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4
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» V
D
MESTER
CONSEJO
DE REDACCIÓN
Grace Bodhaine DarleneLorenz MichaelPennNorman
Rattey SusanSchaffer CarolynTamburo
DIRECTOR
OnofrediStefanoASESORES
JaimeAlazraki HarvardUniversity Shirley L. AroraUniversity ofCalifornia, Los Angeles
CharlesAubrun LaSorbonne. Paris JoséRubiaBarcia
University ofCalifornia, Los Angeles
RubénBenítez
University ofCalifornia, LosAngeles
JohnA.Crow
UniversityofCalifornia, Los Angeles
EduardoDias
University ofCalifornia. Los Angeles
CarrollB.Johnson
University ofCalifornia, Los Angeles RichardReeve
UniversityofCalifornia, Los Angeles
La redacción de
MESTER
da fe de su agradecimiento alGradúate Students' Association, University ofCalifornia, Los Angelesquehizo posiblelapublicación deestevolumen.
Mester se publica dos veces por año, en primavera y en otoño. Las ideas expresa-das en sus páginas no siempre son las de
ladirección, lacual invita yestimula
cola-boraciones de cualquier procedencia. No
se efectuará ladevolución de ningún
ma-terial que llegue sin sellos postales. Toda colaboración debe seguir el M.LA. Style
Sheeí y seenviaráporduplicadoa:
MESTER
DepartmentofSpanish
&
Portuguese UniversityofCaliforniaLosAngeles.90024
Condicionesde ventaysuscripción: Suscripciónanual US$ 8 Instituciones US$12 Suscripciónde estudiante USS 5
Númerosuelto US$ 6 (Instituciones)
Númerosuelto US$ 4 (individuo)
Copyright \^Q by the Regents of the UniversityofCalifornia
esiER
RevistaLiterariadelosEstudiantesGraduados
DEPARTAMENTO DE
ESPAÑOL
Y
PORTUGUÉS DE
LA
UNIVERSIDAD
DE
CALIFORNIA
EN
LOS
ANGELES
VOLUMEN
VIIIENERO
DE
1979NUMERO
1ÍNDICE
assinalatura
EçaeJung:
Uma
AnálisedoOníricoedaArten'
A
Ilustre Casa deRamiresGuzmán
de AlfaracheandParadise Conversations with threeEmeritusProfessorsfrom
UCLA:
John A. Crow, JohnE. Englekirk,DonaldF. Fogelquist
A
Pesca Análisisdeunsonetode Fernandode Herrera AdiósalhombreLimbo
ImagoThe ImageofLanguagein Solórzano'sLasmanosdeDios:
TheDegradationandSubversión ofCommunication
Listadepublicacionesrecientes
Ronald Sousa
BobbyJ. Chamberlain 5 N.J. Rattey 18
OnofrediStefanoand
DarleneLorenz 29
JosédaSilvaGonçalves 43
DarleneLorenz 49
GonzaloNavajas 54
JoséS.Cuervo 56
JoséS. Cuervo 56
David WilliamFoster 57 69
Portada:Grabadoen maderaque apareció enMorganteMaggiore deLuigiPulci, pub-licado por Piero da Pescia en Florencia, 1500. Entresacado de Bibliographia. Vol.
II,(London:KeeganPaul,Trench,Trubner andCompany,Limited, 1896). "Bienhayan aquellos benditossiglos que carecieron de la espantable furia de aquestos endemo-niados instrumentos de la artillería, a cuyo inventor tengo para mí que en el
infierno se le está dando elpremio de su diabólica invención."
DON
QUIJOTE
DE
LA
MANCHA
I,38.El grabado del reverso, "Noli altum sa-pere." fuereproducido ypublicado
alrede-dor de 1527en París. Entresacado deDie Bücherornamentik DerHoch-Und Spãtre-naissance. (Leipzig
&
Munchen: Verlag vonG.Hirth, 1881). Tafel 17.La
redacción de
MESTER
dedica
estenúmero
a
cuatro
estimados
profesores
delDepartamento
de
Español
y
Portugués de
laUniversidad de
California
de
Los
Angeles.
Los
cuatro
profesores,
John
A.
Crow,
John
E.
Englekirk,
Donald
Fogelquist
y
Aníbal
Sánchez
Reulet,
nos
han
dejado durante
eltranscurso
de
sus
carreras
académicas
valiososestu-dios
críticossobre
literaturahispanoamericana.
Po-demos
atestiguar
que
laenseñanza
de
cada
uno
de
estos
profesores
ha ampliado
nuestra
visióny
nues-trasensibilidad
ante
la literaturay
loque
en
ella serefleja.
Incluimos
en
estenúmero una
entrevistacon
tresde
loscuatro;
don
Aníbal
seencontraba
en
laRepública Argentina.
Esperamos
que
atra-vés
de
estadedicación
estosmaestros
reciban
elprofundo
agradecimiento
de
todos
nosotros
ase-dados
con
MESTER
y
con
elDepartamento
de
assinalatura
(cartada
Augusto
deCampos)
nabokoviana
você
primeiramente
poemoumea
mente
com
mundomusaicosque
com
so briedadeprotestantemaldançava so
achando
meusoculõesr
ealmenteseusachando
o codigoassinalado codificandoosinal o cularquedesdeprincipioeraasemente
queambosqueriamospornolar
o sinalcodificadoa ssinalandoocodig o
vendo
seusoculhõesrealmentemeus
vendo
so briedadeprotestanteadançarque so
nos
mundosmusaicos
nosmeu
spoemasé
meu
oderradeiro
você
Ronald Sousa
Eça
e
Jung:
Uma
Análise
do
Onírico
e
da
Arte n'A
Ilustre
Casa
de
Ramires
A
memória
de AlbertoMachado
daRosa
A
terceira e última faseda
novelística de Eça de Queiróscaracteriza-se
em
grande parte pela misturada
fantasiacom
a ironia.1Se
bem
que
essa tendência se
venha
manifestando ao longoda
obrado
escritor—
mesmo
nos livros decunho
realista—
é só a partir d'A
IlustreCasa
de Ramires, elaboradapouco
antesde suamorte
em
1900,que
Eçacomeça
adar-lherédeasolta.2
A
própria IlustreCasa
étalvezomelhor
exemplo
disso.António
JoséSaraiva e
Oscar
Lopesnotam
que a estruturado
livro sefundamenta
no
"confronto entre o planodo
real e odo
fantásticotomado
como
ideal."3
Alberto
Machado
daRosa
assinala a importânciado sonho
como
"elemento definidor" dessa faseda
ficção queirosiana e observaque
sobretudo nesteromance
tanto osonho
como
a fantasia onírica,traduzida
em
criação artística pelo protagonista,desempenham
um
papelespecial.4Quanto
à ironia, o outro ingrediente da fórmula, na IlustreCasa
elaprovém mormente
da inter-relação econtrastede tal fantasia (o oníricoe a arte)
com
a realidadedo
protagonista.O
autor justapõe a fantasiados sonhos, devaneios e alucinações de
Gonçalo
Mendes
Ramires
com
a sua realidade social,contrapondo
aambos
a fantasia deuma
obra decriação artística supostamente da autoria
do
próprio Gonçalo.O
cará-ter irónico deriva poisda
relativasemelhança/dessemelhança
do
com-portamento
de Gonçalo-protagonistacom
as aspirações oníricas deGonçalo-sonhador
(ou fantasiador)e/ou
com
ocomportamento
dos personagensidealizadosde Gonçalo-autor.Parece-nos,
porém, que
a ironiaem
sinão
é o úniconem
mesmo
o principal
motivo do emprego
pelo autor de tais recursos fantásticos; é apenasum
sub-produto.A
maior
importância dos elementos oníricos edo romance
dentrodo
romance
reside antesna
sua função compen-sadora emesmo
catalisadora nas transformações obradasno
espírito ena conduta
socialdo
protagonistano
decurso da narrativa.O
presente trabalho visa, portanto, a analisar tal função, valendo-se das teoriasdo
psiquiatra suiço Cari G. Jungcomo
ponto
departida. Logo, passaráa considerar
algumas
hipóteses relativas ao significado simbólicoda
obra àluzda
análiseprecedente.Como
Freud, Jung aceita a dicotomia consciente/inconsciente.5Mas,
à diferença
do
mestre, divideo inconscienteem
dois planos: o pessoal eao inconsciente freudiano.6
O
segundo
planoconstitui
uma
espécie derepositório das lembranças e dos padrões de
comportamento
herdados
do
passado animal e ancestraldo
homem.
