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AÇÃO ORIGINÁRIA 1.823 MINAS GERAIS

RELATOR : MIN. LUIZ FUX

AUTOR(A/S)(ES) :MAURÍCIO QUIRINO DOS SANTOS E OUTRO(A/S) ADV.(A/S) :HUMBERTO LUCCHESI DE CARVALHO E

OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) :PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO

ESTADO DE MINAS GERAIS

ADV.(A/S) :SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS RÉU(É)(S) :UNIÃO

PROC.(A/S)(ES) :ADVOGADO-GERALDA UNIÃO INTDO.(A/S) :ESTADO DE MINAS GERAIS

PROC.(A/S)(ES) :ADVOGADO-GERAL DO ESTADO DE MINAS

GERAIS

AÇÃO ORIGINÁRIA. RESOLUÇÃO 151/2012 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DOS DIREITOS À INTIMIDADE, À PRIVACIDADE E À SEGURANÇA. IMPROCEDÊNCIA. OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA PUBLICIDADE E DA TRANSPARÊNCIA QUE NORTEIAM A ATIVIDADE ADMINISTRATIVA, BEM COMO AO DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO À INFORMAÇÃO. PEDIDO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO.

DECISÃO: Cuida-se, na origem, de mandado de segurança impetrado

contra ato do Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais que, dando cumprimento ao que determinado pelo Conselho Nacional de Justiça por meio da Resolução nº 151/2012, determinou a divulgação do nome completo do servidor público e da correspondente remuneração, no portal do TJ/MG, link Transparência/Pessoal.

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Presidente do TJ/MG nesta ação, haja vista que é o responsável pela execução direta e material do disposto na Resolução 151/2012 do CNJ.

Relatam, em seguida, que a autoridade apontada como coatora, na condição de executora do ato, editou a Portaria TJ/MG 2771/2012, publicada no DJ de 1º/8/2012, para dar concretude ao contido na Resolução 151/2012 do CNJ, o que vem lhes causando, mês a mês “o

deletério acesso e a divulgação dos salários ao público com a citação nominal dos nomes dos impetrantes”, malferindo o direito líquido e certo de terem

respeitados o direito à intimidade e à privacidade.

Aduzem, nesse contexto, que estão de acordo com a cultura da transparência, implementada pela Lei de Acesso à Informação, e com a divulgação da estrutura e composição dos salários dos servidores públicos, desde que seja levada a efeito sem a citação nominal e individualização pessoal do servidor púbico.

Sustentam, adiante, que a Lei de Acesso à Informação consagrou o direito à intimidade, à privacidade e à segurança jurídica dos cidadãos quando a questão envolver informações pessoais, hipótese em que se deve observar o sigilo necessário, com a categorização de acesso restrito. Transcrevem, para tanto, o disposto no art. 31 da lei em questão, assim redigido:

“Art. 31. O tratamento das informações pessoais deve ser feito de forma transparente e com respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, bem como às liberdades e garantias individuais”.

Asseveram, ainda, que a resolução em debate produz “efeitos

materiais e concretos no espaço e no tempo que determina de forma exauriente e induvidosa”, o que malfere o princípio constitucional da reserva material

de lei em sentido formal, uma vez que a Lei 12.527/2011, em momento algum, previu essa forma de divulgação da remuneração do servidor.

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Afirmam, assim, que a Resolução 151/2012 do CNJ não poderia inovar originária e primariamente a ordem jurídica, tampouco ampliar e definir o dever jurídico de publicação dos salários de forma nominal e individualizada.

Requerem, ao final, o deferimento de liminar inaudita altera pars para determinar à autoridade coatora que se abstenha de permitir o acesso e a divulgação indiscriminada e irrestrita na internet ou em qualquer meio eletrônico ou escrito dos nomes completos dos impetrantes e seus respectivos salários. No mérito, pugnam pela concessão da ordem para desonerar, em definitivo, os impetrantes de suportarem os efeitos materiais e concretos do ato coator alojado na Resolução 151/2012, bem assim no mandamento contido na Portaria TJ/MG 2771/2012.

Em 14/9/2012, o Relator do feito no TJ/MG deferiu a medida liminar para determinar que o impetrado suspendesse a divulgação dos nomes dos impetrantes, substituindo-os pelos quatro últimos algarismos e dígito verificador das respectivas matrículas.

