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A REALIZAÇÃO VARIÁVEL DE FRICATIVAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

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A REALIZAÇÃO VARIÁVEL DE FRICATIVAS NO PORTUGUÊS

BRASILEIRO

Ana Germana Pontes Rodrigues1 anager_maninha@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho faz uma revisão bibliográfica dos principais estudos feitos sobre a realização

variável de fricativas no português do Brasil, com o objetivo de constatar quais fatores (linguísticos e extralinguísticos) interferem na realização desses fonemas. Para isso, procuramos registrar os primeiros estudos (mas sem o rigor científico atual) e estudos de base sociolinguística e/ou dialetal – estes apenas sobre o português do Brasil. Com eles, verificamos que em praticamente todas as regiões brasileiras há estudos sobre o uso desses fonemas. No entanto, procuramos dar destaque apenas aos trabalhos que registraram ocorrências aspiradas [h, ] e apagadas [∅] das fricativas /v s z ʃ Ʒ/. No Ceará, foi onde encontramos mais trabalhos com essas variantes, o que pode ser um indício de que o fenômeno esteja condicionado, principalmente, pelo fator diatópico. Nos demais locais do País, essa variação deu-se entre as formas palatais [ʃ, Ʒ] e as formas alveolares [s, z]. E podemos concluir, até a realização desses trabalhos, que, especialmente no Ceará, existe uma maior variação entre os usos das fricativas /v/ e /S/ nas suas formas plena (manutenção), aspirada e apagada do que nos demais locais do Brasil, onde a maior variação se dá entre os usos nas formas alveolares e palatais.

PALAVRAS-CHAVE: fricativas; variação; Brasil.

INTRODUÇÃO

Encontramos no português do Brasil uma enorme diversidade de falares. Esse fato sempre instigou muitos pesquisadores a estudar fenômenos linguísticos que dele decorrem, principalmente os de natureza variacionista, colaborando para a descrição do português atual. O conhecimento de nossos falares e sua valorização são de grande importância para o estudo e ensino da língua portuguesa. Além disso, é papel do linguista o registro e a sistematização das “inovações/mudanças” linguísticas para que se faça um provável percurso da história das línguas que, normalmente, revela também a história do seu povo.

Neste artigo, temos o objetivo de apresentar trabalhos de diversos locais do País onde as fricativas são realizadas de diferentes formas. Demos preferência àqueles em que elas se realizam de forma aspirada2 e apagada (mesmo que estas em número

1 Bolsista FUNCAP e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da

Universidade Estadual do Ceará (www.uece.br/posla), turma 2011. Projeto de pesquisa: O

enfraquecimento de fricativas no português oral popular de Fortaleza: uma abordagem variacionista;

orientadora: Drª. Aluiza Alves de Araújo.

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reduzido).3 Nos locais onde só outros processos (como o da palatalização) ocorreram, não registramos aqui.

Na seção 1, fundamentaremos teoricamente o assunto, situando-o na história da língua portuguesa. Esta breve incursão histórica foi feita a fim de demonstrar que essas fricativas apresentam comportamento variável no decorrer da história da língua portuguesa, desde o latim.

Na seção 2, descreveremos como metodologia os critérios adotados na seleção dos textos e como estes serão analisados.

Na seção 3, serão apresentados trabalhos de descrição do português brasileiro. Para os primeiros – Aguiar (1937), Bueno ([1955] 1967), Silva Neto (1979), Macambira (1987) –, não foi atribuído rigor científico. No entanto, os demais – como o de Roncarati (1988, 1999), Alencar (2007), Aragão (2000, 2009), Canovas (1991), Pelicioli (2008) – têm, basicamente, como suporte teórico-metodológico a sociolinguística variacionista e/ou a dialetologia.

Por fim, procuraremos sumarizar os resultados de cada trabalho, localizando-o no Brasil.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: BREVE INCURSÃO HISTÓRICA SOBRE AS FRICATIVAS

As considerações a serem feitas nesta seção não têm o objetivo de fazer uma análise diacrônica do fenômeno, mas sim o de apenas ilustrar alguns aspectos sobre o enfraquecimento que podem ser esclarecedores para o mesmo.

Na primeira gramática portuguesa, a Grammatica da lingoagem portuguesa, de Fernão de Oliveira (1536), a fricativa sonora alveolar é assim registrada: “A pronũçiação do .z. zine antros dentes çerrados com língua chegada a elles e os beyços apartados hũ do outro: e e nossa propria esta letra.” (TORRES et al., 2000, apud CAGLIARI, 2008, p. 569). Sobre o J (palatal), ele comenta que não se trata de uma

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consoante “enxuta” como a semivogal (y), mas ocorre com uma “mestura de cospinho”.4

Mas, sobre as palatais, ele ainda acrescenta:

são descritas como articulação secundária às quais foi acrescido um „som aspirado‟, razão pela qual se escrevem com os dígrafos CH, LH, NH. Essa aspiração do Português é diferente da que ocorre em outras línguas; daí a dificuldade de a ortografia revelar como se pronunciam esses sons. (CAGLIARI, op. cit., p. 570)

O mesmo Fernão de Oliveira assim descreve o /s/: “quando pronunciamos o s, levantamos a ponta da língua para o céu da boca e o espírito (ar) assobia pelas ilhargas (lados) da língua” (OLIVEIRA, 1975, p.121, apud CARVALHO, 2000, p. 23).

Câmara Jr. ([1976] 2004, p. 18), por sua vez, assim descreve como se dá a realização das consoantes fricativas:

A constrição é a aproximação muito grande entre dois órgãos fonadores, como para porto /f/ e /v/, em que a arcada dentária superior e o lábio inferior

quase se juntam. A fricção, ou atrito, é a impressão que essa constrição

produz em nosso ouvido. O nome de «sibilantes» e o de «chiantes», respectivamente, para /s/ - /z/ e /s/ (x em eixo) - Iz‟l (j em jeito) são também uma classificação auditiva; articulatoriamente costumam ser chamados esses fonemas constritivos alveolares e palatais, respectivamente.

Por fim, foneticamente, uma consoante é considerada fricativa quando, ao ser produzida, a passagem do ar ocorre com a aproximação dos articuladores passivo e ativo, provocando, assim, uma fricção.

