Recentes decisões
Lei Maria da Penha
Profa. Alice Bianchini
Doutora em Direito Penal PUC/SP
Recentes decisões
Lei Maria da Penha
Bloco 1
Quem pode ser destinatário?
Transexual ? Homossexual feminino ? Homossexual masculino ? Cunhada ? Irmã ? Ex-namorada ? Empregada doméstica ?Quem pode ser destinatário?
Art. 5º
- violência contra a mulher baseada no
gênero
- praticada no contexto familiar, doméstico ou em razão de uma relação íntima de afeto - que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.
2001 2010
Fundação Perseu Abramo.
Disponível em www.fpabramo.gov.br 8 espancamentos a cada 2 minutos 5 espancamentos a cada 2 minutos Mapa da Violência 2010 . 10 mulheres
morrem por dia . 7 pelas mãos daqueles com quem possuem sentimento de afeto
Números alarmantes
Brasil -
13º
num ranking internacional dehomicídios contra mulheres
(Ana Claudia Jaquetto Pereira CFEMEA).
20%
todos os dias;13%
semanalmente;13%
quinzenalmente;7%
mensalmente.Mulheres sofrem violência
Números alarmantes
Mulheres recebem salário
32,9% menor do que o dos
homens, muitas vezes nos
mesmos cargos.
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009
Homens são mais felizes do que as mulheres.
FSP 24 ago 07, A26.
Casa toma 25 horas por semana da mulher. Estudo do IBGE mostra que homens gastam 9,8 horas por semana em tarefas domésticas, como limpeza e cozinha. FSP 18 ago 07, B18.
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INSERIR CAIXA DE TEXTO
Quem pode ser destinatário?
Transexual
TJ de Goiás, proc. n. 201103873908
Homossexual feminino
Homossexual masculino: STJ, 4ª Turma, REsp 827962, 21/06/2011
Art. 5º
Parágrafo único. As relações pessoais
enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.
Quem pode ser destinatário?
Cunhada: STJ, 5ª Turma, HC 172634, 06/03/2012
Empregada doméstica Art. 5º
I - no âmbito da unidade doméstica,
compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
Quem pode ser destinatário?
Irmã: STJ, 5ª Turma, REsp 1239850, 16/02/2012
Art. 5º
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços
naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
Quem pode ser destinatário?
Ex-namorada: STJ, 3ª Seção, CC 103813, 24/06/2009
Art. 5º
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação.
STJ, CC 91.980/08 – contra
STJ, HC 181217/11 – a favor
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Lei Maria da Penha
Bloco 2
Audiência do art. 16
Art. 16. Nas ações penais públicas
condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a
renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da
Audiência do art. 16
- não deve ser realizada de ofício como
condição de abertura da ação penal, sob pena de constrangimento ilegal à mulher.
- ônus à mulher
Audiência do art. 16
“A realização da audiência deve ser precedida de manifestação de vontade da ofendida, se assim ela o desejar, em retratar-se da
representação registrada, cabendo ao
magistrado verificar a espontaneidade e a liberdade na prática de tal ato.”
Audiência do art. 16
Mulheres levam de 9 a 10 anos para “denunciar” o agressor
Motivos (respostas dadas por vítimas):
(1) medo do agressor
(2) dependência financeira
(3) percepção de que nada acontece com o agressor quando denunciado
(4) preocupação com a criação dos filhos
(5) vergonha de se separar e de admitir que é agredida e
(6) acreditar que seria a última vez.
Audiência do art. 16
Local habitual do crime: dentro de casa ou em local de livre trânsito
- Vítima encontra-se mais vulnerável
- sensação de temor contínuo a uma ameaça onipresente e onipotente
entre os homens: 17% dos incidentes
aconteceram na residência ou habitação entre as mulheres: perto de 40% Mapa da Violência 2010
Audiência do art. 16
http://www.ipclfg.com.br/colunistas/alice-bianchini/dia-internacional-da-mulher-3/
Medidas protetivas e HC
O HC constitui meio idôneo para se pleitear a revogação de medidas protetivas quando essas implicarem constrangimento ao direito de ir e vir do paciente.
Medidas protetivas e HC
Medidas protetivas que cerceiam o direito de ir e vir
- afastamento do lar
- proibição de contato
- proibição de frequentar determinados
lugares, etc
Medidas protetivas que não cerceiam o direito de ir e vir
- suspensão da posse ou restrição do porte de armas, etc
Medidas protetivas e HC
- decorrentes de crime- decorrentes de contravenção penal - não decorrentes de infração penal
Conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher
Medidas protetivas e HC
Tipos de violência – art. 7º
física
psíquica moral
sexual ou patrimonial
Não exige uma efetiva força física contra a vítima
Medidas protetivas e HC
Violência espiritual
destruir as crenças culturais ou religiosas ou obrigar a que se aceite um determinado
sistema de crenças
Ex.: circuncisão feminina | mutilação genital Violência institucional
praticada nas instituições prestadoras de
serviços público – hospitais, postos de saúde, delegacias, escolas, prisão Ex.: abstinência
Competência: crime ou contravenção
Configurada a conduta praticada como violência doméstica contra a mulher,
independentemente de sua classificação
como crime ou contravenção, deve ser fixada, enquanto não forem estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, a competência da Vara Criminal para apreciar e julgar o feito
arts 7º e 33
Competência: crime ou contravenção
Interpretando-se sistematicamente os arts. 7º (tipos de violência) e 33 (enquanto não
estruturados os JVDFM a competência é do juiz criminal), verifica-se que Lei não
diferenciou as causas de natureza cível das criminais, de menor potencial ofensivo ou
não, de crime ou contravenção.
