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Informativo comentado: Informativo 678-STJ Márcio André Lopes Cavalcante

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Informativo comentado:

Informativo 678-STJ

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

▪ A determinação judicial para identificação dos usuários que operaram em determinada área geográfica,

suficientemente fundamentada, não ofende a proteção à privacidade e à intimidade.

DIREITO ADMINISTRATIVO

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

▪ Mesmo que o ato de improbidade tenha sido praticado em mandato anterior, se o indivíduo for condenado, a

suspensão dos direitos políticos pode ser aplicada para que ele perca o mandato atual.

DIREITO AMBIENTAL

OUTROS TEMAS

▪ É vedada a captação de água subterrânea para uso de núcleos residenciais, ▪ sem que haja prévia outorga e autorização ambiental do Poder Público DIREITO CIVIL

LOCAÇÃO COMERCIAL

▪ Em ação revisional de contrato de locação comercial, o reajuste do aluguel deve refletir o valor patrimonial do

imóvel locado, considerando, inclusive, em seu cálculo, as benfeitorias e acessões realizadas pelo locatário com autorização do locador.

RESPONSABILIDADE CIVIL E INTERNET

▪ Poder Judiciário pode obrigar empresa responsável pela rede social a fornecer os dados de todos os usuários que

acessaram determinado perfil dessa rede social em determinado intervalo de tempo. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

▪ O deferimento da busca e apreensão não autoriza o juiz a extinguir contrato de alienação fiduciária sem pedido do

credor.

DIREITO DO CONSUMIDOR

VÍCIO DO PRODUTO

▪ Dever do comerciante de receber e enviar os aparelhos viciados para a assistência técnica ou para o fabricante.

DANO MORAL COLETIVO

▪ A exploração de jogo de azar ilegal configura, em si mesma, dano moral coletivo. DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

REGISTRO DE IMÓVEIS

▪ O cancelamento do registro do loteamento pode ser requerido pelo loteador, ou quem por ele se sub-rogou, vedada

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Informativo

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DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATOS BANCÁRIOS

▪ O teto cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) se aplica ao montante total do fundo instituído por

concessionárias, não à quota-parte devida a cada associado. CONTRATO DE SHOPPING CENTER

▪ É possível a inclusão de valor relativo a honorários advocatícios contratuais previamente ajustados pelas partes na

execução de contrato de locação de espaço em shopping center. FALÊNCIA

▪ O redirecionamento da execução fiscal contra os sócios prescinde do trânsito em julgado da sentença penal

condenatória em crime falimentar.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

ADOÇÃO

▪ A redação literal do ECA proíbe a adoção avoenga (adoção do neto pelos avós); no entanto, o STJ admite que isso

ocorra em situações excepcionais.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO

▪ Técnica do julgamento ampliado também pode ser aplicada a embargos de declaração opostos contra acórdão que

julgou apelação, desde que cumpridos os demais requisitos do art. 942 do CPC. EXECUÇÃO FISCAL

▪ Redirecionamento da execução fiscal para cobrança de créditos tributários à incorporadora sem alteração da CDA

em caso de sucessão empresarial não oportunamente informada ao fisco.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

IMPEDIMENTO / SUSPEIÇÃO

▪ Ministro do STJ que apreciou o recurso especial pode, posteriormente, participar do julgamento do outro recurso

especial decorrente da revisão criminal. PROVAS

▪ Falta de mandado não invalida busca e apreensão em apartamento desabitado.

▪ A determinação judicial para identificação dos usuários que operaram em determinada área geográfica,

suficientemente fundamentada, não ofende a proteção à privacidade e à intimidade. EXECUÇÃO PENAL

▪ O requisito “não ter integrado organização criminosa” previsto no inciso V do § 3º do art. 112 da LEP (progressão

da mulher gestante, mãe/responsável por pessoa com deficiência), deve levar em consideração a definição de organização criminosa da Lei nº 12.850/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IMPOSTO DE RENDA

▪ Não incide imposto de renda sobre o valor recebido a título de ajuda compensatória mensal prevista no art. 476-A

da CLT (lay-off). IMPOSTO DE RENDA

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Informativo

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DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

A determinação judicial para identificação dos usuários que operaram em determinada área

geográfica, suficientemente fundamentada, não ofende a proteção à privacidade e à intimidade

A quebra do sigilo de dados armazenados não obriga a autoridade judiciária a indicar previamente as pessoas que estão sendo investigadas, até porque o objetivo precípuo dessa medida é justamente de proporcionar a identificação do usuário do serviço ou do terminal utilizado.

Logo, a ordem judicial para quebra do sigilo dos registros, delimitada por parâmetros de pesquisa em determinada região e por período de tempo, não se mostra medida desproporcional, porquanto, tendo como norte a apuração de gravíssimos crimes, não impõe risco desmedido à privacidade e à intimidade dos usuários possivelmente atingidos por tal diligência.

STJ. 3ª Seção. RMS 61.302-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/08/2020 (Info 678).

Veja comentários em Direito Processual Penal.

DIREITO ADMINISTRATIVO

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Mesmo que o ato de improbidade tenha sido praticado em mandato anterior, se o indivíduo for

condenado, a suspensão dos direitos políticos pode ser aplicada para que ele perca o mandato atual

Importante!!! Pacificou!!!

A pena de suspensão dos direitos políticos por ato de improbidade administrativa alcança qualquer mandato eletivo que esteja sendo ocupado à época do trânsito em julgado da condenação.

Uma vez que o pleno exercício dos direitos políticos é pressuposto para o exercício da atividade parlamentar, determinada a suspensão de tais direitos, é evidente que essa suspensão alcança qualquer mandato eletivo que esteja sendo ocupado à época do trânsito em julgado da sentença condenatória. É descabido restringir a aludida suspensão ao mandato que serviu de instrumento para a prática da conduta ilícita.

Diante do escopo da Lei de Improbidade Administrativa de extirpar da Administração Pública os condenados por atos ímprobos, a suspensão dos direitos políticos abrange qualquer atividade que o agente esteja exercendo ao tempo da condenação irrecorrível pelo tempo que imposta a pena.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.813.255-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/03/2020 (Info 678). STJ. EREsp 1701967/RS, Rel. para acórdão Min. Francisco Falcão, julgado em 09/09/2020.

Improbidade administrativa Improbidade administrativa é...

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Informativo

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- com ou sem a participação de um particular, - e que gera enriquecimento ilícito,

- causa prejuízo ao erário ou

- atenta contra os princípios da Administração Pública.

Previsão constitucional

Existem quatro dispositivos na CF/88 que versam sobre o tema: art. 14, § 9º; art. 15, V; art. 37, § 4º; art. 85, V. Deve-se mencionar ainda o art. 97, § 10, III, do ADCT.

