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Curso de Redação. Marcelo Braga

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Academic year: 2021

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Texto

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Capítulo 1

Estudo da Tipologia e dos Gêneros Textuais O Padeiro

Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante, lembro-me de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto, não é bem uma greve, é o lockout, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que, obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido, conseguirão não sei bem o que do governo.

Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento, ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:

– Não é ninguém, é o padeiro!

Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo? “Então você não é ninguém?”

Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era: e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém não, senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém...

Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo, eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina – e muitas vezes saía levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.

Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E, às vezes, me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”. E assobiava pelas escadas.

(Rubem Braga) Ao lermos o texto de Rubem Braga, verificamos que estamos diante de um texto narrativo. Isso se constata com a presença de elementos próprios dessa tipologia como o enredo, as personagens, as formas verbais no passado e a sequência das ações.

O conhecimento da tipologia textual torna-se essencial para quem está iniciando o seu processo de escrita. Isso porque cada tipologia possui especificidades distintas. As características de um texto narrativo, por exemplo, não se assemelham às de um texto dissertativo-argumentativo. Daí o motivo pelo qual estudaremos cada tipologia individualmente.

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Os textos, em prosa, podem pertencer a quatro tipologias:

Narrativa – Consiste num relato de um fato, ocorrido em um determinado lugar e tempo, envolvendo personagens em uma trama.

“De acordo com sua paixão dominante, Quaresma estivera muito tempo a meditar qual seria a expressão poético-musical característica da alma nacional. Consultou historiadores, cronistas e filósofos e adquiriu certeza que era a modinha acompanhada pelo violão. Seguro desta verdade, não teve dúvidas: tratou de aprender o instrumento genuinamente brasileiro e entrar nos segredos da modinha. Estava nisso tudo a quo, mas procurou saber quem era o primeiro executor e cantor da cidade e tomou lições com ele. O seu fim era disciplinar a modinha e tirar dela um forte motivo original de arte.”

Descritiva – Consiste no ato de descrever algo ou alguém detalhadamente.

“Os reposteiros de veludo verde-musgo criam sombras mais fundas. Os mortes dos retratos de moldura bronzeada parecem mais mortos. O grande lustre de vidrilhos que pende do centro do teto tem um brilho frio de ossadas.”

Dissertativa – Consiste no ato de o produtor tecer comentários pessoais ou não acerca de um determinado assunto.

“Os casos de corrupção, especialmente na esfera pública, causam sérios danos a instituições privadas e à sociedade. Além de prejudicarem o ambiente de negócios, afetam a competitividade do setor produtivo e impactam diretamente no bem-estar social por reduzir investimentos em setores básicos como saúde e educação, impedindo o desenvolvimento econômico e social do país.”

Injuntiva – Consiste no ato de instruir o interlocutor acerca de um determinado procedimento.

“Para o bom funcionamento de sua máquina, siga as seguintes recomendações: sempre que a máquina não estiver em funcionamento, retire o plug a tomada; não utilize a máquina se você não estiver treinado; antes de fazer uso, verifique a posição correta do Ralador; após a utilização, limpe o aparelho e, no memento de realizar a limpe, certifique-se de que a máquina está desconectada da tomada.”

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Gêneros Textuais

O quadro, a caneta e o papel

Depois de uma aula qualquer, em um colégio que não importa dizer o nome, uma caneta, esquecida no chão, lamentava a sua sorte a um imponente quadro branco.

— Ah... senhor quadro, nada me dói mais que a ingratidão. Veja o que são estas crianças. Usam-nos a tempo e a hora e, depois, quando não somos mais úteis, deixam-nos em qualquer lugar, esquecem-deixam-nos ou, o que é pior, jogam-deixam-nos fora sem a menor piedade. Não se lembram esses ingratos de que, desde os primeiros anos de suas vidas, nós os acompanhamos, desenhando, em suas mãos relapsas, os primeiros barquinhos, as primeiras letras, os primeiros corações...

Vendo a caneta tão chorosa, o quadro não sabia o que dizer para animá-la. Resolveu falar de si, de sua filosofia de vida.

— Pois eu, minha querida, a mim pouco me importa o que fazem, como fazem ou para que fazem. Cumpro a minha missão e pronto. Minha tarefa: ser branco, para melhor refletir as letras. Faço-o sem discutir. Fico o tempo todo em silêncio para não atrapalhar a aula. Não digo nem que sim nem que não. Precisam de mim, e eu aqui estou. Tenho consciência de que alguns me maltratam, me chutam e escrevem em mim coisas obscenas, mas... fazer o quê? São ossos do oficio, como bem dizem os professores. No meu silêncio, penso no futuro das escolas e temo pelos novos quadros que virão.

A caneta, parecendo pior que antes, redarguiu:

— Meu grande problema é que eu não consigo ficar indiferente, muito menos calada, em relação às injustiças. Vejo acomodação e mágoa em suas palavras, senhor quadro, mas não me sinto à vontade para censurá-lo. No fundo, talvez o senhor tenha razão...

Nesse instante, passou voando, em direção à porta, uma folha de papel. Com voz sumida, disse o seguinte, enquanto o vento permitia:

— Nunca devemos reclamar da vida que temos por achá-la ruim ou indigna. Lembremos sempre que, em algum lugar, às vezes perto de nós, há sempre alguém em condição pior. Eu, por exemplo, fui Carta de Descobrimento, Tratado de Tordesilhas, Teoria da Relatividade, Bilhete de Suicida, Certidão de Nascimento, Boletim de Notas, Soneto de Fidelidade... já fui até a Bíblia... Agora, o vento me leva, e eu nem sei onde vou parar... Espero que não seja no banheiii...

A última frase não foi mais ouvida. O silêncio reinou na sala. O quadro e a caneta, se cabeça tivessem, estariam com ela abaixada, pensando...

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O texto que inicia o segundo capítulo deste material se apresenta como narrativo e pertence ao gênero apólogo. No capítulo anterior, estudamos a tipologia textual. Neste capítulo, dedicar-nos-emos ao estudo dos gêneros textuais.

A Crônica

É uma narrativa breve, com um número reduzido de personagens e registra um flagrante do cotidiano, além de apresentar, em sua maioria, um tom humorístico.

O Milagre

Naquela pequena cidade as romarias começaram quando correu o boato do milagre. É sempre assim. Começa com um simples boato, mas logo o povo – sofredor, coitadinho e pronto a acreditar em algo capaz de minorar sua perene chateação – passa a torcer para que o boato se transforme numa realidade, para poder fazer do milagre a sua esperança.

Dizia-se que ali vivera um vigário muito piedoso, homem bom, tranquilo, amigo da gente simples, que fora em vida um misto de sacerdote, conselheiro, médico, financiador dos necessitados e até advogado dos pobres, nas suas eternas questões com os poderosos. Fora, enfim, um sacerdote na expressão do termo: fizera de sua vida um apostolado.

Um dia o vigário morreu. Ficou a saudade morando com a gente do lugar. E era em sinal de reconhecimento que conservavam o quarto onde ele vivera, tal e qual o deixara. Era um quartinho modesto, atrás da venda. Um catre (porque em histórias assim, a cama do personagem chama-se catre), uma cadeira, um armário tosco, alguns livros. O quarto do vigário ficou sendo uma espécie de monumento à sua memória, já que a Prefeitura local não tinha verba para erguer sua estátua.

