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IDENTIDADES DE GÊNERO, RAÇA E SEXUALIDADE E A RELAÇÃO COM A LÍNGUA INGLESA: UMA REFLEXÃO TEÓRICA

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IDENTIDADES DE GÊNERO, RAÇA E SEXUALIDADE E A RELAÇÃO COM A LÍNGUA INGLESA: UMA REFLEXÃO TEÓRICA

Rosana Aparecida Ribeiro de Sene 1 Resumo: O presente artigo traz reflexões dos estudos realizados no Mestrado de Linguagem, Identidade e Subjetividade, no qual minha pesquisa de mestrado está sendo desenvolvida. As reflexões trazidas aqui são pertinentes ao estudo da linguagem, especificamente à língua inglesa. O objetivo deste artigo é refletir: como a linguagem nas aulas de língua inglesa pode colaborar na (des)construção de estereótipos, racismo, machismo, e homofobia em relação às identidades de gênero, raça e sexualidade existentes na sociedade. A metodologia utilizada neste estudo será a pesquisa bibliográfica, com o referencial teórico em Moita Lopes (2002), Auad (2003, 2006), Gomes (2005), Fabrício (2006), Ferreira (2006, 2012, 2015), Butler (2010), Garcia (2011), Hall (2011), Furlani (2013), Louro (2013), Silva (2013), Dias e Mastrella-de-Andrade (2015), Melo (2015), Nelson (2015), respondendo a seguinte pergunta de pesquisa: Como a língua inglesa pode contribuir na desconstrução de estereótipos, racismo, machismo e homofobia às identidades de gênero, raça e sexualidade na sala de aula? Os resultados esperados são: desconstruir estereótipos no ambiente escolar, no discurso de educadoras/es e estudantes no que se refere às relações de poder, desestabilizando a composição do binarismo: homem/mulher, negro(a)/branco(a), heterossexual/homossexual, aprendendo a utilizar a linguagem para colaborar na construção de uma sociedade mais humana e digna para todas as pessoas.

Palavras-chave: Identidades, Gênero, Raça, Sexualidade, Língua Inglesa.

Introdução

Questões de gênero, raça e sexualidade no contexto brasileiro ainda são polêmicas, complexas e desconfortáveis, (FERREIRA; 2012, LOURO; 2013, MELO; 2015,) vistas ainda como tabus (FERREIRA; 2012) tratadas na maioria das vezes, de forma essencializadas e estereotipadas por algumas pessoas, principalmente no contexto escolar. Pesquisas têm demonstrado a necessidade de tratar esses temas no ambiente educacional, (FERREIRA; 2012, 2015, NELSON; 2015, MELO; 2015) como possibilidades de repensar, desconstruir e reinventar as normas sobrepostas para as identidades de gênero, raça e sexualidade numa tentativa de colaborar para a construção de uma sociedade mais inclusiva, acolhedora e democrática, na qual as diferenças sejam vistas e compreendidas como fonte de enriquecimento social, e não a causa de sofrimento, violência e exclusão (FERREIRA; 2015, MELO; 2015, MELO; MOITA LOPES; 2014, NELSON; 2015).

Dessa forma, se torna relevante refletir no ensino de língua inglesa em sala de aula, conforme defende Melo (2015), que ao ensinarmos inglês, estamos agindo na vida social e coconstruindo

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pessoas e práticas sociais. Contudo, também cristalizando a linguagem, naturalizando discursos, em uma emergente possibilidade de (re)pensarmos, (des)construírmos e (re)inventarmos maneiras de desenvolver o trabalho escolar, com consciência de que não há neutralidade na linguagem e nas práticas pedagógicas (FURLANI; 2013, LOURO; 2013, MELO; 2015). Se fazendo necessário compreender que as salas de aula estão sendo, cada vez mais, habitadas por pessoas diversas. Tornando-se necessária a observação de quais discursos estão sendo (re)forçados e naturalizados neste meio, no qual em muitos momentos podem gerar desconforto, exclusão, violência e sofrimento para aquelas e aqueles envolvidas/os no trabalho escolar.

Com isso, o impacto de se perceber diante de identidades "deslocadas", "descentradas" causam insegurança e instabilidade, entre as identidades tradicionais e as identidades modernas. Pois, “as velhas identidades que eram tidas como estabilizadas, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, o qual, até aqui era visto como um sujeito unificado, mas que agora, vem tendo suas identidades transformadas continuamente” (HALL; 2011, p. 07).