Todos
os sereshumanos
dispõem
demais
ou menos
omesmo
inconsciente coletivo,segundo
Jung, o
que
se explica pelasemelhança da
estrutura cerebralem
todasas raças
humanas,
graçasàevoluçãocomum.
7Jung
chama
os elementosherdados
de arquétipos.São
oscomplexos
coletivos, por assim dizer.
Mas, enquanto
oscomplexos
pessoais sóproduzem
preconceitos pessoais, os arquétipos criam os mitos, as reli-giões, asfilosofias, echegam
a influenciar e a caracterizarpovos
eépo-cas históricas.
Tanto
oscomplexos
pessoaiscomo
os arquétipos constituemcompensações:
os primeiros, de deficiênciasdo
consciente individual, eos segundos, de sofrimentos eangústiasdo
génerohumano
(i.e., a fome, a guerra, as doenças, a morte, etc). Entre os arquétipos demais
frequênciaacham-se
a figurado
herói, a figurada
donzelaaflita eo conceito deuma
IdadeDourada.
Ao
contrário de Freud, Jung atribuiao
sonho
uma
função compen-sadora e às vezes prospectiva.8O
sonho
éuma
mensagem,
geralmentecodificada
em
símbolosmetafóricos,que
se transmitedo
inconscienteaoconsciente, a fim de estabelecer
ou manter
o equilíbrio psíquicodo
indivíduo.
Como
tal, expressa as deficiências doscomplexos
pessoaisdeste;
manifestam
-se atravésdos arquétiposdo
inconsciente coletivoNo
sonho, os arquétipos,
que
representam as diversas facetasda
personali-dade
humana,
aparecem
geralmentena
forma
de projeções sobre aspessoas
do ambiente que
circunda o indivíduo,mais
raramenteem
fi-guras quiméricas
ou
bichos grotescos. Assim, semonta
um
palcooní-rico,
onde
as projeçõesdo
inconsciente representam determinados papéis demaneira
acompensar
as deficiências e a unilateralidade daatitude consciente.
Jung afirma
que
o papelcompensador do sonho pode
manifestar-sede várias maneiras, ora
em
sonhos
que
representam realizações dedesejos reprimidos, ora
em
sonhos
de angústia,ou
pesadelos.O
sonho
pode
engrandecer o indivíduoque
tem complexo
de inferioridade,do
mesmo
jeitoque
pode
diminuir o indivíduoque tem
uma
imagem
pordemais
inflada de simesmo. Às
vezes, opera demodo
contrário,re-baixando
aindamais
o primeiro, eenaltecendo demaneira
exagerada o segundo. E, vez por outra, o efeito chega a verificar-seem
forma
deprevisão, já
que
muitas vezes o inconsciente vêclaramente oque
ocon-scienterecusa admitir.
Finalmente, Jung reconhece vários outros
componentes da
psiquehumana,
a saber apersona,9a
sombra
10ea ánima.11
A
persona designa amáscara
socialdo
indivíduo, oseueuidealizadoque
eleaparenta paraasociedade, a fimde impressionaredeocultar asua natureza autêntica.
Asombra
indica o lado negativodo
inconsciente pessoal, oscomplexos
eos
demais
aspectosrepugnantes dentrodo
indivíduoque
ele reprimeeque
costuma
projetar sobre os outros.E
a anima,segundo
Jung, é o elemento "feminino" dentro decadahomem,
um
sentimento de fraquezaede inferioridade ao seu
meio
ambiente.12Quanto
mais o
homem
pro-cura negar a anima,
afirmando
o seu ideal de masculinidade,ou
seja asua persona,
mais
"feminino,"ou
fraco, se torna por dentro.Só
atin-girá amaturidade
psíquicaabandonando
a persona ereconhecendo
aanima
e oscomplexos
reprimidoscomo
partes de sua personalidade.Jung
denomina
esseprocessoindividuação.12,Gonçalo Ramires
éum
abúlico carente de autoconfiança, o que oimpede
de realizar tanto as suas aspirações à grandeza e aoheroísmo
como
os seus anseios depoder
e fortuna. Pusilânime e fraco,Gonçalo
acha-seincapaz desatisfazerosanelos
sem
o apoio de outrem,julgando-se
um
produtomal-fadado
deuma
"sorte inimiga." Isto o leva acom-prometer osprópriosvalores, aferrando-se até aos inimigos abastadose
poderosos por lhe representarem
uma
daspoucas
maneiras de derrubar o"muro
alto e áspero,sem
porta esem
fenda,"14o qual ele imagina
estorvar-lhe o sucesso almejado. Constituem, por assim dizer, "fendas
na
muralha.""Desculpista"por excelência,
Gonçalo
urdeuma
teiadeilusõesesub-terfúgios, a fim de encobrir para si
mesmo
osmotivos
da própriain-capacidade: asuafaltade
vontade
ede autoconfiança.A
suamitomania
não
se limita,porém,
às auto-ilusões, cristalizando-se outrossimnuma
fachada social, a sua persona.
De
modo
que
ele insistemuito
nasapa-rências de grandeza, nobreza e
coragem
e chega a contar inúmeras mentiras—
tudo paraocultaraopróximo
o verdadeiroGonçalo
Ramires.Até
a novela deGonçalo não
passa deuma
tentativa decompensar
a realidade tristedo
novelista,que
se achaum
decadenteembora
não
queira admiti-lo.
Por
meio
dela, ele consegue escapar à realidade mes-quinha, identificando-secom
os heróicosavós
ecom
os altos valoresde
uma
suposta IdadeDourada.
15Se o
homem
é filho de suas obras,Gonçalo Ramires
assimpode
considerar-se tão filho deuma
obra épicaliterária
como
o é deuma
estirpe nobre. Dessa maneira,pode
engran-decerle tanto nos próprios olhoscomo
nosda
sociedade.A
novela ea identificação social
com
os antepassados representam, portanto, outra "fendana
muralha."Intitulada
"A
Torre deD.
Ramires," a novela baseia-seem
grandeparte
num
poemeto
em
verso solto, escritohá
meio
século pelo Tio Duarte eque
tem
pornome
"Castelo de Santa Irenéia."Não
obstanteseu conceito idealizado dos velhos Ramires,
Gonçalo
pretende verter a poesia românticado
tio parauma
prosa de realismo épico, estilomais
deacordocom
ostempos modernos.