Competência: crime ou contravenção
Caso concreto: vias de fato
Interpretação mais favorável ao réu x art. 4º
(fins sociais a que se destina a LMP)
Proporcionalidade: intenso prejuízo ao réu |
afastamento dos institutos da transação penal e da suspensão condicional do
processo
Competência: crime ou contravenção
“não é a complexidade do tipo penal que
delimita a abrangência da LMP, eis que, para todos os efeitos, os crimes de menor potencial ofensivo também deveriam se restringir à
competência dos JECRIMs. Neste sentido, deve-se compreender que, com o advento da LMP,
conflitos que envolvam violência contra a mulher não podem mais ser considerados de ‘menor
potencial ofensivo’.”
Lenio Luiz Streck, Lei Maria da Penha no contexto do Estado Constitucional: desigualando a desigualdade histórica. In: Lei Maria da Penha comentada em uma perspectiva jurídico-feminista. Coord. Carmen Hein. Rio de Janeiro: Lumen Juris, p. 95
Competência: crime ou contravenção
“tampouco há que se alegar interpretação ampliativa in malam partem, uma vez que os
elementos norteadores da interpretação da LMP estão todos elencados de maneira expressa e
clara no dispositivo legal, de modo que não se trata de nenhuma construção, isto é, não pode ser considerado ampliativo o que já vem
disposto.” - art. 4º
Lenio Luiz Streck, Lei Maria da Penha no contexto do Estado Constitucional: desigualando a desigualdade histórica. In: Lei Maria da Penha comentada em uma perspectiva jurídico-feminista. Coord. Carmen Hein. Rio
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Bloco 3
Exegese dispositivos penais STF ADC 19 e ADI 4424
Penas restritivas de direitos
A contravenção penal de vias de fato praticada no âmbito das relações
domésticas, por não constituir violência de maior gravidade, é compatível com a
substituição da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos.
Penas restritivas de direitos
As penas restritivas de direitos são
autônomas e substituem as privativas de
liberdade, quando: I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou
grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
Penas restritivas de direitos
Conceito de violência
Não exige uma efetiva força física contra a vítima
Lei Maria da Penha é heterotópica:
dispositivos civis, trabalhistas,
previdenciários, administrativos, comerciais penais e processuais
Penas restritivas de direitos
Conceito de violência
Não exige uma efetiva força física contra a vítima
46 artigos | 4 de caráter criminal
Interpretação
dispositivos penais
Penas restritivas de direitos
- “a agressão sofrida sequer deixou lesão aparente, daí porque soa desarrazoado
negar ao réu, ora paciente, o direito à substituição da privativa de liberdade”
- a própria Lei, em seu art. 45, prevê que “o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação.” ¥
STF | ADC 19 e ADI 4424
1. Constitucionalidade da LMP
A Lei é constitucional e o discrímen visa corrigir distorções históricas e promover a igualdade material entre homens e
STF | ADC 19 e ADI 4424
2. Afastamento da aplicação da Lei 9.099/95. Implicações:
a) natureza jurídica da ação penal nos crimes de lesão corporal leve quando praticados no contexto da LMP é pública incondicionada Questões práticas
- E nos casos em que houve retratação da
vítima?
- E nos casos em que houve a inércia da
STF | ADC 19 e ADI 4424
2. Afastamento da aplicação da Lei 9.099/95. Implicações:
b) não se aplica o instituto da suspensão condicional do processo
STF | ADC 19 e ADI 4424
3. Constitucionalidade do art. 33
permite que varas criminais acumulem as
competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de
violência doméstica e familiar contra a mulher, enquanto não estiverem
Sistema Penitenciário
Total: 513.802
Homens: 478.206 Mulheres: 35.596
Presos pela Lei Maria da Penha
3.139 homens, ou seja:
2,3% da população carcerária masculina que
cometeram crimes previstos em legislação específica ou
0,61% de toda a população carcerária - homens e
mulheres (considerando tanto os crimes previstos em legislação específica como penal) ou, ainda,
0,65% da população carcerária masculina (considerando tanto os crimes previstos em legislação específica como penal)
Presas pela Lei Maria da Penha
12 mulheres, ou seja:
0,04% da população carcerária feminina
(considerando os crimes previstos em legislação específica) ou
0,0023% de toda a população carcerária - homens e
mulheres (considerando tanto os crimes previstos em legislação específica como penal) ou, ainda,
0,033% da a população carcerária feminina (considerando tanto os crimes previstos em legislação específica como penal).
Questão cultural
2010
Fundação Perseu Abramo/SESCEntre os pesquisados do sexo masculino:
8%
admitem já ter batido em uma mulher14% acreditam que agiram bem;
15% declaram que bateriam de novo
2%
declaram que “tem mulher que só aprendeQuestão cultural
2%
da população masculina brasileira com15 anos de idade
ou mais(70.040.446) são
1.400.809
homens.Este valor se aproxima muito do total de homens de 15 anos de idade ou mais do Estado da
Teresina
33% dos processos criminais de Teresina estão relacionados à Lei Maria da Penha
http://atualidadesdodireito.com.br/alicebianchini/2011/11/01/33-dos- processos-criminais-de-teresina-estao-relacionados-a-lei-maria-da-penha/
Questão cultural
o problema que temos diante de nós não é filosófico, mas jurídico e, num sentido mais amplo, político. Não se trata mais de saber quais e quantos são esses direitos (humanos), qual é sua natureza e seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações, eles sejam continuamente violados
Norberto Bobbio. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 25.