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Relato de experiência: Interfaces da Gestão compartilhada de Enfermagem na unidade de internação pediátrica de um hospital universitário

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Data de submissão: 12/04/2020. Data de aprovação: 29/09/2020.

Relato de experiência: Interfaces da Gestão compartilhada de Enfermagem

na unidade de internação pediátrica de um hospital universitário

Experience report: Shared nursing management interfaces in the pediatric inpatient unit of a university hospital Informe de experiencia: interfaces de gestión de enfermería compartidas en la unidad de hospitalización pediátrica de un hospital universitário

Wilma Nunes Martins Zorzan1* , Natália Araujo de Almeida1 , Ana Caroline de Lara1 1 Hopital Universitario Julio Muller, Unidade de Gestão da Internação,Cuiabá - MT, Brasil.

Resumo

Objetivo: Relatar as experiências de enfermeiros acerca da implantação da gestão compartilhada de enfermagem em

unidade de internação pediátrica de um Hospital Universitário. Método: Estudo descritivo, do tipo relato de experiência,

que foi baseado nas práticas vivenciadas por enfermeiros de uma unidade de internação hospitalar pediátrica de um serviço público federal de ensino, relacionadas à implementação de um modelo de gestão compartilhada na clínica, afim de nortear as ações de gerenciamento da unidade promovendo o desenvolvimento da autonomia profissional e melhora da satisfação com o ambiente de trabalho. Resultados: Foi descrito o processo de implantação da gestão compartilhada, identificando os

pontos facilitadores e os desafios enfrentados durante esse processo, bem como os resultados vivenciados no decorrer do ano. Considerações finais: A gestão compartilhada requer que o enfermeiro desempenhe suas atividades gerenciais de forma

contínua e articulada, sensível e consciente para o desenvolvimento de um trabalho norteado pelas necessidades do setor. Descritores: Enfermagem, Gestão em Saúde, Serviços de Saúde.

Abstract

Objective: To report the experiences of nurses about the implementation of shared nursing management in a pediatric

admission unit of a University Hospital. Method: Descriptive study, of the experience report type, which was based on

the practices experienced by nurses of a pediatric hospital admission unit of a federal public teaching service, related to the implementation of a shared management model in the clinic, in order to guide the management actions of the unit promoting the development of professional autonomy and improving satisfaction with the work environment. Results:

The process of implementing shared management was described, identifying the facilitating points and challenges faced during this process, as well as the results experienced during the year. Final considerations: Shared management

requires the nurse to perform his managerial activities in a continuous and articulated way, sensitive and aware for the development of a work guided by the needs of the sector.

Descriptors: Nursing, Health Management, Health Services.

Resumen

Objetivo: Informar de las experiencias de las enfermeras sobre la implementación de la gestión de enfermería compartida

en una sala de pediatría de un Hospital Universitario. Método: Estudio descriptivo, del tipo informe de experiencia, que

se basó en las prácticas experimentadas por las enfermeras de una unidad de un hospital pediátrico de un servicio público de enseñanza federal, relacionadas con la aplicación de un modelo de gestión compartida en la clínica. Resultados: Se

describió el proceso de aplicación de la gestión compartida, identificando los puntos facilitadores y los retos a los que se ha enfrentado durante este proceso, así como los resultados experimentados durante el año. Consideraciones finales: La

gestión compartida requiere que el enfermero realice sus actividades de gestión de manera continua y articulada, sensible y consciente para el desarrollo de un trabajo guiado por las necesidades del sector.

Descriptores: Enfermería Práctica, Gestión de la Práctica Profesional, Servicios de Salud Comunitaria.

Como citar este artigo:

Zorzan WNMZ, Almeida NA, Lara AC. Relato de experiência: Interfaces da Gestão compartilhada de Enfermagem na unidade de internação pediátrica de um hospital universitário. Rev. Enferm. Digit. Cuid. Promoção Saúde. 2021:1-6. DOI:https://doi. org/10.5935/2446-5682.20210009

* Correspondência para:

Wilma Nunes Martins Zorzan E-mail: wezzorzan@hotmail.com

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INTRODUÇÃO

A Política Nacional de Humanização (PNH), criada no ano de 2003, versa sobre os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) exercidos nas práticas gerenciais e assistenciais no setor saúde. No âmbito do processo de trabalho, busca produzir um ambiente de participação, valorização e co-responsabilização entre os trabalhadores(1).