E foi quando um dia… ou melhor, uma noite, deu-se o milagre. No quarto dos fundos da venda, no quarto que fora do padre, na mesma hora em que o padre costumava acender uma vela para ler seu breviário, apareceu uma vela acesa. – Milagre!!! – quiseram todos.

E milagre ficou sendo, porque uma senhora que tinha o filho doente, logo se ajoelhou do lado de fora do quarto, junto à janela, e pediu pela criança. Ao chegar em casa, depois do pedido – conta-se – a senhora encontrou o filho brincando, fagueiro.

– Milagre!!! – repetiram todos. E o grito de “Milagre!!!” reboou por sobre montes e rios, vales e florestas, indo soar no ouvido de outras gentes, de outros povoados. E logo começaram as romarias.

Vinha gente de longe pedir! Chegava povo de tudo quanto é canto e ficava ali plantado, junto à janela, aguardando a luz da vela. Outros padres, coronéis, até deputados, para oficializar o milagre. E quando eram mais ou menos seis da tarde, hora em que o bondoso sacerdote costumava acender sua vela… a vela se acendia e começavam as orações. Ricos e pobres, doentes e saudáveis, homens e mulheres caíam de joelhos, pedindo.

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Com o passar do tempo a coisa arrefeceu. Muitos foram os casos de doenças curadas, de heranças conseguidas, de triunfos os mais diversos. Mas, como tudo passa, depois de alguns anos passaram também as romarias. Foi diminuindo a fama do milagre e ficou, apenas, mais folclore na lembrança do povo.

O lugarejo não mudou nada. Continua igualzinho como era, e ainda existe, atrás da venda, o quarto que fora do padre. Passamos outro dia por lá. Entramos e pedimos ao português, seu dono, que vive há muitos anos atrás do balcão, a roubar no peso, que nos servisse uma cerveja. O português, então, berrou para um pretinho, que arrumava latas de goiabada numa prateleira:

– Ó Milagre, sirva uma cerveja ao freguês!

Achamos o nome engraçado. Qual o padrinho que pusera o nome de Milagre naquele afilhado? E o português explicou que não, que o nome do pretinha era Sebastião. Milagre era apelido.

– E por quê? – perguntamos.

– Porque era ele quem acendia a vela, no quarto do padre.

(Stanislaw Ponte Preta) O Conto

É uma narrativa breve, com número reduzido de personagens e registra um conflito único com desfecho inesperado.

O Anônimo

Tão logo o carteiro entregou a correspondência, Eduardo foi em busca daquilo que a experiência já lhe ensinara. Certamente estaria ali: a carta anônima. De fato, não tardou a encontrar o envelope, àquela altura familiar: o seu nome e endereço escritos em neutra letra de imprensa, e nenhuma indicação de remetente (alguns missivistas anônimos usam pseudônimo. Aquele não fazia concessões: nada fornecia que pudesse alim entar especulações com respeito à identidade).

Com dedos um pouco trêmulos – a previsibilidade nem sempre é o antídoto da emoção – Eduardo abriu o envelope. Continha, como de outras vezes, uma única folha de papel ofício manuscrita em letra de imprensa. Como de hábito, começava afirmando: “Descobri teu segredo.” Nova linha, parágrafo, e aí vinha a acusação.

No presente caso: desonestidade. “Todos acham que você é um homem sério, correto”, dizia a carta, “mas nós dois sabemos que você não passa de um refinado patife. Você está roubando seu sócio, Eduardo. Há muito tempo, você vem desviando dinheiro da firma para a sua própria conta bancária. Você disfarça o rombo com supostos prejuízos nos negócios. Seu sócio, que é um homem bom, acredita em você. Mas a mim você não engana, Eduardo. Eu sei de tudo que você está fazendo. Conheço suas trapaças tão bem como você.”

Eduardo não pôde deixar de sorrir. Boa tentativa, aquela, do missivista anônimo. Desonestidade na firma, isto não é tão incomum. Com um sócio tão crédulo como era o Ênio, Eduardo de fato não teria qualquer dificuldade em subtrair dinheiro da empresa.

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Só que ele não estava fazendo isso. Em termos de negócios, era escrupulosamente honesto. Mais que isso, muitas vezes repassara dinheiro para a conta de Ênio – um trapalhão em matéria de finanças – sem que este soubesse. Honesto e generoso. Contudo, como certos caçadores tão pertinazes quanto incompetentes, o autor da carta anônima atirara no que vira e acertara no que não vira.

Eduardo enganava Ênio, sim. Mas não na firma. Há meses – em realidade, desde que aquela história das cartas anônimas começara – tinha um caso com a mulher do sócio, Vera: grande mulher. Claro, não poderia garantir que não sentia um certo prazer em passar para trás o amigo que sempre fora mais brilhante e mais bem-sucedido do que ele, mas, de qualquer forma, isso nada tinha a ver com a empresa. Desonestidade nos negócios? Não. Tente outra, missivista. Quem sabe na próxima você acerta. Tente. Tente já.

Sentou à mesa, tomou uma folha de papel ofício e escreveu, numa bela, mas inconspícua letra de imprensa: “Descobri teu segredo.”

(Moacyr Scliar) A Fábula e o Apólogo

São textos inverossímeis, cujas personagens podem ser animais (fábula) e objetos (apólogos) devem trazer uma moral da estória.

O Agricultor e a Serpente

Um agricultor, homem simples do campo, caminhava pela sua pequena propriedade numa bucólica manhã de inverno a examinar seu plantio, quando, sobre o chão ainda coberto pela neve da noite anterior, viu uma Serpente que jazia completamente enrijecida e congelada pelo intenso frio.

E embora soubesse o quanto aquela Serpente poderia ser mortal, ainda assim, ele a pegou com cuidado, e com a intenção de aquecê-la e salvar sua vida, colocou-a no bolso do seu casaco.

E em pouco tempo, a Serpente, aquecida naquele confortável ambiente que a protegia do frio, foi recuperando suas forças. Ao sentir-se viva outra vez, colocou a cabeça para fora do bolso do sobretudo daquele homem que lhe salvara a vida e mordeu seu braço. E ao sentir a inesperada picada, o lavrador logo se deu conta da gravidade daquele ferimento. E caindo desfalecido pelo efeito do mortal veneno, sabia que apenas poucos minutos de vida lhe restavam.

E em seu último suspiro, ergueu com dificuldade a cabeça, e disse: “Aprendi com o meu trágico destino, que nunca deveria apiedar-me de alguém que por natureza é um malfeitor...”

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Recordações

No varal, o calção espirrava sequencialmente. Olhava para os lados, estava só. Quanta tristeza. Molhado, resfriado, preso e sozinho. A solidão o deixava triste. Por alguns instantes, pensou em sua antiga companheira, a saia da vizinha. Como era formosa, atrevida e pequenina.

Naquele momento, desejava mais do que ninguém que ela estivesse ali com ele. Lembrava-se de sua abertura ao meio. Em vez de zipper, botões. As alças serviam apenas de enfeite, era moda, cinto nunca usara. Sua cintura era tão fina que dispensava qualquer aperto. Ficava na medida. Quando a vizinha a vestia, tornava-se mais sensual. Que saia aquela. Quanto tempo.

