Blue Sky Cat´
astrofe em Sistemas
Dinˆ
amicos Revers´ıveis e Hamiltonianos
Luiz Fernando da Silva Gouveia-RA:153130
Prof. Dr. Ricardo Miranda Martins
MM805A - 2s/2014
1. Introduc¸˜ao
Antes de estudarmos sobre a teoria em torno do problema do Blue Sky Cat´astrofe (BSC ), devemos primeiro mencionar sobre a teo-ria de Cat´astrofes, idealizada por Ren´e Thom [11], que consiste ”ba-sicamente”em estudar como que pequenas mudan¸cas nos parˆametros iniciais geram comportamentos totalmente distintos
Na teoria de Cat´astrofes, damos um foco maior `as informa¸c˜oes qua-litativas de um fenˆomeno, pois tais informa¸c˜oes nos dir˜ao em quais condi¸c˜oes o mesmo comportamento ocorre em problemas distintos. Logo, ´e natural que essa teoria seja aplicada no estudo de sistemas dinˆamicos.
No nosso trabalho estudaremos sobre o fenˆomeno chamado Blue Sky Cat´astrofe, cuja terminologia foi proposta por R. Abraham, veja [1], em sistemas Hamiltonianos e Revers´ıveis apresentado por Devaney[3] em 1975. Em seu artigo, Devaney mostra que os sistemas Hamiltonia-nos e Revers´ıveis s˜ao um ambiente natural para a ocorrˆencia da BSC , pois suas ´orbitas fechadas permancem na fam´ılia a um parˆametro de ´
orbitas fechadas. Neste trabalho n˜ao apresentaremos nenhum exemplo concreto de um sistema admitindo BSC , no entanto, pode-se encon-trar exemplos em [8] e em [5]. Neste ´ultimo, de autoria de J. Henrard, ´e apresentado um exemplo de um sistema Hamiltoniano de dois graus de liberdade admintindo uma BSC , que se torna interessante por apre-sentar uma infinidade de mudan¸cas de estabilidade ao longo da fam´ılia das ´orbitas fechadas.
Dividiremos o trabalho em Preliminares no qual definiremos o nosso meio de estudo, isto ´e, os sistemas Hamiltonianos e Revers´ıveis e em seguida definiremos alguns conceitos e provaremos alguns resultados j´a
com o intuito de mostrar o nosso resultado principal, ou seja, mostrar que sistemas Hamiltonianos e Revers´ıveis admitem uma BSC est´avel.
2. Preliminares
Defini¸c˜ao 1. Seja H : U ⊆ R2 → R2 uma fun¸c˜ao C2 e ∇H o seu
res-pectivo gradiente. Um campo de vetores Hamiltoniano ´e um campo da forma
XH = J ∇H(x), x ∈ U,
onde J ´e a matriz de alguma forma simpl´etica.
Usualmente define-se campo Hamiltoniano como um campo da forma ˙x = ∂H ∂y(x, y) ˙ y = −∂H ∂x(x, y)
Observa¸c˜ao 2. Uma condi¸c˜ao necess´aria e suficiente para que um sistema
˙x = f (x, y) ˙
y = g(x, y)
seja Hamiltoniano ´e que as fun¸c˜oes f : R2 → R2 e g : R2 → R2
satisfa¸cam
∂f
∂y(x, y) = − ∂g ∂x(x, y)
Note que este crit´erio somente ´e v´alido quando a dimens˜ao do espa¸co ´
e 2 ou quando estamos trabalhando com a forma simpl´etica usual. Uma das principais propriedades de Sistemas Hamiltonianos ´e o seu fluxo preservar volumes, logo as singularidades hiperb´olicas de um sis-tema Hamiltoniano s´o podem ser pontos de sela, pois uma singulari-dade atratora ou repulsora acarretaria na diminui¸c˜ao ou no aumento do volume. A figura abaixo ilustra essas situa¸c˜oes descritas.
Defini¸c˜ao 3. Seja R : U ⊆ Rn → φ(U ) ⊆ Rn um difeomorfismo C∞. Dizemos que φ ´e uma involu¸c˜ao se φ2 = Id
U.
Teorema 4. (Teorema Cartan-Montgomery-Bochner) : Sega G um grupo compacto de difeomorfismos de uma variedade M de classe Ck. Suponha que cada difeomorfismo em G seja de classe de Ck. Ent˜ao
na vizinhan¸ca de um ponto fixo comum a todos os difeomorfismo em G, existe uma vizinhan¸ca de coordenadas de classe Ck tais que cada
um dos difeomorfismo seja linear.
