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A CRIANÇA INDÍGENA URBANA E AS ESCOLAS MUNICIPAIS DE CAMPO GRANDE/MS: uma cartografia preliminar da questão

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A CRIANÇA INDÍGENA URBANA E AS ESCOLAS MUNICIPAIS DE CAMPO GRANDE/MS: uma cartografia preliminar da questão

Carlos Magno Naglis Vieira (UCDB)1 Suelise Paula Borges de Lima Ferreira (SEMED)2 Adir Casaro Nascimento (UCDB)3

A escrita de um texto é sempre uma experiência desafiadora. É para muitos um momento solitário entre o autor e a tela do computador. Quando o texto vai além das duas mãos o desafio é sempre maior, pois é necessário ter uma sintonia para “afiar as palavras” (BUJES, 2007) na tentativa de ilustrar o cenário que pretende mostrar. Além das seis mãos que pretendem se articular na escrita do texto, a temática é um convite ao desafio, pois dos muitos trabalhos produzidos no Brasil sobre populações indígenas, poucos são as pesquisas com índios urbanos, e um número ainda menor com crianças indígenas.

Com isso, na intenção de contribuir com as futuras pesquisas sobre índios urbanos, o artigo “A criança indígena urbana e as escolas municipais de Campo Grande/MS: uma cartografia preliminar da questão” tem como objetivo apresentar um ensaio de uma cartografia , ainda preliminar, das crianças indígenas que estudam nas escolas da Rede Municipal de Educação de Campo Grande/MS, destacando e problematizando os conflitos e as tensões produzidos no entre lugares que caracterizam as escolas, em especial, as que compõem o entorno das aldeias urbanas (Marçal de Souza, Darci Ribeiro, Água Bonita e Aldeia indígena do Núcleo Industrial).

O sentido da palavra cartografia surgiu com a leitura do texto “Transversalidade

e educação: pensando uma educação não-disciplinar” do professor Silvio Gallo. Nele,

Gallo apresenta cartografia como sendo um “rizoma”, que segundo o autor pode ser entendido como “um rascunho, um devir, uma cartografia a ser traçada sempre e novamente, a cada instante” (2001, p.31). Uma cartografia, que “pode ser acessado de infinitos pontos e pode daí remeter a quaisquer outros em seu território” (idem).

Pautado em uma metodologia descritiva, o estudo ainda em andamento, estabelece uma relação entre identidade, diferença e cultura, tendo como eixo de interpretação os processos históricos que produzem sentidos e os significados que

1

Doutorando em Educação UCDB. Bolsista CAPES/PROSUP.

2 Mestre em Educação. Gestora da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande/MS. 3 Doutora em Educação. Professora e pesquisadora do PPGE/UCDB.

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realçam ainda mais as relações de poder que hierarquizam as diferentes culturas. Para fundamentar teoricamente o objetivo desse artigo, fez se necessário um referencial bibliográfico com interface na Educação, na Antropologia e nos Estudos de Cultura (Azevedo, Bhabha, Both, Cohn, Freire, Hall, Rezende, Silva, Sobrinho e Tassinari).

Um dos motivos de escrever sobre as crianças indígenas urbanas utilizando a corrente teórica dos Estudos Culturais é a oportunidade de conhecer outros saberes que por muitas vezes são negados devido à dominação colonial, desconstruir a noção de cultura como algo fixo e naturalizado e entender que as populações indígenas se “deslocam no tempo e no espaço e, no entanto, em diferentes espaços e latitudes, as particularidades se reafirmam, [...] reivindicam um lugar próprio e singular, fazendo de nosso tempo um tempo aparentemente esquizofrênico” (GUSMÃO, 2008, p.48). Por esse e outros motivos que o trabalho pretende romper com os velhos paradigmas da antropologia fazendo com que “velhas correntes de pensamento sejam rompidas, velhas constelações deslocadas, e elementos novos e velhos são reagrupados ao redor de uma nova gama de premissas e temas” (HALL, 2003, p.131)

A cartografia preliminar das crianças indígenas que estudam nas escolas municipais de Campo Grande/MS, teve auxílio da Secretaria Municipal de Educação, mais especificamente dos dados coletados por técnicos e gestores educacionais que trabalham diretamente nas escolas com questões relacionadas à Diversidade Cultural. Esses profissionais atuam diretamente nas escolas orientando e promovendo reflexões com professores e demais membros da escola.