Para fins de direito administrativo, a previsão mais importante é a do art. 37, § 4º: Art. 37 (...)

§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Sanções decorrentes do ato de improbidade administrativa previstas na Lei

A Lei nº 8.429/92 disciplina os aspectos materiais e processuais decorrentes do ato de improbidade administrativa.

Esta Lei prevê, em seu art. 12, que o indivíduo condenado por ato de improbidade administrativa estará sujeito às seguintes cominações:

• perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio; • perda da função pública;

• suspensão dos direitos políticos;

• proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios; • proibição de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios; • multa civil;

• ressarcimento integral do dano (obs: tecnicamente, não é uma sanção, mas apenas uma consequência do ato).

Veja a redação do art. 12:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

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Informativo

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IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito) anos e multa civil de até 3 (três) vezes o valor do benefício financeiro ou tributário concedido.

A Lei nº 8.429/92 poderia prever outras sanções além daquelas fixadas no art. 37, § 4º da CF/88? SIM. O rol de sanções trazido pelo § 4º do art. 37 da CF/88 é exemplificativo. Desse modo, é constitucional a ampliação das sanções realizada pela Lei nº 8.429/92.

Sanções dependem do tipo de ato de improbidade

Vale ressaltar que as sanções aplicadas irão variar de acordo com o tipo de ato de improbidade administrativa que foi praticado.

Assim, por exemplo, se o agente foi condenado pelo art. 9º da Lei de Improbidade, terá seus direitos políticos suspensos pelo prazo de 8 a 10 anos. Por outro lado, se praticou o art. 10 ou art. 10-A da Lei, essa suspensão será de 5 a 8 anos. Por fim, no caso do art. 11, a suspensão será de 3 a 5 anos.

O juiz é obrigado a aplicar todas as sanções previstas para o tipo?

NÃO. Não se exige que todas as sanções sejam aplicadas cumulativamente. É possível a incidência cumulativa ou isolada das sanções. Essa opção dependerá da gravidade do fato e da extensão do dano causado. É a conclusão que se extrai da redação do art. 12:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:

(...)

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

Esse é também o entendimento do STJ:

Cada inciso do art. 12 da Lei 8.429/1992 traz uma pluralidade de sanções, que podem ser aplicadas cumulativamente ou não.

STJ. 2ª Turma. REsp 1280973/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 17/12/2013.

Assim, o magistrado não está obrigado a aplicar cumulativamente todas as penas previstas no art. 12 da Lei nº 8.429/92, podendo, mediante adequada fundamentação, fixá-las e dosá-las segundo a natureza, a gravidade e as consequências da infração (STJ. 2ª Turma. REsp 1134461/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 03/08/2010).

Pode o magistrado aplicar um sistema misto de sanções, utilizando-se de mais de um inciso do rol do art. 12 da LIA?

NÃO. Cada inciso do art. 12 da Lei refere-se a uma hipótese de improbidade administrativa, não tendo a lei autorizado que o juiz faça uma combinação de sanções.

O juiz pode aplicar uma sanção abaixo ou acima dos patamares legais? Ex: o art. 12, III, prevê que, no caso do ato de improbidade do art. 11, a suspensão dos direitos políticos é de 3 a 5 anos. Pode o magistrado fixar a suspensão em 1 ano, por exemplo?

NÃO. A sanção deverá obedecer aos parâmetros previstos na lei. Nesse sentido: STJ. 2ª Turma. REsp 1.582.014-CE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/4/2016 (Info 581).

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Perda da função pública

Conforme vimos acima, uma das sanções que podem ser cominadas ao sujeito condenado por ato de improbidade administrativa consiste na “perda da função pública”.

Extensão do termo “função pública”

Quando a Lei fala em “função pública”, isso deve ser interpretado de forma bem ampla, abrangendo servidores públicos estatutários, servidores ocupantes de cargo em comissão, empregados públicos, titulares de mandato eletivo etc.

O que acontece se, no momento do trânsito em julgado, o condenado ocupa cargo diferente daquele que exercia na prática do ato? Se o agente público tiver mudado de cargo, ele poderá perder aquele que atualmente ocupa? Ex: em 2012, João, na época policial federal, praticou um ato de improbidade administrativa; o MP ajuizou ação de improbidade contra ele; em 2018, a sentença transitou em julgado condenando João à perda da função pública; ocorre que João é atualmente Defensor Público; ele perderá o cargo de Defensor?

SIM.

O agente perde a função pública que estiver ocupando no momento do trânsito em julgado, ainda que seja diferente daquela que ocupava no momento da prática do ato de improbidade.

A penalidade de perda da função pública imposta em ação de improbidade administrativa atinge tanto o cargo que o infrator ocupava quando praticou a conduta ímproba quanto qualquer outro que esteja ocupando ao tempo do trânsito em julgado da sentença condenatória.

A sanção de perda da função pública visa a extirpar da Administração Pública aquele que exibiu inidoneidade (ou inabilitação) moral e desvio ético para o exercício da função pública, abrangendo qualquer atividade que o agente esteja exercendo no momento do trânsito em julgado da condenação. STJ. EREsp 1701967/RS, Rel. para acórdão Min. Francisco Falcão, julgado em 09/09/2020.

A pena de suspensão dos direitos políticos por ato de improbidade administrativa alcança qualquer mandato eletivo que esteja sendo ocupado à época do trânsito em julgado da condenação.

Uma vez que o pleno exercício dos direitos políticos é pressuposto para o exercício da atividade parlamentar, determinada a suspensão de tais direitos, é evidente que essa suspensão alcança qualquer mandato eletivo que esteja sendo ocupado à época do trânsito em julgado da sentença condenatória. É descabido restringir a aludida suspensão ao mandato que serviu de instrumento para a prática da conduta ilícita.

Diante do escopo da Lei de Improbidade Administrativa de extirpar da Administração Pública os condenados por atos ímprobos, a suspensão dos direitos políticos abrange qualquer atividade que o agente esteja exercendo ao tempo da condenação irrecorrível pelo tempo que imposta a pena.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.813.255-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/03/2020 (Info 678).

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DIREITO AMBIENTAL

OUTROS TEMAS

É vedada a captação de água subterrânea para uso de núcleos residenciais,

sem que haja prévia outorga e autorização ambiental do Poder Público

Importante!!!

A Lei nº 9.433/97 (Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos) e a Lei nº 11.445/2007 (Lei do Saneamento Básico) preveem, de forma expressa, categórica e inafastável que é proibida a captação de água subterrânea para uso de núcleos residenciais, sem que haja prévia outorga e autorização ambiental do Poder Público.

As normas locais devem respeitar essa regra geral fixada pela legislação federal, sob pena de serem inconstitucionais.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.335.535-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/09/2018 (Info 678).

