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LEI /03: TREZE ANOS DE HISTÓRIAS. O QUE AINDA ESTÁ POR VIR?

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LEI 10.639/03: TREZE ANOS DE HISTÓRIAS. O QUE AINDA ESTÁ

POR VIR?

JUSSARA OLIVEIRA DE SOUZA *

* Graduada em História pela UNOPAR - Universidade Norte do Paraná e Comunicação Social

Rádio/ TV pela UNEB - Universidade do Estado da Bahia Campus XIV e estudante do 2° semestre da especialização em Estudos Africanos e Representações pela UNEB Campus II. E-mail: Souza-jussara@hotmail.com

A lei 10639/03 trouxe à tona a obrigatoriedade do Ensino da História da África, bem como dos negros e negras de nosso país. Estabeleceu regras para que determinados conteúdos fossem vistos em diferentes níveis do ensino, colocando em questão antigos tabus e preconceitos, típicos de uma sociedade que se via bem resolvida em termos raciais, mas que infelizmente ainda não superou problemas elementares, a exemplo da rejeição aos temas voltados para o continente africano, por exemplo. Tendo em vista as contribuições dos povos do continente africano para a formação histórica do povo brasileiro, faz-se necessário analisar como seus povos vêm sendo representados nos livros didáticos adotados na rede pública estadual de ensino de Santaluz, cidade do território do sisal, distante 261km da capital baiana. Sendo o livro didático um “espelho”, pode ser também uma “tela”, revelando-se de forma significativa para entender as representações e ideias dos autores. Parafraseando Perruci, os livros didáticos trazem grandes confusões, notadamente quando mostram os africanos como homogêneos, dotados de práticas e costumes universais. Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo discutir e analisar como estão sendo aplicadas as propostas da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história da África e dos negros e negras deste país. Dentro desse contexto, destaca-se o paradigma em que a lei formulada, levando a construção de uma relação de sinônimos para as categorias “negro” e “africano“ como também “afro-brasileiro” e “africano”. Ao que parece, só pode ser enfrentado essa amálgama existente entre essas palavras, mediante a aceitação das categorias “raciais”. (“discurso invertido” entendido de por Michel Foucault). Tais conceitos retiram, mesmo que implicitamente, a cidadania dos homens negros e mulheres negras. Sendo assim, o silêncio, desconhecimento e representações eurocêntricas precisam ser mais bem compreendidas.

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O objetivo da Lei 10.639/032 é justamente corrigir a ausência de conteúdos significativos sobre a história da África e dos africanos nas unidades escolares públicas e particulares, nos níveis de ensino fundamental e médio das escolas brasileiras. Vale mencionar que foi somente com a promulgação da Lei que se passou a estudar aspectos positivos da história e cultura africana e surgiu a necessidade de implementar políticas públicas para ampliar os conhecimentos dos docentes. No entanto devemos questionar até que ponto a criação dessas leis e sua implementação nas escolas tem realmente o apoio das políticas educacionais que regulamentam a educação no Brasil?

É necessário contribuir para que outros olhares e identidades existentes na sejam conhecidos, além de se inserir na perspectiva do entendimento de como o continente africano vem sendo representado nos livros didáticos, corroborando para que a lei 10639 não se constitua em letra morta, mas em algo efetivo, factível e propiciador de elementos suficientes para o conhecimento de uma história em sua dimensão universal.

Dentro desse contexto, destaca-se o papel da lei, não como uma “modalidade de inclusão”, mas como uma forma de reinventar uma determinada realidade dentro do ambiente escolar, através da prática dos sujeitos inseridos no processo, os quais possuem um objetivo e trilham um caminho de ensino-aprendizagem. Que os espaços escolares, sejam vistos como lugares de produção da cultura, bem como da construção de identidades individuais e coletivas, que possibilitam aos sujeitos que deles participam, novos mecanismos para lidarem com os problemas da realidade e idealizar soluções, baseadas na práxis cotidiana de ação-reflexão-ação.