Contudo é possível compreender, conforme algumas pesquisas, (LOURO; 2013, MOITA LOPES; 2002, MOITA LOPES; FABRÍCIO; 2002, BUTLER; 2010, HALL; 2011, SILVA; 2013, WOODWARD; 2013, DIAS; MASTRELLA-de-ANDRADE; 2015) que as identidades não são fixas, não são biológicas, mas são construídas socialmente, são instáveis, e estão em constante processo de formação, transformação e (des)construção o tempo todo de nossas vidas. Causando impacto, estranheza, para aquelas pessoas de (con)vivência tradicional, mas também ao mesmo tempo, possibilitando uma melhor (con)vivência social, para aquelas pessoas que assumem suas identidades modernas, de gênero, de raça, de sexualidade, de etnia, de nacionalidade, entre outras.

Dessa maneira, a língua ao ser ensinada pode ser vista como um instrumento para a prática social, (FERREIRA; 2006), ou seja, a língua como instrumento para questionar, problematizar, as normas e costumes que formam a sociedade. À vista disso, a sala de aula de línguas é, essencialmente, um espaço onde se aprende línguas para construir significados (MOITA LOPES; 2002) para ir além do binarismo, com perspectivas de utilizar a língua para compreender o contexto social, político e ideológico no qual as/os estudantes estão inseridas/os, ou seja, a língua inglesa no processo de ensino-aprendizagem para além do conceito de língua como código, a qual possa ser utilizada de maneira contextualizada mostrando também histórias locais e globais das pessoas, (MELO; 2015) rompendo com o preconceito, racismo e estereótipo, presentes às vezes, nas práticas

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de comunicação contra certos grupos de identidades menos visibilizadas, tanto no ambiente escolar, como quanto na sociedade.

Sendo assim, este artigo estrutura-se da seguinte maneira: Na primeira seção (1): Compreendendo as identidades de gênero, raça e sexualidade, na segunda seção (2): As identidades de gênero, raça e sexualidade e a relação com a língua inglesa: uma reflexão teórica, e na terceira seção (3): Considerações finais.

1. Compreendendo as identidades de gênero, raça e sexualidade

A cada dia, se torna mais complexo vivenciar as identidades, as quais as pessoas assumem rompendo barreiras e fronteiras, antes não ultrapassadas. Refiro-me as identidades de gênero, raça e de sexualidade, as quais se tornam a cada dia mais visíveis e desafiadoras. Demonstrando coragem, ousadia e diferença por um lado, e de outro as questões de violência, machismo, racismo, homofobia e estereótipos, quando são vividas publicamente. À vista disso, se torna relevante compreender tais identidades, no intuito de colaborar para a construção de um mundo melhor. No qual, as pessoas possam viver suas identidades sem sofrer violência na sua trajetória.

Dessa forma, Louro (2007, p. 206) menciona que “[...] lidar com o conceito de gênero significa colocar-se contra a naturalização do feminino e, obviamente, do masculino", nos conduzindo a (re)pensar na maneira como a sociedade estabelece as vivências para as mulheres e para homens na rotina diária. Em que, as pessoas são hostilizadas se ousarem adentrar em espaços considerados apropriados conforme o gênero, raça, sexualidade, condição social entre outros rótulos pensados para elas. Ou seja, gênero é o conjunto de expressões daquilo que se pensa sobre o masculino e o feminino, sendo que a sociedade constrói longamente, durante os séculos de sua história, significados, símbolos e características para interpretar cada um dos sexos (AUAD; 2003). Assim, Garcia (2011) afirma que gênero parte da ideia de que o feminino e o masculino não são fatos naturais ou biológicos, mas sim, construções culturais. Pois, por gênero entendem-se todas as normas, obrigações, comportamentos, pensamentos, capacidades e até mesmo o caráter que se exigiu que as mulheres tivessem por serem biologicamente mulheres. À vista disso, considero gênero como uma construção social e cultural (LOURO; 2007, AUAD; 2003, BUTLER; 2010, GARCIA; 2011), a qual incute nas pessoas características específicas de como ser "mulher" e de como ser "homem" na sociedade. Se fazendo importante compreender que "homem e masculino

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podem, com igual facilidade, significar tanto um corpo feminino como um masculino, e mulher e feminino, tanto um corpo masculino como um feminino" (BUTLER, 2010, p. 24).

