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do disposto nos artigos 9. do Código Civil e1., 93., n. 6., e 187., n. 4., do Código da Propriedade

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Cópias da sentença do 11.° Juízo Cível da Comarca de Lisboa e do acórdão da Relação de Lisboa proferidos no processo de registo de marca nacional n.° 208 553. Cópia da sentença proferida nos autos de recurso de marca em que são recorrente Modelo Supermercados, S. A., e recorrido Café Modelo de Manuel Rui Azinhais Nabeiro, L.da I - Modelo Supermercados, S. A., com sede na Rua de Diogo do Couto, 1, 8.°, em Lisboa, interpôs recurso do despacho do Sr. Director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial de 11 de Abril de 1988, que concedeu protecção em Portugal à marca n.° 208 553, Café Modelo.

II - Quanto ao pedido do registo da referida marca, o chefe de divisão do INPI considerou ser de conceder protecção.

III - O director do Serviço de Marcas do INPI emanou despacho de deferimento da requerida protecção.

IV - Pede a recorrente que se revogue o despacho que concedeu protecção em Portugal à marca n.° 208 553, Café Modelo.

V - Alega a recorrente, em síntese, que:

A marca em litígio reproduz, sem a sua autorização, a sua denominação social, Modelo Supermercados, S. A., com violação do disposto no n.° 6.° do artigo 93.° do Código da Propriedade Industrial; A expressão «Modelo», caracteriza por si só a marca

n.° 208 553, Café Modelo;

A sociedade recorrente encontra-se devidamente matriculada e constituiu-se muito antes de ter sido pedido o registo da marca Modelo;

A marca recorrida destina-se a café, enquanto a recor- rente tem por objecto «todo o comércio retalhista

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e armazenista, nomeadamente exploração de super- mercados, mercearias, centros comerciais, estabele- cimentos de charcutaria, café, restaurante, padaria e talho, e ainda as indústrias de confeitaria, padaria e salsicharia, podendo dedicar-se a qualquer outra actividade comercial ou industrial que o conselho de administração delibere explorar»;

A existência da marca Café Modelo induz, necessa- riamente, em erro ou confusão o público consumi- dor;

Nos termos do artigo 187.°, n.° 4°, do Código da Propriedade Industrial, há possibilidade de concor- rência desleal, pelo que tal também é fundamento de recusa do registo de marca.

VI - O Sr. Director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial respondeu a fl. 51 e sustentou que se o consumidor normal do produto em causa pensa que o produto, devido à sua marca, tem relação com a sociedade recorrente, então o registo devia ser recusado. Se não pensar assim, a protecção devia ser concedida. Acrescenta que tal técnica deve ser usada caso a caso e aplicada à luz concorrencial de cada caso concreto.

VII - Devidamente citado, Manuel Rui Azinhais Na- beiro, L.da, veio, em resumo, dizer que:

Não há violação do artigo 93.°, n.° 6.°, do Código da Propriedade Industrial, pois tal preceito exige a reprodução integral da denominação social; Inexistindo, por isso, possibilidade de concorrência

desleal entre as partes, nos termos do artigo 187.°, n.° 4.°, do Código da Propriedade Industrial. VIII - Tudo visto.

Nada obsta a que se decida. Cumpre decidir.

Pretende a recorrente que, devido à expressão «Modelo», haveria lugar à aplicação do disposto no n.° 6.° do artigo 93.° do Código da Propriedade Industrial.

Parece-nos não ter razão a recorrente, pois a marca Café Modelo não contém a denominação social daquela, antes se verificando o inverso, ou seja, parte da marca em causa está contida na denominação social da recorrente. Inaplicável fica, assim, o artigo 93.°, n.° 6.°, do Código da Propriedade Industrial (cf., por todos, o Acórdão do Su- premo Tribunal de Justiça de 13 de Julho de 1979, in Boletim do Ministério da Justiça, n.° 284, p. 238).

Sustenta ainda a recorrente haver possibilidade de concorrência desleal, nos termos do artigo 187.° do Código da Propriedade Industrial, por a marca em causa induzir necessariamente em erro ou confusão o público con- sumidor.

