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A COBRANÇA DA TAXA NEGOCIAL E A NOVA ESTRATÉGIA DOS SINDICATOS DOS TRABALHADORES

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A COBRANÇA DA TAXA NEGOCIAL E A NOVA ESTRATÉGIA

DOS SINDICATOS DOS TRABALHADORES

por Cristiano Cezar Sanfelice Sanfelice, Baldasoni & Associados Advocacia e Consultoria Jurídica

Considerando as indagações a nós apresentadas por diversas empresas sobre a exigibilidade, por parte de entidade representativa de trabalhadores, de valores a título de Taxa Negocial, vimos por meio deste apresentar breves considerações sobre o tema.

I – DAS CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS AO SINDICATOS

Antes da análise pontual da chamada taxa negocial, faz-se importante destacar quais são os valores que, conforme estabelecido na legislação vigente, os sindicatos (seja patronal, seja profissional) podem instituir e exigir.

Segundo dispõe o artigo 548 da CLT, duas são as fontes gerais custeio das entidades sindicais: as contribuições devidas pelos que participem da categoria (alínea ‘a’ do referido artigo) e as contribuições dos associados (alínea ‘b’ do referido artigo).

Por sua vez, em consonância com o disposto no artigo 548 da CLT, e conforme determina o artigos 578 da CLT, o artigo 8º da Constituição Federal, e o artigo 513 também da CLT, as entidades sindicais estão autorizadas a efetuar a cobrança de três contribuições distintas, a saber: (i) a contribuição sindical (ii) a contribuição confederativa e (iii) a contribuição negocial.

I.1 – CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

A previsão da Contribuição Sindical decorre do artigo 578 da CLT. Esta é a única contribuição obrigatória, ou seja, compulsória e devida por todos aqueles que participem das categorias econômicas ou profissionais:

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“A contribuição devida pelos integrantes da categoria, sem distinção, é a contribuição sindical prevista no artigo 579 da CLT, também denominada de imposto sindical, a qual é recolhida anualmente, de uma só vez, nos termos do artigo 580 da CLT, estando o empregador legalmente autorizado a efetuar o recolhimento, ainda que haja oposição do empregado. As demais contribuições (taxa assistencial ou de reversão salarial, mensalidade sindical, confederativa e quejandos) são devidas apenas pelos empregados associados da entidade sindical, garantido, ainda, o direito de oposição de previsão obrigatória nos instrumentos coletivos, uma vez que o desconto precisa ser precedido de autorização expressa do empregado sindicalizado (hermenêutica extraída dos arts. 5º, inc. XX, e 8º, inc. V, da CF; 545 da CLT; Súmula 666 do STF e OJ 17 e Precedente Normativo n.º 119 da SDC do C. TST).” (TRT-PR-98912-2006-652-09-00-6-ACO-04607-2009 - 3A.

TURMA. Relator: PAULO RICARDO POZZOLO. Publicado no DJPR em 10-02-2009)

Assim, tanto o sindicato empresarial quanto o sindicato dos trabalhadores podem exigir das empresas e dos trabalhadores, respectivamente, o pagamento da referida contribuição.

Para os trabalhadores, referida contribuição sindical representa o valor de 01 (um) dia de trabalho (inciso I, do artigo 580 da CLT). Para as empresas, referida contribuição sindical é calculada em relação ao capital social da empresa, variando de 0,8 a 0,02% (inciso III, do artigo 580 da CLT).

Assim sendo, as empresas são obrigadas a descontar da folha de pagamento de cada um de seus empregados, relativa ao mês de março de cada ano, a contribuição sindical devida pelo trabalhador. Após a retenção o montante deverá ser repassado ao respectivo sindicato.

Já a contribuição sindical devida pelas empresas, em favor dos sindicatos que a representam, deve ser recolhida no mês de janeiro de cada ano (art. 587 da CLT).

Normalmente a contribuição sindical não suscita dúvidas nem é objeto de demandas judiciais em relação à sua legalidade. Assim, acreditamos que as empresas efetuem, sem maiores problemas, a retenção de referida contribuição de seus empregados, repassando ao sindicato da categoria.

