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VER-SUS Ijuí Ezequiel Lopes da Rosa

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Academic year: 2021

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VER-SUS Ijuí 2016 Ezequiel Lopes da Rosa

Diante da premissa de que experiência não pode ser transmitida, apenas vivenciada; mesmo que fosse o melhor dos poetas, ainda assim seria tarefa árdua relatar apenas com palavras a experiência de VER-SUS na cidade de Ijuí neste ano de 2016.

Então me limito a ser honesto e dar meu testemunho reverenciando o protagonismo de todas/os que compuseram de uma forma ou de outra a caminhada durante o tempo de vivência.

Primeiramente vamos aos números: foram 10 dias,

aproximadamente 216 horas, que passamos juntos. 22 viventes e 4

facilitadoras/es. A maioria nunca havia se visto antes. Representando mais de 10 cidades do RS e SC. Isso sem contar as pessoas que integram a

comissão organizadora e parcerias da rede SUS na cidade.

Mais de 20 atividades variadas, se dividindo entre palestras, rodas de conversa e visitas, englobaram a vivência, para nos contextualizar sobre o universo complexo que é o nosso sistema único de saúde.

Tivemos a oportunidade de conhecer as diversas realidades que recebem suporte do SUS, desde assentamento do MST a penitenciária, passando por comunidade indígena e coordenadoria de saúde.

Profissionais de peso da área da saúde contribuíram para a construção do conhecimento deste VER-SUS, tais como Liane Righi e Teresinha Weiller.

Os cursos de graduação das/os participantes também chamaram a atenção para a variedade. Psicologia, medicina, enfermagem, odontologia, terapia ocupacional e até estética e cosmética. Com essas informações já é possível se ter ideia da dimensão que a vivência atingiu.

Daqui para o final me reservo a humildemente relatar o que o vi e percebi, embora boa parte do conhecimento aprendido ainda está se acomodando na mente e muito ainda tem por ser assimilado.

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Antes é preciso definir o conceito de rede citado em muitas partes do relatório. Aqui entende-se por “rede” todo o emaranhado de serviços realizado pelo sistema único de saúde (SUS). Vai desde a atenção básica de saúde até serviços especializados (cirurgias, transplantes, etc) e programas de promoção de saúde e prevenção de doenças (combate a doenças infectocontagiosas, distribuição de preservativos e informativos sobre saúde).

A saúde pública é uma das políticas que melhor desenvolve a sociedade, por seu caráter deliberativo através dos conselhos e conferências de saúde. Esse aspecto torna possível uma participação popular mais justa e legítima. O ser humano é um ser aprendiz por

natureza, e assim que lhe é proporcionado saúde integral, assim que tem oportunidade para buscar o próprio desenvolvimento, consegue encontrar as melhores saídas para os piores problemas que enfrenta. A chave é despertar seu senso crítico e protagonismo para as mudanças.

Muito se falou da atenção básica em todas as conversas nas

diferentes áreas de atuação dos profissionais. Considero a atenção básica fator primeiro em toda a rede SUS. É onde o profissional humaniza o

sistema. Onde o comprometimento e empatia iniciam a boa relação com o usuário. Assim, rapidamente qualquer leigo percebe que não basta apenas conhecimento técnico. Antes de tudo, o profissional do SUS precisa ter caráter, ética e amor pela profissão antes de qualquer coisa.

Outro assunto que muito se falou foi a respeito da participação popular. Diante do fato das pessoas não se envolverem com as políticas públicas, nos resta influenciar através do exemplo e diálogo. Ás vezes se perde muito tempo tentando descobrir todos os fatores que envolvem um processo tão complexo como desenvolver um sistema social de saúde coletivamente, em um país predominantemente liberalista, onde o comportamento humano é essencialmente individualista.

Já aí foi possível analisar um dos pontos positivos da região, que é o fato de existir uma interligação entre a comunidade, as instituições

executivas e a universidade. Como dito anteriormente, no sistema liberalista, as pessoas têm dificuldade de entender o que é construção

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coletiva de políticas. A parceria desenvolvida entre a universidade Unijuí, mais a comunidade e os órgãos públicos, faz com que os estudantes tenham uma formação acadêmica voltada para saúde pública. Ajudando inclusive a formar opinião entre familiares e amigos, fortalecendo a rede como um todo.

Em diversos locais da rede notou-se a participação ativa de pessoas idosas em cargos de gestão, como líderes comunitários e membros dos conselhos de saúde. É uma característica importante já que têm muita experiência acumulada e vontade de transmitir a que tiver interesse.

