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DO BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO AO BOI DO MARILICE

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Academic year: 2021

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DO BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO AO BOI DO MARILICE

SERRA RODRIGUES, Cristiane Estudante de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro thiannecrys@hotmail.com

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar a construção cênica do Auto do Bumba-meu-boi do Maranhão através do Projeto Marilice em Cena, realizado no Colégio Estadual Jardim Marilice em Nova Iguaçu- RJ. O projeto faz parte de uma pesquisa de Mestrado em Artes Cênicas, tendo como ponto de partida o Livro Bumba-meu-boi do Maranhão de Américo Azevedo Neto e a sistematização feita por ele sobre a tradição do Boi. Sendo que, a História Cultural através de pontos trazidos no Curso História e Historiografia do Teatro da UNIRIO, é destacada como uma ponte entre o Boi do Maranhão e o Projeto na escola. Essa pesquisa proporcionou um discurso de formação cultural, social e artística de uma manifestação folclórica que existe no Brasil todo, mas tornou-se diferente no Maranhão, a partir de suas peculiaridades, sendo exportada para Nova Iguaçu num Processo de deglutição, onde os alunos conheceram, contextualizaram e adaptaram a sua realidade.

Palavras-chave: Educação; Teatro; Bumba-meu-boi.

ABSTRACT

This work aims to analyze the scenic construction of the Auto Bumba-meu-boi from Maranhão through Marilice Project on the scene, held in State College Marilice Garden in New Iguaçu Rj. The project is part of a Master's research in Performing Arts, taking as its starting point the Book Bumba-meu-boi from Maranhão Américo Azevedo Neto and systematization made by him on the tradition of the Ox. And, the cultural history through points brought the Course History and Historiography of Theatre UNIRIO, is highlighted as a bridge between Bumba-meu-boi from Maranhão and Marilice Project scene. This research provided a discourse of cultural, social and artistic of a folkloric manifestation that exists throughout Brazil, but became different in Maranhao, from its peculiarities, being exported to Nova Iguaçu in a process of appropriation and swallowing, where students know, contextualized and adapted to their reality.

Key-words: Education; Theater; Bumba -meu-boi.

INTRODUÇÃO

Este artigo encontra-se estruturado em três fases. Na primeira é estabelecida a ligação entre História Cultural e Bumba-meu-boi, partindo do Texto Clio e a grande virada da História. Destaco ainda, a formação do Historiador Américo Azevedo Neto, através da sua família. Pois os Azevedo contribuíram muito para a História Cultural, através das Letras e do Teatro, no

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2 Maranhão e no Brasil. Já a segunda diz respeito ao Bumba Meu Boi e sua sistematização. A terceira é uma análise sobre o Projeto Marilice em Cena feito no Colégio estadual Jardim Marilice em Nova Iguaçu- RJ. Esse projeto destaca a exportação de uma Cultura, no caso o Bumba-meu-boi do Maranhão através de seu auto e a forma que ele é recebido pelos alunos, analisando a construção cênica e os resultados obtidos ao longo do processo.

1. O BUMBA-MEU-BOI ATRAVÉS DA HISTÓRIA CULTURAL

No Curso Prazeres do Historiador: reflexões em torno de noções e experiências dos estudos históricos e suas contribuições para a História do Teatro, ministrado pelas Professoras do Mestrado em Artes Cênicas da UNIRIO- PPGAC, Beti Rabetti e Angela Reis. Vários tópicos sobre História e Historiografia do Teatro foram apresentados, sendo que, o tópico 2 “Por uma nova visão de estudos históricos: vertentes da nova história e fronteiras com a história do Teatro”, possibilita uma visão contemporânea, sobre a Nova História Cultural. Que será feita a partir do parágrafo do texto “Clio e a grande virada da História”.

