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JUDICIALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS: UM ESTUDO A PARTIR DOS CASOS ATENDIDOS NA ÁREA DE FAMÍLIA DO NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS DA PUC-RIO ( )

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JUDICIALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS: UM ESTUDO A

PARTIR DOS CASOS ATENDIDOS NA ÁREA DE FAMÍLIA DO

NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS DA PUC-RIO (2012-2014)

Aluna: Karina Fernanda da Silva Santos Orientador: Antonio Carlos de Oliveira

Introdução

O conceito de família, bem como a inserção desse grupo na sociedade brasileira, tem passado por inúmeras alterações devido às transformações contemporâneas nos modos de sociabilidade. A alteração mais revolucionária corresponde ao entendimento e aplicação desse conceito mediante o Artigo 226 da Constituição Federal Brasileira de 1988, que conceitua como família qualquer grupo de pessoas que se una por laços de afeto, e não apenas por laços de consanguinidade como definido até então.

Atrelada a essa nova concepção, surge a possibilidade de desfazer uma união ou relação pelo simples fato de rompimento de laços de afetividade ou afinidade, outro ponto que anteriormente não era possível sem o peso da repreensão social.

Outra importante marca de cidadanização decorrente da referida Constituição, consiste na ampliação do acesso à prestação jurisdicional, garantido gratuitamente a pessoas que não têm condições financeiras de arcar com os custos de um processo judicial.

Diante de tais alterações, a procura por garantia de direitos cresceu de forma significativa, principalmente mediante demandas ao Poder judiciário. Esse aumento também se deu devido à falta de políticas públicas que tivessem como objetivo central a resolução dos conflitos, principalmente dos conflitos familiares.

Esse é o contexto que demarca o relato ora apresentado, com o intuito de apresentar e discutir as atividades realizadas durante o período de agosto de 2017 a julho de 2018, na pesquisa em epígrafe.

Objetivos

GERAL: analisar o percurso dos casos atendidos na área de Direito de Família do NPJ da PUC-Rio, nos anos de 2012 a 2014, com ênfase no processo de judicialização das relações familiares.

ESPECÍFICOS: (a) reconstruir o circuito percorrido pelos casos antes de chegarem ao atendimento no NPJ, em especial por instâncias governamentais e da sociedade civil; (b) mapear tentativas de resolução dos conflitos, tanto em âmbito intrafamiliar como através de recursos extrafamiliares, quer institucionais ou informais.

Metodologia

Tendo em vista os objetivos propostos, as principais fontes de produção de dados são: (1) registros da equipe do NPJ relativos a cada caso; e (2) informações fornecidas pelos próprios assistidos pela equipe da área de Direito de Família do NPJ, sendo tomado o discurso do integrante da família – ressalvados os cuidados de não considerar nenhum discurso como expressão factual ou da verdade acerca do ocorrido – como significativo representante do discurso familiar (LAING, 1983; PICHON-RIVIÈRE, 1998). Para consecução dos objetivos,

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a metodologia da pesquisa consiste em: (a) levantamento de dados – motivo da procura; conflito ou demanda principal; lugar do assistido no núcleo familiar; tipos de ações propostas; duração; sentenças – referentes aos casos atendidos no NPJ no período estudado; (b) entrevistas com familiares assistidos pela equipe do NPJ – para conhecimento do percurso do caso e das alternativas de resolução de conflitos intentadas.

Atividades Realizadas na Pesquisa

Esta pesquisa foi iniciada tendo como principais atividades a realização de reuniões de supervisão semanalmente, entre o orientador e a orientanda; levantamento bibliográfico de materiais que abordem judicialização, familia e temas relacionados a eles, como sexo, gênero, divisão sexual do trabalho, Infância e Adolescência, entre outros, através de bases de dados, periódicos científicos, teses e dissertações; leitura e discussão dos textos encontrados e selecionados para a pesquisa; edição da Revista “Em Debate” nº 10 e 11, do Departamento de Serviço Social da PUC-Rio, cujo editor científico é o orientador desta pesquisa PIBIC; participação do grupo de pesquisa do Departamento de Serviço Social da PUC-Rio, “Família, Violência e Políticas Públicas”, coordenada, também, pelo orientador deste projeto de iniciação cientifica; elaboração de um ensaio bibliográfico acerca das transformações familiares no Brasil, com ênfase nas dimensões de gênero e geração, visando a sintetização do levantamento bibliográfico realizado durante a pesquisa e a discussão dos temas abordados neste trabalho; também o levantamento dos atendimentos realizados pela área do Direito de Família do NPJ/PUC-Rio no período de recorte da pesquisa, que corresponde aos anos de 2012,2013 e 2014.

