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Limites Fisiológicos do Melhoramento Genético de Suínos

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Academic year: 2021

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de Suínos

Renato Irgang

Pesquisador, Embrapa Suínos e Aves

Concórdia, Santa Catarina, Brasil

Introdução

O desempenho zootécnico dos suínos apresentou melhoras significativas nas últimas décadas. A idade à puberdade de fêmeas e machos diminuiu de 7 a 8 para 4 a 5 meses, e o número de leitões nascidos por leitegada aumentou de 7 a 8 para 10 a 12 leitões. O aumento da prolificidade, associado à redução dos períodos de aleitamento, permitiu aumentar a produtividade das porcas de 15 a 16 para 22 a 24 leitões por ano.

A taxa de crescimento, a conversão alimentar e a produção de carne por animal abatido também mudaram significativamente. Enquanto na década de 1970 os suínos alcançavam 100 kg de peso vivo aos 180 dias de idade, conversão alimentar em torno de 3,5 kg de ração por kg de ganho em peso, e rendimento de carne inferior a 48 %, atualmente os suínos atingem 100 kg de peso vivo com 150 a 160 dias de idade, com conversão alimentar, do nascimento ao abate, de 2,50 a 2,60 kg de ração consumida por kg de ganho em peso, e rendimento de carne de 53–55 % nos abatedouros brasileiros de suínos.

Tais níveis de desempenho indicam que, se há 20 a 30 anos produziam-se de 500 a 600 kg de carne por ano da progênie de uma fêmea de plantel, necessitando-se para isso de 5.000 a 6.000 kg de ração, atualmente, com a mesma quantidade de ração produzem-se 800 a 900 kg de carne por ano da mesma unidade de produção, assumindo-se um rendimento industrial de carcaça de 75 %. Isto representa um aumento de 50 a 60 % na eficiência de produção de carne, resultando num aumento de 1.250 a 1.500 para 2.000 a 2.250 kg de carne produzida pela progênie de uma fêmea de plantel, considerando-se como sendo de 2,5 anos a sua vida reprodutiva.

Esse aumento na eficiência produtiva dos suínos resultou de mudanças na estrutura de obtenção do melhoramento genético dos suínos, que, a partir de 1970 passou a ser estratificada em granjas núcleos, multiplicadoras e de produção de suínos para o abate. Nesta estrutura, os ganhos genéticos da seleção são intensificados nas granjas núcleos e expandidos nas granjas multiplicadoras, que, aos ganhos genéticos aditivos, acrescentam ganhos epistáticos e de complementaridade aos reprodutores. Estes animais, geneticamente “carregados”, são transferidos para granjas comerciais, onde podem expressar o seu potencial genético na produção de suínos para o abate.

A melhora na eficiência de produção dos suínos deve-se também às mudanças nas condições de criação, incluindo-se as instalações, o nível nutricional dos alimentos, o manejo aplicado e o controle das doenças.

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São apresentadas informações sobre o potencial de produção dos suínos, e alguns fatores que podem limitar a expressão dos ganhos obtidos pelo melhoramento genético e da variabilidade genética existente na natureza.

Reprodução

A eficiência reprodutiva em suínos inclui a idade à puberdade e taxa ovulatória das fêmeas, a sobrevivência dos embriões, o número de leitões nascidos por leitegada e o intervalo entre partos das fêmeas.

A idade à puberdade em fêmeas de suínos varia entre raças e entre animais de diferentes linhas de seleção na mesma raça. Do ponto de vista econômico, a redução da idade à puberdade significa menor idade ao acasalamento e ao primeiro parto, redução da idade de entrada das fêmeas no plantel e, a princípio, aumento da produção de leitões por dia de vida e por kg de ração consumida pelas fêmeas. Na raça chinesa Meishan a puberdade em fêmeas ocorre entre 3 e 4 meses (LEGAULT e CARITEZ, 1983), e nas raças Duroc, Landrace, Large White e fêmeas mestiças, entre 4 e 8 meses de idade (NEAL et al., 1989; IRGANG et al., 1992). A herdabilidade da característica é de 30 %, e as correlações genética e fenotípica com taxa de crescimento são favoráveis, existindo variação genética aditiva e efeitos pleiotrópicos abundantes para mudanças na idade à puberdade de leitoas.