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I.2 – CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA

A Contribuição Confederativa decorre do inciso IV do artigo 8º da Constituição Federal. Referida contribuição pode ser instituída pelo sindicato através de realização de assembléia geral. Veja-se que a CF/88 outorga competência aos sindicatos para a instituição da referida contribuição, cabendo a cada entidade a aprovação ou não da cobrança.

Diferentemente do que a contribuição sindical, a contribuição confederativa não é de cunho obrigatório a todos os trabalhadores ou empresas, mas apenas daqueles que por livre e espontânea vontade se afiliam1 ao sindicato.

Assim, tanto o sindicato empresarial quanto o sindicato dos trabalhadores podem, através de deliberação em assembléia, instituírem a referida contribuição confederativa. Contudo, apenas poderão efetuar a cobrança daqueles que espontaneamente se associarem (filiarem) ao respectivo sindicato:

No passado a cobrança da contribuição confederativa foi objeto de muita discussão no Poder Judiciário, já que as entidades sindicais buscava exigir a contribuição de todos os representados, independentemente se eram ou não filiados (associados). Atualmente a questão possui ares de pacificidade, especialmente por conta da Súmula nº 666 do Supremo Tribunal Federal:

“A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo”

“Contribuição Confederativa. Art. 8º, IV, da Constituição. Trata-se de encargo que, por, despido de caráter tributário, não sujeita senão os filiados da entidade de representação profissional. Interpretação que, de resto, está em consonância com o princípio da liberdade sindical consagrado na Carta da República. (AC STF RE 189443-1. Rel. Min.

Ilmar Galvão)

O Tribunal Superior do Trabalho, também preocupado com a generalidade das cobranças de outros valores que não os decorrentes da contribuição sindical, editou a Orientação Jurisprudencial no. 17 da Seção de Dissídios Coletivos:

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"17. Contribuições para entidades sindicais.

Inconstitucionalidade de sua extensão a não associados. Inserido em 25.05.1998

As cláusulas coletivas que estabeleçam contribuição em favor de entidade sindical, a qualquer título, obrigando trabalhadores não sindicalizados, são ofensivas ao direito de livre associação e

sindicalização, constitucionalmente assegurado, e, portanto, nulas, sendo passíveis de devolução, por via própria, os respectivos valores eventualmente descontados."

Assim, caso a entidade sindical determine a instituição, através de realização de regular assembléia, da contribuição confederativa, esta será devida somente por aqueles que livremente se tornarem filiados do sindicato:

“CONTRIBUIÇÕES INSTITUÍDAS EM CONVENÇÕES COLETIVAS DE

TRABALHO PARA FAVORECER ENTIDADES SINDICAIS.

DESCONTOS DOS SALÁRIOS DE EMPREGADOS NÃO FILIADOS À ENTIDADE SINDICAL. CONTRIBUIÇÃO NÃO OBRIGATÓRIA. RECOLHIMENTO INDEVIDO EM FAVOR DA ENTIDADE SINDICAL -

A única contribuição compulsória de todos os integrantes da categoria, filiados ou não ao respectivo sindicato de classe, é a contribuição sindical, nos termos dos art. 579 e 580 da CLT. As

demais contribuições não previstas e não determinadas em lei não

podem ser cobradas coercitivamente daquelas pessoas que não são filiadas espontaneamente ao sindicato de sua categoria, mesmo que integrantes dessa categoria e ainda que sejam atingidos pelas Convenções Coletivas de Trabalho firmadas pelo seu sindicato de classe, em face de seu enquadramento sindical

obrigatório (art. 8º da CF e art. 511 e 577 da CLT), pois essa circunstância não obriga as pessoas não filiadas a recolher contribuição confederativa, subvenção patronal e outras contribuições instituídas por meio de Convenções Coletivas de Trabalho, uma vez que estas se prestam à manutenção da entidade sindical, da qual somente as pessoas filiadas ao Sindicato são obrigadas a contribuir. Aplicação e exegese do art. 8º, V, da CF/88; Súmula 666 do E. STF e Precedente Normativo nº. 119 do C. TST. Recurso do Sindicato autor ao qual se nega provimento. Sentença mantida.”