É muito comum que condomínios “furem” poços artesianos para captação de água a ser utilizada pelos moradores. É necessária autorização do Poder Público para a realização dessa prática?

SIM.

A Lei nº 9.433/97 (Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos) e a Lei nº 11.445/2007 (Lei do Saneamento Básico) preveem, de forma expressa, categórica e inafastável que é proibida a captação de água subterrânea para uso de núcleos residenciais, sem que haja prévia outorga e autorização ambiental do Poder Público. Confira os textos legais:

Lei nº 9.433/97

Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos:

(...)

II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo;

Lei nº 11.445/2007

Art. 45. As edificações permanentes urbanas serão conectadas às redes públicas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário disponíveis e sujeitas ao pagamento de taxas, tarifas e outros preços públicos decorrentes da disponibilização e da manutenção da infraestrutura e do uso desses serviços. (Redação pela Lei nº 14.026, de 2020)

§ 1º Na ausência de redes públicas de saneamento básico, serão admitidas soluções individuais de abastecimento de água e de afastamento e destinação final dos esgotos sanitários, observadas as normas editadas pela entidade reguladora e pelos órgãos responsáveis pelas políticas ambiental, sanitária e de recursos hídricos.

§ 2º A instalação hidráulica predial ligada à rede pública de abastecimento de água não poderá ser também alimentada por outras fontes.

(...)

§ 11. As edificações para uso não residencial ou condomínios regidos pela Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964, poderão utilizar-se de fontes e métodos alternativos de abastecimento de água, incluindo águas subterrâneas, de reúso ou pluviais, desde que autorizados pelo órgão gestor competente e que promovam o pagamento pelo uso de recursos hídricos, quando devido. (Incluído pela Lei nº 14.026/2020)

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Informativo

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A exigência legal se justifica pelo fato de que a água é um bem escasso, recurso natural limitado, de domínio público e de expressivo valor econômico.

Mas e se a lei estadual, distrital ou municipal autorizar, de forma genérica, a perfuração de poços artesianos, sem exigência de autorização específica?

Essa lei será inconstitucional.

Compete privativamente à União legislar sobre águas (art. 22, IV, da CF/88).

A União, no exercício dessa competência, editou a Lei nº 9.433/97 e a Lei nº 11.445/2007, que exigem a autorização mencionada como forma de garantir a disponibilidade e a qualidade da água.

O STF afirma que os Municípios podem editar leis ambientais quando relacionadas ao interesse local, mas desse que não diminuam a proteção já conferida pela legislação federal:

O Município é competente para legislar sobre meio ambiente com União e Estado, no limite de seu interesse local e desde que tal regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c 30, I e II, da CRFB).

STF. Plenário. RE 586.224, Rel. Min. Luiz Fux, DJE de 8/5/2015 (Repercussão Geral – Tema 145.

O federalismo hídrico-ambiental brasileiro admite a coexistência de normas editadas pelos diversos entes políticos, desde que guardem sintonia com o prevalente regramento federal de caráter geral, vedado o enfraquecimento ou a redução pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do patamar nacional de salvaguarda das águas de superfície e subterrâneas.

Em suma:

A Lei nº 9.433/97 (Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos) e a Lei nº 11.445/2007 (Lei do Saneamento Básico) preveem, de forma expressa, categórica e inafastável que é proibida a captação de água subterrânea para uso de núcleos residenciais, sem que haja prévia outorga e autorização ambiental do Poder Público.

As normas locais devem respeitar essa regra geral fixada pela legislação federal, sob pena de serem inconstitucionais.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.335.535-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/09/2018 (Info 678).

DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL E INTERNET

Poder Judiciário pode obrigar empresa responsável pela rede social a fornecer os dados de todos os

usuários que acessaram determinado perfil dessa rede social em determinado intervalo de tempo

Importante!!!

Caso concreto: um casal publicou, de livre e espontânea vontade, fotos e vídeos em uma rede social adulta voltada para swing, chamada “Sexlog”. Esse material foi indevidamente capturado por algum usuário da rede e distribuído por WhatsApp.

O casal ajuizou ação contra a empresa responsável pela rede pedindo para que ela fornecesse os dados de todos os usuários que acessaram o perfil dos requerentes no período compreendido entre janeiro e abril de 2017.

O pedido do casal pode ser acolhido? A empresa responsável pela rede tem a obrigação de fornecer esses dados?

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Art. 15. O provedor de aplicações de internet constituído na forma de pessoa jurídica e que exerça essa atividade de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos deverá manter os respectivos registros de acesso a aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses, nos termos do regulamento.

Diante da obrigação legal de guarda de registros de acesso a aplicações de internet, não há como afastar a possibilidade jurídica de obrigar os provedores de aplicação ao fornecimento dessas informações (quais usuários acessaram um perfil na rede social num período), considerando que se trata de mero desdobramento dessas obrigações.

Em suma: é juridicamente possível obrigar os provedores de aplicação ao fornecimento de IPs e de dados cadastrais de usuários que acessaram perfil de rede social em um determinado período de tempo.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.651-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/08/2020 (Info 678).

A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte:

Um casal publicou, de livre e espontânea vontade, fotos e vídeos seus, em poses eróticas, em uma rede social adulta voltada para swing (troca de casais), chamada “Sexlog”.

Esse material, contudo, foi indevidamente capturado (“printado”) por algum usuário da rede e distribuído por WhatsApp.

O casal ajuizou, em maio de 2017, ação contra a empresa responsável pela rede social pedindo para que ela fornecesse os dados de todos os usuários que acessaram o perfil dos requerentes no período compreendido entre janeiro e abril de 2017.

O pedido do casal pode ser acolhido? A empresa responsável pela rede tem a obrigação de fornecer esses dados?

SIM.

O art. 15 da Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) prevê:

Art. 15. O provedor de aplicações de internet constituído na forma de pessoa jurídica e que exerça essa atividade de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos deverá manter os respectivos registros de acesso a aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses, nos termos do regulamento.

Provedor de aplicações de internet (PAI)

Provedor de aplicações de internet é todo aquele que oferece um conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à internet. Exs: Facebook, Instagram, Twitter.

Os provedores de aplicações de internet são obrigados a manterem consigo, por um determinado período, um conjunto de informações, normalmente denominadas de “obrigações de guarda de registro”.

No Marco Civil da Internet, há duas categorias de dados que devem ser obrigatoriamente armazenados: a) os registros de conexão; e

b) os registros de acesso à aplicação.

A previsão legal para guarda desses dados objetiva facilitar a identificação de usuários da internet pelas autoridades competentes e mediante ordem judicial, porque a responsabilização dos usuários é um dos princípios do uso da internet no Brasil, conforme o art. 3º, VI, da mencionada lei.