2Lei 10639, de 9 de janeiro de 2003. “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinente à História do Brasil”. A lei deixa nítida obrigatoriedade do ensino de conteúdos sobre a matriz negra africana na constituição da nossa sociedade no âmbito de todo o currículo escolar e sugere as áreas de História, Literatura e Educação Artística como áreas especiais para o tratamento desse conteúdo, tanto no ensino Fundamental como no Ensino Médio. Em março de 2008 a lei 10639/03 foi substituída pela 11645/08 e insere a cultura indígena como tema obrigatório nas escolas. A nova lei trata o assunto como introdução da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena nos currículos escolares.

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Faz-se necessário analisar as relações existentes entre a escola e a lei 10.639/03, de que forma essa relação interessa à indústria do livro e como ela é realimentada pelas ações do Estado. Para este trabalho foram analisados os livros didáticos de História, adotados na rede estadual de Santaluz, bem como autores que discutem as questões relacionadas com o Ensino de História, estudos da cultura negra e do continente africano.

No município de Santaluz, cidade localizada no território de identidade do sisal, os livros didáticos representam 95% dos materiais para ensino e aprendizagem nas escolas da rede estadual. Livros didáticos estes que em termos de boas referências sobre a História da África são poucos. Segundo Lins (1977), o “povo” recebe, através dos livros didáticos, informações que não condizem com suas realidades, deixando de conhecer as histórias e funções da ciência.3 Para Heller, o primeiro momento da consciência histórica é a “generalidade não refletida”.4 Ou seja, não consegue enxergar muito além do próprio grupo que se descobre como uma coletividade pensante. É de fundamental importância o entendimento das questões implícitas, parte dos silêncios destes autores. Em sendo o livro didático um “espelho”, pode ser também uma “tela”, revelando-se de forma significativa para entender as representações e ideias dos autores. Conforme Perruci (1989), os livros didáticos trazem grandes confusões, notadamente quando associam os africanos à condição de escravos. Os negros (as) brasileiros (as), em geral, são trazidos à tona sob formas negativas, e em alguns aspectos, destituídas do protagonismo e da condição de sujeitos. 5

É de suma importância que os livros didáticos estejam em diálogo com as Diretrizes, ou seja, que eles proporcionem através de suas situações de ensino e aprendizagens que favoreçam a desconstrução dos mitos de inferioridade e superioridade que legitimaram as relações étnico-raciais na sociedade brasileira, que até hoje perdura.

Pergunta-se então, quando ao desconhecimento dos professores quanto à História da África. Como ensinar o que não se conhece? A resposta poderá partir do simples fato de que, mesmo hoje, com a lei 10639/03 em vigor, ainda não se percebem “mudanças significativas” nas matrizes curriculares e os conteúdos dos livros didáticos de História quanto

3 LINS, Osmar. Do ideal e da Glória: problemas inculturais brasileiros. São Paulo: summus, 1977. 4 HELLER, Agnes. Uma teoria da historia. Rio de janeiro: civilização brasileira, 1993.

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à introdução da História da África. Mas, a argumentação poderá ser positiva, na medida em que o estudo da história do continente africano só se tornou parte dos conteúdos dos livros didáticos após a promulgação da lei 10639. Por mais que seja lamentável o fato de que determinados temas estejam inseridos na escola por força de uma lei, foi ela que garantiu e possibilitou que conteúdos alusivos ao continente africano fossem inseridos nas matrizes curriculares, e desta forma, se tornassem objeto nos livros didáticos. Apesar de já existir há mais de treze anos, os artigos inseridos à Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional, propostos pela Lei 10.639/03 ainda não foram totalmente assimilados.

Livros didáticos: abordagens preliminares

De acordo com a proposta da lei 10.639/2003 que trata da obrigatoriedade ensino da história e cultura africana, afro-brasileira. Faz-se necessário, algumas indagações a respeito de como a escola e os livros didáticos têm sido pensadas nos últimos anos, quais as mudanças que o currículo tem sofrido. Como a formação docente tem colocada em prática, quais avaliações têm sido feitas para reconhecer alguns avanços, como a sala de aula tem sido pensada e se a educação brasileira continua sendo etnocêntrica. Portanto, a sala de aula é um espaço de construção de identidades e é a principal responsável pela cidadania. Para Hall, a identidade é irrevogavelmente uma questão histórica. E acrescenta ainda dizendo que as sociedades são compostas não só de um, mas de muitos povos e que suas origens não são únicas, mas diversas.

