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PERCEPÇÃO AMBIENTAL SOBRE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE, PB: ESTUDO DE CASOS

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PERCEPÇÃO AMBIENTAL SOBRE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NA

CIDADE DE CAMPINA GRANDE, PB: ESTUDO DE CASOS

Suellen Silva Pereira

1

Aliana Fernandes

2 1

Universidade Estadual da Paraíba/ Departamento de História e Geografia/ Curso de Geografia/ Rua Maria do Carmo Nóbrega, 60, Conjunto Santa Mônica, Três Irmãs, Campina Grande/PB, Brasil.

E-mail: suellenssp@hotmail.com. 2

Professora Doutora do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

Resumo- O conhecimento sobre o correto gerenciamento dos resíduos de serviço de saúde (RSS) é indispensável para que se obtenha, em unidades de saúde, um ambiente mais seguro no que concerne à potencialidade de contaminação presente nos RSS. Desse modo, o presente artigo objetiva diagnosticar o grau de conhecimento que apresenta a Equipe de Enfermagem e da Equipe de Analise Laboratorial de duas unidades de saúde da cidade de Campina Grande/PB, sobre a correta gestão dos RSS, uma vez que são esses profissionais que estão no contato direto e diário com os RSS, sendo de fundamental importância o conhecimento de todos que compõem as Equipes sobre o correto gerenciamento desses resíduos. Para a obtenção dos dados, o instrumento metodológico aplicado no estudo realizado foi questionário semi-estruturado com 20% dos profissionais da Equipe de Enfermagem e 100% da Equipe de Análise Laboratorial. Verificou-se, que apesar dos profissionais afirmarem possuir o conhecimento necessário sobre o manejo adequado dos RSS, muitos não colocam em prática tais conhecimentos, comprometendo assim, a própria saúde, a saúde da população, bem como a qualidade ambiental.

Palavras-chave:Meio Ambiente, Resíduos de Serviço de Saúde, Percepção Ambiental Área do Conhecimento: VII – Ciências Humanas - Geografia

Introdução

Um dos grandes desafios da atualidade é o gerenciamento dos resíduos sólidos gerados nas diversas atividades humanas: industrial, residencial, comercial, pública e serviços de saúde. Conforme a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE (2002), são coletadas no Brasil 228.413 toneladas de resíduo urbano por dia e, desse total, 22,49% tem destinação sanitariamente incorreta em lixões, áreas alagadas, e locais não fixos; 37,03% são destinados em aterro controlado.

Nas regiões Norte e Nordeste, que concentram aproximadamente 37% da população brasileira, cerca de 50% dos resíduos coletados são depositados em lixões, causando impacto nos recursos hídricos, no ar e no solo, além do impacto na saúde pública. Dessa estatística fazem parte os resíduos de serviços de saúde (RSS), gerados em ambiente hospitalar, clínicas prestadoras de serviços de saúde, clínicas odontológicas e veterinárias, laboratórios de análises clínicas, dentre outros.

Apesar da relevância de se estudar e buscar alternativas para a problemática de Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde, esta ainda vem sendo pouco trabalhada, ganhando destaque legal na década de 1990, o que reforça a importância

da pesquisa ora apresentada, cujo objetivo foi de, abordar o conhecimento de profissionais da saúde, especificamente, da Equipe de Enfermagem e da Equipe de Análise Laboratorial dos estabelecimentos pesquisados na cidade de Campina Grande/PB, sobre os riscos dos Resíduos de Serviços de Saúde – RSS no cotidiano profissional e a sua relação com o meio ambiente.

O gerenciamento inadequado dos resíduos de saúde determina impacto negativo no ambiente e disseminação de doenças. Nesse contexto, o gerenciamento dos Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde torna-se um passo fundamental para minimizar os seus impactos.

Metodologia

A pesquisa foi desenvolvida em duas unidades de saúde da cidade de Campina Grande, PB, sendo uma caracterizada por ser a primeira uma unidade de saúde de grande porte (hospital) e, a segunda, uma unidade de saúde considerada de pequeno porte (laboratório).