Além disso, o STJ firmou entendimento de que as prestadoras de serviço de internet, como as demais empresas, estão sujeitas a um dever legal de escrituração e registro de suas atividades durante o prazo prescricional de eventual ação de reparação civil, dever que tem origem no art. 10 do Código Comercial de 1850, e atualmente encontra-se previsto no art. 1.194 do Código Civil:

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Informativo

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Art. 1.194. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados.

Nesse sentido:

Reconhecimento pela jurisprudência de um dever jurídico dos provedores de acesso de armazenar dados cadastrais de seus usuários durante o prazo de prescrição de eventual ação de reparação civil.

STJ. 3ª Turma. REsp 1622483/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 15/05/2018.

Conjugando esse dever de escrituração e registro com a vedação constitucional ao anonimato, nos termos do art. 5º, IV, da CF/1988, os provedores de acesso à internet devem armazenar dados suficientes para a identificação do usuário.

Assim, diante da obrigação legal de guarda de registros de acesso a aplicações de internet e o dever de escrituração reconhecido por este STJ, não há como afastar a possibilidade jurídica de obrigar os provedores de aplicação ao fornecimento da informação em discussão - quais usuários acessaram um perfil na rede social num período - por se tratar de mero desdobramento dessas obrigações.

Em suma:

É juridicamente possível obrigar os provedores de aplicação ao fornecimento de IPs e de dados cadastrais de usuários que acessaram perfil de rede social em um determinado período de tempo.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.651-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/08/2020 (Info 678).

LOCAÇÃO COMERCIAL

Em ação revisional de contrato de locação comercial, o reajuste do aluguel deve refletir o valor

patrimonial do imóvel locado, considerando, inclusive, em seu cálculo, as benfeitorias e

acessões realizadas pelo locatário com autorização do locador

Importante!!!

A ação revisional é destinada para as hipóteses em que não há acordo entre locador e locatário sobre o valor do aluguel.

Com base na autonomia privada, nada impede que as partes contratantes (locador e locatário) se ajustem sobre:

i) os gastos relativos à acessão sejam descontados do valor do aluguel por determinado tempo; ii) a acessão seja realizada por investimento exclusivo de uma das partes com a correspondente indenização ao final do contrato, seja pelo locador, seja pelo locatário; iii) a acessão seja custeada por apenas uma parte, renunciando-se à indenização correspondente ao investimento.

Contudo, se não houver consenso entre as partes, em sede de ação revisional de locação comercial, o novo aluguel deve refletir o valor patrimonial do imóvel locado, inclusive decorrente de benfeitorias e acessões nele realizadas pelo locatário, pois estas incorporam-se ao domínio do locador, proprietário do bem.

STJ. Corte Especial. EREsp 1.411.420-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/06/2020 (Info 678).

Imagine a seguinte situação hipotética:

A empresa “A” era proprietária do imóvel “X”, que estava alugada para a empresa “B”.

O contrato de locação tinha vigência de 10 anos (iniciou em março/2015 e só terminaria em março/2025). O valor do aluguel era o mesmo desde o início da vigência do contrato e a locatária não aceitava reajustá-lo.

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Informativo

comentado

Diante disso, em 2019, a empresa “A”, ajuizou ação revisional de aluguel objetivando readequar o valor do contrato, que estava defasado.

O pedido da autora foi baseado no art. 19 da Lei nº 8.245/91:

Art. 19. Não havendo acordo, o locador ou locatário, após três anos de vigência do contrato ou do acordo anteriormente realizado, poderão pedir revisão judicial do aluguel, a fim de ajustá-lo ao preço de mercado.

O art. 19 da Lei nº 8.245/91, ao regular a possibilidade de revisão judicial do aluguel avençado, a fim de ajustá-lo ao preço de mercado, “consagrou a adoção da teoria da imprevisão no âmbito do Direito Locatício, oferecendo às partes contratantes um instrumento jurídico para a manutenção do equilíbrio econômico do contrato” (AgRg no REsp nº 1.206.723/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de 11/10/2012). Vale ressaltar que o valor do aluguel era de R$ 60 mil e a autora queria fixá-lo em R$ 300 mil.

O argumento da autora (locadora) foi o de que, quando o imóvel foi alugado, ele era praticamente um terreno sem edificações. Ocorre que, ao longo desses 3 anos, foram realizadas benfeitorias e acessões no imóvel, que o valorizaram imensamente. Logo, o valor patrimonial do imóvel locado aumentou muito.

Acessão

A acessão é um modo originário de aquisição da propriedade, em virtude da qual fica pertencendo ao titular tudo quanto se une ou se incorpora ao bem.

A acessão pode ocorrer de duas modalidades:

a) a natural, que se dá quando a união ou incorporação advém de acontecimentos da natureza, como a formação de ilhas, o aluvião, a avulsão e o abandono de álveo; e

b) a artificial, resultante do trabalho do homem, como no caso das construções e plantações.

Contestação

A ré (empresa “B”) refutou os argumentos afirmando que essas benfeitorias e acessões foram feitas por ela (locatária), com autorização da locadora. Logo, não deveria incidir no cálculo do novo valor do aluguel.

O STJ acolheu o argumento da locatária ou da locadora? A ação revisional de contrato de locação autoriza o ajuste do valor do aluguel, considerando em seu cálculo eventual acessão realizada pelo locatário, com autorização do locador?

SIM. O STJ acolheu a tese defendida pela empresa locadora do imóvel.

O art. 19 da Lei nº 8.245/91 dispõe que locador ou locatário poderão pedir revisão judicial do aluguel, a fim de ajustá-lo ao preço de mercado.

A interpretação desse dispositivo não se limita aos elementos externos do contrato, tais como o desenvolvimento da região em que se localiza o imóvel.

Para a preservação do equilíbrio contratual por intervenção judicial, é imprescindível levar em conta todas as circunstâncias capazes de afetar o preço de mercado imobiliário. Em vários casos será necessário, inclusive, recorrer à perícia para se determinar esse preço.

Existe razão para se aumentar o aluguel em caso de valorização do imóvel decorrente de nova edificação. O ajustamento do aluguel ao preço de mercado está diretamente relacionado às acessões operadas na vigência do contrato.

Se o investimento para a edificação no imóvel ocorreu por conta do locatário, com o consentimento do locador (como foi no caso concreto), significa dizer que, por sua livre manifestação de vontade, aceitou realizar as obras no terreno alheio.

A hipótese de que apenas quando o investimento é realizado por conta e risco do locador estaria autorizada a majoração do aluguel limita demais as relações privadas de locação.

Vale relembrar que, juridicamente, a acessão se incorpora ao imóvel. Logo, como o imóvel é do locador, a acessão passa a pertencer a ele.

