3. AS GEOPOLÍTICAS CLÁSSICAS E SUA
CRISE
VESENTINI, José W. As geopolíticas clássicas e sua crise. Novas geopolíticas. As representações do século XXI.São Paulo: Contexto, 2003. p. 15-29.
Geopolítica como rótulo: sueco Rudolf Kjellén, “As
grandes potências”, 1905; “O Estado como forma de vida”, 1916.
Definição de geopolítica: “a ciência que estuda o
Estado como organismo geográfico”, (Kjellén)
A abordagem da Geografia seria uma ênfase nas
“relações homem-natureza” e a política – geopolítica
A geopolítica seria o lugar de intersecção entre a
ciência política, a geografia política, a estratégia militar e a teoia jurídica do Estado.
Os “grandes nomes” da geopolítica, com exceção de Halford Mackinder, não foram geógrafos mas
estrategistas militares.
As preocupações básicas da Geopolítica sempre foram para que o Estado de cada um dos estrategistas se
fortalecesse no cenário internacional.
A geopolítica expandiu-se na primeira metade do
século XX.
A ordem mundial multipolar que vigorou desde o final do séc. XIX até a Segunda Guerra Mundial proporcionou um clima de pré-guerra entre as grandes potências
período => disputas por terrritórios, mercados e
recursos na África, Ásia e mesmo na Europa.
Na visão dos geopolíticos o fundamental era a
quantidade de recursos – mercados, povos (mão-de-obra, soldados), solos agriculturáveis, minérios.
As geopolíticas clássicas foram explicações a respeito
da importância estratégica de determinados territórios, da necessidade de expansão territorial –
ou controle de espaços (rotas maríticas ou áreas geoestratégicas) – como forma de fortalecimento do Estado e de adquirir hegemonia.
Alfred Mahan e o poderio naval
Professor e diretor do Naval War College,
1886-1893
As suas ideias sobre o poderio naval influenciaram a visão estratégica das marinhas de todo o mundo e ajudaram a desencadear o grande investimento em meios navais que se verificou
nos anos que precederam a
Mahan é um dos clássicos da geopolítica.
Obra mais conhecida: A influência do poder marinho
sobre a história, 1890.
Precursor da teorização sobre o poder marítimo (sea power), Mahan acreditava na visão de que o Ocidente deveria comandar ou “civilizar” o mundo; o colonialismo seria algo positivo para os demais
povos.
Controle das rotas marítimas => chave para a
hegemonia mundial, “veias por onde circulam os fluxos do comércio internacional”
O controle dos mares seria o grande objetivo da estratégia norte-americana num período em que a
Inglaterra começava a enfraquecer-se no cenário internacional.
Os EUA detinham posição geográfica favorável nas rotas marítimas de dois oceanos;...
...não tinham inimigos potenciais significativos por
terra; ...
...o comércio marítimo detinha grande importância nas trocas econômicas internacionais.
Adotando suas idéias, os EUA tornaram-se a
grande potência marítima do planeta.
Seu projeto do Canal do Panamá tornou-se realidade em 1914, unindo os oceanos Atlântico e Pacífico.
A visão estratégica de Halford
Mackinder
Mackinder, geógrafo inglês, construiu uma teoria que tem a geoestratégia como a chave para a hegemonia mundial. É tido como “o propugnador do poder terrestre” – em “o propugnador do poder terrestre”
oposição a Mahan.
Criador dos conceitos de:
Pivot area; World island; Anel insular;
Anel interior ou marginal; Heartland.
Obras principais:O pivot geográfico da História 1904); Democracia, ideais e realidade (1919).
Hierarquizou os espaços das superfície terrestre como se tivessem valor intrínseco e permanente para ao poderio mundial.
O Velho Mundo (África e Eurásia: “world island”) Grande bloco de terras onde local de ocorrência da maoiria das guerras e onde vive a maior parte da população mundial. Dentro da “ilha mundial” há uma pivot área (parte da Europa e parte da Ásia).
Dentro deste pivot haveria uma região geoestratégica do planeta: a HEARTLAND (terra-HEARTLAND
coração) => corresponde à Europa Orientalcorresponde à Europa Oriental
A posse da Europa Oriental seria condição básica
A posse da Europa Oriental seria condição básica
para a hegemonia mundial.
para a hegemonia mundial.
A) Região com parte da maior planície do mundo, parte da maior planície do mundo
das estepes russas até a Alemanha, os Países Baixos e o norte da França => pastagens que facilitam o deslocamento dos exércitos.o deslocamento dos exércitos.
B) presença de alguns dos “maiores rios do mundo” (sic);
C) natureza mais ou menos fechada em relação às incursões marinhas.
Tese central de Mackinder:
Tese central de Mackinder:
“
“Quem controla a heartland domina a pivot area e Quem controla a heartland domina a pivot area e quem domina a pivot area controla a ilha mundial,
quem domina a pivot area controla a ilha mundial,
e quem controla a ilha mundial domina o mundo”.
e quem controla a ilha mundial domina o mundo”.
Estas idéias foram levadas a sério até o fim da
Estas idéias foram levadas a sério até o fim da
Segunda Guerra Mundial.
Haushofer a a expansão da Geopolitik
Karl Haushofer e a Zeitschrift für Geopolitik (Revista de Geopolítica) publicada entre 1924 e 1944 tornaram a tornaram a
Geopolítica famosa.
Geopolítica famosa.
A revista contou com a colaboração de militares, geógrafos, militares, geógrafos, cientistas políticos, historiadores e economistas
cientistas políticos, historiadores e economistas, teve enorme sucesso (passou de mil exemplares mês em 1924 para mais de cinco mil nos anos 30).
