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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SOLANGE DE LIMA O PERIGO ALEMÃO : A COMUNIDADE TEUTA E A DOPS EM CURITIBA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SOLANGE DE LIMA

O “PERIGO ALEMÃO”: A COMUNIDADE TEUTA E A DOPS EM CURITIBA

CURITIBA 2009

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SOLANGE DE LIMA

O “PERIGO ALEMÃO”: A COMUNIDADE TEUTA E A DOPS EM CURITIBA

Monografia apresentada para obtenção do título de bacharel e licenciado do curso de História da Universidade Federal do Paraná, sob a orientação do Prof. Dr. Dennison de Oliveira.

CURITIBA 2009

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SUMÁRIO

Resumo...4 Introdução...5 Capitulo I

A trajetória teuta no Brasil...9 Capitulo II

A Campanha de nacionalização de Getúlio Vargas...19 Capitulo III

Os alemães e a DOPS...22 Conclusão...27 Referencias...29 Anexos

I - Denuncia contra imigrante de origem judaica...32 II – Concede a guarda dos bens do Clube Concórdia ao Clube Atlético Parananaense...33 III – Denuncias contra supostos nazistas...34

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a possível adesão ao partido Nazista, por parte dos teuto-brasileiros que residiam em Curitiba, durante o segundo conflito mundial. Para o entendimento das fontes e da conjuntura curitibana durante a primeira metade da década de 1940 é utilizada como apoio as discussões a respeito de imigração alemã e do Nazismo, elaboradas por Giralda Seyferth, René Gertz e Marionilde Magalhães. As tensões vivenciadas pela capital paranaense neste período se desenrolam como fruto do processo de colonização e das políticas públicas com relação ao imigrante. Os problemas levantados com relação ao possível “perigo alemão” já estavam em discussão desde o final do século XIX. Assim pretende-se analisar o caso especifico de Curitiba, tendo como base as discussões anteriores sobre todo o Brasil.

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INTRODUÇÀO

“Como deve cooperar o povo contra a ‘Quinta-Coluna’. Uma nota da Delegacia de ordem Política e Social do Rio.” 1 Na segunda metade do século XIX, período em que o regime escravista demonstrava sinais de desgaste, o Brasil, em busca de um “branqueamento” de sua população, investe em propagandas por toda Europa. Com o intuito de atrair imigrantes para a substituição do trabalho escravo. Além de alternativa ao regime escravista e da responsabilidade em promover o progressivo “clareamento” da população brasileira, esses, imigrantes, deveriam ocupar áreas ainda não povoadas, como o Sul do país. Este olhar brasileiro para a Europa era embasado em teorias racistas a respeito da superioridade da raça branca.

Nesta conjuntura alguns países da Europa passavam por momentos delicados, como a unificação política e o processo de industrialização. O que gerava uma massa de pessoas sem muitas perspectivas e que atraídos pela massiva propaganda brasileira acabavam desembarcando no Brasil em busca de condições adequadas de vida. A pátria de origem já não as oferecia mais. Destinados principalmente a trabalhos no campo estes imigrantes acabavam isolados do resto do Brasil em áreas ainda não ocupadas, fechados em suas colônias e praticando a endogamia, mantiveram seus costumes natais, como a língua, formando os chamados “quistos raciais”.

No final do século XIX o pouco contato destas populações com os brasileiros e o pensamento formado a respeito da inferioridade dos mesmos, também chamados de caboclos, impediu o ideal de “branqueamento” da população brasileira, imaginado pelas autoridades nacionais. E mais grave que a resistência do elemento estrangeiro à miscigenação era o risco de uma possível colaboração do imigrante, especificamente, o alemão com os propósitos imperialistas de seu país natal. Desta forma, estes colonos “enquistados” passam a representar uma possível ação de seu país na busca pela expansão de território ou no caso alemão o

Lebensraum (espaço vital).

A exemplo de outras etnias os alemães não se integraram totalmente a cultura nacional, não aceitando a “caboclização”2. Mantiveram uma sociedade fechada e extremamente organizada, com a manutenção de escolas, igrejas, associações e produção de vários periódicos em seu idioma natal. As questões ideológicas são mantidas e reforçadas por

1 Diário de Notícias 7 de maio de 1942.

2 Processo no qual o alemão adere ao modo de vida brasileiro, através do matrimonio ou mesmo do simples contato com elementos nacionais. Ao esquecer sua germanidade, deixando de lado o uso da língua e das práticas culturais alemãs, o alemão torna-se caboclo, perdendo sua suposta superioridade racial e igualando-se ao brasileiro.

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intelectuais que disseminaram ideais pangermânicos (Deutschtum)3. Preservando a identidade étnica que somada à utilização da língua alemã, às crenças evangélicas luteranas e a endogamia são fundamentais para o Auslandsdeutscher (alemães no exterior), onde se cria uma pátria fora da Alemanha, ou seja, uma pátria onde houver alemães (Heimat). Mesmo com a crença na manutenção dos aspectos culturais e ideológicos e da não inserção na cultura nacional os alemães criaram uma cultura distinta, nem brasileira e nem alemã.

Com a ascensão do Nazismo na Alemanha, a exemplo do que já havia ocorrido no período anterior à Primeira Guerra Mundial, o sentimento nacionalista alemão ganha força. Parte da população imigrante que via novamente sua pátria vencer as dificuldades enfrentadas após o primeiro conflito mundial acaba se tornando simpático ao regime Nazista, não somente por acreditar nos ideais pangermanistas, mas também por buscar auxilio econômico. As formas de difusão das idéias pangermanistas são as mais variadas, Igrejas Luteranas, associações culturais e escolas, onde se disseminava a idéia de união entre alemães contra o elemento brasileiro e estrangeiro à Heimat. Um segmento dos imigrantes ainda aderiu ao

Deutschbrasilianer (teuto-brasileiros), o qual não pertencia aos alemães fechados em colônias

e nem aos brasileiros, na questão étnico-cultural permaneciam alemães, porém reivindicavam a cidadania brasileira.

O advento da Segunda Guerra Mundial agrava a situação. Mesmo que gestada antes do segundo conflito mundial estourar a Campanha de Nacionalização, iniciada nos primeiros anos de Republica e retomada por Getúlio Vargas na década de 1930, toma vulto com as pressões sofridas por este governo. Antes de participar do Front, o Brasil toma várias medidas contra os chamados “súditos do Eixo”. Para conter um possível levante imaginado em favor do nazismo no Sul do país. Grande parte da população sulista era composta por imigrantes alemães, japoneses e italianos o que gerava a cobrança de uma atitude efetiva contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão).

O imigrante germânico representava o “perigo alemão”, que comprometia a soberania brasileira. Aliado a outros fatores, como a proximidade do Sul do país à Argentina, governada pelo ditador Juan Domingo Perón, que mantinha ligações com a Alemanha, e ainda à questão do saliente nordestino, região desprotegida e ao mesmo tempo um ponto estratégico, que poderia ser utilizado como possível porta de entrada para futuras invasões alemãs vindas da África.

3 Ideologia formulada a partir de alguns princípios do nacionalismo alemão do início do século XIX, valorizava a cidadania brasileira e a ligação com o Estado, porém em primeiro lugar estava a etnia alemã e suas formas de preserva-la. Baseada no direito de sangue valorizava a endogamia e o uso do idioma alemão.

