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PAISAGEM HISTÓRICA DE PRESIDENTE PRUDENTE (VILA GOULART E VILA MARCONDES): cenário e atmosfera na cidade atual

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PAISAGEM HISTÓRICA DE PRESIDENTE PRUDENTE (VILA

GOULART E VILA MARCONDES): cenário e atmosfera na cidade

atual

HIRAO, HÉLIO

UNESP-Campus de Presidente Prudente, Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente Rua Roberto Simonsen, 305, Presidente Prudente SP

hirao@fct.unesp.br

RESUMO

Investigação sobre a permanência do cenário e da atmosfera da Arquitetura e Urbanismo produzido nas décadas de 1940/1950 em Presidente Prudente. Trata dos núcleos que iniciaram o processo urbano. A Vila Goulart, núcleo em frente à estação, sofreu inúmeras transformações ao longo do tempo tornou-se o centro da cidade, parte de suas construções históricas foram demolidas e substituídas por uma arquitetura moderna e outras, a maioria, atenderam os interesses do mercado imobiliário. No entanto, o cenário histórico persiste mantendo o caráter material de sua paisagem, mesmo com o processo de segmentação socioespacial em curso, ainda apresenta diversidade e simultaneidade de usos e apropriações por uma população de diversas classes econômicas com grande fluxo de pessoas e autos caracterizando vitalidade em sua ambiência tendo como suporte material, um cenário contendo os diversos tempos composto por suas edificações e espaços públicos abertos. Por outro lado, a Vila Marcondes, do lado de trás da estação, onde se localizaram os galpões industriais e a habitação dos operários, exibe, além da manutenção e requalificação de seu patrimônio histórico material como a Antiga Indústria Matarazzo, reconfigurado para Centro Cultural, Antigo IBC em Centro de Eventos, e demolição de vários registros de seu Patrimônio Industrial, como os galpões da SAMBRA, edificações comerciais como armazéns, habitações singelas e uma população de idosos (antigos moradores) que mantem uma atmosfera remetente aos tempos iniciais de ocupação. Entre Vilas, a faixa abandonada da Estada de Ferro, linear, vazia, divide esses lados e garante a permanência da diversidade de atmosferas da cidade. Assim, este texto, a partir dos dados obtidos da pesquisa sobre a identificação do patrimônio urbano e arquitetônico da década de 1940/1950 de Presidente Prudente, reconhecidos e armazenados num banco de dados como parte de um inventário de identificação da cidade realizada entre 2013 e 2015 com o auxilio financeiro da FAPESP- Fundação de Pesquisa do Estado de São Paulo discute a questão da preservação e manutenção do cenário e atmosfera histórica no cotidiano atual de seus moradores em uma cidade de porte médio do interior do estado de São Paulo.

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1 Introdução

Paisagem característica de Presidente Prudente, os núcleos que iniciaram o processo urbano, Vila Goulart e Vila Marcondes mantêm parte de seu patrimônio urbano e arquitetônico produzido nas décadas de 1940/1950, identificando a cidade.

A Vila Goulart, núcleo em frente à estação, right side, sofreu inúmeras transformações ao longo do tempo, concentra ainda, as principais instituições públicas e privadas, e foi local de moradia das classes sociais mais privilegiadas, parte de suas construções históricas foram demolidas e substituídas por outras, atendendo os interesses do mercado imobiliário. No entanto, o cenário histórico persiste mantendo o caráter material de sua paisagem, com as duas praças, uma em frente à catedral e outra do lado da estação ferroviária interligada por vias comerciais em que se localizam a prefeitura, escola, fórum, hotéis, hospitais, polícia, lojas comerciais e casario residencial, entre outros. E mesmo com o processo de segmentação socioespacial em curso, ainda apresenta diversidade e simultaneidade de usos e apropriações por uma população de diversas classes econômicas com grande fluxo de pessoas e autos caracterizando vitalidade em sua ambiência tendo como suporte material, um cenário contendo os diversos tempos composto por suas edificações e espaços públicos abertos.

Por outro lado, a Vila Marcondes, do lado de trás da estação, wrong size, onde se localizaram os galpões industriais e a habitação dos operários, exibe, além da manutenção e requalificação de seu patrimônio histórico material como a antiga Indústria Matarazzo, reconfigurado para centro cultural, antigo IBC em centro de eventos, e demolição de vários registros de seu Patrimônio Industrial, como os galpões da SANBRA, edificações comerciais como armazéns, habitações singelas e uma população de idosos (antigos moradores) que mantem uma atmosfera remetente aos tempos iniciais de ocupação.

