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HEVOLLÇÃ-O PEnNA~lBUCANA DE 1817, VULToS PRl.'ClPAIS
A trasladação da côrte portuguesa para o Brasil, em 1808, que, no sentir dos espíritos moderados, foi uma conquista politica e social, constituiu, antes, para os exaltados radicais e nativistas de Pernambuco, Pa-raíba e Baía, um estratagema do velho despotismo reinol, para sufocar, no nacedouro, os éstos da eman-cipação da colonia transatlantica e destruir-lhe os anseios de liberdade.
Em 6 de Março de 1817 explodiu na capitania de Pcrnarnhuco um levanle de cunho acentuada-mente republicano, tendo por causas determinantes as rivalidades entre os da terra e seus colonizadores lusos, e a situação de quasi penuria que então atra-vessava o reino de Portugal, lutando com serios em-baraços para sustentar o encargo da côrte real no Brasil, e o luxo de seus numerosos fidalgos, que so-brecarrega vam o povo, esgotado de novos impostos, assim como para custear as obras de rapida transfor-mação do Rio de Janeiro e despesas com a guerra pla-tina.
Governava Pernambuco um magistrado integro e pacifista, o desembargador Caetano Pinto de Mi-randa Montenegro, depois marquês de Vila Real da Praia Grande,
A insurreição, que não obedeceu o plano deter-minado, foi provocada por um incidente comum, o espancamento de um reinól por um soldado do regi-mento dos Henriques.
Chefiou-a um negociante brasileiro, Domingos José Martins, educado na Inglaterra, e que não ocul-tava suas idéas ultra-libcrais.
Denlro em pouco sua rcsidencia, no Recife, con-verteu-se num centro de propaganda exaltada.
Militavam nas fileiras oficiais lusos ao lado de brasileiros, o que mais acirrava os animos e cada vez mais tensa era a situação.
A 5 de Março de 1817, o governador Miranda Montenegro convocou os oficiais portugueses de pa-Lente superior e ficou resolvido que, no dia seguinte, seria efetuada a prisão de alguns dos militares c ci-vis mais comprometidos, em número de sete, os quais seriam processados.
A 6 de Março começou a ser dada execução a essa medida, tendo sido logo presos o cabeça do movi-mento Domingos José Martins e mais alguns oficiais. Quando, porém, o brigadeiro Manuel Joaquim Barbosa, comandante do regimento de artilharia, co-meçou a executar a ordem de captura, excedendo-se no desempenho das funções, além de prender, se ar-rogou o direito de censurar, de modo insolente, aos oficiais suspeitos do seu regimento, foi morto pêlo ca-pitão JOSt' Barros Lima, cognominado o "Leão Co-rôado", que o atravessou á espada, sem que nenhum dos ~)l'cR"ni('s .'f' int{ 'lHl7(',se em (lefesa da vítima. Foi morto egualmente o ajudante de ordens do governador, quando mandado a abafar o movimento.
Estalou então a revolta, trazendo verdadeira anarquia da cidade, cujo governador, apavorado, tra-tou de encerrar-se na fortaleza do Brum, levando consigo n família.
Os amotinados deram imediata liberdade aos presos, arrombando as cadeias púhlicas, á ralé dos criminosos, forneccndo-lhes armas, e seguiu-se ver-dadeira caçada aos gritos de - Mala galego!
Ao mesmo tempo, assumiam a direção do movi-mento Domingos José Martins, o capitão Domingos Theotonio Jorge, e o coronel Manuel Corrêa de Araujo, que ocuparam os nr+ncipais
estabelecimen-tos publicos e deram novos comandos ás unidades re-voltadas.
Dirigiram-se depois os revoltosos para o forte do Brum, onde procuraram parlamentar com o gover-nador, ali refugiado; e Montenegro assinou então uma capitulação sob condição de poder embarcar com seus adeptos para o Rio de Janeiro.
Toda a guarnição aderiu, de pronto, ao movi-mento.
Quanto aos oficiais lusitanos, parte foi recolhida á prisão, parte embarcou com o governador.
Em seguida á capitulação, reuniram-se 17 dos
principais chefes revoltosos e organizaram um go-vêrno provisorio, composto de cinco membros, que foram: governador o padre João Ribeiro Pessôa de Mello Montenegro; membros: Domingos José Mar-tins e o dr , José Luis de Mendonça; secretário, o padre Miguelinho (Miguel Joaquim de Almeida e Castro); comandante das armas, o capitão de arti-lharia Domingos Theotonio Jorge.
Decretou-se o aumento do soldo das tropas e ficaram resolvidas as promoções aos oficiais.
Adotou-se a bandeira branca por simbolo de paz, e o tratamento de - vós, sendo abolidos alguns im-postos.
Creou-se um conselho em que tomaram parte: Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, Gervasio Pires Ferreira, Bernardo Luis Ferreira e Manuel Joaquim Pereira Caldas.
Foi depois mandado Antonio Gonçalves da Cruz, "o Cabugá", aos Estados Unidos, afim de ali adquirir armas e conseguir soldados.
Surgiu por esse tempo o primeiro orgam da im-prensa pernambucana, o Preciso, redigido pêlo dou-tor Luis de Mendonça, especie de manifesto, em fórma de justificação, dos intentos revolucionarios e exposição das queixas dos brasileiros contra a po-Iilica do reino.