Se pudesse, voltaria no tempo, permaneceria do lado dela. Jamais a abandonaria. Como foi bom. Dividiram juntos momentos inesquecíveis. Namoravam como loucos fossem. E eram. Um amor igual àquele nunca se viu.

Recordou o dia em que estava vindo da praia. Meio molhado, meio sujo de areia. Ela aproximou-se com um sorriso, abrindo o botão do meio e mostrando a casa aberta. Ficou maluco. Aproximou-se, juntou-se a ela. Aos poucos, a areia despregava de seu corpo.

Por onde andavas agora. Esperava que não estivesse como ele. Velho, surrado, abandonado. Nem para recordações servia. Ninguém o guardou. Dentre em pouco, voltaria para o chão. Por enquanto, servia só como pano de chão.

(Peri Rosacampos) Memórias

Texto produzido em primeira pessoa, autobiográfico. Relata-se a vida de uma personagem (ser, objeto, animal...).

Memórias de um sapato

Há um mês, aproximadamente, vivencio uma solidão a qual jamais imaginei. Estou velho e abandonado. Meu outro par, coitado, deve também estar por aí, sofrendo como eu.

Vejo-me no meio de uma estrada, praticamente, deserta, exposto ao sol e à chuva. Quem por aqui passa nem olha para mim, às vezes, percebo que estou sendo observado por uma ou outra vaca que caminha por um lado e outro, atravessa a estrada e vai à busca do que comer.

Recordo-me de quando era moço, bonito e cheio de brilho. Os poucos dias que passei na vitrine de uma loja, era enamorado por muitas pessoas. Algumas ficavam tristes por não poderem me adquirir. Quando fui comprado por um cavalheiro, senti-me feliz, embora já estivesse com saudades das sandálias que me paqueravam e me desejavam. Uma delas até muito pranteou com a minha partida.

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Nova vida teria dali em diante. Meu dono adorava festas e mantinha-me sempre no brilho. Era elegante. As moças que se aproximavam dele eram bonitas e bem vestidas, e as suas sandálias elegantes gostavam da minha companhia. Como foi bom aquele tempo. Após dois anos de festas e namoros, tudo acabou. Meu dono, por achar-me velho e sem brilho, entregou-me a um senhor muito necessitado que a festas nunca fora, vivia

na rua, assim como hoje estou. (Peri Rosacampos)

O Artigo

Texto de caráter reflexivo, cujo objetivo é apresentar a opinião de quem o produz.

País desenvolvido: equilíbrio entre trabalho e distribuição de renda

O desenvolvimento de um país depende primordialmente de uma distribuição de renda eficaz, visto que, com a riqueza concentrada, o desemprego tende a aumentar, e as oportunidades às pessoas mais pobres se reduzem, acentuando as desigualdades sociais. Diante dessa realidade, o crescimento econômico de um país, se for levado em consideração apenas o PIB per capita, torna-se ilusório. A distribuição desigual de riqueza eleva o PIB, mas não traduz, com fidelidade, a situação econômica real da maioria da sua população.

Em vista disso, o Índice de Desenvolvimento Humano, adotado pela ONU em 1990 com o objetivo de ter um processo avaliativo mais preciso acerca do crescimento econômico de um país, procura espelhar, além da renda, a longevidade da população e o grau de maturidade educacional. Países, como o Brasil, por exemplo, mesmo com uma economia ascendente, não pode ser considerado desenvolvido, pois a desigualdade ainda se faz muito presente.

Para se atingir um grau satisfatório de desenvolvimento, deverá investir bem mais no social, especialmente na educação e na saúde da população. Além disso, a concentração de renda existente no país impede o nosso crescimento. O desemprego ainda perpetua em nossa população. Se não houver uma política eficaz na geração de emprego, a fim de a população poder gozar de poucos privilégios como educação de qualidade e saúde, o Brasil não conseguirá se desenvolver. Mesmo ciente do fato de a má distribuição ser um óbice para esse crescimento, investimentos nas áreas sociais diminuirão o índice de pobreza nacional.

Por conseguinte, a fim de reduzir a grande disparidade econômica e social existente no país, responsável por travar todo o nosso crescimento, torna-se imprescindível que o Governo Federal priorize investimentos na educação de qualidade, por meio de incentivos, com práticas esportivas e artísticas, procurando despertar nos jovens o interesse de se manterem na escola, deverá ainda promover a geração de emprego, ampliando os postos de trabalho existentes e, com incentivos fiscais, permitir a abertura e expansão de novos postos de trabalho.

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O Editorial

Texto de caráter reflexivo, no qual se apresenta a opinião de um jornal ou revista. Morte sobre duas rodas

As mortes por acidentes com motos, no Ceará, tiveram um aumento de 116% em relação ao mesmo período observado no ano passado. O alerta foi dado pelo Instituto Médico Legal (IML). A estatística levou a Secretaria de Segurança Pública e Cidadania (SSPDC) a propor uma campanha de conscientização dos motociclistas sobre as causas que estão provocando tantos óbitos.

O período observado foi o de 1o de janeiro a 15 de maio deste ano. O número de mortos soma 67, o que dá uma média de 13,4 mortes por mês. No ano passado, a média tinha ficado em 6,1, ou seja, 31 mortes, no total do período correspondente. São quase quatro pessoas mortas por semana, em média. Isso é inadmissível e sinaliza necessidade de maior atenção ao problema por parte das autoridades do trânsito.

Dos mortos contabilizados, 91% situam-se na faixa etária até vinte e cinco anos. O Instituto Dr. José Frota também tem levantamento de acidentes com mortos, e o resultado é parecido: as vítimas estão em torno de 29 anos de idade. Entre 1997 e 1998, o hospital detectou um incremento de 200% nesse tipo de acidente. Como se vê, são vítimas produtivas decepadas quando estão na fase mais promissora. Quando não morrem, as vítimas, geralmente, apresentam sequelas muito graves devido ao politraumatismo.

As causas dos acidentes são variadas e envolvem desde o aumento da frota de motos, mobiletes e similares, os buracos nas pistas, ou a falta de manutenção dos veículos. Mas o principal fator continua sendo o humano: a falta de uso do capacete, a condução irresponsável (uso de bebidas alcoólicas) e o desconhecimento das normas do trânsito. Beber, conduzindo um veículo de duas rodas, é fatal. No entanto, as necropsias continuam revelando a presença de álcool nos estômagos das vítimas, em grande parte dos acidentes. Em outras, é a imprudência no guidom. Qual o motorista de automóvel, ônibus, caminhonete ou caminhão que já não se assustou com as manobras altamente imprudentes dos motoqueiros em pistas congestionadas ou de trânsito veloz? Eles surgem de repente como se fossem criados do nada, e, no afã de cumprirem suas tarefas – sobretudo os motoqueiros que fazem entregas –, realizam acrobacias inimagináveis.

A fiscalização – o clamor é geral – é deficiente. Os motociclistas sentem-se livres para fazer o que bem querem. É precisa uma ação mais vigilante dos órgãos responsáveis. Ela deve incluir maior pressão sobre as empresas que contratam serviços de motoqueiros para entregas. É possível verificar a qualidade dos profissionais contratados, se houver empenho dos órgãos encarregados da fiscalização.

