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Objetivo. Estimar a prevalência de fatores de risco de osteoporose em campanha de rastreamento populacional. quantitativa de calcâneo.

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Nádila Cecyn Pietszkowski Mañas – médica, Serviço de Endocrinologia

e Metabologia, Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR, Brasil

Olavo Kyosen Nakamura – graduando, curso de Medicina, Universidade

Federal do Paraná, Curitiba-PR, Brasil

Fernando Micheviz – graduando, curso de Medicina, Universidade

Federal do Paraná, Curitiba-PR, Brasil

Carolina Monteguti– graduando, curso de Medicina, Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR, Brasil

Viviane Vieira Passini – graduando, curso de Medicina, Universidade

Federal do Paraná, Curitiba-PR, Brasil

Érica Couto Calixto – graduando, curso de Medicina, Universidade

Federal do Paraná, Curitiba-PR, Brasil

Carolina Aguiar Moreira Kulak – médica, Serviço de Endocrinologia e

Metabologia, Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR, Brasil

Victória Zeghbi Cochenski Borba– médica, Serviço de Endocrinologia e Metabologia, Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR, Brasil

Correspondência: Victória Zehgbi Cochenski Borba. SEMPR –

Serviço de Endocrinologia e Metabologia. Rua Agostinho Leão Junior, n.º 285, Alto da Glória, CEP 80030-110, Curitiba, Paraná.

Internet: vzcborba@gmail.com

Recebido em 6-2-2012. Aceito em 10-3-2012.

Os autores declaram não haver potencial conflito de interesses. Nádila Cecyn Pietszkowski Mañas, Olavo Kyosen Nakamura, Fernando Micheviz, Carolina Monteguti, Viviane Vieira Passini, Érica Couto Calixto, Carolina Aguiar Moreira Kulak e Victória Zeghbi Cochenski Borba

Utilização da ultrassonografia quantitativa de

calcâneo e sua correlação com fatores de risco

na osteoporose em campanha de rastreamento

populacional na cidade de Curitiba, Paraná

rESUMO

Introdução. A osteoporose é caracterizada por

baixa massa óssea e alteração da microarquitetu-ra, com diminuição da força óssea com aumento do risco de fraturas. Para avaliação da densidade mineral óssea a densitometria por absorciometria radiológica de dupla energia (DXA) é considerada o método padrão-ouro. Porém, têm-se como des-vantagens o alto custo e a falta de disponibilidade, sendo o ultrassom um método alternativo.

Objetivo. Estimar a prevalência de fatores de risco

de osteoporose em campanha de rastreamento po-pulacional e avaliar a sua correlação com a ultras-sonografia quantitativa de calcâneo.

Método. Em campanha de prevenção e detecção

da doença, na cidade de Curitiba, em 2009, volun-tários foram cadastrados e foi aplicado um ques-tionário sobre história mórbida atual e pregressa, obstétrica e ginecológica, fatores de risco de oste-oporose e fratura e coleta de dados antropométri-cos. Realizaram-se exames com ultrassonografia quantitativa de calcâneo no aparelho Sonost-2000 (Osteosys), com avaliação de valores do T-score, sen-do distribuísen-dos em sen-dois grupos, aqueles com T-score < -1.0 e T-score < -2,5 desvios-padrão da uma popu-lação de adultos jovens.

Resultados. Dentre os 660 participantes da

campa-nha, 388 participaram do estudo, 82,2% mulheres e 17,8% homens, média etária de 59 ± 12 anos. Entre as mulheres, 46,4% apresentaram ultrassonogra-fia quantitativa de calcâneo sem anormalidades, 47,3% T-score < -1.0 e 6,3% T-score < -2,5. Entre os

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homens, em 58% não se detectaram anormalidades ao exame, 29% T-score < -1.0 e 13% T-score < -2.5. Os principais fatores de risco de diminuição da massa óssea encontrados foram redução da visão, tabagismo, queda no último ano, fraturas prévias e menopausa. Neste estudo, destaca-se como fator importante na prevenção da doença a prática de atividade física.

Conclusão. A identificação de fatores de risco

as-sociados com a redução da massa óssea poderá au-xiliar profissionais da área de saúde em selecionar pacientes com risco de osteoporose e osteopenia.

Palavras-chave. Ultrassom de calcâneo;

osteopo-rose; osteopenia; fatores de risco; fratura.