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A campanha maciça de nacionalização não teve somente o intuito de criar uma identidade nacional brasileira, mas, também promover a assimilação do imigrante, sobretudo, o ameaçador elemento estrangeiro e conspirador “eixista”, “súdito do eixo” ou ainda “quinta-coluna” 4, termos utilizados para designar os imigrantes e seus descendentes. Várias medidas foram tomadas por Vargas para nacionalizar estes “quistos raciais”: fechou escolas em idioma estrangeiro promovendo um grande retrocesso para a educação, proibiu a utilização de idiomas que não o português, na forma de panfletos, jornais e mesmo na oralidade.

Com o agravamento da Segunda Guerra, Vargas, mesmo sendo um ditador com tendências fascistas acaba cedendo às pressões externas e internas. Além da coação norte- americana para que o Brasil tomasse um posicionamento efetivo na Segunda Guerra, houve a pressão popular nacional. Influenciada pelo torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães no início de 1942 e também pela massiva propaganda estatal para que cada cidadão brasileiro tomasse seu posto em defesa da nação. Parte da população adere à causa da “defesa nacional”, movida por ressentimentos e intolerância étnica, construídos ao longo de todo o processo de imigração, promove manifestações, em um período, no qual as cidades formadas em parte por imigrantes vivenciam um clima de tensão, com casos de extrema violência, permeado por saques, invasões, depredações e denúncias. Essas ações são legitimadas pelo Estado que cumpria o papel na defesa da soberania nacional, confiscando os bens de imigrantes, acusando e intimando-os a comparecer a uma das Delegacias de Ordem Política e Social (DOPS). Deste modo, eram detidos todos os elementos estrangeiros que falassem seu idioma natal e possuíssem rádios, armas, revistas, livros em outro idioma que não o português. Assim como aqueles que não conseguiam esconder fenotipicamente a origem.

O cidadão brasileiro teve um importante papel na denúncia deste inimigo nacional, os vizinhos, os alunos e os fiéis muitas vezes aproveitaram-se da situação para atingir os imigrantes, com quem se encontravam em conflito. Invasões a clubes e associações de imigrantes, juntamente com a apreensão daqueles materiais anteriormente citados e ainda humilhações públicas fizeram parte do cotidiano do imigrante “eixista” até o término da Segunda Guerra.

A opção pelo Partido Nazista por parte de alguns imigrantes alemães remete à discussões sobre a veracidade da influência política e cultural do Partido na vida do imigrante.

4 Expressão que remonta a Guerra Civil Espanhola (1936-39) onde o General Francisco Mola utilizou o termo para designar os elementos simpatizantes que agiam secretamente em Madri e que seriam fundamentais para a conquista da cidade, o quinto elemento do seu exército composto por quatro colunas.

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Se as reuniões promovidas pelo Partido, propagandas e materiais favoráveis ao III Reich, juntamente com um possível contato com a Alemanha nazista teriam como objetivo um levante contra o Brasil em prol dos ideais expansionista de Adolf Hitler. E ainda se as medidas nacionalizantes e que levaram a assimilação do alemão sem a integração na sociedade brasileira teriam de fato sido coerentes ou apenas um reflexo da xenofobia construída durante toda a colonização alemã.

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Capítulo I

A trajetória teuta no Brasil

Com a vinda da família real para o Brasil em 1808, e a conseqüente permissão à propriedade de terras a estrangeiros, o Brasil passa a receber os primeiros contingentes de imigrantes. Porém, a intensificação do processo de imigração somente ocorre a partir de 1850, quando este passa a ser responsabilidade dos governos provinciais e também praticado pela iniciativa privada.

Estes, imigrantes foram atraídos por uma política brasileira de atração ao europeu. Com intuito de substituir o trabalho escravo de negros, ocupar regiões ainda não povoadas, sobretudo, a região sul do Brasil e promover o progressivo “branqueamento” da população brasileira. Representando grande vantagem em relação ao negro, o imigrante europeu era considerado o fator de modernização e progresso para o Brasil. Este pensamento a respeito da superioridade da raça branca, gestado na Europa, adaptou-se a situação nacional e logo ocupou lugar de destaque na obra de intelectuais brasileiros, como Oliveira Vianna.

Estas teorias eram inspiradas em obras de autores como o Conde Gobineau, que defendia a superioridade da raça branca, sobretudo, os arianos. Para Gobineau existia uma disputa entre raças que somente seria vencida pela raça ariana. A miscigenação neste caso é vista como fator de decadência das civilizações, exceto se bem dosada e se puder manter a supremacia da raça ariana. Acreditava-se ainda neste período que a raça branca poderia prevalecer em relações interetnicas, em virtude de sua superioridade, pensamento este, baseado no darwinismo social.

Preocupado com as questões nacionais, Francisco José de Oliveira Vianna, dedicou seus estudos a temática da raça, onde pregava a necessidade do branqueamento da população brasileira, assim como a necessidade de um governo autoritário em um país carente de uma identidade nacional. A possibilidade do “clareamento” da população brasileira fez da imigração européia um motivo de entusiasmo para intelectuais como Vianna. Entusiasmo, principalmente, com relação ao alemão, considerado laborioso e extremamente organizado, características que venceriam facilmente a indolência e a indisposição ao trabalho do negro.

Entre as levas de estrangeiros que o Brasil recebeu os alemães conquistaram um local de destaque. Por ser mais antiga e por ter constituído colônias homogêneas, isoladas e próximas da identidade étnica germânica. Comportamento viabilizado pelas práticas de colonização do sul.

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Os imigrantes nesta região recebiam lotes de terra, por meio de financiamento do governo ou de companhias de imigração particulares. O processo de colonização da região representou uma novidade em relação aos latifúndios que dominavam a produção agrícola no país. Os colonos5 praticavam agricultura em minifúndios, através do trabalho familiar. A grande característica das colônias foi o isolamento e sua homogeneidade étnica. Os teutos recém-chegados permaneciam na Gastland (terra hospedeira), não se reconhecendo como novos cidadãos brasileiros. Somente depois de algum tempo que as colônias passam a receber elementos de outras etnias. No caso do Paraná, as colônias isoladas estiveram presentes em menor escala, uma vez que o estado iniciou o processo de colonização mais tarde.

Com a abolição da escravidão o interesse pela imigração aumenta, porém alguns intelectuais já alertavam sobre os perigos que as colônias homogêneas do sul representavam. As colônias alemãs e o seu “enquistamento étnico” protagonizavam o maior perigo, sobretudo, em virtude da conjuntura vivida na Europa no final do século XIX e o início do século XX. A Alemanha em pouco tempo superou os diversos problemas sociais e econômicos, mostrando seus avanços na ciência, educação, administração pública e no seu notável exército. Segundo Paul Kennedy “a Prússia-Alemanha, sob a direção de Bismarck, era agora o mais poderoso e influente Estado europeu”6.

