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LER E ESCREVER NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALFABETIZADORES.

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Academic year: 2021

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LER E ESCREVER NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALFABETIZADORES. HAAS, Fabiane Andréia – Pesquisadora

ROSA, Drª. Cristina Maria - Orientadora Universidade Federal de Pelotas Departamento de Ensino Faculdade de Educação

Resumo: A pesquisa tem como objetivo central conhecer, descrever e analisar o

processo de atribuição de sentido à leitura e à escrita em um grupo de 57 acadêmicos que ingressaram no Curso de Pedagogia em 2006. Parte da hipótese de que o curso oferece a oportunidade de reconhecimento dessas duas categorias como objetos conceituais primordiais à docência (KRAMER, 1998; Soares, 2000 e Zilberman, 2005). Inserida no campo da análise qualitativa (LÜDKE e ANDRÉ, 1986) a pesquisa é alimentada por coletas semestrais e os resultados iniciais indicam que a leitura como sinônimo de Aquisição foi mencionada 57 vezes; como Habilidade, 32 vezes e como Aprimoramento, 30 vezes. Quanto à escrita, é conceituada como Expressão (57 vezes) e Habilidade (38 vezes). Até esse momento, não há referência à leitura e à escrita como objetos conceituais primordiais.

1. Introdução

Atualmente, saber ler e escrever é condição para a obtenção de informações sobre as conquistas das gerações que nos precederam e para a aquisição de um conjunto de dados de natureza física e social sobre a realidade em que se vive. Alfabetizar-se, portanto, é condição para o desenvolvimento de funções cognitivas que possibilitam pensar e intervir em sociedade de maneira independente, crítica e criativa (NEVES, 2003).

Saber ler e escrever significava, entre gregos e romanos, possuir as bases de uma educação adequada para a vida, possibilitando ao cidadão integrar-se efetivamente à sociedade (MARTINS, 2006). Para Ferreiro (1999), ler e escrever são construções sociais que recebem atribuições novas em cada época e circunstância histórica. Atualmente, práticas de leitura e de escrita são exigências cada vez mais presentes na sociedade e já não é suficiente dominar rudimentarmente a escrita e a leitura; é necessário aprimorar as relações com esses dois objetos culturais para ser considerado letrado.

Ao analisar o uso que se faz da linguagem em sociedade e do ensino dessa na escola Soares (1988 e 1999) afirma que os alunos das classes trabalhadoras são sub-escolarizados e sub-letrados em comparação com os demais. Embora seus escritos tenham um distanciamento histórico dos dias de hoje, é ainda possível

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afirmar que as crianças que ingressam na escola oriundas dos meios populares sabem pouco da linguagem ensinada na escola e, quando saem da escola, nem sempre sabem tudo o que poderiam ter aprendido.

Os processos de formação de professores são responsáveis por compreender, intervir e modificar as relações que as futuras professoras e as crianças tem com a leitura e a escrita. Primeiro, porque cabe à escola ensinar a ler e escrever. Mais que isso, a escola tem a responsabilidade de ingressar todos em um processo de letramento que, para Soares (1999), é “o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita”. Ou seja, letramento é o exercício de práticas sociais de leitura e de escrita que circulam na sociedade em que se vive.

Além de ser um direito inalienável, ler e escrever é “ter acesso aos meios expressivos construídos historicamente pelos falantes e escritores da língua e extrapola a condição de decifrar oferecendo a possibilidade de ser capaz de ler e compreender todo e qualquer texto já escrito” (NEVES, 2003). Por sua vez, ensinar a ler é levar o aprendiz a reconhecer a necessidade de aprender a ler tudo que já foi escrito e, com isso, conectá-lo com a produção cultural da humanidade e com a capacidade de produzir-se.

Para que o exercício da escrita se transforme numa atividade intelectual – e não meramente braçal, de cópia – é necessário que a escrita seja mais que transcrição, mais que “deixar marcas no papel”. Enquanto prática social, a leitura e a escrita são bens sociais indispensáveis e cada vez mais necessários para enfrentar o dia-a-dia.

Inicialmente um objeto exclusivamente social, no decorrer dos séculos a instituição escolar transformou-a em objeto escolar e, nesse processo minimizou suas funções extra-escolares, aquelas que historicamente deram origem à criação das representações escritas da linguagem. No entanto, é necessário compreender que a escrita é importante na escola porque é importante fora da escola, e não o inverso (FERREIRO, 1993).

Ler e decifrar são aprendizagens distintas, decifrar significa dominar um código de correspondência entre grafemas e fonemas e, para tal, são necessários alguns procedimentos e um tempo, nem sempre longo. Esse saber, no entanto, jamais significará saber ler porque a condição leitora (compreender e estabelecer relações, atribuir sentido e criar) extrapola a decifração. Ler não é apenas dominar a correspondência entre grafemas e fonemas embora seja uma das necessidades na formação de um leitor.