Na mesma perspectiva que Chartier, Hall acredita que as identidades são construídas histórica e culturalmente. Assim, não se pode falar de apenas uma identidade, mas, devemos pensar em identidades múltiplas. Nesse sentido, torna-se complicado pensar na construção de uma identidade nacional que dê conta de todos os sujeitos envolvidos em uma nação.6

livro Didático: descriminação em questão. Anais... Recife: Secretária de Educação, 1989.

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Segundo Silva (1996, p. 11)

O livro didático é uma tradição tão forte dentro da educação brasileira que o seu acolhimento independe da vontade e da decisão dos professores, sustenta essa tradição o olhar saudosista dos pais, a organização escolar como um todo, o marketing das editoras e o próprio imaginário que orienta as decisões pedagógicas do educador.

No entanto, os livros didáticos são um dos principais suportes pedagógicos utilizados nas escolas brasileiras e para muitas crianças e adultos assume status de verdade. Parafraseando Marc Ferro, podem deixar marcas para o resto da vida.

Entendendo o livro didático enquanto mercadoria e tendo em vista que o governo, no Brasil, é o maior consumidor, torna-se extremamente necessário perceber se as demandas, ou seja, as mudanças exigidas pela lei 10.639/03 vêm sendo atendidas pelas editoras? O livro didático, portanto, deve se adequar a esse “mercado” específico. Isso significa que a escola, tomada como mercado determina usos específicos do livro (didático), também mediados pela sua materialidade.7

Apesar dos avanços conquistados, ainda encontramos em alguns livros didáticos, os africanos em condições isoladas, inferiorizada ou de submissão, contribuindo para a construção de imagens distorcidas no imaginário dos alunos. Com isso, conhecimentos e informações importantes sobre a história do povo africano e da história dos negros e negros.

Desse modo, é necessário ler as linhas e, sobretudo, as entrelinhas da estrutura do livro didático, numa tentativa mais apurada de se realizar a melhor leitura possível, neste caso específico, das representações do continente africano e dos seus povos no referido material de pesquisa.

A questão do negro no Brasil e, mais especificamente, como ela aparece nos livros didáticos é, sem duvida, muito complexa e não se esgota na consideração do trabalho escravo oi na mera existência do preconceito de

7 MUNAKATA, Kazumi. O livro didático: alguns temas de pesquisa. Revista Brasileira de História da

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cor, embora seja quase certo que o preconceito tenha sido produzido pela escravidão, através de séculos de historia. 8

O ensino de história, numa perspectiva historiográfica, é marcado, entre outras questões, por leituras dotadas de representações estereotipadas, e em alguns casos preconceituosas, a exemplo dos negros e negras do Brasil.

(Des)construção das representações sobre o continente africano

De acordo com Chartier a representação é a forma como determinado grupo social constrói e interpreta a realidade em que está inserido. As representações “permitem também avaliar o ser-percebido que um indivíduo ou grupo constroem e propõem para si mesmos e para os outros”.9 O autor salienta que na formação das representações sociais não existem discursos neutros, pois esses são produzidos para legitimar e impor as vontades, as percepções sociais daqueles que as divulgaram. De modo que a pretensão de analisar quais foram às representações sobre a África construídas pelo discurso da lei 10639.

Para Chartier, pode-se analisar as representações, por um lado, como incorporação sob forma de categorias mentais das classificações da própria organização social, e por outro, como matrizes que constituem o próprio mundo social, na medida em que comandam atos, definem identidades. O conceito de representação apresentado por Ginzburg e colocada como o que representa a ausência e o que representa a presença. Por um lado, a “representação” faz às vezes da realidade representada e, portanto, evoca a ausência; por outro, torna visível a realidade representada e, portanto, sugere a presença.

Segundo Chartier, “a força da representação pode tentar persuadir de um poder, mas pode também dar a perceber a distância entre os signos exibidos e a realidade que eles não podem dissimular. A pesquisa deve situar-se, na tensão entre a onipotência da

8PERRUCI, Gadiel. O negro no Brasil: história e Ensino. In: JUREMA, A.C.L.A (Org). Seminário do livro

Didático: descriminação em questão. Anais... Recife: Secretária de Educação, 1989.

9DE CARVALHO, Francismar Alex Lopes. O conceito de representações coletivas segundo Roger Chartier.