O emprego muito precoce das fêmeas na reprodução produz, porém, algumas limitações de natureza econômica. Fêmeas Meishan, acasaladas com 3 a 4 meses de idade, apresentam baixa taxa de concepção e apenas 3 a 6 leitões nascidos por leitegada, em comparação com 12 a 15 leitões de fêmeas adultas. Fêmeas Landrace, Large White e mestiças, acasaladas com 6 a 7 meses de idade, produzem a primeira leitegada de tamanho aceitável, mas podem apresentar redução indesejável na produção de leitões da segunda leitegada, ou ser descartadas precocemente do plantel, o que tem sido observado principalmente em genótipos selecionados para baixa espessura de toucinho (10 a 12 mm) e alto rendimento de carne. O problema parece estar relacionado com o fato de que tais fêmeas, ainda em fase de crescimento, sofrem desgaste físico acentuado durante sua primeira lactação, e, em conseqüência, apresentam menores taxas ovulatória e de fertilização no cio que dará origem à próxima leitegada.

A seleção para aumento da taxa de crescimento pode reduzir a idade à puberdade, não apenas em fêmeas, mas também em machos. WENTZ et al. (1995), FERREIRA et al. (1995), SCHEID et al. (1997) e BERTANI et al. (1997) realizaram estudos com o objetivo de verificar se machos, com taxas elevadas de crescimento diário, podem ser usados mais precocemente nos plantéis, pois a idade recomendada para que iniciem a vida reprodutiva situa-se entre 7 e 8 meses. Foram usados machos Landrace e Large White selecionados para aumento da taxa de crescimento diário e redução da espessura de toucinho. A puberdade dos machos ocorreu em torno das 19 semanas de idade. Machos de maior taxa de crescimento (813 a 885 g/dia, do nascimento aos 100 kg de peso vivo) apresentaram menor habilidade de monta ante uma fêmea em cio do que machos de taxa de crescimento intermediário (649 a 694 g/dia do nascimento aos 100 kg de peso vivo). Com 6 meses de idade, o número de espermatozóides ejaculados por coleta ultrapassava a casa dos 20 bilhões nos dois grupos de desempenho. No entanto, a qualidade espermática dos machos do grupo de maior taxa de crescimento foi significativamente inferior, indicando que não apresentavam maturidade fisiológica para serem iniciados precocemente na reprodução. Os autores concluíram que é a idade, e não a taxa de crescimento, o fator que determina quando os machos jovens

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devem ser iniciados na reprodução, o que não deve ocorrer antes dos 8 meses. Os estudos não incluíram machos mestiços, resultantes do cruzamento de diferentes genótipos paternos e largamente empregados na produção comercial de suínos, que apresentam mais de 100 kg de peso vivo com 5 meses de idade, quando são transferidos de granjas multiplicadoras para os plantéis de produção de suínos para o abate.

A capacidade ovulatória das fêmeas de suínos e a produção espermática dos machos não são fatores limitantes para o aumento do tamanho das leitegadas em suínos. Nos machos, o número de células espermáticas varia de 20 a 60 bilhões por ejaculado, e nas fêmeas, o número de células germinais na fase fetal varia de 250.000 a 1.000.000, dependendo da idade dos fetos e de sua composição genética (BLACK e ERIKSON, 1968). O número de corpos amarelos por cio aumenta com a ordem de parto, alcançando 18 a 20 após a 1a ou 2a parição, e 24 a 25 após a 5aou 6aparição (ANDERSON e MELAMPY, 1972). No entanto, o número médio de leitões nascidos por leitegada nas principais raças e mestiços é de apenas 10 a 11 leitões, ocorrendo, ocasionalmente, o nascimento de leitegadas com 20 ou mais leitões. Verifica-se portanto, redução de cerca de 50 % na eficiência reprodutiva dos suínos, do momento do cio das fêmeas ao nascimento de suas leitegadas, devido a perdas embrionárias.