O processo de gestão configura-se por vários desafios relacionados ao gerenciamento de conflitos e o desenvolvimento de habilidades e competências que auxiliam no enfrentamento de situações do trabalho e contribuem para a tomada de decisão e direcionamento de ações no sentido da consolidação dos princípios e diretrizes do SUS(2).

Entende-se que o compartilhamento e a democratização da gestão possibilita a construção de um espaço coletivo e de responsabilização entre os trabalhadores e gestores, promovendo a autonomia profissional, melhor satisfação e comprometimento na prática de trabalho(3). Gil, Luiz e Gil (2016) acreditam

que a cogestão “é um modo de administrar que inclui o pensar e o fazer coletivo, sendo, portanto, uma diretriz ética e política que visa democratizar as relações no campo da saúde para a realização dos objetivos da saúde”(2).

No âmbito da enfermagem, a adoção do modelo baseado na gestão compartilhada mostra um maior índice de satisfação dos profissionais e engajamento institucional. Os enfermeiros atuam na linha de frente do cuidado e estão próximos das demandas provenientes do processo assistencial, assim a participação dessa categoria profissional nas decisões gerenciais auxilia na melhor qualidade no cuidado, levando a resultados eficientes na resposta das necessidades administrativas e assistenciais e na otimização dos recursos(4).

No contexto hospitalar, a estrutura organizacional é composta na atualidade por características empresariais que requere o desempenho de profissionais com o perfil de liderança e gerenciamento frente à complexidade do processo da gestão que compreende a atenção hospitalar(5). O profissional enfermeiro vem ocupando

cada vez mais cargos gerenciais, atuando na liderança das organizações dos serviços de saúde pública, com a responsabilidade em articular e desenvolver o trabalho em consonância com eixos normativos do SUS (6) e os

aspectos éticos profissionais(7).

Assim, o enfermeiro destaca-se por assumir um papel central na assistência e no gerenciamento da unidade, no que se refere à organização e à manutenção da continuidade do cuidado de enfermagem, sendo

suas ações sustentadas em normativas previamente estabelecidas(8). Entretanto, a formação acadêmica

voltada para liderança e gerenciamento ainda está muito aquém do que é necessário, sendo importante a elaboração de estratégias capazes de favorecerem as habilidades e atitudes do enfermeiro gestor através da busca por conhecimento sobre liderança, assim como ampliar a formação específica para a área da gerência(9).

Diante da relevância da temática, é necessário ampliar as contribuições científicas com temas sobre gestão e enfermagem. Sob esse princípio, os resultados de estudos podem auxiliar no desenvolvimento de habilidades de comunicação, aprimoramento da assistência em saúde prestada e qualidade do trabalho, sobretudo na desenvoltura do perfil de liderança dos enfermeiros.

Portanto, nesse contexto, a fim de expor a vivência de enfermeiros na implantação da gestão compartilhada no setor de internação pediátrica, a partir dos trabalhos de organização das atividades gerenciais na unidade, procedemos a construção da seguinte questão norteadora: Como seria a adaptação dos enfermeiros de uma unidade pediátrica a um modelo de Gestão compartilhada, e como os mesmos lidariam com a modificação do perfil tradicional de gestão da unidade?

Considerando a perspectiva de gestão do processo de trabalho, desenvolveu-se o presente artigo, o qual objetivou relatar as experiências de enfermeiros acerca da implantação da gestão compartilhada na Clínica Pediátrica de um Hospital Universitário.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência, fundamentado em estudo de caso único, o qual versa sobre a experiência de participação de enfermeiros na implementação de um modelo de gestão compartilhada em uma unidade de internação hospitalar pediátrica de um Hospital Universitário da Capital Mato-grossense, o qual foi pactuado e implementado no ano de 2019, estando em consonância com a resolução nº 510, de 07 de abril de 2016 do Ministério da Saúde.