O mesmo se diga dos serviços de mototáxis. Aqui, a exigência deve ser ainda maior, tendo em vista a característica do serviço: o transporte de pessoas. Não é apenas a vida do motoqueiro que está em jogo, mas também a do passageiro conduzido, que deve ter todas as garantias de estar pagando um serviço monitorado pelo poder público.

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O Manifesto

É uma declaração pública dos fins que justificam um ato. Texto dissertativo- -argumentativo de caráter reivindicatório.

Manifesto pela criação de novas áreas verdes em Fortaleza

Senhor Prefeito, nós estudantes de Arquitetura, por meio deste manifesto, solicitamos que, com certa urgência, trabalhemos em conjunto com um só objetivo: melhorar as condições de vida da nossa cidade, tornando-a mais sustentável e arborizada. Isso poderá ser realizado com a construção de áreas verdes.

Observa-se, com muita frequência, que os espaços da cidade de Fortaleza estão tomados por veículos particulares, os quais se encontram estacionados em locais que impedem, por exemplo, o tráfego de pessoas, além de se constatar ainda que determinados espaços, os quais poderiam ser utilizados para a construção de áreas verdes, como os canteiros, deixam de existir, pois se ampliam as pistas e os retiram, o que é um agravante à sustentabilidade ambiental.

Estamos cientes de que, se houvesse, um pouco mais de empenho da Prefeitura, na urbanização de nossa cidade, Fortaleza, certamente, seria uma das melhores capitais do Nordeste para se viver. Verifica-se que o problema não está na ausência de espaço, mas no seu mau aproveitamento e na má vontade dos gestores municipais. Os binários, com o objetivo de escoar o trânsito, apenas comprovam que a política de mobilidade está equivocada, porquanto uma cidade ativa prima pelos espaços urbanos de forma sustentável com mais áreas verdes e com a possibilidade de as pessoas se deslocarem a pé.

Sabemos que, no quesito mobilidade urbana, ainda temos muito a fazer. No entanto, mesmo ciente de que estamos longe de tornar Fortaleza uma cidade ativa, pelo menos, busquemos oferecer à população fortalezense um pouco de bem-estar com a construção planejada de áreas verdes. Para tanto, basta substituir os entornos de determinados espaços públicos, como praças e prédios, os quais são utilizados para zona azul, por plantas. Essa atitude mínima e realizável permitirá à população um deslocamento mais seguro, pois transitar-se-á livremente sem a necessidade de disputar espaços com os automóveis.

Por isso, senhor Prefeito, sem que haja a necessidade de maiores manifestações da sociedade fortalezense, ante um direito que lhe apraz, seria de muito bom grado uma rápida atitude nesse sentido com o propósito de permitir bem-estar à população e de transformar nossa cidade em um ambiente mais agradável. Os estudantes de Arquitetura estarão ao seu dispor para que juntos possamos transformar cidade em um ambiente mais saudável.

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O Verbete

Texto conceitual, produzido em bloco formal único (um só parágrafo), mesmo tendo introdução (conceito do vocábulo), desenvolvimento (relações de causa e efeito, manifestações, alusões históricas...) e conclusão.

Saudade

É um sentimento que prende o homem ao seu passado, rebuscando, no presente, as recordações memoráveis que o fizeram feliz em uma determinada época, trazendo para si as imagens nostálgicas que se manifestam, normalmente, quando se está mais sensível aos acontecimentos do cotidiano.

Essa manifestação faz que se perceba a importância de sentir-se amado, apreciador e orgulhoso do que foi, sem se entregar ao acúmulo de tarefas que não permitem reviver tempos gloriosos. Por vezes, busca reconstituí-los a fim de se tornarem mais felizes, já que foram inesquecíveis e prazerosos. A distância que separa o homem de seu passado é primordial para o saudosismo que lhe é intrínseco. Ninguém é capaz de esquecer o que fora e o que vivera. Momentos marcantes enaltecem o íntimo e fortalecem o indivíduo para seguir o seu destino. A saudade, privilégio dos brasileiros enquanto vocábulo, ameniza a angústia causada pelo tão conturbado e caótico momento em que se vive, e é capaz de transportar o homem a um instante particular, proporcionando-lhe a satisfação do que realmente fora.

(Peri Rosacampos)

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A Carta

É um texto escrito em prosa, cuja característica principal é a existência de um emissor e de um receptor. Pode ser produzido tanto na forma narrativa quanto dissertativa. O texto reflete as intenções do remetente ao destinatário. Possui uma estrutura específica.

Fortaleza, 28 de abril de 2005. Prezado amigo,

Recordo-me que, no ano de 2004, precisamente no mês novembro, convidei-o para vir passar o carnaval deste ano conosco. O meu objetivo e de alguns amigos era irmos a Aracati. Fiquei deveras triste por ter escolhido visitar seu avô em Campos do Jordão. Repassei a sua decisão a dois amigos nossos. Eles até ficaram decepcionados, pois contavam com a sua presença. Em todo caso, compreenderam.

O carnaval deste ano, no entanto, amigo, ficará em minha memória por muito tempo. Um acidente de trânsito modificou a vida de muitas famílias. Estávamos nos dirigindo ao local da folia. Passamos por uma churrascaria. Bebemos um pouco, e, pelo caminho, como a CE 040 estava muito congestionada, unimo-nos a outros foliões e dividimos bebidas. O congestionamento, do trecho da cidade de Aquiraz ao Iguape, durou pouco mais de duas horas. Havia muitos carros. Ao passarmos pelo Iguape, não mais havia engarrafamento. No veículo, em ritmo de festa, ao som do Chiclete com Banana, nós quatro dançávamos e brincávamos uns com os outros.

Naquela ocasião, tudo era alegria. Não nos demos conta do perigo iminente. A velocidade era um grande estímulo. A bebida não nos deixava preocupados. O fato é que, ao nos aproximarmos de Beberibe, Marlon, que guiava o veículo em alta velocidade, perdeu o controle do automóvel, colidiu com um poste e despencou em um barranco, capotando por várias vezes. Ele e a namora, a qual estava no banco carona, tiveram morte imediata, o nosso amigo Célio ficou internado, mas infelizmente veio a óbito duas semanas depois. Já eu fui lançado para fora do veículo e tive comprometimento na coluna e algumas costelas quebradas. Encontro-me impossibilitado de andar. Segundo o médico, pode ser que venha a me recuperar.

O carnaval deste ano foi marcado por acidentes automobilísticos jamais registrados. As pessoas, assim como nós, não sabem ao certo o que é realmente divertir-se. Se estivesse conosco, certamente teria sido uma vítima também.

Gostaria, amigo, de agradecê-lo por não ter honrado o nosso compromisso de passarmos o carnaval de 2005 juntos.

Cordialmente,

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A Carta Aberta

É um texto de caráter argumentativo e tem como objetivo transmitir informações de interesse coletivo. Normalmente utilizado como forma de protesto, de reivindicação em benefício a uma comunidade ou grupo social.