A POPULAÇÃO INDÍGENA URBANA EM CAMPO GRANDE/MS

A população indígena brasileira vem apresentando nos últimos anos um alto crescimento demográfico. Nos estudos da antropóloga Marta Azevedo, da Universidade de Campinas/UNICAMP, é possível identificar importantes fatores para esse episódio, mas nesse texto pretendemos apontar somente dois desses elementos: 1 - o elevado crescimento de pessoas que passaram à assumir a identidade indígena e que anteriormente se identificavam como pardas ou negras; 2 – o crescente número da população indígena em contexto urbano4. As pesquisas da antropóloga revelam o

4 Segundos os dados do IBGE/2010 a população indígena brasileira em contexto urbano é de

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motivo que levou as populações indígenas alcançarem um número superior a 225 etnias indígenas brasileiras distribuídas por vários estados da federação brasileira. Atualmente no Brasil existem 232 etnias indígenas (ISA5 – 2011), sendo a grande maioria concentrada na região Norte do país.

No Mato Grosso do Sul, segunda maior população indígena do Brasil, o contexto demográfico nacional mencionado nas linhas acima, não se difere. Nos últimos 20 anos, a população indígena do Estado teve um aumento superior a 50%, fato observado nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e da Fundação Nacional de Saúde – FUNASA. A população indígena do Mato Grosso do Sul que em 1991 era de aproximadamente 32.752 índios passou a registrar em 2011 um total de 72 mil indígenas (aldeados e urbanos).

Os estudos de antropólogos regionais apontam que o crescimento da população indígena no Estado pode estar associado ao expressivo crescimento populacional na faixa etária entre 0 a 14 anos e ao número de índios urbanos que passaram a se autodeclarar indígena. Mas, diante desse cenário demográfico promissor que encontra os povos indígenas do Mato Grosso do Sul, anunciamos duas questões para ser pensada e discutida em outros momentos: 1) apesar do aumento gradativo da população indígena do Estado, permanece o processo de violação das terras indígenas e o confinamento desses povos (VIEIRA, 2010); e 2) o medo de sofrer algum preconceito e represália por estar morando em perímetro urbano, os indígenas acabavam negando e silenciando sua identidade indígena, principalmente durante as respostas do Censo Demográfico realizado pelo IBGE (AZEVEDO, 2004).

Em outras palavras, amparado nos escritos teóricos da corrente dos Estudos Culturais, principalmente nos estudos de Tomaz Tadeu da Silva (2000), compreendemosque o indígena ao negar sua identidade ele está deixando de marcar sua diferença e atribuindo a essa identidade características positivas e relevantes. Ao afirmar a identidade, o sujeito indígena demarca sua fronteira e promove a distinção “entre o que fica dentro e o que fica fora” (p.82).

Como registrado no cenário nacional e regional, o crescimento demográfico indígena na cidade de Campo Grande também é algo observado, principalmente a partir dos anos 90 quando intensificou a onda migratória para a capital do MS e pelo fato da cidade abrigar em seu território geográfico três aldeias indígenas urbanas e duas

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comunidades indígenas em formação. Poucos estudos sobre a população indígena em Campo Grande/MS foi realizado até o momento6, mas as informações apresentadas nas pesquisas revelam que o deslocamento dos povos indígenas acabam acontecendo porque muitos grupos buscam na cidade alternativa para melhorar suas condições de vida, principalmente no tocante aos laços de parentescos, relações de trabalho e escola (MUSSI, 2006).

A pesquisa de doutorado “As estratégias de inserção dos índios Terena: da

aldeia ao espaço urbano (1990-2005)”,da professora e historiadora Vanderléia Mussi revelaram que muito dessas migrações ocorre porque “na Aldeia, as opções encontradas pelo trabalhador indígena são bem restritas. As principais atividades giram sempre torno da lavoura ou da cerâmica e, quando muito, na prestação de serviços em fazendas e destilarias” (2006, p.214). Segundo alguns professores indígenas, a população que ainda resiste em permanecer na aldeia, somente vê a possibilidade de trabalho no setor agro-industrial, mais especificamente, nas usinas de cana de açúcar.