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Os investimentos necessários à acessão podem correr por conta do locador ou do locatário. Isso deve ser ajustado entre as partes. Caso o locatário assuma o investimento e não haja qualquer disposição contratual em sentido contrário, deve-se entender que essa acessão passará a ser calculada para fins de preço do aluguel do imóvel.

Em suma:

Se não houver consenso entre as partes, em sede de ação revisional de locação comercial, o novo aluguel deve refletir o valor patrimonial do imóvel locado, inclusive decorrente de benfeitorias e acessões nele realizadas pelo locatário, pois estas incorporam-se ao domínio do locador, proprietário do bem.

STJ. Corte Especial. EREsp 1.411.420-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/06/2020 (Info 678).

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

O deferimento da busca e apreensão não autoriza o juiz a extinguir contrato de alienação

fiduciária sem pedido do credor

O contrato de alienação fiduciária em garantia de bem móvel não se extingue somente por força da consolidação da propriedade em nome do credor fiduciário.

A reversão da propriedade plena (consolidação) em favor do credor fiduciário (banco) constitui apenas uma etapa da execução do contrato, não pondo fim a ele.

O julgamento extra petita está configurado quando o magistrado concede prestação jurisdicional diversa da pleiteada na inicial.

No caso concreto, mesmo sem pedido de rescisão do contrato de alienação fiduciária, a sentença reconheceu extinta a relação contratual, sendo, portanto, considerada extra petita. Há julgamento extra petita na hipótese em que, julgado procedente o pedido de busca e apreensão de bem alienado fiduciariamente, o juiz, sem o requerimento expresso do autor, extingue o contrato firmado entre o devedor fiduciante e o credor fiduciário.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.779.751-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/06/2020 (Info 678).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João comprou um carro mediante alienação fiduciária em 60 parcelas.

João ficará andando no veículo, mas a propriedade resolúvel é do Banco que lhe emprestou o dinheiro. Quando o adquirente terminar de pagar as prestações do mútuo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a João.

Inadimplemento

Ocorre que João passou a atrasar o pagamento das prestações

Diante disso, o banco credor fez a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a mora, nos termos da Súmula 72 do STJ:

Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.

Busca e apreensão

Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) ingressou com ação de busca e apreensão requerendo que lhe fosse entregue o bem (art. 3º do DL 911/69).

O juiz concedeu a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), conforme determina o art. 3º do DL 911/69.

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Sentença

O bem foi apreendido e entregue ao banco. O devedor apresentou resposta.

Em seguida, o magistrado julgou procedente o pedido para “declarar rescindido o contrato firmado entre as partes e consolidar nas mãos da parte autora a posse e o domínio do bem alienado fiduciariamente objeto do contrato que instrui a petição inicial”.

Recurso

O banco recorreu alegando que o magistrado não poderia ter rescindido o contrato de alienação fiduciária em garantia, visto que isso não foi postulado na inicial.

O recurso do banco foi provido? A sentença foi realmente extra petita? SIM.

O deferimento da busca e apreensão não autoriza o juiz a extinguir contrato de alienação fiduciária sem pedido do credor.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.779.751-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/06/2020 (Info 678).

O contrato de alienação fiduciária em garantia de bem móvel não se extingue somente por força da consolidação da propriedade em nome do credor fiduciário.

A reversão da propriedade plena (consolidação) em favor do credor fiduciário (banco) constitui apenas uma etapa da execução do contrato, não pondo fim a ele.

No caso concreto, mesmo sem pedido de rescisão do contrato de alienação fiduciária, a sentença reconheceu extinta a relação contratual, sendo, portanto, considerada extra petita.

Há julgamento extra petita na hipótese em que, julgado procedente o pedido de busca e apreensão de bem alienado fiduciariamente, o juiz, sem o requerimento expresso do autor, extingue o contrato firmado entre o devedor fiduciante e o credor fiduciário.

Venda do bem

Importante esclarecer, por fim, que, se houve o inadimplemento ou mora e o bem foi apreendido, o credor (proprietário fiduciário) poderá vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista no contrato (art. 2º do DL 911/69).

O preço da venda, isto é, o valor apurado com a alienação, deverá ser utilizado para pagar os débitos do devedor para com o credor e também para custear as despesas decorrentes da cobrança dessa dívida. Se, após o pagamento da dívida, ainda sobrar dinheiro, esse saldo apurado deverá ser entregue ao devedor.

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DIREITO DO CONSUMIDOR

VÍCIO DO PRODUTO

Dever do comerciante de receber e enviar os aparelhos

viciados para a assistência técnica ou para o fabricante

O comerciante tem o dever de receber do consumidor o aparelho que esteja viciado (“defeituoso”) com o objetivo de encaminhá-lo à assistência técnica para conserto?

Sim. O comerciante tem a obrigação de intermediar a reparação ou a substituição de produtos nele adquiridos e que apresentem defeitos de fabricação (vício oculto de inadequação), com a coleta em suas lojas e remessa ao fabricante e posterior devolução.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.568.938-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 25/08/2020 (Info 678).

Ainda sobre o tema:

Cabe ao consumidor a escolha para exercer seu direito de ter sanado o vício do produto em 30 dias - levar o produto ao comerciante, à assistência técnica ou diretamente ao fabricante.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.851-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/09/2017 (Info 619).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João comprou um aparelho celular Samsung na loja “Ponto Frio” no shopping. Dois meses depois, o som do aparelho não funcionava mais.

Neste caso, João tem o direito de exigir que consertem o produto adquirido no prazo de 30 dias.

Se o produto não for consertado nesse prazo, o consumidor pode exigir a substituição da mercadoria, a devolução do dinheiro ou o abatimento proporcional do preço.

Isso encontra-se previsto no art. 18, § 1º do CDC:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

§ 1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço. Voltando ao caso concreto:

João viu na internet que a assistência técnica da Samsung era no centro, o que era longe da sua casa. Diante disso, João voltou ao Ponto Frio e exigiu que ela recebesse o aparelho e o consertasse. A loja afirmou que João deveria levar o celular diretamente para a assistência técnica da Samsung. A loja está correta ao agir assim?

NÃO.

Responsabilidade solidária

Há responsabilidade solidária de toda a cadeia de fornecimento pela garantia de qualidade e adequação do produto perante o consumidor:

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Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

Essa solidariedade de que trata o art. 18 do CDC impõe ao comerciante a obrigação de coletar e reparar os produtos nele adquiridos e que apresentem defeitos de fabricação (vício oculto de inadequação). Assim, o consumidor poderá optar por levar o aparelho à loja, à assistência técnica ou diretamente ao fabricante (os fornecedores do caput do art. 18), sendo que qualquer deles terá até 30 dias para efetuar o conserto.

