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DEZ ANOS DE COBRANÇA PELO USO DAS ÁGUAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: SITUAÇÃO ATUAL E PROPOSTAS DE APERFEIÇOAMENTO

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XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

DEZ ANOS DE COBRANÇA PELO USO DAS ÁGUAS DO ESTADO DO RIO

DE JANEIRO: SITUAÇÃO ATUAL E PROPOSTAS DE

APERFEIÇOAMENTO

Moema Versiani Acselrad1; Márcia Chaves de Souza 2; Diogo Roberto Oliveira 3; João Victor Rocha4 & Rosa Maria Formiga Johnsson5

Resumo – A cobrança pelo uso da água é o instrumento econômico das políticas de recursos hídricos no Brasil. Seus objetivos são incentivar a racionalização do uso da água, reconhecendo-a como bem econômico e escasso, e gerar recursos financeiros para investimentos na recuperação e preservação dos mananciais da respectiva bacia hidrográfica. A cobrança em águas de domínio do Estado do Rio de Janeiro foi instituída pela Lei 4.247/03 e aplicada em todo o território em 2004. Desde então, passou por um longo processo de amadurecimento e pode ser considerada um instrumento consolidado e estruturado. Este artigo visa registrar a experiência fluminense e discutir alguns aspectos necessários à sua evolução. Conclui-se pela oportunidade e conveniência de aprimorá-la enquanto instrumento de gestão da politica de águas, em especial: harmonizar a metodologia praticada com a metodologia federal e de estados vizinhos; ajustar os valores praticados; revisar os parâmetros de cobrança para lançamento de efluentes; e incluir setores usuários que permanecem ausentes do sistema de cobrança, tais como o setor de agricultura, mineração e as pequenas centrais hidrelétricas.

Palavras-Chave – cobrança pelo uso da água; estado do Rio de Janeiro; propostas de aperfeiçoamento

TEN YEARS OF IMPLEMENTATION OF BULK WATER USE CHARGES

IN RIO DE JANEIRO STATE

Abstract – Bulk water use charge is the economic instrument of Water Resources Policy. The objectives of this instrument are to encourage rational use of water, recognizing it as economic and scarce good, and generate financial resources for investment in restoration and preservation of water sources. The state charge was established throughout the territory of Rio de Janeiro State in 2004 by a state law (Lei 4.247/03), and has since undergone through a long maturing process. Today, it can be considered a consolidated and structured instrument in the State. This article aims to record Rio experience and discuss some aspects necessary for its evolution. Its conclusions point out the opportunity and convenience of improving bulk water use charge as a management instrument of Water Resources Policy, especially regarding: harmonization between current state methodology and federal and neighboring states methodologies; adjustments in current values; review of charge parameters for effluent discharge; and the inclusion of other user sectors that remain absent from state water use charge system, such as agriculture, mining sector and small hydroelectric plants.

Keywords – bulk water use charges; Rio de Janeiro state; improvement proposals

1 Engenheira Ambiental do Instituto Estadual do Ambiente – INEA/RJ. Gerente de Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos da Diretoria de

Gestão das Águas e do Território – GEIRH/DIGAT/INEA. e-mail: moemava@gmail.com

2

Chefe do Serviço de Cadastro e Cobrança pelo Uso da Água da GEIRH/DIGAT/INEA/RJ. e-mail: cadastro.inea@gmail.com

3

Administrador do Serviço de Cadastro e Cobrança pelo Uso da Água da GEIRH/DIGAT/ INEA/RJ. e-mail: diogoro.inea@gmail.comm

4 Graduando em Ciências Ambientais na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Estagiário da GEIRH/DIGAT/INEA . e-mail:

jvictorir2@gmail.com

5 Professora Adjunta do Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). e-mail:

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1 - INTRODUÇÃO

Iniciada no ano de 2004 para águas de domínio estadual, a cobrança pelo uso de recursos hídricos no Rio de Janeiro completou dez anos de implementação em 2014. Ao se fazer um balanço da aplicação desse instrumento, percebe-se que houve muitos acertos, como sua aplicação em todas as regiões hidrográficas, o que possibilitou a estruturação e o fortalecimento do sistema de gestão das águas fluminense. Destaca-se, também, a superação de desafios robustos, como a base de dados fragmentada, o alto índice de inadimplência e o impasse com o setor de saneamento (ACSELRAD

et al, 2014).