A educação escolar é outro elemento significativo que marca o deslocamento dos povos indígenas para o perímetro urbano, não só em Campo Grande/MS, mas também em outras capitais do país, conforme registrado em trabalhos acadêmicos. As pesquisas explicam não só a principal razão para o deslocamento, mas como também a permanência deles nessas áreas urbanas. Lasmar (2005 p. 257 apud Ponte, 2009) destaca que, para os indígenas:

Viver como branco na cidade significa ter a possibilidade não só de concorrer com os brancos pelo acesso à educação escolar, ao dinheiro, a bens e serviços, mas também de se reposicionar no sistema indígena de prestígio. Contudo, a transformação também põe para os índios um dilema: se, por um lado, a apropriação do conhecimento dos brancos representa uma forma de garantir o controle sobre a sua situação presente e futura, por outro, ela envolve um risco para a própria identidade indígena, que tem na noção de comunidade um importante sustentáculo, como já vimos. Formulando de maneira sintética, a questão que se colocaria para os índios seria a

6 Cabe destacar os trabalhos: O pioneiro estudo do Antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira em 1968

com a população indígena Terena, na cidade de Campo Grande e Aquidauna. (CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Urbanização e tribalismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1968); Vanderléia Paes Leite Mussi. As estratégias de inserção dos índios Terena: da aldeia ao espaço urbano (1990-2005). Tese de Doutorado – Faculdade de Ciências e Letras de Assis – Universidade Estadual Paulista. Assis, 2006; LACERDA, Munier Abrão. Perspectivas de desenvolvimento local entre os Terena, na aldeia urbana Marçal de Souza, em Campo Grande-MS: a opção pelo etnoturismo. Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, 2004. (Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Local); HEIMBACH, Nilva. Cultura Regional e o Ensino da Arte: Caminho para uma prática intercultural? Estudo de Caso: Escola Municipal Sulivan Silvestre de Oliveira - Tumune Kalivono “Criança do Futuro”. Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, 2008. (Dissertação de Mestrado em Educação)..

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de como se apropriar do conhecimento dos brancos sem precisar viver como branco, isto é, sem precisar viver como se vive na cidade.

Campo Grande/MS, localizado na parte central do Mato Grosso do Sul, apresenta uma população local com múltiplos ethos culturais7, destacando desde os anos 90 um significativo crescimento populacional indígena. Com a formação das aldeias indígenas urbanas Marçal de Souza, Água Bonita e Darci Ribeiro e as comunidades indígenas do Tarsila do Amaral e do Núcleo Industrial, a cidade passou de 3.500 indígenas em 1990, para aproximadamente 7 mil em 2010 (IBGE). Segundo informações de acadêmicos indígenas da UCDB, além dos residentes nas aldeias urbanas, ainda existe uma grande concentração de indígenas em bairros afastados do centro da cidade de Campo Grande/MS, nas periferias, como os bairros: Tiradentes, Guanandi, Itamaracá, Tarumã, Conjunto Aero Rancho, Parque do Laranjal São Jorge da Lagoa, Jardim Carioca, Talismã e Morada Verde.

A primeira aldeia urbana a ser constituída em Campo Grande/MS é a Marçal de Souza8, localizada na região do bairro Tiradentes. A aldeia é formada por famílias que se deslocaram principalmente de municípios como Aquidauana, Sidrolândia, Miranda e de outras cidades do Estado e até mesmo fora dele. A aldeia encontra-se em uma área de 4 (quatro) hectares e 9.300 (nove mil e trezentos) metros quadrados, doada no dia 25 de janeiro de 1973 pelo prefeito municipal Antônio Mendes Canale, a FUNAI, em ocasião a Lei Municipal de nº 1.416 (MUSSI, 2006). Segundo autora, “a área correspondente ao lote nº13, do Bairro do Desbarrancado” (2006, p. 251).

A ocupação da área pelos povos indígenas, que naquela ocasião era de maioria Terena, somente ocorreu em 09 de junho de 1995 com um total de 100 famílias, sendo 353 indivíduos (158 adultos e 195 crianças). Após inúmeras iniciativas dos moradores da aldeia indígena ao poder público, cobrando melhores condições de vida e a inserção definitiva ao contexto urbano, a prefeitura no ano de 1999 inaugurou 163 casas, sendo todas “de alvenaria, cujos telhados lembram muito a antiga disposição das aldeias em forma de círculos, ou seja, o antigo sistema tradicional” (MUSSI, 2006, p.262). Ainda nesse mesmo ano, foi fundada na aldeia a Escola Municipal Sulivan Silveste Oliveira –

Tumune Kalivono “Criança do Futuro”.

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Destaque para o grande número de migrantes brasileiros (nordestinos, mineiros, paulistas, catarinenses, paranaenses, baianos e gaúchos) e estrangeiros oriundo da Europa, Ásia e Oriente Médio (portugueses, sírios, italianos, alemães, bolivianos, paraguaios, japoneses, húngaros, argentinos, russos, búlgaros, gregos , chilenos, franceses e poloneses).

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Nos dias atuais, a situação dos indígenas na aldeia urbana Marçal de Souza tem características muito diferentes daquelas de anos anteriores, conta com um número maior de famílias, uma mulher cacique para representar a liderança da aldeia e sofrem as mesmas dificuldades das demais famílias carentes que habitam as periferias de Campo Grande/MS.

