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Paulo dos Santos Pires 1. Universidade do Vale do Itajaí, SC. Márcio Soldateli 2. Caipora-Cooperativa para a Conservação da Natureza, Florianópolis-SC

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Avaliação da Qualidade Visual da Paisagem no Parque Estadual da Serra do

Tabuleiro-SC: uma aplicação metodológica focada no uso público e na

valorização turística.

Paulo dos Santos Pires1. Universidade do Vale do Itajaí, SC

Márcio Soldateli2. Caipora-Cooperativa para a Conservação da Natureza, Florianópolis-SC

RESUMO

Considerando que a paisagem em sua dimensão visual possui uma importância primordial na formação da imagem de destinos turísticos e na motivação da demanda, associado ao seu caráter de indicador de primeira mão do estado de conservação da natureza e da qualidade do ambiente, este trabalho tem por objetivo mostrar a aplicação de uma metodologia de avaliação da qualidade visual paisagem, a qual pode ser definida como método indireto de avaliação da qualidade visual por componentes. A avaliação ocorreu em um ponto de observação localizado no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro-SC e o resultado obtido, de acordo com os indicadores de qualidade visual utilizados, foi o de que as cenas observadas possuem uma diversidade visual predominantemente grande; um grau de naturalidade que variou de superior a média-superior; um nível de singularidade que variou de grande a razoável potencial de atratividade; e detratores visuais caracterizados como conjuntos de pequenas a médias intrusões visuais.

Palavras-chave: Turismo; Uso Público; Paisagem; Qualidade Visual; Parque Estadual da Serra do Tabuleiro-SC.

1Graduado em Engenharia Florestal pela UFSM-RS e doutor em Ciências (Área de Geografia Humana) pela USP-SP. Docente e pesquisador da Universidade do Vale do Itajaí junto aos Cursos de Mestrado em Turismo e Hotelaria; Doutorado em Administração e Turismo e Graduação em Turismo e Hotelaria. É, também, consultor ad hoc da Fundação O Boticário de proteção da natureza. pires@univali.br

2 Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (1995); Especialista em Gerenciamento de Projetos; e mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (1999). Atualmente é membro da Caipora-Cooperativa para a Conservação da Natureza, consultor e gerente de projetos na área de Turismo e Meio Ambiente, com mais de 10 anos de atuação principalmente no uso público em Unidades de Conservação, ecoturismo, turismo de aventura e educação ambiental. soldateli@yahoo.com.br

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1. Introdução

A apropriação da paisagem como objeto de abordagem ou como unidade de estudo por uma ampla gama de interesses profissionais e acadêmicos, inclui obviamente, a área do Turismo, dada a importância da paisagem enquanto indicador privilegiado da experiência de viagem do turista, na medida em que este, de acordo com Rodrigues (1992:75) “busca na viajem a mudança de ambiente, o rompimento com o cotidiano, a realização pessoal, a concretização de fantasias, a aventura e o inusitado e que quanto mais exótica for a paisagem mais atrativa será para o turista.”

Como a paisagem se constitui em um recurso da maior importância para o turismo, o seu estudo, ou mais precisamente a avaliação de sua qualidade estética/visual, é de particular interesse para o planejamento desta atividade (CERRO,1993). Caracterizar e analisar/avaliar tal qualidade identificando os aspectos diferenciais de uma dada porção do espaço com atributos naturais ou valores antrópicos é potencializá-lo, enquanto recurso, para o desenvolvimento do turismo. Para tanto, os estudos da paisagem despontam como uma área do conhecimento com inerente condição para o aporte metodológico à avaliação do potencial turístico de regiões, destinos e atrativos. Neste sentido, o presente trabalho3 expõe a avaliação da qualidade visual da paisagem em uma Unidade de

Conservação Estadual de Santa Catarina, ou seja, o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro –PEST, uma Unidade de Conservação Estadual administrada pela Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina-FATMA, localizado na região da Grande Florianópolis ( Figura 1) e, portanto, na esfera de influência direta de um dos principais pólos de atração turística do sul do Brasil.

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A Avaliação da Qualidade Visual da Paisagem no PEST constituiu um dos objetivos do projeto de pesquisa “Mapeamento de Trilhas e dos Impactos Ambientais Negativos nos Atrativos Naturais do Parque Estadual da

Serra do Tabuleiro, Santa Catarina, Brasil: adaptações e aplicações metodológicas”, coordenado pelo

Prof. ... e financiado pela FAPESC (Convênio: nº AAG 10.412/2005-4 / SPP: fctp 836/052).

