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POR QUE A POESIA NA SALA DE AULA?

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Academic year: 2021

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POR QUE A POESIA NA SALA DE AULA?

Caroline Orlandini Moraes Larissa Dário de Araújo (G – CLCA – UENP/CJ) (Integrantes do GP Literatura e Ensino – UENP/CJ) Rafaela Stopa (Orientadora – CLCA – UENP/CJ)

Introdução

Segundo o crítico e professor Alfredo Bosi, no ensaio “A poesia ainda é necessária?” (2000), na contemporaneidade, ainda que em um mundo abarrotado de imagens, objetos e informações, a poesia pode ajudar a enxergar vida naquilo que parece vazio ou amorfo. Por isso, quem questiona a necessidade da poesia é porque está sentindo falta dela.

Pensando nisso, este artigo discute a importância da poesia e aponta algumas condições para garantir a sua abordagem em sala de aula, com fundamentação em Helder Pinheiro (2007). Espera-se partilhar a necessidade da leitura da poesia, uma vez que se trata de uma experiência única que desperta diferentes sensações, trazendo satisfação e encantamento em virtude de seus jogos de palavras e seus temas que cativam e emocionam.

Quem lê poesia desperta em si um amplo sentido sobre tudo, pois ela aguça o imaginário. Por isso, é essencial que ela seja abordada em sala de aula. Porém, infelizmente, vemos que, às vezes, a poesia vem deixando de ser estudada, o que priva o aluno do contato com esse texto. Importa lembrar o quanto isso pode ser prejudicial, pois a nossa expressão é um ato individual, assim como a interpretação que atribuímos a cada leitura, então, ao lermos poesia, somos capazes de por a nossa imaginação em ação.

Como foi mencionado, para Bosi, ao fazermos uma leitura, vemos que o poeta tem o dom de transformar algo que antes era vazio em algo vivo, ou seja, ele é capaz de criar vida e graça: “aquele vulto que parecia vazio de sentido começa a ter voz” (2000, p. 260). A distância entre leitor e poeta vai diminuindo de acordo com as características da poesia, jogos de palavras e rimas que vão dando sentido a tudo que absorvemos, abrindo espaço também para indagações.

O crítico e professor Ítalo Moriconi, de forma despretensiosa, mas muito eficaz, no texto “Por que ler poesia” (2002), comenta que “a leitura do poema ativa o poeta que somos”, isto é, traz o nosso lado mais sensível à tona, porque a poesia apresenta “imaginação e sabedoria combinadas numa certa vertigem, a velocidade das estrofes” (2002,

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p. 8). Tendo em vista essas considerações, podemos dizer que poesia é uma grande aliada para despertar no aluno o senso crítico e a elaboração de ideias. Ela vem conosco desde que nascemos, quando escutávamos canções para dormir e também nas cantigas de roda, o que a torna uma experiência única.

A presença da poesia na escola

Uma criança na idade escolar, quando é apresentada à poesia, passa a ter uma visão mais intimista e diferenciada das outras, devido ao exercício de linguagem verbal e escrita contido nesse tipo de leitura. Nas séries iniciais, o papel da escola e do professor é muito importante, pois ambos devem incentivar que gradualmente o aluno se torne um leitor de poesia; cabe ressaltar que na infância a criança tem o seu lado poeta diferenciado por ser mais sonhadora.

Vale mencionar um texto de Carlos Drummond de Andrade, “A educação do ser poético”, de 1974, que ainda se mostra bastante atual. Nele, o escritor inicia suas reflexões com o seguinte questionamento:

Por que motivo as crianças, de modo geral, são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo? Será a poesia um estado de infância relacionado com a necessidade de jogo, a ausência de conhecimento livresco, a despreocupação com os mandamentos práticos do viver - estado de pureza da mente, em suma? (online).

Fazemos nosso seu questionamento, para reforçarmos que a poesia é parte do imaginário infantil, em virtude de seu olhar encantado para as coisas do mundo, por isso, é essencial que a escola propicie esse tipo de leitura, tendo em vista que ela requer mais cuidados, ou seja, mais atenção devido a sua estrutura. A escola tem o dever de apresentar e entusiasmar o aluno para essa leitura para que ele possa, daí por diante, levar a poesia para sua vida.

O livro Poesia na sala de aula, de Hélder Pinheiro, publicado em 2007, discute a presença da poesia em sala de aula. Para o autor, a presença é escassa devido a diferentes fatores, que se relacionam às escolas, mas também à própria atitude e posicionamento de alunos e professores.