A Aldeia indígena urbana Água Bonita, segunda a ser constituída na cidade, está localizada no bairro Vida Nova III, periferia do município. Fundada em 14 de maio de 2001, Água Bonita possui uma história quase que semelhante a Aldeia Marçal de Souza, principalmente com relação à fundação da aldeia e os enfrentamentos realizados junto ao poder público. A área começou a ter contornos de aldeia urbana a partir da criação da Associação dos índios Kaguateca Marçal de Souza em 1987. A associação formada pelas lideranças indígena da aldeia foi responsável por cobrar junto a Prefeitura Municipal de Campo Grande e do Governo do Estado do MS uma melhor qualidade de vida para o seu povo.

Após inúmeros enfrentamentos políticos a Associação dos índios Kaguateca Marçal de Souza firmou um convênio com o Governo do Estado, junto ao Idaterra para a construção de casas e delimitação da área da aldeia. A partir desse convênio a aldeia indígena urbana foi fundada com uma área de 11 hectares, sendo 8 hectares para uso comum dos indígenas e da população local do bairro e 3 hectares para reserva ambiental (MUSSI, 2006).

A aldeia Água Bonita possui indígenas da etnia Guarani, Kaiowá, Kadiwéu, Guató e Terena, sendo sua maioria. Atualmente moram na aldeia cerca de 70 famílias que sobrevivem da comercialização de frutas em feiras livres e na feira indígena que situa próximo ao Mercado Municipal de Campo Grande. Diferente da Aldeia Marçal de Souza, a população indígena da aldeia Água Bonita é maioria adulta, sendo um pequena parcela de crianças e jovens.

Campo Grande ainda possui a Aldeia Urbana Darci Ribeiro localizada no Jardim Noroeste, e as comunidades indígenas do Tarsila do Amaral e do Núcleo Industrial. A população indígena da aldeia e das duas comunidades não ultrapassa 100 famílias de índios da etnia Terena, Guarani, Kaiowá e Kadiwéu, morando em aproximadamente 150 casas. A Prefeitura de Campo Grande considera com sendo aldeias improvisadas, cuja denominação recebe o nome de aldeia-favela. Segundo relato de indígenas que moram

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no local9, a vinda para Campo Grande/MS ocorreu por causa da difícil situação econômica na aldeia. A realidade apresentada, principalmente na comunidade indígena do Tarsila do Amaral não é diferente da vivida na aldeia, para muitos pode até ser considerada pior. Os indígenas que ali residem vivem confinados em uma pequena área geográfica e uma situação de pobreza extrema.

UMA CARTOGRAFIA DA CRIANÇA INDÍGENA NAS ESCOLAS

MUNICIPAIS DE CAMPO GRANDE/MS

O estudo com crianças indígenas no Brasil ainda é muito recente na academia, são poucos os pesquisadores que dedicam suas pesquisas ao universo da criança. As literaturas existentes sobre a temática da criança indígena revelam uma ausência de produções, principalmente no campo de pesquisa da Pedagogia e da Antropologia. Esse ponto de vista pode ser descrito nos estudos de Clarice Cohn (2005) quando menciona que o tema da criança sempre causou certo incômodo para a antropologia, pois a autora afirma que, “As crianças tudo sabem, tudo vêem... mas nada sabem, pois são crianças”.

No entanto, elaborar uma cartografia das crianças indígenas nas 93 escolas da Rede Municipal de Educação é uma proposta de trabalho que se fez necessária não só no sentido de apresentar dados numéricos das crianças indígenas urbanas que freqüentam as escolas da rede, mas de oferecer elementos significativos capazes de contribuir para futuras pesquisas com populações indígenas urbanas na cidade de Campo Grande e para pensar em políticas públicas que possam atender esse segmento da população local.

A Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande - SEMED organiza as escolas em sete Zonas Urbanas e uma Zona Rural. As sete zonas urbanas foram organizadas e denominadas de: Zona Urbana do Prosa com 8 escolas, Zona Urbana do Bandeira com 9 escolas, Zona Urbana do Anhanduizinho com 25 escolas, Zona Urbana do Lagoa com 9 escolas, Zona Urbana do Centro com 10 escolas, Zona Urbana do Segredo com 11 escolas, Zona Urbana do Imbirussu com 12 escolas e a Zona Rural com 9 escolas, sendo algumas com extensões.