Mesmo possuindo as qualidades, fundamentais para o Brasil, segundo o pensamento da época, a imigração alemã não representava um negocio totalmente lucrativo. Esse potencial organizacional se mostrava também responsável pela ascensão da Alemanha enquanto potência mundial. Os números do período mostram como um apanhado de estados desorganizados se tornou um dos principais países do mundo com um pequeno intervalo de apenas uma geração. Seu crescimento industrial, comercial e militar impressionou toda a Europa. O investimento na educação transformou a população alemã de analfabetos em trabalhadores especializados, em técnicos responsáveis por um grande avanço tecnológico e em soldados capacitados. A produção da indústria de base alemã no início do século XX revelou números surpreendentes, ultrapassando até mesmo a Inglaterra em determinados segmentos, como relata Kennedy “no aço, os aumentos foram ainda mais espetaculares, e a produção alemã em 1914, de 17,6 milhões de toneladas, foi ainda maior do que a britânica, a

5 A denominação colono é usada para representar os imigrantes no geral, e não somente os que se estabeleceram nas regiões rurais do sul do país.

6 KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências: Transformação Econômica e Conflito Militar de 1500 a 2000. Rio de Janeiro: Campus. 1989, p 185.

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francesa e a russa combinadas” 7. A posição central na economia européia fez com que muitos nacionalistas declarassem o desejo de expandir seus domínios para territórios além-mar, muitos consideravam um dever da Alemanha a dominação destes territórios.

No Brasil, entre 1900 e 1909 a legislação imigratória determina a entrada de imigrantes de outras etnias nas colônias, que até o momento eram homogêneas. Neste período o Paraná passa a receber grande parte dos imigrantes recém-chegados da Europa, bem como famílias de áreas de colonização mais antigas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Esta migração interna ocorre de áreas rurais para áreas urbanas, motivadas pelo esgotamento e o parcelamento dos lotes coloniais e ainda pela possibilidade de ascensão social que o meio urbano representava. “O Paraná se transforma no principal motor da colonização com europeus no sul do Brasil”.8

Outro fator que determinou a saída dos alemães das colônias rurais foi o fato do Brasil não ter somente recebido camponeses. Muitos artesãos, profissionais liberais, operários, professores, religiosos, comerciantes, ex-militares e intelectuais também compuseram os efetivos de imigrantes que entraram no Brasil. Para estes, as colônias eram consideradas, um mecanismo autônomo. Desenvolveu-se a prática do auxilio mútuo e tudo o que era consumido era produzido pela própria família. Porém, esta aparente auto-suficiência da colônia não se refletia na economia, que esteve altamente ligada ao elemento externo à colônia.

Apesar do isolamento e do caráter homogêneo, o relativo contato que estes imigrantes tiveram com os elementos nacionais acabou transformando sua cultura original. Mesmo que este fato não fosse percebido ou até mesmo admitido pelos imigrantes alemães ou pelos teuto-brasileiros9 (Deutschbrasilianer).

Um dos fatores determinantes para o isolamento do alemão no Brasil foi a falta de atenção das autoridades, que deixaram os imigrantes isolados em colônias, sem nenhuma assistência. Um grande exemplo da desorganização do governo brasileiro em relação ao processo de imigração foi a falta de investimentos na educação. Os filhos de imigrantes somente tiveram acesso ao ensino primário pela iniciativa dos próprios imigrantes e, sobretudo, da igreja. Outras questões burocráticas também contribuíram para o afastamento do alemão e de seus descendentes, como o exemplo dos alemães luteranos, que no início da

7 KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências: Transformação Econômica e Conflito Militar de 1500 a 2000. Rio de Janeiro: Campus. 1989. p 207.

8 SEYFERTH, Giralda. Imigração e cultura no Brasil. Brasília: Ed. UNB, 1990.

9 A expressão teuto-brasileiro é utilizada aqui para designar aqueles que eram descendentes de alemães, porém, nascidos no Brasil. Portanto, cidadãos brasileiros.

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colonização não podiam naturalizar-se e nem possuíam o direito ao reconhecimento de seus casamentos, uma vez que o casamento não católico não possuía valor jurídico.

A igreja teve um papel social importante na vida do imigrante alemão. Elas reuniam a escola, a área de lazer e ainda entidades assistenciais. As Sociedades de auxílio mútuo também tiveram um importante papel na vida dos alemães. Buscaram a defesa dos interesses dos colonos, se preocuparam com a manutenção e construção de escolas, hospitais, asilos e orfanatos. Sua principal fonte de fundos era a própria contribuição dos associados. Outras associações ainda surgiram para a recreação, mas, também acabaram por promover a assistência aos imigrantes e ainda a coesão étnica.

Em virtude dessa situação de abandono por parte do Estado brasileiro, surgem nas colônias, escolas alemãs. Onde as aulas eram ministradas no idioma da pátria materna. Também foram organizadas as sociedades escolares, que possuíam currículos escolares comuns e professores vindos da Alemanha. Esta situação ocorreu até 1937, quando o governo federal promove a nacionalização do ensino. A grande herança deixada por essas escolas foi a preservação da língua. Fator de extrema importância para a ligação do imigrante com a Alemanha.

À medida que os imigrantes deixavam o meio rural e passavam a integrar o meio urbano o processo de incorporação de costumes se intensifica. No caso da cidade de Curitiba, os alemães e os teuto-brasileiros foram de grande importância no processo de industrialização. Estiveram presentes entre os operários e entre os empresários. Segundo Giralda Seyferth a maior parte das pequenas empresas pertencia a imigrantes e seus descendentes.

A peculiaridade do processo de colonização do Paraná afetou em grande parte a urbanização de Curitiba e outras cidades. A alteração na estrutura econômica tradicional, evidenciada primeiro pela diversificação agrícola, com a introdução da policultura e depois pela intensificação da atividade comercial e presença de pequenas indústrias e do artesanato, produziu uma classe média formada basicamente por imigrantes e seus descendentes. Por outro lado, a colonização realizada na periferia de áreas urbanas com o objetivo de garantir o abastecimento, resultou numa composição heterogênea que se incorporou às cidades à medida que seu crescimento natural alcançava os núcleos coloniais – caso de Curitiba, onde bairros inteiros foram, originalmente colônias alemãs, italianas ou polonesas.10

No âmbito urbano as associações e igrejas foram de extrema importância por constituírem, a respeito do que as colônias representavam, locais de assistência ao imigrante, independente da classe social do mesmo. A organização dos colonos, também se fez perceber pelo número de publicações em língua alemão que circulavam no país. Estas publicações circularam no país até 1939, ano em que são proibidas.

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Os jornais em idioma alemão no geral defendiam interesses de grupo, de classe, políticos, econômicos e religiosos. Normalmente possuíam uma ou duas colunas de noticias nacionais, mas a maior parte era sobre o país de origem. Muitos jornais defenderam a ideologia germanista, porém a cidadania brasileira. Além dos jornais eram publicados almanaques, que traziam assuntos diversos, sempre com espaço reservado para as questões alemãs.

Ainda existiam as publicações de caráter teuto-brasileiro, onde o idioma utilizado não era o Hochdeutsch (alto alemão) e sim a língua falada no sul. Um alemão alterado, que havia incorporado palavras que o idioma original não possuía, como a expressão kabloklisieren sich (cabloclizar-se)11. Nessas publicações era comum encontrar a glorificação da língua materna, porém a exaltação da lealdade e do sentimento patriótico em relação ao Brasil também estavam presentes.