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representação e seus possíveis desmentidos”.10 Sendo assim, pretende-se avaliar, se as representações acerca dos negros nos livros didáticos foram modificadas ou não a partir da lei 10.639/03, que do nosso ponto de vista, exigiria essa mudança.11 Hall afirma que o sistema de representação são os sistemas de significado pelo quais nós representamos o mundo para nós mesmos e os outros.

[...] as representações coletivas que incorporam nos indivíduos as divisões do mundo social e estruturam os esquemas de percepção e de apreciação a partir dos quais estes classificam, julgam e agem; em seguida, as formas de exibição do ser social ou do poder político tais como as revelam signos e “performances” simbólicas através da imagem, do rito ou daquilo que Weber chamado de “estilização da vida”; finalmente, a “presentificação” em um representante (individual ou coletivo, concreto ou abstrato) de uma identidade ou de um poder, dotado assim de continuidade e estabilidade.12

O conceito de representação para Chartier é definido em torno de três aspectos que condizem os comportamentos e as práticas do professor e se reproduzem, não da mesma maneira, na representação que será formada pelo aluno. Consideramos que após treze anos de promulgação da lei, os livros didáticos, em sua maioria trabalham com o ensino de História numa perspectiva eurocêntrica, destinando um espaço pouco relevante a temas relacionados à história e cultura afro-brasileira e africana. Esses temas, quando aparem, na sua maioria são retratados de maneira reducionista, reforçando uma ideia de superioridade dos ditos “branco” europeu em detrimento ao ditos “negro” africano, mesmo com o PNLD punindo e excluindo coleções tidas como preconceituosas desde os anos de 1990.

10CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude. Trad. RAMOS, Patrícia Chittoni, Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002.

11 Os livros didáticos adotados, inclusive os de História no Brasil, tratam da questão da História da

África de maneira silenciosa e desconhecida. Em algumas obras, “a África aparece apenas como uma figurante que passa despercebida em cena, sendo mencionada como um apêndice misterioso e pouco interessante de outras temáticas”.11 Deste modo podemos perceber que realmente a história da África

não é considerada importante por autores de grandes obras que são estudadas nas escolas. SOUZA, Jussara Oliveira. Recorte de memória: a ideia de África (as) no discurso dos alunos da rede

pública de ensino de Santaluz. ABHO, 2015.

12CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude. Trad. RAMOS, Patrícia Chittoni, Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002, p. 178.

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Faz-se necessário arguir sobre a seguinte questão: Quais foram às representações sobre a África construídas pelo discurso da lei 10639? Sabe-se que diferentes respostas podem ser elencadas, cada qual traduzindo marcas advindas do que Certeau denomina por “lugares de fala”.13 Entretanto, para além das questões colocadas, a pergunta central sobre as representações do continente africano e seus povos nos livros didáticos compulsados pelos estudantes da rede pública estadual de ensino em Santaluz deve ser entendida como elemento estruturante e fio condutor de uma narrativa que tentará contemplar outros aspectos em torno da África e dos modos, meios e formas em que esta se insere nos compêndios escolares. 14

Considerações

A Lei 10639/03 “obriga” a inclusão de conteúdos da história e da cultura da África e afro-brasileiro nas disciplinas de História, Língua portuguesa e de Artes na escola. Com a promulgação tem aparecido um numero significativo de produções didáticas voltadas para o Plano Nacional de Implementação da referida Lei. A produção deste artigo é um analise do reflexo da ausência de material especifico, de professores comprometidos. Mas do que isso, o silencio dos intelectuais sobre o continente africano e da forma preconceituosa como é tratado o “negro”.

Apesar de ter treze anos de implementação, a Lei 10.639/03 ainda não foi plenamente incluída nos Currículos e Projetos Políticos Pedagógicos das escolas, pois muitas ainda a ignora, por desconhecimento, falta de interesse ou por achar que não se faz necessário tal abordagem. Há também ausência de cursos de formação continuada para professores e uma revisão nos currículos de algumas licenciaturas, especialmente os cursos de História, que deveriam incluir nas suas grades curriculares disciplinas que abordem a história da África e

13 CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense / Universitária, 1982.

14 Uma importante pesquisa, orientada por um dos integrantes do egrégio colegiado da pós-graduação em

Estudos Africanos do DEDC II, o Prof. Ivaldo Marciano, discorreu sobre questões semelhantes, tendo como recorte espacial a cidade de Jacobina, também localizada no interior baiano. Ver: SANTOS, Genilton Nunes dos. Para desaprender o que não deve ser aprendido: Representações do continente africano no livro didático. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade do Estado da Bahia, campus IV - Jacobina, 2013.