A equipe de enfermagem da clínica pediátrica é constituída por oito enfermeiros e dezoito auxiliares ou técnicos de enfermagem, lotados em três turnos de trabalho. Possui o total de quatorze leitos de internação para pacientes de 29 dias de vida a 15 anos de idade, com perfil de acometimento de doenças infectocontagiosas, doenças crônicas degenerativas, síndrome genética dentre outros casos, em sua maioria característicos de internações de longa permanência.

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A proposta de Gestão compartilhada na clínica pediátrica teve como ponto de partida a extinção da figura do Enfermeiro de Referência da Unidade o qual até o presente momento era responsável pelas funções de gerenciamento da Unidade, porém, devido ao dimensionamento reduzido de profissionais, alguns atuavam concomitantemente nas funções administrativas e assistenciais da unidade, o que inviabilizou a permanência deste modelo de gestão.

O novo modelo de gestão da clínica pediátrica foi proposto pela Chefia de Internação da instituição, porém coube aos enfermeiros do setor a decisão pela sua aplicação prática. A proposta versava sobre a substituição do modelo antigo de governança (método centralizador) da clínica pelo o da gestão compartilhada (método descentralizador). Em contrapartida, os enfermeiros envolvidos teriam um abono de 8 horas mensais para serem compensadas em folgas previstas em escala posteriormente. A experiência seria vivenciada no período de um ano e seriam incluídas várias atividades administrativas no âmbito da enfermagem necessárias para a condução e gestão da clínica. Todos os termos foram pactuados de acordo com as necessidades da unidade e aceitos por unanimidade pelos Enfermeiros. Após este encontro foi formalizada a minuta de Contrato de Gestão, na qual constavam as necessidades de execução de 13 Atividades básicas:

1. Confecção Mensal das Escalas de Trabalho; 2. Controle de Banco de Horas da equipe de

Enfermagem;

3. Conferência Mensal das Escalas; 4. Coberturas de Faltas e Licenças Médicas; 5. Relatório Mensal de Faltas, de Adicional de

Plantão Hospitalar/ Horas Extras;

6. Organização e Condução das Reuniões Mensais;

7. Organização das Rodas de Conversa com a equipe;

8. Representação nas reuniões da Divisão de Enfermagem;

9. Avaliação de Desempenho;

10. Metas da Gestão de Desempenho por competência;

11. Controle de trocas;

12. Conferência das Folhas de Ponto;

13. Marcação de Férias e controle de alterações. Para a execução de todas estas atividades os enfermeiros foram divididos em duplas de trabalho, sendo realizado um sorteio para distribuição das atividades e estabelecido o tempo de intervalo para

rodízio entre as tarefas. Ficou estabelecido que cada dupla permaneceria com as respectivas atividades pelo período de três meses e que, decorrido este prazo, seria realizada a troca das funções entre as duplas.

Assim, a gestão compartilhada dos enfermeiros da clínica pediátrica iniciou-se em janeiro de 2019, porém, decorrido período de dois meses, um enfermeiro obteve afastamento por motivo gestacional, sendo as atividades de gestão compartilhada redistribuídas entre os demais enfermeiros.

Mensalmente, os enfermeiros organizavam as reuniões de equipe para discussão dos pontos que necessitavam de tomada de decisão em conjunto, discussão dos pontos de conflito, e elencavam as atividades que facilitavam ou prejudicavam o processo de condução do modelo de gestão.

RESULTADOS

Após o encerramento da função do Enfermeiro de Referência da clínica pediátrica, o qual atuava na gestão e assistência do setor, observou-se a necessidade em realizar mudanças dos processos administrativos desta unidade. Todavia o modelo implementado até então, atribuía todas as atividades gerenciais para apenas o enfermeiro de referência, sendo que essa situação repercutiu neste profissional em uma sobrecarga física e psicoemocional decorrente da sobreposição de atividades laborais, que por vezes excedia a carga horária de trabalho.