Em
setratando deum
tema
medie-val, vaiconsultaros
romances
de Scott ede Herculano.Logo
começa
a escrever(pp. 16-20).O
enredoda
obra giraem
tornodo avô
Tructesindo Ramires,alferes-mor
do
reiD.Sancho
I (1154-1211), edo
seu papel nas discórdias entre osherdeirosdo
rei logo apósamorte
deste. Poruma
promessa
feita aoamo,
Tructesindomanda
o filhoLourenço
defender os direitospatri-moniais
da
infanta D.Sancha
contraseuirmão
D.Afonso
II,que
acabacavaleiros são atacados pelo Bastardo de Baião,
que
uma
vez tentouraptar D. Violante, a filha
mais
moça
de Tructesindo, eque
agoraco-manda
a hoste real.Ferem Lourenço
elevam-no
preso (pp. 119-25).Mais
tarde, Baiãoecompanhia
aparecem no
castelode Tructesindocom
o malferido
Lourenço
estendidonuma
liteira.O
Bastardoexigeamão
de D. Violanteem
trocada
vida de Lourenço.Mas
este grita para o painão
aceitar o ultimato equando
Tructesindo o rejeita, Baião mata-lhe o filho (pp. 157-59, 170, 233-43).O
restoda
narrativa trata devin-gança
de Tructesindo:do
sádico edemorado
suplíciodo
Bastardo de Baião(pp. 258-62, 304-06, 311-25).Os
váriossegmentos da
novela ficam intercalados ao longodo
ro-mance,
alternando-se muitas vezescom
episódios paralelosda
vida de Gonçalo,que
com
eles contrastam ironicamente àmaneira
de duplica-ções contrapontísticas. Assim,por exemplo, logo depoisque
Tructesindojura cumprir a
promessa
feitaao
finado rei,Gonçalo
falta à palavranum
negóciocom
um
lavrador a fim deaumentar
o próprio lucro (pp.59-67).
Outro
tanto ocorrequando
Lourenço
desafia asameaças
do
Bastardo, resolvendoavançar
contra as forças inimigas:ameaçado
pelolavrador
que
eleenganou,
Gonçalo
foge correndo (pp. 122-30).E
assim pordiante.É, de fato, irónico
que
sejada
novelaque
procedegrande
parteda
ironia
da
Ilustre Casa, poisGonçalo
mesmo
não
a reconhece.Mas, não
nasce exclusivamente das incongruências vindas dacomparação
do
comportamento
social deGonçalo
com
o de Tructesindo e Lourenço.Ainda mais
irónico éque
o novelistamalgré
lui consiga escreveruma
épica realista, retratando heróisque
não
são tão heróicosnuma
IdadeDourada
que não
é tãodourada
assim. E averdade
que
saido mito
jádespidodosseusenfeites, eaté
Gonçalo
chegano
fim areconhecê-la.Em
última análise, é justamente o aspecto realista e anti-heróicoassumido
pela novela para surpresado
novelistaque
chega a influirna
vidadeste.Repugnado
pelabarbáriereveladapelosavós na
execuçãodo
Bastardo, o Fidalgoda
Torre apieda-sedo
valentão de Nacejas, porele tãocruelmente surrado
há poucos
dias(pp. 326-28). Assim,a novelavem
a exercerum
efeitocompensador
e terapêuticono pensamento
deseu autor.16
Ora, é precisamente essa função
compensadora que
caracterizatam-bém
ossonhos
e as fantasias conscientes deGonçalo na
Ilustre Casa.Ele
pode
mentir à sociedade emesmo
a si próprio,mas
não
consegueevitar asverdades exprimidaspelo onírico.
Como
retratos simbólicosdo
seu inconscientenum
determinado
mo-mento,
17todos os
sonhos
deGonçalo
1)ou
revelam os seus desejos inconscientes e recalcados pelo consciente 2)ou
são julgamentos pelo seu inconscientedo
seucomportamento
consciente.Em
ambos
oscasos,mostram-se
compensatóriosao
estadoda
vigíliado
sonhador.O
primeirofenómeno
surge logono segundo
capítulono
sonho
com
o paraíso africano (p. 50), o qual serve tantode solução dos tormentos divulgados
no
primeirosonho da
mesma
noitecomo
de antecipaçãodo
que Gonçalo
resolverá fazerno
finaldo
livro (p. 346).Não
sabemos,porém,
se estesonho
constitui o novelo subliminar de urna futura resolução conscienteou
se é apenas o reflexo deuma
idéiaque tem
andado
ultimamente nosseuspensamentos
conscientes.O
que
sabemos
é
que
na discussãoda
Africa damesma
noiteGonçalo
nem
opinara favoravelmente sobre ela, preferindo vendê-la,não
aos ingleses,mas
sim a qualquer "raça fraterna" (p. 35).
Sabemos
outrossim que, aoacordar, o Fidalgo
da
Torrenão
selembra
desse sonho, recordando-se apenasdo
primeiro pesadelo(p.50).18Em
todocaso, osonho
ésimbólico deum
desejo de fugir das angústias criadas pela própria inércia einca-pacidade de agir para a ociosidade e tranquilidade de
um
paraísoterrestre carente de tais tormentos, por ele julgadosde origem externa.
E,
com
efeito,Gonçalo,diasdepois,expressaconscientementeessedesejonuma
conversacom
a irmã:"Ando
com
ideias de ir para a Africa." (p.89).A
vontade
defugir étambém
o assuntodo
pesadeloda
mesma
noite,o qual exemplifica o
segundo
tipo desonho
(pp. 49-50).Numa
justa-posição
cómica
e fantástica de elementosda
sua realidade imediata (sobretudodo
jantardehá poucas
horas)19com
os de
uma
visãoroman-tizada
da
história dosavós
e de Portugal,Gonçalo
vê-se acossado porforçasinimigasealheias à própria vontade. E agredido por Cavaleiro e
Gouveia
(realidade) "revestidos de cotas demalha"
(história) e "mon-tadosem
horrendas tainhas assadas" (jantardo
Gago). Eacometido
por fantasmas lendários ("Fado dos Ramires,"composto
porum
seucon-hecido) e arrastado a contragosto para o
campo
de batalha dasNavas
de Tolosa (história) pelo rei D.
Afonso
II, figura histórica e inimigodo
avô
Tructesindodo
poemeto do
Tio Duarte.Um
seuprimo
espanholarranca-lhe os últimos cabelos (Gonçalo aos trinta anos é quase
care-ca),20
enquanto
os sarracenos (história) riem-se dele e a TiaLouredo
(quemora
em
Lisboa) é"trazidacomo
um
andor
aosombros
de quatroreis"("Fadodos Ramires").21
No
entanto,Gonçalo
revela-se incapaz de resistir à violência dessas forças adversas.Não
contra-ataca, sendo-lhe impossívelenfrentá-lassem
a ajuda alheia, a qual
não
acode aos seusgritos dedesamparado.
Quer
fugir,
mas
nem
pode
fazer isso; mostra-se impotente e covarde, agindomais
àmaneira
deuma
donzela aflitado que
de acordocom
ossupos-tosprincípiosramíricos.
Daí
nascea angústiado
pesadelo, consequênciado
recalque pelo conscientedo
desejo inconsciente.Não
é de admirar,portanto, que o
sonho
constituauma
espécie decondenação
por partedo
inconscientedo
carátereda conduta
deGonçalo.Saltando, por enquanto, o
sonho
de Barrólo,esbarramos
com
o ter-ceirosonho
de Gonçalo,no
capítulo sete,no
qual o Fidalgo da Torre procura oavô
carniceiro (pp. 217-18).Como
o pesadelo, este partedos devaneios
que
precedem
imediatamente o seu adormecimiento.A
busca desse parente carniceiro pelosmais
remotos
laberintosda
his-tóriaemaranhada
e nevoenta é,no
fundo,uma
tentativada
parte deGonçalo
depenetrar assinuosidadesmisteriosasdo
próprio inconscienteà cata
da
facetamais
negra, negativa e recalcada, a suasombra. Ê
aconfrontação
com
a neurose criada pelospróprios instintos reprimidos, seuscomplexos que
ele projeta sobre a figura fantasiada deum
avoen-go
primitivo e longínquo.Assim
sendo, é irónicoque
oavô
carni-ceiro deGonçalo não
sejaum
açougueirocomum
como
o pai de D.Ana.