O presente artigo caracteriza-se como pesquisa aplicada e descritiva, pois, de acordo com Gil (2007), esta tem como objetivo primordial a descrição de características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis.

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Para a obtenção dos dados, realizou-se, Estudos de Casos que, de acordo com Gil (idem), é um estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento. Dessa forma, buscou-se reunir informações quantitativas e qualitativas para uma melhor compreensão do trabalho ora apresentado.

O instrumento aplicado no estudo realizado foi o questionário semi-estruturado. A escolha deste instrumento metodológico, conforme colocado por Naime et al (2008) justifica-se pela praticidade, considerando que os sujeitos pesquisados trabalham na área assistencial com grande demanda de atendimento, o que torna complexa uma abordagem de entrevista. O referido instrumento contém questões abertas e fechadas. Muitas das questões refletem o dia-a-dia dos pesquisados, aspectos ligados ao cotidiano das rotinas e à percepção e sentimento ou emoção em relação ao assunto, e podem ser facilmente percebidos e avaliados para subsidiar as ações futuras.

O questionário foi aplicado nos meses de novembro e dezembro de 2008, sendo os funcionários, escolhidos de forma aleatória e de acordo com a disponibilidade dos mesmos.

O tamanho da amostra utilizada para execução da pesquisa foi dimensionada em 20% dos profissionais que compõe a Equipe de Enfermagem do Hospital para uma efetiva representatividade do total da população pesquisada. E 100% dos profissionais responsáveis pelas análises laboratoriais na unidade de saúde de pequeno porte (laboratório).

A análise dos dados obtidos através dos questionários fez uso de técnicas estatísticas para sua interpretação, sendo estes analisados pelo método estatístico simples e cálculo médio, através da utilização do Software Windows “Excel 2003”, os resultados foram organizados em gráficos, de acordo com categorias, para uma melhor visualização e compreensão destes.

Resultados

Gestão dos RSS em Campina Grande, PB

As unidades de saúde a serem pesquisadas, bem como os respectivos profissionais, se encontram instaladas na cidade de Campina Grande/PB, que de acordo com a última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, realizada em 01 de julho de 2005, possui uma população de 376.132 habitantes, sendo, portanto, considerada uma cidade de médio porte, além de ser um pólo de saúde para a população das cidades circunvizinhas que necessitam de

atendimento mais especializado. Levando em consideração esse contexto, pode-se concluir que a geração de RSSS é proporcional ao número de pessoas que buscam por atendimento médico-hospitalar, fato que reforça a importância do correto gerenciamento de tais resíduos.

Os serviços de coleta e destinação dos resíduos gerados na cidade em estudo são realizados pela Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos – SOSUR, 03 (três) vezes por semana, sendo estes em dias alternados, com exceção do centro comercial, que é realizado diariamente sempre no terceiro turno de trabalho – à noite.

De acordo com o Relatório Mensal da Diretoria de Limpeza Urbana (DULUR) da Secretaria de Obras e Serviços Urbanos (SOSUR) de Campina Grande/PB, são geradas mensalmente 12.605,33 toneladas de resíduos, onde, deste total, 32,88 toneladas são de Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde, o que corresponde a menos de 1% de RSS. Tal valor poderia passar despercebido, se não fosse o potencial de organismos patogênicos existente nesses resíduos, fato que contribui para a contaminação da população e do meio ambiente, uma vez que os RSS têm como destino final o “lixão” municipal da cidade em estudo.

Como forma de analisar a prática cotidiana de profissionais de saúde, analisou-se duas unidades de saúde, conforme explicitado na metodologia, sendo estas:

a) Unidade de Saúde de Grande Porte: Hospital

Verificou-se que os profissionais atuantes da Equipe de Enfermagem estão distribuídos em diversas faixas etárias, sendo possível encontrar funcionário na faixa etária dos 20 aos 60 anos de idade.