Para se falar de concorrência é essencial que sejam idênticas ou afins as actividades económicas prosseguidas por dois ou mais empresários (Patrício Paulo, Concorrência Desleal, ed. de 1965, p. 35). Acrescenta ainda o mesmo autor que existe acto de concorrência desleal quando um registo possibilite a sua verificação pela susceptibilidade de confusão que provoca com os produtos de um concorrente.

Antes de mais, diga-se que me parece inexistir a possibi- lidade de confusão entre a marca de um café e a denomina- ção social em apreço, reconhecidamente conotada com su- permercados no meio comercial português. Não nos parece que «Café Modelo» possa confundir o público desprevenido e levá-lo a pensar que é um produto próprio dos Supermercados Modelo.

Por outro lado, é preciso ter presente ao analisar a questão da concorrência desleal que temos em confronto

uma marca de um produto alimentar com uma denominação social. Ora, não sendo de aplicar, como se viu, o artigo 93.°, n.° 6.°, do Código da Propriedade Industrial, há que ter presente que a concorrência desleal relativamente ao «Café Modelo» tem de ser apreciada em confronto com outras marcas de produto da mesma classe já anteriormente registadas, e não com denominações sociais por referência ao objecto social da sua proprietária. É que o registo de marcas protege as marcas, e não o objecto social das sociedades.

Não tendo a recorrente protecção registral relativamente a produtos da mesma classe a que pertence ao café (alimentares) com tal denominação ou parecida, a simples semelhança entre uma marca e uma denominação social fora do âmbito do artigo 93.°, n.° 6.°, do Código da Propriedade Industrial não é susceptível de concorrência desleal.

Não tendo a recorrente registos de marcas de produto da mesma classe a que pertence o café por força do artigo 204.° do Código da Propriedade Industrial, parece- -nos mesmo que a recorrente até seria parte ilegítima para este recurso, já que não era prejudicada directamente pela concessão (fora do âmbito do artigo 93.°, n ° 6.°, do Código da Propriedade Industrial).

IX - Assim, pelo exposto, decide-se negar provimento ao recurso e, em consequência, confirma-se integralmente o despacho recorrido.

Custas pela recorrente.

Notifique, registe e satisfaça oportunamente o solicitado a fl. 52.

Lisboa, 2 de Novembro de 1990. - O Juiz de Direito, José Manuel Duro Mateus Cardoso.

Está conforme.

Lisboa, 18 de Março de 1991. - A Escrivã-Adjunta, Maria José Oliveira Crespo de Jesus.

Cópia dactilografada do acórdão exarado nos autos cíveis de apelação n.° 5123, em que são apelante Modelo Supermercados, S. A., e apelado Manuel Rui Azinhais Nabeiro, L.da

Acordam, em conferência, no Tribunal da Relação de Lisboa:

Modelo Supermercados, S. A., com sede na Rua de Diogo do Couto, 1, 8.°, em Lisboa, veio interpor, no 11.° Juízo Cível da Comarca de Lisboa, recurso do despacho do Ex.mo Director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial de 11 de Abril de 1988, que concedeu protecção em Portugal à marca n.° 208 553, Café Modelo, requerida por Manuel Rui Azinhais Nabeiro, L.da, com sede em Campo Maior, pedindo que tal despacho seja revogado.

Alegou, em resumo:

Aquela marca contém uma denominação social que não pertence ao requerente da mesma;

Esta reproduz, sem autorização, a sua denominação social, pelo menos em parte dos seus elementos; A expressão «Modelo» caracteriza, por si só, a marca

n.° 208 553, Café Modelo;

A recorrente existia, desde 1961, como sociedade anó- nima, por transformação da sociedade por quotas Supermercados Modelo, L.da, e, depois, Supermercados Modelo, S. A. R. L., e, por fim, Modelo Supermercados, S. A.;

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A marca em recurso contém o elemento característico da denominação social da recorrente, «Modelo Supermercados, S. A.»;

Aquela marca, Café Modelo, induz em erro ou confu- são o público consumidor, havendo possibilidade de concorrência desleal, independentemente da in- tenção da recorrida.