Trata-se, pelo contrário, deum
carniceiro de carnehumana,
enem
foiprecisoremontar
a épocas tãoremotas
para encontrá-lo, jáque
tantoGonçalo
como
o avô
Tructesindopossuem
sua cota de sadismo.De
resto, éaparentementesignificativoque
este sonho,além
de tratarda
carnehumana
em
sentido sanguinário, estejaligadocom
"aformosa
e
perfumada D.
Ana"
(p. 218),que
apesar de ser filha deum
carni-ceiroreles éobjetoda
concupiscência (apetite"carnal")do nobre
Fidalgo.É
de notar, ainda por cima,que o
romancista deixa demencionar
avida sexual
do
protagonista,que
até aquinão desencadeou
a violênciareprimida,
nem
atravésda
novelanem
atravésdo
chicote,optando
antesporescapulir-se
em
facedosperigosreaisou
imaginários. Efetivãmente,
no
plano lingüístico, estesonho põe
em
relevo aimagem
da
penetração por brenhase florestas—
imagem
que,embora
não
seja necessariamente deordem
erótica,não
sejanecessariamente deordem
erótica,não
deixade darindíciosdesê-lo.
O
últimosonho
de Gonçalo,um
pesadeloem
que
ele secomunica
com
os ancestrais,marca
uma
nova
etapana
relação entresonho
erealidade (pp. 278-80).
Como
no sonho
com
oavô
carniceiro, nesteGonçalo adormece pensando
num
determinado
assuntoque
continua aremoer além do
limiarmorf
ético.Mas,
à diferençado sonho
anterior,este
não
resolve nada.Quando
acorda,o
Fidalgo ainda selembra
do
sonho
e ochama
de "pesadelo" (p. 280), pois faltam-lhe quaisquerele-mentos
cómicos,ao
contráriodo
pesadelo inicial.Também
diferedo
sonho
anteriorpornão
tirarnenhuma
conclusãodefinida.O
sonho
com
o
avô
carniceiroforauma
tentativa de realizarum
desejo, e, ao desper-tar,Gonçalo
jánão pensava no
entrave social a separá-lo deD. Ana,
o qual desejararemover
antes de dormir. Poiso sonho
resolveu tudo.Não
é esse,porém,
o casodo sonho
com
as faces dos avós,que
édo
princípioao fim
um
sonho
deangústia.Por
fimchegou
ahora
da
confrontação pelo inconsciente deGonçalo
do
seu ego abúlico e pusilânimecom
a sua persona heróica e forte—
o
que
o abúlico desejava ser.Acodem
osavós
(que são projeçõesideali-zadas dessa persona forte) a oferecer suas
armas
aGonçalo após
assis-tirem à sua jeremiada inútil contra a "sorte inimiga."
Mas, no
fimdo
pesadelo, éoego fraco
que
faz apergunta lógicaeque
não
seresponde:"Oh
Avós,
deque
me
servem
as vossasarmas
—
seme
falta a vossaalma?
. . ." (p.280).O
Fidalgoacorda "toldado desombras"
(p.280).Fora naquele
mesmo
diaque
o criado Bento depararacom
um
velhochicote
no
sótão, e éno
dia seguinte (depoisdo
pesadelo)que Gonçalo
vai empregá-lo (pp. 285-87).
O
aperto dos credores, o aperto deirmã seentregoua Cavaleiro, efinalmente o reconhecimento da própria
alma
fraca—
tudoissocontribui paraabrutalidadedo
chicoteamentodo
valentão edo
amigo.Achando-se acuado
pela "sorte inimiga" epre-cisando aliviar as suas frustrações,
Gonçalo
acaba por canalizar a ener-gia reprimidanum
impulso sádico. Vaimuito mais além
das exigênciasda
legítima defesa,chegando
a sentir"uma
alegria brutal" (p. 286) ao contemplar os corpos imóveisbanhados
em
sangue.Ademais,
é de notarque
a partir dessedesencadeamento
defrustra-ções (da energia reprimida), o Fidalgo
da
Torre pára de mentir, de exagerar oscasosque
conta às outras pessoas.Não
enfeita a sua versãodo
chicoteamentonem
romantiza osuplíciodo
Bastardo deBaiãona
suanovela.
De
fato, arrepende-se da violência cometida paracom
o valen-tão eda
infligidavicariamente ao Bastardo,compadecendo-se
dos dois miseráveis. Já é, por conseguinte,como
os velhos Ramires: cheios decoragem,
mas
também
de sadismo.Mas,
aindanão
deixou deiludir-sea si próprio, julgandoque
sua forçarecém
-descobertavem
de dentro desi,
quando
na
verdade procede defora—
do
chicoteedo
cavalo.O
Fidalgoda
Torre já se sentedono
de si.Por
isso, jánão
precisaaparentar para a sociedade o
que
não
énem
para simesmo.
Já viu a triste verdadedo
seu eu abúlicono sonho
com
os avós e agora acaba de exteriorizar as frustrações reprimidas.Ainda que
continue aacredi-tar
na
própria força de caráter, pelomenos
já entrouno
processo deautocompreensção
e auto-valorização, o qual culminará nessatomada
de consciência
no
devaneioda
Torrena
noiteda
vitória eleitoral (pp.340-44).
Diga-se de
passagem que
é nessatomada
de consciência das mensa-gensdo
inconscienteque
Gonçalo
se diferenciado
cunhado
José Barrólo. Este,ou
por serum
simplório irremediávelou
por recalcar adolorosa suspeita
do
adultério da mulher,não
cheganem
a lembrarou
compreender
o seusonho
prospectivo (p. 186)nem
a dar crédito àde-núncia
da
carta"anónima"
dasLousadas mais
tarde (pp. 294-95).No
primeiro caso, foge-lhe
completamente
o significadoda
vassouraoní-rica
que
lhe serve,no
contextodo
sonho, tanto de cacetecomo
dein-strumento
limpador
paraque
possa repeler e varrer a investidada
imundíciesimbólica, representadapelareconciliaçãodo cunhado
com
o Cavaleiro dom-juanesco.No
segundo
caso, preocupa-se unicamentecom
a possibilidade dosamigos
otacharem
de "bacoco,"conforme
alega acarta. Épossível, contudo,
que
no
finaldo romance
se dê contado
acontecido eque
seja por issoque
derruba o mirante equeima
osofá
do pecado
no
diado
aniversárioda mulher
(p. 350).Mas,
mesmo
assim, é
bem
capaz deestarrespondendo
apenas às sugestõesdo
incon-sciente, sern
compreender
conscientemente omotivo
verdadeiro de tal destruição.Com
efeito,não
escapa aGonçalo
o significadocompensador,
pro-spectivo e até parcialmente corretivo dos seus sonhos.
Embora
pareça esquecer alguns ao acordar (p. ex., osonho
com
o paraíso africano eo
com
oavô
carniceiro), as resoluções e os julgamentos feitosoníri-camente
pelo seu inconscienteacabam
por influenciarmais
tarde assuasintenções e ações conscientes (p. ex., a decisão de
rumar
para a Africaeadearrastara asa para D. Ana).
De
forma que
ossonhos
do
Fidalgoservem
de representações visuaisdas bases inconscientes dos seus problemas.
Condensam
e atésobre-põem,
umas
às outras, situações reais e fantasiadas, associadas pelo inconsciente eque
sãono fundo
projeções sobre figurasdo
mundo
ex-terno das múltiplas facetasque
atuam
no
seudrama
interior. Partindoamiúde
dos devaneiosque
osprecedem
imediatamente,tomam
as preo-cupações dessas fantasias conscientes.E
chegam
a tirar conclusõesque
redundarão
em
ações reais eem
atitudes conscientes—
e, às vezes,em
outros devaneios que, por sua vez, suscitarão outros sonhos. Tal é o
caso, por exemplo, dos devaneios e ações
que
ligam o primeirosonho
de Gonçalo, exposição inicialdo
seudrama
interior, aosonho
com
osancestrais,passo adiante
no
seuprocesso conscientizador.Mas
o papelcompensador que vimos
descrevendonão
se cingetão-somente
à novela e aossonhos
do romance.