Atualmente estudam nas escolas municipais um total de 491 crianças que auto se declararam indígenas no momento da matrícula. Essas crianças encontram

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distribuídas em 20 instituições escolares que possuem alunos indígenas e não indígenas. Para os gestores educacionais da Secretaria Municipal de Educação - SEMED existe um número ainda maior, mas pela falta de informação no preenchimento do formulário de matricula acabam não se reconhecendo como indígenas. Sabendo da dificuldade, os técnicos da Secretaria de Educação estão estudando uma possibilidade de melhorar o preenchimento dos formulários, para que os dados sobre a identidade e procedência destas crianças possam ser registradas com mais precisão.

No texto Intercultura e educação do professor Reinaldo Matias Fleuri, o fato da criança indígena não reconhecer sua identidade, mostra que ela não tem “clareza de que os fatores constitutivos de nossas identidades sociais não se caracterizam por uma estabilidade e fixidez naturais” (2003, p.23). O autor ainda escreve que as identidades culturais surgem de nosso pertencimento a culturas étnicas e nacionais.

As escolas municipais com maior número de alunos indígenas matriculados são as que estão próximas as aldeias urbanas, tais como:

ESCOLAS MUNICIPAIS ALDEIAS PRÓXIMAS N° DE ALUNOS

INDÍGENAS

Escola João Candido de Souza Aldeia Urbana Água Bonita

104 alunos

Escola Professora Ione Catarina Gianotti Igydio

Aldeia Urbana Darcy Ribeiro

79 alunos

Escola Sulivam Silvestre Oliveira – Tumune Kalivono

Aldeia Urbana Marçal de Souza

74 alunos

Escola Professor Arassuay de Castro

Aldeia Urbana Darcy Ribeiro

21 alunos

Escola Rachid Saldanha Derzi Aldeia Urbana Darcy Ribeiro

20 alunos

Segundo dados levantados pelos gestores educacionais da Secretaria Municipal de Educação – SEMED o maior número de matrículas de crianças indígenas está entre o 1° ao 5° Ano do Ensino Fundamental.

Além das escolas municipais apresentadas existem outras instituições que possuem um número significativo de alunos indígenas, como: a Escola Antônio José Paniago, no Jardim Itamaracá e a Escola Professora Olivia Enciso, no Bairro Tiradentes possuem 11 alunos matriculados. A escola Padre Thomaz Ghirardelli, no Bairro Dom

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Antônio Barbosa e a escola Professora Arlene Marques Almeida, no Jardim Canguru tem 9 alunos matriculados. Na escola Professor Vanderlei Rosa de Oliveira, no bairro Novo Maranhão, o número de alunos indígenas é de oito matriculas.

Se analisarmos o número de matrícula de crianças indígena a partir das Zonas Urbanas e Rurais como está organizada as escolas junto a Secretaria Municipal de Educação, temos o seguinte quadro preliminar.

ZONAS URBANAS E RURAIS N° DE ALUNOS INDÍGENAS

Zona Urbana do Prosa 128 alunos

Zona Urbana do Segredo 104 alunos

Zona Urbana do Bandeira 96 alunos

Zona Urbana do Anhanduizinho 18 alunos

Apesar, de contar atualmente, com um número expressivo de crianças indígenas nas escolas municipais de Campo Grande/MS, a Secretaria de Educação já teve no ano de 2008 um total de 980 alunos indígenas. Para os técnicos, o número de crianças diminuiu porque muitas delas já terminaram o Ensino Fundamental e passaram para o Ensino Médio e porque muitas que estudam em escolas até o 5° Ano se transferiram para outras escolas, sendo na grande maioria escolas da Rede Estadual de Educação.

Após apresentar um ensaio de uma cartografia, ainda preliminar, das crianças indígenas que estudam nas escolas da Rede Municipal de Educação de Campo Grande/MS, o estudo elabora algumas perguntas que foram fundamentadas e construídas a partir da experiência e de leituras de textos e trabalhos de pesquisas com povos indígenas urbanos: Sabendo que a escola é um palco privilegiado para se relacionarem e (re) construírem diferentes culturas, como os professores da Rede Municipal estão trabalhar com as diferenças culturais e étnicas presentes no cotidiano da escola? Como as escolas da Rede Municipal de Campo Grande manifestam os princípios de respeito e valorização à identidade indígena? A Secretaria Municipal de Educação está constituindo um espaço nas escolas para debates e formação de professores para atender as crianças indígenas? Quais as principais atitudes dos professores das escolas municipais em compreender a alteridade dos alunos indígenas?

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A comunidade escolar (pais/alunos e professores) está sendo chamado para participar da elaboração do projeto político pedagógico das escolas com alunos indígenas?

REFERENCIAS

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