ABSTRACT

Use of calcaneal quantitative ultrasound and its correlation with risk factors for osteoporosis in a campaign for prevention and detection of the dis-ease in Curitiba, Parana

Introduction. Osteoporosis is characterized by low bone

mass and changes in bone microarchitecture, with in-creased risk of fractures. Densitometry by dual energy X-ray absorptiometry (DXA) is considered the gold stand-ard for evaluation of bone mineral density. However, it has the disadvantages of high cost and poor availability, with the ultrasound being an alternative method.

Objective. To estimate the prevalence of risk factors for

os-teoporosis in a population screening study and to evaluate their correlation with calcaneal quantitative ultrasound.

Method. During a campaign for prevention and

detec-tion of the disease in the city of Curitiba, in 2009, volun-teers were enrolled and asked to answer a questionnaire on their obstetric and gynecological history, past medi-cal history and history of present illness, risk factors for osteoporosis and fractures, and anthropometric data. Calcaneal quantitative ultrasound examinations were performed using Sonost-2000 (Osteosys), and T-score values were evaluated. Patients were then allocated into two groups: those with T-score < -1.0 and T-score < -2.5 standard deviations of a population of young adults.

Results. Among the 660 participants in the campaign,

388 participated in the study. Of these participants, 82.2% were women and 17.8% were men; the mean age was 59 ± 12 years. Among the women, 46.4% showed nor-mal calcaneal quantitative ultrasound, 47.3% presented T-score < -1.0 and 6.3% presented T-score < -2.5. Among men, 58% showed normal calcaneal quantitative ultra-sound, 29% presented T-score < -1.0 and 13% presented T-score < -2.5. The main risk factors for reduced bone mass were found in cases of vision impairment, smoking, fall in the previous year, previous fractures, and meno-pause. In this study, it was found that physical activity was an important factor in preventing the disease.

Conclusion. The identification of risk factors associated

with low bone mass may assist health professionals in selecting patients at risk of developing osteoporosis and osteopenia.

Key words. Calcaneal quantitative ultrasound;

osteopo-rosis; osteopenia; risk factors; fractures

INtrODUÇÃO

A osteoporose é o tipo mais comum de doença me-tabólica do osso, sendo caracterizada por sua baixa massa óssea e por alteração da sua microarquitetu-ra, levando à diminuição da força óssea com

conse-quente aumento do risco de fraturas.1

As taxas de ocorrência de osteoporose no Brasil, de acordo com um estudo de prevalência, tiveram grande amplitude, com valores que variam de 0,4% em mulheres em pré-menopausa até 40% naquelas com 70 anos etários ou mais. Quando são conside-radas apenas as estimativas obtidas com base na densitometria óssea no sítio femoral de mulheres com 50 anos de idade ou mais, a prevalência variou de 7,95% a 16%.2

As fraturas decorrentes de osteoporose são re-levantes causas de incapacidade, diminuição da qualidade de vida e de mais custos para o

siste-ma de saúde.3 O custo anual no tratamento de

fraturas é alto e estima-se que se tornarão ainda maiores em decorrência do aumento na

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em dados hospitalares de países como Colômbia, Chile, Brasil, México, Panamá, Peru e Venezuela relatam casos de 40 a 362 fraturas na região do quadril em 100.000 pessoas por ano com mais de 49 anos de idade.5

A densidade mineral óssea é um preditor isolado do risco de fraturas em mulheres assintomáticas

no período pós-menopausa.6,7 Para avaliação

des-sa densidade a densitometria óssea do quadril e da coluna por absorciometria radiológica de dupla energia (DXA) é considerada o método

padrão--ouro.8 Porém, têm-se como desvantagens a não

portabilidade do aparelho, seu alto custo e a falta de sua disponibilidade. Devido a esses fatores, outras técnicas que avaliam o osso em sítios periféricos têm sido utilizadas. Essas técnicas incluem ultrassonogra-fia, densitometria periférica (peripheral dual-energy

X-ray absorptiometry _ pDXA) e tomografia

computa-dorizada periférica (peripheral quantitative computed

tomography _ pQCT) do calcâneo, do rádio e da mão.9

A técnica em que se usam feixes de ultrassom para o estudo ósseo avalia a velocidade, a atenuação e a re-flexão do ultrassom no tecido ósseo. Entre os fatores a favor de seu uso, estão baixo custo, abrangente em termos populacionais, e não exposição à radiação io-nizante. A densidade mineral óssea do rádio distal, das falanges e do calcâneo tem boa correlação com a densidade mineral do esqueleto axial e dos ossos do quadril.10

O objetivo do estudo foi estimar a prevalência de fatores do risco de osteoporose em campanha de rastreamento populacional e avaliar sua correlação com a ultrassonografia quantitativa de calcâneo (USQC).