Entretanto, gênero se torna uma questão ainda, mais complexa quando pensamos nas questões raciais. As quais são vivenciadas pelas pessoas negras com graves consequências, todos os dias, simplesmente por seus corpos serem negros.

Gomes (2005) declara que as raças são, construções sociais, políticas e culturais produzidas nas relações sociais e de poder ao longo do processo histórico. E que não significa, de forma alguma, um dado da natureza. Pois, é no contexto da cultura que nós aprendemos a enxergar as raças. Isso significa que, aprendemos a ver negros e brancos como diferentes na forma como somos educadas/os e socializadas/os, a ponto de que essas ditas diferenças serem introjetadas em nossa forma de ser e ver o outro, na nossa subjetividade, nas relações sociais mais amplas. Aprendemos, na cultura e na sociedade, a perceber as diferenças, comparar, a classificar, (hierarquizando as classificações sociais de gênero, de raça e sexualidade) ou seja, também aprendemos a tratar as diferenças de forma desigual (MELO; 2015). Dessa forma, compreendo raça como socialmente e historicamente construída, conforme Ferreira (2012, 2014), Gomes (2005) e Melo (2015). E que, quando as pessoas são convidadas a se autoclassificar com relação à raça/etnia, suas decisões estão relacionadas às imagens que já foram construídas para elas, tanto no âmbito social quanto histórico, (FERREIRA; 2006). Portanto, se faz importante construir uma autoestima negra, a qual seja capaz de empoderar-se da sua cor, para transpassar a dolorida barreira do racismo, do preconceito e de estereótipos.

Pois, a complexidade das identidades se tornam muito mais tensa, quando os corpos negros assumem viver a sua sexualidade, a qual não seja a heterossexualidade. Essa complexidade vem acompanhada de muita violência e racismo. Carregando o forte estereótipo de que os corpos negros desempenham a heteronormatividade e virilidade, sempre. Pois “no senso comum homens negros que não desempenham performances discursivas e corporais de heterossexual, podem ser acuados de estarem negando a sua própria origem e contrariando as matrizes hegemônicas desta raça” (MELO, 2014, p. 653). Assim, os homens que se afastam da masculinidade hegemônica são considerados diferentes, são apresentados como o outro e, usualmente, experimentam práticas de discriminação ou subordinação (LOURO; 1997), algumas vezes fatais.

Pesquisadoras/es (MOITA LOPES; 2002, MELO; 2015, FERREIRA; 2012, 2015; NELSON; 2015, LOURO; 2015, FURLANI; 2015) defendem que temas como raça e racismo, desigualdades de gênero, sexualidade e preconceito, os quais apontam diretamente para questões de desigualdade,

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dependência e sofrimento humano, devem ser explorados de modo a garantir e enfatizar a sua pertinência no mundo social.

2. As identidades de gênero, raça e sexualidade e a relação com a língua inglesa: uma reflexão

teórica

Considerando que a linguagem não é neutra (FABRÍCIO; 2006, LOURO, 2013, MELO, 2015) e que "nossas práticas discursivas envolvem escolhas (intencionais ou não) ideológicas e políticas, atravessadas pelas relações de poder, que provocam diferentes efeitos no mundo social" (FABRÍCIO, 2006, p. 48), é fundamental que se reflita sobre o(s) modo(s) como se utiliza(m) a linguagem em nossas aulas de línguas e nos materiais didáticos que adotamos (MELO; 2015) no sentido de colaborar, ou não, com a "naturalização de discursos que reforçam e normalizam discursos que podem trazer sofrimentos as/aos envolvidas/os com o trabalho escolar" (MELO, 2015, p. 72). A importância de ficar atenta/o, no ambiente escolar, em relação a quais identidades são legitimadas e quais são excluídas, é decorrente ao fato, de que quando a/o estudante não consegue se encontrar no mundo social descrito pelas/os professoras/es é como se a sua vida não existisse (MOITA LOPES; 2002).

Pesquisas têm demonstrado a necessidade de tratar esses temas no ambiente educacional, (FERREIRA; 2012, 2015, LOURO; 2013; NELSON; 2015; MELO; 2015) como possibilidades de repensar, desconstruir e reinventar as normas sobrepostas para as identidades de gênero, de raça e de sexualidade numa tentativa de colaborar para a construção de uma sociedade mais inclusiva, acolhedora e democrática. Tais pesquisas advogam para a necessidade de se considerar e de se compreender as diferenças como fonte de enriquecimento social, e não a causa de sofrimento, de violência e de exclusão (FERREIRA; 2015, MELO; 2015, MELO; MOITA LOPES; 2002, NELSON; 2015).

