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FORMAÇÃO MATEMÁTICA DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

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Academic year: 2021

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FORMAÇÃO MATEMÁTICA DE PROFESSORES DA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

MARIA JOSÉ ARAÚJO SOUZA1

1. INTRODUÇÃO

O Brasil é um país cada vez mais dependente das nações hegemônicas, não só no aspecto econômico e político, mas sobretudo, cultural. Esta dependência tem limitado as possibilidades da nação brasileira de se libertar das decisões políticas impostas pelos países do primeiro mundo. É notório, que o elevado padrão educacional de uma nação garante suas possibilidades e posições frente aos países do mundo inteiro. Só através do acesso a educação de qualidade para todos é que podemos pensar num povo esclarecido, que luta por suas aspirações e que tem força para tentar mudar o cenário problemático da violência, do desemprego e da corrupção tão presente em nosso país.

Frente a este contexto, nos últimos anos muitos projetos têm sido desenvolvidos para a Educação de Jovens e Adultos em vários estados e municípios do Brasil. Estes projetos buscam inserir na educação formal, jovens e adultos que não tiveram acesso a escola quando crianças e/ou aqueles que não puderam nela permanecer.

O que podemos perceber é que na maioria dos projetos voltados para o ensino fundamental menor, ainda se prioriza apenas o ensino da leitura e da escrita, dando menor ênfase ao trabalho com outras áreas disciplinares, incluindo aí a matemática. Os programas e cursos que formam professores para esta modalidade de ensino também têm dedicado pouco tempo para estudos e reflexões sobre o ensino e aprendizagem da matemática, principalmente, nas suas especificidades quando trabalhada com adultos. Os cursos de Magistério, em sua grande maioria, apresentam apenas uma ou duas disciplinas que exploram a matemática e seu ensino. O pouco tempo dedicado a estes estudos tem gerado, quase sempre, adaptações precárias de metodologias aplicadas a crianças, infantilizando os processos de aprendizagem de jovens e adultos, desprezando o conhecimento trazido por estes e a realidade em que atuam, que é um universo bastante diferenciado do universo infantil. Estas atitudes têm conduzido os alunos a um baixo nível de aprendizagem da matemática e até mesmo a um desistímulo nas aulas, chegando a ser um fator que contribui para a evasão.

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Explorar a matemática de maneira crítica e contextualizada de acordo com o interesse dos jovens e adultos, levará os educandos a desenvolverem a compreensão crítica e a uma leitura cuidadosa dos números que nos cercam e que no s são anunciados nos diferentes meios de comunicação. Diariamente televisão, rádio, jornais, revistas, lojas apresentam índices, dados percentuais e valores, que quando não são contextualizados e bem interpretados matematicamente, acabam lesando pessoas ou passando-lhes falsas idéias do fato anunciado. Para uma interpretação clara e precisa de informações numéricas veiculadas em nosso meio é preciso o conhecimento de fundamentos básicos da matemática, e algumas vezes, de uma elaboração mais formal dos modelos matemáticos (algoritmos). São esses fundamentos e modelos que jovens e adultos esperam aprender na escola, para que instrumentalizados, possam com segurança interpretar situações-problema do dia-a-dia que lhe requeiram cálculos, como também, tomar decisões respaldadas em suas próprias estimativas e cálculos matemáticos.

No intuito de dar alguma contribuição para projetos e trabalhos desenvolvidos na Educação de Jovens e Adultos, apresentaremos abaixo alguns dados de um projeto de formação continuada para professores da EJA. O projeto vem sendo desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Sobral. Minha participação no projeto se dá como especialista responsável pelo acompanhamento das atividades ligadas a matemática, onde iremos discutir aspectos da formação matemática dos professores.

2. DESENVOLVIMENTO

A Prefeitura Municipal de Sobral (cidade da Zona Norte do Estado do Ceará) através de sua Secretaria de Desenvolvimento da Educação vem desenvolvendo desde o início de 2001, um Projeto de Formação Continuada para os Professores da Educação de Jovens e Adultos. O Projeto tem como objetivo principal apoiar e incentivar o desenvolvimento profissional dos professores da EJA, de maneira articulada com a implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais e dos Referenciais Curriculares Nacionais para a EJA. Atualmente a Prefeitura possui 2.719 alunos e 97 professores na EJA, sendo 38% das turmas em escolas da sede e 62% em escolas dos distritos de Sobral.

1

Professora da Universidade Estadual Vale do Acaraú –UVA – Sobral-CE. Licenciada em Matemática e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará -UFC.

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Para o desenvolvimento do projeto, a Secretaria montou um grupo de trabalho composto de:

- 1 coordenador geral: responsável pelo gerenciamento e acompanhamento de todas as ações do projeto;

- 4 coordenadores de grupo: responsáveis pela operacionalização e acompanhamento das ações junto as escolas;

- 11 coordenadores de apoio: responsáveis por visitas as salas de aula a fim coletar dados e informações para serem analisados por todo o grupo, viabilizando o processo de ação-reflexão-ação das atividades desenvolvidas no projeto.