Quanto à sua realização variável na língua, Silva Neto (1979, p. 208-15), registra que o /S/ pós-vocálico já apresentava variação (no caso, manutenção ou queda) desde o latim arcaico. No entanto, essa variação não interrompeu seu curso, passando pelo latim clássico e latim vulgar. Na época da métrica antiga, percebe-se que, até Catulo (por volta de 30 a.C.), era admitida a “negligência” do -s final, quando precedido de vogal breve e seguido de palavra iniciada por consoante. Nesse caso, consistia-se num fenômeno de fonética sintática. Para exemplificar isso, Silva Neto compara com a pronúncia francesa que opõe nous aimons – em que o -s é pronunciado – a nous chantons, em que ele é “surdo” (Op. cit., p. 209). No entanto, por volta de 46 ou 45 a.C., houve uma reviravolta no que se definia como boa norma: “agora a pronúncia padrão consistia em pronunciar o -s final” (Ibidem, p. 209).

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O mesmo autor também busca na história externa a explicação para essa mudança de “padrão”. Ele atribui a isso razões histórico-sociais, de movimentos demográficos, sociais e geográficos: “a perda do -s corresponde às correntes dialetais da Península; a vitória do -s é a consequência da vitória do latim de Roma, consagrado, enfim, como a urbanitas, o padrão.” (p. 210) No tempo de Cícero, a supressão do -s seria um traço campônio. No entanto, com os acontecimentos que abalaram Roma e toda a Península, a pronúncia “rústica” de supressão do -s final acabou por vencer na Itália. O mesmo autor fala sobre a doutrina de Reichenkron (Beiträge zur romanischen

Lautlere5, 1939), a qual defendia que o -s final a princípio manteve-se firme em todo o Império Romano. A sua queda estava condicionada à entonação dos últimos tempos do latim vulgar e do romanço.

Já a aspiração é um fenômeno mais recente. Segundo Roncarati et al. (1988, apud CANOVAS, 1991, p. 32), “a pronúncia aspirada parece ser um fenômeno do romance, embora, provavelmente, no latim, a aspiração representada pelo h inicial de morfema como em hodie > hoje não tenha chegado às línguas neolatinas.”

Essa pronúncia aspirada, ou velarizada (HART, 1955, apud CANOVAS, op. cit., p. 34), seria uma solução portuguesa idêntica à adotada pelo espanhol andaluz: este apresentou uma mudança de [s] palato-alveolar para [x] velar. Assim, essa fricativa velar seria mais um processo de enfraquecimento. E a glote, onde é realizado o som aspirado [h, ɦ] – presente nas análises aqui feitas – está num ponto do aparelho fonador posterior ao véu palatino, o que nos leva a considerar a aspiração um nível mais acentuado de enfraquecimento.

Historicamente, as consoantes fricativas, durante a passagem do latim para o português, fixaram-se simetricamente com suas respectivas homorgânicas, o que até então só acontecia com as oclusivas. Segundo Tarallo (1990, p. 108), o sistema consonantal do latim teve sua evolução para o português caracterizada por dois processos: tendência à lenição (enfraquecimento) articulatória e à palatalização.

A fricativa sonora /v/, por exemplo, atualmente vem mostrando uma tendência, em alguns ambientes, à lenição, quando ela é pronunciada com o som glotalizado /h/.

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Esse som enfraquecido é assim descrito por Schubiger (apud MARQUES, 2001, p. 23): “um som constritivo, glotal, sonoro, que acontece quando se produz uma leve vibração nas cordas vocais ao mesmo tempo em que se deixa passar entre elas ar sem vibração.”

Portanto, após esses esclarecimentos sobre as fricativas, conclui-se que sua realização variável, principalmente do /S/ pós-vocálico, é registrada desde o latim arcaico. Sua manutenção, sua aspiração e seu apagamento são descritos tanto do ponto de vista linguístico quanto social: seja como uma tendência para o enfraquecimento desses fonemas, seja como uma pronúncia “rústica”, realizada por indivíduos de classes sem prestígio social.

Assim, após essas análises registradas historicamente, na passagem do latim para o português, partiremos para a descrição do enfraquecimento dessas fricativas, agora especificamente do ponto de vista do português do Brasil.

METODOLOGIA

Procuramos utilizar como critérios de exposição dos textos a sua ordem cronológica e o seu agrupamento por Estado em que as ocorrências foram registradas. Buscamos também localizar o fenômeno em diferentes lugares do País.6 Além disso, demos preferência aos trabalhos em que as fricativas /v/ e /S/ se realizam de forma aspirada e/ou apagada (mesmo que estas em número reduzido). E, nos locais (trabalhos) onde só outros processos apareceram (como o da palatalização), não os registramos aqui.

ANÁLISE DOS DADOS: OS ESTUDOS SOBRE O USO DE FRICATIVAS NO PORTUGUÊS DO BRASIL

Os primeiros estudos

Nesta seção apresentaremos alguns dos primeiros trabalhos que registraram o fenômeno no português do Brasil (doravante PB). São eles: Aguiar (1937), Bueno ([1955] 1967), Silva Neto (1979)7 e Macambira (1987). No entanto, alguns autores

6

A região Centro-Oeste foi apresentada por nós apenas brevemente em Corrêa (1998, apud HORA, 1999, p. 34), porque, sobre esse fenômeno nessa região, ainda não encontramos nenhum trabalho.

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consideram que eles não seguiram um rigor científico, embora não possamos negar a sua qualidade nem o seu pioneirismo: “Tais trabalhos, na grande maioria, foram feitos por pesquisadores que, apesar da qualidade e do pionerismo de seus trabalhos, não seguiram uma metodologia científica que nos assegure sua pertinência.” (ARAGÃO, 2004, p. 21).

