O Capital – Crítica da Economia
Política
Capítulo 4 Transformação do dinheiro em capital 1Transformação
do dinheiro em capital
Este capítulo é composto por três seções: 1. A fórmula geral do capital;
2. Contradições da fórmula geral;
3. Compra e venda de força de trabalho.
Compra e venda de força de
trabalho
Nessa seção, Marx explica a mais-valia.
Donde vem a mais-valia?
A mais-valia não pode surgir nem da transação D
M nem da transação M D, pois ambas representam troca de equivalentes.
Do valor de uso?
“A modificação precisa ocorrer, portanto, com a
mercadoria comprada no primeiro ato D
M, mas não com o seu valor, pois são trocadosequivalentes...”
“A modificação só pode originar-se, portanto, do
seu valor de uso enquanto tal, isto é, do seu
Valor de uso criador
"Para extrair valor do consumo de uma
mercadoria, nosso possuidor de dinheiro precisaria ter a sorte de descobrir dentro da
esfera de circulação, no mercado, uma
mercadoria cujo próprio valor de uso tivesse a característica peculiar de ser fonte de valor. Uma
mercadoria cujo consumo fosse em si objetivação de trabalho, por conseguinte,
Que mercadoria é essa?
Ora, essa mercadoria existe; é a "capacidade de
trabalho ou a força de trabalho".
Não devemos confundir a força de trabalho nem com o trabalhador e nem com o trabalho:
O que é força de trabalho?
“Por força de trabalho ou capacidade de
trabalho entendemos o conjunto das faculdades
físicas e espirituais que existem na
corporalidade, na personalidade viva de um homem e que ele põe em movimento toda vez que produz valores de uso de qualquer espécie”.
Em que condições a força de
trabalho torna-se mercadoria?
a. A força de trabalho tem de ser vendida como mercadoria pelo seu próprio possuidor, o
trabalhador;
b. O comprador de força de trabalho e o trabalhador têm de comparecer no mercado
Continuação
c. Em consequência, o livre proprietário da força de trabalho apenas pode vendê-la por
determinado tempo;
d. O livre proprietário da força de trabalho não pode ser possuidor de meios de produção, estando obrigado a vendê-la para subsistir.
A liberdade aqui é uma
forma de opressão!
“Para transformar dinheiro em capital, o
possuidor de dinheiro precisa encontrar, portanto, o trabalhador livre no mercado de mercadorias, livre no duplo sentido de que ele
dispõe, como pessoa livre, de sua força de
trabalho como sua mercadoria, e de que ele, por outro lado, não tem mercadorias para vender,
solto e solteiro, livre de todas as coisas necessárias à realização de sua força de
Geração de trabalho
O capitalista compra essa mercadoria, a força de trabalho, porque quer utilizar o seu valor de uso,
ou seja, fazê-la gerar trabalho e, assim, novas mercadorias.
Pois, “a força de trabalho só se realiza ...
mediante sua exteriorização, ela só se aciona no
Como?
Mas ainda não foi explicado como a mais-valia é gerada.
Por isso “essa mercadoria peculiar, a força de
trabalho, tem de ser agora examinada mais de perto. Como todas as outras mercadoria, ela
Custo de reprodução
“O valor da força de trabalho, como o de toda
outra mercadoria, é determinado pelo tempo de trabalho necessário à sua produção e
reprodução, ... [o qual] corresponde ... ao tempo de trabalho necessário à produção dos meios de
subsistência" que permitem essa produção e reprodução. Dizendo de outro modo, “o valor da
força de trabalho é o valor dos meios de
subsistência necessários à manutenção do seu
Como é determinado?
“[...] o valor da força de trabalho contém [...] um elemento histórico e moral [...] inclui os meios
de subsistência dos substitutos [...] inclui determinada formação ou educação...” “Ele muda, portanto, também com o valor desses meios de subsistência, isto é, com a
grandeza do tempo de trabalho exigido para sua produção.”