Manifesta-setambém
nos devaneios e nas alucinações.O
papelcompensador
dos devaneios,ou
fantasias conscientes,22 é posto
em
relevo pelo primeiro exemplo,em
que
Gonçalo, antesdo sonho
inicial,contempla
o seu fracasso eas suaspossibilidades de atingir o sucesso
na
vida (pp. 27-29). E aquique
aparecepelaprimeira vez o
"muro
alto eáspero,sem
portaesem
fenda"(p. 28),
que
eleacha
produto
da
sorte adversa eque
lhe atrapalha apassagem
para o ansiadosucesso político. Sentindo-se incapaz detrans-por
o"muro"
por conta própria e vendo-sedesamparado
de qualquerproteção, considera
que
quase o único "buraquinho,bem
apertadomas
serviçal" éescrever e publicar a históriaépica dos nobres antepassados.
Apoiando-se
neleseno
poemeto do
Tio Duarte, talvez consiga ampliarabrechaa
ponto
depoder
alcançarasmetas
políticas.Essa
imagem
conscientedo
muro
impenetrável,que
serepeteao longo dos devaneios, estámuito
ligadaao
primeiro sonho,na
medida
em
que
também
exprime,conquanto
demaneira
menos
dramáticaemais
lógica,a abulia
do
Fidalgoque
ele atribuiao
destino eà faltade apoio externo.Como
o primeiro sonho, então, representauma
espécie de exposiçãoinicial
do
drama
interiordo
protagonista,compensando
a sua falta devontade
ede segurança.Mas,
se acompensação que
se evidenciano
primeiro devaneio deGonçalo
constituium
mecanismo
de defesa para afastar a culpa de si(como
o étambém
osonho
inicial), acompensação do
devaneio final é de outra índole (pp. 340-44). Essatomada
de consciênciada
própriaabulia
ao contemplar
a Torre iluminada e as estrelasdo firmamento
desempenha,
como
sugerimos acima,uma
função reveladora.E
aquique
o Fidalgoda
Torre chega finalmente a ver-se tal qual é, acom-preender seupróprio valordespido deenfeites edevalores alheoios.
consciente,23 aparece
no
episodioem
que
Gonçalo
descobre o adultériode Gracinha. Assim, o Fidalgo, depois de ouvir as vozes da irmã e da Cavaleiro
no
mirante,mas
impedido
de vê-los, continua a "perceber" seusmurmurios
—
mas
fortes e ululantes, a alastrar-sepor toda Oliveira(pp. 250-51). E, logo depois, ainda aturdido e
envergonhado, tem
"asensação que o
mundo
tremera, e asmais
fortesalmas
se abatiam, e asua Torre, velha
como
o Reino, rachava,mostrando
dentroum
montão
ignorado delixo edesaias sujas"(p.251).
Nestecaso, trata-sede
uma
reaçãoao estímulo traumático criado pelo repentino descobrimentoda
infidelidade conjugalda
irmã.A
alucina-ção expressaa
preocupação
do
Fidalgo deque
a entrega deGracinha
aCavaleiro
venha
a saber-se.Mas,
também
expressa oseumedo
de que o própriodrama
interno sepublique.Em
termos jungueanos, odrama
interno deGonçalo
consistena
sua"entrega"
da
anima
fraca àsombra
reprimidado
seu inconsciente. É oque
se patenteia tanto nos seussonhos
e fantasias conscientescomo
na
sua novelae vida.Quanto
mais procura afirmar a persona nobre, viril e forte, reprimindo os "traçosfemininos" defraqueza, falta devontade
esentimentalismo,
mais
"efeminado" (i.e., inseguro) se tornano
seuínti-mo.
Desesperado, procuracompensar
a falta de "masculinidade,"re-correndo à violencia, a qual
também
procurara reprimirno
principiopor ser incompatível
com
seu conceito idealizado de simesmo.
Mas
aviolência,por suavez,
provoca
outracompensação:
apena que
elevem
a ter
da
vítima sob a influência de sua anima. E, afinal de contas, a violênciatambém
constituiuma
fraqueza,porquanto
reflete a suain-segurançainterior.
Tal
drama
se exprime deváriasformas
e atravésdevários arquétiposna
novela, nossonhos
e nas fantasias conscientesdo
Fidalgo. Ele iden-tifica-se oracom
a figurado
herói (projeçãoda
persona idealizada),ora
com
a figurada donzelaaflita(projeçãoda
anima), oracom
a figurado
vilão (projeção deuma
parteda
sombra). Recria IdadesDouradas,
sonha
com
paraísos terrestres e procura ogros—
tudonuma
tentativaderealizar-se.
Afinal,
Gonçalo Ramires
chega a admitir a falsidadeda
persona e aaceitar tanto o aspecto "feminino"
como
o aspecto sádico de suaperso-nalidade
como
facetasnormais
da psiquehumana.
Entrano
processo deauto-realização psíquicaque
Jungchama
individuação, oque
sedeveprincipalmenteaoefeito terapêuticode suaarte ede sua vidaonírica.
A
aparente aplicabilidade dos conceitos jungueanos à Ilustre Casa, sobretudono que
diz respeito aos sonhos, parece confirmaramoderni-dade da
interpretação ecianado
espíritohumano.
Mas
também
provoca
uma
sériedeperguntas sobre osignificadosimbólicodaobra,na medida
em
que
este for sujeito àmesma
dialética compensatóriado
planoindividual.
Se
Gonçalo Ramires
representa Portugal,como
afirma JoãoGouveia
na
última páginado
livro (p. 362),podemos
deduzir logicamenteque
Eça queria atribuir à pátria através da analogia qualidades tais
como
a abulia, a fraqueza, a dependência externa, a fé sebastianista, ocom-plexo deinferioridade, o
pseudo-machismo
etalvezmesmo
aparanóia.24Teria desejado assinalar sua tendência a viver
num
passado heróico,dormindo
sobreoslouros deantanho
e, aomesmo
tempo,comparándo-se desfavoravelmente
com
os valores ideais deuma
história nacional altamente romantizada. Demais, teria pretendido ilustrar a sua situaçãoenquanto
objeto—
não
sujeito—
de sua existência. Entretanto,que
sig-nificado simbólicohavemos
de associar aossonhos
e às fantasias deGonçalo?
Seservem
de contrapeso a compensar-lhe a vida medíocre,quais os seusanálogos
no
tocantea Portugal?Podemos
deduzirahomo-logíade sonho:Gonçalo::mito:Portugal?25
E, se
pudermos,
élídimoatri-buirmos ao mito
amesma
função potencialmente terapêuticaque
Jungatribui ao
sonho?
Finalmente, qual arelação entre a partida deGonçalo
para a Africa e o processoque
Jungchama
individuação e quais as suasimplicaçõesno
plano simbólico?Não
compete
aopresente ensaiorespondera essasperguntasem
todasas suas particularidades,
por merecerem
de per si todoum
estudo à parte.No
entanto,convém
aventar várias hipóteses sobre as intençõessimbólicas
do
romancista. Parece inegávelque
Eça quis apontarcom
Gonçalo Ramires não somente
os defeitos de Portugalmas
também
amaneira
de retificá-los.Quis
mostrar oscomplexos
nacionais à guisa decomplexos
individuais, servindo-se para tanto dos arquétiposcomuns.
Mas
esperava igualmentesugerirum
caminho
pelo qual o país pudesseredimir-se.
A
soluçãonão
se podia encontrarnuma
visão artificialda
própriahistória, por
mais
compensatóriaque
fosse à situação realdo
país. E,mesmo
que
fosse verídica historicamente, tal visãonão
era adequávelà atualidade,
não passando
a sua perspectiva aristocrática demais
um
anacronismo
esquecido pelotempo.