Se a História Cultural é chamada de Nova História Cultural, como o faz Lynn Hunt, é porque está dando a ver uma nova forma de a História trabalhar a cultura. Não se trata de fazer uma História do Pensamento ou de uma História Intelectual, ou ainda mesmo de pensar uma História da Cultura nos velhos moldes, a estudar as grandes correntes de ideias e seus nomes mais expressivos. Trata-se, antes de tudo, de pensar a cultura como um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para explicar o mundo. (PESAVENTO, 2003, p.15)

Mediante a isso, tenho em Américo Azevedo Neto, maranhense e Historiador contemporâneo, uma forma de pensar a História Cultural do Maranhão, através da sua principal manifestação folclórica e artística, o Bumba-Meu-Boi. Tendo como ênfase, a sistematização do Boi feita por ele, em seu livro Bumba-Meu-Boi do Maranhão que foi lançado pela primeira vez em 1983, pela Editora Alcântara. E depois em 1997, com sua segunda edição aumentada. Busco fazer uma ligação partindo do Curso Prazeres do Historiador, com a minha pesquisa no Mestrado em Artes Cênicas da UNIRIO, sobre Auto do Bumba meu Boi do Maranhão, onde o objeto de estudo é a turma 701, do Colégio Estadual Jardim Marilice, que fica em Nova Iguaçu- RJ.

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3 1.1. Américo e sua formação familiar e intelectual

Os Azevedo representam, na intelectualidade nacional, grupo que merece destaque. Aluísio, Arthur, Américo, depois Emílio e em seguida, o filho deste, Américo Azevedo Neto, são maranhenses que engrandecem a sua terra natal. O Maranhão tem, na história dos homens de cultura de nosso país, especial auréola que o identifica como terra de acentuado pendor para as letras

Arthur Azevedo é considerado por muitos o primeiro comediógrafo brasileiro, teve seu interesse pelas letras manifestado bem cedo. Uma das suas principais peças de teatro é o Mambembe e o cenário principal de suas peças era o Rio de Janeiro. Seu Irmão Aluísio Azevedo foi o responsável por iniciar a escola literária Naturalista no Brasil.

Consagrou-se com suas obras literárias O Mulato, Casa de Pensão e O Cortiço, que são reconhecidas internacionalmente. Apesar do merecido respeito lá fora, no Maranhão o autor é pouco conhecido. Na Academia Brasileira de Letras, Arthur e Aluísio Azevedo fundaram as Cadeiras 29 e 4, sendo, na Academia Maranhense, patronos das Cadeiras 3 e 2, respectivamente.

Emílio Azevedo foi poeta e ocupava na Academia Maranhense de Letras, a Cadeira 19, patroneada por Teófilo Dias e fundada por Maranhão Sobrinho. Américo Azevedo Neto se escreve ao quadro da Academia Maranhense de Letras e foi eleito em 28 de agosto de 1980. Para a Cadeira 19, vaga pelo falecimento de seu pai, Emílio Azevedo.

Américo Azevedo Neto, recebeu esse nome em homenagem ao seu avô, seguindo os exemplos dos tios-avôs e do Pai, também se dedicou as letras e ao teatro. Escreveu alguns livros e em janeiro de 2015, foi nomeado diretor do Teatro Arthur Azevedo, segundo Teatro mais antigo do Brasil e que leva o nome de seu Tio-Avô.

Já escreveu crônicas, poesias, lançou alguns livros, mas sem sombra de dúvida a sua maior obra é o livro Bumba-meu-boi do Maranhão. Onde ele como historiador cultural, consegue coloca em texto e sistematizar, o que era apenas oratória, passada de geração a geração.

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4 Foto 1: Américo Azevedo Neto

Fonte:Site http://www.aquilesemir.com.br

2. O BUMBA-MEU-BOI E SUA SISTEMATIZAÇÃO

O Bumba-Meu-Boi do Maranhão, é um livro clássico, através de estudos cuidadosos e da oratória popular, sua singularidade constituí uma elaboração do lido e do ouvido de terceiros, possibilitando assim, após anos de observação do autor, as faceta mais identificadora da história cultural do Bumba-meu-boi maranhense.