Para Seyferth os imigrantes no geral mantiveram algum tipo de ligação com o país de origem. Resistindo as pressões para a “absorção”, “assimilação” e “aculturação”. Esta assimilação desejada pela elite brasileira era na realidade um projeto de miscigenação. Os imigrantes no geral formaram grupos étnicos, que foram fundamentais para a preservação da cultura alemã e também tiveram papel de destaque na própria sobrevivência e desenvolvimento dos alemães no Brasil. Muitas vezes a união deste imigrantes cumpriu o papel do Estado, uma vez que a “legislação foi sempre desfavorável ao imigrante, qualquer que seja a época focalizada”12.

Além dos entraves burocráticos impostos aos alemães, como a proibição da naturalização, ainda enfrentaram a posição de estrangeiros frente a uma população brasileira não disposta a vê-los como iguais. Para a elite brasileira o imigrante representava somente a substituição do trabalho escravo, sendo constantemente lembrados por estereótipos, já para as classes mais populares representavam uma ameaça a seus empregos. Segundo Seyferth, a união em grupos étnicos isolados se deu em virtude da conjuntura do Brasil, porém não deixa de reconhecer a importância das teorias sobre a superioridade alemã no processo de “enquistamento”.

Os colonos que habitavam o campo se mantiveram isolados e os que habitaram o meio urbano tiveram dificuldades no contato com os brasileiros. Mesmo os teuto-brasileiros foram considerados cidadãos de segunda linha. Apesar de estar em desvantagem numérica, se

11 Expressão utilizada para designar a relação com brasileiros, como o casamento fora da colônia, que levaria o alemão a perder sua germanidade. OLIVEIRA, Dennison. Os soldados alemães de Vargas. Curitiba, Juruá, 2008, p.19.

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comparado a outras etnias, como a italiana, o alemão representava um grande perigo. No caso de Curitiba a população de origem alemã entre 1886 e 1939, representava apenas 13,3% do total de imigrantes, valor inferior a muitas etnias.13

Grande parte dos alemães que aportavam no Brasil traziam as doutrinas pangermanistas na bagagem. O Deutschtum era divulgado nas colônias. O que era solução vira problema, assim o alemão é considerado o mais estrangeiro entre os estrangeiros, elemento alienígena que transforma a imigração alemã em “perigo alemão”. Com a emancipação política de algumas colônias alemãs em municípios, os teuto-brasileiros passam a reivindicar direitos a cidadania. Assim o Deutschtum, formulado a partir dos princípios do nacionalismo alemão do início do século XIX valorizou a cidadania brasileira e a ligação com o Estado brasileiro, porém priorizou a preservação dos laços com a Alemanha. “Portanto, definia as fronteiras étnicas, com base no direito de sangue, valorizando a endogamia e o uso da língua”.14

Entre os imigrantes alemães que entraram no Brasil, se encontravam indivíduos que, ligados, muitas vezes a religião, eram considerados guias espirituais e intelectuais. Estes guias eram responsáveis por transmitir o pangermanismo15 aos colonos teutos.

As ideias pangermânicas associadas aos “quistos étnicos” formados pelos imigrantes alemães deram base para as discussões a respeito do “perigo alemão”. Além de não ter promovido o “branqueamento” do Brasil, não ter se integrado a sociedade brasileira o alemão ainda acreditava na sua superioridade e possuía ideais expansionistas. Na virada do século XIX para o século XX são produzidos nos Estados Unidos artigos que relatam a possibilidade de uma invasão germânica na região sul do Brasil. Além da invasão proporcionada pela contribuição das regiões com predominância de imigrantes alemães, havia o receio a respeito da formação de um novo Estado, sob a influência direta alemã. Os artigos ainda alertavam sobre o domínio econômico e comercial alemão sobre o Brasil e os Estados Unidos. Assim, as colônias alemãs se tornaram o centro dos debates regionais e nacionais.

Com a campanha de Nacionalização promovida por Getúlio Vargas, durante o Estado Novo, as proibições contra os imigrantes se intensifica. Porém, é com o advento da Segunda Guerra Mundial e com o conseqüente ingresso do Brasil na guerra ao lado dos aliados que as

13 MAGALHÃES, Marionilde Dias Brepohl. Velhos e novos nacionalismos. História, questões e debates. Curitiba, 1989. Jun. Dez.

14 SEYFERTH, Giralda. Os paradoxos da miscigenação: observação sobre o tema imigração e raça no Brasil. Florianópolis, 1990’.

15 A liga Pangermanica criada em 1981 para solucionar a crise de identidade alemã do início do século XIX, tomou força política na época da expansão imperialista As ideias pangermânicas defendiam a afirmação da nacionalidade, o exapansionismo e o antisemitismo.

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relações entre teutos e brasileiros fica insustentável. Os imigrantes não enfrentam somente a repressão formal por parte da ditadura varguista, mas também a ira popular contra o estrangeiro, o alienígena.

Neste período ser alemão é sinônimo de nazismo. Segundo Marionilde Magalhães “algumas das entidades se tornariam nazistas não apenas pela simpatia ao ideário pangermânico, mas por poderem assim obter auxilio financeiro do partido ou outros órgãos oficiais alemães”16.

A aceitação do Nazismo no Brasil não foi unanimidade, haviam desentendimentos entre os alemães a respeito das doutrinas germânicas. Como é o caso da questão teuto-brasileira. O pertencer a cultura alemã sem deixar de exercer a cidadania brasileira, não foi consenso entre os imigrantes. Muitos defenderam a posição de Auslanddeutscher, não aprovando o envolvimento político dos alemães. Para os que criticavam o envolvimento com as questões nacionais brasileiras, este envolvimento político representava um problema para a preservação do Deutschtum, pois consumiria tempo dos alemães, que deveriam se dedicar integralmente a sua germanidade. Já os que a defendiam, pregavam que a falta de força política dos imigrantes representava a falta de interesse na defesa do Deutschtum.

Para os brasileiros a questão do envolvimento político do estrangeiro também representava um problema. Segundo René Gertz (1987) na visão de muitos brasileiros a falta de interesse alemão na situação política nacional era uma prova de que se mantinham inassimiláveis, e para outros o interesse era sinônimo de perigo e atestava as intenções imperialistas alemãs no Brasil.

Em alguns locais do Brasil o Partido Nazista foi motivo de entusiasmo e, porém isso não foi característica predominante em muitos locais de colonização alemã. Porém, Gertz chama atenção sobre comentários a respeito de que as questões políticas nacionais durante a revolução federalista teriam chamado a atenção da Alemanha para o Sul. Na crença que ocorreria uma separação do Brasil e de que por possuir um grande contingente de imigrantes alemães, que possuíam uma significativa participação na economia, o novo Estado formado no sul do Brasil seria área de influência da Alemanha.17 Não existem documentos que comprovam a intenção de uma incursão alemã no Brasil em prol da ampliação do Lebensraum alemão. Porém, teriam ocorridos apenas contatos entre as lideranças locais e estrangeiras.

16 MAGALHÃES, Marionilde Dias Brepohl. Velhos e novos nacionalismos. História, questões e debates. Curitiba, 1989. Jun. Dez.