A Corte mineira, ao apreciar o agravo interposto dessa decisão, deu provimento ao recurso para indeferir a liminar pleiteada.

A União requereu seu ingresso no feito e a remessa dos autos a esta Corte, o que foi deferido em 6/9/2013, ocasião em que o TJ/MG declinou da competência para o STF, nos termos do art. 102, I, r, da Constituição Federal, tendo em conta que a lide versa a aplicação de Resolução do CNJ.

É o relatório. Passo a decidir.

O cerne da questão posta nestes autos cinge-se ao confronto entre o direito à intimidade, à privacidade e à segurança que assiste aos

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servidores públicos de um lado e os princípios que regem a Administração Pública, em especial, o da transparência e o da publicidade de outro.

A matéria debatida nesta ação não é nova nesta Corte, que já teve a oportunidade de se debruçar sobre o tema e concluir em sentido diametralmente oposto à pretensão dos autores. Refiro-me ao que consignou o Pleno deste Tribunal ao apreciar o segundo agravo regimental na Suspensão de Segurança 3.902/SP, Rel. Min. Ayres Britto, cujo acórdão foi assim ementado:

“SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. ACÓRDÃOS QUE IMPEDIAM A DIVULGAÇÃO, EM SÍTIO ELETRÔNICO OFICIAL, DE INFORMAÇÕES FUNCIONAIS DE SERVIDORES PÚBLICOS, INCLUSIVE A RESPECTIVA REMUNERAÇÃO. DEFERIMENTO DA MEDIDA DE SUSPENSÃO PELO PRESIDENTE DO STF. AGRAVO REGIMENTAL. CONFLITO APARENTE DE NORMAS CONSTITUCIONAIS. DIREITO À INFORMAÇÃO DE ATOS ESTATAIS, NELES EMBUTIDA A FOLHA DE PAGAMENTO DE ÓRGÃOS E ENTIDADES PÚBLICAS. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE ADMINISTRATIVA. NÃO RECONHECIMENTO DE VIOLAÇÃO À PRIVACIDADE, INTIMIDADE E SEGURANÇA DE SERVIDOR PÚBLICO. AGRAVOS DESPROVIDOS. 1. Caso em que a situação específica dos servidores públicos é regida pela 1ª parte do inciso XXXIII do art. 5º da Constituição. Sua remuneração bruta, cargos e funções por eles titularizados, órgãos de sua formal lotação, tudo é constitutivo de informação de interesse coletivo ou geral. Expondo-se, portanto, a divulgação oficial. Sem que a intimidade deles, vida privada e segurança pessoal e familiar se encaixem nas exceções de que trata a parte derradeira do mesmo dispositivo constitucional (inciso XXXIII do art. 5º), pois o fato é que não estão em jogo nem a segurança do Estado nem do conjunto da sociedade. 2. Não cabe, no caso, falar de intimidade ou de vida privada, pois os dados objeto da divulgação em causa dizem respeito a agentes públicos enquanto agentes públicos mesmos; ou, na linguagem da própria Constituição, agentes estatais

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agindo “nessa qualidade” (§6º do art. 37). E quanto à segurança física ou corporal dos servidores, seja pessoal, seja familiarmente, claro que ela resultará um tanto ou quanto fragilizada com a divulgação nominalizada dos dados em debate, mas é um tipo de risco pessoal e familiar que se atenua com a proibição de se revelar o endereço residencial, o CPF e a CI de cada servidor. No mais, é o preço que se paga pela opção por uma carreira pública no seio de um Estado republicano. 3. A prevalência do princípio da publicidade administrativa outra coisa não é senão um dos mais altaneiros modos de concretizar a República enquanto forma de governo. Se, por um lado, há um necessário modo republicano de administrar o Estado brasileiro, de outra parte é a cidadania mesma que tem o direito de ver o seu Estado republicanamente administrado. O “como” se administra a coisa pública a preponderar sobre o “quem” administra – falaria Norberto Bobbio -, e o fato é que esse modo público de gerir a máquina estatal é elemento conceitual da nossa República. O olho e a pálpebra da nossa fisionomia constitucional republicana. 4. A negativa de prevalência do princípio da publicidade administrativa implicaria, no caso, inadmissível situação de grave lesão à ordem pública. 5. Agravos Regimentais desprovidos”.