As orientações têm o objetivo de estreitar o diálogo entre o professor e a discente, além de situar a parte prática da pesquisa. Já o levantamento bibliográfico, que também ocorre rotineiramente, tem o objetivo de ampliar tanto o conhecimento, como o campo de discussão teórica referente a este trabalho, além de traçar uma linha de raciocínio a fim de nortear nossa busca.

O ingresso no Núcleo de Práticas Jurídicas da PUC-Rio,se deu de forma tranquila, uma vez que o professor faz parte do quadro funcional de tal instituição e a atual orientanda cumpria seu estágio acadêmico no mesmo campo. Após adentrar o campo, o desafio encontrado foi decidir a melhor forma de coletar os dados buscados; se pela base de dados utilizada pela instituição para armazenar os dados de todas as pessoas que lá recebem atendimento, tendo essa base o nome de sistema Maxwell, ou se seria necessário recorrer aos processos contidos nos arquivos das professoras Inês Rocumback e Denise Pupo, ambas advogadas de Direito de Família de tal local. Diante de tudo o que foi observado, priorizou-se a análise junto aos processos contidos nos arquivos das respectivas advogadas.

O ensaio bibliográfico realizado, em parceria com a bolsista PIBIC participante da pesquisa intitulada “Violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes: casos atendidos no NACA-Rio nos anos de 2009 e 2010”, tendo o mesmo orientador de pesquisa, o professor Dr. Antonio Carlos de Oliveira, permitiu uma melhor apropriação do tema em debate bem como dos temas relacionados, como a ampla discussão que se tem na sociedade brasileira acerca do que de fato se caracteriza sexo e do que se caracteriza gênero.

No meado da realização da pesquisa de campo, a instituição modificou a forma de armazenar seus documentos, que antes eram guardados pelos advogados dentro de gavetas e começou-se a digitalizar tudo e guardar em arquivo digital. Numa primeira análise dos processos digitalizados, onde Análise dos processos digitalizados, onde dos 42 casos recebidos, apenas 1 estava em consonância com a nossa busca. Os demais continham documentos apenas de outras áreas de atendimento, cópias de documentos pessoais básicos (cópia da carteira de identidade, CPF ou comprovante de residência) ou registros de

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atendimentos de outras pessoas, não da pessoa que solicitamos, embora o arquivo estivesse salvo com o nome que estávamos de fato pesquisando.

Ao indagar alguns funcionários acerca do real motivo que poderia ter resultado na dificuldade de tais registros, os mesmos nos informaram que quando um processo envolve crianças e/ou adolescentes, o mesmo tem o nome desse menor de 18 anos de idade como o solicitante do processo. A regra institucional do NPJ/PUC-Rio não permite que tais pessoas sejam colocadas como solicitantes de atendimento institucional, devendo elas serem representadas por um adulto. Quando a demanda chega à Vara de Família, por Lei o nome do solicitante é alterado e passa a constar no nome da criança ou do adolescente.

No total foram encontrados 183 solicitantes. Para melhor compreender o que foi levantado mediante a pesquisa documental, separamos as demandas encontradas por classificadores, tendo assim a seguinte conclusão

Total de atendimentos realizados na Área de Direito de Família no NPJ/PUC-Rio, entre os anos de 2012 e 2014 (constam apenas os casos dentro do recorte da pesquisa)

Pedido de Pensão Alimentícia 42 (39 para os filhos e 03 para um dos ex cônjuges)

Orientação acerca de Pensão Alimentícia 09 (05 para os filhos e 04 para um dos ex cônjuges)