Entre os educadores que estudam a linguagem e suas relações na escola e na sociedade é bastante consensual a idéia de que só ensina a ler e a gostar de ler quem gosta de ler. A partir dessa idéia, a pesquisa procura investigar o que pensam sobre a leitura e a escrita um grupo de estudantes que serão professores alfabetizadores, tendo como foco os conceitos emitidos sobre essas duas categorias.

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2. Metodologia

Tendo como pressuposto que só ensina quem conhece como se aprende, a intenção da pesquisa é evidenciar, com a mais profunda densidade conceitual, se e

como os estudantes de Pedagogia se apropriam da leitura e da escrita como

objetos conceituais primordiais para a profissão docente.

A pesquisa inicialmente buscou conhecer as condições de chegada1 na Universidade de cinqüenta e seis mulheres e um homem que, por quatro anos e meio estarão em contato com o conhecimento a respeito da escola, das relações de saber e poder desencadeadas a partir dela e, fundamentalmente, com os objetos primordiais: a leitura e a escrita. Além disso, a população informante é de diferentes origens étnicas, de classe, estado civil e experiências escolares.

Inserida no campo da análise qualitativa por ser essa a que mais reconhece e valoriza a relação entre pesquisador e sujeito da pesquisa, a preocupação estrá voltada para compreender e evidenciar a dinâmica das relações sociais que, por sua vez, são depositários de crenças, valores, atitudes e hábitos (MINAYO,1994). Os resultados iniciais são oriundos de dados qualitativos e também quantitativos, fornecidos a partir de dois instrumentos: um questionário simples, com questões a respeito da leitura e de suas atribuições no dia-a-dia dos acadêmicos; e um questionário estruturado (PERES, 1999) que continha perguntas acerca de práticas de leitura e escrita, entre elas, o que é ler e escrever; se e quais os materiais de leitura que possuíam em casa, como a família adquiria materiais de leitura; qual a obra que mais gostou de ler; acesso à Internet; entre outras.

A categorização das informações obtidas através desses dois instrumentos consistiu em selecionar as respostas conceituais e organizá-las em categorias. Inicialmente apareceram conceitos que estão localizados em três concepções2: ler é decifrar; ler é aquisição e; ler é atribuir sentido.

Os passos a seguir na investigação serão coletas semestrais nas quais a população informante terá que escrever o que é leitura e escrita, além de outras questões que julgarmos pertinentes. Há também a previsão de refazer o questionário inicial ao final da formação docente além de selecionar alguns dos depoentes para entrevistas semi-estruturadas.

3. Resultados Parciais

1

A primeira coleta foi realizada nas primeiras semanas de aula e tinha como foco conhecer quais as práticas de leitura e escrita até então desencadeados. O instrumento permite, no decorrer da pesquisa, estabelecer relações, conhecer avanços e avaliar a formação docente no campo da linguagem.

2

Embora exista um aparente consenso entre os autores do campo da leitura sobre duas possibilidades de conceituação (ler é decifrar e ler é atribuir sentido) escolhemos acrescentar uma outra possibilidade por ser conseqüência de um discurso funcional. Nele, ler é aquisição (de conhecimento, de cultura, de vocabulário).

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As respostas ao primeiro instrumento3 foram agrupadas conforme as três concepções acima descritas, ou seja: ler é decifrar; ler é aquisição e; ler é atribuir sentido. Nas tabelas a seguir, esses resultados aparecem separados entre leitura e escrita.

Tabela 1 – Conceitos de Leitura População informante inicial 57 acadêmicos Conceito 1ª coleta 03/ 2006 2ª coleta 09/2006 3ª coleta 03/2007 Ler é decifrar 8 7 2 Ler é aquisição 37 28 42

Ler é atribuir sentido 27 26 25

Responderam 55 48 39

Não responderam 1 5 14

Desistência do Curso 0 3 3

Nas respostas colhidas entre os estudantes, desde o início foi possível perceber a preponderância da idéia de que através da leitura adquirimos algo que até então não tínhamos. Essa concepção se filia à perspectiva “cognitivo-sociológica”, para a qual a leitura é um “processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, tanto quanto culturais, econômicos e políticos”, segundo Martins (2006).

Para o grupo de depoentes acima representados em quantidade de incidências conceituais, ou seja, quantas vezes um conceito apareceu nas respostas, através da leitura é possível adquirir conhecimento, informação, cultura, valores, entre outras possibilidades e essa idéia permanece preponderante até a terceira coleta de dados.

A segunda idéia que aparece representada por uma significativa e constante menção é a de que a leitura eleva o simples mortal à condição de um sujeito melhor, mais qualificado, mais apto a oferecer trocas qualificadas.