Nos diferentes níveis de formação profissional, os Enfermeiros, os Técnicos de Enfermagem e os Auxiliares de Enfermagem estão distribuídos nos diversos setores de atendimento no hospital: Unidade de Terapia Pediátrica e Neonatal – UTI Pediátrica / Neonatal (16,6%), Sala de Parto (5,5%), Berçário (22,2%), Pronto Atendimento de Urgências e Emergências (11,1%), Centro Cirúrgico (27,8%) e Alas (16,8%).

O tempo total de formação profissional de cada membro da Equipe de Enfermagem, que trabalha no hospital é variável, sendo observada a existência de profissionais atuando, em média, de 01 a 26 anos.

Quando os profissionais da Equipe de Enfermagem (Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem e Auxiliares de Enfermagem) foram questionados sobre o que são os RSS, observaram-se respostas curtas, sem explicações detalhadas, como: “sangue, seringas, luvas e

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material de curativos”; “material contaminado, luvas sujas e sangue”; “resíduos de sangue, excreções, agulhas, seringas, secreções, líquidos orgânicos, etc.”; “são os ‘lixos’ ou resíduos de materiais utilizados”; “restos e lixo hospitalar”; “secreção, bolsas de hemoconcentrados, tubos de aspiradores, etc.”; “lixo hospitalar são os perfurocortantes”.

A análise de tais respostas pressupõe que os referidos funcionários não aprofundaram seus conhecimentos sobre a correta gestão dos RSS (definição, segregação, acondicionamento, transporte e destino), uma vez que se é percebida uma deficiência na forma como os funcionários definem o que compõe os RSS. Tal fato compromete a execução dos serviços que são realizados diariamente por estes funcionários no setor em que exercem suas atividades, podendo este, vir a transmitir algum tipo de enfermidade, uma vez que, em tais resíduos a probabilidade de existência de organismos patogênicos são bastante consideráveis.

Quando perguntados sobre a classificação dos RSS, 100% dos profissionais responderam possuírem conhecimento quanto a sua classificação e a necessidade da correta separação dos resíduos, justificando a necessidade da separação, para: “evitar infecção hospitalar”; “diminuir a contaminação do meio ambiente e das pessoas”; “porque existe produto reciclável”; “para segurança dos profissionais”; devido ao “grau de contaminação” e “separar em lixo comum e lixo contaminado”.

Considerar o destino que os profissionais da Equipe de Enfermagem oferecem aos resíduos, após os cuidados prestados aos pacientes, é relevante, pois cada um desses resíduos gerados tem diferentes destinamento, devendo ser consideradas as suas características para que o descarte seja adequado.

Os materiais perfurantes e cortantes devem ser acondicionados em recipientes rígidos; os materiais contaminados com sangue e demais fluidos orgânicos devem ser acondicionados em sacos plásticos brancos, com símbolo de infectante e os resíduos comuns recebem o destino, em sacos plásticos pretos.

Analisando as respostas obtidas pelos funcionários questionados no Hospital, pôde-se observar que os funcionários não põem em prática os seus conhecimentos sobre o correto gerenciamento dos resíduos, afirmando terem adquirido através de diversos meios de comunicação e outras fontes de conhecimento. Entretanto, apenas uma parcela mínima de funcionários descreveu corretamente o procedimento de segregação dos resíduos, conforme demonstrado na Tabela 1.

Tabela 1: Segregação dos resíduos de serviço de saúde pelos funcionários do Hospital.

Fonte: RDC n° 306 ANVISA e Pesquisa Direta (novembro 2008)

De acordo com a Tabela acima, verifica-se que apesar dos profissionais da Equipe de Enfermagem afirmar possuírem conhecimento da importância da separação dos resíduos de acordo com o tipo, constata-se, que é possível identificar a existência de profissionais que realizam o descarte de maneira incorreta, conforme o recomendado pela RDC nº 306 da ANVISA, comprometendo a gestão dos RSS. Tal constatação compromete a disposição final dos RSS, uma vez que, estes, quando não descartado de maneira adequada, contaminam os materiais recicláveis e contribui para a contaminação do meio ambiente e da saúde pública.