Aguiar (1937, p. 290), ao traçar uma fonética do português do Ceará, descreve a ocorrência do r velar, também chamada por ele de faucal, no lugar de j, como em hente (gente), hiro (giro), hanela (janela), hogar (jogar), e humento (jumento), na linguagem infantil e dos rústicos. O s, no dialeto popular, também passa a r, antes de d e de consoante nasal, como em: ur-dia (os dias), derde (desde), mermo (mesmo), ur-nome (os nomes). Além disso, no final de palavra, o s, representando ou não o plural, apaga-se nesapaga-se dialeto, como em: o alfere, os livro. O v também pode transformar-apaga-se, no dialeto rústico e no infantil, em r: estaha, ahia (havia), hamo (vamos), cahalo (cavalo). O z, por fim, é por ele registrado, na linguagem da criança e do povo, como fahê (fazer),

fahia (fazia), fahenda (fazenda). Ele registra ainda que até mesmo na “fala descuidada

de pessoas cultas” é comum ouvir: mah-eu (mas eu), mah-é-isso (mas é isso).

Silveira Bueno ([1955] 1967) também registra esse fenômeno, mas da seguinte forma:

Há no Norte do Brasil todo e também no Rio de Janeiro, talvez por causa do grande número de nortistas aí residentes, um r gutural [...]. De estudos por nós feitos em vários meses de observação nos estados da Bahia, Alagoas, Pernambuco e na cidade do Rio de Janeiro, notamos que, em muitas pessoas, mormente quando o nível intelectual é inferior, este r gutural já se vai transformando em pura aspiração representada pelo h ou pelo j em espanhol. Macambira (1987, p. 273-4), por sua vez, usa o termo espirante, referindo-se ao f e ao v labiais e ao r aspirado. Por esse motivo, a pronúncia do v como r espirante em algumas regiões cearenses “demonstra com evidência o parentesco fonético entre as duas fricativas”. Por exemplo, carralo rei para cavalo velho, rambora para vambora. Ele menciona que esse fenômeno ocorre inclusive no português coloquial de Fortaleza, “na boca de formandos e formados”.

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Nesta seção, apresentaremos os trabalhos que seguiram uma metodologia de base sociolinguística e/ou dialetológica. São trabalhos mais atuais e apresentam esse maior rigor científico acima discutido. Os primeiros – Roncarati (1988, 1999), Alencar (2007), Aragão (2009) – falam a respeito desse fenômeno no falar cearense8. Os demais – Canovas (1991), Pelicioli (2008), Hora (1999), Marques (2001), Carvalho (2000), Martins (2007), Monteiro (2009), Santos (2009) e Bassi (2010) – descrevem a ocorrência dele em outros locais do País.

O primeiro deles é o de Roncarati (1999). Ela analisa a aspiração e o apagamento das fricativas /v, z, Ʒ/ na fala cearense e considera que o fenômeno pode ser melhor explicado à luz do difusionismo lexical9. Assim, ela inclui (Ibidem, p. 2) fatores de controle lexical, como usualidade do item lexical, nível de formalidade (variação estilística) e grau de afetamento de itens enfraquecidos – para este, ela se detém nestes condicionantes linguísticos: distância da tonicidade antecedente e subsequente; contexto fonológico antecedente e subsequente, marca de desinência verbal. O léxico é composto por 10 gravações da amostra básica; uma de IMP (interação médico-paciente, gravada no Instituto Psiquiátrico do Ceará) e 4 gravações de falantes do interior do Projeto ALECE, Atlas Linguístico do Ceará.

Alguns dos resultados por ela obtidos a partir do cruzamento entre os condicionantes linguísticos com o levantamento lexical: a distância 1 da tônica antecedente favorece a aspiração (0.70) e o apagamento (0.75) e está associada à usualidade da desinência -ava do imperfeito (botaha no curral) e dos itens mesmo e

gente (memo e ente); as consoantes com o traço [-contínuo], /l, n, d, m/, são mais

favorecedoras da aspiração (respectivamente: 0.84, 0.83, 0.81 e 0.72) e associam-se à usualidade dos itens mais (maih ligado, maih novo, gosta maih de ler) e mesmo (mais

esses mehmo); /z/ é enfraquecido mais usualmente em itens com segmento enfraquecido

antes da consoante nasal: “o alto índice de aspiração de mesmo, face a todas as outras categorias vem ao encontro da hipótese de que o fenômeno pode estar lexicalmente condicionado.” (Ibidem, p. 5); o apagamento também ocorre mais entre os itens lexicais

8

O falar cearense foi destacado por ser o objeto da pesquisa de mestrado da autora.

9 O difusionismo lexical privilegia o controle lexical e desloca o foco da mudança da unidade fonológica

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que apresentam os maiores índices de enfraquecimento: meØmo, maiØ e maØ; o /Ʒ/ tem como item lexical mais usual com segmento enfraquecido no início de vocábulo o advérbio há (já).

Quanto à correlação entre relevância informacional e usualidade, verifica-se que o enfraquecimento se dá mais entre os morfemas gramaticais e não entre os morfemas lexicais, portadores de conteúdo informacional. Ela sugere ainda que seja retestada a relação entre nível de enfraquecimento e o de formalidade. Por fim, ela aplica um teste de atitudes, avaliando o enfraquecimento das frivativas, cujos resultados revelam que: a situação de fala informal favorece o enfraquecimento; o enfraquecimento é uma marca masculina (sinaliza “manifestação de „macho‟”); os adultos enfraquecem mais as fricativas; há uma forte correlação entre nível de estigmatização e origem do falante (as mais estigmatizadas são atribuídas a falantes interioranos); a usualidade de um item lexical e a aceitação dos itens enfraquecidos caminham juntos.

Com um intervalo de quase uma década, o assunto sobre as fricativas no falar cearense voltou a ser descrito. Alencar (2007), em sua tese de doutorado, ao fazer um estudo sócio-dialetal sobre a realização dos róticos (/r/ e /ɾ/) na língua falada em Fortaleza, observa, em seus dados, e descreve a ocorrência da reificação nas fricativas vozeadas /v/, /z/ e /Ʒ/, em determinados contextos. Seu corpus constituiu-se de entrevistas feitas com 24 informantes fortalezenses, de diversos bairros, e distribuídos igualmente entre as faixas etárias de 18 e 30 anos e de 45 a 60 anos, entre os sexos (masculino e feminino) e entre Ensino Fundamental e Ensino Superior. Ela utilizou o QFF (Questionário Fonético Fonológico), o QSL (Questionário Semântico Lexical), os TDS (Temas para Discursos Semidirigidos) e as PM‟s (Perguntas Metalinguísticas) do projeto ALiB (Atlas Linguístico do Brasil).

