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AÇÃO TÓXICA DO SENECIO BRASILIENSIS, LESSING

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Vol. 3 — Fase. 3 Dezembro de 1946

AÇÃO TÓXICA DO “SENECIO BRASILIENSIS”,

L E S S IN G

FAM. C O M P O S IT A E

(T H E T O X IC IT Y O F T H E “ S E N E C IO B R A S I L I E N S I S " , Le s s i n g)

Gabriel S. T. de Carvalho

Gabriel C. Maugé

Assistente

(1 fiKura)

A planta estudada é também conhecida pelos nomes vulgares de “ Flor de finados”, “ Flor das Almas”, “ Maria mole”, “Tasneirinha” e “ Cravo do campo”. A ação tóxica das plantas do gênero senécio já foi observada e estudada em diversos países, quer nos homens como nos animais. A existência de plantas dêsse gênero tem sido constata­ da na Europa, América e África. No Brasil, o Senecio brasüiensis,

Less. é encontrado desde o Estado do Espírito Santo até as regiões do sul da República.

Pelos trabalhos de De W a a l, da União Sul Africana, é sabido que êsse gênero de planta compreende mais de 1.250 espécies dife­ rentes.

A doença provocada pela ação das plantas do gênero senécio, é conhecida no Canadá por "pictou”, na Nova Zelândia por “ winton”, na União Sul Africana por “molteno disease” ou “ dunsiekte”, na Inglaterra por “ poisonous ragwort”, na Noruega por “ sirasyke” e em Northern Nebraska por “walking disease”. No Brasil não conhecemos qualquer nome vulgar para essa intoxicação. Em 1920, Wi l m o n t e Ro b e r t s o n, nos E. U., observaram, no homem casos de intoxicação, acompanhados de cirrose do fígado, por ingestão de folhas de Senecio burchelli e Senecio üicifollius moídas juntamente com o trigo, para a fabricação de pão. No inquérito feito, foi verificado o crescimento daquelas plantas nos trigais.

Os casos observados por nós foram em cavalos de propriedade do Instituto Pinheiros, S.A., nas vizinhanças da capital do Estado de S. Paulo. Diversos cavalos manifestaram-se com icterícia de carater grave, mortal dentro de tempo realtivamente curto (dias). Não sendo possível um diagnóstico etiológico rápido, para medidas profi­ láticas, foi feito um inquérito do qual resultou evidenciar-se a pre­ sença do Senecio brasüiensis, vegetando no alfafal destinado à ali­ mentação verde dos cavalos que apresentaram icterícia. Alguns cava­ los recusam a planta mesmo quando misturada com a alfafa verde

Departam ento de Farm acologia D iretor: P ro f. Dr. Gabriel S. T . de Carvalho

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ou com outros alimentos concentrados. Outros entretanto, comem a planta com relativa facilidade e espontaneamente, principalmente quando colhida recentemente.

132 Rev. Fac. Med. Vet. S. Paulo — Vol. 3, fase. 3, 1946

F ig. 1 — Senecio brasüiensis, Less. (in P lantas e substâncias vegetais tóxicas e m edicinais — F . C. Hoehne, 1939)

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D E S C R IÇ Ã O D A P L A N T A

“O senécio é uma planta herbácea, de 1 a 2 m. de altura, perene, ereta, de caule glabro, cilíndrico, geralmente ramoso na parte supe­ rior; suas folhas são alternas, pecioladas, oblongo-deltoideas, de 8 a 12 cm. de comprimento, pinatífidas, com dois a quatro pares de seg­ mentos erectopatentes, inteiros, de 5,5 a 8,5 cm. de comprimento, por 4 a 5 mm. de largura, verdes e glabros na parte superior e tênue- mente alvo-tomentosos no dorso. Os capítulos são heterógamos, radia­ dos densamente corimboso-paniculados, com 40 a 50 flôres, tôdas férteis, sendo as flores do raio femininas, uniseriadas, e as do disco hermafroditas. O envolucro é campanulado, de 8 a 10 mm. de com­ primento e diâmetro, com 15 a 20 bractéas glabras, levemente lan- ceoladas, uniseriadas, unidas na base; o receptáculo é plano nú; as corolas femininas são linguladas, em número de 8 a 12, amarelas, lan- ceoladas, de 2 cm. de comprimento; as do disco são regulares, tubulo- sa, com o vértice do limbo curtamente quinquéfido; anteras com a base íntegra ou com as aurículas curtamente sagitadas; ramos do estilete subcilíndricos, com os vértices dilatados, truncados, apincela- dos. Os aquênios são cilíndricos, glabros, de 3 mm. de comprimento, com papo branco, de cerdas numerosas, moles, de 9 mm. de compri­ mento. O senécio possui chedro aromático, e sabor amargo, fran­ camente adstringente”. (“ Farmacopeia Brasileira”).

P R IN C Í P IO A T IV O

A planta, por tôdas as suas partes, produz intoxicação. Embora existisse nela uma essência, que poderia por si só ser a causa da into­

xicação, procuramos isolar o princípio ativo. Empregamos com essa finalidade o método de Stas-Otto modificado por Ogier e Kohn-Abrest

(Toxicología General).

Obtivemos o alcalóide da planta que deu as reações gerais de grupo com diversos reativos clássicos (Buchardat, Mayer, Popoff e Dragendorff).

Empregando o alcalóide, conseguimos reproduzir a intoxicação como nos casos acidentais.