MÉtODO

Em comemoração ao Dia Mundial da Osteoporose, foi realizada campanha de prevenção e detecção da doença. O evento ocorreu em um ginásio de esportes na cidade de Curitiba, em 2009, com a participação de uma equipe multidisciplinar, incluindo-se profissionais das áreas de endocrino-logia, reumatoendocrino-logia, biomedicina, fisioterapia, nu-trição e enfermagem.

Após o cadastro dos voluntários, foi aplicado um questionário padronizado, inclusas as questões sobre história mórbida atual e pregressa, história obstétrica e ginecológica, fatores de risco de os-teoporose e fratura (consumo de cálcio e cafeína, grau de atividade física, alcoolismo e tabagismo, fraturas prévias), história familiar de osteoporose, causas secundárias de osteoporose e medicações em uso atual e passado.

Realizou-se a coleta de dados antropométricos, como peso, estatura e índice de massa corporal, perímetro abdominal, medida da glicemia capilar e do colesterol total e aplicou-se questionário de inquérito alimentar. A ingestão média diária de cálcio foi baseada nas informações dos partici-pantes quanto ao consumo de leite e derivados. Determinou-se como consumo de álcool posi-tivo a ingestão de uma ou mais doses diárias de bebida alcoólica. O tabagismo positivo foi clas-sificado em atual e pregresso, conforme relato. A atividade física foi definida como regular, quan-do realizada duas ou mais vezes por semana. Foi considerada história familiar positiva a presença de avós, pais ou irmãos com diagnóstico de oste-oporose, antecedentes de fraturas de baixo im-pacto (fraturas por fragilidade, com exclusão de fraturas causadas por acidentes ou grandes que-das) ou presença de cifose torácica com relato de diminuição de altura.

Os participantes foram convidados a realizar o exame ultrassonografia quantitativa de calcâneo no aparelho Sonost-2000 (Osteosys). Foram avalia-dos os valores do T-score, processo atualmente recomendado pela Sociedade Internacional de Densitometria Clínica (ISCD) e pela Sociedade Brasileira de Densitometria Clínica (SDDens). O

T-score baseia-se na comparação do exame obtido

com a densidade óssea de indivíduos jovens, sendo os pacientes distribuídos em dois grupos, a saber, aqueles com T-score < -1.0 e T-score < -2,5 desvios--padrões da uma população de adultos jovens. Ao término das avaliações, os pacientes foram ava-liados pela equipe médica, classificados quanto ao risco de doença e posteriormente encaminhados para atendimento médico específico.

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Os dados obtidos foram analisados estatisticamente por análise multivariada por regressão múltipla. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética da instituição e todos os participantes concordaram em participar do estudo.

rESUltADOS

Todos os seiscentos participantes da campanha foram convidados a fazer parte do estudo, 388 concordaram voluntariamente em participar, dos quais 319 (82,2%) foram mulheres e 69 (17,8%)

homens, com a média idade de 59 ± 12 anos. Os pa-cientes foram distribuídos em dois grupos – aque-les com T-score <-1.0 e aqueaque-les com < -2,5. De 319 mulheres, 148 (46,4%) apresentaram USQC normal, 151 (47,3%) T-score < -1.0 e 20 (6,3%) T-score < -2,5. De 69 homens, 40 (58%) apresentaram ultrassono-grafia quantitativa de calcâneo normal, 20 (29%)

T-score < -1.0 e 9 (13%) T-score < -2.5 (figura).

Em relação à prevalência de fatores de risco, fo-ram observados: 97 (25%) sofrefo-ram queda no últi-mo ano, 79 (20,4%) fratura prévia; 43 (11,1%) com

diabetes mellitus; 201 (52,1%) tinham hipertensão

170 165 160 155 150 145

Normal Osteopenia Osteoporose

ESTATURA (cm) IDADE (anos) 80 70 60 50 40 30 20 10 0

Normal Osteopenia Osteoporose

PESO (kg) 80 75 70 65 60 55

Normal Osteopenia Osteoporose

35 30 25 20 15 10 5 0

Normal Osteopenia Osteoporose

IMC (kg/m2)

Figura. Dados demográficos de 388 indivíduos, considerando-se o diagnóstico realizado ao ultrassom quanti-tativo de calcâneo. Normal (T-score > -1,0), osteopenia (T-score < -1,0) e osteoporose (T-score <-2,5).