Com a implantação da Unidade de Gestão da Internação no Hospital Universitário, foi proposto instituir o modelo de gestão participativa, ou seja, que envolvesse a responsabilização de toda a equipe de enfermeiros da clínica pediátrica. Dessa forma, no que se refere à tomada de decisão do gerenciamento de enfermagem, buscou-se realizar o compartilhamento das atividades, por consequência, diminuir a sobrecarga de trabalho e promover padrões de qualidade necessário para o funcionamento da unidade.

As atividades desenvolvidas em dupla facilitaram a familiarização com as tarefas, ao passo em que contribuiria para a segurança dos enfermeiros no processo de tomada de decisão. A concessão de uma vantagem recebida em folga era considerada justa, tendo em vista que muitas das atividades desenvolvidas não eram possíveis de serem conciliadas durante a jornada do turno de trabalho da prática assistencial, devido às características da clientela atendida no setor. Além disso, o benefício da folga pode ter sido considerado um importante fator de aceitação para que fosse dada sequência à implementação da gestão compartilhada.

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Entretanto, no decorrer do ano, uma instrução normativa da instituição modificou o benefício, que reduziu de oito para quatro horas mensais a carga horária de folgas pela realização das atividades extra assistenciais. Ressalta-se que as folgas eram cedidas conforme a flexibilidade da escala, havendo meses em que não era possível conceder as horas de folga, o que repercutia em um saldo positivo acumulado no banco de horas.

Manteve-se a periodicidade de reuniões mensais para discussão das necessidades e dificuldades apresentadas no decorrer do mês, bem como questões pontuais da equipe de enfermagem. Conforme estabelecido previamente, na última reunião do ano os protagonistas do modelo de gestão pontuaram sobre as dificuldades e vantagens de se manter a co-gestão da clínica.

De modo geral, os enfermeiros enumeraram importantes benefícios da gestão compartilhada, como a autonomia no gerenciamento de algumas necessidades do setor, da equipe e dos pacientes assistidos na clínica. Acrescenta-se que a autonomia concedida aos enfermeiros da clínica pediátrica era parcial, uma vez que as decisões como as alterações de pessoal na escala/remanejamento eram realizadas pelo chefe da gestão da internação, sem necessariamente ocorrer deliberações das partes envolvidas na gestão compartilhada.

Algumas dificuldades que ocorreram no percurso da gestão compartilhada referem- se à manutenção do funcionamento das atividades extra assistenciais, pois algumas dessas demandavam um tempo considerável para seu desenvolvimento, de forma que excediam o limite de horas acordado e resultavam no desgaste do profissional. Essas atividades eram, respectivamente: as “Coberturas de Faltas e Licenças Médicas”, pois o índice de absenteísmo profissional da categoria de enfermagem apresentava-se elevado no período em que a implantação do modelo de gestão foi proposto; e a “Confecção Mensal das Escalas de Trabalho”, visto que estava intimamente ligada à questão de dimensionamento da equipe e de recursos humanos, de modo que era constantemente alterada para propiciar a cobertura das licenças médicas/ afastamentos desse período.

A primeira atividade listada era realizada praticamente durante o mês inteiro, tendo em vista o elevado número de faltas e/ou licenças médicas da equipe de enfermagem na clínica pediátrica. O absenteísmo na equipe de enfermagem é um problema citado em muitos estudos, e que podem corroborar com o adoecimento profissional dos demais membros da equipe. Martinato et al.(10)

descrevem que o problema do absenteísmo pode desencadear uma cascata de adoecimento entre os

trabalhadores de enfermagem, gerado não apenas pela falta de alguns profissionais na equipe, mas impulsionado também pelo empenho dos demais em manter a qualidade do cuidado ao cliente.

Sabendo desses problemas inerentes ao absenteísmo na equipe, a atividade de organização e requisição de coberturas foi listada como a atividade mais estressante, pois levava a um grande desgaste emocional dos profissionais responsáveis por esta atividade. Os enfermeiros que realizavam tal atividade tinham que organizar e requerer coberturas diariamente, para que nenhum dos turnos ficassem defasados, e, assim, ocasionassem sobrecarga de trabalho, conflitos entre os membros das equipes e aumento do absenteísmo.