Nem
aomenos
se podia acharno
caráter
compensador
dos mitos e das lendasdo
país, anão
serque
se tivesseconhecimento
da
maneira
de interpretá-los corretamente.Só
mesmo
sabendo
oque
procurarna
história, nos mitos e nas lendas nacionaiséque
se poderia chegar a reconhecereeliminar oscomplexos
coletivos
do
povo
português.Diga-se de
passagem que
o aspectomesquinho que
os críticosimpu-tam
com
frequênciaà trasladaçãodo
protagonista para a Africano
finaldo
romance
só parece aumentar-secom
a reformulaçãoem
termossimbólicos.26Pretender
que
afaltadeânimo
deum
paíspode
solucionar-se
mediante
novas
aventuras colonialistasnão
é das soluçõesmais
dire-tas e dignas de elogio, seja qual for a atitudepredominante da
época.E, ironicamente, parece constituir
um
outro tipo de avasão, por sinaldesnecessária
—
pelomenos
no
planoindividual—
poisjáno
momento
da
partidaGonçalo
parece ter aproveitado amensagem
compensatóriado
oníricoe
da
arte.fantásticos por
motivos
que de longe ultrapassam os possíveis efeitos irónicos.A
funçãocompensadora
queele confere aos sonhos, àsfanta-siaseao
romance
atribuídosao protagonistacontribui para modificar opensamento
e ocomportamento
deste demaneira
terapêutica.Mais
ainda,
comprova
a atualidade dacompreensão
queirosianado sonho
ede seu papel na psique
humana.
E, finalmente, chega a figurarna
interpretação simbólicadaobra.
Quanto
às ideias de Jung,convém
assinalarque
não
constituem aúnica
maneira
de abordar o oníricoe a arteda
Ilustre Casa, sebem
que
concorram admiravelmente
paraa explicação de taisfenómenos.A
sua grandevantagem
estriba-se, afinal de contas,não somente na
teoriada
compensação
dos sonhos,mas
também
na
visão arquetípicado
universoque
fornecem, a qual possibilita a integração dos múltiplos planosda
realidade dentro
do romance.
Que
Eça tenhacompreendido
desde cedoa importância de tal integração é
um
dos fatores mais significativos da sua originalidadecomo
ficcionista.E
édessacompreensão que
decorre,sobretudo nas últimas obras, a
chamada
veia fantásticaque
tantoo
distingue dosseus
contemporâneos.
Bobby
J.Chamberlain
Michigan
State UniversityNOTAS
1. Segundo Alberto Machado da Rosa (Eça, Discípulo de Machado? Rio: Fundo de Cultura, 1963, p. 164), a originalidade de Eça sempre se baseou na fundição dos dois elementos: ironiae fantasia.
2. António José Saraiva e Óscar Lopes (História da Literatura Portuguesa, 6a
ed.,
corrigida e actualizada, Porto: Porto, s.d., pp. 909-13) tratam o elemento fantástico na obra de Eça anterior à Ilustre Casa, observando-o no seu pendor para a distorção
caricatural, em certas cenas e personagens fantasmagóricos, na sua veia satânica, na sua linguagem amiúde deformadora e na sua agnóstica ironização de tudo, tanto nos romances supostamenterealistascomoem obrasmenos realistas taiscomo
O
Mandarim(1880)e
A
Relíquia (1887). Aliás,deve-selembraraepígrafe que preambulaestaúltima: "Sobreanudezforteda verdade—
omantodiáfanodafantasia."3. Ibid.,p.913. 4. Rosa,p.166.
5. Salvo nos casosde indicação contrária, as fontes donde procedem asinformações sobreas teoriasde Jung são CariG.Jung, "ApproachingtheUnconscious," in
Man
and His Symbols, ed. Cari G. Jung (Garden City, N.Y.: Doubleday, 1964), pp. 18-103, eNisedaSilveira, ]ung:VidaeObra(Rio:JoséÁlvaro,1968).
6.
O
inconsciente pessoal consta, segundoJung, 1) de elementosesquecidos pelocon-sciente, 2) das percepções subliminares (que não possuem a força psíquica suficiente
paraentraremnoconsciente),3)dasideiascriadasnoinconscienteeque aindanão passa-ram ao consciente e 4) dos complexos do indivíduo (Cari G. Jung, Two Essays on Analytical Psychology, trans. R.F.C. Hull, 2nd ed., Bollingen Series, Vol. 20, No. 7,
7.
No
seu livro The Savage Mind (Chicago: Univ. of Chicago Press, 1966, p. 65),Claude Lévi-Strauss refuta a existênciadosarquétiposedo inconsciente coletivo, obser-vandoquesó asformas
—
enão osconteúdos—
éque são comunsàsvárias culturas: emoutro trabalho, Lévi-Strauss argumenta que, ao formular a noção do arquétipo, Jung comete o erro de esquecer o princípio saussuriano da arbitrariedade do signo ("The Structural StudyofMyth,"Journal ofAmerican Folklore,78, No. 270, Oct.-Dec,1955, pp. 428-44; reimpresso in The Structuralists: From Marx to Lévi-Strauss, ed. Richard T. De George e Fernande M. De George, Garden City, N.Y.: Anchor, 1972, p. 172);
Northrop Frye (Anatomy of Criticism: Four Essays, Princeton: Princeton Univ. Press,
1957, pp. 111-12)considera a existênciado consciente coletivo desnecessária ànoção do arquétiponacrítica literária.
8.
Numa
comparação dos métodos seguidos por Freud e Jung na interpretação dos sonhos, Erich Fromm nos informa que Freud sempre conservou ateoria de quea única função do sonho, além da depreservar oestado morfético, era arealização dos desejos reprimidos (Erich Fromm, The Forgotten Language:An
Introduction to the Understand-ing ofDreams, Fairy TalesandMyths,New
York: Grove, 1951,p. 95); paramais infor-mações sobre tal teoria, veja-se Sigmund Freud, The ¡nterpretation of Dreams, trans.A. A. Brill, rev. ed. (London: Alien andUnwin;
New
York: Macmillan, 1937), pp. 140, 150-67.9. Jung entende por persona"acomplicatedsystem of relationsbetween theindividual consciousnessand society, fittinglyenoughakindofmask, designedon theonehandto
make a definite impression upon others, and, on the other, to conceal the true nature of the individual" (Jung,
Two
Essays, p. 192); veja-se também a esse respeito Silveira, p. 89.10. Sobre este ponto, veja-se M.-L. von Franz, "The Process of Individuation," in
Man
andHisSymbols,ed.CariG.Jung, pp.168-76.11. Para
um
tratamentomais completo daanimajungueana, veja-se M.-L.von Franz, pp. 176-88;o ânimus,contrapartidamasculinadaanimaquecompensaapsiquefeminina, segundoJung,éexaminadologoemseguida pelomesmoestudioso(pp.189-95).12. Não é de admirar que Jung tenha sido alvo de críticas feministas recentes por suas ideias "sexistas." De fato, parece-nos desnecessário e mesmo contraproducente postular a feminilidade ou masculinidade inerente de determinadas qualidades, cujas associações sexuais tradicionaisse podem explicar mais convincentemente como sendo resultadosdoacondicionamentocultural.
A
práticatorna-sediscriminatórianamedidaemque asociedade atribuir a tais qualidades valores positivos ou negativos. Felizmente, a validezdainterpretaçãojungueananãoparecedepender de semelhantedistinção.
13. Veja-se, a esserespeito,oreferido artigodeM.-L.vonFranz.
14. [JoséMaria] EçadeQueirós,
A
IlustreCasa de Ramires, 6aed., (Lisboa: Livrosdo Brasil, s.d.), p. 28. Todasas referências à Ilustre Casaserão desta edição, figurando as indicações de página como notas parentéticas dentrodo texto; sobre a sede do poder e
da fama,veja-seFromm,pp. 34-35.