Todos os integrantes da cadeia de fornecimento respondem solidariamente pelos produtos defeituosos, lembrando que, nos termos do art. 3º do CDC, fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Do mesmo modo que o comerciante recebeu o produto do fabricante para o comercializar no mercado, em sobrevindo defeito nele, o comerciante deve devolvê-lo ao respectivo produtor, para a correção do vício oculto.

Impedir que o consumidor retorne ao vendedor para que ele encaminhe o produto defeituoso para o fabricante reparar o defeito representa imposição de dificuldades ao exercício de seu direito de possuir um bem que sirva aos fins a que se destina.

É óbvio que o comerciante tem muito mais acesso ao fabricante do bem viciado por ela comercializado do que o consumidor. Logo, os custos (de tempo e de transporte) que o comerciante terá para entregar o bem ao fabricante são menores do que aqueles que o consumidor teria.

Desse modo, por estar incluído na cadeia de fornecimento do produto, quem o comercializa, ainda que não seja seu fabricante, fica responsável, perante o consumidor, por receber o item que apresentar defeito e o encaminha-lo à assistência técnica, independente do prazo de 72 horas da compra, sempre observado o prazo decadencial do art. 26 do CDC.

Resumindo:

O comerciante tem a obrigação de intermediar a reparação ou a substituição de produtos nele adquiridos e que apresentem defeitos de fabricação (vício oculto de inadequação), com a coleta em suas lojas e remessa ao fabricante e posterior devolução.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.568.938-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 25/08/2020 (Info 678). No mesmo sentido:

Cabe ao consumidor a escolha para exercer seu direito de ter sanado o vício do produto em 30 dias - levar o produto ao comerciante, à assistência técnica ou diretamente ao fabricante.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.851-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/09/2017 (Info 619).

DANO MORAL COLETIVO

A exploração de jogo de azar ilegal configura, em si mesma, dano moral coletivo

Em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal contra os réus que desenvolviam ilegalmente atividade de bingo, foi determinada a sua condenação em danos morais coletivos. Considerou-se que há dano moral in re ipsa.

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Imagine a seguinte situação adaptada:

O Ministério Público ajuizou ação civil pública contra os réus, que estavam desenvolvendo ilegalmente atividades de bingo e máquinas de caça-níquel.

Na ação, o MP pediu a interrupção das atividades e a condenação dos réus em danos morais coletivos. O juiz acolheu o pedido para cessação das atividades, mas negou o pleito indenizatório afirmando que não restou provada nos autos a ocorrência de danos morais coletivos.

É devida a condenação por danos morais coletivos no presente caso? SIM.

A exploração de jogo de azar ilegal configura, em si mesma, dano moral coletivo.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.567.123-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/06/2016 (Info 678).

À luz do CDC, a responsabilidade civil é objetiva e solidária. O dano moral coletivo não depende de prova da dor, do sofrimento ou do abalo psicológico, pois demonstrá-los, embora possível, em tese, na esfera individual, é completamente inviável no campo dos interesses difusos e coletivos, razão pela qual dispensado, principalmente quando incontestável a ilegalidade da atividade econômica ou da prática comercial em questão.

Trata-se, portanto, de dano moral in re ipsa (ou seja, o prejuízo é presumido).

DOD PLUS – INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES SOBRE DANO MORAL COLETIVO

Dano extrapatrimonial era só individual e depois houve uma evolução

No início, os danos extrapatrimoniais relacionavam-se unicamente com a violação de aspectos da personalidade individual.

Contudo, houve uma evolução do sistema da responsabilidade civil e o dano extrapatrimonial passou a também ser admitido com relação a direitos pertencentes à sociedade como um todo. Surge, então, a ideia de dano moral coletivo.

Os danos morais coletivos surgem a partir do momento em que o direito passa a reconhecer que existem determinados bens que são coletivos. Logo, se há uma violação extrapatrimonial a esses bens, podemos falar, então, em danos morais coletivos.

Assim, “na medida em que se reconhecem bens coletivos, há também um dano dessa categoria derivado da lesão desse bem” (LORENZETTI, Ricardo Luís. O Direito e o Desenvolvimento Sustentável - Teoria Geral do Dano Ambiental Moral, in: Revista de Direito Ambiental. nº 28, São Paulo: RT, p. 139-149).

O que é dano moral coletivo?

“O dano moral coletivo é a lesão na esfera moral de uma comunidade, isto é, a violação de direito transindividual de ordem coletiva, valores de uma sociedade atingidos do ponto de vista jurídico, de forma a envolver não apenas a dor psíquica, mas qualquer abalo negativo à moral da coletividade, pois o dano é, na verdade, apenas a consequência da lesão à esfera extrapatrimonial de uma pessoa.” (Min. Mauro Campbell Marques).

O dano moral coletivo é o resultado de uma lesão à esfera extrapatrimonial (moral) de determinada comunidade. Ocorre quando o agente pratica uma conduta que agride, de modo totalmente injusto e intolerável, o ordenamento jurídico e os valores éticos fundamentais da sociedade em si considerada, provocando uma repulsa e indignação na consciência coletiva (Min. Ricardo Villas Bôas Cueva).

Categoria autônoma

O dano moral coletivo é uma espécie autônoma de dano que está relacionada à integridade psico-física da coletividade.

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Quando se fala em dano moral coletivo a análise não envolve aqueles atributos tradicionais da pessoa humana (dor, sofrimento ou abalo psíquico).

O dano moral coletivo tutela, portanto, uma espécie autônoma e específica de bem jurídico extrapatrimonial, não coincidente com aquela amparada pelos danos morais individuais.

Os danos morais coletivos não correspondem ao somatório das lesões extrapatrimoniais singulares Em outras palavras, dano moral coletivo não significa a soma de uma série de danos morais individuais. A ocorrência de inúmeros episódios de danos morais individuais não gera, necessariamente, a constatação de que houve um dano moral coletivo.

Toda vez que são violados direitos dos consumidores haverá dano moral coletivo? NÃO.

Não é qualquer atentado aos interesses dos consumidores que pode acarretar dano moral difuso (dano moral coletivo). É necessário que esse ato ilícito seja de razoável significância e desborde os limites da tolerabilidade. Deve ser grave o suficiente para produzir verdadeiros sofrimentos, intranquilidade social e alterações relevantes na ordem extrapatrimonial coletiva STJ. 3ª Turma. REsp 1.221.756/RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 02/02/2012.

Basta que haja violação à lei ou ao contrato para que se caracterize o dano moral coletivo? NÃO.

Não basta a mera infringência à lei ou ao contrato para a caracterização do dano moral coletivo. É essencial que o ato antijurídico praticado atinja alto grau de reprovabilidade e transborde os lindes do individualismo, afetando, por sua gravidade e repercussão, o círculo primordial de valores sociais. O dano moral coletivo não pode ser banalizado para evitar o seu desvirtuamento.

STJ. 3ª Turma. REsp 1473846/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/02/2017.