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Neste momento Vianna destinará sua produção intelectual ao problema da imigração e não assimilação do alemão a cultura brasileira. Em meio a um processo de nacionalização forçado, que tem seu início antes mesmo da instauração do Estado Novo, serão produzidos por Vianna artigos destinados a alertar os brasileiros sobre os perigosos inquilinos do Sul. Através destes artigos, que ocuparam as páginas do jornal carioca A Manhã em meados de 1943, Vianna discorreu a respeito dos perigos do nacional-socialismo.

Em 19 de março de 1943 Vianna publica o artigo intitulado O conceito de “inimigo”

na doutrina nacional-socialista, no qual são apresentadas questões sobre a suposta

superioridade da raça ariana e os investimentos necessários para o seu pleno desenvolvimento. Segundo Vianna, o pensamento alemão estava baseado no mito de um povo superior, descendente dos nórdicos, criadores e portadores de cultura, necessários para promoção do progresso mundial. Com alto índice de fecundidade e a necessidade de condições adequadas para seu desenvolvimento, os alemães retornam a questão do “espaço vital”, na busca por fazer valer seus direitos, enquanto nação superior e foco de progresso mundial. A Alemanha parte para a expansão territorial, visando os recursos necessários para o pleno desenvolvimento de sua nação.18

Deste modo todas as ações da doutrina nacional-socialista visam apenas os interesses da Alemanha, e todo aquele que se opõe ao desenvolvimento alemão é considerado inimigo do Reich. Os demais povos deveriam reconhecer e se curvar ao poder da raça superior ariana, mas como não se deve esperar nada das raças inferiores, cabe ao alemão fazer valer o seu direito, enquanto raça de destaque no mundo. Assim, todos que procurarem preservar seus territórios, mostrando determinada resistência às imposições do Reich são considerados inimigos do Nacional Socialismo, e como tal devem ser destruídos. Todas as ações do Reich para atingir seus objetivos são legitimas, uma vez que, se tratam dos interesses da raça superior alemã. O não cumprimento de acordos, assim como a destruição de outras etnias é sempre justificável devido a utilidade dessas ações para o povo alemão.

Vianna deu continuidade aos seus artigos sempre enfatizando supostas características do povo alemão, descrevendo como estas tornavam a presença alemã no Brasil de extrema periculosidade. O alemão será descrito como um elemento frio, que age sempre de acordo com seus interesses. Sob esta ótica, Vianna mostrará quanto é ingênua a hipótese da neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial. A qualquer momento qualquer povo pode ser alvo das ambições alemãs e a partir do momento em que aqueles tentarem manter seus

18 MADEIRA, Marcos Almir. Oliveira Vianna: vulnerabilidade crítica. Rio der Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1999.

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territórios e culturas representarão um empecilho para os alemães. Todos aqueles que não se curvarem para a raça ariana serão punidos, ou mesmo que aceitem pacificamente o domínio alemão, serão obrigados a abdicar de sua cultura em prol da raça superior, perdendo assim sua soberania. Deste modo não existe a neutralidade, todos os que acreditam na benevolência do

III Reich serão subjugados de maneira impiedosa. E ao contrário do que se imagina no Brasil

o Império Alemão não se restringirá a Europa, mas se estenderá para todos os lugares em que se encontram alemães ou ainda que possuem recursos de interesse alemão.

Os pressupostos desta doutrina são transmitidos e incentivados através da educação. As crianças desde cedo aprendem que devem carregar as características superiores arianas, como a frieza na busca pelo interesse da nação. O indivíduo que age de acordo com os sentimentos, deixando a racionalidade de lado, é considerado inferior, e consequentemente falhará por seu sentimentalismo, o que o tornará um inimigo interno. O sentimento não é uma característica nórdica, mas sim de inferiores, como os judeus, o que possibilita que sejam facilmente reconhecidos. Toda nação que represente um problema para as ambições imperialistas do III Reich será considerada inimiga nacional. E enquanto raça superior cabe ao alemão promover a paz universal, está paz germânica será estabelecida a partir de uma guerra vitoriosa alemã, deste modo será implantada uma civilização superior.

Para Vianna todo aquele que se diz simpatizante da Alemanha não está consciente do plano germânico de dominação imperialista. Mesmo os povos que ainda mantinham laços de amizade com os alemães estavam fortalecendo a proteção de suas fronteiras. Porém, mesmo com todas as evidencias a respeito dos desejos alemães, alguns brasileiros ainda continuavam a expressar suas simpatias à Alemanha, acreditavam que o Brasil lucraria com a vitória de Hitler, uma vez que a manutenção da neutralidade e implantação de um regime semelhante ao Nacional Socialismo garantiria a benevolência alemã. Segundo Vianna, estas justificativas estariam apenas tentando compensar o sentimento de traição, que atormenta a consciência desses brasileiros.

Alguns intelectuais alemães também disseminaram suas ideias no Brasil, como Friedrich Wilhelm Brepohl, estes publicaram textos com a temática do antisemitismo. Esses textos se dedicavam a denunciar a ameaça que os judeus representavam aos alemães e teuto-brasileros residentes no Brasil. Calcado no mito da conspiração judaica difundido na Europa através do livro Os Protocolos dos Sábios de Sião.19

19 MAGALHÃES, Marionilde Brepohl de. Pangermanismo e nazismo: a trajetória alemã rumo ao Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 1998.

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O apelo ao nazismo é visto nas associações e entidades, como na Juventude Teuto-brasileira e na Igreja Evangélica Luterana. Grande parte das entidades alemãs incorporou a suástica aos seus símbolos, e muitas comemoravam o aniversário do Führer. Com o rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha, em 1942, estas práticas passam a ser proibidas e a ação em defesa da nacionalidade se acirra. Muitos teuto-brasileiros foram presos ou exilados, as associações são fechadas e objetos pessoais apreendidos. Com o fim da guerra em 1945, a situação volta ao normal, porém a identidade teuta deixa de ser a mesma, enfim se cumpre a Campanha de Nacionalização e a assimilação dos alemães à cultura nacional.

Para Gertz a Segunda Guerra somente vai agravar um problema que já existia. Fruto de um processo de imigração mal planejado, a falta de assistência aos recém-chegados, e o destino dos mesmos à locais ainda não povoados, o que promoveu o isolamento e a conseqüente criação de uma lógica interna na colônia, esta se considerava auto suficiente, somados aos ideais pangermânicos foram grandes influencias na conjuntura vivida no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial.

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Capitulo II

A Campanha de Nacionalização de Getúlio Vargas

O alemão antes visto como fator de modernização e de civilidade passa a ser considerado perigoso. Este “perigo alemão” (Gertz, 1991) constitui-se pelo temor de que Alemanha anexar-se áreas de colonização alemã no Brasil, ou ainda mantivesse algum tipo de influencia nessas regiões.

Apesar das discussões a respeito do perigo que a resistência a assimilação do imigrante alemão representava estar em voga desde as últimas décadas do século XIX, as ações práticas em prol da nacionalização dos “quistos raciais” ganha vulto a partir de 1937. Neste ano Getúlio Vargas inicia a terceira etapa de seu governo a frente do Brasil. Chamado de Estado Novo (1937-1945), este período ficou marcado pela centralização do poder, o nacionalismo e a repressão.