A sua análise conclui que a reificação de /v/ ocorre de forma sistemática, em posição inicial e medial, em nomes e verbos, é mais frequente com a vogal /a/, e o maior número de ocorrências se dá com a desinência -ava do imperfeito do indicativo (ex.: brinca[ɦ]am) e com as formas verbais de IR (ex.: [ɦ]amos) Já a reificação de /z/ ocorre em posição medial, antes de consoante vozeada (ex.: me[ɦ]mo, de[ɦ]de) e, em posição final, seguida de vogal ou de consoante vozeada (ex.: fai[ɦ] muita), tendo maior

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ocorrência com o item “mesmo” e, no contexto fonológico seguinte, as consoantes nasais /m/ e /n/, a lateral /l/ e a oclusiva dental /d/. A reificação de /Ʒ/ se dá em posição inicial, sendo mais frequente com as vogais /a/ e /ẽ/ (ex.: [ɦ]á e [ɦ]ente).

Além disso, ela constata que há o predomínio da realização plena dessas fricativas, em posição inicial de vocábulo e em início de sílaba no meio da palavra. No entanto, numa situação menos monitorada, ocorre, com maior frequência, a reificação delas e, até mesmo, o apagamento (este em menor número). Uma hipótese que ela apresenta para isso é que haveria “a perda do ponto de articulação, permanecendo apenas a fricção.” (Op. cit., p. 120). Quanto à análise quantitativa de seus dados, Alencar apresenta apenas em relação à realização dos róticos – objeto de estudo de sua tese. No final, faz a seguinte consideração:

A „reificação‟ das fricativas [...] /v/, /z/ e /Ʒ/, que ocorre de modo significativo nos informantes, constitui uma marca muito forte no falar fortalezense, revelando a importância de um estudo mais aprofundado de descrição do PB. (ALENCAR, op. cit., p. 138)

Em seguida, Aragão (2009) procura complementar esses estudos, falando sobre a neutralização dos fonemas /v, z, Ʒ/ e sua realização com a variante aspirada [ɦ] do fonema /r/, utilizando o corpus do projeto Dialetos Sociais Cearenses (ARAGÃO et. al., 1996), que fora obtido através de entrevistas, conversas espontâneas e IMP – para este trabalho, ela utilizou 6 entrevistas. Essa amostra foi organizada levando em consideração as seguintes variáveis: sexo; faixa etária – de 10 a 11 anos, de 14 a 15 anos e de 18 a 25 anos; grau de instrução – primário, ginásio e 2º Grau; classe social – B (média) e C (baixa).

E, para efeito de comparação, ela utilizou também 4 inquéritos experimentais do projeto ALiB, estado do Ceará, referentes à Fortaleza, com itens lexicais do QFF e do QSL, também distribuídos em: sexo; faixa etária – de 18 a 30 anos e de 45 a 60 anos; e grau de instrução – até a 4ª série do Ensino Fundamental e Ensino Superior. Ela também leva em consideração os seguintes fatores: internos à estrutura fonética da palavra; diastráticos – registro culto e popular; e diatópicos – marca regional do fenômeno.

Seus resultados concluíram que, dos fatores internos, os que mais marcaram foram: vogal seguinte (ex.: [ka‟ɦalʊ], [pɾeɦas]); posição inicial (ex.: [ɦãmʊs],

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[ɦumẽtʊ]) e posição medial (ex.: [meɦmʊ], [ĩɦƐɦnʊ]). Quanto aos fatores diastráticos, ela afirma que “tanto os jovens como os mais idosos, homens e mulheres, com pouca ou muita escolaridade fazem a neutralização dos fonemas /v, z, Ʒ, r/ e usam a variante [h]” (Idem, 2009, p. 200). Segundo ela, os fatores que mais marcaram a realização desse fenômeno foram “os estilos formal/informal, tenso/distenso, monitorado/não-monitorado.” (Op. cit.) Em relação aos fatores diatópicos, ela conclui que esse fenômeno é uma marca do falar cearense, como um todo, visto que ocorre em todos os segmentos sociais analisados. Portanto, a neutralização de /v, z, Ʒ, r/ é fonético-fonológica e sócio-dialetal.

Saindo do Ceará e analisando os trabalhos sobre a realização das fricativas em outros locais do País, pudemos observar o trabalho de Canovas (Op. cit.) sobre o falar de Salvador. Sua pesquisa analisa a realização de /S/ pós-vocálico e de /v, z, Ʒ/ em ataque silábico. Sua amostra constituiu-se de 45 informantes, distribuídos desta forma: escolaridade (1º grau, 2º grau e 3º grau) e idade (13-20 anos, 21-45 e 46-70). Ela não levou em consideração a variável sexo por constatar que, em seus dados (assim como na maioria de outros estudos linguísticos), as mulheres apontam um comportamento linguístico conservador. Portanto, o sexo do informante só foi determinado para informar mais uma característica dele. As gravações foram feitas por ela e tinham um caráter semi-informal. Além dessas, ela também coletou entrevistas de TV de 79 informantes de nível superior, com idade entre 25 a 60 anos, sendo apenas 8 do sexo feminino, em situações de fala formal.

Em Salvador, o /S/ ocorre nas formas alveolar [s, z], palato-alveolar [ʃ, Ʒ], aspirada [h, ɦ] e apagada [∅]. A análise dos seus dados concluiu que há o predomínio da pronúncia alveolar em todos os contextos, exceto diante das consoantes /m/ e /l/, onde a forma aspirada foi superior (o item lexical “mesmo” foi o que mais influenciou nesse resultado, sendo pronunciado como [„meɦmʊ]). Diante das oclusivas sonoras /g, d, b/, a aspirada teve destaque, mas, ainda assim, teve frequência menor do que a alveolar. Com isso, ela ressalta a hipótese de que “o ambiente seguinte, sendo sonoro, facilita o enfraquecimento num grau mais acentuado [...]. [A aspiração] se dá numa zona de articulação mais recuada que a palatalização; o enfraquecimento é maior quanto mais

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recuada for a zona de articulação onde se dá a produção da variante sonora.” (Ibidem, p. 81-2).