Carta aberta à Secretaria de Agricultura do Estado do Ceará

A comunidade agrícola de Barreirinha vem demonstrar sua indignação diante da falta de compromisso da Secretaria de Agricultura em não pôr em prática o que ficou acordado entre os agricultores e a diretoria desta secretaria. Os recursos financeiros para a aquisição de maquinaria e o incentivo à produção de mamona não são suficientes para os agricultores assegurarem a produção.

Na reunião, datada de 20/06/2018, ficou a Secretária disponível a liberar, via Bando do Nordeste, a quantia de 2 milhões de reais. O presidente da comunidade agrícola de Barreira, ao verificar o repasse, achou por bem convocar-nos e apresentar o valor disponibilizado, em torno de 800 mil reais. Todos os membros concordaram em não fazer uso do valor, o qual foi bem inferior ao combinado.

No nosso entendimento, ao usarmos a quantia, não mais teríamos argumentos para reivindicar outros valores. Acreditamos que o ideal seja a devolução da verba, pois não atende às nossas necessidades.

Além disso, o objetivo da comunidade é produzir de forma significativa. Queremos exportar mamona. Não nos cabe uma produção apenas para manter a comunidade e a família de cada agricultor. A Secretaria está ciente disso. O Estado não pode se omitir a tal investimento, considerado mínimo por nós, no entanto muito significativo para o desenvolvimento do Ceará.

Esperamos que a Secretaria repense a nossa proposta, compreenda a nossa atitude e possa realmente garantir o seu papel social. O que queremos é, tão somente, o cumprimento do acordo.

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Capítulo 2

Estudo do Texto Dissertativo As causas da violência urbana

Se a violência é urbana, pode-se concluir que uma de suas causas é o próprio espaço urbano? Os especialistas na questão afirmam que sim: nas periferias das cidades, sejam grandes, médias ou pequenas, nas quais a presença do Poder Público é fraca, o crime consegue instalar-se mais facilmente. São os chamados espaços segregados, áreas urbanas em que a infraestrutura urbana de equipamentos e serviços (saneamento básico, sistema viário, energia elétrica e iluminação pública, transporte, lazer, equipamentos culturais, segurança pública e acesso à justiça) é precária ou insuficiente, e há baixa oferta de postos de trabalho.

Esse e os demais fatores apontados pelos especialistas não são exclusivos do Brasil, mas ocorrem em toda a América Latina, em intensidades diferentes. Não é a pobreza que causa a violência. Se assim fosse, áreas extremamente pobres do Nordeste não apresentariam, como apresentam, índices de violência muito menores do que aqueles verificados em áreas como São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes cidades. E o país estaria completamente desestruturado, caso toda a população de baixa renda ou que está abaixo da linha de pobreza começasse a cometer crimes.

Outros dois fatores para o crescimento do crime são a impessoalidade das relações nas grandes metrópoles e a desestruturação familiar. Esta última é causa e também efeito. É causa porque sem laços familiares fortes, a probabilidade de uma criança vir a cometer um crime na adolescência é maior. Mas a desestruturação de sua família pode ter sido iniciada pelo assassinato do pai ou da mãe, ou de ambos.

No entanto, alguns especialistas afirmam que essa causa deve ser vista com cautela. Desestrutura familiar, por exemplo, não quer dizer, necessariamente, ausência de pai ou de mãe; ou modelo familiar alternativo. A desestrutura tem a ver com as condições mínimas de afeto e convivência dentro da família, o que pode ocorrer em qualquer modelo familiar.

Também não é o desemprego. Mas o desemprego de ingresso – quando o jovem procura o primeiro emprego, objetivando sua inserção no mercado formal de trabalho, e não obtém sucesso – tem relação direta com o aumento da violência, porque torna o jovem mais vulnerável ao ingresso na criminalidade. Na verdade, o desemprego, ou o subemprego, mexe com a autoestima do jovem e o faz pensar em outras formas de conseguir espaço na sociedade, de ser, enfim, reconhecido.

Sem conseguir entrar no mercado de trabalho, recebendo um estímulo forte para o consumo, sem modelos próximos que se contraponham ao que o crime organizado oferece (o apoio, o sentimento de pertencer a um grupo, o poder que uma arma representa, o prestígio), um indivíduo em formação torna-se mais vulnerável.

O crescimento do tráfico de drogas, por si só, é também fator relevante no aumento de crimes violentos. As taxas de homicídio, por exemplo, são elevadas pelos “acertos de conta”, chacinas e outras disputas entre traficantes rivais.

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E, ainda, outro fator que infla o número de homicídios no Brasil é a disseminação das armas de fogo, principalmente das armas leves. Discussões banais, como brigas familiares, de bar e de trânsito, terminam em assassinato porque há uma arma de fogo envolvida.

(Luís Antonio Francisco de Souza – sociólogo) Ao lermos o texto acima, constatamos que estamos diante de um texto dissertativo-argumentativo, porquanto se evidencia o posicionamento do autor acerca de uma determinada temática. Para convencer o leitor de que seu ponto de vista se apresenta lógico e coerente, utilizou-se de argumentos, com o propósito de oferecer ao leitor credibilidade no que se afirma.

Entende-se por dissertação todo e qualquer texto, escrito em prosa, em que se apresente uma análise acerca de uma determinada temática de forma parcial ou imparcial. O Discurso dissertativo

O discurso dissertativo pode ser argumentativo ou expositivo.

a) Dissertativo-argumentativo – com a utilização de argumentos, de forma parcial, o autor se propõe a defender um ponto de vista e a convencer o leitor acerca de uma determinada temática.

b) Dissertativo-expositivo – de forma imparcial, sem apresentar posicionamentos pessoais, o autor se propõe apenas a informar o leitor acerca de um determinado assunto.

Dissertativo-argumentativo A obsolescência programada

Em meados de 1920, a indústria de lâmpadas passou a perceber a necessidade de reduzir o tempo de durabilidade de seus produtos, com a alegação de que, com essa atitude, haveria uma redução do desemprego, porquanto as vendas aumentariam. Além disso, movimentaria o capital, e todos ganhariam. Nesse sentido, surge a obsolescência programada, cuja finalidade, nos dias atuais, se distancia da geração de emprego. Seu foco se resume a incentivar o consumismo e garantir lucros a grandes empresas.

Com o propósito de alcançar seus objetivos: vender mais e lucrar mais ainda, a indústria aliou-se à mídia e buscou adotar uma política de consumo baseada, especialmente, na vulnerabilidade da população em relação à aquisição de produtos, tornando-a dependente do consumo. Na maioria das vezes, a substituição de um produto por outro se dá pelo simples fato de se querer adquirir um modelo mais novo, e não por necessidade. Isso ocorre, com mais notoriedade, com eletrônicos e com automóveis, por exemplo.

Esse ato, diferentemente da obsolescência programada, a qual se constitui por uma limitação predeterminada do tempo de duração de mercadorias, faz surgir um novo tipo de obsolescência: a psicológica, a qual conta com o apoio da mídia para incentivar o consumidor a comprar um novo produto, mesmo que o anterior ainda esteja em perfeito estado de funcionamento. Como afirmava George Orwell, “A massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa.”