Vencidos os desafios iniciais, hoje o estado conta com comitês implantados em todas as regiões hidrográficas, com entidades delegatárias de funções de agência de água, um Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERHI) e o Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERHI) discutindo e deliberando regularmente sobre questões relevantes da agenda hidro-ambiental fluminense.

Este artigo, baseado em documentos técnicos dos órgãos gestores e trabalhos acadêmicos que abordam o processo de implantação da cobrança no Brasil, visa registrar a experiência fluminense e discutir alguns aspectos necessários à sua evolução como instrumento de gestão dos recursos hídricos.

2 – A COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA BRUTA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO No Brasil, o instrumento de cobrança pelo uso da água está implantado em somente quatro bacias de rios de domínio da União – Paraíba do Sul, PCJ, São Francisco e Doce –, e em bacias estaduais do Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Até 2014, apenas o Ceará (1996) e o Rio de Janeiro (2004) haviam implementado a cobrança de águas estaduais em todo o seu território. A experiência de implantação da cobrança pelo uso da água no Estado do Rio de Janeiro é singular: ele foi pioneiro ao aprovar a cobrança para usos em rios estaduais da bacia do rio Paraíba do Sul em território fluminense, posteriormente estendida pelo legislativo estadual para todo o Estado (ACSELRAD et al, 2009).

Embora a cobrança tenha sido iniciada em 2004, apenas a partir de 2009 a arrecadação começou a ser expressiva para o fortalecimento das entidades do sistema estadual, notadamente os comitês de bacia. Hoje, estas entidades contam com uma receita anual mais de dez vezes maior no Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FUNDRHI) do que na fase inicial da cobrança, passando de menos de R$3 milhões anuais de 2004 a 2007 para mais de R$30 milhões em 2014.

A despeito das polêmicas e tensões suscitadas inicialmente pela forma de implantação da cobrança pelo Governo do Estado, via regulamentação por lei estadual (Lei estadual 4.247/03) sem prévia deliberação dos comitês de bacia, o assunto parece ter sido superado na medida em que o Estado avançou na estruturação do modelo de gestão e na criação de todos os comitês. Hoje, são 9 comitês instalados, de um total de 9 Regiões Hidrográficas, todos contando com entidades delegatárias de funções de Agência de Água (ACSELRAD et al, 2014).

2.1 Metodologia e valores em vigor

A natureza jurídica da cobrança é de preço público, cujo valor é devido pelos usuários de água bruta que utilizem quantidades consideradas significantes, ou, em outras palavras, sujeitos à outorga. A metodologia implementada para usos em águas de domínio estadual foi similar àquela adotada pelo Comitê de Integração da Bacia do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP) na fase inicial da

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XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3 cobrança para usos em águas federais na bacia (2003 a 2006), com alguns critérios próprios, a exemplo do limite para usos insignificantes (Figura 2). Em dois momentos (2006 e 2014), o CEIVAP aprovou alterações à metodologia inicial. Com isso, o Estado tem atualmente duas metodologias de cobrança aplicadas no seu território: uma para águas federais da bacia do rio Paraíba do Sul e outra para usos em águas estaduais (ACSELRAD et al, 2014)

A metodologia implementada em águas estaduais é composta por três parcelas: a primeira parcela da base de cálculo corresponde ao volume captado no manancial, a segunda ao volume efetivamente consumido, e a terceira ao despejo de efluentes no corpo receptor. O uso qualitativo é caracterizado através da vazão efluente, independente da carga de DBO nela presente, adotadas inicialmente pelos princípios de simplicidade e aplicabilidade.

Da mesma forma, o preço público unitário (PPU) unitário foi definido como R$ 0,02/m3, e não sofreu reajuste até os dias atuais. A Figura 1 resume valores, critérios específicos e os limites para os usos considerados isentos de outorga e cobrança (usos insignificantes) para águas superficiais e subterrâneas, por setor usuário.

Figura 1 - Metodologia do Estado do Rio de Janeiro: valores e critérios específicos

2.2 Situação da cobrança em 2014 e perfil dos setores usuários pagadores

O Estado do Rio de Janeiro fechou o ano de 2014 com uma base de 696 matrículas internalizadas, e arrecadação de cerca de R$ 30 milhões. Esse valor representa uma evolução bastante significativa, se comparado aos valores quando da implantação da cobrança. Em 2009 houve um incremento significativo da arrecadação, que se deve à adesão do setor de saneamento, em especial a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE), ao sistema de cobrança pelo uso da água do Rio de Janeiro, após solução de um impasse que permitiu às prestadoras de serviços de saneamento o repasse dos valores devidos pelo uso da água aos consumidores finais, limitado a 2% de seu faturamento (ACSELRAD et al, 2009).