Tendo em vista a grande importância econômica da característica, diversos projetos de seleção têm sido realizados com o intuito de aumentar a prolificidade em suínos. De forma geral, porém, os ganhos genéticos obtidos não têm sido satisfatórios (PÉREZ-ENCISO e BIDANEL, 1997; ROTHSCHILD et al., 1997). A complexidade da característica e sua baixa herdabilidade, em torno de 10 % (HALEY e LEE, 1992; IRGANG et al., 1994; BIDANEL et al., 1996) têm sido consideradas como as causas principais da falta de resposta à seleção.

Existem, entretanto, diferenças significativas entre genótipos em relação à prolificidade (LEGAULT, 1985). Algumas raças chinesas de suínos, principalmente a Meishan, produzem 3 a 4 leitões a mais por leitegada, em média, do que fêmeas Duroc, Landrace, Large White e mestiças. Este desempenho tem levado os melhoristas a projetar a produção de 30 leitões por porca por ano nas criações de suínos para o abate, bem superior aos 22 a 24 leitões produzidos atualmente.

As causas da maior prolificidade em alguns genótipos têm despertado grande interesse no meio científico. Sabe-se atualmente que, se é o número de óvulos liberados por cio que determina o limite superior do tamanho da leitegada ao nascer, é a capacidade uterina das porcas que determina quantos dos óvulos fertilizados chegarão ao final da gestação na forma de leitões nascidos por leitegada. As diferenças entre os genótipos menos prolíficos e a raça Meishan devem-se, segundo FORD (1997), a diversos fatores, entre os quais:

1. menor taxa mitótica dos embriões das raças chinesas durante o período de pré-implantação uterina, e menor tamanho do feto durante toda a gestação, em comparação com embriões das raças menos prolíficas (Duroc, Landrace e Large White);

2. menores perdas até o 18o dia de gestação devido a menor taxa de crescimento dos embriões da raça Meishan;

3. o crescimento rápido dos fetos de raças menos prolíficas demanda crescimento placentário contínuo para aumentar a área para troca de nutrientes, enquanto o maior número de fetos menores de Meishan alcança a mesma eficiência

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placentária pelo aumento marcante da densidade vascular da placenta na interface materna-fetal.

FORD (1997) sugere que a proliferação de vasos sangüíneos placentários, na raça Meishan, torna desnecessário o aumento do tamanho da placenta, enquanto a menor vascularização limitaria a extração de nutrientes e de oxigênio por unidade de área placentária no útero de fêmeas de genótipos menos prolíficos. A presença de maior número de fetos em fêmeas Meishan se deve, portanto, a uma menor exigência de espaço endométrico para a troca de nutrientes durante toda a gestação, conduzindo ao aumento potencial do número de leitões nascidos por leitegada.

É importante ressaltar que a maior prolificidade observada em Meishan (1 a 2 desvios-padrões no tamanho da leitegada ao nascer) é acompanhada por menor peso dos leitões ao nascer, menor taxa de crescimento, pior conversão alimentar e rendimento significativamente menor de carne do que nas raças menos prolíficas. Resultados de estudos indicam que a maior prolificidade de fêmeas mestiças 50 % Meishan não compensa as perdas econômicas no desempenho de suas progênies (BRUEL et al., 1986), enquanto a pequena redução no desempenho e no rendimento de carne da progênie de porcas mestiças com 25 % de Meishan tem sido compensada economicamente pela maior produtividade das porcas (FRANCK et al. 1998).