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Com essa prática recorrente, é correto afirmar que as empresas ampliam os seus negócios, a economia fica mais aquecida e as ofertas de emprego se acentuam. Em contraposição, não se pode olvidar de seus malefícios como a dependência ao consumismo, amplamente incentivado pela mídia, a qual compactua com a lógica capitalista, idealizada sob a égide de que a felicidade do indivíduo está proporcionalmente ligada ao seu poder de consumo.

Por conseguinte, percebe-se objetivamente que a finalidade da obsolescência programada não é a geração de empregos, consequência apenas da ampliação de indústrias e grandes empresas, as quais se beneficiam com essa prática, mas incentivar o consumismo e poder auferir mais lucros.

(Peri Rosacampos) Dissertativo-expositivo

O surgimento da chikungunya

A chikungunya é uma doença febril aguda, causada pelo vírus chikungunya (CHIKV), que pode ser transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Chikungunya significa “aqueles que se dobram” em um dos idiomas da Tanzânia. Trata-se de uma referência à aparência curvada dos pacientes que foram atendidos na primeira epidemia documentada no país, localizado no leste da África, entre 1952 e 1953.

Casos humanos com febre, erupção cutânea e artrite aparentando ser CHIKV foram relatados no início de 1770, mas o vírus não havia sido isolado do soro humano ou de mosquitos até a epidemia na Tanzânia.

Outros surtos ocorreram na África e na Ásia, muitos em pequenas comunidades ou comunidades rurais. Na Ásia, cepas de CHIKV foram isoladas durante grandes surtos urbanos em Bangkok e Tailândia em 1960 e em Calcutá e Vellore, na Índia, durante as décadas de 60 e 70.

A atual epidemia se iniciou em 2004 na Ilha de Lamu, no Quênia, e desde então está se espalhando pelas regiões do mundo onde se encontram os mosquitos vetores competentes.

Com uma simples leitura dos dois textos, fica muito clara a diferença entre o texto dissertativo-argumentativo e o texto dissertativo-expositivo. No primeiro, o autor se propõe a apresentar ao leitor o seu posicionamento diante da obsolescência programada e utiliza-se de argumentos com o objetivo de deixar claro que a obsolescência programada acentua o consumismo e surge como uma característica do capitalismo, negando a ideia inicial de geração de emprego. No segundo texto, a preocupação do autor é apenas informar o surgimento da chikungunya (sua origem) e como se deu a sua epidemia.

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O Dissertativo-argumentativo

Neste trabalho, priorizaremos o texto dissertativo-argumentativo, cuja estrutura assim se apresenta:

a) Introdução – apresentação do tema proposto em que o autor expõe o seu ponto de vista.

b) Desenvolvimento – explanação detalhada em defesa do ponto de vista, em relação ao tema tratado, com argumentos convincentes capazes de convencer o leitor acerca do que se afirma.

c) Conclusão – fechamento do texto com reforço ao processo argumentativo em defesa do ponto de vista apresentado ou sugestões que possam ser viáveis à solução de um determinado problema se assim for de desejo do produtor.

Posicione-se acerca do tema: para combater a violência infanto-juvenil, algumas cidades adotaram o toque de recolher.

Introdução

O toque de recolher, medida judicial, aplicada em algumas cidades interioranas, configura ato ilegal do Poder Público, porquanto fere princípios constitucionais e invade liberdades individuais, materializando atuação abusiva da administração pública. Desenvolvimento

Essa atuação excessiva é verificada em razão de que o ato do juiz, decretando o recolhimento de crianças e adolescentes, a partir de determinado período noturno, caracteriza afronta ao princípio constitucional da separação dos poderes, idealizado por Montesquieu, os quais se apresentam harmônicos e independentes entre si. Essa atitude imiscui o Poder Judiciário, ilicitamente, na atividade legislativa, a qual é exclusiva do Poder Legislativo.

Tal ingerência se confirma, porque a decisão judicial, em comento, configura-se pela abstração e generalidade, características dos atos legislativos. Além disso, inova na ordem jurídica, prevendo limitação a direitos individuais, como a liberdade de locomoção, insculpidos no artigo 5º da Constituição Federal. É correto afirmar que há defensores do toque de recolher, os quais procuram justificar a decisão com dados estatísticos que apontam a diminuição da delinquência nas cidades onde a medida foi implementada. Isso, todavia, não é o bastante para tornar a decisão legítima.

Conclusão

Por conseguinte, percebe-se que essa medida está em descompasso com nosso ordenamento jurídico. O que se deve fazer, para reduzir a violência infanto-juvenil, é o Poder Judiciário, de acordo com as suas atribuições, elaborar projetos de leis, cujo objetivo seja a obrigatoriedade de todas as crianças e adolescentes frequentarem a escola em tempo integral, na qual se trabalhe o lado acadêmico e social, com atividades esportivas, musicais, teatrais e cursos específicos, os quais possam despertar neles o interesse pela escola.

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Exercitando a produção

1. Utilizando-se do parágrafo introdutório, responda ao que se pede: a) Reescreva a passagem em que o autor expõe o seu ponto de vista

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ b) Reescreva a passagem em que o autor apresenta o tema proposto

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 2. Utilizando-se do desenvolvimento, responda ao que se pede:

a) Retire do segundo e do terceiro parágrafos do texto, pelo menos, uma passagem que reforça o ponto de vista do autor.

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ b) Retire do segundo e do terceiro parágrafo do texto, pelo menos, uma passagem

que possa oferecer ao leitor credibilidade em defesa do ponto de vista do autor. _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 3. Utilizando-se do parágrafo conclusivo, responda ao que se pede:

a) O autor optou por reforçar o processo argumentativo ou por apresentar sugestões que possam amenizar o problema? Retire passagens do parágrafo conclusivo que possam embasar a sua afirmação.

b) O autor faz uso de determinados elementos para ligar os parágrafos de forma a manter uma dependência entre eles. Reescreva as passagens em que se registra a ligação entre os parágrafos.

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________

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Capítulo 3

Estudo do Texto Dissertativo-argumentativo no Enem

Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet O atual estágio da globalização, tão defendido pelo geólogo Milton Santos, como sendo o da revolução técnico-científico-informacional, é caracterizado pela expansão dos meios de comunicação. Dentre esses, destaca-se a internet que, nas últimas décadas, vem se tornando cada vez mais presente no cotidiano dos brasileiros. Das redes sociais às plataformas digitais de serviços, o que o usuário vê e ouve é determinado por análises prévias de seus dados pessoais. Nesse contexto, o crescente controle do indivíduo por tal processo é uma discussão ainda pouco feita no Brasil.

Para ilustrar tal quadro, podem-se citar dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mostram que, em 2016, mais da metade da população brasileira, com idade acima de 10 anos, já havia usado a internet. Nota-se assim a crescente presença da rede virtual nas ações e nas escolhas individuais do povo. A manipulação, nesse caso, ocorre através da análise de dados de perfis online ou de entrevistas feitas previamente por prestadoras de serviços, como a Netflix e o Youtube, que conseguem assim personalizar suas funções. Apesar da facilidade, concedida nesse processo, ao acesso ao conteúdo desejado, tal personalização forçada acaba limitando a escolha dos usuários, tirando-lhes as possibilidades de novas experiências e, por conseguinte, criarem um gosto próprio.