Assim, é preciso desenvolver, nas aulas de língua estrangeira, mais especificadamente nas aulas de inglês, um espaço no qual se aprenda a língua para construir significados no mundo social (MOITA LOPES; 2002), seja por meio da leitura, da compreensão oral, da produção escrita, de maneira a construir a si e aos outros, pois somos construídas/os, também pelo olhar do "outro".

Principalmente, no ambiente escolar, no qual as salas de aula estão sendo, cada vez mais, habitadas por pessoas diversas; se tornando importante que as/os docentes observem quais discursos são utilizados para (re)forçar e naturalizar o desconforto, a exclusão, a violência e o sofrimento para

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aquelas e aqueles que se encontram no espaço escolar. Pois, a linguagem se transforma em verdade pela repetição (MELO; 2015), a repetição de discursos na mídia, nas escolas, nas igrejas, nas mesas de bar, nas piadas trocadas em ambientes de trabalho, entre outros locais. Isso é tão recorrente que é fácil se apropriar de tais atos de fala e o veiculá-los nas conversas cotidianas, nos comentários, nos posts, tanto que eles se tornam verdades que marcam os corpos (MELO; 2015).

Contudo, não é nenhuma novidade que a forma de linguagem hegemônica normatizou o tratamento masculino como forma genérica para se referir a homens e a mulheres (FURLANI; 2013), “a ponto de dizermos "os homens" para designar os seres humanos" (BEAUVOIR; 1970), ou ainda, sob a ótica de uso correto da gramática, utilizar-se do masculino para referir-se a várias pessoas, se dentre essas estiver presente um corpo masculino. Ocorre, também, a distribuição de adjetivações, tais como para as meninas: apáticas, tranquilas, dóceis, servis, disciplinadas, obedientes, cuidadosas, choronas, emotivas; e para os meninos: dinâmicos, barulhentos, agressivos, indisciplinados, desobedientes, negligentes, não aplicados, desarrumados, sujos, autônomos, seguros, não choram (AUAD; 2006).

Dessa forma, percebe-se que a linguagem institui e demarca lugares para as pessoas, principalmente ao que se refere a gênero, a raça e a sexualidade. Não apenas pelo ocultamento do feminino, e sim, também, pelas diferenciadas adjetivações que são atribuídas aos sujeitos, pelo uso (ou não) do diminutivo, pela escolha dos verbos, pelas associações e pelas analogias feitas entre determinadas qualidades, atributos ou comportamentos. Estes mecanismos são utilizados em relação às raças, etnias, classes, sexualidades (LOURO, 1997, p. 67). Ocorrendo a demarcação das diferenças como o uso ou não do diminutivo, como por exemplo: menininha, bonequinha, princesinha, e o aumentativo, como por exemplo: garotão, meninão, filhão ou ainda pela escolha verbal: o menino é educado para trabalhar e a menina para maternar (FURLANI; 2013).

Diante disso, nossas práticas discursivas envolvem escolhas que têm impactos diferenciados no mundo social e nele interferem de forma variada (FABRÍCIO; 2006), haja visto que, ao referir-se a meninas e a meninos ou a homens e mulheres referir-sempre na forma masculina, independente da proporção numérica, por mais que não pareça ser um ato inofensivo, na prática acaba por colaborar em reforçar a "superioridade" de um gênero sobre o outro e visibilizando a menina, a garota, a mulher, a idosa (FURLANI; 2013) dando mais visibilidade ao masculino. Dessa forma, "a linguagem não apenas expressa relações, poderes, lugares, ela os institui, ela não apenas veicula, mas ela produz e pretende fixar diferenças" (LOURO, 1997, p. 65) entre as pessoas, excluindo e

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demarcando, quase sempre de forma muito "natural", quase imperceptível, mas impositiva e repetitiva.