Já a confecção das escalas de trabalho era realizada no início de todos os meses e deviam ser entregues com o prazo de 10 dias para as chefias e para comissão de conferência de escalas da instituição. Essas apontavam as inconsistências encontradas nas escalas e as devolviam para os responsáveis pela elaboração. Portanto, além da elaboração, eram necessários constantes ajustes da escala, demandando mais tempo dos responsáveis pela atividade.

Em contraproposta, sugeriu-se à chefia de unidade da gestão de internação a implementação de alguns ajustes que pudessem facilitar o trabalho dos enfermeiros para a condição da continuidade da gestão compartilhada no setor. Reduzindo de 13 atividades para quatro principais, que poderiam ser realizadas em um intervalo menor e com menor período no sistema de rodízio das duplas, a fim de minimizar o tempo de cada enfermeiro nas atividades mais estressantes. Diante disso, optou-se por manter a gestão compartilhada por mais um outro período iniciado em 2020.

No segundo período de condução da gestão compartilhada na unidade, houve mudança do cargo de chefia da unidade de Gestão da Internação e na ocasião a nova gestora optou por trazer para si as atividades pactuadas, permitindo aos enfermeiros participação nos processos de decisão e levantamento das necessidades, mas dissociando a função do enfermeiro assistencial das atividades burocráticas.

Deste modo, diante das situações citadas como desgastantes, e agregando a diminuição do benefício das horas que seriam concedidas em folgas posteriores, mais a intensa carga de trabalho relacionada a parte assistencial, e sobretudo o volume de trabalho que se levava para além das horas de plantão, a equipe mostrou-se desmotivada em prosseguir com o modelo de gestão compartilhada nos moldes inicialmente pactuados.

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DISCUSSÃO

Modelos organizacionais fundamentados na gestão compartilhada assumem o princípio da democratização na tomada de decisão e co-responsabilização, incluindo os membros como autores participativos, não ocorrendo ações delineadas por uma liderança verticalizada(11). Resultados de estudos demonstram

que essa abordagem mostra-se eficiente em diversas áreas do setor público, tais como a educação e saúde.

O estilo de liderança a ser adotado requer a compreensão da cultura organizacional e o perfil dos membros da equipe. O efeito dessa avaliação permite resultados que proporcionam motivação e melhor comprometimento organizacional. A liderança baseada em diálogos construtivos, compreensão dos objetivos dos profissionais melhor responde às necessidades psicológicas da equipe (autonomia, competência e relacionamento) e os aspectos relacionados à percepção da valorização do trabalho(12).

A gestão compartilhada favoreceu a tomada de decisão participativa e a percepção de autonomia entre os enfermeiros da clínica pediátrica. Entretanto, esse resultado não foi sustentado, pois não foi possível reconhecer em alguns momentos o método democrático de gestão, o que influenciou significativamente o surgimento de situações de desgastes, conflitos, desmotivação e percepção de falta de apoio institucional. Essa situação é perceptível na medida em que ocorreu a decisão unilateral de alterar os benefícios dos trabalhadores que pactuaram o modelo de gestão compartilhada, e a concessão de autonomia parcial para algumas das decisões referentes ao gerenciamento da unidade.

Embora a proposta inicial da gestão da internação fosse implantar a gestão compartilhada, observou-se uma abordagem divergente dos fundamentos teóricos do modelo democratizado e integrativo. Em algumas ocasiões, a postura assumida pela supervisão foi centralizadora, ensejada pela hegemonia da liderança autocrática. Essa situação propiciou a diminuição da autonomia dos enfermeiros envolvidos na gestão compartilhada da clínica pediátrica e repercutiu na formação de um elo frágil entre os membros da gestão compartilhada e supervisão.