No que concerne ao acondicionamento interno dos resíduos gerados na unidade de saúde pesquisada, 55,5% dos profissionais da Equipe de Enfermagem que responderam ao questionário, afirmaram desconhecer totalmente a forma como os resíduos são acondicionados dentro do Hospital. Dos 44,5% que responderam conhecer tal procedimento, afirmaram que este processo é realizado de modo que cada resíduo seja depositado “cada qual no seu recipiente adequado”; sendo estes resíduos separados em

Tipo de RSS Grupo Segregação

RDC 306/ANVISA Segregação Funcionários Resíduos de Sangue A Saco branco leitoso 0% Excreções, secreções e líquidos A Saco branco leitoso 0%

Seringas A Saco branco

leitoso 0% Material perfurante E Recipiente rígido 66,7% Material cortante E Recipiente rígido 72,2% Frascos e ampolas de medicação E Recipiente rígido 0%

Luvas A Saco branco

leitoso 11,1% Bolsas de hemoderivados A Saco branco leitoso 5,5% Material curativo A Saco branco leitoso 11% Cirúrgico (tecidos, órgãos) A Saco branco leitoso 5,5% Fraldas descartáveis e absorventes A Saco branco leitoso 5,6%

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“coletores”; identificados como “lixo hospitalar e lixo comum”.

Ao serem indagados sobre a realização de algum tipo de tratamento, na unidade de saúde pesquisada, junto aos RSS antes destes serem encaminhados para o seu local de destino final, 100% dos funcionários pesquisados alegaram desconhecer qualquer tipo de tratamento com fins de minimizar os impactos ocasionados pelos RSS ao meio ambiente e a saúde pública.

Com relação à forma como os RSS são transportados da unidade de saúde em estudo para o seu local de destino final, 61,1% afirmaram saber a forma como estes são transportados e 38,9% alegaram desconhecer tal procedimento.

Sobre o conhecimento da Equipe de Enfermagem quanto à destinação dos resíduos sólidos de serviço de saúde, é importante ressaltar que, dos profissionais indagados, 66,7% afirmaram não terem conhecimento sobre qual é o destino dos resíduos quando estes deixam a unidade hospitalar, enquanto apenas 33,3% afirmaram conhecer qual a destinação dada aos RSS. Dentre as pessoas que afirmaram conhecer o destino dos resíduos, 50% responderam que os RSS vão para o “lixão” municipal; 33,3% dizem ser o aterro sanitário o local de destinamento desse material e 16,7% informam que os resíduos são encaminhados para um incinerador.

Faz-se importante ressaltar que, a cidade de Campina Grande/PB, como já mencionado, não dispõe de aterro sanitário como forma de destinação dos resíduos coletados na cidade, assim, como também não dispõe de um incinerador próprio com uma tecnologia de tratamento para os RSS gerados na cidade.

No que se refere à prestação dos serviços de descarte, acondicionamento e transporte através da Prefeitura Municipal, 72,2% dos entrevistados foram categóricos ao responder que tais serviços não são executados de forma correta pela Prefeitura Municipal de Campina Grande/PB, onde apenas 27,8%, disseram estar satisfeitos com a forma que tais serviços são realizados.

Quando se fala dos impactos ambientais que os RSS podem ocasionar ao solo, água, ar e seres vivos quando dispostos de maneira inadequada, 72,2% dos entrevistados afirmaram ser conhecedores de tais impactos, afirmando que estes causam: “contaminação do meio ambiente”; “catinga, moscas e mosquitos”; “contaminação do solo, água e pessoas”; “transmissão de doenças infecto-contagiosas e letais”; “riscos de acidentes” e “contaminação para a população”.