15. ParaJung,nocontextodosonho, "hobnobbingwithNapoleón andbeingon speak-ing terms with Alexander the Great are exactly the kind of fantasies produced by an
inferiority complex" ("Approaching the Unconscious," p. 63); observe-se, a propósito, que dentro do mundo fictício do romance, os nobres avós de Gonçalo Ramires são figurasdetamanhorealce.
16. Da mesma forma que os sonhos vindos do inconsciente pessoal compensam a unilateralidadedoconsciente pessoal, aexpressãoartísticaconstitui
um
esforçodoincon-sciente coletivo porcompensaroconsciente coletivo, ou "cânoncultural" de uma deter-minadasociedadenumadeterminadaépoca,segundo afirma o jungueanoErichNeumann,
Art andthe Unconscious: FourEssays, trans. Ralph Manheim, Bollingen Series, Vol. 61 (Princeton: Princeton Univ. Press, 1969). Acrescenta que o artista ou escritor "fulfills
notonlyhimselfbut alsohisepoch"(p. 97).
17. Veja-se Cari G. Jung, The Structure andDynamics ofthe Psyche, trans. R.F.C. Hull, 2nded., Bollingen Series, Vol. 20, No. 8 (Princeton: Princeton Univ. Press, 1969),
18. Fromm (op. cit. p. 28) ocupa-se do esquecimento dos sonhos, comparando-o
comodesaparecimentodos fantasmas noturnoscomosprimeiros raiosdosolemmuitos mitospopulares;cf.Freud, pp. 472-91.
19. Freudasseveraque"ineverydreamwemay findsomereferencetothe experiences of the precedingday"(op.cit.,p. 167).
20. Fromm (op. cit., p. 69) lembra que, segundo Freud, a perda do cabelo é uma
representação simbólicadacastração.
21. Segundo Jung, as ideias e imagens contidas no inconsciente conservam-se sob pouca tensão psíquica e são, portanto, mais vagase nebulosas que as do consciente, semmuitainterrelação de causa e efeito, menos racionais. Assim, pode-secompreender
"why dreams often express themselves as analogies, why one dream image slides into
another, andwhyneither thelogicnorthetimescale ofourwakinglifeseemstoapply" ("ApproachingtheUnconscious,"p. 64);cf.Fromm,p. 28.
22. Jungconsidera afantasia conscientecomoa manifestaçãomais óbvia da intrusão dosprocessos inconscientesnoconsciente(Jung,Structure,p. 142).
23.
A
alucinação representa, na voz de Jung (Structure, p. 307), "the momentary irruptionofanunconsciouscontent"noconsciente.24. Compare-se,nesseparticular,comaGeraçãode98espanhola.
25. Joseph Campbell (The Hero with a Thousand Faces, 2nd ed., Bollingen Series,
Vol. 17, Princeton: Princeton Univ. Press, 1968, p. 19) sustentaque "dream isthe per-sonalized myth, myth the depersonalized dream; both myth and dream are symbolic
in the same general way of the dynamics of the psyche"; da mesma maneira, J.E.
Cirlot (A Dictionary of Symbols, trans. Jack Sage,
New
York: Philosophical Library, 1962, p. xxiv)afirmaque "what amythrepresentsfora people, forany oneculture, orforanygivenmomentinhistory,isrepresented forthe individualbythesymbolicimages ofdreams,byvisionsandbyfantasy or lyricism."
26.
A
partida de Gonçalo Ramires para a Africa é, no opiniãode António Sérgio, a prova de que, mesmo no final do romance, suas aspirações não passam da ambiçãoburguesadopoderedafortuna (António Sérgio, "Notas sobre aImaginação, a Fantasia
eo Problema Psicológico-Moral na Obra Novelística de Eça de Queiroz," in Livro do CentenáriodeEça de Queiroz,Lisboa:DoisMundos,1945, pp. 449-502).
Guzmán
de
Alfarache
and
Paradise
Since the beginning of
Western
literature, the garden has been a recurrent image. In Classical times itwas
a "place of spiritual reposeand
bodily ease...
a scene of shade,song and
love."1In Christian
times the garden
became
strongly associated with the Earthly Paradiseand Man's
Fallfrom
grace.During
the Renaissance,many
writers con-cerned themselves with the deceitful nature of the garden,which had
come
tobe,in effect,an
illusoryParadise.We
can observe this inMateo
Alemán's
Guzmán
de Alfarache, where, despite thefew
descriptions of the garden, itbecomes
afundamental
motif because of its associationwiththeBiblical Paradise
and
theFallofMan.
Mircea
Eliade discusses Paradiseas a manifestation of thesymbolism
of the centerin
Images
and
Symbols.
2He
states that"every
microcosm,
every inhabitedregión,haswhat
may
becalled a centre.'That
istosay, a place sacredabove
all" (p. 39).He
elaborateson
how
ancientman
conceived of
and
constructed these sacred places,which assume
many
differentforms, suchastemples, cities
and even
houses.He
furtherstates that both ancientand
modern
man
have
shown
the desire to be at the heart of realityand
the sacred, in other words, at the "Centre of theWorld,
the place ofcommunication
withHeaven"
(p. 54).3Adam,
the firstman,
dweltat thecenter of thecosmos,
"thenavel of the earth" (p. 43),which
iscommonly
known
as Paradise.Man's
archetypal desire to be at the center of theworld
is a manifestation ofhis Nostalgia for Paradise. Eliade calis this "the desire to find oneself
always
and
without effort in the Centre of theWorld,
at the heart ofreality,
and
by
short cutand
inanaturalmanner
totranscendthehuman
condition" (p. 55). In Christian terms this is called
man's
condition beforetheFall.4Ishouldlike to
propose
that theprotagonistofGuzmán
de Alfarache follows the universal pattern of the rite of the center, which, as Eliadehas elaborated, is
an
archetype basedon
universal archaicsymbolism
and
in this particular case is the Christian"myth"
ofman
in Paradise.For Christian
man,
Paradise is the ultímate center, althoughman
also constructs other centerswhich
are in essence replicas of Paradise; theyserve to isolate or protect
man
from
the profane world. InGuzmán
de Alfarache the protagonist is inevitably attractedtoward
these centers,but, as
we
shall see,never succeedsinremainingthere.Paradise in the Judeo-Christian tradition is
known
as theGarden
ofEdén.
The
first three chapters of Génesis deal with theGarden and
withthe expulsión ofAdam
and
Eve. Interest in Génesispeaked
duringthe sixteenth
and
seventeenth centuries,when
therewas
a veritableexplosiónofliterary
works
that treated thequestion of Paradiseand
the Fall ofMan.
Approximately
one
hundred and
fifty of theseworks
appeared in
Europe
at thistime.5One
must
keepin
mind
thatman
con-sidered himself to be only six
thousand
yearsaway
from
the Earthly Paradiseand
consequently the conceptwas
not nearly so abstract as itis in present times.
Although
Spanishand
Portuguese discoveriesand
explorations
dampened
much
of the speculation about an EarthlyPara-dise still existent
somewhere
in the unexplored world, an interest in fixingthelocation of the BiblicalParadiseremained.6Interestingly enough, the best
known
writeron
Paradise during thelate sixteenth century
was
a Spaniard, Benedictus Pererius (Benito Pereyra, Pereyra of Valencia, c. 1535-1610), a Jesuit lecturer at theCollegium
Romanum.
Between
1589and
1598, fourvolumes
of hisCommentarium
etDisputationum
inGenesim
appeared.7Alemán was
writing the
Guzmán
during thissame
periodand
may
have
insome
manner come
into contact with Pererius'swork,
or with the exegeses ofothercommentators.