A demonstra¸c˜ao deste teorema pode ser encontrada em [2] ou [7]. Defini¸c˜ao 5. Seja X um campo vetorial em R2n, X(0) = 0 e R : U ⊆
R2n → φ(U ) ⊆ R2n uma involu¸c˜ao com dimF ix(R) = n. Dizemos que X ´e R-revers´ıvel se R0(x)X(x) = −X(R(x)) para todo x ∈ R2n, onde F ix(R) = {x ∈ R2n; R(x) = x}.
Observa¸c˜ao 6. A exigˆencia da involu¸c˜ao R ter fixo com metade da dimens˜ao do espa¸co ´e bem espec´ıfico, pois assim conseguimos garantir que o campo seja compat´ıvel com um campo Hamiltoniano.
Em geral, a hip´otese de R ser difeomorfismo n˜ao ´e obrigat´oria, tal hip´otese ´e assumida apenas para podermos aplicar o Teorema de Cartan-Montgomery-Bochner e consequentemente facilitar os c´alculos. Propriedades 1. a) O retrato de fase de um sistema revers´ıvel ´e sim´etrico com respeito a F ix(R).
Figura 1. Simetria do retrato de fase de um Sistema Revers´ıvel b) Se X(p) = 0, p ∈ F ix(R) ent˜ao p n˜ao ´e atrator ou respulsor. O mesmo vale para ´orbitas peri´odicas que interceptam F ix(R).
c) Se X(p) = 0 e p ∈ F ix(R) ent˜ao X(R(p)) = 0
d) Se uma ´orbita regular γ intercepta F ix(R) em dois pontos distin-tos, ent˜ao γ ´e uma ´orbita peri´odica sim´etrica.
f ) Se γ ´e uma ´orbita peri´odica de X que n˜ao intercepta F ix(R), ent˜ao R(γ) tamb´em ´e uma ´orbita peri´odica que n˜ao intercepta F ix(R).
Figura 2. Propriedades d) e f)
3. Blue Sky Cat´astrofe
Seja Xτ uma fam´ılia de campos vetoriais a um parˆametro
depen-dendo continuamente de um parˆametro real τ . Suponhamos τ < τ0,
e que Xτ possua uma ´orbita peri´odica fechada γτ dependendo
continua-mente tamb´em de τ . Dizemos que Xτ0 admite uma Blue Sky Cat´astrofe se o per´ıodo de γτ tende ao infinito conforme τ se aproxima de τ0.
Como j´a foi dito anteriormente, iremos estudar esse t´ıpico particular de bifurca¸c˜ao em sistemas Hamiltonianos e Revers´ıveis. Para tais sis-temas, as ´orbitas fechadas permanecem sendo fam´ılias a um parˆametro de ´orbitas fechadas.
O objeitvo principal deste trabalho ´e mostrar que a bifurca¸c˜ao do tipo Blue Sky Cat´astrofe ocorre de forma est´avel em sistemas Hamil-tonianos e Revers´ıveis.
4. ´Orbitas Sim´etricos de Sistemas Revers´ıveis
Denotaremos por φt o fluxo de X, que por simplicidade assumiremos
que ´e completo, isto ´e, φt ´e um difeomorfismo para cada t ∈ R. Uma
vez que DR(X) = −X ◦ R, segue que para cada t
(1) φt◦ R = R ◦ φ−t
Defini¸c˜ao 7. Um ponto de equil´ıbrio p de X ´e chamado ponto sim´etrico se p ∈ F ix(R). Uma ´orbita γ de X ´e chamada sim´etrica se R(γ) = γ.
Proposi¸c˜ao 8. Seja X um campo R-revers´ıvel e suponha que p, φt(p) ∈
F ix(R), com t 6= 0. Ent˜ao, a ´orbita atrav´es de p ´e sim´etrica e peri´odica de per´ıodo 2t. Al´em disso, essas ´orbitas interceptam F ix(R) em dois pontos.
Demonstra¸c˜ao: De (1), temos
φt(p) = R(φt(p)) = φ−t(R(p)) = φ−t(p),
isto ´e, φ2t = p.
Para a segunda parte, note que
Rφs(p) = φs(p) ⇐⇒ φ−s(p) = φs(p).