- 6 especialistas de áreas específicas: língua portuguesa, matemática, ciências da natureza, planejamento, avaliação e didática: responsáveis pela elaboração e execução do processo seletivo e formação continuada dos professores.

- 1 secretária: mantém o intercâmbio e o repasse de informações e materiais para os membros do grupo.

As ações do projeto tiveram início no começo de 2001, mas a consolidação do grupo de trabalho só aconteceu em outubro do mesmo ano. Os membros do grupo foram convidados pela coordenação geral para participarem do projeto por serem profissionais da região que já atuavam em áreas afins. Dentre as ações desenvolvidas pelo grupo até janeiro de 2002, podemos ressaltar:

- Discussão de documentos e leis que tratam da EJA:

- Elaboração e execução do processo seletivo de professores da EJA; - Discussão e elaboração da proposta de formação continuada dos professores; - Aná lise e escolha do livro didático;

- Realização de curso de capacitação intensivo de 60h/a, de acordo com quadro abaixo:

ÁREA CARGA HORÁRIA

Língua Portuguesa 12h

Matemática 12h

Ciências da Sociedade e da Natureza 08h

Meio Ambiente 04h

Ética 04h

Dinâmicas de Grupo 08h

Planejamento 04h

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Pedagogia de Projetos 04h

TOTAL 60h

A proposta de formação continuada dos professores ficou dividida em dois momentos: o curso intensivo citado acima, ocorrido no mês de janeiro/2002 e encontros semanais no decorrer de todo o ano de 2002.

O curso intensivo teve como objetivo discutir tópicos básicos de cada área, como também, obter sugestões dos professores para formação continuada, levando em consideração as dificuldades por eles enfrentadas no desenvolvimento de seus trabalhos na escola.

No módulo de matemática foram propostos os seguintes tópicos para estudo: Sistemas de Numeração, Operações Fundamentais, Frações, Números Decimais, Porcentagem, Medidas e Introdução à Estatística.

Das 60h/a do curso intensivo, apenas 12h/a foram direcionadas para matemática. Neste períodos iniciamos o estudo dos temas: Sistema de Numeração e Operações Fundamentais. Um maior aprofundamento destes tópicos e o estudo dos tópicos restantes ocorrerão na formação continuada no decorrer do ano. Na realização do curso intensivo, tivemos os seguintes objetivos:

- Objetivo Geral

Identificar, nos professores formadores de jovens e adultos do ensino fundamental, dificuldades teóricas e metodológicas para o ensino das operações fundamentais.

- Objetivos Específicos

.Discutir e analisar sistemas de numeração

.Interpretar os algoritmos das operações fundamentais

.Refletir sobre metodologias e instrumentos para o ensino de matemática

- Apresentação dos Problemas

As situações-problema do curso foram apresentadas com fundamentos da proposta teórico- metodológica da Seqüência de Fedathi que tem como princípios

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norteadores a realização de quatro pontos básicos: tomada de posição, maturação, solução e prova.

- Tomada de posição: apresentação do problema ao grupo. - Maturação: análise e interpretação do problema pelo aluno.

- Solução: apresentação de um modelo que leve a resposta do problema.

- Prova: discussão das respostas dos alunos e apresentação de um modelo matemático genérico para resolução do problema.

Utilizamos também fundamentos da Teoria das Situações Didáticas de Brousseau, buscando observar o trabalho dos alunos no que o autor define como situações a-didáticas, ou seja, os momentos que os alunos se debruçam sobre o problema sem intervenção direta do professor.

Das situações-problema trabalhadas no curso intensivo iremos discutir apenas uma delas por pretendermos apresentar um trabalho mais detalhado ao final do ano, quando teremos mais elementos da pesquisa através da formação continuada.

3. DISCUSSÕES PRELIMINARES

Iniciamos o curso discutindo sistemas de numeração e as operações fundamentais. Até a adição tudo parecia claro e compreens ível para a turma. Já na subtração, algumas dúvidas começaram a surgir, principalmente na explicação do algoritmo. Vejamos abaixo uma das situações-problema que foi explorada pelo grupo:

Observando a resolução dos alunos, percebemos que dos 35 presentes na classe, apenas 5 resolveram a questão de acordo com a sistemática abaixo:

(I) (II)

Usando o sistema abaixo, efetue a operação 100 – 28. I r = I I I I I I I I I I £ = rrrrrrrrrr C D U £ rrrr rrrr r r I I I I I I I I I I C D U £

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(III) (IV)

O restante do grupo manifestou dúvidas sobre como representar com o sistema de numeração que foi dado no problema. A maioria do grupo iniciou fazendo a continha com o algoritmo da sutbração. E quando passávamos nas carteiras pedindo que explicassem o algoritmo utilizado, diziam que tinham aprendido daquela forma. As justificativas apresentadas eram resultante de um processo mecanizado, os alunos não conseguiam explicar o porquê das operações utilizadas no algoritmo que elaboravam. O modelo mais utilizado pela turma foi o seguinte:

C D U 1 - 0 2 0 8

No algoritmo por eles apresentado, questionamos porque e como os zeros da unidade e da dezena do minuendo, passaram a ser 10. Argumentaram apenas que era devido a base 10. Pedi- lhes que alguém mostrasse como a base 10 os ajudou a chegar naquele resultado. Alguns falaram que era pedindo emprestado a casa das dezenas. Pedi então que justificassem porque acrescentavam uma unidade na casa das dezenas e das centenas do subtraendo. Disseram apenas que aprenderam assim e que a unidade que acrescentavam era para que a conta desse certo.

Para uma explicação mais lógica do algoritmo da subtração retornamos a explicação do significado da base de um sistema, efetuamos a mesma operação em

C D U 1 - +1 10 2+1 10 8 C D U 1 - 1 10 3 10 8 0 7 2 C D U rrr rrr r I I C D U £ rrrr rrrr r r I I I I I I I I I I

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sistema de base 9 e 10, mostrando também a decomposição do número em cada sistema, no intuito de que entendessem melhor as transformações ocorridas nas operações.

(Base 9) (Base10)

100(9) = 81 + 0 + 0 = (1x 81) + (0 x 9) + (0x1) = (1 x 92) + (0 x 91) + (0 x 90)

100(10) = 100 + 0 + 0 = (1x 100) + (0 x 10) + (0x1) = (1 x 102) + (0 x 101) + (0 x 100)

Os alunos tiveram uma certa dificuldade para entenderem e interpretarem a realização da subtração na base nove. Para que eles entendessem foi preciso explorarmos também, vários exemplos com outras bases. Ao final deste atividade percebemos o encantamento e entusiasmo dos alunos frente ao que haviam estudado, achando que através do método explorado foi possível haver uma verdadeira compreensão do significado de sistema de numeração e, consequentemente, do algoritmo da subtração.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do curso percebemos que houve grande interesse e participação do grupo na realização e discussão das atividades matemáticas trabalhadas. Os professores se mostraram bastante receptivos e com sede para continuarmos as discussões nos próximos encontros da formação continuada. As reflexões foram muito ricas, apesar das operações fundamentais parecer um tema simples e muito debatido, o trabalho didático-metodoló gico do professor é algo que ainda deixa a desejar nas salas de aula, haja visto, o grande número de alunos que saem do ensino fundamental menor sem saberem elaborar o algoritmo escrito das operações que realizam mentalmente. Esta preocupação

C D U

1

-

9

10

0

2

10

0

8

0

7

2

C D U

1

-

8

9

0

2

9

0

8

0

6

1

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estende-se também aos jovens e adultos que buscam na escola um saber sistematizado, com o qual sejam capazes de inserir-se melhor na sociedade. Nosso intuito com este trabalho é oferecer ao professor a possibilidade de aprofundar conhecimentos matemáticos do ponto de vista teórico e metodológico, a fim de potencializar a sua formação profissional e, consequentemente, a formação de seus alunos.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- ALMEIDA, A.P. Educação de Jovens e Adultos – Matemática. Recife: NUPEP-UFPE, 1998.

- BORGES NETO, H. et al. A Sequência de Fedathi como proposta metodológica no ensino-aprendizagem de matemática e sua aplicação no ensino de retas paralelas. In: Encontro de Pesquisa Educacional do Nordeste. Educação, desenvolvimento humano e cidadania. São Luís: UFMA, Anais, 2001.

- BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros em Ação: Educação de Jovens e Adultos. Brasília: MEC, 1999.

- BROUSSEAU, G. Os diferentes papéis do professor. In: SAIZ, C.P.I. et alii - Didática da Matemática – reflexões psicopedagógicas. Porto Alegre: Artes Médicas. 1996, pág. 48-72.

- CENTURIÓN, M. Números e operações. São Paulo: Scipione, 1994.

- DUARTE, N. O ensino de matemática na educação de adultos. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 1994.

- Educação matemática de jovens e adultos. Alfabetização e Cidadania. Nº 6. São Paulo: RAAAB, 1997.

- FERNANDEZ, C.G.I. et alii. Educação de Jovens e Adultos. Cadernos 1, 2, 3 e 4. São Paulo: SUPLEGRAF, 2000.

- MOURA, T.M.M. A prática pedagógica dos alfabetizadores de jovens e adultos: contribuições de Freire, Ferreiro e Vygotsky. Maceió: EDUFAL, 1999.

- Resolução nº 363/00 do Conselho de Educação do Ceará – Dispõe sobre a Educação de Jovens e Adultos.

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- RIBEIRO, K.S.A. Educação de Jovens e Adultos: proposta para 2002. Prefeitura Municipal de Sobral, 2001.

- Salto para o Futuro – Educação de Jovens e Adultos / Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999.

Referências

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