Execução de Pensão Alimentícia 08

Revisão de Pensão Alimentícia 07

Exoneração de Pensão Alimentícia 03

Oferecimento de Pensão Alimentícia 10

Regulamentação de Pensão Alimentícia 03

Pedido de prorrogação de Pensão Alimentícia

02

Divórcio consensual 07

Divórcio Litigioso 06

Divórcio sem especificação 12

Orientação acerca de Divórcio 08

Orientação acerca de dissolução de União Estável

08

Pedido de Dissolução de União Estável 04

Pedido de Guarda 12 (09 feitos por mulheres e 03 por homens)

Orientação sobre Guarda 05

Pedido de Visitação 08 (03 feitos por mulheres e 05 por homens)

Regulamentação de Visita 03

Divisão de bens 10

Orientação acerca de Divisão de bens 14

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Casos atendidos na Área de Direito de Família no NPJ/PUC-Rio, nos anos de 2012 a 2014

Foi expressivo o número de pedidos de afastamento de lar, este se baseando no ato de um dos cônjuges, com prevalência de homens que não aceitam o fim do relacionamento ou se negam a sair da residência porque esta também o pertence. Do mesmo modo, é alto o número de homens que solicitaram, dentro do período analisado na pesquisa, a Guarda dos filhos, demonstrando uma mudança na recorrente naturalização e idealização de que filhos necessariamente têm de ser cuidados por suas mães em detrimento do cuidado como parte também constitutiva do exercício de parentalidade da figura paterna .

Classifica-se por Pedido de Pensão Alimentícia quando a parte que está com a criança ou o adolescente (o Direito utiliza a terminologia Menor para menores de 18 anos de idade, porém em nossa pesquisa adotamos a que está disposta no ECA) solicita a Pensão Alimentícia; Execução de Pensão Alimentícia quando a outra parte não está pagando a Pensão Alimentícia; por Revisão de Pensão Alimentícia quando o valor está acima da condição que afirma ter o pagante ou inferior ao que o solicitante alega ser necessário; por Exoneração de Pensão Alimentícia quando o beneficiado já atingiu a maioridade ou deixou de estudar e continua recebendo o auxílio; por Oferecimento de Pensão Alimentícia quando a parte está interessada ou sente-se pressionada, positiva ou negativamente, a contribuir com tal direito.

É importante situar as diferentes demandas referentes à Pensão Alimentícia porque sem uma busca aprofundada sobre elas, corre-se o risco de ficar no senso comum e entender que apenas mulheres que estão separadas dos pais de seus filhos ingressam com um pedido de Pensão Alimentícia para estes; quando na verdade os pais, homens, também buscam oferecer tal direito, e mulheres que saíram de algum relacionamento que não gerou filhos também buscam tal auxílio para si próprias.

Para uma melhor visualização, os resultados referentes à Pensão Alimentícia estão apresentados no gráfico a seguir:

Casos referentes à Pensão Alimentícia

Casos atendidos, referentes à Pensão Alimentícia, na Área de Direito de Família no NPJ/PUC-Rio, nos anos de 2012 a 2014 46% 4% 6% 5% 9% 8% 4% 12% 4% 2%

Ações referente à Pensão Alimentícia

Pedido para os filhos Pedido para ex-conjuge Orientação para os filhos Orientação para ex-conjuge Execução Revisão

Exoneração Oferecimento Regulamentação Prorrogação

Pedido de afastamento do lar 05

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Dois aspectos resultantes da análise dos dados merecem destaque, pelo que significam de questionamento do que comumente se afirma acerca do comportamentos de homens e mulheres após ruptura da relação conjugal: de um lado, o número consideravelmente alto de mulheres que buscaram auxílio para pedir Pensão Alimentícia ou orientação acerca de como solicitá-la para si mesmas; e de outro, o o também relativamente alto número de Oferecimento de Pensão Alimentícia por parte dos pais aos filhos, sobretudo em se considerando que o número de homens atendidos na Área de Direito de Família do NPJ é quase dois terços menor que o número de mulheres.