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dos africanos.

É necessário ressaltar que a sociedade brasileira traz consigo, de forma muitas vezes velada, os anacronismos maléficos do racismo, que tem provocado disparidades sociais nos quais os indicadores sociais de níveis mais baixos têm sido legados aos negros, quando comparados aos brancos. Também é preciso reconhecer que o modelo econômico e social existente tem sido injusto com as populações menos favorecidas economicamente, e que entre esses excluídos da vida social encontra-se grande parte de descendentes de africanos que desembarcaram aqui como escravizados.

A aplicação da lei ainda está em construção nos espaços escolares e ainda encontra muita resistência para sua efetivação, mas, pela importância do tema, devemos manter ações de conscientização para sua real implementação.

Uma escola com profissionais bem (in)formados sobre o continente africano e diversidade cultural pode ser mais democrático e justo e o mais importante “romper” como discurso hegemônico. A proposta de educação étnico-racial estabelecida pela Lei Federal 10.639/03 busca apresentar e investigar uma história que não foi contada, e quando estudada, foi vista de forma distorcida. É necessário reconhecer o verdadeiro valor do povo africano. O “desconhecimento e o silêncio” sobre os países africanos não é algo sem interesses, e sim, que ajuda a abarcar o conjunto ideológico que construiu um estereotipo em relação à África e os africanos, desenvolvendo o “afro-pessimismo”15.

15 SERRANO, Carlos; WALDMAN, Maurício. Memória D´África. A temática africana em sala de aula. São

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REFERÊNCIAS

APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai. A África na filosofia da cultura. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

ARBEX Jr, José. Uma outra comunicação é possível(e necessária). In MORAES, Denis de (Org.). Por uma outra comunicação: mídia mundialização cultural e poder. Rio de Janeiro: Record, 2003.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96. Brasilia, MEC, 1996, p.1.

CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1988.

CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense / Universitária, 1982. SANTOS, Genilton Nunes dos. Para desaprender o que não deve ser aprendido: Representações do continente africano no livro didático. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade do Estado da Bahia, campus IV - Jacobina, 2013. DELIZOICOV D. Metodologia do ensino de ciências. São Paulo: Cortez, 1992.

FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. 4. ed. São Paulo: Loyola, 1998.

HALL, Stuart. Da diáspora. Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.

LIMA, Ivaldo Marciano de França. Por uma história a partir dos conceitos: África, cultura negra e lei 10639/2003. Reflexões para desconstruir certezas. A Cor das Letras, n. 12, 2011, p. 125 – 152.

LIMA, Ivaldo Marciano de França. Todos os negros são africanos? O Pan-Africanismo e suas ressonâncias no Brasil contemporâneo. n. 01, 2011.

MINAYO, Maria Cecília de souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa. São Paulo: Hicitec-abrasco, 2000.

OLIVA, Anderson de Oliveira. Tese de Doutorado. Lições sobre a África: Diálogos entre as representações Ocidental e o ensino da história da África no mundo atlântico, Programa de Pós-Graduação em História. UNB, 2007.

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OLIVA, Anderson Ribeiro. A História da África nos bancos escolares. Representações e imprecisões na literatura didática. Estudos Afro-Asiáticos, Ano 25, n. 3, 2003, p. 421 – 461. CAMPOS, Paulo F. S. O Ensino, a História e a Lei 10.639. In: História e Ensino. Londrina: Editora UEL, 2004. Vol. 10.

ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e leitura. 4.ed. São Paulo, Cortez, 1999.

SANTOS, Genilton Nunes dos. Para desaprender o que não deve ser aprendido: Representações do continente africano no livro didático. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade do Estado da Bahia, campus IV - Jacobina, 2013. SERRANO, Carlos; WALDMAN, Maurício. Memória D´África. A temática africana em sala de aula. São Paulo, Cortez, 2007, p. 32-35; 281-283

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