8In
any
case, thenatureand
location ofParadisewas
an important issue inboth Catholicand
Protestant Europe,and
itis thereforenotsurprisingthat theParadise motifshouldbefound
inGuz-mán
deAlfarache.In this
work,
Paradise is firstmentioned
in the second chapter.Guzmán
describes a gardenwhich
passes unnoticed untilone
considers the scarcity of descriptions of this nature. Rarely doesGuzmán
take notice of his natural surroundings, yetwhen
he does, the author has apurposein
mind:
Eraentrado el verano,fin de mayo, yel pago de Gelves y SanJuan de Alfaracheel
más
deleitosodeaquella comarca, porla fertilidady disposi-ción de la tierra, que es toda una, y vecindad cercana quele hace el río Guadalquivir famoso, regando ycalificando con susaguas todas aquellas huertas yflorestas.Que
con razón, sien la tierrase puede dar conocidoparaíso, se debe a este sitio el
nombre
del: tan adornado está defron-dosasarboledas,llenoy esmaltado devariasflores,abundantede sabrosos frutos,
acompañado
de plateadas corrientes, fuentes espejadas, frescos airesy sombrasdeleitosas,donde losrayosdel solnotienen en taltiempo licencia nipermisión deentrada.9This garden, or"paraíso,"isan obviousreference to theCreation
myth.
ItisherethatGuzmán's
mother
concertstomeet
his father. Superficiallywe
have
anidealistic, bucolicscenethat isconducive toloveand
recallsthe locus
amoenus
of pastoralliterature.One
might cali thistheparecerof the scene.
However, what
occurs here is hardly idealistic.A
prettyyoung
woman,
engaged
in a meretricious relationship with agentleman
many
years her sénior, is attracted to an effeminate, corrupt Genoese.While
passingby
his house, themother
feigns a stomach-ache and,ac-cording to plan, is put into the father's
bed
while her elderly keeperwaits in another
room.
The
father thencomes
out of hidingand
Guzmanillo
is conceived while hismother
wrestles with intestinaldis-turbances.
The
readermay
safelycome
to the conclusión that theThis conception account has a mythical quality that is reminiscent of the Biblical Creation
myth
as well as of the Nativity of Christ. A. A. Parker calis this scene a "symbolic picture."10 Boththe Creation
and
Nativity accounts
have
a certain mythical, symbolic quality that setsthem
apartfrom
the rest of the Bible,which
islargely historical, lyricalor didactic in focus.
Both
theOld
and
New
Testaments
beginon
amythical note.
Alemán
also does this inGuzmán
de Alfaracheand
therebylinksboth theNew
and
Old
Testament
myths.The
scene withGuzmán's
mother
riding an ass, holdingherstomach
in pain, looking fora place to rest, recalls the Biblical scene of the Vir-gin
Mary,
withchild, searching forlodging in Bethlehem. Significantly,thefirst
words
of themaid
who
answers
thedoor
are"¡Jesús!¡Ay
Dios!"(p. 130).
This scene could also be considered a re-elaboration of the
myth
ofAdam
and
Eve. It is very interesting to note thatGuzmán's
father first espies hismother
at a baptism, the Christian ritual for thewashing
away
of original sin. Ironically, thesetwo
thenform
an illicit unionwhich
producesachildborn
outofwedlock and
taintedby
originalsin.It is also
worth
noting thatGuzmán
makes
no mention
of hisown
bap-tism. His original sin stays with him. His early years with his
mother
are his edenic period; he is blemished
by
original sin but remainsshel-tered
by
hismother and
protectedby
the innocence of his youth.At
the age of twelve,
upon
reachingmanhood,
Guzmán
must
leave hishome
and
innocence behind, thus being symbolically expelledfrom
thegarden.
Alemán
use ofBiblicalmyths
isquitedisconcertingwhen
one
considers the apparentlyorthodox
nature ofmuch
of thework.
Hisinterpreta-ron
vergeson an
irreverent parody. Ifone
makes
direct associationssuch as
Mary-Eve
=
strumpet, Joseph=
cuckold,Adam
=
homosexual
and
Christ=illegitimate child, the storybecomes
clearlyblasphemous.
Yet, I
doubt
that thiswas
Alemán's
intent.The
author holds a very negativeview
of theworld
inwhich
he lives,and
writes inan
embit-tered, tense style
—
a trulyidyllic scenewould
be out of place.(We
shallsee idyllic love in
"Ozmín
y
Daraja,"which
as an intercalated piece,does not
form
an absolutely integral part of the work.)Alemán
rein-terprets these stories in a profanemanner
because this interpretationcorresponds to his
view
of the world.He
does not wish tocheapen
ordenigrate the original characters.
To
the contrary, his intention is topresent hischaractersinan unfavorablelight.
The
scene inwhich
Guzmán
meetshis secondwife, Gracia, is similarin
many
respectsto thescene inwhich
hisparentsmeet. Hiswife'sñame
is
an
indirect reference to the Paradise motif. Just asman
inÉden
livedin astate ofgrace,
Guzmán
attemptsto regain thisstate in his marriageto Gracia.
He
calis this marriage, "elmedio
demi
salvación." (p. 845)In this scene,
Guzmán
enters a churchand
blesses himself with holy water in a less than devoutmanner.
This practice is an invocation ofGod's grace
and
is analogous to baptism. Yet, because of his impiousattitude, he fails to
remove
sin or to invoke divine grace.He
insteadpursues a
more
corporealform
(Gracia). Significantly, itwas
at abap-tism that
Guzmán's
father firstviewed
his mother, just ashereGuzmán
sets eyes
upon
Gracia for the first time. Similarly, theymove
on
to abucolic
merienda
scenewhich
recalls the events surroundingGuzmán's
conceptionat San Juan deAlfarache:sefueronporentrelosálamosadelante alaorilladel ríoysobreunpradillo verde,haciendo alfombra desufrescayerba,sesentaronenella (p.816).
Once more
we
have
the "eternal pair."When Guzmán
marries, hesays,Volvímea casarsegunda vez
muy
conmigustoy tantoque que tuve por cierto que nunca por mí se comenzarael tocino del paraíso y que fuera elhombre más
bienaventurado delatierra(p. 827).Paradise is again
mentioned
and
Guzmán
experiences a second edenic period."Tuve
díasmuy
alegres," he says (p. 827). His first edenic period,we
recall,was
spent at his mother's side; here he wishes tore-peat itat his wife's. It isnot long,
however,
beforeGuzmán
and
Graciafall
from
graceand
are forcedto leave Alcalá.When
theyarrive in Ma-drid, Gracia is depicted riding an ass as they seek lodging.The
scenerecalls the Nativity story as well as that of
Guzmán's
mother's feigning illness:Cuando
le dije que allí nomás
y que no teníamos posada cierta,pro-fesando hacernos amistad, nos llevó a la de una su conocida, donde nos
hicierontodobuenacogimiento: noporelasno, sinoporladiosa(p.835).
The
fact that he refers to his wife as "la diosa" is not without signifi-cance, ñor is the fact that princes bearing giftssoon
appear at theirdoor.
Again
we
have
a synthesis of the Creationand
Nativity stories,Guzmán
being aJoseph-Adam
figureand
Gracia aMary-Eve
figure, ashisparentswere.
In
Madrid
Gracia continues prostituting herself with her husband's consentand
theyare eventually expelledfrom
that city.They
move
on
to Seville,
where
Gracia leavesGuzmán,
who,
in turn, returns to hismothei
.This expulsión, as well as the original one, has fairly obvious
sym-bolic overtones.
Man,
conceived in sinand
apparentlycondemned
to sin,cannot remainin Paradise. Itisparticularlysignificant thatGuzmán
and
Gracia shouldhave
been banishedby
a judge becauseGuzmán
refers tojudges as "diosesdelatierra"(p.616).