Entre Vilas, a faixa abandonada da estrada de ferro, linear, vazia, e com ocupações consideradas marginais, divide esses lados e garante a permanência dessa diversidade de atmosferas da cidade.

O processo de formação do núcleo urbano teve características distintas. A ocupação promovida pelo Coronel José Soares Marcondes, a partir de 1919, empreendeu características empresariais para época com a implantação do parcelamento do solo organizado e controlado por seu escritório em São Paulo, a Companhia Marcondes de Colonização, tanto nas medições, pagamentos e documentação dos lotes, como também ao

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proporcionar infraestrutura para o futuro morador realizar o plantio do café. Por outro lado, Coronel Manoel Goulart, esteve mais preocupado em promover a ocupação do território, permanecendo no local, facilitando a venda e aquisição dos lotes, inclusive realizando trocas com produção agrícola.

Assim, este texto, a partir dos dados obtidos da pesquisa sobre a identificação do patrimônio urbano e arquitetônico da década de 1940/1950 de Presidente Prudente, reconhecidos e armazenados num banco de dados como parte de um inventário de identificação da cidade realizada entre 2013 e 2015, com o auxilio financeiro da FAPESP- Fundação de Pesquisa do Estado de São Paulo, discute a questão da preservação e manutenção do cenário e atmosfera histórica no cotidiano atual de seus moradores em uma cidade de porte médio do interior do estado de São Paulo.

2 Dois coronéis, dois núcleos, uma cidade

O processo da expansão da cultura cafeeira e a especulação de terras no oeste do Estado de São Paulo, a vinda de pessoas de Minas Gerais devido à decadência do ciclo da mineração e o prolongamento da Estrada de Ferro Sorocabana proporcionaram a viabilidade do surgimento de novas cidades no oeste paulista (Abreu, 1972; Sposito, 1983).

Neste contexto, dois coronéis promoveram a ocupação territorial de Presidente Prudente através da implantação de loteamentos como suporte para venda de lotes rurais da gleba Montalvão do Coronel José Soares Marcondes e da gleba Pirapó-Santo Anastácio do Coronel Francisco de Paula Goulart (Abreu, 1972; Sposito, 1983).

Goulart descrito por Abreu (1994) como um caboclo retraído, cauteloso e desconfiado atuou de forma individual sem planificação e sem capital a ser investido, teve como recurso apenas a terra herdada a ser comercializada. Por outro lado, Marcondes, caboclo polido, extrovertido e ambicioso empreendeu caráter empresarial às suas atividades, com suporte de capital, investindo em publicidade e planejamento, entretanto agiu de forma personalista.

Essas diferentes formas de gestão desde o projeto, a negociação e a implantação dos loteamentos caracterizaram a paisagem inicial e influenciaram na identidade dos lugares da cidade.

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2.1 Vila Goulart, frente da Estação

Em setembro de 1917, o engenheiro responsável pelas obras do prolongamento da Estrada de Ferro Sorocabana, João Carlos Fairbanks, delimita a Vila e a fazenda de Goulart demarcando a via em frente à estação. O próprio coronel esboçou e locou o loteamento desenhado de forma definitiva pelo agrimensor prático Cassio Rawlston da Fonseça: um quadrilátero composto de 25 quadras de 88 metros por 88 metros, delimitadas por quatro avenidas. De um lado a praça da estação, de outro a da igreja, entre elas lotes que foram ocupados pelo comércio, serviços, instituições e residências.

Nesse contexto, Goulart, presente no núcleo, pessoalmente resolvia a seu modo, as questões de compra e posse dos terrenos, acarretando agilidade burocrática e menores custos financeiros, bem como solucionava os problemas e conflitos diários dos colonos. Além disso, o fato de seu loteamento localizar-se em frente a estação e apresentar topografia menos acidentada que a outra Vila, favoreceu o processo de expansão urbana e ocupação de seu quadrilátero.