Proponente: Universidade do Vale do Itajaí. Intervenientes: Fundação do Meio Ambiente – FATMA e Cooperativa para Conservação da Natureza – CAIPORA.

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Figura 1: Localização geográfica do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro-SC, Brasil

O crescimento e o desenvolvimento sócio-econômico desordenado da região de entorno do PEST, geraram conflitos no que tange ao uso e conservação de seus recursos naturais a atributos cênicos. Especialmente em relação ao turismo, os principais problemas são a especulação imobiliária, o atual modelo turístico presente na parte litorânea, bem como, a crescente e desordenada procura pelas áreas naturais do PEST para a prática de atividades recreativas e do turismo de aventura.

2. Marco teórico-metodológico

Para FONT (1989) há uma rica diferenciação do território expressa pela diversidade da paisagem e a imagem mais utilizada para difundir uma determinada região ou centro turístico é precisamente a sua paisagem, seja ela a expressão de espaços naturais ou humanizados. (idem, 1992). Já na esfera acadêmica e profissional, de acordo com Pires (2007), a paisagem adquire interpretações e acepções próprias do matizamento disciplinar contido na esfera da arte, das ciências exatas, das geociências, e das ciências sociais, podendo exprimir-se em três grandes dimensões

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conceituais, que segundo Jordana (1992), são a dimensão ecológica, a dimensão cultural e a dimensão estética/visual. Destas, a dimensão estética ou visual é a mais primitiva e a mais intuitiva e está relacionada com os aspectos sensitivos e perceptivos do ser humano que, ao valorá-la, lança mão de um juízo de valor intrinsecamente subjetivo. Dessa forma, com a definição de que “paisagem é a porção de espaço da superfície terrestre apreendida visualmente” (IGNÁCIO et al., 1984:40), têm-se uma idéia plena e ao mesmo tempo sucinta de seu significado. Como toda paisagem possui uma qualidade intrínseca à sua própria existência, à qual se agrega uma qualidade constatada no processo de sua percepção pelo observador, pode-se definir qualidade visual de uma paisagem como sendo “o grau de excelência de suas características visuais, constituindo no mérito para não ser alterada ou destruída e para a conservação da sua essência e estrutura atual” (IGNÁCIO et al., 1984:38).

Neste sentido, o aumento da qualidade visual de uma paisagem normalmente se dá quando no território por ela abarcado se verificam ocorrências como: a maior movimentação do relevo ou de irregularidades topográficas; a diversidade de usos do solo advinda das atividades humanas; ocorrências de obras de arte da engenharia e da arquitetura; ocorrência de vistas panorâmicas ou de grande alcance visual; ocorrência de vistas fechadas (fundos de vales, vales profundos e estreitos, como os cânions; a presença de cobertura vegetal, especialmente do tipo arbórea; a ocorrência de superfícies d’água e de margens com traçado naturalmente irregular; a ocorrência de episódios atmosféricos e meteorológicos (nascer/pôr do sol, neve, nebulosidade,...); e a presença de fauna nativa. (Adaptado a partir de LAURIE, 1970,76; LITTON, 1972; BOMBIN, 1989). A qualidade visual poderá ser potencializada diante do estado de conservação da integridade, da originalidade ou da autenticidade de tais ocorrências, sejam elas naturais ou culturais.

Para Laurie (1976), a avaliação da qualidade visual da paisagem enfoca geralmente um exercício comparativo, gerando uma tendência subjetiva. Este subjetivismo provém da própria educação recebida, atitudes afetivas e gostos adquiridos, que se manifestam quando um indivíduo percebe uma paisagem e emite um juízo de valor sobre a mesma. Jordana (1992) assume que a tarefa de valoração da paisagem não é fácil, uma vez que esta é conseqüência da relação entre um espaço visual e o observador. Comenta, ainda, que a percepção da paisagem, a partir de estímulos recebidos do meio, é um ato criativo, condicionado a fatores inerentes ao próprio indivíduo, a fatores educativos e culturais e a fatores emotivos, afetivos e sensitivos.

