V ÁRIA
Machados planos de bronze de Montalegre
(I)São relativamente comuns em Portugal os machados planos de bronze, embora mais raros na região setentrional do pais. Mesmo assim, conhecem-se, provenientes do território situado a norte do Douro, numerosos exemplares encontrados em diversas localidades (Vila Real, Chaves, Montalegre, Póvoa de Lanhoso, Ponte do Lima, etc.).
O achado recente (1957) de uma pequena colecção de cinco destes instrumentos nas proximidades da vila de Montalegre cons-titui um elemento novo a acrescentar para o conhecimento arqueo-lógico desta interessante região trasmontana.
Os machados referidos apareceram à margem de um cami-nho, num terreno de cultura, no sitio do Agro Velho, cerca de 600 m a norte da vila de Montalegre. Estavam quase à superfí-cie, um deles disposto ao alto e os restantes empilhados uns sobre os outros.
Foram encontrados pelo comerciante da vila citada António Larguesa que, por intermédio de Artur Fidalgo, professor oficial e proprietário em Montalegre, ofereceu quatro dos referidos machados a um de nós (C. T.), tendo o quinto ficado na posse daquele professor que o conserva como recordação (2).
(1) Comunicação apresentada ao XXIV Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências. Madrid, 1958.
(2) Foi, de resto, por este meu antigo condiscípulo de Liceu e amigo de sempre, que tive conhecimento do achado, durante uma excursão por esta região trasmontana, realizada na companhia do Dr. Manuel Braga da Cruz, professor do Liceu de Braga e também meu excelente amigo. A todos endereço os melho-res agradecimentos. C. Teixeira.
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Por Agro Velho é designada uma pequena colina, formada por rochas metamórficas, que pode ter sido assento de remoto povoado. Parece haver ali ainda vestígios de terraplanagens, mas faltam quaisquer outros indícios de ocupação humana antiga, como restos de cerâmica, etc ..
O local do achado dos machados situa-se do lado ocidental da colina. Embora devam ter sido, inicialmente, enterrados a certa profundidade, o escorregamento das terras e os trabalhos de lavoura acabaram por pô-los a descoberto. O solo arável é constituído, no local, apenas por uma delgada película.
fig. 1 - Colina do Agro Velho, próximo de Montalegre, onde apareceram os machados de bronze.
Nas cercanias abundam os testemunhos arqueológicos, tais como mamoas, ruínas de povoados castrejos, etc ..
Machados planos de bronze, do mesmo tipo dos agora des-cobertos, foram encontrados em Cervos (ou Gralbós) e em Pírvi-das, freguesias não distantes de Montalegre e pertencentes ao concelho.
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Os cinco machados de bronze do Agro Velho são todos de formato geral idêntico, embora difiram nas dimensões. Têm forma plana, com bordos curvilíneos. O gume, também curvilíneo, é relativamente fino e mostra, em geral, vestígios de utilização.
As fotografias (Fig. 2) e os desenhos esquemáticos (Fig. 3), que acompanham esta pequena nota dão ideia da morfologia dos machados em questão.
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As dimensões e o peso são indicados a seguir:
Machados Comprimento Ija.rg. na base Larg. no gume Esp. ~o centro Peso em g
em cm em cm em cm em cm -1 16,5 3,7 8,9 1,3 615 2 15,0 3,5 8,4 1,0 575 3 15,1 3,8 8,6 1,3 610 4 13,7 3,6 9,0 1,2 545 5 11,6 2,7 5,8 0,68 165
As diferenças assinaladas, sobretudo quanto ao formato, mostram que os cinco machados foram feitos em moldes diferen-tes. Este facto e os vestígios de utilização que apresentam per-mitem concluir que não se trata, certamente, de um esconderijo de fundidor.
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Fig. 2 - Os cinco machados de Agro Velho, Montalegre. (Cerca de i/4 do tamanho natural).
Machados do mesmo tipo haviam sido encontrados, como se disse, na área do concelho de Montalegre.
Na região a norte do Douro foram assinalados utensílios semelhantes em Chaves e em Bujões, no distrito de Vila Real (a que pertence Montalegre), em São João de
Rei,
no concelho de Póvoa de Lanhoso, em Santo Ovídio, no concelho de Ponte do Lima, em Barcelos, em Viana do Castelo, etc ..R.ui de Serpa Pinto ocupou-se não só do estudo destes machados, mas também da sua distribuição. O simples exame do mapa em que assinalou os achados conhecidos até então
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mostra como este tipo de utensílios teve larga expansão em Portugal, nomeadamente no sul do país.
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ESCALA
fig. 3 - Morfologia dos cinco machados de Montalegre (de frente e de perfil).
Um dos machados de Chaves, conservado no Museu de Antropologia da Universidade do Porto, possui um rebordo late-ral, que se observa igualmente num dos de Montalegre, embora menos acentuado.
Pelo que respeita à cronologia, os machados planos do tipo dos do Agro V e lho são atribuídos ao Bronze II.
VARIA
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Situada entre o Larouco e o Gerês, a região de Montalegre é rica de restos arqueológicos de variadas naturezas.
São numerosos os vestígios da cultura dolménica, represen-tados por antas e mamoas.
José Fortes, ao estudar a necrópole dolménica de Sales (Terras de Barroso), faz ampla referência a estes sítios, em espe-cial às regiões de Tourém e de Pitões, onde podem observar-se numerosas mamoas e algumas ruínas castrejas.
Restos de um castro, relativamente bem conservado, existem numa pequena colina situada entre a estrada de Montalegre a Pilões e o rio Cávado, um pouco antes da ponte em que a estrada atravessa este rio.
Ao longo da estrada que de Montalegre segue para Gralhas, encontram-se numerosas mamoas, algumas com as lajes ainda conservadas.
Se se tiverem em conta os vestígios idênticos assinala-dos noutras regiões montanhosas do Norte do Pais (Castro Laboreiro, Peneda, etc.), poderemos fazer ideia do intenso povoamento destas regiões, em recuados tempos da pré-his-tória.
CARLOS TEIXEIRA Professor da Faculdade de Ciências de Lisboa
e MARIA DA SOLEDADE DE CASTRO FERNANDES Professora do Liceu de Passos Manuel, Lisboa
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