Em vez de usar animais Meishan para aumentar a prolificidade, uma alternativa explorada tem sido a identificação de genes de Meishan envolvidos no processo reprodutivo, e sua introdução em genótipos capazes de produzir mais carne. Sabe-se, por exemplo, que o lócus receptor de estrogênio (ESR) está associado a maior prolificidade em fêmeas Meishan. Fêmeas Meishan sintéticas, com genótipo ESR BB produziram, em média, 2,3 leitões a mais por leitegada do que as fêmeas homozigotas AA, na primeira leitegada, enquanto em cruzamentos comerciais de Large White a vantagem para o genótipo ESR BB tem sido de 0,9 leitões por leitegada (ROTHSCHILD et al., 1997). Estes resultados permitem projetar um ganho de 2 a 2,5 leitões produzidos a mais, em média, por porca por ano, nos genótipos utilizados na produção de suínos para o abate.

Taxa de Crescimento, Consumo de Ração e Conversão

Alimentar

As características de crescimento dos suínos são influenciadas por grande número de alelos. As estimativas de herdabilidade variam de 20 a 50 % (LABROUE et al., 1997). Ganhos adicionais de heterose (2 a 5 %) são esperados em sistemas de criação que usam reprodutores mestiços na produção de suínos para o abate.

Os suínos têm demonstrado grande capacidade de responder à seleção para aumento da taxa de crescimento e da eficiência de conversão alimentar em carne. No ínício da década de 1980, IRGANG e PROTAS (1986), por exemplo, observaram que suínos mestiços de Landrace e Large White apresentaram 770 g de crescimento médio diário, dos 25 aos 100 kg de peso vivo, enquanto em suínos mestiços criados em 1996, IRGANG et a. (1997) observaram 855 g de crescimento diário, em média, dos 20 aos 100 kg de peso vivo. Essa maior taxa de crescimento significa que, em 16 anos, ocorreu redução de três semanas no tempo necessário para os animais atingirem o peso de abate. É interessante notar também que nos animais criados em 1980, o consumo diário médio de ração e a conversão alimentar foram respectivamente de 2.410 e 3.210

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g, e que nos suínos criados em 1986 os valores médios foram respectivamente de 2.316 e 2.693 g, indicando ter havido ganhos significativos de eficiência.

A variabilidade genética disponível e a seleção massal para aumento da taxa de crescimento sugerem que o uso de reprodutores, machos e fêmeas, superiores em um desvio-padrão (em torno de 70 g) da média da população, permite estimar ganhos genéticos de 20 a 30 g na taxa diária de crescimento por geração. Em programas de seleção que incluem também outras características, os ganhos têm sido de 6 a 10 g por ano (TRIBOUT et al., 1998), permitindo antecipar que, com seleção contínua para aumento da taxa diária de crescimento, e com alimentação à vontade, será possível produzir, em breve, genótipos capazes de pesar 100 kg num período muito próximo de 100 dias. Para alcançar este desempenho, basta que os animais pesem cerca de 50 kg no final da recria (9 a 10 semanas de idade) e que, a partir daí, cresçam, em média, cerca de 1,5 kg por dia, até alcançar o peso almejado. É provável que alguns animais de diferentes genótipos já atinjam esta marca, ou que estejam muito próximos de alcançá-la.

A produção de animais que pesem 100 kg com 100 dias de idade pode não ser o limite máximo alcançável pelo melhoramento genético de suínos por meio de seleção massal. O que pode frustrar a obtenção de taxas elevadas de crescimento é a capacidade limitada de consumo de ração dos suínos, que se situa pouco acima dos 4,0 kg por dia (WHITTEMORE et al., 1988). A ocorrência de disfunções anatômicas e fisiológicas, em decorrência do crescimento muito rápido, a produção de quantidades indesejáveis de gordura, e os problemas de aprumos, que podem ser agravados em decorrência das condições do piso no qual os animais se deslocam, são fatores que podem limitar a busca e a exploração comercial de genótipos com alta taxa de crescimento diário.