O conhecimento foi sistematizado e disponibilizado, não apenas para os amantes do Bumba-meu-boi do Maranhão, mas para todos aqueles que tenham interesse de saber mais sobre o assunto. Possibilitando assim, a comunidade acadêmica e ao povo, uma pesquisa cientifica que foi realizada com objetividade, auxiliando o desenvolvimento social, cultural e artístico.

O Maranhão é, com certeza, um dos Estados brasileiros que reúnem as mais numerosas e variadas manifestações folclóricas no que se refere a dança. Umas exclusivas, embora comuns ao resto do Brasil, adquiriram neste Estado, características tão peculiares que podemos considerá-las como só no Maranhão existindo. E é uma destas que vamos tratar.

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5 Foto 2: Boi e Vaqueiro.

. Fonte. Site http://cosemsma.org.br/

Mesmo sendo encontrada em todo o Brasil, ganhou, no Maranhão, formas, cores e sons tão próprios que acabou tornando-se única. “De sua Origem nada se sabe. E tudo o que se possa dizer não passará de suposições ou de pretenso e duvidoso conhecimento. Não há registros anteriores, e os mais velhos apenas repetem: quando me entendi já encontrei Boi brincando assim”. (AZEVEDO NETO, 2007, p.20)

Desta forma, o acontecimento de um Boi dançando no centro de um círculo de pessoas que tocam, cantam e dançam é universal. Em razão disto, não se pode determinar o “onde”, consequentemente, o “quando”. Alguns estudiosos tentam relacionar o Bumba-meu-boi no ciclo de gado no Nordeste. Para aceitar essa hipótese, esta manifestação folclórica deveria ser um fenômeno apenas nordestino ou, quando muito brasileiro. Ou então: aceitando-se isto como verdade, teríamos que aceitar a existência, em vários outros países do mundo, de um ciclo de gado também.

Antigamente no Bumba-meu-boi do Maranhão, usava-se apenas fitas, espelho e papel colorido. Não tinha paetê e nem canutilho. O que permanece igual é o som, a estória e a devoção a São João. Só que antes havia mais respeito pelo santo, mais acato e mais cabeça baixa. Mas, a festa continua a mesma. Sobre o Bumba-meu-boi, nada pode se fixar e nem uma lei pode determinar sem correr o risco de ser desmentido depois num futuro breve. Pois, ela não é uma manifestação caduca ou fossilizada. Ao contrário, está em pleno vigor.

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6 Os grupos, os subgrupos e os sotaques são bem diferentes entre si. As raízes são claras e incontestáveis. Em uns há uma marcante influência indígena no ritmo, nos instrumentos, no guarda-roupa e no baiado. Esse é o Grupo Indígena. Em outros que formam o Grupo Africano, o ritmo, os instrumentos são negros. E a influência maior do guarda-roupa é negra também.

Há também umas coreográficas recentes, com guarda-roupas e instrumentos tipicamente do Grupo Branco. A verdade é que todos os Bois, em princípio, foram fundados tendo por alicerce as tradições de um subgrupo. Ninguém, ao organizar um conjunto, tentou criar estilo inteiramente novo. Os Bois do Maranhão se distribuem em Grupos Indígenas, Africanos e Brancos.

O Grupo Africano é, indiscutivelmente, o mais amplo. Seus subgrupos espalham-se por todo o Estado. Os instrumentos usados por esse grupo são maracá, zabumba e tambor-de-fogo. O ritmo é puramente negro, seu guarda-roupa é constituído por chapéus em forma de cogumelo, recoberto por fitas que chegam até perto do calcanhar.

Esse grupo se afastou muito do auto original, criando inúmeras variações e até mesmo novos enredos. No seu baiado, ao se apresentar, os bois africanos organizam-se numa grande roda que dança toda, no sentido do centro. A mesma postura das rodas-de-samba, tambor-de-criola, capoeira e outras manifestações de origem negra.

No Grupo Indígena, existe algumas influências negras e brancas, por exemplo, em alguns passos de dança e alguns chapéus de rajados. Mas, a influência maior é exercida pelos índios brasileiros, seus instrumentos são pandeirões e matracas, todos os pandeirões e matracas tem a mesma batida. Diferenciando-se assim, da batida feita pelo Grupo Africano. Seu ritmo é mais dolente, com entusiasmo menos vibrante, menos guerreiro e mais festa.