O uso de outro idioma que não o português é proibido, primeiramente nas escolas, nas repartições públicas e nas cerimônias religiosas. Em seguida esta proibição se estende para todos os locais públicos, e com o rompimento das relações diplomáticas com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) em 1942 a língua passa a ser proibida até mesmo no ambiente familiar.

Em 18 de abril de 1938 é publicado do Decreto-Lei no 383, onde as atividades políticas passam a ser proibidas para os estrangeiros. Em muitos locais onde a colonização alemã se fez presente, o Partido Nazista acaba tendo determinado número de adeptos e promovendo, de certa forma, algum tipo de ação. Fosse ela política, cultural ou de assistência. Deste modo, uma série de restrições passa a ser imposta aos imigrantes em geral. São proibias as bandeiras, flâmulas e estandartes, uniformes, distintivos e insígnias ou qualquer outro tipo de símbolo de partido político estrangeiro. A organização de desfiles, passeatas, comícios, reuniões ou qualquer tipo de concentração de membros também é proibida. A imprensa em idioma estrangeiro também sofreu severa repressão. São proibidos jornais, revistas, artigos e publicações em alemão, assim como qualquer outra forma de publicidade.20

Com a realização da Conferencia Panamericana, em janeiro de 1942, são estabelecidas normas a serem cumpridas pelas nações americanas, que se comprometeram em romper ralações diplomáticas com o Eixo. Deste modo, o acordo estabelece as seguintes disposições:

20 VOGT, Olgário Paulo. Repressão x medo: arbitrariedades cometidas durante a campanha de nacionalização em Santa Cruz, RS, p. 2 e 3.

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I – É proibido:

a) a distribuição de escritos em idioma das potências com as quais o Brasil rompeu relações; b) cantar ou tocar hinos das referidas potências;

c) fazer saudações peculiares a essas potências;

d) usar idioma das mesmas potências em conversação em qualquer lugar público, inclusive cafés, bares, restaurantes, hotéis, cinema, lojas, etc.;

e) exibir, em lugar acessível ou exposto ao público, retratos dos membros dos governos daquelas potências.

II – Devem ser detidos aqueles que, ostensivamente, ou em lugar público, manifestem simpatia pela causa das referidas potências.

III – Devem ser arrecadados todos os livros e materiais de propaganda política em favor daquelas potências, existentes em livrarias, especialmente estrangeiras, e casas particulares. IV – Devem ser interditadas as estações emissores de radioamadores e apreendidas aquelas que pertencerem a estrangeiros súditos daquelas potências.

V – Devem ser interditados os aviões pertencentes a súditos pertencentes às potências do Eixo e não permitir que a sua honra seja ultrajada. 21

A Campanha de Nacionalização foi aderida com grande fervor pela população brasileira. Além dos abusos cometidos pelos próprios agentes do Estado, o grande agente infiltrado que será responsável por denuncias e prisões serão os próprios populares. Estes, que diziam defender a soberania da Nação, em grande parte dos casos, foi responsável por manifestações violentas ou carregadas de questões pessoais. A ação de populares contra a “quinta-coluna” se deu em reposta ao apelo do Estado em convocar cidadãos para a defesa nacional, porém o Estado acabou não conseguindo manter o controle sobre a população e suas manifestações aparentemente irracionais.

A Campanha de Nacionalização, promovida por Vargas, foi responsável por um grande retrocesso educacional. São proibidas aulas em outro idioma, que não o português. Escolas particulares são fechadas e não há um investimento do Estado para suprir a demanda escolar. Os filhos de imigrantes que ainda viviam em locais mais afastados, colônias rurais isoladas, deixam de ter o acesso ao ensino primário.

A repressão política do Estado Novo não se deu somente à filiados e simpatizantes do NSDAP. Neste período, estrangeiros de diversas etnias, opositores do regime varguista, acusados de apoiar o Integralismo ou o Comunismo, eram considerados subversivos e

21 VOGT, Olgário Paulo. Repressão x medo: arbitrariedades cometidas durante a campanha de nacionalização em Santa Cruz, RS, p. 3.

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ameaças ao país. Porém, se percebe uma precaução maior com os imigrantes originários dos países que compunham o Eixo, sobretudo, com os alemães. Os alemães já possuíam o estereótipo de inassimiláveis e expansionistas. Um exemplo da ação contra imigrantes de diversas etnias acontece em Curitiba, onde até mesmo um estrangeiro de origem judaica é acusado de ações nazistas, como se percebe no anexo I.

A intensidade das medidas tomadas contra o elemento “eixista” variou de acordo com a posição dos governantes de cada região. Em locais onde havia um bom relacionamento, anterior ao advento da Segunda Guerra Mundial, com a comunidade teuta, como em alguns municípios que já haviam eleito governantes de origem germânica, houve uma determinada tolerância. Porém, em muitos locais as medidas nacionalizantes ultrapassam seu objetivo, e deste modo a ação oficial saí de controle, acompanhada da ação informal do cidadão comum.

A nacionalização promovida pelo Estado Novo visava a construção de uma identidade nacional e de uma raça brasileira. Estabelecida pela contribuição de três raças, o português, o indígena e o africano. O intuito da promoção de uma coesão social não ocorreu, porém houve a aculturação dos alemães. Estes, deixaram o idioma e a cultura de lado, porém não integraram-se totalmente a sociedade brasileira. A conjuntura vivenciada fez com que as características germânicas fossem deixadas de lado pela maior parte dos descendentes de imigrantes.

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Capítulo III

Os alemães e a DOPS

Mesmo com o isolamento das colônias, houve uma troca de hábitos entre os alemães e os brasileiros. Por mais que acreditassem que haviam conservado a cultura original do país de origem, os imigrantes acabaram por criar uma cultura diferenciada, nem alemã e nem brasileira. Incorporaram hábitos alimentares e criaram palavras para se adequarem a situações ainda não presenciadas na Alemanha.

Com o agravamento das tensões mundiais, e a eclosão da Segunda Guerra Mundial a situação do teuto-brasileiro, fica ainda mais complicada. O que intensifica os desentendimentos entre os “quinta-colunas” e os cidadãos brasileiros.

A Campanha de Nacionalização promovida desde o início do Estado Novo, acirra suas medidas nacionalizantes a partir do momento em que o Brasil rompe relações diplomáticas com os países do Eixo. As medidas tomadas pelo governo brasileiro com o intuito de neutralizar o “perigo alemão”, entrincheirado na região Sul do Brasil ainda desperta dúvidas com relação ao perigo exercido de fato pelos imigrantes alemães.

Durante toda a primeira metade da década de 1940 alemão era sinônimo de nazismo. E inúmeras teorias a respeito de um suposto interesse alemão com relação ao Brasil, vai exacerbar sentimentos e discussões a respeito do teuto-brasileiro, que já vinham sendo questionadas desde o final do século XIX. Podemos enumerar alguns pontos que de certa forma legitimam o cuidado das autoridades com relação ao alemão. Entre estes, podemos citar a resistência à assimilação e a manutenção da cultura e dos hábitos germânicos destes imigrantes.

A manutenção da ditadura estado novista, é garantida por órgãos que tiveram papel de destaque na ação política nacionalizante, praticada por Getúlio Vargas. Entre estes estão a DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social) e o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). Aqui utilizaremos as fichas da Delegacia de Ordem Política e Social de Curitiba, do período que se estende de 1937 a 1945. Totalizando mais de 2.000 fichas, que hoje encontram-se no Arquivo Público do Estado do Paraná, organizado por meio de pastas temáticas. Em virtude do tempo e da natureza deste trabalho as pastas pessoais relacionadas ao assunto da pesquisa não foram contempladas.