Assim ela resume sua análise de acordo com o segmento posterior ao /S/ pós-vocálico: as consoantes surdas e a pausa favorecem a palatalização; as consoantes sonoras favorecem a aspiração; as vogais, em juntura, favorecem a alveolar. Já em /v, z, Ʒ/, o processo de enfraquecimento encontra-se em fase embrionária.

Quanto às variáveis sociais, ela afirma que os falantes com maior nível de escolaridade tendem ao uso da forma alveolar, e a variação do /S/ pós-vocálico está caminhando nesta direção: alveolar  palatal  aspirada  apagamento. No entanto, /v/ teve resultados diferentes, pois os falantes mais escolarizados foram os que mais aspiraram e apagaram, e a realização plena se deu mais entre os que possuem 2º grau, seguidos pelos de 1º grau e, por último, pelos de 3º grau. Quanto à idade, a variante alveolar foi mais usada entre os de 21 a 45 anos, seguidos pelos de 46 a 70 e, por último, pelos mais jovens, que utilizaram mais a palatal. A aspiração vem ocorrendo em todas as idades, e o apagamento ocorre mais entre os mais jovens. Por fim, ela também afirma que, mesmo diante de uma situação mais tensa (entrevistas pela TV), não há inibição da pronúncia aspirada.

Ainda em Salvador e quase vinte anos depois, Pelicioli (2008) trata especificamente da aspiração das fricativas na fala dessa cidade. Seu corpus foi constituído por 8 inquéritos experimentais do projeto ALiB, distribuídos igualmente entre faixa etária (I – 20 a 30 anos; II – 46 a 61 anos), gênero e nível de escolaridade (fundamental e universitário). O único condicionante linguístico submetido ao Varbrul foi a posição do /S/ em coda silábica. A realização aspirada do /S/ em coda silábica teve resultados diferentes nos diversos contextos analisados. Quando o contexto fonológico seguinte foi sonoro, houve favorecimento da aspiração (P.R. acima de 0.50), principalmente com os fonemas /m, n, l, d, b, g, v/, com P.R. de, respectivamente, 0.93, 0.90, 0.88, 0.79 e 0.78. No entanto, a consoante não-sonora /x/, apresentou P.R. também significativo, 0.93.

Todas as classes gramaticais, com exceção dos substantivos, obtiveram P.R. acima dos 0.50. Dentre elas, destacam-se as conjunções (0.80), depois os numerais

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(0.77), em seguida, os pronomes (0.71), e os verbos e adjetivos estão próximos à neutralidade (0.54 e 0.53). Aqui também os itens lexicais mesmo(s)/mesma(s) deram destaque aos determinantes e advérbios (0.64 e 0.63). Esses itens lexicais foram os mais usuais e, em 50% das vezes em que ocorreram, foram de forma aspirada (0.73). Por isso, ele afirma que “a aspiração do /S/ em coda silábica pode ter começado com esse item lexical e depois ter sido difundido para outros, porque das 465 ocorrências aspiradas encontradas no corpus, 156 ou 33,55% foram de mesmo.” (Ibidem, p. 3-4).

Em final de palavra, diante de consoante, o /S/ em coda silábica tem P.R. de 0.62; já em posição medial, o seu peso é neutro (0.51).

Em relação às variáveis sociais analisadas, a faixa etária I é a que mais aspira (0.56), os falantes de nível fundamental tiveram um maior P.R. 0.55, contra 0.46 dos informantes de nível universitário. Por isso, ele considera que “a aspiração de fricativas, na fala de Salvador, é uma mudança que ocorre “de baixo pra cima”, isto é, abaixo do nível de consciência do falante. A princípio, ocorria somente no nível fundamental e hoje já pode ser percebida em todas as camadas da sociedade.” (Op. cit., p. 4). E quanto ao gênero, constatou-se que os homens são os que mais aspiram (0.54).

Já aspiração em cabeça de sílaba, que não fora rodada no VarbRul, obteve: 58% de ocorrência como fricativa palatal /Ʒ/, sendo gente o item lexical mais frequente (77%); 28% como labiodental /v/, sendo o sufixo do imperfeito do indicativo -ava o que aparece na maioria dos casos (87,5%); e 14% como alveolar /z/, sendo que 58,3% ocorrem com itens dissílabos e em sílaba átona (casa, coisa, causa, quase) e 41,7% ocorrem com o fenômeno da ressilabação (aquelesarados). Nas variáveis sociais, há uma inversão do que ocorreu em coda: os informantes da faixa II, de nível universitário e do sexo feminino realizaram mais a aspiração do que os da faixa I, de nível fundamental e do sexo masculino. Por fim, ele comenta que, em Salvador, a aspiração não constitui estereótipo, mas sim um indicador, visto que possui uma distribuição regular nos grupos socioeconômicos e etários.

Dermeval da Hora (1999) faz um estudo sobre a palatalização de fricativas /s/ e /z/ na língua portuguesa. Seus dados analisados fazem parte dos projetos NURC,

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APERJ e VALPB10. Os resultados do NURC apontaram que, em São Paulo e em Porto Alegre, houve predomínio da realização alveolar. No Rio de Janeiro e em Recife, há a predominância da realização palatal. Já em Salvador, houve uma distribuição para alveolar e palatal homogênea (45% e 44%, respectivamente). No entanto, há uma tendência de palatalização em posição medial para todas as capitais.

Quanto ao fator social sexo do falante, Callou e Moraes (1995, apud HORA, op. cit., p. 34), verificam que São Paulo e Porto Alegre possuem comportamentos diferenciados, o que revela uma variação estável. Esse projeto teve sua análise, em Salvador, feita por Mota et. al. (1994, apud HORA, op. cit., p. 34), e houve favorecimento do uso das fricativas palatais diante da oclusiva dental surda (/t/) iniciando a sílaba seguinte, e as demais consoantes favorecendo a predominância da realização alveolar. Para essas autoras, no Nordeste existem outras áreas “em que as fricativas estão sujeitas a um processo dissimilatório sob a ação condicionadora de consoante dental da sílaba seguinte” (Op. cit., p. 34), como no caso do Ceará.