Já em relação ao Divórcio consensual, refere-se a quando há acordo entre as partes quanto à separação; por Divórcio Litigioso quando não há acordo entre as partes; por Divórcio sem especificação quando não há registro se é litigioso ou consensual; por Guarda quando a pessoa deseja a Guarda unilateral da criança ou do adolescente, uma vez que por por Lei os dois genitores dispõem do mesmo direito, com orientação de priorização da guarda compartilhada; por Visitação quando a Guarda da criança ou do adolescente é unilateral e cabe à outra parte a Visitação. O detentor da guarda solicita a visitação quando há algum tipo de conflito com o outro genitor ou o outro genitor solicita por estar tendo algum tipo de conflito com o guardião. Há casos onde quem solicita a Visitação são familiares, parentes ou outras pessoas ligadas a um dos genitores por estarem sendo impedidas de visitar a criança ou o adolescente (isso acontece mais com os avós e os tios); por Divisão de bens, quando o casal não consegue por si só decidir acerca disto e recorre ao judiciário para realizar tal ato; por Orientação acerca de Divórcio/Separação, quando há um pedido de orientação acerca de Divórcio/Separação, entendemos que haja um conflito iminente, e em alguns casos posteriormente foi solicitada a Ação; por Investigação de Paternidade, quando o pai solicita a investigação em decorrência de dúvidas suas acerca da mesma. Quando a mãe solicita geralmente é porque está sendo posto em dúvida a paternidade do filho (dúvida esta que não parte dela); por Adoção, dentro desta pesquisa selecionamos apenas os casos de parentes (pessoas próximas) que ingressaram com uma solicitação de adoção de algum outro ente, não de pessoas que estejam em instituições de acolhimento como é o habitual no Brasil; por Afastamento de lar, quando uma das partes solicita a abertura de uma Ação Judicial para que a outra parte deixe a residência devido à densidade dos conflitos vividos dentro da casa.

Numero de solicitantes, separados entre homens e mulheres (sexo)

Número de homens e mulheres atendidos na Área de Direito de Família no NPJ/PUC-Rio, nos anos de 2012 a 2014

Como demonstrado no gráfico acima, o número de mulheres atendidas corresponde a 73%, totalizando 133 mulheres, e 50 homens, totalizando 27 % deste total.

Homens 27%

Mulheres 73%

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O número de pedido de Divórcio foi bem mais elevado que o de dissolução de União Estável; na verdade essa divergência se deu porque o Divórcio para ser concretizado, pelo menos no Brasil, é necessário ter o reconhecimento judicial, fator que não acontece com a União Estável. Esta, quando e reconhecida civilmente, é dissoluta no Cartório, não dentro das instâncias judiciais. O gráfico posterior apresenta a diferença de solicitações em relação a Divórcio e a União Estável:

Solicitações referents a Divórcio e a União Estável

Demandas referentes à Divórcio e União Estável atendidos na Área de Direito de Família no NPJ/PUC-Rio, nos anos de 2012 a 2014

Inicialmente foi encontrado o número de 229 casos dentro do recorte desta pesquisa; porém, depois de serem analisados alguns precisaram ser retirados porque não correspondiam à área de Direito de Família, outros fugiam do período de recorte, alguns não tinham informações necessárias para que pudessem ser analisados e outros não foram encontrados. Vale ressaltar que um mero erro de digitação na hora de cadastrar o nome do solicitante junto ao sistema Maxwell, sistema este que é utilizado como fonte de cadastro institucional, pode constituir impedimento para encontrar o nome ou a palavra buscada, uma vez que se trata de um programa inteiramente digital.

A análise documental nos proporcionou alguns desafios, como a divergência e falta de informações, a necessidade de buscar entender alguns elementos encontrados para uma maior compreensão, a disponibilidade de horários para realizar as leituras dos processos e de cadastros, entre outros; todavia todos estes foram enfrentados e solucionados de forma satisfatória e os dados foram produzidos.

0 2 4 6 8 10 12 Divórcio consensual Divórcio

Litigioso Divórcio sem

especificação Orientação sobre Divorcio Orient. dissol. de União Estável Dissol. de União Estável 7 6 12 8 8 4

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Presidência da República. Brasília, DF.1988.

LAING, Ronald D. A política da família. 2.ª edição, São Paulo, Martins Fontes, 1983. OLIVEIRA, Antonio Carlos. Judicialização das Relações Sociais. In: O Social em Questão, v. 31,p.9–12,2014.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. Petrópolis, Vozes, 1994.

PICHON-RIVIÈRE, Enrique. Teoria do vínculo. São Paulo, Martins Fontes, 1998.

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