Homens Mulheres

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arterial; em 273 (70,4%) havia redução da visão; 14 (3,6%) com uso atual de corticosteroide e 61 (15,7%) com uso prévio de corticosteroide; 55 (14,2%) uso de sedativos; 200 (51,5%) anti-hipertensivos. A meno-pausa esteve presente em 286 (89,3%), com a média de início aos 47,4 ± 5,8 anos; terapia de reposição hormonal foi usada em 110 (38,6%). Diagnóstico pré-vio de osteoporose presente em 52 (13,4%) e, com tratamento prévio, 44 (11,3%); história familiar de osteoporose, 96 (24,7%) e, de fratura após 50 anos de idade, 84 (21,6%). Etilismo atual 51 (13,1%) e pré-vio 55 (14,2%); tabagismo atual 41 (10,6%) e prépré-vio 109 (28,1%). Ingestão diária atual de cálcio em mé-dia 767 ± 492 g; ingestão de cafeína atual, em mémé-dia 2,9 ± 2,9 xícaras por dia. Observou-se que orientação pós-fratura foi fornecida em apenas 10,1% (n = oito pacientes); atividade física praticada por 220 (57%), em média 4 ± 2,5 horas por semana (tabela).

Na análise multivariada por regressão linear múltipla, realizada com os dados das mulheres

para a variável T-Score, observou-se que, com o diagnóstico anterior de osteoporose, o T-score di-minui em -0,683 (variável significativa com beta de -0,683).

Quanto aos homens, a variável significativa para o modelo foi a atividade física com beta de 0,999, ou seja, quando a pessoa realizou atividade física, o valor de T-score aumentou em 0,999 unidades. Encontrou-se correlação positiva entre a pre-sença da prática de atividade física e a preven-ção da doença na populapreven-ção geral estudada (r 0,124 e beta 0,291). Em outros termos, quando o indivíduo realiza atividade física duas ou mais vezes por semana, o valor do T-score aumenta em 0,291 unidades. Para a variável consumo atu-al de álcool, a correlação encontrada também foi positiva, com r 0,173 e beta 0,417. Houve tam-bém correlação positiva com o sexo masculino, com r 0,2 e beta 0,302.

Tabela. Fatores de risco de osteoporose e fratura nas mulheres (n = 319) e nos homens (n = 69)

FAtOrES DE rISCO MUlhErES

n (%)

hOMENS n (%)

História de queda nos últimos doze meses 91 (28,5) 6 (8,7)

História prévia de fratura 64 (20,1) 15 (21,7)

Não recebeu orientação de tratamento para osteoporose após fratura* 56 (87,5) 15 (100)

Diabetes mellitus 33 (10,3) 10 (14,5)

Hipertensão arterial sistêmica 162 (50,8) 39 (56,5)

Diminuição da acuidade visual 237 (74,3) 36 (52,2)

Uso atual de corticosteroide 11 (3,4) 3 (4,3)

Uso prévio de corticosteroide 55 (17,2) 6 (8,7)

Uso de sedativo 47 (14,7) 7 (10,1)

Uso de anti-hipertensivo 161 (50,5) 39 (56,5)

Menopausa 286 (89,7)

-Não fez reposição hormonal 176 (61,5)

-Diagnóstico prévio de osteoporose 48 (15) 4 (5,8)

Tratamento prévio de osteoporose 42 (13,2) 2 (2,9)

História familiar de osteoporose 89 (27,9) 7 (10,1)

História familiar de fratura após 50 anos de idade 77 (24,1) 7 (10,1)

Consumo atual de álcool 37 (11,6) 14 (20,3)

Consumo prévio de álcool 37 (11,6) 18 (26,1)

Tabagismo atual 33 (10,3) 8 (11,6)

Tabagismo prévio 78 (24,5) 31 (44,9)

Não ingere cálcio (fármaco) atualmente 82 (25,7) 28 (40,6)

Não faz atividade física 133 (41,7) 35 (50,7)

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DISCUSSÃO

A prevalência de alteração nos resultados do exame com ultrassom na população estudada foi alta, tan-to em homens como em mulheres, sendo 6% e 9% respectivamente, porém apenas 13% com diagnós-tico prévio e 11% com tratamento anterior, seme-lhantes aos achados de Martini e colaboradores em estudo transversal baseado em dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas realizado nas capitais brasilei-ras e no Distrito Federal.11 Recentemente, o estudo