2.2 Vila Marcondes, atrás da Estação

De outro modo, Coronel Marcondes no comando da Companhia Marcondes de Colonização, Indústria e Comércio, sediada na Capital do Estado, inicia um processo especulativo organizado na venda e dos lotes. Assim, incumbiu o Diretor Técnico da Companhia, Joaquim Mariano de Amorim Carrão para projetar a Vila Marcondes, um parcelamento quadriculado regular com locação de uma igreja, uma praça, e o armazém previsto pela Empresa, visando abastecer o dia a dia dos proprietários, trabalhadores e familiares dos lotes rurais.

Dessa forma, Marcondes, buscou colonizadores em outras regiões, investiu em publicidade e utilizou sua estrutura empresarial no processo de formação da Vila Marcondes.

Todo o procedimento de venda e aquisição foi baseado em leis, com todo o tramite burocrático organizado e com correta marcação dos lotes. Contudo, se por um lado garantia um procedimento correto, profissional e certificado, acarretou em mais custos e, aliado a uma topografia menos favorável da gleba, como consequência, verificou-se que a ocupação do parcelamento marcondista não acompanhou o desenvolvimento e a dinâmica do outro lado da via ferréa.

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cereais na Vila de acesso à estação favorece a ocupação industrial do lado Marcondista (Paiva; Baron, 2015). Desta forma, nas décadas de 1940 e 1950 os principais equipamentos industriais como as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro- SANBRA e galpões do Instituto Brasileiro do Café instalaram-se deste lado do núcleo urbano.

As indústrias, vilas operárias e uma rua de comércio (atual Quintino Bocaiúva) de fronte a igreja caracterizaram a ocupação e determinaram a identidade do lugar.

2.3 Entre Vilas, a faixa de domínio da linha férrea

Desde o início da ocupação, o espaço entre as vilas, uma extensa faixa de terras que margeia os trilhos da estrada de ferro e separa transversalmente os loteamentos caracteriza um “vazio“ linear, um obstáculo a ser transposto.

Inicialmente o cruzamento se dava em nível, para os pedestres, para o tráfego de autos foi construída uma interligação com porteira na continuação da atual rua Nicolau Maffei. Somente em 1932 foi inaugurado um pontilhão sobre os trilhos da ferrovia (Abreu, 1972).

Dessa forma, esse “vazio” com horizontalidade predominante define um espaço de transição entre as Vilas dos Coronéis contribuindo, também, para a formação de paisagens distintas de cada lado da Estação Ferroviária.

3 A formação da paisagem

Para Marx (1980), o avanço acelerado da marcha do café e as características e exigências do traçado da ferrovia no oeste do Estado, determinaram a produção de um novo cenário urbano, monótono e regular. Havia necessidade de realizar, rapidamente, o parcelamento do solo para venda imediata.

Após o primeiro momento, anos 1920/1930, os núcleos, de base da ocupação visando dar apoio aos colonos e suas terras rurais, aos poucos consolidam uma paisagem diferenciada. Enquanto a Vila Goulart adquire características de “centro urbano” com o adensamento de atividades e serviços, a Vila Marcondes concentra armazéns e empresas de beneficiamento (Whitacker,1997).

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A cidade assume gradativamente importância política administrativa e nas décadas de 1940/1950 aproveitando esse contexto e com os recursos econômicos proporcionados pela agricultura, comércio e serviços, uma série de edificações públicas e privadas foi construída configurando as paisagens das Vilas Goulart e Marcondes.

No loteamento de Goulart, no entorno da Catedral e da Praça, uma edificação singela com características art déco e eclética, implantaram-se: a prefeitura, o fórum, a escola, o bar Cruzeiro do Sul, os cinemas, os correios, a delegacia, a casa de saúde, entre outros. Em direção à estação, hotel, armazéns, lojas e residências.

Do outro lado, no núcleo Marcondes, uma série de indústrias como a Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, galpões do Instituto Brasileiro do Café- IBC, conjunto arquitetônico da Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro- SANBRA e Indústrias de Bebidas Wilson, entre outras, caracterizaram a paisagem entre lojas e residências de alvenaria e madeira, construções mais singelas do que o da Vila Goulart.

4 Paisagem em curso

Ao observar a cena urbana contemporânea, percebe-se uma tendência para a homogeneização do ambiente construído, com o processo de globalização em curso. Ocorre mesmo com a existência de um discurso de valorização das diferenças (Castriota, 2009). Assim, o caráter histórico particular de uma cidade é esquecido para uma valorização de uma imagem internacional.