Seu guarda roupa predomina penas, chapéus baixos, destacando-se neles penachos, palas altas de penas e grandes capacetes. No Auto, o enredo original é mais respeitado. Mas, ele fica um tanto esquecido durante os ensaios, devido a própria finalidade deles, que é mais de divertir do que ensaiar. Além do mais, quem ensaia hoje, pode não ensaiar amanhã, talvez por isso falte tempo para alterar o enredo. No seu baiado, os gestos são bruscos, rápidos e curtos. Uma autêntica dança indígena timbira.

O Grupo Branco surgiu entre as cidades de Rosário e Axixá e vai desde sua origem a tudo que não está convencionado ao Bumba-meu-boi do Maranhão. De qualquer modo, nada, a não ser o ritmo. Ligeiramente, o aproxima dos bois de outras regiões brasileiras. Não tem instrumentos fixos, variam conforme as condições financeiras do dono. Basicamente no ritmo

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7 são utilizados banjos, bumbos e taróis, para o apoio da melodia, saxofones, trombones, clarinetas e pistões.

O Ritmo é uma mistura de matraca e baião. Seu guarda roupa utiliza peças de outros bois, como saiotes e golas, o chapéu lembra o dos Reisados. O Auto original não é respeitado, embora não se afastem muito. Geralmente utilizam o dobro de personagens (duas Catirinas, dois ou até três Chicos, dois ou três bois). Admitem e retiram personagens, o fato de mexerem no elenco determina a alteração do enredo.

Américo Azevedo Neto destaca a sequência feita pelos grupos de Bumba-meu-boi durante o ano. Mostrado o misticismo da brincadeira e a devoção aos santos, principalmente a São João. Desta forma, em maio tem início a uma série de ensaios que acontecem geralmente aos sábados.

O ensaio começa quando o Amo apita. Um detalhe interessante é que cada um toca o instrumento que desejar, mesmo que durante as apresentações vá tocar outro. Não há nada determinado. No Bumba-meu-boi do Maranhão, talvez dez ou vinte por cento do conjunto tenham funções definidas. Os outros tocam e ficam onde querem, e se quiserem. E o ensaio transcorre normalmente.

Sendo assim, fica claro, que a preocupação maior é de brincar, a intenção de treinar é bem menor do que a de diverte-se. A verdade é que, nesses ensaios poucas coisas ficam estabelecidas. Apenas quem viverá esta ou aquela personagem durante o Auto. Mas é comum ouvir-se: se tu não fores, fulano ou sicrano faz.

De um modo geral, os ensaios se sucedem até o dia 13 de junho. Este dia é consagrado a Santo Antônio, é o dia do ensaio-redondo, o ensaio geral, o último ensaio. Depois disso Boi nenhum toca até a véspera de São João que é o dia do Batismo do Boi.

Louvação prossegue, atiçam o defumador e a fogueira. E na fumaça que sobe, sobe também, a inocência e a pureza desse povo místico, que reza, canta, dança, bebe cachaça e faz um bezerro, um ídolo de veludo e canutilho, de couro ricamente bordado, em louvor de um santo católico. Depois de batizados, os bois já estão prontos para fazer suas apresentações. (AZEVEDO NETO, 1997, p.71)

Um altar a São João é erguido com um aglomerado de papeis de seda coloridos, velas e defumadores que completam o ambiente. Todos os brincantes estreiam suas roupas. Cachaças, foguetes e fogueiras em frente a porta da rua dão um clima de festa necessário. O Boi é colocado numa mesa ao lado do altar, e assim é batizado.

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8 As louvações continuam durante as apresentações sendo uma sequência rápidas de toadas de louvor. O Chico faz umas gaiatices, Catirina chora ou ri grotescamente, os índios ameaçam Chico. Mas a representação, por questão de tempo, não é feita. E por isso quando é puxada a despedida, percebe-se um leve acento de tristeza pela estória que não foi contada.

