHIAN, 1978) ou como a busca de uma estrutura ótima de propriedade na qual os resultados são compartilhados de forma a manter os incentivos para os investimentos (GROSSMAN & HART, 1986).

Uma das alternativas de formas híbridas é a subcontratação, também conhecida como terceirização, que consiste nos contratos de prestação de serviços para determinadas atividades da empresa, geralmente como forma de reduzir custos fixos. González et al. (2000) apresentam um estudo empírico sobre as causas da subcontratação na indústria da construção. Os resultados indicaram que as empresas tendem a subcontratar menos tarefas quando o risco de hold-up (comportamento oportunista do agente contratado), medido por índices de especificidade elaborados pelos autores, aumenta. Outro resultado foi que a incerteza não parece exercer qualquer efeito significativo na subcontratação, resultado tomado com ressalva pelos autores, que consideraram que esse efeito foi parcialmente anulado por outros fatores contrários. Em terceiro lugar, descobriu-se que a subcontratação aumenta quando o número de produtos diferentes, a especialização em design e o controle técnico aumentam.

Ao analisarem as decisões sobre a integração vertical, Klein, Crawford e Alchian (1978) tratam da ameaça de rompimento de contratos quando existem quase-rendas apropriáveis. Quando um investimento específico (que gera perda de valor para o uso alternativo dos ativos) é realizado, e com isso, criam-se quase-rendas, existe a possibilidade de oportunismo. De acordo com o referencial de Coase, esse problema pode ser resolvido por integração vertical ou contratos. O pressuposto adotado pelos autores é o de que à medida que os investimentos se tornam mais específicos, aumentando as quase-rendas, os custos da contratação geralmente crescem mais do que os custos da integração vertical.

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3.2 Escolha dos Arranjos Institucionais

3.2.1 Considerações Gerais

Uma das questões que freqüentemente emergem ao se discutir o grau de integração vertical é a razão para que agentes aumentem seu controle em outras etapas no sistema em que atuam, seja por integração vertical financeira ou por contratos de longo prazo. A visão mais tradicional, baseada em conceitos da Organização Industrial, tende a considerar que a principal razão para esse movimento é a busca de poder monopolístico. Essa abordagem pode influenciar as políticas públicas de defesa da concorrência, no sentido de coibir ou punir práticas que aumentem a integração vertical nos sistemas produtivos com o pretenso objetivo de favorecer a concorrência. Entretanto, essa abordagem vem sendo superada pelo argumento da busca da eficiência, segundo o qual a organização do sistema produtivo depende do grau de coordenação necessário para as atividades realizadas em um dado ambiente institucional. Essa visão tem sido reforçada por grande número de evidências obtidas em estudos empíricos.

Para Brickley, Smith e Zimmerman (1997, p. 350-360), existem pelo menos três razões básicas para a realização de transações fora do mercado: custos de transação, taxas ou regulação e poder de monopólio.

Com relação aos custos de transação, os fatores considerados seriam a especificidade de ativos, os custos para medir a qualidade, problemas de coordenação e externalidades, detalhados a seguir.

O investimento em ativos específicos por uma das partes cria vulnerabilidade a ações oportunistas da outra parte, que pode exigir melhores condições nas negociações, dada a perda de valor do ativo fora da transação.

A dificuldade de medir a qualidade do insumo adquirido pode favorecer o relaxamento do fornecedor em suas atividades, o que incentiva o uso de contratos que permitam esse controle.

Problemas de coordenação podem surgir decorrentes de características do sistema produtivo que dificultem o uso do sistema de preços, como a utilização da mesma ferrovia por diversas empresas independentes, ou a gestão de preços em pontos de varejo, que oferece melhores resultados globais se for centralizada, como nas redes de franquias de fast-food.

As externalidades aparecem para distribuidores quando o produtor consegue criar uma reputação no mercado e fidelidade dos clientes. Entretanto, podem ocorrer comportamentos

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de carona de distribuidores independentes, como a falta de investimentos em propaganda ou em recursos humanos, que prejudica as vendas. Esses problemas podem ser minimizados com a integração vertical dos canais ou com os contratos de longo prazo que incentivam os esforços de venda.

A tributação e a regulação também influem na integração vertical. Se determinada etapa for fortemente taxada enquanto outra não, a firma pode realizar a integração vertical do estágio menos tributado. Analogamente, uma firma que atua em um segmento altamente regulado nos preços pode integrar verticalmente outras etapas com menor grau de regulação, aumentando seus lucros.

Com relação ao poder de monopólio, é possível elaborar estratégias de integração que tenham como objetivo aumentar lucros provenientes dessa fonte. Uma delas é a possibilidade de discriminar preços em produtos finais distintos quando se controla a produção de insumos comuns (BRICKLEY, SMITH e ZIMMERMAN, 1997, p. 350-360).

Nos itens seguintes desta seção aprofunda-se o tema da eficiência em custos de transação, são apresentadas abordagens que integram outras teorias da Nova Economia Institucional e finalmente consideram-se alguns aspectos sobre a influência das características dos agentes na escolha da estrutura de governança.