Dessa maneira, pode-se dizer que há uma quebra do princípio de livre expressão prescrito pela Constituição de 88, haja vista as escolhas dos indivíduos não mais serem feitas conscientemente, passando a ser determinadas por algoritmos utilizados pela internet para a escolha do conteúdo analisado. Cria-se assim uma “ilusão de liberdade”, tal como citado no livro “O gosto na era do algoritmo” de Daniel Verdú.

Dessa forma, cabe ao Governo Federal exigir uma maior transparência dos meios usados pelas plataformas de serviços para a individualização dos conteúdos disponibilizados com o fito de tornar mais evidente tal influência nas escolhas e ações pessoais dos usuários e, assim, tornar mais fácil uma resistência à tão sutil e danosa manipulação da livre expressão. Isso poderá ser feito através da aplicação das normas de integridade psicológica, já prevista no Marco Civil da Internet bem como pela exigência de explicação sobre a necessidade de coleta de dados pessoais com avisos prévios aos compradores dos serviços.

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O texto que inicia o capítulo 4 foi tema da redação do Enem de 2018. O nosso aluno Bruno Henrique, autor do texto, conquistou, nesta prova, 960 pontos, recendo a pontuação máxima, coerentemente, nas Competências 2, 3, 4 e 5, sendo apenado apenas na Competência 1, pois cometeu alguns erros de ordem gramatical. Esses erros foram corrigidos, mas passarei a vocês. Vamos a eles: na primeira linha do segundo parágrafo, erro de concordância “pode-se citar os dados” (podem-se citar os dados); na penúltima linha, erro de regência em “tirando-os”, o correto seria tirando-lhes e erro de acento em “experiencia” (experiência). No terceiro parágrafo, na segunda linha, fez uso indevido da expressão “haja vista que” (essa forma não existe), o correto seria haja vista ou então substituir a expressão pela locução conjuntiva visto que. No parágrafo conclusivo, na quarta linha, acentuou indevidamente o vocábulo “sútil” (sutil), a escrita correta seria sem acento sutil.

A Dissertação e as Competências

O Exame Nacional do Ensino Médio exige dos vestibulandos um conhecimento do texto dissertativo-argumentativo, no qual o candidato irá se posicionar diante de uma temática e organizar o seu processo argumentativo em defesa de um ponto de vista. Além disso, deverá ainda apresentar soluções viáveis para a proposta apresentada. Como critério de correção, a instituição faz uso de cinco Competências.

As Competências

A Prova de Redação do Enem será avaliada consoante as exigências presentes nas cinco competências, norteadoras para a pontuação do candidato.

Competência 1

Nessa competência, deverá o estudante ter um amplo conhecimento acerca do código linguístico (domínio idiomático e vocabular)

Competência 2

Nessa competência, dois aspectos serão analisados: um de ordem estrutural, o qual exigirá do estudante o conhecimento acerca da tipologia dissertativo-argumentativo; outro de ordem conteudística, o qual exigirá do estudante um desenvolvimento adequado, direcionado ao eixo temático, demonstrando um amplo conhecimento, por meio de um repertório sociocultural produtivo. Para isso, é imprescindível que o produtor aborde várias áreas do conhecimento com o objetivo de garantir um bom processo argumentativo em defesa do ponto de vista.

Competência 3

Nessa competência, caberá ao estudante, por meio de uma seleção adequada de informações, selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

Competência 4

Nessa competência, o produtor deverá demonstrar um amplo conhecimento dos mecanismos linguísticos (recursos de coesão), necessários para a articulação do processo argumentativo. A articulação torna-se essencial para um bom entendimento do texto.

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Competência 5

Nessa competência, o estudante deverá apresentar uma proposta de solução (proposta de intervenção), a qual seja viável. É importante que a proposta esteja bem relacionada com a discussão desenvolvida no texto.

A Estrutura da Dissertação no Enem

O texto dissertativo assim deve ser estruturado: • Introdução

• Desenvolvimento • Conclusão

a) Introdução - Consiste na apresentação adequada da temática, preparando o produtor para o desenvolvimento do texto. Em textos argumentativos, torna-se essencial a presença do ponto de vista (tese) já no parágrafo introdutório.

b) Desenvolvimento - Consiste na explanação, de forma concisa e contextualizada, da temática abordada, por meio de argumentos convincentes, os quais, para se atingir a defesa do ponto de vista de forma satisfatória, devem vir sempre bem fundamentados. c) Conclusão - No parágrafo conclusivo, poderá o produtor reforçar o seu posicionamento diante da temática, como uma retomada ao processo argumentativo; elaborar sugestões; ou apenas apresentar mais uma informação, a qual considere relevante para assim concluir o seu pensamento.

Observação - Na redação do ENEM, normalmente usa-se o parágrafo conclusivo para apresentar a proposta de intervenção.

A proposta de intervenção deve ser composta por: a) ação interventiva – o que fazer

b) agente(s) – quem fazer

c) a maneira de execução (modo / meio) – como fazer d) objetivo da ação – para que fazer

e) detalhamento – acréscimo de informação à ação interativa, ao agente ou ao modo de execução.

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Texto para análise

Democratização do acesso ao cinema no Brasil

O acesso ao cinema no Brasil, como forma de lazer ou de engrandecimento cultural e intelectual, apresenta-se como fundamental, uma vez que esse tipo de arte possibilita, inclusive para as camadas sociais menos favorecidas, a maior compreensão do mundo como um todo, haja vista abranger temas incontáveis, os quais podem, até mesmo, ter um caráter conscientizador. Entretanto, grande parte da população, especialmente os indivíduos residentes das áreas interioranas e os pertencentes às classes sociais mais baixas, ainda não tem contato com essa realidade artística, o que suscita a necessidade de sua maior democratização.

Esse ponto de vista pode ser confirmado se observada a incidência de cinemas nas cidades brasileiras. É nítida a concentração dessa plataforma artística nos grandes centros urbanos em detrimento das cidades do interior, as quais raramente possuem acesso a salas de projeção. Isso faz com que a parcela dos cidadãos que residem nessas áreas seja impedida de conhecer esse “universo” cinematográfico, que é tão grande e repleto de histórias, as quais possuem tanto caráter de lazer, como os romances e as comédias, quanto fins educativos e conscientizadores, o que é o caso dos documentários de ciências. Diante disso, é perceptível que a massificação cultural, proposta pela Escola de Frankfurt, que proporcionaria a democratização da arte, segundo Walter Benjamin, na verdade é só uma ilusão, já que nem todos os indivíduos foram inseridos nesse processo.

Além disso, é visível que, até mesmo nos centros urbanos, essa forma de arte ainda possui características segregacionistas, porquanto, se analisados os preços dos ingressos nos cinemas brasileiros, será fácil perceber que os valores são altos e, por conta disso, as camadas menos favorecidas da população raramente poderão ter acesso a sessões de filmes. Essa situação é realmente preocupante, visto que limita e elitiza uma plataforma artística, consagrando, ainda mais, os problemas sociais brasileiros, haja vista favorecer a criação de uma “barreira” intransponível entre os setores da sociedade, permitindo apenas a alguns o alcance do conhecimento oriundo dessa fonte. Tal contexto pode, também, ser sintetizado pelo que afirmava o sociólogo Jean-Paul Sartre, o qual acreditava que qualquer forma de violência, independente da maneira com a qual ela se manifestasse, seria sempre uma derrota. Logo, não contribuir com essa democratização é concretizar uma realidade desigual e injusta.