Figura 2: Participação dos setores usuários em número de empreendimentos e em valores arrecadados no sistema de cobrança no Estado do Rio de Janeiro (Fonte: GEIRH/DIGAT/INEA)

Indústria 32,14% Mineração 1,56% Usos Urbanos 51,01% Saneamento 11,70% Termoelétrica 0,94% Aquicultura 1,09% Criação Animal 0,16% Irrigação 1,40% Participação do setor usuário por

número de empreendimentos Indústria 9,52% Mineração 0,03% Usos Urbanos 1,31% Saneamento 86,80% Termoelétrica 2,32% Aquicultura 0,01% Criação Animal 0,00% Irrigação 0,01% Outros 3%

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A Figura 2 revela que, em número de usuários, o setor de maior representatividade no sistema de cobrança estadual (51%) é o de Usos Urbanos, que inclui condomínios, postos de gasolina, clubes, comércio, etc. O setor Industrial aparece como a segunda maior em participação total de empreendimentos cobrados (32%), seguido do setor de Saneamento (11%). Os demais setores têm muito baixa representatividade. Entretanto, como indicado acima (lado direito), em termos de participação nos valores arrecadados, o setor que mais contribui é o de Saneamento, com 87% de representação. Em seguida vem o setor Industrial, com 10%, e os demais setores usuários pagadores com 3% de participação.

3 – APERFEIÇOAMENTOS DA METODOLOGIA ATUAL

O processo de cobrança passou por ajustes e aperfeiçoamentos ao longo dos últimos anos, de modo que, hoje, o Sistema Estadual conta com um instrumento econômico fortalecido e transparente. Podemos citar a atualização da legislação, com a solução do impasse com o setor de saneamento (Lei Estadual 5.234/08 e Decreto Estadual 41.974/09), e a regulamentação dos contratos de gestão com entidades delegatárias de funções de agência de água (Lei Estadual 5.639/10), como aperfeiçoamentos substanciais ao sistema de gestão no Estado.

Foi possível ao modelo estadual avançar e se fortalecer a partir da implementação da cobrança, e de sua gestão por parte dos comitês de bacia estaduais. Após dez anos de aplicação da cobrança praticamente sem alterações à metodologia e aos valores adotados, considera-se oportuno e conveniente a consideração de ajustes e aperfeiçoamentos de curto/médio prazo ao sistema vigente, discutidos a seguir.

3.1 Correção do PPU

Recomenda-se, no mínimo, a atualização dos valores que estão há dez anos sem correção, o que tornaria a cobrança atual muito mais significativa. Um dos objetivos da cobrança, previstos nas leis federal e estadual das águas, é “dar ao usuário uma indicação do seu real valor”. Com o valor unitário (R$/m3) inalterado desde a sua implantação, a sinalização, grosso modo, é de que á água “perdeu valor”. Ademais, um segundo objetivo previsto nas leis, o de incentivar o uso racional, fica extremamente fragilizado em função dos baixos valores praticados.

A bacia do rio Doce, em 2011, aprovou valores mais significativos para os preços unitários (AMORIM et al, 2011). As demais bacias, entretanto, via de regra, vêm enfrentando resistências para aumentar os valores inicialmente aplicados. Os usuários do setor elétrico, como são regidos por legislação própria, são o único setor com correção anual dos valores de cobrança.

Uma simulação da correção do valor do PPU pela inflação acumulada desde o inicio da cobrança, em janeiro de 2004, até novembro de 2014, através do IGP-M (FGV), indica que se deveria ao menos dobrar o valor do PPU para que os valores de cobrança recuperem a depreciação dos valores pela inflação acumulada em dez anos. O impacto imediato sobre todos os usuários do Estado seria dobrar o valor atualmente praticado, o que teria impacto significativo sobre o setor de saneamento, passando dos atuais R$18,2 milhões de reais cobrados para R$36,5 milhões por ano para todo o segmento.