(TRT-PR-05134-2007-662-09-00-8-ACO-19178-2008 - 1A. TURMA. Relator: EDMILSON ANTONIO DE LIMA. Publicado no DJPR em 06-06-2008)

No caso em concreto, sugere-se que a empresa verifique (i) se houve a instituição da contribuição confederativa por meio de assembléia realizada pelos trabalhadores, obtendo-se cópia do respectivo documento; (ii) se houve a instituição, saber quais são as condições de retenção (percentual e datas de

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repasse); e (iii) principalmente saber quais dos trabalhadores são filiados ao sindicato, já que somente estes poderão sofrer a retenção da contribuição confederativa.

I.3 – DA CONTRIBUIÇÃO NEGOCIAL (TAXA NEGOCIAL)

A Taxa Negocial, também chamada de contribuição assistência, contribuição

negocial ou taxa de reversão salarial, é habitualmente cobrada pelos sindicatos

de trabalhadores em face do trabalho de negociação de benefícios para a categoria.

Decorre da permissão existente no artigo 513 da CLT, o qual prevê a possibilidade de os sindicatos cobrarem a contribuição prevista nos acordos e convenções coletivas. Referido artigo é bastante claro ao determinar que cada entidade pode, dentro dos limites legais e constitucionais, cobrar valores daqueles que compõe a sua categoria.

Assim, o sindicato dos trabalhadores pode cobrar a taxa negocial dos empregados filiados, assim como o sindicato patronal pode cobrar a taxa negocial das empresas filiadas. Segundo ensina o professor Sérgio Pinto Martins2,

“decorre do fato de o sindicato ter feito a negociação coletiva e ter incorrido em custos, podendo também referir-se à cobrança para custear encargos assistenciais do sindicato”.

O mesmo autor ainda completa dizendo que “os descontos de contribuições

assistenciais e confederativas só podem ser feitos em relação a associado do sindicato e não aos não-filiados.”3

“TAXA NEGOCIAL - CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL PATRONAL. EMPRESA NÃO ASSOCIADA. IRREGULARIDADE

A cobrança de -taxa negocial-, que se refere a contribuição assistencial patronal em razão da participação sindical nas negociações coletivas, instituída em Convenção Coletiva, às empresas não associadas, fere os princípios da liberdade de associação e sindical, insculpidos nos artigos 5º, XX, e 8º, V, da Constituição Federal. Desse modo, a míngua de disposição legal específica a ser aplicada nos casos em que se cobra contribuição assistencial de empresas não associadas, deve ser aplicado, por analogia, à hipótese vertente, o entendimento

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consubstanciado no Precedente Normativo nº 19 e na Orientação Jurisprudencial nº 17 da SDC do TST. Recurso de revista conhecido e provido.” (TST - RECURSO DE REVISTA: RR 2019

2019/2006-026-15-00.5. Relator(a): Guilherme Augusto Caputo Bastos. Julgamento: 15/10/2008. Órgão Julgador: 7ª Turma, Publicação: DJ 17/10/2008)

“TAXA DE REVERSÃO SALARIAL E CONTRIBUIÇÃO SINDICAL - A contribuição devida pelos integrantes da categoria, sem distinção, é a contribuição sindical prevista no artigo 579 da CLT, também denominada de imposto sindical, a qual é recolhida anualmente, de uma só vez, nos termos do artigo 580 da CLT, estando o empregador legalmente autorizado a efetuar o recolhimento, ainda que haja oposição do empregado. As demais contribuições (taxa assistencial

ou de reversão salarial, mensalidade sindical, confederativa e quejandos) são devidas apenas pelos empregados associados da entidade sindical, garantido, ainda, o direito de oposição de previsão obrigatória nos instrumentos coletivos, uma vez que o desconto precisa ser precedido de autorização expressa do empregado sindicalizado (hermenêutica extraída dos arts. 5º, inc. XX,

e 8º, inc. V, da CF; 545 da CLT; Súmula 666 do STF e OJ 17 e Precedente Normativo n.º 119 da SDC do C. TST)”

(TRT-PR-00023-2008-872-09-00-0-ACO-35769-2008 - 3A. TURMA. Relator: PAULO RICARDO POZZOLO. Publicado no DJPR em 14-10-2008)

Em que pese a vedação constitucional da cobrança indiscriminada das referidas contribuição, há que se lembrar que os sindicatos normalmente impõem a cobrança de todos aqueles empregados que foram “beneficiados” pela negociação coletiva realizada, ou seja, normalmente buscam a cobrança de todos os empregados, sejam filiados ou não.