Na ocasião, firmou-se o entendimento no sentido de que o aparente conflito é resolvido pela própria Carta Magna quando dispõe, no art. 5º, XXXIII que

“XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos

informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.

O então Relator, Ministro Ayres Britto, assentou em seu voto que o cargo e função titularizados pelo servidor público, bem como sua remuneração constituem informações de interesse geral, tendo em vista se tratar de agente púbico, remunerado pelos cofres públicos, não cabendo, assim, invocar o direito à intimidade e à vida privada ante a prevalência dos princípios do Estado Republicano. Destacou, também,

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que essas informações não estão abrangidas pela parte final do mencionado dispositivo constitucional, uma vez que seu sigilo não é imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

Esta Corte entendeu que o cidadão que decide ingressar no serviço público adere ao regime jurídico próprio da Administração Púbica, que prevê a publicidade de todas as informações de interesse da coletividade, dentre elas o valor pago a título de remuneração aos seus servidores. Desse modo, não há falar em violação ao direito líquido e certo do servidor de ter asseguradas a intimidade e a privacidade.

Exatamente com a finalidade de dar concretude aos princípios da transparência e da publicidade que norteiam a atuação do Poder Púbico e considerando a necessidade de regulamentar a aplicação da Lei 12.527/2011 relativamente ao Poder Judiciário, que foi editada, pelo Conselho Nacional de Justiça, a Resolução 151/2012, que dispõe:

“Art. 1º O inciso VI do artigo 3º da Resolução nº 102, de 15 de dezembro de 2009, do Conselho Nacional de Justiça, passa a vigorar com a seguinte redação:

[...]

VI – as remunerações, diárias, indenizações e quaisquer

outras verbas pagas aos membros da magistratura e aos servidores a qualquer título, colaboradores e colaboradores eventuais ou deles descontadas, com identificação nominal do beneficiário e da unidade na qual efetivamente presta os seus serviços, na forma do Anexo VIII.

Art. 2º O Anexo VIII, da Resolução nº 102, de 15 de dezembro de 2009, do Conselho Nacional de Justiça, passa a vigorar na forma do Anexo Único da presente Resolução.

Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação” (grifei).

Esse ato normativo, ao permitir a divulgação da remuneração percebida pelo servidor com identificação nominal do beneficiário e da

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unidade na qual efetivamente presta os seus serviços, consoante demonstrado alhures, não viola os direitos à intimidade, à privacidade e à segurança invocados pelos autores, que, confrontados com os princípios da publicidade e da transparência que regem a atividade administrativa, bem como com o direito fundamental de acesso à informação, cedem lugar a estes últimos.

Ademais, contrariamente ao afirmado pelos autores, a Resolução 151/2012 do CNJ não extrapolou o poder regulamentar conferido àquele órgão, mas apenas disciplinou a forma de divulgação de informação que interessa à coletividade, consoante disposto na Lei 12.527/2011, in verbis:

“Art. 3°. Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se a assegurar o direito fundamental de acesso à informação e devem ser executados em conformidade com os princípios básicos da administração pública e com as seguintes diretrizes:

I - observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção;

II - divulgação de informações de interesse público, independentemente de solicitações;

(...)

Art. 4°. Para os efeitos desta Lei, considera-se: (...)

III - informação sigilosa: aquela submetida temporariamente à restrição de acesso público em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado;

IV - informação pessoal: aquela relacionada à pessoa natural identificada ou identificável;

(...)

Art. 31. O tratamento das informações pessoais deve ser feito de forma transparente e com respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, bem como às liberdades e garantias individuais.

§ 1°. As informações pessoais, a que se refere este artigo, relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem:

I - terão seu acesso restrito, independentemente de

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classificação de sigilo e pelo prazo máximo de 100 (cem) anos a contar da sua data de produção, a agentes públicos legalmente autorizados e à pessoa a que elas se referirem; e

II - poderão ter autorizada sua divulgação ou acesso

por terceiros diante de previsão legal ou consentimento expresso

da pessoa a que elas se referirem (...)” (grifei).

Com essas considerações, nego seguimento a esta ação, com fulcro no art. 21, § 1º, do RISTF.

Publique-se. Int..

Brasília, 14 de outubro de 2013.

Ministro LUIZ FUX

Relator

Documento assinado digitalmente

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