Para obter adesões seguiram emissarios para o Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagôas, que abra-çaram a causa revolucionaria, bem assim Ceará, para onde partiu o então subdiacono José Martiniano de Alencar, que foi prêso no Crato; e para a Baía, o fa-moso padre Roma, dr . José Ignacio Ribeiro de Abreu Lima que, ao desembarcar, foi prêso, julgado suma-riamente por uma junta militar, e fuzilado no Campo da Polvora, a 29 de Março de 1817, sendo governador o conde dos Arcos.
Não se satisfez este, com seu excesso de justiça c alçada, e, para melhor recomendar-se aos favores reais, enviou Iôrças de terra sob o comando do ma-rechal Joaquim de Mello Leite Cogominho de La-cerda, além das que foram do Rio de Janeiro.
Em marcha sobre o Recife foi essa coluna se en-~;rossnndo de voluntarioso até chegar a capital revo-lucionaria, que já encontraram blonueda por mal' pêla
squadra de Rodrigo Lobo. que intimou os revolucío-narios á rendição incondicional.
Cerca de dous mil fugiram, sendo então arvo-rada, pelos habitanLes da cidade. a bandeira real.
Dos chefes rebeldes. Domingos José Martins, José Luis de Mendonça e o padre Migllelinho, foram arca-huz ados na Baía, por ordem do conde dos Arcos.
O capitão Domingos Thcotonio Jorge, com oito dos seus companheiros, subiu ao patíbulo.
O padre João Ribeiro Pessôa suicidou-se.
O propi-io rei, indignado contra o número exces-sivo dessa execução sumária da comissão militar, suspendeu-a de suas funções, instituindo para pros-seguir o processo uma alçada civil, que, aliás, ainda se revelou mais implacavel, a ponto do então govêr-nador Luis do Rego Barreto e o Senado da Camara de Recife, representaram a dom João VI, que con-cedeu anistia aos restantes acusados no dia festivo de sua coroação (6 de Fevereiro de 1818) .
Fntrc QS outras vitimas da Revolução de 1817,
figuram Antonio José Henriques, padre Pedro de Sousa Tcnorio, Amaro Gomes Coutinho, Ignacio de Alhuqucrquc Mnranhão, padre Antonio Pereira, Fran-cisco José d:l Silv eira, JOSt' Peregrino de Carvalho, e outros
QUADRO SINOTICO
• trasladação da côrte real portuguêsa para o Brasil, em lROS com seus excessivos gastos, que sobre, carregavam de novos impostos o povo exgotado, assim como [1 rivalidade entre as classes militares e civis,
compostas de portugueses e brasileiros, no Recife deram principal causa á revolução de 1817, sendo ali governador o desembargador Caetano Pinto de 1\1i-randa Montenegro .
Foi chefe dêsse movimento, estalado a 6 de Março de 1817, Domingos José Martins, brasileiro, e educado na Inglaterra, de idéas exaltadas de nati-vismo que infundia á oficialidade do Recife.
Um dêsses oficiais, o capitão Barros Lima, ao ser prêso, pelo comandante, matou-o.
O governador, refugiado no forte do Brnm, ca-pitulou sob a condição de recolher-se ao Rio de Ja-neiro.
Aderiram ao movimento, que foi jugulado por tropas enviadas da Baía e do Rio, as capitanias do Rio Grande do Norte, Alagôas e Paraíba ,
Domingos Martins, o dr. Luis de Mendonça, o capitão Domingos Theotonio Jorge, os padres Roma c Miguelinho, seus principais vultos, além de outros, foram arcabusados na Baía e em Recife.
TRAÇOS BIOGRAFICOS
o
rei, em sinal de magnanimidade, deu anistia aos restantes conjurados, no dia de sua coroação 6 de Fevereiro de 1818) .PADRE ROMA (Dr. José Ignacío Ribeiro de Abreu
e Lima) - 1768-1817. Nasceu no Recife, foi um dos chefes da Revoluçâo de 1817.
Professor, no convento do Carmo de Goiana, fez o curso teologico em Coimbra, ordenando-se em Roma.
Da sua permanencia na Cidade Eterna originou-se o originou-seu cognome.
De regresso a Pernambuco obteve anulação da" ordens sacras e dedicou-se á advocacia, escrevendo o HLibello Brasileiro", comen tario sôbre as ordens
do Reino, tido como trabalho completo.
Foi prêso 'ao desembarcar na Baía como cmis-sario dos rebeldes de 1817, e mandado, sumariamente, arcabusar no Campo da Pólvora, por sentença do conde dos Arcos.
D. MARCOS DE NORONHA E BRlTO, conde dos Arcos,
8° titular dêsse nome.
Foi como vice-rei do Brasil que fez entrega do govêrno ao principe regente a 8 de Março de 1808.
Govêrnador da Baía, havia ali creado estahele-cimentos de instrução primaria e secundaria, hiblio-tóca, teatro, fundição militar, serviços postais e obteve autorização, por carta régia de 5 de Janeiro de 1811, para a publicação, cronologicamente, do primeiro jornal baiano e o segundo de todo o Brasil - Idade d'Ouro .
Fez, em ponto pequeno, na Baía, o que dom João realizou, em grande, no Rio.
Assumiu a pasta da Marinha e Ultramar, em 1818.