Ao contrário do que acontece na capital (Rio de Janeiro), o corpus do APERJ coletado por Brandão (1998, apud HORA, op. cit, p. 34) revela que há predomínio de realizações alveolares. Em Brasília, Corrêa (1998, apud HORA, op. cit., p. 35) constata, sobre o do /S/ pós-vocálico, que 97% das realizações é com a alveolar, 2% com a aspirada e 1% com o zero fonético. Em relação ao projeto VALPB, a realização se deu com as seguintes variantes: [s], [ʃ], [z], [Ʒ], [h], [∅]. No entanto, em virtude das poucas realizações com as variantes aspirada e apagada (me∅mo-109, meɦmo-564, deɦde-19), elas não foram consideradas na análise, e as demais foram analisadas em interior de vocábulos.

Seus resultados foram: a consoante fricativa dental é um forte condicionador da palatalização do [s] (0.81), e as demais se correlacionam à não palatalização. Por fim, ele conclui que: “a palatalização parece delinear-se claramente como uma regra que aos poucos tende a generalizar-se. Em se tratando das consoantes em pauta, o contexto linguístico fortemente atua sobre sua aplicação.” (HORA, p. 36)

10 Respectivamente: Norma Urbana Oral Culta, Atlas Etnolinguístico dos Pescadores do Estado do Rio de

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Ainda sobre o falar pessoense, Marques (2001) trata da reificação (aspiração) do fonema /v/. Ela utilizou todo o corpus do projeto VALPB, ou seja, 60 informantes, sendo 30 homens e 30 mulheres, 20 de cada faixa etária (15-25 anos, 26-49 anos e mais de 50 anos), e 12 para cada divisão em anos de escolarização (0-4 anos, 5-8, 9-11 e mais de 11 anos). A ocorrência de /v/ nessa comunidade dá-se de duas formas: realização plena e aspirada. Ela dividiu seus dados em dois arquivos: arq. 1, composto pelos contextos em que a vogal /a/ está circundando /v/; arq. 2, formado pelos demais contextos em que /v/ está precedido e sucedido por vogais variadas (/i/ + /v/ + /e/ = tivesse).

Assim, seus resultados revelaram que, no arq. 1, quanto ao status morfológico do segmento, os morfemas lexicais tendem a conservar a realização plena (0.12)11, enquanto que os morfemas não-lexicais12 são mais favoráveis à aplicação do fenômeno, ou seja, da reificação (0.57). Quanto à dimensão do vocábulo, verificou-se que os dissílabos são fortes favorecedores do enfraquecimento (0.66) ao lado dos monossílabos (0.54). Quanto às classes de palavras, os resultados indicaram que os verbos foram os que mais favoreceram a reificação (0.53).

No arq. 2, a posição/tonicidade do segmento foi o fator selecionado como o mais relevante, resultando que a tônica medial (0.73) e a postônica (0.71) são as que mais favorecem o enfraquecimento. Quanto ao contexto fonológico seguinte e precedente, constatou-se que /v/, quando sucedido pela vogal /a/, alcança o P.R. de 0.76 (para o enfraquecimento) e, “quando /v/ está antecedido por uma [vogal] média e sucedido por um /a/, ou, antecedido por /a/ e seguido por uma [vogal] nasal, a probabilidade de variação é bastante positiva (0.77 e 0.68).” (Op. cit., p. 70). Em relação às classes de palavras, novamente os verbos foram os mais relevantes para a reificação (0.60).

Quanto aos fatores sociais, só foram selecionados os fatores do arq. 1. Quanto aos anos de escolarização, verificou-se que quanto maior o grau de escolaridade, menor será a reificação (até 8 anos de escolarização, os pesos variaram de 0.56 a 0.59). Em relação à faixa etária, apenas os indivíduos de 26 a 49 anos tiveram P.R. relevante

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(0.58), os tinham mais de 50 anos tiveram um P.R. neutro, de 0.47. Quanto ao sexo, as mulheres foram as maiores favorecedoras à realização aspirada (0.54). Por fim, um resultado global da ocorrência dessas duas variantes presentes no corpus constatou que o P.R. do enfraquecimento é de apenas 0.13 contra 0.88 da realização plena. No entanto, a autora afirma que, pelo fato de a reificação ser bastante frequente em alguns contextos, ela mereceu ser estudada.

Saindo do Nordeste e indo para a região Norte do País, temos o trabalho de Carvalho (2000), sobre a variação do /S/ pós-vocálico na fala de Belém. Seu corpus foi obtido através de entrevistas e depoimentos do tipo DID13 e possui 42 informantes, dos quais 21 são homens e 21 são mulheres. Ela os estratificou ainda em escolaridade (não-escolarizado, ensino fundamental completo/incompleto e ensino médio completo/incompleto), faixa etária (de 15 a 25 anos, de 26 a 46 anos e mais de 46 anos) e classe social (baixa e média). O /s/ pós-vocálico foi analisado em quatro variantes: alveolares, palatais, aspirada ou glotal e o zero fonético ou apagamento – embora não apresentem a mesma produtividade.

Os fatores linguísticos que mais favoreceram o uso das alveolares foram: antes de vogal, em sílaba tônica e em pronomes e conjunções. Os que favoreceram as palatais: consoante surda interna à palavra, consoantes surda e sonora em juntura (esse dois enquanto segmento fônico posterior), em sílaba átona e em substantivos, verbos, numerais, advérbios, artigos e adjetivos. A glotal foi mais favorecida pelos seguintes fatores linguísticos: consoante sonora em juntura (enquanto segmento fônico posterior), em sílaba tônica e em advérbios, preposições e conjunções. E o apagamento é favorecido: em consoante surda em juntura (enquanto segmento fônico posterior), em sílaba átona e em advérbios, conjunções e verbos.

Os fatores sociais ocorreram da seguinte forma: os mais escolarizados usaram as palatais, os não-escolarizados preferiram a glotal e o apagamento, os que tinham 1º grau completo usaram as quatro variantes de forma equilibrada; os homens utilizaram tanto a glotal quanto o zero fonético e as palatais, enquanto as mulheres utilizaram as palatais e as alveolares; os mais novos utilizaram, de forma equilibrada, tanto as palatais quanto as

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glotais e o zero fonético, os de 25-46 anos utilizaram somente as palatais, e os mais velhos foram os que tiveram maior frequência da glotal. Por fim, ela conclui que, entre os belenenses, há um predomínio das palatais, que constituem a variante de prestígio entre eles.