Os pesquisadores que têm estudado o Bumba-meu-boi são unânimes e apontar a falta de fixidez do texto. A estrutura central que acabamos de descrever se mantem mais ou menos semelhante, mas todas as vezes que o pequeno drama é representado, cenas secundárias são suprimidas, outras são criadas, segundo a vontade do organizador do espetáculo, ou segundo os acontecimentos importantes que se passaram e que se quer comentar. (QUEIROZ, 1967, p.89) A estória original é de um Boi furtado por Pai Francisco, para atender aos apelos da mulher. Catirina, que, grávida, deseja comer língua do Boi. Há no entanto, nos dias de hoje outros enredos, inteiramente diferentes, cuja única aproximação com a estória básica é a existência de um Boi.

A morte do Boi acontece de agosto a outubro, o dono do Boi, escolhe o melhor momento para fazer a morte do seu Boi. De um modo geral, a festa acontece da seguinte forma, enterra-se o mourão (grande poste todo enfeitado de fitas, papeis coloridos e flores artificiais). Prende-se a ele garrafa de cachaças, vinho, tiquira e bombons. No lugar da ladainha do Batismo, agora é a ladainha da morte.

A mesma ladainha, o mesmo bendito, apenas a expressão dos que cantam e rezam é diferente. Depois ainda há um batuque, uma apresentação, o boi foge para não mais ser encontrado. É hora de guardar as indumentárias protegidas por pimenta-do-reino para não dá mofo ou traça. E assim começa a festa final com o seu nome incoerente: a festa da morte. Na hora da Matança do Boi, o texto é improvisado e o Auto demora o tempo correspondente ao entusiasmo do conjunto nessa noite.

2. PEDAGOGIAS TEATRAIS NA ESCOLA ATRAVÉS DO AUTO DO BOI

A partir do Livro Bumba-meu-boi do Maranhão de Américo Azevedo Neto e da contribuição do Curso Prazeres do Historiador: reflexões em torno de noções e experiências dos estudos históricos e suas contribuições para a História do Teatro, ministrado pelas Professoras Beti Rabetti e Angela Reis. Desenvolvi com os meus alunos do 7ºANO do Colégio Estadual Jardim Marilice, que fica no Bairro Corumbá, Nova Iguaçu-RJ. A Criação do Auto do

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9 Bumba-meu-boi maranhense, fazendo uma exportação de uma cultura que eles ainda não conheciam, através do Teatro.

Utilizei a Pedagogia Teatral como suporte para o desenvolvimento desse projeto, para que a experiência artística vivenciada por eles, fosse uma relevante atividade educacional. Desta forma, o apreciar, o pesquisar, o produzir e o estar em cena foi de suma importância para a realização desse trabalho. Observa-se que tudo que foi feito antes, no Curso Prazeres do historiador e na Pesquisa sobre o Livro Bumba-meu-boi do Maranhão contribuiu para o desenvolvimento desse projeto em sala de aula.

Os alunos foram apresentados ao Boi (como é chamado no Maranhão), através de imagens e vídeos que destacavam não só ele, mais toda cultura maranhense. A princípio, parece muita informação. Mas, o objetivo era mostrar, a cultura maranhense de maneira ampla. Num segundo momento o Boi foi enfatizado, destacando o Auto, que é o ponto crucial para o projeto, pois é nesse momento que o Bumba-meu-boi, deixa de ser, apenas dança dramática e passa a ter uma encenação teatral. “Esse mergulho na linguagem teatral, provoca o espectador a perceber, decodificar e interpretar de maneira pessoal os variados signos que compõe o discurso cênico”. (DESGRANGES, 2006, p.23).

Além disso, os alunos fizeram pesquisas sobre o Boi, tiveram acesso a um par de Matracas (dois pedaços de madeira que são batidos ritmicamente, essas batidas são realizadas de acordo com uma rítmica bastante complexa, que é especifica dessa manifestação) que foram trazidas de São Luís-Ma, instrumento tradicional do Boi maranhense. Esses instrumentos foram utilizados nos jogos teatrais feitos em sala de aula, buscando desenvolver uma metodologia teatral que contemplasse o aluno através da sua sensibilidade, da compreensão do fazer artístico de forma democrática, despertando um senso crítico e uma relação social, artístico-cultural.