Verifica-se o interesse que a Equipe de Enfermagem, do Hospital em estudo, possui com relação a ampliar seus conhecimentos sobre os resíduos sólidos de serviço de saúde, com

capacitações e programas de educação permanente, uma vez que é imprescindível que o profissional de saúde esteja sempre se adequando as mudanças nas legislações e normas vigentes, bem como, aos novos tratamentos e recursos disponíveis para um melhor gerenciamento dos RSS.

b) Unidade de Saúde de Pequeno Porte: Laboratório

Em pesquisa realizada no laboratório, verificou-se que os profissionais atuantes da Equipe de Análises Laboratoriais estão distribuídos em diversas faixas etárias, ou seja: 25% da Equipe se enquadraram na faixa etária de 20 a 30 anos; 50% entre 31 a 40 anos; e 25% de 41 a 50 anos. A questão da predominância do sexo feminino foi demonstrada neste estudo, uma vez que, dos 100% da Equipe de Análises Laboratoriais que foi entrevistada, obtivemos o resultado de 75% dos profissionais correspondentes ao sexo feminino.

Quando os profissionais da Equipe de Análises Laboratoriais foram questionados sobre o que são os RSS, foram observadas as seguintes respostas: “material biológico (sangue, secreções, etc.)”; “na verdade é todo o material que a instituição oferece para os clientes”; “resíduos de sangue, excreções, agulhas, seringas, secreções, etc.”; “recipientes contaminados”.

Sobre a classificação dos RSS, 100% dos profissionais responderam possuir conhecimento quanto a sua correta classificação e a necessidade da separação adequada dos resíduos, justificando esta necessidade, para: “proteção ambiental e principalmente da humanidade”; “para evitar a contaminação do meio ambiente” e “para evitar a contaminação da população”. Diante das respostas apresentadas, fica explícita a preocupação de todos com os riscos ocasionados pelos RSS. Os funcionários pesquisados na unidade de saúde em questão, quando questionados sobre a forma de acondicionamento interno dos resíduos gerados pelo Laboratório, afirmaram, em sua maioria (75%), serem conhecedores da forma como este serviço é executado pelo referido estabelecimento

No que se refere à prestação dos serviços de descarte, acondicionamento e transporte realizados pela Prefeitura Municipal, 100% dos entrevistados foram categóricos ao responderem que tais serviços não são executados de forma correta pela prefeitura, alegando que a ausência da correta gestão dos resíduos: “coloca a população carente em risco, pois são os que mais freqüentam o lixão”; “os resíduos são lançados a céu aberto”; “não há o cuidado necessário com a coleta e o transporte”.

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Quando o assunto são os impactos ambientais que os RSS podem ocasionar ao solo, água, ar e seres vivos quando dispostos de maneira inadequada, 100% dos entrevistados afirmam ser conhecedores de tais impactos, afirmando que estes causam: “contaminação do solo, da água e do ar que respiramos”; “contaminação do meio ambiente”; “contaminação em geral”.

Discussão

A segregação dos RSS na fonte é uma ação de extrema importância, conforme colocado por Salkin (2001), ao informar que a segregação dos resíduos na fonte de geração minimizará a quantidade de materiais potencialmente infecciosos que inevitavelmente atingirão o solo.

Rebello (2003) ressalta que o gerador de resíduos sólidos de serviços de saúde ao cumprir as normas de biossegurança estará prevenindo acidentes ao ser humano e ao meio ambiente, sendo este o seu papel e é isso que toda a sociedade espera dele. Atualmente existem legislações federais extremamente rigorosas com a responsabilidade do gerador sobre os resíduos gerados.