Reparação dos danos morais: individuais X coletivos

Danos morais INDIVIDUAIS Danos morais COLETIVOS O objetivo da reparação é promover o

retorno do status quo, ou seja, da situação anterior à violação do direito.

O propósito visado não é, primordialmente, o retorno à situação anterior.

Sua finalidade precípua é a de punir o responsável pela lesão e inibir novas práticas ofensivas.

Importante binômio: punir e inibir. A reparação está limitada pela extensão do

dano (art. 944 do CC) e pelo princípio da compensação integral da lesão, razão pela qual a vítima não deve receber quantia inferior ou superior aos danos sofridos.

A reparação tem por objetivo redistribuir o lucro obtido pelo ofensor de forma ilegítima, entregando parte dele à sociedade.

Não se trata, portanto, de uma reparação típica.

O valor obtido com a indenização visa a restituir de forma direta o dano causado à vítima.

Restitui o dano causado de forma apenas indireta, considerando que o ganho obtido com a prática do ilícito é revertida ao fundo de reconstituição dos bens coletivos, previsto no art. 13 da Lei nº 7.347/85.

Trinômio dos danos morais coletivos

• Punir a conduta (sancionamento exemplar ao ofensor); • Inibir a reiteração da prática ilícita;

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DIREITO NOTARIAL E

REGISTRAL

REGISTRO DE IMÓVEIS

O cancelamento do registro do loteamento pode ser requerido pelo loteador, ou quem por ele

se sub-rogou, vedada a pretensão se comprovado inconveniente para o desenvolvimento

urbano ou quando já realizado melhoramento

Caso concreto: no ano de 1982 foi pedido o registro de um loteamento de imóvel junto ao 11º Cartório de Registro de Imóveis. O imóvel objeto do loteamento foi desmembrado em 16 unidades independentes, com matrículas próprias. Por escritura de venda e compra, a empresa CAMPER (especializada em negócios imobiliários) adquiriu todos os lotes que seriam objeto do loteamento. Diante do seu desinteresse em manter o empreendimento, a CAMPER solicitou perante o 11º Cartório de Registro de Imóveis o cancelamento do procedimento de registro do loteamento, o que não foi acolhido sob o argumento de que ela não teria legitimidade.

O STJ reconheceu a existência de legitimidade da requerente.

A empresa incorporadora e administradora de negócios imobiliários que adquire todos os lotes do loteamento e se sub-roga nos direitos do loteador possui legitimidade para requerer o cancelamento do procedimento do registro do loteamento, vedada a pretensão nos casos de comprovado inconveniente para o desenvolvimento urbano ou quando realizado algum melhoramento na área loteada e adjacências.

No caso, não tinha havido ainda o registro do loteamento, que se encontrava na fase de aprovação dos projetos perante a municipalidade. Ademais, não houve nenhum tipo de obra ou melhoramento no imóvel objeto do loteamento ou nos seus arredores, tampouco ação do Poder do Público, ou seja, o terreno encontrava-se da mesma forma tal como na época do início do procedimento, razão pela qual a municipalidade não teria motivo para obstar o pedido de cancelamento.

Destaca-se que cancelar o procedimento do pedido de registro de loteamento é diferente de pedir o cancelamento do registro do loteamento, hipótese em que a tradição para a Municipalidade já se operou; naquela outra não.

STJ. 3ª Turma. RMS 60.343-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 18/08/2020 (Info 678).

O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte:

No ano de 1982, foi pedido o registro de um loteamento de imóvel junto ao 11º Cartório de Registro de Imóveis.

O imóvel objeto do loteamento foi desmembrado em 16 unidades independentes, com matrículas próprias.

Por escritura de venda e compra, a empresa CAMPER (especializada em negócios imobiliários) adquiriu todos os lotes que seriam objeto do loteamento.

Diante do seu desinteresse em manter o empreendimento, a CAMPER solicitou perante o 11º Cartório de Registro de Imóveis o cancelamento do procedimento de registro do loteamento, o que não foi acolhido sob o argumento de que ela não teria legitimidade.

A questão chegou até o STJ. A requerente possuía legitimidade para o pedido? SIM. O STJ reconheceu a existência de legitimidade da requerente.

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A empresa incorporadora e administradora de negócios imobiliários que adquire todos os lotes do loteamento e se sub-roga nos direitos do loteador possui legitimidade para requerer o cancelamento do procedimento do registro do loteamento, vedada a pretensão nos casos de comprovado inconveniente para o desenvolvimento urbano ou quando realizado algum melhoramento na área loteada e adjacências.

STJ. 3ª Turma. RMS 60.343-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 18/08/2020 (Info 678).

No caso, não tinha havido ainda o registro do loteamento, que se encontrava na fase de aprovação dos projetos perante a municipalidade.

Ademais, não houve nenhum tipo de obra ou melhoramento no imóvel objeto do loteamento ou nos seus arredores, tampouco ação do Poder do Público, ou seja, o terreno encontrava-se da mesma forma tal como na época do início do procedimento, razão pela qual a municipalidade não teria motivo para obstar o pedido de cancelamento.

Destaca-se que cancelar o procedimento do pedido de registro de loteamento é diferente de pedir o cancelamento do registro do loteamento, hipótese em que a tradição para a Municipalidade já se operou; naquela outra não.

DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATOS BANCÁRIOS

O teto cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) se aplica ao montante total do fundo

instituído por concessionárias, não à quota-parte devida a cada associado

Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que administra um mecanismo de proteção às pessoas que possuem depósitos ou investimentos no Sistema Financeiro Nacional.

Assim, por exemplo, se um banco passa por um processo de intervenção, de liquidação extrajudicial ou mesmo de falência, o FGC assegura que os correntistas irão receber de volta os valores depositados. Vale ressaltar, no entanto, que existe um limite (um “teto”) que é garantido pelo FGC.

Atualmente, o valor máximo garantido é de R$ 250 mil. Desse modo, se a pessoa tinha R$ 300 mil depositados no banco que “quebrou”, ela receberá R$ 250 mil do FGC e deverá tentar buscar os R$ 50 mil restantes da instituição financeira (se conseguir).

Situação hipotética: foi instituído um fundo formado por 10 concessionárias de veículos, sendo administrado pela associação que representa essas concessionárias. Esse fundo foi constituído para aglutinar todo o dinheiro que as concessionárias utilizariam para fazer marketing na imprensa. Assim, todos contribuíam e o fundo contratava as peças publicitárias. Os recursos financeiros desse fundo eram depositados numa conta do Banco BMD. Ocorre que essa instituição financeira entrou em liquidação extrajudicial e as concessionárias não conseguiram receber do banco o valor depositado. O FGC foi acionado. Suponhamos que havia R$ 2 milhões depositados. As concessionárias argumentaram que deveriam receber do FGC os R$ milhões considerando que o fundo é composto por 10 concessionárias. Logo, cada uma delas teria direito ao teto cobertura de R$ 250 mil. 250 mil x 10 = 2 milhões e 500 mil.