Os alunos confeccionaram o boi e os adereços dos personagens com materiais recicláveis, a Escola disponibilizou cola quente e tnt. Os professores de outras disciplinas se disponibilizaram a ajudar no que fosse preciso. Esse projeto mobilizou toda a escola e tivemos aqui uma interdisciplinaridade, por causa da boa recepção da Escola. O Projeto recebeu o nome de Marilice em Cena, em referência ao Nome da Escola, “Jardim Marilice” e também por causa da relação com o fazer teatral “Em Cena”.

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10 Foto 3: alunos confeccionando o Boi

Fotografia de Cristiane Rodrigues Fonte: Portfólio do Projeto Marilice em Cena

Foto 4: alunos e o Boi do Marilice

Fotografia de Cristiane Rodrigues Fonte: Portfólio do Projeto Marilice em Cena

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Fotografia de Cristiane Rodrigues Fonte: Portfólio do Projeto Marilice em Cena

Os alunos receberam com entusiasmo esse nome. Durante os ensaios, os alunos puderam colocar elementos do contexto cultural deles, fazendo com que acontecesse uma degustação antropofágica, onde os alunos conheceram a cultura do outro, não negaram essa cultura, e ela não foi imitada. Pois foi tirada dela o que eles absorveram de melhor e acrescentaram elementos do contexto sociocultural deles. Desta forma, se apropriaram e criaram uma nova forma de representar o Auto do Bumba-meu-boi do Maranhão, que agora não era somente do Maranhão, era o Auto do Bumba-meu-boi do Marilice.

Elementos do cotidiano foram inseridos, como por exemplo, duas fofoqueiras, que anunciavam a toda a cidade, que o fazendeiro João queria matar Chico, por ele ter tirado a língua do mimoso, seu boi mais precioso. Outro elemento colocado foram os pandeiros que tem ligação com o samba carioca. No Boi do Maranhão existe os pandeirões, instrumentos grandes que tem que ser afinados em fogueiras antes das apresentações, instrumento esse, que nada tem a ver com os pandeiros de roda de samba do Rio de Janeiro.

Os alunos se envolveram na releitura do Auto, no figurino mais local, na cenografia, na música e na dança. Fazendo assim uma ligação completa com toda as Artes que existem no currículo escolar. Sendo que, na maioria das vezes, eles não têm, a oportunidade de desenvolvê-las. Esse projeto propiciou através do Teatro, a oportunidade desse desenvolvimento e da sensibilidade através da Música, aa Dança e das Artes Visuais contidas na construção.

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12 3. RESULTADOS ALCANÇADOS

A culminância do projeto foi na festa junina da escola, realizada em junho de 2015. O Auto do Boi do Marilice, foi uma das apresentações do evento, toda escola pode assisti à peça, pois os três turnos (manhã, tarde e noite), estavam presentes no local. O envolvimento do Professor de Ciências Felipe Rodrigues como Miolo (pessoa que fica debaixo do boi), fez com que os alunos que assistiam a peça, ficassem mais atentos e curiosos sobre o que estava acontecendo. Pois para eles, era novidade, ver um professor fazer um papel que não fosse o tradicional, de sempre está em sala de aula lecionando seu conteúdo.

Desta forma, os alunos se sentiram convidados a participar, pois conseguiram ver no professor, um mediador, não mais uma autoridade. O Auto do Boi do Marilice, buscou o contato do público no momento da dança, assim como acontece nos Bois que ainda guardam a tradição no Maranhão. O público não tem que só observar, ele tem que participar, pois o Boi antes de ser espetáculo, é comunhão, é feito pelo povo e para o povo e assim deixamos permanecer, entre os alunos, professores, diretores, funcionários, pais e convidados. Para que todos participassem e comungassem daquele momento dentro da escola.