Analisando as respostas obtidas pelos funcionários questionados na unidade de saúde de grande porte - Hospital, pôde-se observar que os funcionários não colocam em prática os seus conhecimentos sobre o correto gerenciamento dos resíduos, que afirmam terem adquiridos em diversos meios de comunicação e outras fontes de conhecimento, uma vez que, apenas uma parcela mínima de funcionários descreveram corretamente o procedimento de segregação dos resíduos. Essa constatação pode ser corroborada por Naime et al (2008), quando o autor afirma que as consequências da falta de informações e indefinições são observadas pela carência de modelos de RSSS, pois uma parte considerável das organizações hospitalares desconhece os procedimentos básicos no manejo dos resíduos. Silva e Hoppe (2005) demonstram que a maioria dos estabelecimentos prestadores de serviços de saúde, no interior do Rio Grande do Sul, não atende os procedimentos preconizados nas resoluções vigentes.

Existem várias formas de tratamentos que podem ser adotadas pelas unidades de saúde, todas visando à minimização dos impactos ocasionados pelos RSS quando depositados in

natura no meio ambiente. Na Argentina, trabalhos

de Genazzini et al (2005) testam o uso de cinzas resultantes da incineração de resíduos hospitalares na composição de cimentos. Os autores fazem um detalhado levantamento do estado da arte do tema, com detalhada caracterização, incluindo propriedades

físico-químicas resultantes, ensaios de lixiviação, análises químicas e comportamento dos materiais expostos. Eles concluem pela viabilidade e aplicabilidade.

A coleta externa consiste na remoção dos RSS do abrigo de resíduos (armazenamento externo) até a unidade de tratamento ou disposição final, pela utilização de técnicas que garantam a preservação das condições de acondicionamento e a integridade dos trabalhadores, da população e do meio ambiente. Deve estar de acordo com as regulamentações do órgão de limpeza urbana (BRASIL, 2006).

Tomando por base as informações fornecidas pelo Manual de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde (Brasil, idem) é possível observar que a coleta externa e o transporte dos RSS, em ambos os estabelecimentos, estão condizentes com as colocações do referido autor, tendo em vista, conforme informado pelo gestor de cada estabelecimento, que a coleta é realizada em dias específicos, sendo estes, transportados em veículos identificados para a locomoção de RSS.

A inexistência de uma destinação adequada não é apenas um problema evidenciado na cidade de Campina Grande/PB, mas sim, uma deficiência observada em todo o território nacional, onde, muitas vezes, os resíduos dos serviços de saúde não recebem tratamento e destinação final adequada e diferenciada conforme sua natureza, tendo por destino final o mesmo local utilizado para descarte dos demais resíduos urbanos (BRILHANTE e CALDAS, 1999). Bidone e Povinelli (1999) destacam que na maioria das vezes os resíduos sólidos de serviços de saúde ficam ao alcance de catadores, elevando a possibilidade de contaminação por doenças infecto-contagiosas. A destinação incorreta dos RSS pode ocasionar, ainda, a contaminação do meio ambiente, fato que pode ser reforçado por Naime et al (2006, p. 117), ao afirmar que: “Esta geração de resíduos em geral, e seu posterior abandono no meio ambiente podem ocasionar grandes problemas ambientais, que de um lado podem estar relacionados aos fatores de proliferação de agentes contaminantes e de outro com o fato de que o aumento de resíduos provavelmente implica no consumo de matérias-primas, atualmente escassas na natureza”.

A preocupação com o manejo dos RSS reside, no fato de que, são estes profissionais (equipe de enfermagem e equipe laboratorial) os responsáveis pelos primeiros passos de condução dos resíduos, uma vez que os mesmos estão em contato direto e cotidiano com tais produtos. Conduzir o descarte e armazenamento inicial de forma adequada é fundamental no processo, entendendo que todos que circulam no hospital, desde pacientes, profissionais e visitantes são expostos aos riscos que tais resíduos possam

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ocasionar se não forem conduzidos adequadamente.