Observa¸c˜ao 9. Note que esta proposi¸c˜ao nos diz que para encontrar-mos ´orbitas peri´odicas, basta olharmos apenas para o conjunto F ix(R), pois se X(p) 6= 0 ent˜ao X n˜ao ´e tangente `a F ix(R) em p. Por outro lado DR(X(p)) = X(p), o que contradiz a reversibilidade do sistema. Logo, para encontrarmos ´orbitas sim´etricas de X, basta olharmos para as auto-interse¸c˜oes de F ix(R) sob o fluxo φt.
Proposi¸c˜ao 10.
1) Seja p um ponto cr´ıtico sim´etrico de X. Ent˜ao, os autovalores de DX(p) aparecem em pares, µ e −µ. Se zero ´e um autovalor ent˜ao ter´a multiplicidade dois.
2) Seja γ uma ´orbita fechada de X. Ent˜ao, os multiplicadores ca-racter´ısticos de γ aparecem em pares λ e −λ. Se +1 ´e multiplicador caracter´ıstico ent˜ao +1 ter´a multiplicidade dois.
Demonstra¸c˜ao:
Iremos demonstrar apenas 1), uma vez que a demonstra¸c˜ao de 2) ´
e an´aloga. Vamos denotar por A a matriz DX(p). Da reversibilidade temos AR = −RA, ou seja, A = −RAR−1 = −RAR. Da´ı,
det(A − λI) = det(−RAR − λI) = det(−(RAR + λI)) = det(A + λI). Dada γ uma ´orbita fechada sim´etrica de X, sejam p e q pontos de γ ∩ F ix(R). Em p e q considere se¸c˜oes transversais R-invariante Σp
e Σq respectivamente com R(Σp) = Σq. Seja agora ψ : Σq → Σp um
difeomorfismo local. Definimos ψ como a Aplica¸c˜ao de Poincar´e obtida atrav´es do fluxo passando por Σq at´e a interse¸c˜ao com Σp
Defini¸c˜ao 11. Uma ´orbita sim´etrica fechada ´e dita elementar se ψ(F ix(R)) ´e transversal `a F ix(R) em p.
Defini¸c˜ao 12. Seja γ uma ´orbita fechada sim´etrica passando por q ∈ F ix(R). Definimos como pseudo aplica¸c˜ao de Poincar´e a fun¸c˜ao
ϕ = Dφ + Dφ−1.
Proposi¸c˜ao 13. Seja γ uma ´orbita fechada sim´etrica de X. Ent˜ao, λ ´
e um multiplicador caracter´ıstico de γ se, e somente se λ + λ−1 ´e um autovalor associado a pseudo aplica¸c˜ao de Poincar´e.
Observa¸c˜ao 14. Esta proposi¸c˜ao nos motra que para determinarmos os multiplicadores caracter´ısticos das ´orbitas, precisamos olhar apenas para os vetores tangentes a F ix(R).
5. ´Orbitas Simpetricas Homocl´ınicas
A partir de agora assumiremos que todo p ´e um ponto de equil´ıbrio hiperb´olico do campo X. As variedades est´aveis e inst´aveis de X em p s˜ao dadas por
WS(p) = {x ∈ R2n; φt(x) → p quando t → ∞}
WU(p) = {x ∈ R2n; φ−t(x) → p quando t → ∞}
Proposi¸c˜ao 15. Seja p um ponto de equilibr´ıo hiperb´olico sim´etrico de X. Ent˜ao,
i) WS(p) e WU(p) s˜ao imers˜oes de espa¸cos euclidianos de dimens˜ao n.
Demonstra¸c˜ao:
O item i) segue da teoria de variedades. O item ii) segue de R( lim
t→∞φt(x)) = limt→∞R(φt(x)) = limt→∞φ−tR(x) = W U(p).
Defini¸c˜ao 16. Uma ´orbita homocl´ınica γ ´e chamada sim´etrica se
i) existe q ∈ γ ∩ F ix(R) e
i) WU(p) ´e transversal a F ix(R) em q.
Defini¸c˜ao 17. Uma ´orbita sim´etrica homocl´ınica γ ´e chamada de n˜ao degenerada se
dim(TγWS(p) ∩ TγWU(p)) = 1.
Antes de enunciarmos o teorema principal deste trabalho, enunciare-mos um importante resultado, conhecido como λ-Lema, que facilitar´a a demonstra¸c˜ao do resultado principal.