A busca por esta vasta documentação se deu com intuito de verificar até que ponto existiu uma adesão ao Partido Nacional Socialista, por parte dos teuto-brasileiros residentes

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em Curitiba. E se a adesão ocorreu, em que âmbito esta se encontra, político, cultual ou caracterizou-se somente como uma forma de proteção e preservação do Deutschtum.

É necessário frisar que a documentação da DOPS apresenta-se de uma maneira incompleta. Na maior parte dos casos os inquéritos se encontram desfalcados da denuncia ou da resolução do problema. Resumos a respeito de documentos, escritos pelos agentes da DOPS, são usadas como fontes, em virtude da falta dos documentos na integra. Essa dificuldade com as fontes, além de mostrar que ela de fato se encontra incompleta, também reflete o despreparo destes agentes responsáveis pela segurança da soberania nacional.

Com o torpedeamento dos navios brasileiros, por submarinos alemães, no início de 1942, é publicada a Portaria no 90 do chefe de policia do Estado do Paraná, que resolve entregar à Cruz Vermelha Brasileira, por tempo indeterminado, as sedes dos Clubes Concórdia (antigo Deutsche Saengerbund) e Rio Branco (antigo Deutscher Handwerker

Verein). Na nota é frisada a necessidade de uma intervenção à estas sociedades, como forma

de proteção a soberania da nação e também a própria proteção ao imigrante22. A questão a respeito da proteção ao imigrante se deu em virtude dos acontecimentos de 19 de março de 1942, quando, segundo o jornal Gazeta do Povo, dez mil pessoas concentradas na Praça Osório, no centro da capital paranaense, “verberarem os golpes do nazismo contra a integridade nacional”23. Em seguida os manifestantes promovem um “quebra-quebra” em direção aos estabelecimentos pertencentes aos “súditos do Eixo”. Na marcha em sinal de indignação contra os torpedeamentos de navios brasileiros, os manifestantes gritavam “morte aos “quinta-colunas”. O Clube Concórdia ainda teve seus bens entregues a tutela do Clube Atlético Paranaense. Fato ocorrido mesmo após o final da guerra.24

São poucos os documentos da DOPS que afirmam a existência de reuniões promovidas por elementos nazistas em Curitiba. E estes inquéritos, que inclusive citam a existência de fotos, não estão documentados. Entre os elementos considerados perigosos se encontram figuras públicas entre a comunidade teuta, como o Chanceler do Consulado Alemão em Curitiba, Otto Braum, que também esteve a frente da presidencia da Verbund

Deutscher Verein (associação que reunia todas as entidades teuto-brasileiras e alemãs do

Paraná). Porém são fatos isolados e que não trazem uma prova concreta da ação destes contra

22 O Dia. Ocupadas as sociedades italo-germanicas em Curitiba: importante ato do chefe de Polícia

entregando as instituições brasileiras a guarda e conservação das sedes de tais clubes. Curitiba, 21 de

março de 1942.

23 Gazeta do Povo. Curitiba, 19 de março de 1942.

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a soberania nacional. Como fica evidente no final do documento (anexo III) escrito pelo Delegado Valfrido Piloto,

É evidente que, dos autos em que se conterão os motivos da reclusão desses nazistas, poderá não surgirem justificativas capazes de bem-enquadrar, os casos, em nossa legislação. Ao Governo Federal cabe, no entanto, a solução do assunto, de vez que a soltura de tais presos não conviria, em absoluto, à segurança nacional.25

As sociedades alemãs são consideradas disseminadoras das propagandas do NSDAP em Curitiba. Alguns alemães são detidos e encaminhados ao Rio de Janeiro, por serem considerados uma ameaça a segurança nacional. Porém, o número de presos, considerados perigosos, se restringe a indivíduos que estavam em posição de destaque frente a comunidade teuta, como membros das associações germânicas e funcionários do Consulado Alemão em Curitiba. Estes partiam para a capital federal, com destino à Alemanha ou a Campos de recolhimento destinados à imigrantes neste período. Como é o caso da Ilha Grande.

Os cidadãos comuns teuto-brasileiros eram direcionados a presídios comuns na própria capital, como o presídio do Ahú. Normalmente eram fichados, advertidos e liberados em seguida. Por não haver prova suficiente que justifique sua prisão. Isso ocorre em parte, pelo fato de que o volume de denuncias contra alemães e estrangeiros de outras etnias, entre os anos de 1942 e 1943, serem muito altos e compostos de denuncias de caráter pessoal. Intrigas, desentendimentos e desafetos, são percebidos em 90% dos casos de denuncia contra a “quinta-coluna” em Curitiba na década de 1940. Fato percebido até mesmo pelos agentes da DOPS.

Levo ao conhecimento de V.S., para os devidos fins, que hoje, às 10 horas, efetuei rigorosa busca na casa de ALBERTO SCHLOZLG, de nacionalidade brasileira, reservista de 1a categoria, possuindo Carteira de reservista no 55, com 44 anos de idade, nascido aos 25 de agosto de 1898, no município de Curitiba, (Pilarzinho), filho de Fernando e Elisa Schlozlg, ambos brasileiros e falecidos.

Na referida busca nada foi encontrado que interessasse a esta delegacia.

Com referência à existência de fotografias de personagens alemães, nada constatamos, pois que na verdade, existe uma fotografia de um 2o Tte. do Exército Polonês, atualmente lavrador em Londrina por nome Anttonio Borwisoke, sogro de ALBERTO SCHLOZGL.

Conforme declarações de ALBERTO, nunca teve em sua residência sela de montaria e, quanto às medalhas, referem-se a santos de sua religião.

Ao que ainda constatamos, o denunciado em questão, é ébrio habitual, trabalhando na firma Gutierz Munhoz, atualmente parada por falta de material, como pedreiro.

Ao que parece, trata-se de uma questão entre vizinhos e não propriamente de caso político. 26

25 PILOTO, Valfrido. Oficio 763 de 25 de maio de 1942. Curitiba. Dossiê Atividades nazistas no sul do Brasil e Alfredo Andersen. Patas da DOPS. Arquivo Público do Paraná.

26 BIAZETTO, Eugenio. Dossiê: Relatórios 1944, no 835, top. 101. Folha 17. Pastas da DOPS. Arquivo Público do Paraná.

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O número de presos nazistas em Curitiba, considerados de, é bem inferior em relação a total de teutos na capital durante esse período. Se percebe também que muitos se mostram apenas simpatizantes, sem possuir contato algum com a política. Antes do acirramento da Campanha de Nacionalização e da eminência do segundo conflito mundial datas como o aniversário do Fuhrer eram comemoradas pelo Consulado, inclusive tendo a permissão e parabenização por parte do governo brasileiro. Quando o Partido é proibido, algumas ações políticas são creditadas ao Consulado, como a distribuição de materiais de propaganda nazista. Porém, percebe-se uma postura do Cônsul Walter Zimmermann de não comprometimento com o Partido. O que da a impressão de que as ações promovidas pelo consulado foram muito mais em virtude da subordinação de um órgão atrelado à um país e consequentemente ao seu regime político, do que a disseminação de uma ideologia de fato.