Desta forma, ressalta-se a importância da realização de programas de educação continuada, que envolvam os funcionários das unidades de saúde, como também a comunidade ao entorno do estabelecimento é de grande relevância, tendo em vista a importância de aprofundar o conhecimento e aproximar cada vez mais os RSS que são produzidos no decorrer das funções que cada funcionário desenvolve em sua rotina laboral, tornando os procedimentos necessários para uma gestão adequada dos RSS se torne algo natural no decorrer de suas atividades. É possível contatar alguns exemplos bem sucedidos de programas envolvendo os RSS e os funcionários das unidades de saúde. Em Curitiba, com a aplicação do programa “Lixo que não é lixo hospitalar”, em 1989, novos conceitos foram introduzidos a respeito dos RSS, colaborando com a desmistificação da idéia de que todos os resíduos gerados em empresas de saúde são necessariamente infectantes.

No Brasil, há mais de 30 mil unidades de saúde gerando esses resíduos, e na maioria das cidades, a questão do manuseio e da disposição final não está resolvida, e acrescenta-se que algumas unidades de saúde desconhecem a quantidade e a composição dos resíduos que geram (FERREIRA, 1995).

Conclusão

Diante dos dados acima ressaltados, pode-se concluir que a maioria dos profissionais, conforme dados obtidos quando da aplicação do questionário, possuem conhecimentos prévios sobre a classificação dos RSS, que foram adquiridos em algum momento de sua formação profissional ou no cotidiano de trabalho. Porém, esses não são suficientes para atender as necessidades do seu manejo que, na prática cotidiana, em alguns momentos, ocorre de forma inadequada.

Em relação à Percepção Ambiental, com base nos dados da pesquisa, contatou-se que esses profissionais não estão completamente alheios ao meio ambiente, demonstrando, em muitos momentos, preocupações com as questões de provável contaminação do solo, da água e da atmosfera pelos RSS, quando não gerenciados corretamente.

Neste sentido, ressalta-se a necessidade de maiores investimentos, principalmente em capacitações, dos funcionários do Hospital, tendo em vista a importância de se ter um manejo adequado dos RSS, evitando, com isso, os riscos inerentes aos resíduos quando estes são mal

segregados, acondicionados, transportados e destinados.

Referências

- ANVISA, Resolução RDC Nº 306, de 07 de dezembro de 2004.

- BIDONE, F. R. A.; POVINELLI, J. Conceitos básicos de resíduos sólidos. São Carlos. Ed. EESC/USP, p. 120, 1999.

- BRASIL, Manual de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

- BRILHANTE, O. M.; CALDAS, L. A. Gestão e avaliação de risco em saúde ambiental. Rio de Janeiro. Ed. Fiocruz, p. 155, 1999.

- FERREIRA, J. A. Resíduos Sólidos e Lixo Hospitalar: uma discussão ética. Cadernos de Saúde Pública, v. 11, n. 2, p. 314-20, 1995. - GENAZZINI, C. et al. Cement-based material as contaminated system for ash from hospital waste incineration. Waste Manag. v. 25, p. 649-54, 2005.

- GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo. Ed. Atlas, 2007. - IBGE, Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. Rio de Janeiro, 2002.

- NAIME, R. et al . Diagnóstico do Sistema de Gestão dos Resíduos Sólidos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Revista UNIciências, v. 10, p. 103-44, 2006.

- NAIME, R et al. Avaliação do Sistema de Gestão dos Resíduos Sólidos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Revista Espaço para a Saúde, v. 9, n. 1, p. 1-17, Dez. 2008.

- REBELLO, P. R. Resíduos sólidos em serviços de saúde. In: VALLE, S; TELLES, J. L. (org.). Bioética e biorrisco: abordagem transdisciplinar. Rio de Janeiro: Editora Interciência; 2003. p. 391-412.

- SALKIN, I. F. Review of Health Impacts from Microbiological Hazards in Health-Care Wastes. Geneva: World Health Organization; 2001.

- SILVA, C. E; HOPPE, E. A. E. Diagnóstico dos Resíduos de Serviços de Saúde no Interior do Rio Grande do Sul. Ver Eng Sanit Ambient. Artigo Técnico, v. 10, n. 2, p. 146-51, 2005.

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