Um enigma
“A natureza peculiar dessa mercadoria específica, a
força de trabalho, faz com que, com a conclusão do contrato entre comprador e vendedor, seu valor de
uso ainda não se tenha verdadeiramente transferido para as mãos do comprador.”
“O seu valor, como o de qualquer outra mercadoria,
estava determinado antes de ela entrar em circulação... mas o seu valor de uso consiste na
O que é esta exteriorização?
“Eis que essa exteriorização é a geração de um novo valor e esse valor é maior do que o valor
da força de trabalho. Eis, pois, o segredo da mais-valia que está sendo desvendado: a força de trabalho produz mais valor do que custa para
Que dá crédito um ao outro?
Notemos, entretanto, que “em todos os países
com modo de produção capitalista, a força de trabalho só é paga depois de ter funcionado durante o prazo previsto no contrato de compra,
por exemplo, no final de cada semana. Por toda parte, portanto, o trabalhador adianta ao
capitalista o valor de uso da força de trabalho; ... por toda a parte, portanto, o trabalhador
Para finalizar
Em sequência, apresentamos um trecho extenso de Marx em que ele contrapõe a aparência do
sistema com a sua essência.
A aparência é, grosso modo, a esfera da
circulação de mercadorias, ou seja, o mercado. Aí o homem aparece com indivíduo livre, igual,
Continuação
A essência é, grosso modo, a esfera da produção capitalista, ou seja, a fábrica organizada
hierarquicamente. Aí o homem aparece como operário não livre, não igual, não racional (ou
seja meramente como apêndice do sistema fabril) etc.
Eis aqui o éden
“A esfera da circulação ou do intercâmbio de mercadorias, dentro de cujos limites se
movimentam compra e venda de força do trabalho, era de fato um verdadeiro éden dos direitos naturais do homem. O que aqui reina é unicamente Liberdade, Igualdade, Propriedade e
Esfera da liberdade burguesa
“Pois comprador e vendedor de uma
mercadoria, por exemplo, da força de trabalho, são determinados apenas por sua livre vontade.
Contratam como pessoas livres, juridicamente iguais. O contrato é o resultado final, no qual suas vontades se dão uma expressão jurídica em
Continuação
“Igualdade! Pois eles se relacionam um com o outro apenas como possuidores de mercadorias
e trocam equivalente por equivalente.
Propriedade! Pois cada um dispõe apenas sobre o seu. Bentham! Pois cada um dos dois só cuida
A mão invisível segundo Marx
“O único poder que os junta e leva a um relacionamento é o proveito próprio, a
vantagem particular, os seus interesses privados. E justamente porque cada um só cuida de si e
nenhum do outro, realizam todos, em
decorrência de uma harmonia preestabelecida das coisas ou sob os auspícios de uma
previdência toda esperta, tão-somente a obra de sua vantagem mútua, do bem comum, do
A opressão de classe
Ao sair dessa esfera da circulação simples ou da troca de mercadorias, da qual o livre-cambista
vulgaris extrai concepções, conceitos e critérios
para seu juízo sobre a sociedade do capital e do trabalho assalariado, já se transforma...
Continuação
O antigo possuidor de dinheiro marcha adiante como capitalista, segue-o o possuidor de força de trabalho como seu trabalhador; um cheio de
importância, sorriso satisfeito e ávido por negócios; o outro, tímido, contrafeito, como
alguém que levou a sua própria pele para o mercado e agora não tem mais nada a esperar,
Questão crucial hoje
Será que Marx critica o capitalismo do ponto de vista do trabalho (ou seja, dos trabalhadores) ou
será que ele crítica também e enfaticamente o próprio trabalho (e, assim, a própria condição de
trabalhador) que se desenvolve em condições capitalistas.
Para finalizar
É importante porque os marxistas até recentemente
(Lênin, Trotsky e Lukács inclusive)
leram Marx do primeiro modo.
Só recentemente, quando da crítica do
socialismo realmente inexistente, a segunda leitura veio à luz.