Por meio dos argumentos do autor, percebemos várias razões para mantermos o hábito e valorização da leitura do texto poético nas aulas. Uma delas seria que ele mexe com a emoção do leitor, proporcionando-lhe uma experiência íntima e profunda,

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junto a uma melhor oportunidade de conhecer seu próprio eu, notando, muitas vezes, sentimentos antes despercebidos. Tais situações ocorrem através do “encontro” entre leitor e escritor, ou seja, a maneira com que o artista compõe e transmite sua experiência a partir do poema gera na imaginação do leitor um mundo de fantasia que o faz refletir e transformar-se. Conforme Pinheiro, podemos perceber a importância da poesia em nossa vida e qual lugar ela ocupa em nosso eu, de modo que se trata de um equívoco considerá-la insignificante.

Segundo essas ideias mencionadas, vemos a necessidade da poesia ser aplicada em sala de aula e dos estudantes terem contato com esse tipo de texto, que pode trazer amadurecimento em sua caminhada de leitor. Baseando-se nisso, Pinheiro apresenta algumas “condições indispensáveis para o trabalho com a poesia”. Passemos, então, a sua apreciação.

Condições indispensáveis para o trabalho com a poesia

A primeira condição apontada por Pinheiro relaciona-se à importância de o professor ser um leitor de poesia. E, muitas vezes, ocorre justamente o contrário: o docente tem pouco contato com esse tipo de texto, e isso, naturalmente, lhe dá uma visível dificuldade para abordá-la, afinal, uma pessoa que não lê poesia e não tem a oportunidade de se apaixonar por esse tipo de leitura, não compreende o quanto ela é bela e profunda. Dessa forma, o professor não percebe o benefício do texto poético na vida dos seus alunos. Razão pela qual, não raro, deixa-o de lado e busca utilizar apenas o texto em prosa, pois é mais direto e fácil para trabalhar.

Pode ocorrer de o professor que não aprecia poesia fazer uso dela em sala de aula, porém de forma inadequada, tratando-a de qualquer maneira, apresentando qualquer tema sem a preocupação de instigar a curiosidade do aluno, e muitas vezes, tentando encaixar a esse texto uma lição moralizante, o que não é aconselhável.

Já a partir do momento que um professor dedicado e leitor de poesia proporciona o contato de seus alunos com bons poemas, está permitindo que tenham um enriquecimento literário e criem um interesse maior por obras desse tipo, despertando neles um envolvimento significante, tornando-os cada vez mais exigentes e fascinados por essa leitura, buscando cada vez mais o conhecimento de novos textos.

Ana Maria Machado também deixa bem explícita a necessidade de o professor ser um leitor em seu texto “Entre vacas e gansos – escola, leitura e literatura”. Para

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a autora: “imaginar que quem não lê pode fazer ler é tão absurdo quanto pensar que alguém que não sabe nadar pode se converter em instrutor de natação”. (MACHADO, 2001, p. 122)

Retomando Pinheiro, é interessante destacar um comentário do autor a respeito dessa primeira condição:

Um professor que não é capaz de se emocionar com uma imagem, com uma descrição, com um ritmo de um determinado poema, dificilmente revelará na prática, que a poesia vale a pena, que a experiência simbólica condensada naquelas palavras são essências em sua vida. (PINHEIRO, 2007, p. 26)

A segunda condição trata da necessidade de conhecer as preferências dos alunos a respeito do texto poético, dado que fica mais acessível a um professor que já trabalha com a turma a um certo tempo. Todavia, mesmo quem não tem esse contato com a sala ou quer ampliá-lo, pode fazer uma pesquisa para adquirir esse conhecimento, com um levantamento de dados através de pequenas fichas, prestando atenção em suas conversas e pesquisando seus gostos em geral, por meio de filmes, músicas, novelas. Com o resultado em mãos, seria interessante levar assuntos que despertem o interesse deles de acordo com as pesquisas realizadas e também temas que os cativam bastante devido sua faixa etária, podendo, dessa forma, atingir melhor o interesse de cada um.