Portanto, o discurso, tanto no modo oral quanto no modo escrito, acaba por moldar o que dizemos, e, portanto, como nos percebemos à luz do que o outro significa para nós: o indivíduo torna-se consciente de si mesmo no processo de tornar-se consciente dos outros. O que somos, nossas identidades sociais, portanto, são construídas por meio de nossas práticas discursivas com o outro: "as pessoas têm suas identidades construídas de acordo com o modo através do qual se vinculam a um discurso no seu próprio e nos discursos dos outros (MOITA LOPES; 2002). Ou seja, “partindo do princípio da linguagem como ação, considerando que ao enunciarmos, algo é realizado: assim, podemos refletir sobre os sofrimentos que causamos inclusive nas aulas de Língua Inglesa" (MELO, 2015, p. 78) quando compactuamos em manter silenciadas as discussões sobre gênero, raça e sexualidade na sala de aula, seja para manter esse local como harmônico, seja pela ignorância intencional, ou não, seja pelo fato de (des)considerar as "piadinhas" e as "brincadeirinhas" como violência.

Muitas vezes, o que ocorre é que aquilo que é chamado de ignorância pode ser visto como ignorância intencional, a qual se trata de uma recusa de ver o óbvio, uma recusa de ouvir o que está sendo dito (NELSON; 2015) na tentativa de manter a heteronormatividade, homem, branco, como representatividade ideal. Ou seja, a heteronormatividade refere-se aos processos e aos discursos que fazem parecer com que a heterossexualidade - e apenas ela- seja vista como "normal" ou "natural", (NELSON; 2015), desconsiderando as demais sexualidades.

Dessa forma, se faz necessário que professoras/es estejam atentas/os ao material didático, aos discursos utilizados, as supostas "brincadeirinhas" relacionadas ao gênero, à raça e à sexualidade para desconstruir os estereótipos, os preconceitos, o racismo, o machismo, a homofobia e o sexíssimo existentes. Furlani (2013) menciona que a linguagem, tanto na forma verbal ou escrita, seja em qualquer nível de ensino, é bom evitar o tratamento exclusivo no masculino, bem como ficar atenta/o para a linguagem presente nos livros didáticos, como por exemplo; ao invés de utilizar a palavra “homem”, que se utilize “as pessoas”, ou "os homens e as mulheres", "as meninas e os meninos", "os professores e as professoras" como referência para a comunicação. E que para se referir a espécie, é possível usar também a expressão: “espécie humana ou a humanidade”. (FURLANI, 2013, p. 73). Criando possibilidades para que mulheres, homens, negras/os, gays, lésbicas, travestis, transexuais, bissexuais e demais identidades sejam incluídas na sociedade, principalmente no ambiente escolar, sem sofrer repressões por isso, encontrando-se representadas

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em todos os âmbitos da sociedade, principalmente nos discursos de professoras/es, colegas estudantes e material didático.

Assim sendo, é preciso que se tenha mais ciência dos discursos que utilizamos e dos preconceitos que vão se cristalizando, para que, a partir disso, se tenha a possibilidade de desconstruí-los em sala de aula, questionando-os e contestando-os (MELO; 2015). Uma vez que, os corpos negros, femininos, homoafetivos sofrem quando tentam romper com “o discurso antigo que estabelece corpos brancos como legítimos e marginaliza os ébanos pelo silenciamento do racismo” (MELO; ROCHA; JUNIOR 2013, p. 241). Em um país, como o Brasil que não se afirma racista e que insiste em se denominar-se como "democracia racial", a linguagem pode se tornar uma ferramenta importante de “empoderamento”, para a construção de identidades positivas rompendo com os estereótipos existentes as questões de gênero, raça e sexualidade.

Para tanto, se faz necessário compreender que a linguagem também fere (MELO; 2015) e que a naturalização de discursos que desqualificam, reforçam e normalizam identidades menos representadas em função de enaltecer identidades de homem, branco, heterossexual, acaba por trazer sofrimentos àquelas/es que diferem dessas identidades, principalmente as/aos envolvidas/os com o ambiente escolar. Sendo assim, cabe afirmar mais uma vez, que o ensino de língua inglesa, desempenha um papel importante ao proporcionar uma aprendizagem vista como instrumento para a prática social (FERREIRA; 2006) compromissada em construir significado (MOITA LOPES; 2002) para e na vida das/os estudantes.

Cabendo ao ambiente escolar o desafio de proporcionar interação e construção das identidades de gênero, raça e de sexualidade por meio da linguagem. Isso porque as/os profissionais da educação e as/os estudantes estão o tempo todo, nesse ambiente, em contato umas/ns com as/os outras/o, utilizando-se da linguagem. Desse modo, compreender o modo como a linguagem é usada, principalmente nas relações de gênero, de raça e de sexualidade nesse ambiente, é possibilitar a oportunidade as/aos estudantes de empoderamento da língua para desconstruir as hierarquizações existentes proporcionando o conhecimento para construir uma sociedade melhor, baseada nos direitos humanos, enfatizando o respeito e a inclusão a todas as pessoas.