Cumprido o disposto no artigo 206.° do Código da Propriedade Industrial, respondeu o Ex.mo Director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (fl. 51) e alegou a recorrida, afirmando esta, em conclusão, que a marca n.° 208 553, Café Modelo, não reproduz integralmente a denominação social da recorrente nem existindo possibilidade de concorrência desleal entre as partes. Por isso, afirma, deverá ser confirmado o des- pacho recorrido.

Proferida sentença, foi negado provimento ao recurso, confirmando-se integralmente o despacho posto em causa. Inconformada, apelou a recorrente, Modelo Super- mercados, S. A., vindo a apresentar as seguintes conclusões: 1.a O despacho de concessão da marca n.° 208 553, Café Modelo, destinado a assinalar «café», é ilegal, por violar o disposto nos artigos 93.°, n.° 6.°, e 187.°, n.° 4.°, do Código da Propriedade Indus- trial, pelo que deve ser revogado, dada a prévia existência da denominação social da recorrente, «Modelo Supermercados, S. A.», sociedade que tem por objecto todo o comércio retalhista e armazenista, nomeadamente o comércio de café; 2.a O artigo 93.°, n.° 6.°, do Código da Propriedade

Industrial tem aplicação no caso dos autos, dado que a marca Café Modelo contém a expressão «Modelo», que constitui o elemento característico e diferenciado da denominação social da sociedade recorrente, «Modelo Supermercados, S. A.»; 3.a O artigo 93.°, n.° 6.°, do Código da Propriedade

Industrial não pode ser interpretado restritamente em termos de apenas proibir a concessão de marca que contenha una reprodução total da denomi- nação social de outrem;

4.a O artigo 93.°, n.° 6.°, do Código da Propriedade Industrial tem de ser interpretado tendo em consi- deração os princípios que informaram o direito da propriedade industrial, nomeadamente que esta de- sempenhe a função social de garantir a lealdade da concorrência, o que não se compadece com a existência de sinais distintivos susceptíveis de contrariarem abertamente essa finalidade;

5.a O artigo 93.°, n.° 6.°, do Código da Propriedade Industrial tem por finalidade proteger o titular dos sinais distintivos aí mencionados contra os prejuí- zos que lhe poderiam advir da existência de uma marca que com eles possa confundir-se, pelo que tem de ser interpretado como proibitivo não só da concessão de marca que reproduz exacta e comple- tamente esses sinais mas também de marca que reproduz uma parte característica e significativa do conjunto, como sucede no caso dos autos; 6.a A concessão de protecção à marca Café Modelo

iria induzir em erro ou confusão o público consu- midor, que, ao comprar café com ela assinalada, julgaria estar a adquirir um produto originário da recorrente;

7.a O que iria possibilitar a prática de actos de concor- rência desleal;

8.a Termos em que deve ser revogado o despacho recorrido e a douta sentença apelada, por violação

do disposto nos artigos 9.° do Código Civil e 1.°, 93.°, n.° 6.°, e 187.°, n.° 4.°, do Código da Pro- priedade Industrial.

Contra-alegou a apelada, Manuel Rui Azinhais Nabeiro, L.da, defendendo a confirmação do despacho em causa, através da confirmação da sentença apelada.

Nesta relação, o Ex.mo Procurador-Geral-Adjunto emitiu douto parecer no sentido da que admite que a marca Café Modelo possa induzir o consumidor vulgar na convicção de que tal produto (café) tem relação com a sociedade Modelo Supermercados, S. A., usando-se a marca Café Modelo, havendo, pois, possibilidade de confusão, indu- zindo-se em erro os potenciais consumidores do produto tutelado pela marca e a empresa concorrente..

Juntou cópia do Acórdão desta Relação de 23 de Maio de 1991 (processo n.° 3922/90, da 2.a Secção), onde se decidiu, em situação idêntica, verificar-se «violação do disposto nos artigos 93.°, n.° 6.°, e 187°, n.° 4.°, do Código da Propriedade Industrial, concedendo provimento ao re- curso e revogando-se a douta sentença recorrida».