Nas áreas metropolitanas e mesmo nas cidades médias, como Presidente Prudente, os centros históricos passam por processos de abandono, deterioração devido a fatores como a não adequação de seus espaços aos novos usos, o surgimento de outros centros e processos de segmentação socioespacial. Como consequência, edifícios, praças e conjuntos, foram substituídos por outros descaracterizando o conjunto urbano inicial. Entretanto, muitos deles ainda permanecem revelando o caráter e identidade particular da cidade.

As Vilas Goulart e Marcondes apresentam uma edificação modesta, sem arrojo estrutural e arquitetônico, no entanto, também são de interesse de preservação(Kühl, 1999, 2009), assim como afirma a Carta de Veneza, ao considerar que com a passagem do tempo, constituíram-se em importantes componentes para a formação da memória da cidade ao criar fortes identidades locais. São obras construídas de acordo com as condicionantes locais de disponibilidade de material e mão de obra.

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Assim, esse patrimônio arquitetônico estabelece uma relação importante com a cidade atual, na medida em que representa esse momento histórico, materializado no espaço. Este aspecto é ainda mais relevante no contexto de uma cidade do interior paulista, onde existe um grande envolvimento da comunidade na construção dos equipamentos urbanos, agregando vivências e usos ao longo do tempo, tornando-se importantes referenciais urbanos.

Com histórico de descaso com seu patrimônio histórico construído, Presidente Prudente sofre transformações em sua paisagem urbana substituindo seus edifícios históricos, numa atitude de negar o passado em nome de um “progresso” relacionado aos ideais do urbanismo modernista progressista, ainda muito presente no discurso dos seus viventes. Assim como, na fala dos atores políticos, a cidade não possui história, ela é muito recente para acumular as produções materiais das gerações anteriores.

As Vila Goulart e Marcondes apresentam registros de uma arquitetura de características “protomoderna”, “art déco” e eclética que está sendo substituída gradativamente por uma edificação que não respeita sua memória histórica. Esse patrimônio existente não atende às necessidades da cidade atual, requer assim, adequações para os novos usos e funções. As formas de intervenção que deveriam ter preocupações com sua valorização como patrimônio acabam por descaracterizá-lo, e na maioria dos casos, demolindo para construção de outro sem nenhuma relação com o anterior. Esse descaso com o patrimônio histórico necessita encontrar formas adequadas de intervenções para sua renovação e revitalização.

Na faixa dos trilhos da ferrovia, no começo dos anos 1980, uma intervenção incisiva com a construção do Viaduto Tannel Abud conectou as vilas pelas avenidas Washington Luiz e Quintino Bocaiuva, proporcionando fluidez de tráfego de veículos, coerente com os ideais progressistas da época (HIRAO, 2008).

Como contrapartida, este objeto elevado interferiu nos espaços das Praças do lado da Estação, Bandeiras, e na da Igreja, Anchieta, tornando-se protoganista da Paisagem em detrimento dos outros importantes equipamentos e monumentos históricos do entorno. Seu volume desproporcional em relação ao contexto natural e construído existentes descaracterizou o lugar, comprometendo as apropriações socioespaciais e minimizaram as possibilidades de visualizar as referências como a estação ferroviária, a praça da Bandeira e a igreja da Vila Marcondes.

Nesta paisagem, a estação ferroviária permanece isolada no contexto da cidade atual. Observa a Vila, em frente, a Vila Goulart, sendo transformada e sente outra, atrás, a Vila Marcondes, muito parecida com a vila inicial. Foi construída em 1946 sobre a singela de 1919

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e a eclética de 1926. A atual mantém as características do “protomodernismo” e elementos do “art déco”, na adaptação para sua utilização foi retalhada para abrigar usos institucionais.

4.1 Cenário

A concentração dos equipamentos e atividades político-administrativas, comerciais e de serviços na Vila Goulart proporcionou transformações significativas em sua Paisagem no decorrer do tempo.

Verifica-se a permanência de uma edificação histórica adaptada para as atividades da cidade contemporânea, constituindo-se em um cenário arquitetônico para o cotidiano apressado das pessoas. As edificações públicas que conservam os usos anteriores, como o antigo fórum, colégio Arruda Mello, a catedral de São Sebastião e a delegacia regional de polícia e cadeia foram menos descaracterizadas. Por outro lado, os privados mantêm as fachadas no nível do térreo preservadas com os espaços internos retalhados para pequenas lojas comerciais e os pavimentos superiores (acima das placas publicitárias), estão abandonados, o que dificulta a visualização do patrimônio arquitetônico. Na relação entre a arquitetura histórica e as pessoas, essas obras feitas para uma época anterior estão desconectadas da dinâmica apressada da cidade atual.