Na mesma linha de pensamento, Lucas (1990) admite a dificuldade em comparar a qualidade das paisagens, uma vez que a análise se dá em função da observação e julgamento individual, influenciado pelos instintos de comportamento, emoções, educação, cultura e experiências. No entendimento de Bombin et al. (1989), para a valoração é necessário o concurso de uma série de fatores plásticos e emocionais, com seus correspondentes juízos de valor,

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estabelecendo uma tripla problemática, por um lado, a qualidade intrínseca da paisagem, por outro, a resposta estética que produz no indivíduo e, finalmente, a atribuição de um valor. Por sua vez, Bernaldez (1981) observa que o estudo da paisagem liga o enfoque científico, abstrato e quantitativo e o aspecto da cultura empírica e sensorial. Em síntese, os métodos baseados, sobretudo, em juízo de valor de profissionais e de especialistas, podem ou não ser combinados com outros métodos que consideram as percepções e preferências pessoais do público e, ainda, ser complementados com o advento de determinadas técnicas estatísticas a fim de conferir um caráter mais quantitativo ou mensurável aos resultados obtidos.Assim, a aplicação dos métodos de estudos da paisagem, permite a aferição da qualidade dos atrativos, definindo a sua vocação turística e proporcionando uma melhor fundamentação para a tomada de decisões no processo de planejamento do turismo. (CERRO, 1993).

A acepção de qualidade visual de uma paisagem induz à apresentação da idéia decorrente de detração da qualidade visual da paisagem, pela qual uma atividade é considerada detratora da qualidade visual da paisagem quando a intrusão visual decorrente da sua presença, passa a incidir de forma negativa diretamente sobre a natureza e composição dos seus componentes físicos dotados de expressão visual. Portanto, a intrusão visual decorrente do estabelecimento de atividades humanas numa determinada paisagem, caracteriza o impacto visual destas atividades, passando a se verificar as modificações visuais que acarretarão na mudança do nível de qualidade pré- existente. (PIRES, 1993).

2.1 Principais classificações metodológicas no campo dos estudos da paisagem

Cerro (1993) considera que apesar da grande quantidade de métodos existentes, eles podem ser agrupados em três enfoques básicos: os estudos de consenso; a avaliação por componentes; e os estudos de preferências. Bernáldez (1981) ao abordar as alternativas para a valoração da paisagem apresenta a classificação proposta por Penning-Rowsell (1974) que divide os métodos de valoração da paisagem em duas grandes categorias: métodos independentes dos usuários da paisagem (realizados por especialistas); métodos dependentes dos usuários da paisagem. Finalmente Ignacio et al. (1984) classifica o universo metodológico, no tocante à avaliação da qualidade visual da paisagem, em: métodos diretos; métodos indiretos e métodos mistos de avaliação da qualidade visual.

3. A avaliação da qualidade visual no PEST

O método aplicado na presente análise, pode ser enquadrado nas seguintes classificações: método de avaliação da paisagem independente dos usuários (BERNÁLDEZ, 1981); método indireto de avaliação da qualidade visual da paisagem (IGNÁCIO et al., 1984); método de

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avaliação da paisagem por componentes (CERRO, 1993). É, portanto, um método subjetivo cujos critérios internos se baseiam em juízo de valor profissional a partir do conhecimento e da experiência de quem o adota e o utiliza.

3.1 Procedimentos metodológicos

Os indicadores de qualidade visual adotados para a análise da paisagem foram: diversidade; naturalidade; singularidade; e detratores. Os critérios internos de avaliação para cada indicador e seu detalhamento são apresentados nos Quadros 1, 2, 3, 4, 5, a seguir.

Componentes da Paisagem Características Visuais

Relevo Forma/volume, linha, espaço, escala/dimensão

Solo / Rocha Forma, textura, linha, cor

Vegetação Forma, textura, linha, cor

Água Forma, linha, cor, espaço, escala

Atividades Humanas Forma, textura, linha, cor, espaço, escala Quadro 1: Componentes e características visuais para o indicador Diversidade visual

Gradiente de Modificação da Paisagem Natural Classificação

- Paisagem natural sem alterações visíveis.

- Paisagem natural pouco alterada. Naturalidade Superior (S) - Paisagem predominantemente natural com alterações pequenas a moderadas. Naturalidade Média-Superior (MS) - Paisagem tipicamente rural (campestre, cultivada, colonial).

- Paisagem urbana/peri-urbana com entorno predominantemente natural.

Naturalidade (M) - Paisagem peri-urbana misturada com elementos da paisagem rural.

- Paisagem urbana/peri-urbana com presença de elementos naturais em seu entorno.