Um ponto chave que chama a atenção da rede em Ijuí é a abertura dos profissionais e comunidade em geral para o uso de práticas

integrativas na atenção básica (Reiki, acupuntura, fitoterápicos, etc), mesmo que de forma ainda singela por ser uma abordagem nova. Mostra que não se pode acomodar com o conhecimento já construído e sempre ter disposição e curiosidade para conhecer novas alternativas que possam beneficiar no tratamento e cuidado com as/os usuárias/os. Deixando claro para fins de informação que as chamadas práticas integrativas são

suportadas pela portaria nº 971 de 03 de maio de 2006 via Ministério da saúde, que também estabelece a política nacional de práticas integrativas e complementares (PNPIC) dentro da rede.

Ijuí também conta com boa estrutura para apoio a pessoa em

sofrimento psíquico. Além dos tradicionais CAPS, a cidade tem o privilégio de receber ajuda de uma ONG chamada Casa de auto mútua ajuda ou Casa AMA. Lá os pacientes recebem acolhimento, escuta e são

incentivados a buscar sua própria autonomia. Mostrando mais uma vez que a união é a chave para os frutos colhidos na saúde pública do munícipio.

Uma rede tão complexa envolve um alto nível de burocracia. E torno a mencionar, não fosse o empenho e comprometimento das/dos profissionais, desta vez na resolução dos processos burocráticos através da Coordenadoria regional de saúde, a rede toda ficaria comprometida. Então, mesmo que a escrita se torne redundante, é necessário fazer jus ao trabalho desenvolvido.

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Embora Ijuí seja uma cidade privilegiada na área da saúde, cabe aqui também expor os aspectos que pendem a balança negativamente.

O principal deles percebido na vivência é a questão alimentar. A região rural de Ijuí e cidades próximas são compostas principalmente por plantações de soja transgênica. Esse monocultivo exige uma carga muito grande de agrotóxicos por safra. Esses agrotóxicos, além de fazerem parte da composição química da planta, alojam-se no solo e dissipam-se pela água e pelo ar, indo para os outros cultivos ao redor. Portanto toda a produção da região acaba sofrendo o impacto. O solo torna-se infértil, a água e o ar impuros, e os alimentos não saudáveis são considerados propagadores de câncer.

Esse fenômeno está diretamente relacionado com a saúde pública e longe de ser resolvido, já que envolve lucro por parte dos agricultores latifundiários que detêm essas grandes quantidades de terra onde cultivam a soja. A certeza é que ninguém ganha, porque o alimento

contaminado vai parar na boca de todas/os. A luta protagonizada pelas/os agricultoras/es familiares que denunciam essas práticas e tentam

conscientizar as demais populações, merece a mesma união encontrada em outras áreas da saúde para que se encontre uma solução eficaz contra esta prática criminosa.

Dentre os cinco países mais populosos do planeta, o Brasil é o único que conta com um sistema de saúde público. Cerca de 80% da população (160 milhões de pessoas) depende exclusivamente do SUS. Ainda assim boa parte destas pessoas concordam com a mídia tendenciosa que afirma o SUS ser desnecessário e falido. E os médicos que são os agentes

primários da saúde são educados, em sua maioria, para a carreira clínica especializada e privada.

Esse fatores são determinantes para que se instaure uma crise na saúde pública, que é alimentada por políticos corruptos através de emendas e projetos parlamentares que promovem a terceirização de serviços de média complexidade pelo SUS. Onerando os cofres públicos com gastos que poderiam ser evitados e favorecendo a iniciativa privada que inflaciona operações médicas e se beneficia da falta de estruturação

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do sistema único de saúde. Sem falar da influência do capital estrangeiro e suas tecnologias de ponta sobre as clínicas e laboratórios privados do país. Que é no mínimo contra a lei.

Dessa maneira torna-se óbvio a necessidade da participação popular na construção do SUS. Essa construção nunca parou desde a criação do sistema em 1988 e precisa avançar. Uma conquista tão grandiosa não pode ficar a mercê de interesses obscuros.

O VER-SUS torna-se arma poderosa nesta luta. É preciso olhar com atenção para a formação acadêmica. Ela deve servir primeiramente a construção de uma sociedade humanizada. O formato de vivência facilita o entendimento da multidisciplinariedade, tão falada dentro das

universidades, primordial para o desenvolvimento do trabalho na saúde pública.

Enfim, o programa VER-SUS logra êxito no seu objetivo de compreensão do SUS na sua totalidade. Mesmo que ainda não possa alcançar todas/os discentes; àquelas/es que alcança, define um norte na escolha da carreira dentro da saúde pública. E para os que não irão atuar diretamente no SUS, tornam-se defensores e porta-vozes dos seus

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