O pedido não foi acolhido pelo STJ. O teto cobertura do FGC deverá ser aplicado para o fundo (e não para cada concessionária que dele faz parte). Assim, o fundo todo terá direito de receber R$ 250 mil e ele fundo que distribua entre as concessionárias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.758.951-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 04/08/2020 (Info 678).

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Fundo Garantidor de Créditos (FGC)

Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que administra um mecanismo de proteção às pessoas que possuem depósitos ou investimentos no Sistema Financeiro Nacional.

Assim, por exemplo, se um banco passa por um processo de intervenção, de liquidação extrajudicial ou mesmo de falência, o FGC assegura que os correntistas irão receber de volta os valores depositados. Vale ressaltar, no entanto, que existe um limite (um “teto”) que é garantido pelo FGC.

Atualmente, o valor máximo garantido é de R$ 250 mil. Desse modo, se a pessoa tinha R$ 300 mil depositados no banco que “quebrou”, ela receberá R$ 250 mil do FGC e deverá tentar buscar os R$ 50 mil restantes da instituição financeira (se conseguir).

Imagine agora a seguinte situação hipotética:

Foi instituído um fundo formado por 10 concessionárias de veículos, sendo administrado pela associação que representa essas concessionárias.

Esse fundo foi constituído para aglutinar todo o dinheiro que as concessionárias utilizariam para fazer marketing na imprensa sobre os carros que elas vendem.

Assim, todos contribuíam e o fundo contratava as peças publicitárias.

Os recursos financeiros desse fundo eram depositados numa conta do Banco BMD.

Ocorre que essa instituição financeira entrou em liquidação extrajudicial e as concessionárias não conseguiram receber do banco o valor depositado.

O FGC foi acionado.

Suponhamos que havia R$ 2 milhões depositados.

As concessionárias argumentaram que deveriam receber do FGC os R$ 2 milhões considerando que o fundo é composto por 10 concessionárias. Logo, cada uma delas teria direito ao teto cobertura de R$ 250 mil (250 mil x 10 = 2 milhões e 500 mil).

A tese das concessionárias encontrou abrigo no STJ? NÃO. O pedido não foi acolhido pelo STJ.

O teto cobertura do FGC deverá ser aplicado para o fundo (e não para cada concessionária que dele faz parte).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.758.951-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 04/08/2020 (Info 678).

Assim, em nosso exemplo, o fundo todo terá direito de receber R$ 250 mil e ele (fundo) deverá dividir essa quantia entre as concessionárias.

No caso, embora os valores depositados na conta corrente não integrassem o patrimônio da associação, eles também não integravam o patrimônio individual dos associados, mas o patrimônio do fundo. Desse modo, a associação não agiu diretamente como mandatária ou representante dos associados, mas como administradora do fundo instituído pelas concessionárias associadas.

A associação deve ser considerada uma única investidora, para fins de cobertura, fazendo jus somente ao teto do FGC.

Outro julgado com o mesmo raciocínio

O STJ já havia decidido que, se um fundo de previdência possui aplicações em uma instituição que “quebra”, o teto de cobertura do FGC se aplica para o montante do fundo (e não para cada um dos investidores individualmente considerado):

(...) 1. Pretensão de entidade fechada de previdência complementar de que o valor resguardado pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) seja considerado individualmente para cada um dos seus participantes, em face da falência do Banco Santos.

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2. O Fundo Garantidor de Créditos, entidade privada sem fins lucrativos, com criação autorizada pelo Conselho Monetário Nacional, tem por finalidade proteger titulares de créditos contra instituições financeiras a ele associadas, prestando aos pequenos investidores suporte financeiro mediante as contribuições que reúne dos integrantes do sistema.

3. O FGC integra uma rede de proteção bancária para a garantia do equilíbrio do sistema, atuando como um seguro de depósitos dos pequenos investidores.

4. Estabelecido no regulamento do FGC que as entidades investidoras, como a demandante, terão o total dos seus investimentos salvaguardados até o limite de vinte mil reais ( R$ 20.000,00), a pulverização dessa garantia a cada um dos participantes do plano de previdência, além de afrontar o regulamento, pode conduzir ao indesejável desequilíbrio do fundo, comprometendo os seus fins institucionais. (...)

STJ. 3ª Turma. REsp 1453957/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 02/06/2015.

FGC destina-se a proteger os “pequenos” investidores

O FGC exerce uma função social de proteção do pequeno investidor, que tem condições limitadas de avaliação de risco, estimulando, assim, a participação do cidadão comum no mercado financeiro.

Verifica-se, portanto, que a pretendida garantia de grandes valores, aplicados por investidores qualificados, como é o caso de uma instituição de previdência complementar, não se insere nos objetivos da garantia ordinária do FGC, podendo prejudicar a finalidade para a qual foi criado o Fundo, criando risco moral, na medida em que incentivaria o investimento em instituições financeiras de conduta arrojada e arriscada, em detrimento de bancos que efetuam aplicações mais responsáveis e, por esse motivo, em geral, menos lucrativas.

CONTRATO DE SHOPPING CENTER

É possível a inclusão de valor relativo a honorários advocatícios contratuais previamente

ajustados pelas partes na execução de contrato de locação de espaço em shopping center

Em regra, os honorários contratuais são devidos por aquele que contrata o advogado para atuar em seu favor, respondendo cada uma das partes pelos honorários contratuais de seu advogado.

A parte vencida, além dos honorários contratuais do seu advogado, também arcará com o pagamento dos honorários sucumbenciais devidos ao patrono da parte vencedora.

No caso concreto, o contrato firmado entre as partes previa que o locatário deveria pagar os honorários contratuais de seu advogado, assim como os do advogado do locador. Isso não configura bis in idem, pois não se trata do pagamento da mesma verba, mas do repasse de custo do locador para o locatário.

A atividade empresarial é caracterizada pelo risco e regulada pela lógica da livre-concorrência, devendo prevalecer nesses ajustes, salvo situação excepcional, a autonomia da vontade e o princípio pacta sunt servanda.

Não há como afastar a incidência de cláusula de contrato de locação de espaço em shopping center com base em alegação genérica de afronta à boa-fé objetiva, devendo ficar demonstrada a situação excepcional que autoriza a intervenção do Poder Judiciário.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.644.890-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/08/2020 (Info 678).

Imagine a seguinte situação hipotética:

“Morena Modas” (“JM Comércio Ltda”) celebrou contrato com a administradora do shopping center “Iguateré” para locação de espaço para funcionamento de loja.

Referências

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