PURSEL et al. (1989) incorporaram genes exógenos, responsáveis pela síntese de hormônios e fatores de crescimento, ao genoma dos suínos, com o objetivo de melhorar sua eficiência de crescimento. Os resultados revelaram superioridade significativa da taxa de crescimento (10 a 15%) e da conversão alimentar (16 a 18%) de suínos transgênicos em relação aos suínos controle, porém incidência elevada e muito maior de problemas gástricos, cardíacos, renais, pulmonares e do aparelho locomotor nos suínos com maior eficiência de crescimento.

A taxa de crescimento e o consumo diário de ração estão geneticamente associados em suínos (r = 0,85, LABROUE et al., 1997), o que geralmente não ocorre entre o consumo de ração e a conversão alimentar. Entretanto, o consumo diário de ração está adversamente correlacionado com a deposição de gordura (r = 0,50) e com o rendimento de carne na carcaça (r =−0,40). Portanto, seleção para aumento da taxa de

crescimento, com ração à vontade, pode resultar em aumento do apetite e da deposição de gordura, e em redução da deposição de carne na carcaça das progênies dos animais selecionados. Índices de seleção para aumento da taxa de crescimento e redução da espessura de toucinho, têm sido usados para melhorar geneticamente o desempenho dos suínos, do nascimento ao abate, e para contornar os efeitos indesejáveis da seleção para aumento da taxa de crescimento.

A conversão alimentar de suínos produzidos para o abate ainda deixa que desejar, especialmente se comparada à conversão alimentar dos frangos de corte (menos de 2,0 kg de ração para produção de 1 kg de ganho, do nascimento aos 42 dias de idade). Devido a grande importância econômica da característica, diversos programas de seleção estão sendo direcionados para a melhora da eficiência alimentar. No Brasil, testes de desempenho de machos inteiros, alimentados com ração à vontade dos 25–30 aos 100 kg de peso vivo, têm revelado animais que necessitam, em média, 2,0 kg ou menos de ração para ganhar 1,0 de peso vivo, e apresentam 10 mm de espessura de

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toucinho. A seleção contínua para melhora da eficiência alimentar e o emprego de machos geneticamente superiores indicam que, em breve, os suínos não necessitarão consumir mais do que 200 kg de ração, do nascimento ao abate, para produzir 70 kg de carcaça e mais de 40 kg de carne para consumo humano.

Produção de Carne

A exploração agropecuária de diversas espécies de animais domésticos tem como objetivo a produção de proteína contida nos ovos, no leite, e na carne, no caso dos suínos e bovinos de corte.

O rendimento de carne varia significativamente entre raças de suínos. Nos abatedouros brasileiros têm se observado que em Pietrain a média é superior a 60%, que em Duroc varia de 52 a 54%, em Landrace situa-se em torno de 56%, e que em Large White o rendimento depende da linha de seleção, sendo de 55 a 56% em linhas maternas, e de 58 a 59% em linhas paternas.

O aumento do rendimento e da quantidade de carne nas carcaças de suínos tem sido obtido fundamentalmente pela seleção para redução da espessura de toucinho subcutâneo, que contém 2/3 de toda a gordura corporal (METZ, 1985). A herdabilidade da característica (h2 = 0,60) e sua alta associação genética com o conteúdo de carne na carcaça (r =−0,80, LABROUE et al., 1997), têm permitido obter ganhos genéticos

significativos no aumento da deposição de carne nas carcaças, pela aplicação apenas de seleção massal para redução da espessura de toucinho. ELLIS e McKEITH (1993) relatam que, de 1971 a 1991, observou-se redução de 21 para 10 mm na espessura de toucinho de suínos criados em granjas comerciais da Inglaterra. Relatam também que, como conseqüência da combinação de seleção, produção e abate de machos inteiros, e melhora dos níveis nutricionais e das práticas de manejo, a proporção de carcaças muito magras (“very lean”), definidas como as que apresentam espessura de toucinho de 8 mm ou menos no ponto P2, aumentou significativamente, alcançando 15 % das carcaças processadas industrialmente naquele país em 1991.