No cenário da Vila também comparecem edifícios destruídos e abandonados. A ação do ministério público através da tutela antecipada do bem histórico interrompeu o processo de demolição e construção, mas os proprietários em contrapartida deixaram as ruínas expostas. O antigo hotel municipal, que abrigou a primeira casa de saúde da cidade, de características ecléticas, desde 2006 continua a espera da intervenção (Figura 1), assim como a primeira casa modernista na esquina da Avenida Washington Luiz com rua José Foz demonstra o pouco caso com o Patrimônio Arquitetônico (Figura 2) .

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Figura1. Hotel Municipal, 2016

Figura 2. Casa Modernista, 2016

Ainda é possível perceber uma paisagem histórica das apropriações de lazer do footing das pessoas no circuito dos cinemas, tendo o bar Cruzeiro do Sul e a praça Nove de Julho nos percursos com a permanência das edificações históricas hoje abrigando outros usos. No cenário está presente o cine teatro Phenix, imponente edificação com características “art déco” (Figura 3), mas verificam-se lacunas como o cine Presidente que deu lugar a uma

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edificação vertical, impactante, sem nenhum valor arquitetônico, do mesmo modo o cine João Gomes foi demolido para construção de um barracão comercial, mas permanece no imaginário das pessoas idosas que vivenciaram estes momentos.

Figura 3. Antigo cine teatro Phenix, 2016

Os principais espaços públicos com o tempo sofrerarm alterações em seus desígnios e modos de apropriação. A praça Nove de Julho mantém certo traçado histórico, no entanto, atualmente possui mais significado para os idosos e a verdadeira praça não existe mais, sendo mais um lugar de passagem, terminal de ônibus urbano. A praça da Bandeira, do lado da estação, sofreu intervenções incisivas que transformaram seu projeto original, uma elegante praça de características ecléticas, com a introdução do pontilhão elevado para automóveis (Figura 4) retalhou e fragmentou seu espaço e ainda mais, com a implantação de um shopping popular proporcionando vitalidade, mas com outras formas de uso e apropriações de sua obra original.

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Figura 4. Viaduto Tannel Abud, 2016

Próximo à praça ainda pode-se verificar, a persistência de uma edificação como o hotel Buchala, antiga Casas Pernambucanas, lojas de material de eletricidade de características “art déco”, simples e modestos conformando um cenário histórico.

4.2 Atmosfera

O lado atrás da Estação não sofreu as transformações da Vila Goulart, verifica-se a preservação da paisagem histórica, com a manutenção de grande parte dos edifícios e espaços aberto, com a predominância de uma população idosa e seus usos e apropriações caracterizando a Vila Marcondes.

Constata-se uma relação de reciprocidade entre o patrimônio urbano arquitetônico com as pessoas, o que conduz para a permanência de uma atmosfera (Zumthor, 2006) histórica, enquanto pelo menos esta antiga geração existir.

Dessa forma, permite o deambular conduzido e seduzido pela disposição dos espaços construídos e não construídos possibilitando uma relação de sedução entre as coisas e seus moradores. A totalidade, ou seja, o lugar, o uso, a apropriação e a forma do espaço urbano e arquitetônico formam uma atmosfera que a caracteriza, qualifica e a identifica.

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No entanto, com as recentes intervenções incisivas sobre o patrimônio industrial como sobre as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, transformada em centro cultural (Figura 5), os galpões do antigo IBC em centro de eventos (Figura 6) e demolição da SAMBRA para conjunto de habitação social (Figura 7) pode contribuir para o aumento do risco da permanência desta atmosfera.

Figura 5. Antiga Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, atual centro cultural, 2016

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Figura 5. Antiga SANBRA, atual conjunto habitacional, 2016

Essas intervenções são caracterizadas mais como reforma e ampliação do que restauração, preocuparam-se em adaptar ao novo uso atribuído esquecendo-se das recomendações das cartas patrimoniais internacionais e dos princípios dos teóricos da restauração. Preservaram alguns fragmentos materiais e adicionaram elementos duvidosos destruindo a ambiência industrial que identificava esse patrimônio.