Foto 6 : O Boi com o Seu Dono João e o Pajé

Fotografia de Cristiane Rodrigues Fonte: Portfólio do Projeto Marilice em Cena

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Fotografia de Cristiane Rodrigues Portfólio do Projeto Marilice em Cena

Foto 8: Momento em que todos dançam junto com o Boi

Fotografia de Cristiane Rodrigues Fonte: Portfólio do Projeto Marilice em Cena

Foto 9: Elenco (alunos e o Professor de Ciências Felipe Rodrigues) e Direção (Cristiane Rodrigues)

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Fotografia de Cristiane Rodrigues

Fonte: Portfólio do Projeto Marilice em Cena

CONSIDERAÇÔES FINAIS

Américo Azevedo Neto com um olhar atento e sensível, como historiador Cultural, buscou um resgate histórico e conseguiu sistematiza-lo. Sendo um historiador que não só pesquisou, mas vivenciou essa brincadeira. Partiu primeiramente das origens, destacou as características de cada grupo, o misticismo relacionado aos santos, a forma de apresentação e representação e o valor histórico, cultural e artístico. Ressaltando o Bumba-meu-boi do Maranhão como manifestação de maior representatividade na cultura popular maranhense.

Assim sendo, o Bumba-meu-boi, apesar de ter características peculiares, constituindo assim transformações, tem elementos antigos que se aglutinam com elementos modernos. Desta forma, o Bumba-meu-boi além de ser uma brincadeira folclórica que diverte o povo e traduz o seu misticismo, está relacionado ao social daquele povo. E através dessa aglutinação, foi possível que os alunos do Jardim Marilice conhecessem outra cultura, se apropriassem dela, e utilizassem a sua própria formação cultural, para fazer uma releitura teatral.

“A Cultura ainda é uma forma de expressão e tradução da realidade que se faz de forma simbólica” (PESAVENTO, 2003, p.15), ou seja, admite-se que os sentidos conferidos às

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15 palavras, às coisas, às ações e aos atores sociais se representam de forma cifrada, portando já um significado e uma apreciação valorativa. Desta forma, funciona vigorosamente, como um aglutinado social. Pois é um polo de influência não só para as pessoas que participam diretamente, como para as que, indiretamente são envolvidas.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Mário. (1982) Danças dramáticas do Brasil. Org. Oneida Alvarenga. Belo Horizonte: Itatiaia. (Obras completas de Mário de Andrade).

AZEVEDO NETO, Américo. (1997) Bumba-meu-boi do Maranhão. São luís: Alumar.

BURKE, Peter. (2010) “Prefácio”, “O Antigo Regime na Historiografia e seus críticos”, “Os Fundadores: Lucien Febvre e Marc Bloch” (p.11-37); “ Os Annales numa perspectiva global” (p.123-143). In: A escola dos Annales (1929-1989), a revolução francesa da historiografia. Trad. Nilo Odalia. São Paulo: UNESP.

CARVAHO, Luciana Gonçalves de. (2011) A graça de contar um pai Francisco no Bumba-meu-boi do Maranhão. Rio de Janeiro: Aeroplano.

CASTRO, Silvio. (2000) Evento cultural: o bumba-meu-boi de São Luís do Maranhão. São Paulo. Dissertação (Mestrado) ECA-USP.

CASCUDO, LUÍS DA Câmara. (2001) Dicionário do folclore brasileiro. São Paulo: Global.

DESGRANGES, Flávio, (2006) Pedagogia do Teatro: provocações e dialogismo. São Paulo: Hicitec.

GINZBURG, Carlo.(2002) “Sinais: raízes de um paradigma indiciário” (149-179). In: Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras.

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16 PESAVENTO, Sandra Jatahy. (2003)“Clio e a grande virada da História”. ( p.07-17). In:

História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira. (1961) O Bumba-meu-boi, manifestação de teatro popular.

REIS, José de Ribamar Sousa dos. (2003) São João em São Luís: o maior atrativo turístico-cultural do Maranhão. São Luís: Aquarela.

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