- Paisagem urbana com expressiva presença de áreas verdes (arborização de

rua, bosques, parques/praças). Naturalidade Média-Inferior (MI) - Paisagem urbana com poucos elementos naturais ou áreas verdes. Naturalidade Inferior (I)

Quadro 2: Gradiente de modificação da paisagem e classificação para o indicador Naturalidade

 Presença na paisagem de componentes e/ou suas propriedades visuais com atributos tais como unicidade, raridade, grandiosidade, excepcional beleza

 Grande amplitude visual (paisagem extremamente panorâmica)

 Ocorrência de fenômenos atmosféricos notáveis tais como nascer e pôr do sol, arco-íris, nuvens e nebulosidade, neve, geada

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 Paisagem natural sem alterações e/ou Presença observável de fauna  Paisagem natural sem alterações e/ou Presença observável de fauna

 Presença na paisagem de ocorrências ou aspectos ecológicos, geográficos ou ambientais de relevância educativa ou científica

 Ocorrência de interesse histórico ou cultural que possuam expressão visual Quadro 3: Atributos e ocorrências considerados:para o indicador Singularidade

A partir da constatação de tais atributos e ocorrências, adotou-se os seguintes critérios de classificação:

• Grande potencial de atratividade turística em nível nacional e internacional (Gr)

• Razoável potencial de atratividade turística em nível estadual a sub-nacional (Rz)

• Limitado potencial de atratividade turística em nível sub-estadual (regional) (Lm)

 Mineração de superfície; Desmontes de encostas/áreas de empréstimo/escavações

 Traçado de estradas e caminhos nas encostas em desarmonia com a topografia natural; Terrenos com erosão  Cursos e superfícies d’ água poluídos e assoreados;

 Margens de rios, lagos e lagunas erodidas e desprovidas de vegetação natural  Desflorestamentos/queimadas

 Avanço de edificações e elementos de urbanização sobre a linha natural da costa. Quadro 4: Possíveis intrusões decorrentes de atividades humanas que caracterizam os Detratores

Verificada a ocorrência de intrusões as mesmas foram classificadas da seguinte forma:

- Pequena intrusão (PI)

- Conjunto de pequenas intrusões (Cj-PI)

- Média intrusão (MI)

- Conjunto de médias intrusões (Cj-MI)

- Grande intrusão (GI)

- Conjunto de grandes intrusões (Cj-GI)

O procedimento de análise da qualidade visual da paisagem para cada um dos indicadores adotados considerou toda a amplitude lateral das vistas observadas, unificando dessa forma a seqüência das vistas acessíveis ao observador em uma única avaliação, tendo em conta que na

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prática a experiência visual do observador é exatamente o resultado do conjunto de todas as vistas por ele observadas, onde se agregam todos os seus componentes e elementos visuais constituintes. A apresentação do resultado dos registros para cada indicador de qualidade visual, da análise da paisagem é estruturada em um quadro síntese, cujo cabeçalho modelo é o seguinte:

Quadro 5: Cabeçalho modelo para o registro dos resultados de qualidade visual

Observação Indicadores de

Qualidade Visual

Ponto de Observação Vista Observada Diversidade Naturalidade Singularidade

Os resultados deste quadro são acompanhados de uma análise descritiva das classificações atribuídas às vistas observadas em cada um dos pontos de observação e para cada indicador de qualidade visual.

3.2 A aplicação do método e análise dos resultados no ponto de observação do Morro da Guarda

A análise da qualidade visual da paisagem foi efetuada de acordo com os instrumentos e procedimentos anteriormente mencionados. Devido às limitações de espaço, e como a presente abordagem dá mais prioridade ao processo metodológico do que à totalidade dos resultados obtidos, os resultados serão apresentados apenas para uma única vista − e não para todas as vistas avaliadas de fato − e em apenas um dos três pontos de observação efetivamente escolhidos dentro da área de estudo4. Neste sentido, será apresentado no item a seguir o resultado da análise da paisagem no

ponto de observação da “Pedra do Urubú” e, na sequência, uma síntese da qualidade visual da paisagem observada a partir deste mesmo ponto.