Para representar essa referência ampla à leitura escolhemos a categoria “atribuir sentido” que, nas palavras dos depoentes apareceu como ler é viajar, imaginar, sonhar, refletir; Ler aprimora o intelecto, amplia horizontes e oportuniza melhorar como ser humano; Ler é apropriar-se de outros mundos, possibilita a leitura do mundo e desenvolve a criatividade e a criticidade; Ler ainda é prazeroso e porta para o letramento.

O conceito que menos aparece nas três coletas realizadas e que vem desaparecendo dos depoimentos escritos é o que se refere à leitura como decifração. Nas palavras da população informante esse conceito apareceu como: ler

3

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é interpretar, qualificar a escrita, decodificar, decifrar, melhorar e ampliar o vocabulário oral e escrito, entre outros.

Fortemente ligado ao tratamento que a escola vem dando à linguagem, é um conceito bastante encontrado no senso comum, pois é na escola que se aprende a decodificar, a realizar exercícios de interpretar, a ler e evidenciar o vocabulário adquirido. É também na escola que se argumenta que ler qualifica a escrita.

Como resultados iniciais a pesquisa entre esse grupo de estudantes indica que há uma forte presença do curso de formação na elaboração e manutenção dos conceitos inicialmente formulados. Para a maioria dos docentes, é através da leitura que se aprende, idéia reforçada por aqueles que acreditam que a leitura oportuniza acesso ao universo conceitual de formação docente e sem a qual isso é impossível.

Embora em menor incidência, a idéia de dissenso (para ler é preciso gostar de ler) partilhada por um grupo menor de professores também aparece, o que é bastante interessante.

Tabela 2 – Conceitos de Escrita Conceito 1ª coleta 03/ 2006 2ª coleta 09/2006 3ª coleta 03/2007 Escrever é Codificar 9 1 0 Escrever é Expressar-se 36 37 43 É Atribuir sentido 16 14 11 Responderam 47 42 47 Não respondeu 7 10 6 Desistências 3 3 3

Os dados acima indicam que, inicialmente, algumas alunas se referiam à escrita como um ato de “codificar”, Embora um conceito restrito, a escrita pode ser caracterizada como uma codificação. O interessante é que o conceito não mais foi mencionado na última coleta. Acreditamos que o exercício da escrita no Curso Superior (através dos trabalhos de graduação) transformou a atividade das depoentes e causaram a mudança conceitual.

De meramente braçal, cópia, união de símbolos gráficos a escrita passou, preponderantemente a significar uma atividade intelectual, causando entre a população informante o compromisso de refletir sobre o significado do que escrevem. Hoje o grupo dá maior importância ao registro cotidiano.

O campo conceitual denominado “expressar-se” refere-se à escrita como registro, expressão de idéias e pensamentos. È o grupo de maior incidência.

Escrever é comunicar-se, é realizar “registros históricos”, é “escrever poemas” para um grupo pequeno, mas significativo de depoentes.

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Referências:

BATISTA, Antônio e GALVÂO, Ana. Leitura: Práticas, impressos e Letramentos. Autêntica, 2ª ed., 2002, Belo Horizonte.

CAGLIARI, Luis Carlos. Alfabetização & Lingüística. SP: Scipione, 1993.

ESPOSITO, Yara Lúcia e SILVA, Rose Neubauer da. Analfabetismo e

subescolarização: ainda um desafio. Editora Cortez. São Paulo, 1990.

FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.

FERREIRO, Emília. Com todas as letras. São Paulo: Cortez, 1993.

JOLIBERT, Josette. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

KATO, Mary. No Mundo da Escrita: Uma Perspectiva Psicolingüística. São Paulo: Ática, 2003.

LÜDKE, Menga. A pesquisa e o professor da escola básica: que pesquisa, que professor? In: LINHARES, Célia. Ensinar e aprender: sujeitos, saberes e

pesquisa. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. 101-114.

MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? São Paulo: Brasiliense, 2006.

MINAYO, Maria Cecília (org). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994.

NEVES, Iara. Ler e Escrever: Compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.

PERES, Eliane Teresinha. Questionário sobre Práticas de Leitura e Escrita de

Crianças e Famílias. (Documento Didático).Pelotas, 1999.

ROSA, Cristina. O que lêem e escrevem as acadêmicas da Pedagogia: um

estudo da turma 2005-2008 em Pelotas. Cadernos de Educação. Vol.1, nº. 10,

2006. Pelotas: Editora e Gráfica da UFPel, 2006.

SOARES, Magda. Linguagem e Escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1988.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Autêntica, 1999.

TEBEROSKY, Ana e COLOMER, T. Aprender a Ler e Escrever: Uma Proposta

Construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2003.

VIGOTSKI, Leon. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ZILBERMANN, Regina e SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura: Perspectivas

interdisciplinares. São Paulo, Ática, 1999.

OSTETTO, Luciana Esmeralda. OLIVEIRA, Heloísa Raquel de. MESSINA, Virgínia da Silva. Deixando marcas... A prática do registro no cotidiano da Educação

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