Brazos (Brazilian Osteoporosis Study) mostrou que cerca de 6% da população brasileira com mais de 40 anos referiram ter diagnóstico médico de

osteo-porose.12 Esses dados também são compatíveis com

achados de outros estudos realizados na América do Norte13 e na Europa.14

É relevante notar a falta de diagnóstico pós-fratu-ra, que foi apenas de 10%, o que já havia sido des-crito por Pinheiro e colaboradores em um estudo na cidade de São Paulo15 e ainda é um problema

re-latado em vários países. Considerando-se tratar de doença com alto risco de novas fraturas, as quais estão associadas à morbimortalidade, e sendo a os-teoporose uma doença com tratamentos eficazes, tal fato não se justifica.

Os principais fatores de risco de diminuição da massa óssea encontrados foram redução da vi-são, tabagismo, queda no último ano, fraturas prévias e menopausa, fatores previamente esta-belecidos como risco de fraturas em outras po-pulações. Estudo de prevalência de fatores de ris-co de osteoporose realizado na grande São Paulo também encontrou como principais fatores de risco idade avançada, tempo de menopausa,

fra-tura prévia e tabagismo.15

Outro dado importante foi a baixa ingestão diária de cálcio, em média de 767 mg por dia. Segundo dados de consumo alimentar obtidos pela pesquisa Brazos de 2007, 90% dos entrevistados ingerem um terço (400 mg) do valor preconizado de cálcio dado

pela Organização Mundial da Saúde.15 As

estraté-gias para aumentar o consumo de cálcio alimentar na população brasileira são fundamentais.

Neste estudo, destaca-se como fator importante na prevenção da doença a prática de atividade fí-sica, a qual nessa população aumentou o valor do

T-score em 0,999. A literatura tem mostrado

bene-fício dessa prática, principalmente na prevenção

da perda de massa óssea16 e, mais recentemente,

foi mostrado aumento do pico de massa óssea em

homens17 e aumento da densidade mineral óssea

em crianças com diabetes tipo 1.18 Esses achados

sugerem que as intervenções populacionais para aumento da atividade física favorecem não só a saúde como um todo, mas também tem impacto favorável na saúde óssea.

No Brasil, devido às dificuldades que cercam a execução de estudos epidemiológicos em um pa-ís de dimensões continentais e com diferentes padrões culturais, os dados populacionais sobre a osteoporose são limitados a algumas regiões. Algumas projeções e alguns levantamentos iso-lados estimam que a osteoporose acometa cerca de 20% das mulheres brasileiras com mais de 50 anos de idade.19 O estudo Sapos, que avaliou

fato-res de risco associados com baixa densidade óssea e fraturas por baixo impacto em mulheres, ava-liou 4.332 pacientes com 40 anos etários ou mais, provenientes de serviços de atendimento primá-rio da Grande São Paulo. Encontraram prevalência de osteoporose e fraturas osteoporóticas de 33% e 11,5% respectivamente. Os principais fatores de risco foram idade (odds ratio [OR] = 1,07), tempo desde a menopausa (OR = 2,16), fratura prévia (OR = 2,62), tabagismo atual (OR = 1,45). Foram fatores protetores da atividade física regular (OR = 0,78, índice de massa corporal (OR = 0,43), e terapia de reposição hormonal (OR = 0,43). Os principais fa-tores associados com risco de fratura foram idade (OR = 1,05) tempo de menopausa (OR = 4,12), his-tória familiar de fratura de quadril (OR = 3,59) e

baixa densidade mineral óssea (OR = 2,28).15

A baixa densidade mineral óssea está associada com aumento do risco de fraturas, independentemente da técnica usada para medir a densidade mineral óssea,9,20-23 o que reforça a importância do

rastrea-mento populacional como o realizado no presente estudo. No entanto, há diferenças nos valores de

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aparelhos usados para medir a densidade mineral óssea. Esses valores com métodos diferentes e em sítios diferentes não são intercambiáveis.24,25

A ultrassonografia quantitativa pode ser usada pa-ra detecção de osteoporose, sendo este um méto-do de baixo custo, não invasivo e sem exposição à radiação ionizante, comparada à técnica de DXA. Além disso, pela sua portabilidade e pelo seu redu-zido custo, poderia ser levada a lugares de difícil acesso e para regiões subdesenvolvidas.26,27