Em outros locais do Brasil, se percebe uma ação muito mais organizada em prol do NSDAP. Como é o caso de São Paulo e Blumenau, de onde disseminavam as propagandas nazistas. Porém, segundo Oliveira (2008, p. 21) o Partido atingiu poucos resultados de ordem prática, e seus membros não passaram de 3.500 pessoas. Curitiba nesta conjuntura é vista como ponto geográfico estratégico, por estar entre os estados de maioria lusa e os estados de maioria germânica no sul. Existe ainda uma preocupação do Partido no Brasil em contabilizar os teutos e identificar os que não apóiam o regime nazista.

Mesmo os que se dizem simpatizantes do regime, não demonstram possuir as mesmas ideologias do Partido na Alemanha, como é o caso do anti-semitismo. No Brasil são poucas as referencias com relação aos perigos da conspiração judaica. Ainda pode se dizer que o Nazismo no Brasil representou uma reformulação do Pangermanismo e um fator de coesão entre os imigrantes. Segundo Magalhães (1998), a adesão ao nazismo, representou antes de tudo uma proteção mutua entre os teutos, que se aproximaram ainda mais de seu país de origem em virtude da Campanha de Nacionalização.

Enquanto os membros do Consulado foram deportados para a Alemanha, os cidadãos teuto-brasileiros conviveram até o final da guerra com manifestações, denuncias e perseguições por parte dos brasileiros. Pertences, como rádios e livros escritos no idioma alemão são apreendidos. Também se estabelece a vigilância às correspondências, a proibição de reuniões entre teuto-brasileiros e conversas no idioma alemão. Os teuto-brasileiros São retirados das áreas litorâneas e passam a se deslocar comente com a autorização do governo, através do salvo conduto. Neste sentido o elemento nacional foi de grande importância, pois esteve sempre presente denunciando ou até mesmo dando voz de prisão a supostos nazistas. Como já avaliado anteriormente, as denuncias dificilmente se confirmavam. Elementos

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nacionais também são suspeitos de compactuarem com o nazismo. Mas normalmente no final das investigações eram liberados por estarem bêbedos no momento em que saudaram a Alemanha.

Com relação ao Integralismo se percebe um apoio à Plínio Salgado por parte de alguns cidadãos teutos. Porém, este fato não reflete a posição oficial do Partido, que esteve muito mais preocupado em mostrar a incompatibilidade que existia entre o integralismo e o nazismo.

Com base nas pastas temáticas da DOPS em Curitiba, se percebe que a ação contra o imigrante se deu em virtude de inúmeros problemas. Que já existiam antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial. Tanto a ação popular como a estatal contra o imigrante cometeu excessos e buscou barrar uma ação política efetiva do Partido na capital paranaense. Constatação que não se afirma na documentação da DOPS.

O que nos leva a crer que não houve uma adesão da população teuto-brasileira curitibana ao NSDPA. O que provavelmente se deve a forma como ocorreu o processo de colonização do Paraná. O estado torna-se centro de atração do imigrante em um período posterior se comparado à outros estados brasileiros. Recebe por isso grande leva de imigrantes de outras etnias, o que inviabilizava a formação de colônias homogêneas. No caso especifico de Curitiba, pode se dizer que está foi centro de tração de migrações que ocorreram de regiões coloniais mais antigas, como o Rio Grande do Sul. Deste modo, estes teutos estavam a mais tempo em contato com brasileiros, assim como com imigrantes de outras etnias. O contato em Curitiba entre imigrante e brasileiro se deu, sobretudo, em virtude da grande presença do alemão no desenvolvimento comercial e industrial da capital.

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CONCLUSÃO

Os documentos disponíveis no Arquivo Público do Paraná trazem inquéritos, muitas vezes sem solução. Documentos incompletos e que demonstram a própria deficiência nas investigações promovidas pelos inspetores. Em grande parte dos casos apenas espionavam ou rondavam os locais onde se encontravam os acusados. Não se percebe qual o critério utilizado para uma averiguação mais profunda. Compostos em sua maior parte de denuncias contra pessoas normais, percebe-se que eram muitas vezes incentivadas por problemas pessoais entre o denunciante e o denunciado.

Não são todas as denuncias que chegam a ser averiguadas de fato, sendo que o destino de grande parte dos denunciados é ser advertido e fichado, em seguida posto em liberdade. Não eram somente os alemães que eram investigados pela DOPS, brasileiros e estrangeiros de outras etnias eram acusados de Integralismo ou de serem favoráveis ao Nazismo. Até mesmo judeus foram fichados na DOPS por serem suspeitos de praticarem atividades nazistas.

As denuncias que chegavam a DOPS normalmente referiam-se ao uso do idioma alemão, a presença de rádios transmissores e a manifestações favoráveis ao eixo. As averiguações dificilmente eram comprovadas, restando aos inspetores registrarem que o elemento em questão se encontrava embriagado, enquanto dava vivas a Alemanha, ou insultava o país. Não estão disponíveis no arquivo da DOPS fotos de reuniões nazistas ocorridas em Curitiba, somente algumas ocorridas no interior do Paraná, assim como fotos vindas da Alemanha, possivelmente enviadas por parentes.

Os documentos mais concretos com relação a aproximação do imigrante à atividades nazista de fato são materiais vindos da Alemanha e distribuídos pelo Consulado. Porém, estes documentos também não estão arquivados nas pastas da DOPS. Cabe aqui ressaltar que as pastas individuais não foram checadas, em virtude da dimensão final que o presente trabalho deve apresentar. O Consulado possuía uma ligação com as sedes dos partidos em outros locais, como em Blumenau. Ocorria uma circulação de materiais nazistas vindos da Alemanha. Porém, está ligação parece ser apenas fruto da subordinação do Consulado ao regime político de seu país. Não se percebendo um entusiasmo com a causa nazista por parte do Cônsul Walter Zimmermann ou de seus funcionários.

A documentação da DOPS não mostra um envolvimento concreto entre a comunidade teuta e o Partido Nazista. Somente em alguns casos as denuncias se confirmam, deixando claro que apesar da existência de casos de simpatia pelo regime Nazista, a repressão e o cuidado com relação ao imigrante não foram fundamentados em uma ação política de fato.

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Bem como, a racional ação popular contra o “quinta-coluna”, que se deu antes de tudo por questões de caráter pessoal, influenciadas por questões étnicas, fruto do próprio processo de imigração e que foram intensificadas pela Campanha de Nacionalização. A convocação dos populares por parte do Estado Novo, que visou a busca de um patriotismo também foi um dos grandes responsáveis pelos conturbados anos que Curitiba vivenciou durante a Segunda Guerra Mundial.

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Referencias Anexos

Anexo I - Arquivo Público do Estado do Paraná. DOPS – Dossiê: Delegacia de Ordem

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Anexo II - Arquivo Público do Estado do Paraná. DOPS – Dossiê: Clube Concórdia – pagina

08.

Anexo III - Arquivo Público do Estado do Paraná. DOPS – Dossiê: Atividades nazistas no

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Anexo I

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Anexo II

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Anexo III

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Referências

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