3.2 Inclusão de novos setores usuários

Desde o inicio da cobrança em águas federais na bacia do rio Paraíba do Sul, buscou-se a inserção, por etapas, de usos não incluídos na fase inicial da cobrança. Desta forma, a atividade de mineração de areia em leito de rio e a transposição do rio Paraíba do Sul para o rio Guandu tiveram

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XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5 mecanismos e valores estabelecidos posteriormente ao início da vigência da cobrança (AGEVAP, 2011; CARVALHO et al, 2007). Apresentam-se neste item dois setores considerados estratégicos e ainda não contribuintes ao sistema de cobrança estadual: as pequenas centrais hidrelétricas e a mineração de areia.

Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs):

A cobrança de PCHs, embora prevista na Lei 4247/2003, não chegou a ser implementada por uma divergência entre os setores de água e energia em nível federal. Ela chegou a ser iniciada em águas federais da bacia do rio Paraíba do Sul, mas foi logo interrompida em função do impasse. Após a edição do Decreto Federal 7.402/2010, acredita-se haver maior segurança jurídica para se iniciar a cobrança de PCHs. Este decreto desvincula a cobrança do setor elétrico da compensação financeira pela utilização de recursos hídricos para geração de energia elétrica (CFURH) aplicado às usinas hidrelétricas, de que as PCHs estão isentas.

Foi feita uma pesquisa sobre as PCHs em operação no Estado do Rio de Janeiro que poderiam ser inseridas imediatamente ao sistema de cobrança estadual, com metodologia dada pela lei estadual, onde:

VALORPCH = 0,75% x Energia gerada mensal x TAR (Tarifa Atualizada de Referência fixada pela ANEEL)

Para simular os valores a serem pagos com base nesta metodologia, foram usadas as informações sobre geração de energia disponíveis na página da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE, 2014) entre julho de 2013 a julho de 2014 e as respectivas TARs. A TAR aplicada para 2013 foi de R$75,45/MWh e para 2014, de R$79,87/MWh (Resolução ANEEL no 1.401/2012 e 1.654/2013, respectivamente).

Esta simulação indica o valor aproximado de R$500 mil reais anuais que passariam a ser arrecadados com a inserção deste setor ao sistema estadual de cobrança. Mais ainda, a simulação aponta o aumento da arrecadação em cinco (de nove) regiões hidrográficas, às vezes correspondendo a um aumento de até 50% na arrecadação anual.

Mineração de areia em leito de rio e em cava:

Para a inserção do setor de mineração de areia em leito de rio, o primeiro esforço é o levantamento dos empreendimentos licenciados e a sua notificação para se cadastrarem no CNARH (Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos), adotado pelo Estado. Recomenda-se que a metodologia e os valores a serem praticados sejam os mesmos adotados pelo CEIVAP. Para a mineração em cava, com utilização de água subterrânea, recomenda-se a adoção dos mesmos critérios, até que estudos mais consistentes permitam um refinamento e a incorporação de parâmetros específicos para esta modalidade.

A partir do levantamento dos empreendimentos licenciados no ERJ, será necessária sua regularização quanto ao uso da água, para sua posterior inclusão no sistema de cobrança. No sistema federal da bacia do rio Paraíba do Sul, há cerca de 50 empreendimentos usuários-pagadores, totalizando um valor de cobrança da ordem de R$ 23 mil por ano (AGEVAP, 2011).

3.3 Inclusão de novos parâmetros de qualidade

Como a metodologia em vigor no ERJ seguiu as premissas do CEIVAP, que teve por principio a simplicidade na definição da metodologia, o único parâmetro poluidor incorporado na cobrança estadual foi a DBO5,20 que é característico de efluentes domésticos. Os efluentes

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industriais, embora mais controlados, têm contribuição significativa para a degradação dos corpos d’água em regiões industrializadas, a exemplo da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Portanto, considera-se necessário introduzir novos parâmetros de qualidade da água para efluentes em geral, até mesmo por uma questão de equidade entre setores usuários da água. Por exemplo, para a atividade de aquicultura, poderia ser considerado o tratamento de Fósforo Total (mg/L), Nitrogênio Total (mg/L) e DBO5,20 (mg/L); para a finalidade Termoelétrica poderia ser considerada a Temperatura (ºC); para as indústrias, o tratamento de DBO5,20 (mg/L) e DQO (mg/L); para a atividade de mineração, poderiam ser considerados o pH e a Turbidez (UNT); e para postos de gasolina e lava-jatos, poderia ser considerado o tratamento de Óleos e Graxas (mg/L).