O B S E R V A Ç Ã O C L ÍN IC A D A IN T O X IC A Ç Ã O A C ID E N T A L

Os cavalos intoxicados apresentavam como sintoma caracterís­ tico principal, icterícia grave, sem que qualquer meio medicamentoso permitisse sua regressão, levando-os inevitavelmente à morte. Como sintomas gerais, há, por vezes, demonstração do síndromo cólica,

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petência, pulso fraco, rápido e irregular, respiração irregular e lenta, baixa de temperatura, astenia muscular e movimentação expontânea

diminuida.

L E S Õ E S A N Á T O M O - P A T O L Ó G IO A S

As lesões anátomo-patológicas encontradas nos cavalos mortos por intoxicação acidental pelo senécio eram perfeitamente iguais às verificadas experimentalmente em cobaias e em camondongos.

Alimentando cobaias com planta fresca total, foi possível deter­ minar a morte de todos os animais (5) do grupo de experiência dentro de 15 dias, podendo-se observar macroscopicamente:

Icterícia, pequenas hemorragias subcutâneas, sangue incoagu- lado, hidropericárdio, hidrotorax, ascite, zonas de congestão em todo o aparelho gastro-intestinal, nefrite hemorrágica, baço hemorrágico e congestão hepática.

Utilizando-nos do alcalóide obtido pelo método citado, conse­ guimos reproduzir, em camondongos, as lesões já encontradas antes nos cavalos e cobaias.

Nas experiências em camondongos, procuramos determinar a dose mínima mortal, exclusivamente para efeito de sobrevida, afim de dar tempo a que as lesões se revelassem tipicamente. Também não havia vantagem de estabelecer a dose por quilo de pêso, pois, o alca­ lóide não é encontrado isolado.

Com a dose de 1 miligrama, havia sobrevida para todos os camondongos injetados (5) por via intraperitoneal.

As primeiras mortes foram constatadas após uma semana, observando-se macroscopicamente as principais lesões já encontradas nos cavalos e nas cobaias. Adiante daremos os resultados do exame anátomo-patológico do departamento competente.

C O M P R O V A Ç Ã O

Existindo a possibilidade de obtermos fàcilmente a planta, foi administrada por dias consecutivos a um cavalo de experiência. A aplicação foi feita pela veia jugular, na dose de 50 enr de extrato fluido, correspondente à mesma quantidade em pêso de planta fresca. A morte sobreveio após a terceira injeção, seguindo-se à necrópsia o consequente exame histo-patológico que vai transcrito adiante.

R E S U L T A D O D E E X A M E H IS T O - P A T O L Ó G IC O "R e g istro : 1.934

Espécie a n im a !: camondongo

Procedência: D r. Gabriel S. T. de Carvalho D a ta de entrada: 12-9-45

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G. S. T. dc C arvalho e G. C. M augé — Senecio brasiliensis 1 3 5

Diagnostico:

R IM : Inchação tu rv a do cpitélio tu b u la r com áreas parciais de necrose. H em orragia intersticial com in filtração de células redondas. F ÍG A D O : Inchação turva, in filtra ção de pequenas células redondas nos espaços

porta com áreas de necrose em foco.

P U L M Ã O : Congestão e hem orragia intra-brônquica com sangue parcialm ente hemolisado.

B A Ç O : H iperplasia da polpa esplência e presença de pigmento hemoside- rótico.

Registro: 2.110

Espécie a n im a l: Equus caballus

Procedência: D r. Gabriel S. T. de C arvalho D ata de E n tr a d a : 26-8-4(5

R IM : Inchação turv a acentuada com necrose de desprendimento do cpitélio tu bular, principalm ente dos túbulos contornados. Congestão glorne- r u la r e raras hemorragias no espaço capsular.

F Í G A D O : Edem a com degeneração hidrópica e adiposoa discreta. Proliferação co njuntiva fibrosa no espaço porta.

P U L M Ã O : Bronco-pneumonia pa ra sita ria com form ação de nódulos.

B A Ç O : Congestão intensa com acentuada hemólise; apagam ento dos folículos. O B S ./: O sangue existente em todos os orgãos encontrava-se hemolisado par­

cialmente.

(a ) E. Martins”

C O N C L U S Õ E S

Das observações experimentais e acidentais é possível, sem causa de êrro, provar que o Senecio brasiliensis, Le s s., pode ser inge­ rido conjuntamente com alimentos verdes ou fenados.

A prática indica haver necessidade de a planta “senécio” ser catada na alimentação quer verde quer fenada.

A intoxicação é mediata, donde existir dificuldade para o diag­ nóstico clínico da intoxicação quando não seja possível a constata­ ção de sua presença na ração.

Há casos de animais que não recusam a planta verde, comen­ do-a voluntàriamente.

Muito gratos ficaríamos aos colegas que fazem clínica si nos proporcionassem possibilidades de contar com suas observações, afim de nos ser permitido avaliar as perdas ocasionadas pela planta cujos efeitos tóxicos estamos estudando.

S U M M A R Y

The author observed occasionálly and experimentally that the “Senecio brasiliensis'', Less. may produce mediate or immediate poisoning in domestic animais, evidenced clinicalhj by jaundice, death occurring in ali cases.

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136 Rev. Pac. Med. Vet. S. Paulo — Vol. 3, fase. 3, 1946

B IB L IO G R A F IA

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155-63

Di a s d a Si l v a, R . A. — 1926 — Pharm acopeia dos Estados U nidos do Brasil. São Paulo, Com panhia E dito ra N acional

He n n i n g, M. W . — 1932 — A n im a l diseases in South A fr ic a : 2. South A frica, Cen­ tra l News Agency Ltd.

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