3.2.2 Eficiência em Custos de Transação

Williamson (1985) discute aspectos teóricos e prescritivos da integração vertical, situando a evolução da compreensão do tema. O debate sobre esse tema iniciou-se no campo de estudo dos monopólios, com a discussão sobre qual seria a função principal da integração: a discriminação de preços, a sucessiva marginalização dos concorrentes ou a criação de barreiras de entrada. Mais recentemente, percebe-se que a discussão no campo da eficiência tem avançado significativamente, apesar da objeção dos que consideram as razões de monopólio e de tecnologia como predominantes.

Assim, para esse autor, nas organizações mais complexas a integração vertical atende a muitos propósitos, mas o principal seria a eficiência, pela minimização dos custos de transação, e o fator predominante para a tomada de decisão sobre integrar é a condição de especificidade de ativo – perda de valor na melhor utilização alternativa.

Se a especificidade de ativo não existir, a contratação via mercado das sucessivas etapas de produção pode ser eficiente, visto que os fornecedores podem agregar a demanda de

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diversos clientes, e a busca de novos fornecedores teria custos desprezíveis, já que nenhuma das partes teria um interesse específico na continuidade do relacionamento. À medida que a especificidade aumenta, torna-se mais vantajoso incorporar a atividade na organização.

A partir da abordagem de custos de transação, Brickley, Smith e Zimmerman (1997, p. 366) apresentam no Quadro 3 um modelo que indica os arranjos institucionais mais prováveis, combinando três níveis (baixo, médio e alto) de especificidade de ativos e de incerteza ambiental. Assim, quando a especificidade de ativos é baixa, a configuração ideal é o uso de transações de mercado para o suprimento. À medida que o grau de especificidade de ativos aumenta, as transações fora do mercado (contratos e integração vertical) tornam-se mais desejáveis. Quando a incerteza é baixa, é possível a elaboração de contratos relativamente completos. Assim, contratos podem ser usados para resolver conflitos de incentivos, motivados pela presença de ativos específicos. À medida que a incerteza aumenta, a contratação se torna mais dispendiosa, até o ponto em que a integração vertical de ativos específicos se torna a configuração mais adequada.

Quadro 1. Arranjos institucionais para diversos níveis de incerteza e especificidade de ativos Incerteza

Baixo Médio Alto

Baixo Transação de mercado Transação de mercado Transação de mercado Médio Contrato Contrato ou integração vertical Contrato ou integração vertical

Especificidade de ativos Alto

Contrato Contrato ou integração vertical

Integração vertical

Fonte: Brickley, Smith e Zimmerman (1997, p.366)

3.2.3 Integração de Abordagens

Ao tratar, com extensa revisão bibliográfica, da competição entre os diversos arranjos institucionais com extensa revisão bibliográfica, Mahoney et al. (1994) citam, como principais motivos para a coordenação vertical, a busca de poder monopolístico, compartilhamento de riscos e eficiência. Os autores identificam que a abordagem de eficiência apresenta aceitação generalizada na literatura de custos de transação, que considera

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a ameaça de ações oportunistas quando existe especificidade de ativos (física, humana ou locacional), assim como destaca o papel da incerteza (de demanda ou tecnológica).

Entretanto, para os autores, a Economia dos Custos de Transação negligencia os efeitos interativos dos problemas de mensuração apontados pela Teoria da Agência. Essa teoria enfatiza questões de assimetria informacional entre o principal e os agentes, como os problemas da inseparabilidade e da programabilidade da tarefa. O problema da inseparabilidade representa a dificuldade de identificar a ação individual dentro de um grupo. Se a recompensa não pode ser baseada no resultado, é necessário inserir um gerente para monitorar o comportamento dos agentes. O problema da programabilidade da tarefa refere-se ao conhecimento sobre o processo de transformação. Baixo nível de programabilidade de tarefas reduz a efetividade do esforço de monitoramento.

A integração das abordagens de Custos de Transação e de Agência considera a programabilidade de tarefas, a inseparabilidade, a incerteza de demanda, a incerteza tecnológica e a especificidade de ativos como os cinco determinantes da forma organizacional. Ainda que as incertezas de demanda e tecnológica possam influir, os autores sugerem que seu efeito ainda é indeterminado e optaram por não considerá-las no modelo, que adota uma abordagem dicotômica (alto e baixo) das quatro restantes, conforme o Quadro 2.

Quadro 2. Previsão da forma organizacional da coordenação vertical

Baixa programabilidade de tarefas Alta programabilidade de tarefas Baixa especificidade Alta especificidade Baixa especificidade Alta especificidade Baixa inseparabilidade 1. Mercados spot 2. Contrato de longo prazo 5. Mercados spot 6. Joint ventures Alta inseparabilidade 3. Contratos relacionais 4. Clã (hierarquia) 7. Contrato interno 8. Hierarquia

Fonte: Mahoney et al. (1994).