A partir da caracterização do efluente bruto e tratado, pode-se elaborar estudos para o estabelecimento de faixas progressivas de desconto, em função da eficiência do tratamento do efluente lançado em corpo hídrico.

Importante registrar que o CNARH já possui campos específicos para registro de diversos parâmetros, o que já seria um aspecto facilitador para a implementação da ideia.

3.4 Harmonização com metodologia CEIVAP (2006)

Com o objetivo de harmonizar a metodologia de cobrança no território fluminense, através da unificação dos procedimentos de cobrança estadual e federal, o ERJ poderia adotar a mesma metodologia do CEIVAP (2006 e 2014). Do ponto de vista operacional, isto seria fácil, uma vez que o módulo de cobrança do CNARH já é utilizado para os usos de águas federais.

Para estimar a ordem de grandeza do impacto desta mudança no sistema fluminense de cobrança, foi feita uma simulação da arrecadação estadual com a metodologia CEIVAP de 2006, por setor usuário (Quadro 1 e Tabela 1). As alterações introduzidas pelo CEIVAP em 2014 incluindo o aumento de 9% que entrará em vigor em 2015 (Deliberação nº 218/2014), não foram consideradas.

Quadro 1: Metodologia de cobrança utilizada na simulação (CEIVAP, 2006) Setores usuários

(exceto agropecuária e aquicultura)

Setores de agropecuária e aquicultura

ValorAno = (Valorcap + Valorcons + ValorDBO), onde:

Valorcap = VolCap* PPUcap (= 0,01)

Valorcons = VolCons* PPUcons (= 0,02)

ValorDBO = VolDBO* PPUDBO (= 0,07)

ValorTotal = (Valorcap + Valorcons) *KAgropec, onde: Valorcap = VolCap* PPUcap (= 0,01)

Valorcons = VolCons* PPUcons (= 0,02)

KAgropec = 0,05

Tabela 1: Valores de cobrança: metodologia atual X metodologia CEIVAP (2006)

(Fonte: GEIRH/DIGAT/INEA)

Observa-se que a mudança de metodologia, sem alteração dos valores unitários de cobrança, provocaria um aumento na arrecadação da cobrança pelo uso de águas estaduais, variando de 0,47%

Finalidades Quantitativo de Usuários Valor pela Metodologia Atual (R$/ano) Valor pela Metodologia CEIVAP (R$/ano) Outro 302 385.255,63 575.786,18 Indústria 192 1.970.821,30 2.199.173,91 Mineração 8 4.848,18 5.231,50 Aquicultura 8 2.356,25 5.862,94 Irrigação 7 317,81 2.340,53 Termoelétrica 5 881.489,83 954.279,26 Saneamento 48 20.833.395,84 24.063.602,50 Criação Animal 1 25,05 121,95 Totais 571 24.078.509,89 27.806.398,77

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XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7 a 7,3%. Os setores de agropecuária e aquicultura seriam os mais impactados, embora permanecessem com valores totais ainda muito baixos.

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estado do Rio de Janeiro iniciou a cobrança pelo uso da água em 2004 de forma pioneira no país, buscando seguir o principio da harmonização de critérios e valores na bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, cujos rios federais passaram a ter usos cobrados em 2003. Uma lei estadual estendeu a metodologia aprovada pelo CEIVAP para usos em águas estaduais em todo o território fluminense, e não apenas na bacia do rio Paraíba do Sul.

Dez anos após a implantação do instrumento, pode-se afirmar que não foi utilizada de forma ampla a prerrogativa dada na própria lei de cobrança (Lei Estadual 4.247/2003) de realizar ajustes e aperfeiçoamentos à metodologia provisória estabelecida. O próprio CEIVAP já fez duas revisões de metodologia, em 2006 e em 2014, fazendo com que coexistam em território fluminense duas fórmulas distintas para a cobrança: uma para usos em água federais da bacia do rio Paraíba do Sul e outra para os usos em águas estaduais em todo o território do Estado. Este artigo procurou apresentar sugestões de aperfeiçoamentos de curto e médio prazos necessários ao avanço do sistema estadual de cobrança do Estado do Rio de Janeiro:

 harmonização da metodologia praticada com a metodologia federal do Ceivap, o que aumentaria em mais de 15% a arrecadação anual atual.