Nas organizações governamentais, a liderança compartilhada vem mostrando-se eficiente para o fortalecimento dos princípios do setor público. Para que a liderança compartilhada aconteça, é de suma importância que o ambiente organizacional tenha condições favoráveis para a construção de um espaço coletivo e seguro no processo participativo, promovendo a comunicação eficiente e um clima de confiança e motivação(13).

Resultados corroboram com outros estudos que revelam que uma composição adequada da equipe assistencial interfere no suporte organizacional da instituição, pois o

trabalhador se sente engajado e motivado em desenvolver o seu trabalho e em desempenhar suas atividades de cuidado de forma satisfatória(12).

Os profissionais de enfermagem integram todas as fases assistenciais do contexto hospitalar, assim o dimensionamento do pessoal de enfermagem correto é um importante fator que contribui para a prática assistencial de qualidade e segura, promovendo melhores resultados no atendimento dos serviços de saúde.(14) Nessa perspectiva, torna-se um desafio na

prática gerencial dos serviços de saúde o enfrentamento dos elevados índices de absenteísmo, sendo necessárias intervenções que minimizem a ocorrência desse desfecho nas instituições hospitalares(15).

Portanto, é necessária a ruptura de métodos tradicionais de gestão, que de fato oportunize práticas participativas e de valorização do trabalhador e da consolidação dos princípios do Sistema Único de Saúde(16).

Entretanto, o modelo antigo de governança da clínica, centrado no enfermeiro de referência, não se mostrava eficiente, justamente pelo histórico de desgaste físico e emocional, de modo que nenhum dos enfermeiros do setor candidatou-se para assumir tal cargo.

O modelo de gestão compartilhada da clínica traz consigo vantagens relacionadas principalmente ao aprendizado prático e ao desenvolvimento de habilidades inerentes à gestão, à administração e ao desenvolvimento da função de liderança. Porém este precisa ser continuamente melhorado e aperfeiçoado, a fim de que os fatores estressantes não desmotivem a continuidade do processo.

CONCLUSÃO

A gestão compartilhada é um método inovador, o qual requer que o enfermeiro desempenhe suas atividades gerenciais de forma contínua e articulada, não sendo uma tarefa fácil, pois é necessário sensibilização, conscientização e o desenvolvimento de um trabalho uniforme norteado pelas necessidades que emergem da prática de trabalho.

As atividades de gestão compartilhada estão relacionadas com a construção de um espaço participativo e de co-responsabilização dos enfermeiros atuantes na unidade de internação pediátrica. Para que esse método aconteça, é requerido que o enfermeiro desempenhe suas atribuições de forma articulada com os sujeitos que integram o cenário de trabalho.

Contudo, foram observados alguns conflitos durante esse processo, no que se refere à redução das

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horas compensatórias de oito para quatro horas mensais e as dificuldades em conseguir a retirada de folgas gerando acúmulo do banco de horas das atividades extra assistenciais. O déficit nos recursos humanos na equipe de enfermagem proveniente das aposentadorias, faltas, licença médicas e afastamentos, contribuíram para que ocorressem alguns descontentamentos durante a condução do processo.

Além disso, algumas das atividades realizadas enquanto gestão compartilhada demandavam excesso de tempo para execução, e a equipe evidenciou falta de autonomia para tomada de decisões importantes. Deste modo, conclui-se que a gestão compartilhada implantada, não englobava o sentido holístico do termo, e por vezes se tratava apenas de realização de atividades extra assistenciais.

Por conseguinte, salienta-se a importância de um gerenciamento conciso dentro dos serviços de saúde, e, diante da experiência obtida, verifica-se que a atividade de gestão não deve ser acrescida de cargo assistencial. Pois tratam-se de funções complexas e a fusão das mesmas pode ocasionar danos aos profissionais, aos serviços de saúde na parte assistencial, e, principalmente, na parte gerencial.

COLABORAÇÃO DOS AUTORES

Conceitualização, Redação - Revisão e Edição: Wilma

Nunes Martins Zorzan, Natália Araujo de Almeida, Ana Caroline de Lara

Gerenciamento do Projeto, Supervisão: Wilma Nunes

Martins Zorzan

REFERÊNCIAS

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