Por conseguinte, com o propósito de favorecer a democratização do acesso ao cinema no Brasil, faz-se necessário que o Estado promova a criação de projetos os quais tenham como objetivo efetivar o contato da população com essa forma de arte. Isso poderá ser feito por meio da construção de salas de cinema, tanto em cidades do interior quanto em bairros de maior incidência de indivíduos pobres, as quais serão feitas de modo acessível, com um preço baixo. Dessa forma, os conhecimentos culturais e intelectuais, além do lazer proporcionado por essa plataforma artística, serão efetivos, com sucesso, no contexto social.

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Exercitando a produção

Para responder às questões que seguem, utilizaremos o texto da aluna Larissa Ciarlini. 1. O parágrafo introdutório deve conter informações que induzam o leitor a perceber

qual o assunto será abordado e deve também conter o ponto de vista do autor. Diante dessa afirmação, responda aos itens abaixo:

a) Retire do parágrafo passagens que possibilitem o leitor a compreender o assunto a ser tratado.

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ b) Reescreva a passagem em que se verifica o posicionamento do autor.

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 2. Utilizando os parágrafos de desenvolvimento, responda ao que se pede.

a) No segundo e no terceiro parágrafos do texto, verifica-se que há, por parte do autor, passagens de caráter autoral, utilizadas para a defesa do ponto de vista, retire de cada parágrafo, pelo menos, duas passagens.

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ b) Com o objetivo de oferecer maior credibilidade ao leitor, a autora se utilizou

de recursos argumentativos, dentre eles o de autoridade ao mencionar determinados teóricos. Reescreva as passagens em que há essa menção. _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 3. No parágrafo conclusivo, a autora atendeu a exigência da instituição apresentando

os quatro elementos (agente, ação, modo/meio, resultado – finalidade) além do detalhamento. Diante disso, responda ao que se pede.

a) Reescreva a passagem em que se visualizem o agente e a ação

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________

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b) Reescreva a passagem em que se visualiza o modo/meio

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ c) Reescreva a passagem em que se visualiza a finalidade como resultado da ação

interventiva

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ d) Reescreva a passagem em que se comprova o detalhamento

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 4. Quanto ao uso dos recursos de coesão, responda aos itens a seguir:

a) Destaque os elementos utilizados para ligar um parágrafo ao outro

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ b) Utilizando-se dos parágrafos de desenvolvimento, retire passagens com a

presença de pronomes que substituem o termo anterior ou que fazem referência a uma ideia anterior.

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ c) Ainda, fazendo uso dos parágrafos de desenvolvimento, destaque três

conectores que ligam uma oração a outra. Reescreva-as.

_____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________

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Capítulo 4 Estudo da Introdução

Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil

Nas décadas de 80 e 90, a proposta de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais surge como um avanço social e inovador, no entanto o número de alunos com deficiência nas escolas, especialmente os que possuíam restrição auditiva, era insignificante em relação à demanda. Na maioria das vezes, não frequentavam a escola, e, quando a frequentavam, não recebiam uma atenção especial, haja vista não haver uma preparação das instituições de ensino para recebê-los e garantir-lhes uma educação de qualidade. Tinham, na verdade, que frequentar escolas específicas para surdos-mudos, as quais não atendiam a demanda.

Nos dias atuais, embora a Constituição Federal estabeleça que todo cidadão tem o direito ao acesso à educação, independentemente de sua condição física ou mental, o processo de inclusão se apresenta ainda como um grande desafio, porquanto boa parte das escolas brasileiras, por serem tradicionais, não dispõe de professores e gestores capacitados para lidar com portadores de deficiência auditiva. Isso é facilmente comprovado quando se verifica o ínfimo número de profissionais com conhecimento em Libras. Em geral, os que têm esse domínio trabalham em escolas específicas para surdos-mudos.

Em virtude disso, a exclusão se acentua. Pelo fato de as escolas não estarem munidas de recursos humanos para lidar com essas pessoas, o que constitui uma afronta aos direitos constitucionais, a possibilidade de ter acesso a uma universidade se reduz. Como consequência, o ingresso no mercado de trabalho, com um emprego digno, se torna quase impossível. Os que conseguem uma formação universitária são considerados heróis. Infelizmente no Brasil constitui-se ato de heroísmo um deficiente auditivo concluir o nível superior.

Como se não bastasse, há ainda o preconceito do qual são vítimas. Não é incomum, em supermercados, por exemplo, ficarmos sem saber o que fazer quando estamos diante de um funcionário com deficiência auditiva. De imediato, fugimos de um possível diálogo gestual do qual não temos domínio. Além disso, pode-se também verificar o descaso a que estão submetidos, quando procuram um atendimento em bancos ou em qualquer outra instituição, pois não dispõem de pessoas qualificadas para prestar-lhes um atendimento adequado. Isso ocorre porque não há uma preocupação em difundir a língua dos sinais.

Essa situação, portanto, deixa muito clara a ideia de que a inclusão social, para poder se concretizar, precisa percorrer um imenso caminho. Daí a necessidade de o Governo Federal, por meio de cursos de extensão, promover a capacitação de professores, pedagogos e gestores no ensino de Libras, cujo objetivo não se restrinja somente à facilitação em repassar um determinado conteúdo, mas a propagá-la aos demais alunos, tornando-a acessível a todos.

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Introdução

Compreendamos a introdução de um texto dissertativo-argumentativo como uma apresentação do tema abordado e como uma preparação do leitor para o desenvolvimento, em que o produtor, de forma clara e concisa, expõe o seu ponto de vista acerca do assunto tratado. A introdução deve nortear o leitor e atraí-lo para uma leitura satisfatória.

Não se deve imaginá-la como um resumo ou como um amontoado de argumentos os quais serão sequencialmente desenvolvidos nos parágrafos de posteriores, mas como uma apresentação. O parágrafo introdutório deve ter início, meio e fim.

No Enem, é fundamental o produtor apresentar, no parágrafo introdutório, o seu ponto de vista (tese).

Possibilidades de introdução

O produtor de um texto deve ter o conhecimento das diversas maneiras de elaborar o parágrafo introdutório. É imprescindível a compreensão de que a introdução dependerá do tema proposto, logo, de acordo com o tema, caberá ao produtor verificar o melhor caminho para preparar o seu parágrafo introdutório.

Dentre as diversas maneiras de introduzir um texto, apresentarei quatro possibilidades distintas:

a) Alusão história b) Citação c) Declaração

d) Palavra-chave (afirmação + justificativa + conclusão)

a) Alusão histórica

O autor se utiliza de um fato histórico o qual possa ser relacionado com a ideia temática a ser bordada

Camarotização da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia

Com a redemocratização do país, após o fim da Ditatura Militar em 1984, acreditou-se no fim das desigualdades sociais, econômicas e culturais, ideia reforçada com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a qual preconiza direitos iguais a todos os cidadãos brasileiros. No entanto, nos dias atuais, percebe-se claramente que a segregação das classes não só se mantém como também acentuou especialmente quando a população mais carente passou a ter acesso a bens e consumo e a ocupar determinados espaços antes inacessíveis.

Referências

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