4.3 Terrain vague

Atualmente com o fim das atividades da ferrovia, a faixa linear ao longo dos trilhos perdeu suas funções originais, configurando uma área abandonada que ainda carrega significados históricos.

Tornou-se espaço de transição entre as Vilas garantindo os diferentes usos, apropriações e características de seu entorno. O espaço está abandonado, inseguro, fora da dinâmica urbana, improdutivo, mas com potencial de ocupação é visado pelo mercado imobiliário (Figura 8).

Essa área vazia, residual, indefinida, incerta, em espera, silenciosa, fora dos circuitos e estruturas produtivas, esquecido, entretanto lugar dos acontecimentos do processo de ocupação da cidade é terrain vague de Solà Morales (2002). Possui potencial para converter-se em espaço de liberdade num contexto da cidade homogênia, regular e baseado

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no valor de troca. Pode ser um lugar para apropriações espontâneas e criativas e comportar usos informais, aberto a modos alternativos de vivências, diverso do cotidiano urbano produtivo.

Figura 8. Faixa linear ao longo dos trilhos, 2016

Dessa forma, qualquer projeto de intervenção nesta faixa precisa ter atenção especial com essas características com o risco de provocar um processo de gentrificação expulsando os moradores das cercanias e destruir a atmosfera existente.

5 Análises Finais

As cidades possuem uma diversidade de cenários e atmosferas característicos e importantes para seus moradores. A possibilidade de sua manutenção num contexto de transformações sociespaciais aceleradas, fragmentadas e de destruição das referencias históricas, pode tornar o cotidiano urbano uma experiência rica e válida para viver e também experimentar os lugares da Vila Goulart e Vila Marcondes.

As oportunidades de requalificação dessas áreas não podem visar apenas os interesses do mercado imobiliário, sendo necessário considerar uma perspectiva de sustentabilidade social e cultural para a cidade, dentro da qual as pessoas tem a oportunidade de levar consigo as memórias de seu transcurso histórico, materializadas e sensíveis nas percepções da atmosfera do local.

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Agradecimentos

FAPESP: Processos: 2012/ 02382-5, 2011/19621-0, 2011/19622-6, 2014/16392-8 e 2014/16396-3.

Alunos de Arquitetura e Urbanismo/ Iniciação Científica do NePP- Núcleo de estudos em Patrimônio e Projeto da FCT/ UNESP: Deivis Augusto Nachif Fernandes, Bruno Celso Gobette Rodrigues, Giovana Silva Almeida, Natália Stadela Silva Favaretto E Matheus Alcântara Silva Chaparim.

Referências

ABREU, D. S. Formação histórica de uma cidade pioneira paulista: Presidente Prudente. Presidente Prudente: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente: 1972 BARON, C.M.P.; PAIVA, S.C.F. Complexo industrial e patrimônio urbano em Presidente Prudente. In FIORIN, E.; HIRAO, H. Cidades do interior Paulista. São Paulo: Cultura Acadêmica/ Paco, 2015.

CASTRIOTA, L. B. Patrimônio cultural: conceitos, políticas, instrumentos. Belo Horizonte : IEDS ; São Paulo : Annablume, 2009.

HIRAO, Hélio. Arquitetura moderna paulista, imaginário social urbano, uso e apropriação do espaço. Tese (Doutorado em Geografia) Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2008.

KÜHL, B. M. Arquitetura do ferro e arquitetura ferroviária em São Paulo: reflexões sobre a sua preservação. São Paulo: Ateliê: FAPESP, 1998.

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SOLÀ-MORALES, I. de . Terrain Vague in Territórios. Barcelona: Gustavo Gili, 2002.

SPOSITO, M.E.B. O Chão em Presidente Prudente: a lógica da expansão territorial urbana. Dissertação (Mestrado em Geografia). Rio Claro: Instituto de Geociências e Ciências Exatas de Rio Claro da Unesp, 1983.

WHITACKER, A.M. A produção do espaço urbano em Presidente Prudente: uma discussão sobre a centralidade urbana. Dissertação (Mestrado em Geografia). Presidente Prudente: Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP, 1997.

ZUMTHOR, P. Atmosferas: entornos arquitetônicos, as coisas que me rodeiam. Barcelona: Gustavo Gili, 2006.

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