Sobre o falar amazonense, Martins (2007) investiga o comportamento do /S/ pós-vocálico em situação de conversação livre, em 6 municípios do Amazonas: Itacoatiara, Manacapuru, Parintins, Tefé, Barcelos e Benjamim Constant. Neles foram encontradas as seguintes variantes: a pós-alveolar surda e sonora [ʃ, Ʒ], a alveolar surda e sonora [s, z], a glotal/aspirada [h, ɦ] e o zero fonético [∅]. Os resultados de cada município analisaram os fatores linguísticos (posição média e final do /S/ pós-vocálico) e os sociais (faixa etária – 18 a 35 anos, 36 a 55 anos e 56 em diante – e gênero – masculino e feminino), num total de 36 informantes, sendo 6 em cada município.

Em Barcelos, tanto em posição medial quanto em final prevalece a realização pós-alveolar. Em posição medial, ela se distribui de forma homogênea nos fatores sociais analisados; em posição final, há uma distribuição diferenciada entre esses fatores. Em Benjamim Constant, há um equilíbrio na realização da pós-alveolar e da alveolar, em posição medial, sendo que os informantes de 36 a 55 anos são os que mais produzem a pós-alveolar (80%, masculino e feminino); em posição final, há predomínio da produção alveolar, e os informantes de 18 a 35 anos e os de 36 a 55 anos e as mulheres são os que mais a produzem.

Em Itacoatiara, há produção categórica da pós-alveolar, em posição medial, apresentando um resultado homogêneo quanto à faixa etária e ao gênero; em posição final, a pós-alveolar apenas predomina, e são os informantes da 1ª e 2ª faixas etárias e as mulheres os que mais produzem essa variante nesse contexto (56,4% e 58,4%, respectivamente). Em Manacapuru, há o predomínio da alveolar, em posição medial, na 1ª e na 3ª faixas etárias masculinos (60% e 57,1%, respectivamente); já em posição final, ambas, a alveolar e a pós-alveolar, distribuem-se de forma homogênea, assim como na faixa etária e no gênero; ela observa ainda que, em posição final, há uma produção de 37,6% de zero fonético na 2ª faixa etária.

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Já em Parintins, há realização categórica da pós-alveolar, em posição medial, distribuída homogeneamente nas faixas etárias e nos gêneros, além da realização glotal/aspirada na 3ª faixa etária masculino (27,7%); já em posição final, a pós-alveolar apenas predomina e se distribui da mesma forma nas faixas etárias e nos gêneros, e os mais jovens são os que mais produzem essa variante; ainda em posição final, é constatada a realização como zero fonético na 2ª faixa etária em 22,05%. Em Tefé, em posição medial, há uma realização bem diferenciada:

a fricativa pós-alveolar é predominante na 1ª faixa etária (100%: homem e 42,8%: mulher), na 2ª faixa etária feminino (66,6%) e na 3ª faixa etária feminino (71,4%); a fricativa alveolar é predominante na 2ª faixa etária masculino (71,4%) e na 3ª faixa etária masculino (53,1%); a fricativa glotal/aspirada aparece, de forma significativa, na 1ª faixa etária feminino (42,8%) e o zero fonético na 3ª faixa etária (15,6% e 14,2%, homem e mulher, respectivamente). (Op. cit., p. 12);

já em posição final, há o predomínio da fricativa alveolar, com destaque para a 2ª e 3ª faixas etárias masculino; ainda em posição final, há a realização como zero fonético na 3ª faixa etária feminino (34,3%). Por fim, de forma global, a pós-alveolar predomina nos municípios de Barcelos, Itacoatiara e Parintins, e os demais municípios, produzem mais a alveolar.

Na região Norte, existe ainda o trabalho de Monteiro (2009) que aborda sobre a realização de /S/ em Macapá. Seu corpus é constituído por 16 informantes do Projeto Vozes do Amapá, estratificados de acordo com sexo, a faixa etária (de 15 a 26 anos e acima de 49 anos) e os anos de escolarização (até 4 anos e mais de 9). A realização do /S/ em coda silábica, seja medial ou final, se dá também aqui de quatro maneiras: alveolar [s, z], palato-alveolar [ʃ, Ʒ], glotal [h] e zero fonético [∅].

Num resultado global, pode-se constatar o predomínio da variante palato-alveolar (71,8%), enquanto as demais ocorreram com a seguinte frequência: palato- alveolares-19,4%, glotal-5% e zero fonético-3,8%. Diante do número reduzido de ocorrências dessas duas últimas, as rodadas passaram a ser feitas apenas entre as alveolares e as palatais. Por fim, ela conclui que

embora a palatalização de /S/ sofra influência social relativa à idade dos falantes, em Macapá, ela ainda é um fenômeno de interferência linguística, induzido muito mais pelo ambiente fonológico que circunda a fricativa, do que pelas características da comunidade linguística que a realiza. (Ibidem, p. 75)

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Indo para a região Sudeste, temos o trabalho de Santos (2004) que analisa a variação do /S/ pós-vocálico, mas apenas nos municípios fluminenses de Itaperuna, Paraty e Petrópolis. Seu corpus é constituído por 18 entrevistas realizadas em cada um dos três municípios. Todos os informantes possuem escolaridade básica (no máximo a 7ª série do Ensino Fundamental) e distribuem-se igualmente entre os gêneros e as faixas etárias (18-35 anos, 36-55 anos e mais de 55 anos). As entrevistas foi constituídas pelo QFF e pelo TDS do projeto ALiB.

Foram atestadas seis variantes para as realizações de /S/ em todos os três municípios: a fricativa alveolar surda [s], a alveolar sonora [z], a palatal surda [ʃ], a palatal sonora [Ʒ], a glotal [h] e o apagamento [∅]. De um total de 7810 dados, houve predomínio da fricativa alveolar surda [s], com 40% das ocorrências. As demais variantes ficaram assim distribuídas: alveolar sonora-17%, palatal surda-29%, palatal sonora-3%, glotal-6% e zero fonético-5%.