Contudo, referidos sindicatos tem sido derrotados no poder judiciário, sendo obrigados a efetuar a devolução dos valores indevidamente cobrados. Também não se pode deixar de comentar que em muitos casos são as empresas que são condenadas a efetuar a referida devolução, já que foram elas que procederam com a retenção e repasse do montante ao sindicato.

Assim sendo, tendo em vista a redução do campo de abrangência da cobrança (apenas aos trabalhadores filiados), fica evidente que os sindicatos tiveram uma considerável redução de receita.

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I.3.1 – DA TAXA NEGOCIAL COBRADA PELO SINDICATO DOS TRABALHADORES EM FACE DA EMPRESA

Considerando, entoa, as decisões judiciais que acabaram por impossibilitar a cobrança de valores de empregados não filiados (o que certamente diminui consideravelmente a receita da entidade sindical) a alternativa encontrada pelos sindicatos dos trabalhadores foi impor a cobrança para as empresas.

Assim, a cobrança da referida Taxa Negocial tem sido inserida nos acordos e convenções coletivas já não mais como um ônus dos trabalhadores, e sim das empresas.

Os sindicatos dos trabalhadores buscam com tal procedimento conferir a legalidade da cobrança, já que não estão mais compelindo os trabalhadores a efetuar a cobrança de valores indevidos, e sim somente os empregadores.

Nota-se, então, que a Taxa Negocial deixou de ser cobrada pelo sindicato dos trabalhadores dos próprios trabalhadores, isto é, deixou de ser uma cobrança daqueles que participam da categoria profissional. Logo, a cobrança em referência, tal como tem sido apresentada pelo sindicato dos trabalhadores, não

tem suporte no artigo 513 da CLT.

Pode-se afirmar que, a partir do momento que referida Taxa Negocial deixou de ser cobrada dos trabalhadores, acabou por sucumbir ante a falta de legalidade. Como visto acima, o sindicato dos trabalhadores cobram dos empregados filiados, enquanto que os sindicato patronal cobra das empresas filiadas, pois inexiste previsão legal possibilitando que o sindicato dos trabalhadores efetuem a cobrança da taxa das empresas.

Ademais, segundo determina o artigo 548 da CLT, o custeio das entidades sindicais é definido em lei, não sendo possível a cobrança de contribuições de pessoas estranhas aos associados, filiados ou integrantes da categoria correspondente ao sindicato.

Pode-se dizer que na totalidade dos casos a empresa que está sendo compelida ao pagamente da taxa não tem qualquer relação com o sindicato dos trabalhadores, não sendo por ele representada. Logo, considerando que a

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empresa não faz parte da categoria profissional representada pelo referido sindicato, não há que se falar em cobrança, a seu ônus, da taxa negocial.

Vale acrescentar que se a cobrança de tal taxa em face de trabalhadores não associados é ilegal e inconstitucional, resta ainda mais ilegal e inconstitucional a cobrança da taxa das empresas, que sequer guardam relação com a entidade que perfaz a cobrança.

Assim sendo, entendemos que a postura do sindicato dos trabalhadores em efetuar cobrança de referida taxa em face da empresa não possui amparo legal

algum, nem mesmo no citado artigo 513 da CLT.

Entendemos, ainda, que qualquer cobrança acatada pela empresa foge do aspecto legal, restringindo-se ao aspecto político da negociação coletiva, o que, por sua vez, exige considerável cautela do responsável pela negociação.

Por derradeiro, e diante de tudo que foi acima exposto, e com respaldo na atual jurisprudência firmada pelos Tribunais Pátrios, entendemos que a cobrança da Taxa Negocial deve ser muito bem observada pelas empresas, seja para evitar a criação de um passivo trabalhista em relação aos descontos ilegais, seja para evitar a criação de norma convencional (em acordo ou convenção coletiva de trabalho) que possa onerar os custos da atividade sem que exista obrigação legal para tanto.

Referências

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