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

Considera-se provada nos autos a seguinte matéria de facto:

1.° Manuel Rui Azinhais Nabeiro, L.da, com sede em Campo Maior, requereu' ao Ex.mo Director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial que seja protegida em Por- tugal a marca industrial Café Modelo;

2.° Esse requerimento foi deferido, por despacho de 11 de Abril de 1988, nos termos constantes daquele requerimento, que constitui o processo apenso, o qual se dá aqui por reproduzido, sendo tal marca registada sob o n.° 208 553;

3.° Aquele despacho foi objecto de publicação no Boletim da Propriedade Industrial (apêndice ao Diário da República), de 30 de Novembro de 1988 e de 6 de Março de 1991 (documento de fl. 6 a fl. 10);

4.° A autora foi constituída, por escritura de 17 de Março de 1961, com a denominação social de Supermercados Modelo, L.da, (cf. escritura publi- cada no Diário do Governo, 3.a série, de 6 de Janeiro de 1962, reproduzida por cópia de fl. 11 a fl. 13);

5.° Por escritura de 6 de Dezembro de 1961, aquela sociedade continuou, «mas sob a forma de sociedade anónima de responsabilidade limitada, com a denominação social de Supermercados Modelo, S. A. R. L.» (idem);

6.° Por escritura de 7 de Dezembro de 1984, a mesma sociedade adoptou a denominação social de Modelo Supermercados, S. A. R. L. (documento a fl. 14), e, através de escritura de 2 de Julho de 1987, essa denominação passou para Modelo Supermercados, S. A. (documento a fl. 15); 7.° A referida sociedade tem por objecto o exercício

do comércio em geral e, especialmente, a explo- ração de supermercados de venda de artigos de variada natureza, café, charcutaria e restaurante (cf. artigo 4.°, documento a tl. 11, e artigo 3.°, documento a fl. 20);

8.° A mesma sociedade acha-se registada na Con- servatória do Registo Comercial da Amadora, nos termos da certidão de fl. 27 a fl. 49, que aqui se dá por reproduzida.

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Tudo visto.

O âmbito objectivo do recurso determina-se em face das conclusões da alegação da recorrente, nos termos dos artigos 684.°, n.° 3, e 690.°, n.° 1, do Código de Processo Civil, pelo que só abrange as questões aí contidas. Deste modo, acha-se, essencialmente, em discussão nos autos a questão de saber se o despacho do Ex.mo Director do Serviço de Marcas e a douta sentença em recurso violam ou não o disposto nos artigos 93.°, n.° 6.°, e 187.°, n.° 4.°, do Código da Propriedade Industrial e, consequentemente, se deve ou não ser mantido o registo da marca n.° 208 553, Café Modelo.

Assim, dispõe-se no artigo 93.°, n.° 6.°, do Código da Propriedade Industrial:

Será recusado o registo das marcas [...] que, em todos ou alguns dos seus elementos, contenham:

6.° A firma, denominação social, nome ou in- sígnia de estabelecimento que não pertençam ao requerente da marca ou que o mesmo não esteja autorizado a usar.

É de todo evidente a ausência da autorização referida naquele preceito legal. Há, pois, que definir se o registo da marca deve ou não ser recusado por a mesma conter algum dos elementos proibidos pela mesma disposição.

Neste domínio, a observação da linguagem comum mos- tra que ninguém usa outras expressões que não sejam «Vou ao 'Continente', ao 'Inô', ao 'Euromarché', ao 'Pão de Açúcar', ao 'Modelo'», etc., para significar os estabeleci- mentos das empresas, das sociedades, onde o público vai abastecer-se dos mais variados produtos alimentares e ou- tros. Do mesmo modo, as pessoas adquirem gasolina na «Galp», na «Shell», na «Mobil», etc., sem que tenham exacta consciência de que cada uma destas expressões, destes nomes, é o sinal exterior, característico, definidor de sociedades de estrutura e denominação social, por vezes, de alguma complexidade. Os exemplos poderiam multi- plicar-se: «Fomos ao 'São Carlos', ao 'D. Maria', ao 'Tivoli'», sem que ninguém se lembre ou pense na denominação social das sociedades, públicas ou privadas, que tais nomes representam ou de que são emanação. É um fenómeno do âmbito da semântica («Estudo dos elementos da linguagem considerados nas suas signifi- cações», Morais, Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa), que faz que, muito mais que a denominação social (tantas vezes complicada e de difícil apreensão para o cidadão comum), importa às pessoas que, apressada- mente, fazem compras num supermercado o nome por que este é conhecido, «o nome ou insígnia do estabelecimento» da sociedade em questão.