Lema 18. (λ-Lema) Seja M uma varieadade compacta C∞sem bordo, p ∈ M um ponto fixo hiperb´olico para o difeomorfismo f ∈ Dif f1(M ). Se D ´e um disco transversal a variedade est´avel WS(p) em um ponto q ∈ WS(p), ent˜ao dado r e reais positivos, existe N0 tal que para
todo n ≥ N0, a componente conexa de fn(D) ∩ Λ(WrU(p)) que cont´em
fn(p) est´a − C1 pr´oximo de WU
R(p), no qual WRU(p) ´e a variedade
inst´avel de p de raio r e Λ(WrU(p)) ´e uma vizinhan¸ca de disntˆancia
de WU r (p).
A demonstra¸c˜ao deste resultado pode ser encontrada em [4] ou [9]
Teorema 19. Seja γ uma ´orbita homocl´ınica n˜ao degenerada (sim´etrica) do campo X. Ent˜ao, existe uma fam´ılia de ´orbitas fechadas γτ a um
parˆametro convergindo a γ. Al´em disso, o parˆametro τ > t pode ser tomado como o per´ıodo das ´orbitas fechadas e assim, teremos o per´ıodo tendendo ao infinito quando γτ tende `a γ.
Demonstra¸c˜ao:
Seja q um ponto de interse¸c˜ao de γ com F ix(R) e N uma vizinhan¸ca de q em F ix(R). Assim, segue que N ´e transversal a WS(p) em q.
Seja V uma vizinhan¸ca de p na variedade local em p. Note que V intercepta F ix(R) transversalmente em p. Assim, toda vizinhan¸ca su-ficientemente C1-pr´oxima `a V intercepta F ix(R) em um ´unico ponto
pr´oximo a p.
Considere agora φt(N ) para t > 0. Pelo λ-Lema, φt(N ) se acumula
em WU(p). Em particular, dado > 0, existe T > 0 tal que, se t > T , ent˜ao φt(N ) cont´em uma vizinhan¸ca Nt C1-fechada a V . Logo,
Nt∩ F ix(R) ´e um ´unico ponto xt. Tome ent˜ao γt a ´orbita passando por
xt. Como φ−t(xt) ∈ N , segue da proposi¸c˜ao (8) que γt ´e uma ´orbita
fechada sim´etrica. Assim, quando → 0, a fam´ılia {φ−t(xt)} → q e
t → ∞. Portanto, γt → γ.
6. Conclus˜ao
Ap´os todo esse novo estudo, fica claro que podemos concluir que existe uma vizinhan¸ca O de sistemas Hamiltonianos e Revers´ıveis sa-tisfazendo que cada campo vetorial em O admite uma Blue Sky Cat´astrofe est´avel, isto ´e, que n˜ao pode ser perturbada.
Referˆencias
[1] Abraham, R., In fifty problems in dynamical systems, Dynamical Systems-Warwick, 1974, Springer-Verlag Lecture Notes, No 468, 1975.
[2] Bochner, S., Compact Groups of Differentiable Transformation, The Annals of Mathematics, 2nd Ser., Vol. 46, No. 3. (Jul., 1945), pp. 372-381.
[3] Devaney, R., Blue Sky Catastrophes in Reversible and Hamiltonian Systems, Tufts University, 1975
[4] Filho, J.R.A.V., Dinˆamica Hiperb´olica e Teoria Erg´odica, Notas, IMPA. [5] Henrard, J., Proof of a Conjecture of E. Stromgrem , Celestial Mechanisc
7,1973,449-457.
[6] Martins, R. M., A Estrutura Hamiltoniana do Campos Revers´ıveis 4D, Dis-serta¸c˜ao de Mestrado, Unicamp, 2008.
[7] Montgomery, D., Zippin, L., Topological Transformations Groups, Intersci-ence, 1995.
[8] Gavrilov, N., Shilnikov, A., Example of a Blue Sky Catastrophe, Amer. Math. Soc. Transl. (2) Vol. 200, 2000
[9] Palis, J, On Morse-Smale dynamical systems, Topology 8,1969, 385-404. [10] Sotomayor, J., Singularidades de Aplica¸c˜oes Diferenci´aveis, IMPA, 1976. [11] Thom, R., Structural stability and morphogenesis (Transl. D. H. Fowler)