Assim, os alunos se sentem motivados a participar das aulas, lerem o que é proposto pelo professor e ainda continuar tendo o contato com essas obras fora da sala de aula. Segundo Pinheiro, a percepção do envolvimento dos alunos com as leituras propostas pode dar-se de maneira simples: “trata-se de uma experiência íntima que muitas vezes captamos pelo brilho do olhar de nosso aluno na hora de uma leitura, pelo sorriso, pela conversa de corredor”. (2007, p. 23)

O escritor lembra também da relevância de se levar em conta que a bagagem literária dos alunos é consideravelmente pequena, sendo assim, cabe ao professor, inicialmente, incrementá-la, proporcionando leituras de textos novos, que ampliem seus horizontes. Deve-se considerar ainda, a diversidade de gostos de cada classe, uma vez que cada turma tem suas preferências, as quais podem ser diferentes umas das outras, por isso seria indispensável a pesquisa em sala.

Chegamos à terceira condição, quando o autor trata da importância de criar um ambiente apropriado para se trabalhar a poesia, ou seja, usar técnicas para chamar atenção dos estudantes em relação ao poema, como “ir ao pátio da escola para ler uma pequena

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antologia, por uma música de fundo quando se lê...” (2007, p. 28). Além dessas sugestões, Pinheiro comenta a possibilidade de improvisar um mural onde os alunos possam colocar seus versos preferidos, e criar o costume de declamá-los sempre que possível; certas iniciativas servem para incentivar os alunos a se apegarem mais a essa prática, pois são as pequenas atitudes que levam a esse aprendizado. Não podemos deixar de comentar que essa condição, para ser realizada, depende da vontade e dedicação do professor.

Entretanto, para todo esse processo gerar um aproveitamento maior no aprendizado do estudante, seria necessário o apoio da escola, contribuindo com um espaço de leitura agradável. E é acerca desse assunto que o autor aborda sua quarta condição indispensável, destacando a necessidade do investimento financeiro do governo e da colaboração por parte dos funcionários e da instituição escolar.

É fundamental oferecer aos alunos um lugar espaçoso, tranquilo, ventilado, onde eles possam se sentir a vontade para fazer essas leituras, sem distrações ou incômodos; um lugar realmente aconchegante, como uma sala de leitura, uma biblioteca em boas condições, organizada, que possa ser utilizada pelos alunos, com diversas obras literárias disponíveis, as quais possam ser encontradas com facilidade pelos jovens leitores.

Porém, na maioria das vezes, esse suporte por parte da instituição não é concedido, seja por falta de verba para esses fins ou mesmo pelo desinteresse dos funcionários e da coordenação da escola, o que resulta numa grande perda tanto para estudantes como para todos desse meio.

Além de todas essas condições que Pinheiro menciona, segundo ele, existe uma que é essencial para cativar um leitor: iniciar desde cedo o trabalho da leitura dessas obras com a criança, incentivá-la a ter o contato com esses textos, mostrar a beleza que há neles. Nessa fase é bem mais fácil alcançar esse objetivo, mas se isso não for feito, sempre é valido tentar conquistar um possível leitor em qualquer etapa de sua vida.

Considerações finais

A partir desse artigo esperamos ter contribuído para se refletir sobre a necessidade de utilizar a poesia em sala de aula, e o quanto ela influencia na vida do leitor, trazendo amadurecimento para ele e transformando seu modo de ver e lidar com mundo onde vive.

Por meio das condições indispensáveis elencadas por Pinheiro que foram aqui apontadas, o professor adquire um ponto de partida para esse trabalho inicial e também

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para continuar essa atividade, levando uma segurança maior para o docente lidar com esse tipo de texto e ter um melhor aproveitamento do trabalho. Assim, ele pode levar o aluno a ter o contato com a poesia, mostrando o seu valor e a sua riqueza, de modo que ambos possam levá-la para suas vidas.

Referências

ANDRADE, Carlos Drummond de. A educação do ser poético. Suplemento Pedagógico, n. 34, jornal Minas Gerais: Belo Horizonte, outubro de 1974.

BOSI, Alfredo. Posfácio: a poesia é ainda necessária? In: ______. O ser e o tempo da poesia. 8. ed. rev. e ampl. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

MACHADO, Ana Maria. Entre vacas e gansos – escola, leitura e literatura. In: _______.

Texturas: sobre leituras e escritos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

MORICONI, Italo. Como e por que ler poesia. In: ______. Como e por que ler poesia a

poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

PINHEIRO, Hélder. Poesia na sala de aula. Campina Grande: Bagagem, 2007.

Para citar este artigo:

MORAES, Caroline Orlandini; ARAÚJO, Larissa Dário de. Por que a poesia na sala de aula?. In: VIII SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários. 2011. Anais... UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2011. ISSN – 18089216. p. 626 – 631.

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