Para cada um desses processos, Santos (2004) faz uma análise. Para o de palatalização, é o fator extralinguístico, região, o mais relevante, pois em Petrópolis houve palatalização tanto nos contextos interno e externo quanto no QFF e no DS; em relação ao gênero e à faixa etária, verificou-se que as mulheres são as que mais palatalizam, nas faixas 2 e 3 (62% e 64%). Já para o processo de glotalização, os fatores extralinguísticos não se mostraram tão relevantes. Os linguísticos, por sua vez, são os que apareceram primeiro no programa: a sonoridade seguinte (sonoro) se mostrou muito relevante; no DS, a natureza do vocábulo foi apontada como importante (no contexto interno, mesmo, desde, além de verbos e advérbios, no contexto externo, nós, pois,

mas/mais); no entanto, outros vocábulos também apareceram na forma glotal gosto, vez, turismo, Deus, simplesmente, rasgar, desmaio, dois, nós, três, seis e dez.

Para o apagamento, verificou-se que nenhum fator foi selecionado no QFF, no contexto interno, mas apenas no externo: a sonoridade do segmento seguinte (sonoro) e a natureza do vocábulo (mas/mais). No DS, houve maior número de cancelamentos, principalmente no contexto externo: a sonoridade do segmento seguinte (sonoro) e a tonicidade da sílaba (no contexto interno, foi na sílaba pretônica, no externo, foi na

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sendo o município que mais apagou o /S/ pós-vocálico, e a faixa etária 3 foi a que mais apagou. Por fim, ela conclui que os resultados obtidos não apontam para uma mudança em progresso, mas sim para uma variação estável nestas regiões.

Na região Sul, temos o trabalho de Bassi (2010), que fala sobre o comportamento do [s] em coda silábica em Florianópolis, no centro (urbano) e Ingleses (litorâneo). Seu corpus é constituído por apenas 4 informantes, sendo dois homens e duas mulheres (sendo um homem e uma mulher com até 25 anos e um homem e uma mulher acima de 60 anos). As seguintes realizações de [s] foram constatadas nesse

corpus: alveolar surda (cu[s]to, têni[s]), alveolar sonora (me[z]mo, pé[z]descalços),

palatal surda (flore[ʃ]ta, mê[ʃ]), palatal sonora (me[Ʒ]mo, pé[Ʒ]descalços), fricativa glotal (me[h]mo) e zero fonético (me[∅]mo).

No entanto, seus resultados foram restringidos ao estudo do condicionamento linguístico e social da variante palatal14, e eles apontaram que: a realização palato-alveolar de [s], em Florianópolis, supera a forma palato-alveolar; entre as varáveis sociais, apenas a faixa etária (os mais idosos) e o grau de escolaridade (quanto maior o grau, menos haverá palatalização) foram relevantes para a realização palatal, pois não existem diferenças significativas na produção palato-alveolar por homens e mulheres; entre as linguísticas, a variável contexto fonológico precedente à fricativa constatou que tanto as vogais [coronais] quanto as [labiais] também favorecem a palatalização, já a variável posição da fricativa na palavra verificou que a coda medial favorece a palatalização da [+coronal, + anterior], e o contexto fonológico seguinte à fricativa constatou que as [coronais] são as mais propícias ao processo de palatalização.

Por fim, ela conclui que, em Florianópolis, a palatalização “ainda é um fenômeno recorrente e de interferência, visto que na mesma localidade existem pessoas de cidades, estados, culturas e dialetos distintos.” (Op. cit., p. 11)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Embora a autora não tenha analisado os resultados dos dados das variantes glotal e apagada, este trabalho foi aqui apresentado a fim de registrar a presença dessas realizações também na fala da região Sul do País.

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Com este trabalho, pudemos verificar que as duas variantes consideradas mais inovadoras, dentre as aqui expostas, por muitos pesquisadores – aspirada e apagada – já possuem registros, no português do Brasil, desde 1937, ocorrendo de forma bastante significativa no Estado do Ceará.

Os estudos aqui apresentados contribuíram, principalmente, para verificarmos a existência de variadas realizações de fricativas /S/ e /v/, em diversas regiões do Brasil, e para fazermos o levantamento das principais variáveis que estariam condicionando o fenômeno (aspiração, apagamento e manutenção). No Ceará, onde o fenômeno teve mais trabalhos que o investigaram, os fatores mais relevantes foram a usualidade do item lexical, a tonicidade, a classe gramatical, a posição (inicial, medial, final), o contexto fonológico, a relevância informacional, o monitoramento linguístico (informalidade), o sexo (“manifestação de macho”), o nível de estigmatização em relação à origem do falante (interior do Estado).

Ainda no Nordeste, em Salvador (Bahia), foram levados em consideração praticamente esses mesmos fatores, mas constatou-se também que a aspiração, ao contrário do Ceará, não seria um estereótipo, mas apenas uma espécie de indicador, visto que ocorre em todos os grupos socioeconômicos e etários. Já, em João Pessoa (Paraíba), ao serem analisados contextos mais específicos de /v/, verificou-se que a escolaridade (maior escolaridade, menor reificação), a faixa etária (apenas a intermediária) e o sexo (mulheres reificaram mais) também estariam influenciando a ocorrência da aspiração.

No entanto, nos demais locais do País, verificamos que essas fricativas ocorrem, nas suas formas aspirada e apagada, em um número bem menor do que o encontrado nesses locais do Nordeste. Em alguns Estados (fora do Nordeste), há predominância das formas palatais [ʃ, Ʒ], em outros, predominam as formas alveolares [s, z].

E podemos concluir, até a realização desses trabalhos, que, especialmente no Ceará, existe uma maior variação entre os usos das fricativas /v/ e /S/ nas suas formas plena (manutenção), aspirada e apagada do que nos demais locais do Brasil, onde a maior variação se dá entre os usos nas formas alveolares e palatais.

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Por fim, nesses estudos, tanto fatores linguísticos quanto sociais têm influência sobre o fenômeno. No entanto, no Ceará, percebemos que há uma predominância de fatores linguísticos associados a um forte fator social, diatópico, a marca regional do estado do Ceará15.

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