Dito de outro modo, o que está em causa nos autos é a expressão «Modelo», que constitui o elemento caracterís- tico e diferenciador da denominação social da apelante. É esse o elemento que o público conhece, pelo que é identificada e que ela se apresenta a defender nesta acção. Daí que seja esse nome, que as pessoas usam no dia-a- -dia, que propagam e de que falam, merecedor de especial protecção, que lhe é dada pelo artigo 93.°. n.° 6.°, do Código da Propriedade Industrial. Por isso se entende que basta a utilização do nome por que são conhecidos os diver- sos estabelecimentos da apelante («Modelo» é, segura- mente, o nome de cada um dos supermercados da empresa Modelo Supermercados, S. A.), e não, necessariamente, a utilização da denominação social, para se cair no âmbito

da protecção que para ela resulta daquele artigo 93.°, n.° 6.°, do Código da Propriedade Industrial. Aliás, desta disposição resulta que «será recusado o registo das marcas que, em todos ou em alguns dos seus elementos, contenham [...] 6.° [...] o nome [...] do estabelecimento», que não pertença ao requerente da marca ou que ele não esteja autorizado a usar. E, com efeito, esse nome não pertence à apelante nem esta foi autorizada a usá-lo.

De qualquer modo, acha-se em discussão nos autos defi- nir se aquele artigo 93.°, n.° 6.°, ao ser entendido como proibindo, apenas, «a concessão da marca que contenha uma reprodução total da denominação social de outrem», pode ser interpretado restritamente. Com o douto acórdão que, por cópia, se acha a fls. 93 e seguintes entende-se que sim. E tal interpretação restritiva impõe-se, pelo que ficou dito relativamente à protecção do nome do estabelecimento, e, até, por simples razões de bom senso. Na verdade, nenhum sentido faria uma marca deste estilo: «Café Modelo Supermercados, S. A.», ou mesmo, «Café Modelo Supermercados» (sobretudo quando a marca fosse usada por alguém exterior a essa sociedade).

Por isso e em presença de tal interpretação, entende-se ter aqui plena aplicação o disposto no n.° 1 do artigo 9.° do Código Civil, onde se estabelece:

1 - A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é aplicada.

É, sobretudo, «tendo em conta as condições específicas do tempo em que [a lei] é aplicada» que aquela interpretação restritiva do artigo 93.°, n.° 6.°, do Código da Propriedade Industrial se impõe. Bastará, pois, a utilização da expressão «Modelo», comum à anterior sociedade (apelante), e fazendo parte da sua denominação social, e à posterior marca Café Modelo para que seja recusado ou anulado o registo desta marca. Com efeito, embora com alterações, o essencial da denominação social da apelante («Modelo») vem de 1961. Por sua vez, a marca em causa (Café Modelo) foi declarada protegida, registada, em Portugal, pelo despacho recorrido, datado de 11 de Abril de 1988 (fls. 1 e 2 e 4 a 8).

Por outro lado, e de harmonia com o disposto no artigo 1.° do Código da Propriedade Industrial, esta «desempenha a função social de garantir a lealdade da concorrência», valor que a concessão ou recusa do registo da marca tem de ter em consideração, como resulta do artigo 93.°, n.° 6.°, do mesmo diploma. Segundo Ferrer Correia (in Lições de Direito Comercial, I, p. 332), neste último preceito contém-se «um princípio de verdade», não se admitindo «que a marca contenha indicações erróneas», designadamente a que adviria de os consumidores poderem ligar a marca Café Modelo aos supermercados Modelo da apelante. Tudo, afinal, procurando evitar situações que possam «induzir em erro ou confusão no mercado» (artigo 93.°, n.° 12.°). Na verdade, o aparecimento da marca Café Modelo nos supermercados e demais estabelecimentos da apelante, e até fora desses, poderia, facilmente, induzir em erro ou confusão o consumidor menos atento - e é o consumidor distraído, porventura o mais comum, que a lei visa proteger em primeira linha (Revisão de Legislação de Jurisprudência, ano 89, p. 26). Mas não deixará de ser atingido «o consumidor médio»: também ele, afinal, apressado e pouco disponível para o exame comparativo das marcas do mesmo produto, até porque pode não as ter na sua presença.