Sauvée (1995) realiza um esforço de compilar e comparar abordagens de economia institucional, organizacional e de gestão estratégica, para analisar a questão da coordenação vertical. Para ele, o uso de novos conceitos e pressupostos permite uma visão mais realista e completa da coordenação e pode ampliar consideravelmente o escopo da análise. O autor reconhece que as escolas de pensamento são divergentes e estão longe da unificação, identificando grande oposição metodológica entre as áreas de gestão estratégica e de economia das organizações.

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Ao elaborar um quadro de referência descritivo para a coordenação vertical, o autor inicia destacando a diferença entre os conceitos de ambiente institucional e de arranjo institucional. Para isso, ele cita Williamson, que afirma que o ambiente institucional é o conjunto de regras políticas, sociais e legais que estabelecem as bases para a produção, as trocas e a distribuição, dando como exemplos as regras de eleições, os direitos de propriedade e o direitos dos contratos. Um arranjo institucional é um acordo entre unidades econômicas que governa o modo pelo qual essas unidades podem cooperar ou competir. Ele fornece uma estrutura dentro da qual seus membros podem cooperar, ou um mecanismo que pode influir em mudanças das leis e dos direitos de propriedade.

O quadro de referência desenvolvido por Sauvée tem os seguintes objetivos: fornecer uma descrição completa da coordenação vertical por meio de suas principais características institucionais e propor um modelo de tomada de decisão das firmas, no que se refere à escolha dessas características. São combinados elementos da Teoria dos Custos de Transação, Teoria da Organização Industrial, Teoria de Agência e Teoria das Convenções. O quadro de referência aparece no Quadro 5.

Quadro 3. Quadro de referência para a tomada de decisão sobre coordenação vertical

Foco Primeiro Passo Segundo Passo

Produção (ativos) Trocas (transações) Objetivos Entender a configuração dos estágios

da cadeia produtiva

Entender a emergência dos padrões de autoridade

Determinar os objetivos estratégicos do processo de coordenação

Analisar os mecanismos de controle e de troca

Descrever os problemas de agência: - Seleção adversa

- Risco moral

Analisar os problemas de incentivo Variáveis Variáveis tecnológicas

Especificidade de ativos para os agentes ou para as coalizões versus o ambiente competitivo

Características das Transações Incerteza

Programabilidade e inseparabilidade das tarefas

Abordagens Análise de Organização Industrial Análise competitiva / institucional Análise de Teoria das Convenções

Análise de custos de transação e de coordenação

Fonte: Sauvée (1995).

Como conclusão, o autor observa que a habilidade de explicar porque as relações verticais heterogêneas surgem, permanecem e competem está longe de ser atingida. As decisões sobre coordenação vertical são resultado de procedimentos complexos. Apesar dos conceitos promissores e resultados significativos, um entendimento completo desse fenômeno desafia a pesquisa futura. A progressiva construção de uma análise institucional, combinando

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economia das organizações com gestão estratégica, pode contribuir para essas futuras pesquisas.

3.2.4 Características dos Agentes

Um aspecto ainda pouco estudado na literatura é o papel da estrutura organizacional e dos incentivos na elaboração dos contratos entre compradores e vendedores de produtos agrícolas. Baseando-se nas teorias de Agência, Contratos Incompletos e Custos de Transação, Sikuta e Cook (2001) analisam como as diferenças na orientação das empresas (para investidores) e tipos alternativos de cooperativas (para produtores) podem afetar os contratos com produtores agrícolas.

Nas empresas, investidores em ações dispersos têm direitos de propriedade sobre os lucros, direitos que podem ser facilmente avaliados e transferidos. A relação das empresas com os fornecedores é um jogo de soma zero, onde os acréscimos nos preços pagos representam perdas nos lucros para os investidores, gerando uma tendência inerente de desconfiança entre os agentes envolvidos, o que favorece a assimetria informacional.

Em cooperativas tradicionais, produtores proprietários investem em cotas na organização, mas a distribuição da renda residual pode ser definida por critérios de poder ou por acordos com as organizações. A relação entre a cooperativa e os fornecedores não é necessariamente um jogo de soma zero, visto que um preço superior pago a um fornecedor representa um pagamento equivalente a alguns investidores. Com os produtores participando da governança da organização, há menor grau de assimetria informacional, o que sugere maior confiança entre os participantes.

Os autores consideram que, comparados aos das cooperativas, os contratos das empresas com produtores tendem a apresentar: mecanismos de monitoramento e definição de preços mais transparentes e facilmente verificáveis, verificação ou arbitragem por terceiros, direitos e responsabilidades mais detalhados sobre um universo maior de contingências (4) mais direitos de decisão dos contratantes sobre as atividades dos produtores e pagamentos, aos produtores, de valores menos correlacionados diretamente com os lucros da contratante.

As cooperativas tradicionais são comparadas com as de “nova geração”, conforme classificação de Cook baseada nos direitos de propriedade, que seriam vagamente definidos nas tradicionais, gerando problemas como: caronas (cooperados desfrutam de benefícios sem a contribuição correspondente), horizonte (ganhos residuais não acompanham a extensão da

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