Em decorrência da seleção, TRIBOUT et al. (1998) relatam ganhos genéticos de 2,5 % no rendimento de carne de 1991 a 1996 em suínos Large White de uma linha paterna na França, e ganhos genéticos de 0,5 a 1,0 % no mesmo período, para suínos Landrace, Large White linha fêmea e Pietrain.

Em alguns genótipos a deposição de gordura subcutânea já é bastante baixa (inferior a 10 mm), estando próxima de seu limite inferior, que seria de 0 mm. Em programas de melhoramento genético de suínos como o da Dinamarca, que utilizou no passado apenas Landrace e Large White, a espessura de toucinho e o rendimento de carne já atingiram níveis ótimos (SORENSEN, 1991), estando agora relegados a um segundo plano na seleção, com a ênfase sendo dada para outras características, incluindo a qualidade organoléptica da carne. Ocorre que, com a redução da espessura de toucinho, há uma redução da gordura intramuscular, e uma tendência de reduzir a qualidade organoléptica da carne. A introdução de genes da raça Duroc, conhecida por sua maior porcentagem de gordura intramuscular, e da Hampshire no programa de melhoramento genético de suínos daquele país teve como objetivo melhorar as características organolépticas da carne (ELLIS e McKEITH, 1993).

Raças musculosas, como Pietrain e Landrace Belga, contêm em seus cromossomos o gene Halotano (Haln), geralmente em carga dupla. O nome do gene deriva do fato de

que suínos homozigotos recessivos apresentam rigidez muscular e hipertermia quando expostos ao gás anestésico halotano. O interesse pelo gene Halndecorre de seu aspecto

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favorável no aumento da deposição de carne, e de alguns efeitos indesejáveis, tais como susceptibilidade ao estresse e morte súbita, e produção de carne pálida, mole e exudativa (PSE), de baixo valor para produção de presuntos cozidos.

A exploração do gene Haln no aumento da produção de carne deve ser feita por

linhas paternas, conciliada ao uso de genótipos maternos livres do gene, para evitar o abate de suínos homozigotos recessivos, com baixa qualidade de carne.

Apesar de sua capacidade genética de imprimir aumentos significativos no rendimento de carne de suas progênies, machos Pietrain, de raças puras, não têm sido recomendados para uso em monta natural em granjas comerciais de suínos, devido à sua sensibilidade ao estresse e aos riscos de morte súbita. O uso de machos mestiços ou sintéticos, com 50 a 62,5 % de Pietrain, tem sido recomendado para se aproveitar suas vantagens do gene Haln no aumento da produção de carne, e para evitar seus efeitos indesejáveis na qualidade da carne.

Conclusões

NICHOLAS (1987) afirma que o objetivo da seleção artificial é o de aumentar a freqüência dos genes favoráveis, até que a população seja homozigota ou fixa para cada gene favorável. Se este estágio finalmente for alcançado, então todos os membros da população serão homozigotos para o mesmo conjunto de genes favoráveis, não haverá variação nos valores genéticos, nem resposta à seleção, e a população terá alcançado o seu limite de seleção.

Em suínos, esta situação parece estar ainda longe de acontecer nas características de maior importância econômica. O tamanho das leitegadas ao nascer, por exemplo, apresenta grande variação entre raças, e não atingiu ainda valores médios elevados. O que pode tornar indesejável o grande aumento do tamanho das leitegadas é o peso dos leitões ao nascer, que deve diminuir, aumentando os riscos de mortalidade dos leitões e atrasando o seu desenvolvimento. Em relação ao aumento da taxa de crescimento, os principais fatores limitantes são a ocorrência de problemas de aprumos, de úlceras e de crescimento exagerado de alguns órgãos vitais, como o coração. Quanto à eficiência de conversão alimentar e ao rendimento de carne, a aproximação de limites fisiológicos certamente levará os geneticistas, nutricionistas, criadores e industriais a, por exemplo, aumentar o peso de abate dos animais, para escapar das limitações que possam eventualmente estar ocorrendo nos animais mais leves.

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