A ultrassonografia quantitativa é um bom método preditor do risco de fratura osteoporótica,28-30

so-bretudo em mulheres na pós-menopausa. Em um grande estudo prospectivo com 6.189 mulheres aci-ma de 65 anos de idade, a ecografia de calcâneo foi capaz de fornecer dados para se predizer o risco de fratura óssea na área do quadril com a mesma acu-rácia da densitometria por absorciometria

radio-lógica de dupla energia de calcâneo ou de fêmur.31

Em outro estudo com 14.824 pacientes, incluindo--se homens e mulheres com idade de 42 a 84 anos, a ultrassonografia em estudo também foi bom predi-tor do risco de fratura na região em estudo.32 Além

de predizer o risco de fraturas, outros estudos per-mitiram afirmar que o exame por ultrassom é bom e possivelmente melhor que fatores de risco para classificar mulheres que estão em risco de desen-volver osteoporose.33

Quanto à densidade mineral óssea, a ultrassono-grafia quantitativa se apresenta como um preditor

modesto.27 Estudos demonstram que ela poderia

es-timar o risco de fraturas tão bem quanto a absorcio-metria radiológica de dupla energia,34,35 a depender

da idade, do sexo e da raça,27 mas

independente-mente da densidade mineral óssea apresentada.27

Entretanto, nem todos os aparelhos usados no mer-cado têm evidências satisfatórias para estimar o risco de fraturas, sejam elas vertebrais,

coxofemo-rais ou em geral.26 Uma queda dos parâmetros da

ultrassonografia quantitativa ocorre durante o en-velhecimento, sendo este o principal fator envol-vido, sobretudo nas mulheres. Outros fatores como peso, altura, índice de massa corporal e atividade física também se relacionam positivamente em am-bos os sexos. O tempo após a menopausa seria mais

um quesito no sexo feminino.27,34,36 Atualmente, não

existe consenso sobre qual seria o limite ideal do

T-score da ultrassonografia quantitativa para

diag-nosticar a osteoporose, em virtude principalmente da existência de numerosos aparelhos existentes no mercado com diferenças dignas de notas.35,37 No

estudo de Frost e colaboradores,37 demonstrou-se

que os critérios da Organização Mundial da Saúde não podem ser aplicados à ultrassonografia quan-titativa de calcâneo, por ter discrepâncias relevan-tes. Apenas um T-score de coluna ≤ -2.5 da referida ultrassonografia poderia predizer o fator de risco de fratura vertebral38 e somente o T-score ≤ -3,65 da

mesma ultrassonografia abordaria todos os casos de osteoporose diagnosticadas por meio da densi-tometria por absorciometria radiológica de dupla energia, podendo-se, de forma confiável, e mesmo sem tal exame, iniciar tratamento, especialmente se associado à história de fraturas.39

Dessa forma, a densitometria por absorciometria radiológica de dupla energia continua sendo o método padrão-ouro para o diagnóstico de

osteo-porose,37 e os protocolos de tratamento atuais se

baseiam nesse exame, visto que ele reflete a den-sidade mineral óssea, ao contrário de uma estima-tiva da ultrassonografia quantitaestima-tiva.26 Assim, esta

não confirma e não exclui osteoporose prévia diag-nosticada por absorciometria radiológica de dupla

energia,35 não podendo ser usada para

acompanha-mento da doença.26

Segundo Nayak e colaboradores,35 a

ultrassono-grafia quantitativa poderia ser usada como pré--rastreamento de osteoporose, o que minimizaria a necessidade de DXA. Contudo, isso não parece ter custo-benefício relevante, dada a necessidade de realizar densitometria por absorciometria radio-lógica de dupla energia para confirmar o quadro. Em conclusão, a identificação de fatores de risco associados com a redução da massa óssea, como se mostrou neste estudo, poderá auxiliar profissio-nais da área assistencial em selecionar pacientes com risco de ter osteoporose e osteopenia, consi-derando-se que pilares importantes do diagnóstico ainda são a anamnese adequada e o exame físico cuidadosos. Ainda faltam estudos mais amplos para

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determinar o T-score ideal para cada aparelho de ultrassonografia quantitativa. Este exame consti-tui, porém, uma forma interessante de selecionar doentes que teriam benefício na realização de den-sitometria por absorciometria radiológica de dupla energia, considerando-se que esse é um exame de alto custo e que muitas vezes não está amplamente disponível. Também são necessários estudos com dados nacionais para elucidar questões sobre pre-venção e fatores de risco de osteoporose na popu-lação brasileira.

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