A Revista de Geopolítica abordava temas como o “espaço “espaço vital” para a Alemanha (especialmente na Europa Central e
vital” para a Alemanha (especialmente na Europa Central e
também na África); a nova ordem européia ou mundial
também na África); a nova ordem européia ou mundial
ideias, a superioridade da raça ariana e seu destino, etc.
Haushofer fez uso das idéias de Mackinder
Haushofer fez uso das idéias de Mackinder (idéias expansionistas para a Inglaterra), adaptando suas idéias para o expansionismo alemão.
Haushofer esboçou uma “ordem mundial ideal”: aliança entre “ordem mundial ideal”: aliança entre Alemanha, Rússsia e Japão X Inglaterra, França e China.
Alemanha, Rússsia e Japão X Inglaterra, França e China.
A zona de influência alemã abarcaria a Europa (menos a Rússia), a África e o Oriente Médio (ver a fig).
A zona de influência dos EUA: o continente americano;
A zona de influência da Rússia: a imensa Rússia mais o sul da Ásia => uma saída para o Oceno Índico.
A zona de influência do Japão: Extremo Oriente, Sudeste Asiático e Oceania.
Haushofer isentou a Geopolitik de relações com o expansionismo alemão, alegando apenas estar “fazendo ciência” (carta-testamento: Uma apologia da Geopolítica).
As idéias básicas da Revista eram:
As idéias básicas da Revista eram:
Existência de inúmeros territórios que eram “naturalmente”
Existência de inúmeros territórios que eram “naturalmente”
germânicos –
germânicos – aqueles perdidos na guerra de 1914-18 e outros onde havia a presença de povos de origem alemã.
Alguns mapas indicavam mais da metade da Europa, áreas mais da metade da Europa, áreas ultracontinentais como Santa Catarina e partes do Rio
ultracontinentais como Santa Catarina e partes do Rio
Grande do Sul (BR)
Grande do Sul (BR)
A ordem mundial era injusta
A ordem mundial era injusta devido à pouca presença da Alemanha, um candidato “natural” a uma grande potência mundial.
A Revista era reproduzida nas escolas fundamentais e médias por professores.
A revista (havia discordâncias sobre a invasão da Rússia) repercutiu a ideologia da “raça superior” e “necessidade do espaço vital”
A crise da geopolítica clássica
Após a II Guerra Mundial a geopolítica caiu no
ostracismo.
ostracismo. Ela era identificada com o fascismo italiano, a política expansionista do Japão e o nazismo alemão.
Algumas escolas de geopolítica
Algumas escolas de geopolítica: norte-americanos
(ver matéria sobre Nicholas Spykman
e a América Latina no blog da disciplina) da National War College, brasileiros da Escola Superior de Guerra, militares argentinos e chilenos continuaram produzindo políticas políticas
A partir de meados da década de 70 a geopolítica volta à ordem do dia, porém renovada. porém renovada.
Teorias a respeito do embate entre o capitalismo
Teorias a respeito do embate entre o capitalismo
e o socialismo, do mundo subdesenvolvido, da
e o socialismo, do mundo subdesenvolvido, da
guerra fria, da terceira guerra mundial, etc.
guerra fria, da terceira guerra mundial, etc.
A fundamental contribuição de Yves Lacoste,
Revista Herodote.
Revista Herodote. Revista de Geografia e Geopolítica (n. 1 em 1976).
Livro A geografia serve antes de mais nada para A geografia
Les numéros
- 127 - Géopolitique du tourisme (
quatrième trimestre 2007)
- 126 - Géopolitique de la langue
française (troisième trimestre 2007)
- 125 - Chine, nouveaux enjeux
géopolitiques (second trimestre 2007)
- 124 - Proche-Orient, géopolitique
Se o rótulo Geopolítica foi retomado, por alguns, os métodos e os pressupostos fundamenatis dos geopolíticos clássicos
foram deixados de lado.
foram deixados de lado.
Na época da globalização e progressivo enfraquecimento dos Estados nacionais, de revolução técnico-científica e seus efeitos sobre o poderia (inclusive militar) de cada Estado, aqueles pressupostos fundamentais caducaram.aqueles pressupostos fundamentais caducaram
O que seria hoje uma grande potência?
O que seria hoje uma grande potência?
Pelos moldes clássicos seria um Estado com uma população e um terrritório enormes e uma ótima capacidade militar. Mas:
A corrida armamentista do pós-II Guerra chegou ao seu
A corrida armamentista do pós-II Guerra chegou ao seu
limite.
A Terceira Revolução Industrial ou Técnico-Científica vem
diminuindo a importância dos recursos naturais pelo uso de
diminuindo a importância dos recursos naturais pelo uso de
técnicas de biotecnologia para produzir mais alimentos em
técnicas de biotecnologia para produzir mais alimentos em
menos espaço, pela economia de fontes de energia ou
menos espaço, pela economia de fontes de energia ou
matérias-primas e ao substituir materiais escassos por
matérias-primas e ao substituir materiais escassos por
abundantes.
abundantes.
Hoje:
Hoje:
“
“(...) uma grande potência mundial é antes de tudo um (...) uma grande potência mundial é antes de tudo um Estado (ou uma conferação, como no caso da União
Estado (ou uma conferação, como no caso da União
Européia) que possui tecnologia moderna, com uma força
Européia) que possui tecnologia moderna, com uma força
de trabalho qualificada ( o que pressupõe um elevado nível
de trabalho qualificada ( o que pressupõe um elevado nível
de escolaridade), e não aquele que possui basicamente um
de escolaridade), e não aquele que possui basicamente um
grande território, numerosa população, boa estratégia militar