 correção dos valores de PPU, que permanecem inalterados desde a sua implantação em 2004; um ajuste que reflita a inflação do período dobraria o valor da cobrança, passando dos atuais 24 milhões para 48 milhões de reais por ano;

 ampliação dos parâmetros de cobrança para lançamento de efluentes; e

 inclusão de outros setores usuários ao, tais como agricultura, mineração e PCHs; somente a inserção das PCHs aumentaria a arrecadação em quase 500 mil reais por ano. Como sugestões de estudos e levantamentos futuros, identificou-se a necessidade de inclusão do setor de mineração de areia em leito de rio e em cava ao sistema de cobrança, buscando o principio de isonomia entre os setores usuários. O CEIVAP possui mecanismo específico para a atividade de mineração de areia em leito de rio. No entanto, em termos de arrecadação total na bacia, o valor anual do setor de mineração como um todo contribui com cerca de 23 mil reais, o que é pouco expressivo frente à arrecadação federal total (cerca de 12 milhões por ano).

A inserção de novos parâmetros de qualidade da água à metodologia é considerada importante, uma vez que a matriz industrial no Estado do Rio de Janeiro é muito diversificada, e concentrada na Região Metropolitana, com impactos históricos significativos à qualidade dos corpos d’água drenantes às baías da Guanabara e Sepetiba, importantes corpos d’água fora da área de abrangência do Sistema de Gestão das Águas; entretanto, suas águas recebem os impactos cumulativos das intervenções ao longo das bacias hidrográficas afluentes. As baías, assim como as regiões de foz dos rios, são regiões sensíveis e estratégicas do ponto de vista ambiental, que carecem de um olhar mais sistêmico dos gestores e de uma maior articulação entre as áreas de gestão das águas e gerenciamento costeiro.

Algumas questões legais permanecem pendentes de regulamentação, como, por exemplo, a cobrança em águas federais inseridas em bacias cujo rio principal é de domínio estadual. Este é um exemplo de como o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos ainda se depara com

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situações não previstas nas leis em vigor, carecendo de respaldo de normativos infra legais, tais como resoluções dos conselhos de recursos hídricos.

Por fim, é preciso reconhecer, entretanto, como salientado por ACSELRAD et al (2014), que o sistema de cobrança ainda apresente fragilidades importantes. Muito embora o objetivo da cobrança não seja unicamente a arrecadação de recursos financeiros, um dos maiores desafios ao sistema hoje é justamente conferir mais agilidade e eficiência na aplicação dos recursos oriundos da cobrança estadual. Entende-se que o acúmulo de saldo dos recursos oriundos da cobrança pelo uso da água, como observado no Estado do Rio de Janeiro e em nível nacional, deva ser revertido para que haja um ambiente mais favorável às mudanças aqui propostas.

REFERÊNCIAS

ACSELRAD, M. V.; FORMIGA-JOHNSSON, R. M.; AZEVEDO, J.P.S.(2014). Cobrança pelo uso da água

no Estado do Rio de Janeiro, Brasil (2004-2013): histórico e desafios atuais. Revista Brasileira de

Engenharia Ambiental, no prelo.

ACSELRAD, M. V.; PEREIRA, L. F. M.; FORMIGA-JOHNSSON, R. M.; SANTOS, M. O. R. M. (2009).

O Processo de Implementação da Cobrança pelo Uso da Água no Estado do Rio de Janeiro. In: Anais do

XVIII SBRH, Campo Grande, MS, 22 a 26 de novembro de 2009.

AGEVAP (2011). Avaliação da Implementação da Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos de Domínio da

União na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Relatório disponível em:

http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sag/CobrancaUso/Cobranca/RelatorioAvalImplCobPBS03_11.pdf.

AMORIM, M.AM., CARVALHO, G.B.B., THOMAS, P.T., FREITAS, N.N.F., ALVES, R.F.F. (2011). A

cobrança pelo uso de recursos hídricos na bacia hidrográfica do Rio Doce. In: XIX Simpósio Brasileiro de

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CARVALHO, G.B.B; ACSELRAD, M.V.; THOMAS, P.T. (2007). A Cobrança pelo Uso da Água nas

Bacias dos Rios Paraíba do Sul e PCJ em 2006: Avaliação e Evolução. In: Anais do XVII SBRH. São

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CEIVAP (2006). Deliberação nº 25/2006. Disponível em: http://www.ceivap.org.br/deliberacoes.php

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