3 Considerações finais

A partir de tais reflexões, se faz importante buscar por uma educação que reconheça o papel da língua na construção do mundo social (PINTO; 2014), compreendendo que ensinar uma língua está

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para além da descrição e da comunicação (MELO; 2015). Com isso, o discurso; como uma construção social é, portanto, percebido como uma forma de ação no mundo (MELO; 2015). Investigar o discurso a partir dessa perspectiva é analisar como as/os participantes envolvidas/os na construção do significado estão agindo no mundo por meio da linguagem e estão, desse modo, construindo a sua realidade social e a si mesmas/os: através da comunicação social as pessoas definem e constroem sua realidade social, dão forma e agem sobre ela, (MOITA LOPES; 2002).

Dessa forma, este artigo se propôs a investigar a seguinte pergunta de pesquisa: Como a língua inglesa pode contribuir na desconstrução de estereótipos, racismo, machismo e homofobia às identidades de gênero, raça e sexualidade na sala de aula? Assim, foi possível constatar a necessidade de um ensino-aprendizagem de língua inglesa, que problematize o sofrimento construído na e pela linguagem (MELO; 2015), no qual os corpos que diferem da heterossexualidade, branco, masculino são marcados nas práticas sociais como inferiores e desqualificados para exercer qualquer tipo de autonomia e poder. Dessa forma, a língua inglesa se torna um instrumento importante de questionamento, problematização, que pode oferecer possibilidades para quebrar barreiras, transgredir, romper com o silenciamento das identidades de gênero, raça e de sexualidade e inserir os corpos racializados, generificados e sexualizados como participantes ativos em sala de aula (MELO; 2015). Abrindo e criando possibilidades de uma educação cidadã para todas as pessoas.

Pois se torna "intolerável conviver com um sistema de leis, de normas e de preceitos jurídicos, religiosos, morais ou educacionais que discriminam sujeitos porque seu modo de ser homem ou de ser mulher, suas formas de expressar seus desejos e prazeres não corresponde àqueles nomeados como "normais" (LOURO, 2007, p. 201). Considero que uma educação cidadã e inclusiva para todas as pessoas, se constrói também nas aulas de língua inglesa. A qual pode se constituir em um espaço para problematizar as questões de gênero, de raça e de sexualidade e outros temas de relevância social. Pois, tais temas se encontram envolvidos na vida de nossas/os estudantes, encontrando na linguagem o instrumento de aprendizagem para superação do que os perturba e exclui na sociedade.

Referências

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WOODWARD, Kathryn. Identidade e Diferença: uma Introdução Teórica e Conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. (Org.) Identidade e Diferença: a Perspectiva dos Estudos Culturais. 13. Ed. Petrópolis , RJ: Vozes, 2013. p.07-72.

IDENTITIES OF GENDER, RACE AND SEXUALITY AND THE RELATIONSHIP WITH THE ENGLISH LANGUAGE: A THEORETICAL REFLECTION

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Abstract: This article reflects on the studies carried out in the Masters of Language, Identity and Subjectivity, in which my masters research is being developed. The reflections brought here are pertinent to the study of language, specifically to the English language. The purpose of this article is to reflect how English as an additional language can contribute to the (de)construction of stereotypes, prejudice and racism in relation to gender, race and sexuality identities in society. The methodology used in this study will be the bibliographical research, the main author used are Moita Lopes (2002), Auad (2003, 2006), Gomes (2005), Fabrício (2006), Ferreira (2006, 2012, 2015), Butler (2010), Garcia (2011), Hall (2011), Furlani (2013), Louro (2013), Silva (2013), Dias e Mastrella-de-Andrade (2015), Melo (2015), Nelson (2015). In this presentation it is answered following research question: How can English as an additional language contribute to the deconstruction of sexism, racism and homophobia in the classroom? With this paper it is expected to improve the reflection on the issues of gender, race and sexuality and so that it is possible to deconstruct stereotypes in the school environment, the discourse of educators and students regarding power relations, destabilizing the composition of binarism: male/female, black/white, heterosexual/Homosexual, learning to use language to collaborate in building a more humane and dignified society for all people.

Referências

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