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Acresce que a aceitação e registo da marca em apreço não deixaria de dar lugar a indicação falsa da proveniência desse café, também proibida pelo n.° 11.° do artigo 93.°, já que, ainda quanto a este aspecto, poderiam ser induzidos em erro clientes da apelante - e até os de estabelecimentos de outrem -, dada a notoriedade da expressão «Modelo» usada pela apelante. Diga-se ainda que, sendo objecto da apelante o descrito em termos amplos no artigo 4.° dos seus estatutos (fls. 11 e 20-7), nela se incluindo o comércio em geral e do café, entre outros, o aparecimento no mercado da pretendida marca Café Modelo, nos estabelecimentos daquela e noutros, facilmente induziria em erro e confusão no mercado, por possibilitar a falsa indicação da proveniência do produto. De ter em conta até a frequência com que empresas como a apelante lançam (ou têm o direito de lançar) no mercado produtos vários, fazendo apelo, na sua comercialização, a elementos identificadores integrantes da sua denominação social, como seja a expressão «Modelo» da apelante.

Tudo representando, afinal, a possibilidade de concorrên- cia desleal, independentemente de ser essa a intenção da apelada. Tal possibilidade é, porém, mais um dos funda- mentos da recusa do registo da marca Café Modelo, por força do artigo 187.°, n.° 4.°, do Código da Propriedade Industrial.

Ferrer Correia (ob. cit., p. 306) nota que «o bem jurí- dico directamente protegido pela norma do artigo 187.°, n.° 4.° [...] é o próprio estabelecimento em si: protege-se o estabelecimento ou empresa contra actos de concorrência desleal». E, mais adiante, refere que a recusa do registo se justifica, desde que este ocasione, «por si, um estado de coisas propício a tal concorrência [desleal], ainda que acaso não seja essa a instrução daquele que o vem requerer» (idem, p. 307). E m suma, o n.° 4.° daquele artigo 187.° é «um meio preventivo da concorrência desleal», que no caso, e dadas as circunstâncias que se deixaram referidas, tem de impedir o registo. Tanto mais que, como também ensina Ferrer Correia (ob. cit., p. 308, n.° 2), «a de con- corrência desleal, certamente por se ter considerado que a prova de intenção efectiva de fazer concorrência desleal no futuro é singularmente difícil».

Existe, pois, no caso dos autos essa possibilidade de concorrência desleal (artigo 187.°, n.° 4.°), verificando-se, ainda, que a marca Café Modelo contém um elemento es- sencial, e anterior, da denominação social da apelante, o nome por que são conhecidos os seus estabelecimentos (artigo 93.°, n.° 6.°). Ambas as circunstâncias exigem que seja negado o registo da marca n.° 208 553, Café Modelo. Deste modo, procedendo as conclusões da apelante, veri- ficam-se os fundamentos da procedência do recurso.

Concluindo.

Por tudo quanto fica exposto, acordam nesta Relação: 1) Em julgar procedente a apelação, revogando-se a

sentença recorrida;

2) E, em consequência, em revogar o despacho do Ex.mo Director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, recusando-se o registo da marca n.° 208 553, Café Modelo, requerida pela apelada, Manuel Rui Azinhais Nabeiro, L.da

Custas pela apelada em ambas as instâncias.

Lisboa, 19 de Dezembro de 1991. - José Paulo de Campos Oliveira - Rodrigues Codeço - Pires do Rio.

Está conforme.

Lisboa, 30 de Março de 1992. - A Escriturária Even- tual, (Assinatura ilegível.)

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