3.2.1 A qualidade visual da paisagem no ponto de observação da Pedra do Urubu no Morro da Guarda (Guarda do Embaú, Palhoça), com vista da Praia da Guarda do Embaú, Rio da Madre (Palhoça) e conjunto orográfico pertencente ao PE da Serra do Tabuleiro

O nível geral de destaque do indicador diversidade para a cena observada foi classificado como grande. No componente relevo a extensão espacial (vista da linha do horizonte no mar e), a dominância visual da serra e Ilha dos Corais e o contraste das linhas delimitadoras da orla da Praia da Guarda e das margens do Rio da Madre determinaram a natureza deste destaque. Já no

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componente solo a natureza do destaque foi o contraste e a extensão visual da faixa de areia branca da praia, dadas pela sua textura fina, cor clara e definição da linha de praia (água/terra). As dunas do Siriú, embora no plano de fundo, também evidenciaram tais características. A vegetação alcançou grande destaque pelas características visuais textura, cor e espaço por dominância visual e extensão. O componente água representada pelo mar aberto e sua amplitude e pelo Rio da Madre, disposto quase que paralelamente á linha de costa antes da sua desembocadura no oceano, obteve destaque grande a ilimitado praticamente em todas as características visuais A natureza deste destaque na cena observada foi proporcionada ora pela extensão, ora pela dominância ora pelos contrastes visuais. Já as atividades humanas alcançaram níveis pequenos de destaque de algumas ocorrências tais como uma área de empréstimo nas encostas da serra, uma área urbanizada (Garopaba) ao fundo da Praia da Gamboa e a vista da cidade de Paulo Lopes no plano de fundo da cena, cuja natureza foi o contraste destes com o entorno predominante mente natural. O Quadro 7 a seguir ilustra o preenchimento dos dados referentes ao ponto de observação considerado ilustrando, a título de exemplo, apenas o componente “Relevo”.

Ponto de Observação

Pedra do Urubu / Morro da Guarda

Cena:

Praia da Guarda do Embaú / Foto

10 a 13 Guarda do Embaú / Palhoça Rio da Madre / Praia. Formação de bandas especialmente da Praia e do Rio

Componente Características Visuais

Nível do Destaque Ilimitado ( I ); Grande (G); Moderado (M); Pequeno (P); Nenhum (N) Natureza do Destaque Contraste (C); Dominância (D); Extensão (E) Planos de Observação

1º Plano (PP); 2º Plano (SP); 3º Plano (TP); Plano de Fundo (PF)

Relevo

Forma / Volume G D TP Ilimitado na linha de horizonte do mar Linha G C SP Morros

Espaço G / I E SP / TP Rio da Madre / Praia. Formação de bandas especialmente da Praia e do Rio Escala /

Dimensão G D TP Serra - Ilha dos Corais na Orla

Quadro 6: Preenchimento dos dados referentes ao relevo em um ponto de observação

O indicador naturalidade apresentou nível médio-superior (predominante) a superior no segundo e terceiro planos de observação correspondentes à planície costeira e ao mar. No plano de fundo da planície costeira e encostas da serra, verificou-se o nível médio de naturalidade, devido à presença das atividades humanas já mencionadas anteriormente.

O nível do indicador singularidade foi classificado como grande devido ao cenário natural integrando os elementos rio/restinga/praia/dunas fixas/ mar em sua amplitude, harmonia, força e beleza. Os detratores visuais na cena ocorreram todos no plano de fundo, classificando-se como pequenas e conjunto de pequenas intrusões visuais, com destaque para a área de empréstimo na encosta da serra, a área urbana de Garopaba e a Praia da Gamboa. O Quadro 8 a seguir ilustra o

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preenchimento dos dados referentes ao ponto de observação considerado ilustrando em relação aos indicadores “naturalidade”, “detratores” e “singularidade”.

Ponto de Observação

Pedra do Urubu / Morro da

Guarda Cena Foto nº

Naturalida de (S; MS; M;

MI; I)

Primeiro Plano

Segundo Plano S / MS Mar / Planície

Terceiro Plano S / M Mar / Fundo da planície e encostas montanhosas Plano de Fundo Detratores (PI; Cj-PI; MI; Cj-MI; GI; Cj-GI) Primeiro Plano Segundo Plano

Terceiro Plano PI / Cj. PI Área de Empréstimo / Praia da Gamboa ao fundo da praia

Cj. PI Área urbana de Garopaba

Plano de Fundo Singularid ades (Gr; Rz; Lm) Primeiro Plano

Segundo Plano GR Conjunto rio / restinga / praia / mar

Terceiro Plano GR Beleza cênica / amplitude visual / harmonia / forca

Plano de Fundo

Quadro 7: Preenchimento dos dados referentes a naturalidade, detratores e singularidade.

As figuras 2, 3, 4 e 5 a seguir mostram as quatro vistas representativas do ponto de observação da Pedra do Urubú no Morro da Guarda, município de Palhoça.

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Figura 2: Planície costeira e encostas da Serra do Tabuleiro

Figura 3: Praia da Guarda e Rio da Madre

Figura 4: Foz do Rio da Madre no Oceano Atlântico Figura 5: Costão do Morro da Guarda e Ilha dos Corais

3.2.2 Síntese da qualidade da paisagem no ponto de observação com base nos indicadores de qualidade visual

A partir das classificações finais dadas a cada um dos indicadores de qualidade visual analisados em cada uma das vistas consideradas em cada ponto de observação, cujo registro dos resultados é feito em um quadro final (ver modelo no Quadro 6), é apresentada uma síntese da qualidade da paisagem. A título de exemplo, apresenta-se a seguir apenas o resultado do ponto de observação da Pedra do Urubu no Morro da Guarda que foi o seguinte: Diversidade visual grande (predominante) a moderada; Naturalidade superior a média-superior; Singularidades

de grande a razoável potencial de atratividade; Detratores visuais ⇒ conjuntos de pequenas a médias intrusões visuais.

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4. Considerações Finais

A metodologia desenvolvida para a análise da paisagem através dos indicadores de qualidade visual está fundamentada no campo de conhecimento dos Estudos da Paisagem. Ao contemplar o campo do turismo, a análise da paisagem fornece subsídios ao processo de planejamento turístico, mais especificamente nas fases de inventário e diagnóstico de recursos turísticos, tanto em escala municipal quanto regional. A metodologia pode, também, vir a integrar o processo de diagnóstico ambiental rápido no que diz respeito exatamente à paisagem em seu aspecto visual.

Como o objetivo nesta ocasião foi o de expor a aplicabilidade de um procedimento de análise visual da paisagem, e devido às limitações de formatação estabelecidas, adotou-se apenas um ponto de observação localizado no PEST, no total de três pontos de observação cujas vistas foram efetivamente analisadas no decorrer do projeto de pesquisa original. Neste caso, portanto, o resultado da análise e da classificação dos indicadores de qualidade visual será a base de informações para subsidiar os gestores do uso público da área quanto ao aproveitamento dos pontos de observação (pontos proeminentes das trilhas e as vistas que deles se observam), em programas de interpretação ambiental dirigidos ao público visitante. Uma outra possibilidade a partir das informações geradas na descrição dos indicadores de qualidade visual, é a de utilizar determinados aspectos nelas contidos para a elaboração e divulgação de material informativo com conteúdo motivacional (folheteria, livretos, encartes, cartazes) dirigido aos potenciais visitantes da área, sejam eles da própria população local ou turistas.

A metodologia desenvolvida neste estudo é aberta ao aperfeiçoamento e está sujeita a permanente revisão, o que de fato vem ocorrendo desde aproximadamente treze anos, quando das primeiras experiências de adaptação do arcabouço metodológico contido nos campo dos estudos da paisagem, ao contexto do turismo, particularmente em municípios e localidades no litoral e no Vale do Rio Itajaí, em Santa Catarina. Não obstante, ao longo deste período, tem-se verificado uma insipiente atividade de pesquisa e produção nesta área por parte da academia no Brasil, e tal fato tem gerado uma constante inquietação quanto à pertinência e à importância da inclusão dos estudos da paisagem em sua dimensão visual/estética no campo do turismo.

Com isso, doravante, pretende-se aprofundar a investigação em relação a esta inquietação, no sentido de contemplar pesquisas e estudos desenvolvidos fora do país voltados para esta vertente de abordagem. Neste sentido, através de um levantamento bibliográfico apenas parcial, já foi possível identificar estudos nesta área, a exemplo de Jacobsen (2007), que faz uma revisão dos métodos de percepção da paisagem por turistas, baseada em fotografias, assim como Perez (2002), que verificou a percepção e as preferências da paisagem rural de Extremadura na Espanha, através

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do mesmo recurso fotográfico. Entretanto, em meio ao universo de estudos da paisagem existentes na literatura, também se verificou que será necessário discernir e especificar aqueles estudos que adotam a paisagem como categoria de análise em contextos diversos no âmbito do planejamento ambiental e das ciências sociais, daqueles estudos cuja especificidade contempla o turismo como contexto temático, os turistas enquanto sujeitos e os destinos turísticos como objeto de abordagem.

5. REFERÊNCIAS

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Referências

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